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Quarta, 01 Julho 2020 08:51

Tendências - Vox Media e o Infotainment

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Você já ouviu falar de "Infotainment"? Provavelmente não, mas certamente já assistiu algum no YouTube ou até na Netflix! Hoje vou me aprofundar nesse estilo narrativo que une "informação" com "entretenimento" e mostrar a razão pela qual ele vem conquistando cada vez mais audiência e relevância no mercado audiovisual. Confira:

De acordo com a definição disponibilizada pela Enciclopédia Britannica, “infotainment” é um tipo de programa que apresenta informações de uma maneira feita para entreter o público. O termo surgiu nos anos 1970 e concentrava-se em dois pilares: conteúdo e forma. No campo editorial, era associado a atrações que enfatizavam fofocas de celebridades, crimes e assuntos de interesse geral. Já no aspecto estético, poderia ser usado para classificar programas que abusavam de gráficos interativos, edição mais ágil, com efeitos sonoros diferenciados e um tom de narração mais flexível, que poderia ser satírico ou até sensacionalista.

Esse formato de comunicação evoluiu com o tempo e, principalmente, com a internet. O território do YouTube foi extremamente fértil para que indivíduos e empresas passassem a produzir “infotainment” em larga escala, sobre os mais variados assuntos. Essa produção em massa acabou gerando alguns reveses, como a proliferação da pseudociência ou da pseudo-história, que nada mais é do que um revisionismo irrealista em prol de uma narrativa mais cativante. Apesar disso, nesse caldeirão criativo emergiu uma marca que vem transformando e influenciando o conceito de “infotainment”. A Vox Media existe desde 2005 e produz jornalismo escrito e audiovisual totalmente online. Nasceu como SportsBlogs Inc., uma espécie de curador de conteúdo esportivo. Em 2008, o executivo Jim Bankoff, vindo da AOL, injetou fermento na empreitada. Daí em diante, a marca expandiu o leque de assuntos e, em 2011, passou a se chamar Vox Media.

Seu canal no YouTube tem mais de 8 milhões de seguidores e a empresa vem crescendo cada vez mais para outras plataformas, como uma produtora de séries essencialmente focada em “infotainment”.  

Em 2018, a Vox firmou um acordo com a Netflix para produzir a série “Explicando”. Em episódios de 15 minutos, o programa mergulhava em um tema relevante para a sociedade, entre eles edição de DNA, monogamia, desigualdade financeira e racial. A atração agradou a plataforma, que estreou uma segunda temporada em 2019.

O investimento da Netflix neste segmento de curiosidades, informação e entretenimento não parou por aí. A parceria com a Vox rendeu mais três spin-offs: “Explicando – A Mente”, “Explicando – O Sexo” e “Explicando – O Coronavírus”. Este último teve seu primeiro episódio lançado em abril e os dois restantes agora em junho.  

A demanda por informação precisa e qualificada é alimentada por grandes veículos tradicionais da mídia. Porém, o diferencial aqui é a narrativa. A maneira como os dados são usados para contar uma história, sustentar uma tese e até entreter. Essa característica também atraiu a atenção do Quibi, que contratou os serviços da Vox para povoar a faixa Daily Essentials, focada em assuntos mais recentes e factuais. “Answered by Vox” utiliza o já reconhecido jornalismo de serviço da produtora digital para esclarecer os aspectos mais importantes sobre a pandemia do coronavírus. A expertise gráfica da Vox é aproveitada para contextualizar dados e gráficos da maneira mais didática e fluida possível, com a complementação de especialistas por meio de entrevistas. Os episódios duram entre cinco a seis minutos.

Com uma proposta semelhante, o YouTube Originals lançou em outubro do ano passado a série “Glad You Asked”, também em parceria com a Vox. A ideia da atração é investigar as questões mais buscadas na plataforma de vídeos, como “por que choramos?”, “o que acontece quando morremos?” e “nós sobreviveríamos em Marte?”.  

Compreender o contexto e analisar o comportamento humano são elementos fundamentais quando falamos de “infotainment”. O que provoca nostalgia? O que influencia a cultura a ponto de virar moda? Em um extenso trabalho de pesquisa para a CNN, a Vox conduziu a atração “American Style”, que observa como o estilo americano em constante mutação por décadas espelhou o clima político, social e econômico da época. A série documental de quatro episódios reuniu grandes nomes da indústria fashion, como Tim Gunn, Donna Karan, André Leon Talley e Diane von Furstenberg.

Nostalgia também pautou o “Retro Tech”, programa produzido pelo Vox e disponibilizado pelo YouTube Originals que, a cada episódio, examina um produto do passado – que muitos nunca usaram na vida –, explorando sua história, o seu impacto na sociedade e os criadores que deram origem ao objeto. A atração foi publicada na plataforma em dezembro de 2019.

O trabalho realizado pela Vox é notável e promete influenciar diretamente a produção de conteúdo jornalístico interativo. O “infotainment” será cada vez mais absorvido pelas plataformas tradicionais de comunicação, principalmente em relação ao uso visualmente didático dos dados e gráficos. A narrativa construída pelos meios digitais e, aqui capitaneada pela Vox, colabora com uma melhor leitura e interpretação dos números e situa o público em um contexto mais fácil de apreender. O preconceito com o “infotainment” será gradualmente abandonado e isso será o próximo salto de qualidade do jornalismo tradicional.

Read 1781 times Last modified on Quarta, 01 Julho 2020 11:36
Pedro Couto

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