indika.tv - Comédia

Meu Querido Zelador

Simplesmente genial - e vou mais longe, se "O Urso" despontou como uma das mais agradáveis surpresas de 2022, eu diria que, para nós, "Meu Querido Zelador" tem tudo para assumir esse papel em 2023. Muito inteligente, divertida, envolvente e especialmente irônica, bem ao estilo de seus criadores, os geniais Mariano Cohn e Gastón Duprat (aqui com Martin Bustos também), a série se destaca por uma abordagem única de eventos da vida real explorados com um certo exagero, claro, mas nunca fugindo das nuances cotidianas do relacionamento entre um "zelador" e os moradores de um prédio. Oferecendo uma experiência que vai além do humor convencional, Cohn e Duprat acertam de novo e provam, mais uma vez, que o sucesso de "Cidadão Ilustre" e "O Faz Nada" não foi por acaso.

Eliseo (Guillermo Francella) é um dedicado zelador de um edifício de alto padrão em Buenos Aires. Trabalhando há 30 anos no mesmo local, ele conhece todos aqueles que moram e trabalham por ali. Apesar de dedicar-se ao seu trabalho, Eliseo possui uma habilidade única de persuasão, aprimorada ao longo dos anos, que lhe permite saber tudo o que acontece no prédio. Quando necessário, inclusive, ele abusa desse seu poder de manipular os moradores para seu próprio bem. No entanto, seu senso de justiça o faz distinguir quem merece ou não sua proteção, e quando ele passa a ser a "vítima" de um grupo de moradores que querem modernizar o local, o que obviamente custaria seu emprego, Eliseu inicia uma cruzada para provar o seu real valor, custe o que custar. Confira o trailer (em espanhol):

Em um primeiro olhar, é impossível não ficar entusiasmado com a capacidade de Francella em nos conquistar com o seu Eliseo. E aqui eu peço licença para citar duas referências importantes sobre o personagem - ele, nem de longe, é unidimensional. Eliseu tem uma complexidade emocional que vai além do estereótipo que a própria narrativa procura pontuar para que a história ganhe um tom mais leve. Veja, ele faz com que  "Meu Querido Zelador" transite entre a critica social dos personagens de "Parasita" e a dualidade genial de Walter White em "Breaking Bad". Eu sei que pode parecer exagerado, mas os elementos que constroem a trama, e consequentemente o seu protagonista, nos faz refletir sobre o que é certo e o que é errado a cada nosso desafio que Eliseo precisa superar para manter o seu emprego.

Sim, ao assistir "Meu Querido Zelador" somos cativados por uma nova perspectiva sobre as relações humanas - especialmente aquela que chamamos de "ocasião". A maneira como  o roteiro subverte nossas expectativas é tão genial quanto as ferramentas corporais de Francella ao se desconstruir de acordo com a situação que acabou de lidar. Não tenho certeza se a série não transcende os estereótipos de tão real que é aquela dinâmica entre zelador e moradores; o que eu sei é que é muito fácil se conectar com tudo aquilo. A direção está 100% alinhada ao ótimo texto, capturando a essência de cada conflito sem esquecer do equilíbrio vital do cômico com o dramático - reparem como o texto brinca com essa gramática a todo instante de forma tão genuína.

"Meu Querido Zelador" oferece uma experiência imperdível, que vai muito além das risadas superficiais e das bengalas que algumas comédias insistem em repetir. Os elementos que poderiam passar despercebidos, como um olhar, uma pausa ou um sorriso amarelo, se revelam essenciais para a riqueza que é a narrativa da série. Não se surpreenda se você se sentir nervoso, ansioso ou angustiado ao assistir algum dos onze episódios dessa primeira temporada, pois aquele clima constante de “vai dar m...” vai sendo construído, se acumulando, criando brechas até que, de repente, vem aquela deliciosa sensação de alivio. 

Viciante e com um leve sabor vingança, seu play é obrigatório!

Assista Agora

Simplesmente genial - e vou mais longe, se "O Urso" despontou como uma das mais agradáveis surpresas de 2022, eu diria que, para nós, "Meu Querido Zelador" tem tudo para assumir esse papel em 2023. Muito inteligente, divertida, envolvente e especialmente irônica, bem ao estilo de seus criadores, os geniais Mariano Cohn e Gastón Duprat (aqui com Martin Bustos também), a série se destaca por uma abordagem única de eventos da vida real explorados com um certo exagero, claro, mas nunca fugindo das nuances cotidianas do relacionamento entre um "zelador" e os moradores de um prédio. Oferecendo uma experiência que vai além do humor convencional, Cohn e Duprat acertam de novo e provam, mais uma vez, que o sucesso de "Cidadão Ilustre" e "O Faz Nada" não foi por acaso.

Eliseo (Guillermo Francella) é um dedicado zelador de um edifício de alto padrão em Buenos Aires. Trabalhando há 30 anos no mesmo local, ele conhece todos aqueles que moram e trabalham por ali. Apesar de dedicar-se ao seu trabalho, Eliseo possui uma habilidade única de persuasão, aprimorada ao longo dos anos, que lhe permite saber tudo o que acontece no prédio. Quando necessário, inclusive, ele abusa desse seu poder de manipular os moradores para seu próprio bem. No entanto, seu senso de justiça o faz distinguir quem merece ou não sua proteção, e quando ele passa a ser a "vítima" de um grupo de moradores que querem modernizar o local, o que obviamente custaria seu emprego, Eliseu inicia uma cruzada para provar o seu real valor, custe o que custar. Confira o trailer (em espanhol):

Em um primeiro olhar, é impossível não ficar entusiasmado com a capacidade de Francella em nos conquistar com o seu Eliseo. E aqui eu peço licença para citar duas referências importantes sobre o personagem - ele, nem de longe, é unidimensional. Eliseu tem uma complexidade emocional que vai além do estereótipo que a própria narrativa procura pontuar para que a história ganhe um tom mais leve. Veja, ele faz com que  "Meu Querido Zelador" transite entre a critica social dos personagens de "Parasita" e a dualidade genial de Walter White em "Breaking Bad". Eu sei que pode parecer exagerado, mas os elementos que constroem a trama, e consequentemente o seu protagonista, nos faz refletir sobre o que é certo e o que é errado a cada nosso desafio que Eliseo precisa superar para manter o seu emprego.

Sim, ao assistir "Meu Querido Zelador" somos cativados por uma nova perspectiva sobre as relações humanas - especialmente aquela que chamamos de "ocasião". A maneira como  o roteiro subverte nossas expectativas é tão genial quanto as ferramentas corporais de Francella ao se desconstruir de acordo com a situação que acabou de lidar. Não tenho certeza se a série não transcende os estereótipos de tão real que é aquela dinâmica entre zelador e moradores; o que eu sei é que é muito fácil se conectar com tudo aquilo. A direção está 100% alinhada ao ótimo texto, capturando a essência de cada conflito sem esquecer do equilíbrio vital do cômico com o dramático - reparem como o texto brinca com essa gramática a todo instante de forma tão genuína.

"Meu Querido Zelador" oferece uma experiência imperdível, que vai muito além das risadas superficiais e das bengalas que algumas comédias insistem em repetir. Os elementos que poderiam passar despercebidos, como um olhar, uma pausa ou um sorriso amarelo, se revelam essenciais para a riqueza que é a narrativa da série. Não se surpreenda se você se sentir nervoso, ansioso ou angustiado ao assistir algum dos onze episódios dessa primeira temporada, pois aquele clima constante de “vai dar m...” vai sendo construído, se acumulando, criando brechas até que, de repente, vem aquela deliciosa sensação de alivio. 

Viciante e com um leve sabor vingança, seu play é obrigatório!

Assista Agora

Minhas Mães e Meu Pai

A Diretora Lisa Cholodenko dirigiu alguns pilotos de séries americanas de certo sucesso como "Hung" e "Six Feet Under", mas foi escrevendo "The Kids Are All Right" (título original) que ela mostrou seu grande talento - trabalho que, inclusive, lhe rendeu uma indicação no Oscar de melhor Roteiro Original em 2011. O fato é que estamos falando de um belíssimo e sensível roteiro! 

Dois irmãos adolescentes, Joni (Mia Wasikowaska) e Laser (Josh Hutcherson), são filhos do casal, Jules (Julianne Moore) e Nic (Annette Bening), concebidos através da inseminação artificial de um doador anônimo. Contudo, ao completar a maioridade, Joni encoraja o irmão a embarcar numa aventura para encontrar o pai biológico sem que as mães saibam. Quando Paul (Mark Ruffalo) aparece tudo muda, já que logo ele passa a fazer parte do cotidiano da família. Confira o trailer:

"Minhas Mães e Meu Pai" acerta ao tratar um drama bastante denso na sua origem, com uma narrativa extremamente leve e envolvente. Cholodenko que também dirigiu o filme, parte de sua própria experiência para contar uma história que, antes de tudo, fala sobre amor, companheirismo e família. Ela pontua os momentos de confusão (natural pela situação) com inteligência, usando muito bem os alívios cômicos como pontos de equilíbrio. O trabalho excepcional do elenco é inegável - o que resultou em mais duas indicações ao Oscar. É preciso elogiar a sensibilidade como os atores foram dirigidos e a resposta que cada um deu em cena, também reflexo de um texto muito bem escrito - Annette Bening concorreu como "Melhor Atriz" e Mark Ruffalo como "Ator Coadjuvante".

Um orçamento de U$ 4 milhões e um cronograma de filmagem de apenas 23 dias, são outros dois fatores que surpreendem e validam com muito mérito todos os prêmios que o filme ganhou durante sua carreira em festivais com mais de 130 indicações, que vão do Melhor Filme do Ano para a Academia até a vitória no Globo de Ouro de 2011 como "Melhor Filme de Comédia ou Musical", passando por reconhecimentos importantes no BAFTA, em Berlin, no Spirit Awards, etc.

"Minhas Mães e Meu Pai" é um filme que nos enche o coração, que nos faz refletir sobre o real e verdadeiro significado do amor, sobre nossas inseguranças durante um relacionamento, sobre as escolhas de vida que fazemos e até sobre a forma com que olhamos as convenções sociais para determinados assuntos. Com uma trilha escolhida a dedo, que vai de David Bowie à Joni Mitchell, e uma edição (que também merecia uma indicação) fabulosa do Jeffrey M. Werner, esse filme de 2010 é simplesmente imperdível!

Sensível e inteligente!!! Assista!!!

Assista Agora

A Diretora Lisa Cholodenko dirigiu alguns pilotos de séries americanas de certo sucesso como "Hung" e "Six Feet Under", mas foi escrevendo "The Kids Are All Right" (título original) que ela mostrou seu grande talento - trabalho que, inclusive, lhe rendeu uma indicação no Oscar de melhor Roteiro Original em 2011. O fato é que estamos falando de um belíssimo e sensível roteiro! 

Dois irmãos adolescentes, Joni (Mia Wasikowaska) e Laser (Josh Hutcherson), são filhos do casal, Jules (Julianne Moore) e Nic (Annette Bening), concebidos através da inseminação artificial de um doador anônimo. Contudo, ao completar a maioridade, Joni encoraja o irmão a embarcar numa aventura para encontrar o pai biológico sem que as mães saibam. Quando Paul (Mark Ruffalo) aparece tudo muda, já que logo ele passa a fazer parte do cotidiano da família. Confira o trailer:

"Minhas Mães e Meu Pai" acerta ao tratar um drama bastante denso na sua origem, com uma narrativa extremamente leve e envolvente. Cholodenko que também dirigiu o filme, parte de sua própria experiência para contar uma história que, antes de tudo, fala sobre amor, companheirismo e família. Ela pontua os momentos de confusão (natural pela situação) com inteligência, usando muito bem os alívios cômicos como pontos de equilíbrio. O trabalho excepcional do elenco é inegável - o que resultou em mais duas indicações ao Oscar. É preciso elogiar a sensibilidade como os atores foram dirigidos e a resposta que cada um deu em cena, também reflexo de um texto muito bem escrito - Annette Bening concorreu como "Melhor Atriz" e Mark Ruffalo como "Ator Coadjuvante".

Um orçamento de U$ 4 milhões e um cronograma de filmagem de apenas 23 dias, são outros dois fatores que surpreendem e validam com muito mérito todos os prêmios que o filme ganhou durante sua carreira em festivais com mais de 130 indicações, que vão do Melhor Filme do Ano para a Academia até a vitória no Globo de Ouro de 2011 como "Melhor Filme de Comédia ou Musical", passando por reconhecimentos importantes no BAFTA, em Berlin, no Spirit Awards, etc.

"Minhas Mães e Meu Pai" é um filme que nos enche o coração, que nos faz refletir sobre o real e verdadeiro significado do amor, sobre nossas inseguranças durante um relacionamento, sobre as escolhas de vida que fazemos e até sobre a forma com que olhamos as convenções sociais para determinados assuntos. Com uma trilha escolhida a dedo, que vai de David Bowie à Joni Mitchell, e uma edição (que também merecia uma indicação) fabulosa do Jeffrey M. Werner, esse filme de 2010 é simplesmente imperdível!

Sensível e inteligente!!! Assista!!!

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Mythic Quest

"Mythic Quest: Raven's Banquet" é mais uma série de comédia, ao estilo "Silicon Valley" da HBO, que se apoia nos esteriótipos (propositalmente) para replicar o ambiente de trabalho de uma Produtora Desenvolvedora de Games. Para os NERDs, sem a menor dúvida, é uma ótima pedida - a série é cheia de easter eggs, não só do universo de vídeo-games, mas também do cinema, séries e cultura pop; mas é preciso conhecer um pouco sobre esses temas para que várias piadas façam o efeito desejado, mesmo que algumas delas ainda soem completamente fora de contexto. Confira o trailer (em inglês):

Embora a série não seja um procedural, os primeiros episódios tendem a resolver um tema especifico nele próprio - deixando poucas conexões para os seguintes, fazendo com que o elo de ligação entre eles seja, exclusivamente, os personagens. Essa dinâmica narrativa causa uma certa inconstância, que parece diminuir na segunda metade da temporada até o episódio 9 - porque o 10º é só para "cumprir tabela"! "Mythic Quest" oscila muito, mas não deixa de mostrar um enorme potencial - o episódio 5 é, justamente, o maior exemplo disso (reparem)!

Com episódios de 30 minutos, "Mythic Quest" é um entretenimento de nicho com ótimas sacadas e bastante curioso por retratar o processo de desenvolvimento de um game, no caso uma continuação (DLC) chamada "Raven's Banquet", pelos olhos de um diretor de criação egocêntrico (Ian Grimm), de uma chefe de programação pouco reconhecida (Poppy Li), de um produtor executivo inseguro (David Brittlesbee) e de um diretor financeiro ambicioso e muitas vezes inescrupuloso (Brad Bakshi).

Olha, a série é divertida na medida certa, mas com cara de que tem espaço para evoluir muito nas próximas temporadas. Por hora, vale a pena, mas só se você souber a diferença entre um Nintendo e um Mega Drive! É sério!

 "Mythic Quest" é uma criação do trio Rob McElhenney, Charlie Day e Megan Ganz, responsáveis pela série "It’s Always Sunny in Philadelphia" - o que chancela um roteiro bastante peculiar, muitas vezes fora do tom (é preciso dizer), mas com outros vários momentos extremamente bem construídos - a referência ao stroytelling de "Star Wars" em um dos episódios é genial! Em algumas passagens, o roteiro expõe assuntos importantes como assédio, machismo, abuso de poder e até o preconceito em diversas camadas; e isso pode incomodar a audiência que não estiver mergulhada na escolha conceitual proposta pelos criadores. De fato, algumas piadas fogem um pouco do bom senso, digamos assim, mas é impossível crucificar a forma, dada a importância, e a coragem, como o conteúdo desses assuntos são conectados com aquela realidade.

Dirigida, basicamente, por Todd Biermann (Black-ish e Grown-ish) e por David Gordon Green (O que te faz mais forte), a série não trás muitas inovações cinematográficas, porém é tecnicamente impecável. Já a edição trabalha um elemento bastante interessante e que chama a atenção: nas passagens de cena é inserido uma CG como se fosse cutscenes do game "Mythic Quest" que pontuam (literalmente) o tom da narrativa que acabamos de ver - é sensacional e muito divertido! Outro elemento interessante é a direção de arte, mesmo com 70% da história acontecendo em um mesmo ambiente (o escritório da Produtora), a riqueza de detalhes que constroem os cenários ajudam muito na composição da fotografia, dando um moodmuito interessante para a série e que conta muito na experiência de quem assiste.

O elenco talvez seja o ponto mais interessante de "Mythic Quest". Os personagens, mesmo vários tons acima, são ótimos e nada superficiais - grande mérito do roteiro, mas claramente potencializado por performances muito boas! Três destaques mais evidentes: Charlotte Nicdao (Poppy Li), David Hornsby (David Brittlesbee) e Rob McElhenney (Ian) - pode ter certeza que um deles, no mínimo, disputam as premiações de comédia na próxima temporada! Mais coadjuvantes, duas peças raras chamam a atenção: F. Murray Abraham (o "sem noção", C.W) e Jessie Ennis (a "visceral", Jo) - não vou me surpreender se eles também aparecerem entre indicados de Emmy e Globo de Ouro!

Resumindo, "Mythic Quest" tem muito que se ajustar, para não oscilar tanto, mas é notória a qualidade do texto e o trabalho do elenco, tendo como pano de fundo um universo que atinge uma audiência fiel e bastante qualificada. Eu diria que "Mythic Quest" ainda é uma promessa, mas que já vale ser observada muito de perto! Dê o play!

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"Mythic Quest: Raven's Banquet" é mais uma série de comédia, ao estilo "Silicon Valley" da HBO, que se apoia nos esteriótipos (propositalmente) para replicar o ambiente de trabalho de uma Produtora Desenvolvedora de Games. Para os NERDs, sem a menor dúvida, é uma ótima pedida - a série é cheia de easter eggs, não só do universo de vídeo-games, mas também do cinema, séries e cultura pop; mas é preciso conhecer um pouco sobre esses temas para que várias piadas façam o efeito desejado, mesmo que algumas delas ainda soem completamente fora de contexto. Confira o trailer (em inglês):

Embora a série não seja um procedural, os primeiros episódios tendem a resolver um tema especifico nele próprio - deixando poucas conexões para os seguintes, fazendo com que o elo de ligação entre eles seja, exclusivamente, os personagens. Essa dinâmica narrativa causa uma certa inconstância, que parece diminuir na segunda metade da temporada até o episódio 9 - porque o 10º é só para "cumprir tabela"! "Mythic Quest" oscila muito, mas não deixa de mostrar um enorme potencial - o episódio 5 é, justamente, o maior exemplo disso (reparem)!

Com episódios de 30 minutos, "Mythic Quest" é um entretenimento de nicho com ótimas sacadas e bastante curioso por retratar o processo de desenvolvimento de um game, no caso uma continuação (DLC) chamada "Raven's Banquet", pelos olhos de um diretor de criação egocêntrico (Ian Grimm), de uma chefe de programação pouco reconhecida (Poppy Li), de um produtor executivo inseguro (David Brittlesbee) e de um diretor financeiro ambicioso e muitas vezes inescrupuloso (Brad Bakshi).

Olha, a série é divertida na medida certa, mas com cara de que tem espaço para evoluir muito nas próximas temporadas. Por hora, vale a pena, mas só se você souber a diferença entre um Nintendo e um Mega Drive! É sério!

 "Mythic Quest" é uma criação do trio Rob McElhenney, Charlie Day e Megan Ganz, responsáveis pela série "It’s Always Sunny in Philadelphia" - o que chancela um roteiro bastante peculiar, muitas vezes fora do tom (é preciso dizer), mas com outros vários momentos extremamente bem construídos - a referência ao stroytelling de "Star Wars" em um dos episódios é genial! Em algumas passagens, o roteiro expõe assuntos importantes como assédio, machismo, abuso de poder e até o preconceito em diversas camadas; e isso pode incomodar a audiência que não estiver mergulhada na escolha conceitual proposta pelos criadores. De fato, algumas piadas fogem um pouco do bom senso, digamos assim, mas é impossível crucificar a forma, dada a importância, e a coragem, como o conteúdo desses assuntos são conectados com aquela realidade.

Dirigida, basicamente, por Todd Biermann (Black-ish e Grown-ish) e por David Gordon Green (O que te faz mais forte), a série não trás muitas inovações cinematográficas, porém é tecnicamente impecável. Já a edição trabalha um elemento bastante interessante e que chama a atenção: nas passagens de cena é inserido uma CG como se fosse cutscenes do game "Mythic Quest" que pontuam (literalmente) o tom da narrativa que acabamos de ver - é sensacional e muito divertido! Outro elemento interessante é a direção de arte, mesmo com 70% da história acontecendo em um mesmo ambiente (o escritório da Produtora), a riqueza de detalhes que constroem os cenários ajudam muito na composição da fotografia, dando um moodmuito interessante para a série e que conta muito na experiência de quem assiste.

O elenco talvez seja o ponto mais interessante de "Mythic Quest". Os personagens, mesmo vários tons acima, são ótimos e nada superficiais - grande mérito do roteiro, mas claramente potencializado por performances muito boas! Três destaques mais evidentes: Charlotte Nicdao (Poppy Li), David Hornsby (David Brittlesbee) e Rob McElhenney (Ian) - pode ter certeza que um deles, no mínimo, disputam as premiações de comédia na próxima temporada! Mais coadjuvantes, duas peças raras chamam a atenção: F. Murray Abraham (o "sem noção", C.W) e Jessie Ennis (a "visceral", Jo) - não vou me surpreender se eles também aparecerem entre indicados de Emmy e Globo de Ouro!

Resumindo, "Mythic Quest" tem muito que se ajustar, para não oscilar tanto, mas é notória a qualidade do texto e o trabalho do elenco, tendo como pano de fundo um universo que atinge uma audiência fiel e bastante qualificada. Eu diria que "Mythic Quest" ainda é uma promessa, mas que já vale ser observada muito de perto! Dê o play!

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Nada a esconder

“Nada a esconder” (título original - "Le seu") é um filme francês distribuído pela Netflix que é mais uma adaptação do premiadíssimo filme italiano de 2016, “Perfetti Sconosciuti” que, inclusive, já tinha ganhado uma versão espanhola do genial Álex de la Iglesia e que por muito tempo figurou na lista “não deixe de assistir” da Viu Review!

Vamos lá, essa versão francesa é muito parecida com a versão espanhola: Em um jantar entre amigos, para aliviar as tensões típicas da convivência, eles resolvem fazer uma brincadeira: todos os celulares são colocados na mesa e qualquer mensagem, e-mail ou ligação que eles receberem devem ser compartilhadas com os outros em voz alta, imediatamente, não importando o assunto ou quem esteja do outro lado da linha. Bem, só por essa breve sinopse dá para imaginar o constrangimento que se torna esse jantar. Impossível não se colocar na situação dos personagens e o clima que que se estabelece é angustiante e divertido.

O diretor Fred Cavayé trouxe para o filme um pouco menos de non-sense que o diretor espanhol - até por característica cinematográfica; trabalhando aquelas mesmas situações de uma forma mais realista, quase dramáticas em alguns momentos. É um conceito narrativo que funciona - talvez eu tivesse até ido por esse caminho se eu fosse dirigir esse roteiro, mas admito que com essa escolha, perdemos um pouco da inventividade e da fantasia que o Álex de la Iglesia havia mostrado anteriormente e que encaixou tão bem na trama.

Certamente, se eu não tivesse assistido a versão espanhola antes, eu teria colocado “Nada a esconder” na lista de imperdíveis com muita tranquilidade, mas eu gostaria de sugerir uma outra proposta com esse meu review: assistam as duas versões e vejam como, com um mesmo texto, os filmes podem ser tão diferentes e igualmente bons! Veja como o Non-sense espanhol é muito mais caricato e como o realismo francês é muito mais delicado. Veja como um não diminui o valor outro - é um bom exercício nos dias de hoje, afinal, ambos tem seus méritos, porém são diferentes! 

“Nada a esconder” merece ser visto tanto quando “Perfectos Desconocidos”. Vale o play!!!

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“Nada a esconder” (título original - "Le seu") é um filme francês distribuído pela Netflix que é mais uma adaptação do premiadíssimo filme italiano de 2016, “Perfetti Sconosciuti” que, inclusive, já tinha ganhado uma versão espanhola do genial Álex de la Iglesia e que por muito tempo figurou na lista “não deixe de assistir” da Viu Review!

Vamos lá, essa versão francesa é muito parecida com a versão espanhola: Em um jantar entre amigos, para aliviar as tensões típicas da convivência, eles resolvem fazer uma brincadeira: todos os celulares são colocados na mesa e qualquer mensagem, e-mail ou ligação que eles receberem devem ser compartilhadas com os outros em voz alta, imediatamente, não importando o assunto ou quem esteja do outro lado da linha. Bem, só por essa breve sinopse dá para imaginar o constrangimento que se torna esse jantar. Impossível não se colocar na situação dos personagens e o clima que que se estabelece é angustiante e divertido.

O diretor Fred Cavayé trouxe para o filme um pouco menos de non-sense que o diretor espanhol - até por característica cinematográfica; trabalhando aquelas mesmas situações de uma forma mais realista, quase dramáticas em alguns momentos. É um conceito narrativo que funciona - talvez eu tivesse até ido por esse caminho se eu fosse dirigir esse roteiro, mas admito que com essa escolha, perdemos um pouco da inventividade e da fantasia que o Álex de la Iglesia havia mostrado anteriormente e que encaixou tão bem na trama.

Certamente, se eu não tivesse assistido a versão espanhola antes, eu teria colocado “Nada a esconder” na lista de imperdíveis com muita tranquilidade, mas eu gostaria de sugerir uma outra proposta com esse meu review: assistam as duas versões e vejam como, com um mesmo texto, os filmes podem ser tão diferentes e igualmente bons! Veja como o Non-sense espanhol é muito mais caricato e como o realismo francês é muito mais delicado. Veja como um não diminui o valor outro - é um bom exercício nos dias de hoje, afinal, ambos tem seus méritos, porém são diferentes! 

“Nada a esconder” merece ser visto tanto quando “Perfectos Desconocidos”. Vale o play!!!

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Não olhe para cima

Não olhe para cima

"Não olhe para cima" não é, e talvez nunca será, um filme unânime, longe disso; já que o conceito narrativo foi construído de uma forma muito inteligente (e peculiar) a partir de uma sátira que obviamente extrapola no tom, mas esconde em um roteiro irônico (e acreditem, sutil) as nuances de viver em uma época onde "ser" e "estar" se confundem a cada clique (ou arraste para o lado) perante a mediocridade e o egoísmo do ser-humano.

A premissa é simples, mas nada simplista: dois astrônomos renomados, porém pouco conhecidos das organizações governamentais dos EUA, Dr. Randall Mindy (Leonardo DiCaprio) e Kate Dibiasky (Jennifer Lawrence), tentam alertar a humanidade sobre a aproximação de um cometa que acabaram de descobrir e que está prestes a destruir a Terra. Obviamente que eles são desacreditados pela presidente americana, mesmo com todas as evidências comprovadas cientificamente, então ambos resolvem fazer uma espécie de  tour midiática para tentar mobilizar o maior número de pessoas e assim provocar o governo a encontrar uma solução antes que seja tarde. Confira o trailer:

Costumo dizer que você é as referências que você têm, e "Não olhe para cima" constrói uma trama que eleva essa afirmação para outro patamar - algumas sacadas são muito engraçadas, mas podem passar despercebidas por várias pessoas se não estiverem atentas. Muito bem dirigido e roteirizado pelo Adam Mckay (o cara por trás de "Succession", "A Grande Aposta", "Vice", entre outros inúmeros sucessos), o filme usa da semiótica para posicionar a audiência em um universo tão absurdo quanto real. Se dentro da trama os personagens mantém um tom naturalista de interpretação, a cada palavra pronunciada, suas mensagens chegam carregadas de ironias - e a conexão com esse tipo de texto só fará sentido se o mesmo for bem interpretado, entendido e digerido; caso contrário será o "absurdo!" que se sobressairá.

Tecnicamente o filme vai muito bem - as inserções gráficas, a câmera nervosa e a edição moderna, marca registrada de Mckay, criam uma dinâmica impressionante - conectados (vale sempre lembrar), nem vemos os mais de 120 minutos passar. Tanto DiCaprio quanto Lawrence brilham, mas impossível não destacar o trabalho de Meryl Streep como a negacionista e completamente fora da realidade, Presidente Orlean, e do seu filho, ou melhor, "assessor", Jason Orlean (Jonah Hill) - os textos de ambos são tão constrangedores que não por acaso lembraremos de Roman Roy.

Em "Não olhe para cima" não existe o menor espaço para um diálogo inteligente, um pensamento crítico ou discussões aprofundadas sobre algo que está cientificamente comprovado - fica tudo para quem assiste (e juro que estou falando apenas do filme e não do Brasil em época de pandemia). Acaba sendo uma aula de marketing de percepção que se ajusta completamente a uma agenda onde a prioridade é lucrar com suas decisões, nunca quem vai sofrer com elas - eu diria até, que é a ficção mais real dos últimos tempos, com um tempero agridoce do saudoso Monty Python. São tantas (e tantas) críticas fantasiadas de "exagero" que fica difícil tirar o sorriso amarelo do rosto ou a lembrança de uma realidade recente que gostaríamos que fosse apenas um filme da Netflix.

Vale muito seu play!

Assista Agora

"Não olhe para cima" não é, e talvez nunca será, um filme unânime, longe disso; já que o conceito narrativo foi construído de uma forma muito inteligente (e peculiar) a partir de uma sátira que obviamente extrapola no tom, mas esconde em um roteiro irônico (e acreditem, sutil) as nuances de viver em uma época onde "ser" e "estar" se confundem a cada clique (ou arraste para o lado) perante a mediocridade e o egoísmo do ser-humano.

A premissa é simples, mas nada simplista: dois astrônomos renomados, porém pouco conhecidos das organizações governamentais dos EUA, Dr. Randall Mindy (Leonardo DiCaprio) e Kate Dibiasky (Jennifer Lawrence), tentam alertar a humanidade sobre a aproximação de um cometa que acabaram de descobrir e que está prestes a destruir a Terra. Obviamente que eles são desacreditados pela presidente americana, mesmo com todas as evidências comprovadas cientificamente, então ambos resolvem fazer uma espécie de  tour midiática para tentar mobilizar o maior número de pessoas e assim provocar o governo a encontrar uma solução antes que seja tarde. Confira o trailer:

Costumo dizer que você é as referências que você têm, e "Não olhe para cima" constrói uma trama que eleva essa afirmação para outro patamar - algumas sacadas são muito engraçadas, mas podem passar despercebidas por várias pessoas se não estiverem atentas. Muito bem dirigido e roteirizado pelo Adam Mckay (o cara por trás de "Succession", "A Grande Aposta", "Vice", entre outros inúmeros sucessos), o filme usa da semiótica para posicionar a audiência em um universo tão absurdo quanto real. Se dentro da trama os personagens mantém um tom naturalista de interpretação, a cada palavra pronunciada, suas mensagens chegam carregadas de ironias - e a conexão com esse tipo de texto só fará sentido se o mesmo for bem interpretado, entendido e digerido; caso contrário será o "absurdo!" que se sobressairá.

Tecnicamente o filme vai muito bem - as inserções gráficas, a câmera nervosa e a edição moderna, marca registrada de Mckay, criam uma dinâmica impressionante - conectados (vale sempre lembrar), nem vemos os mais de 120 minutos passar. Tanto DiCaprio quanto Lawrence brilham, mas impossível não destacar o trabalho de Meryl Streep como a negacionista e completamente fora da realidade, Presidente Orlean, e do seu filho, ou melhor, "assessor", Jason Orlean (Jonah Hill) - os textos de ambos são tão constrangedores que não por acaso lembraremos de Roman Roy.

Em "Não olhe para cima" não existe o menor espaço para um diálogo inteligente, um pensamento crítico ou discussões aprofundadas sobre algo que está cientificamente comprovado - fica tudo para quem assiste (e juro que estou falando apenas do filme e não do Brasil em época de pandemia). Acaba sendo uma aula de marketing de percepção que se ajusta completamente a uma agenda onde a prioridade é lucrar com suas decisões, nunca quem vai sofrer com elas - eu diria até, que é a ficção mais real dos últimos tempos, com um tempero agridoce do saudoso Monty Python. São tantas (e tantas) críticas fantasiadas de "exagero" que fica difícil tirar o sorriso amarelo do rosto ou a lembrança de uma realidade recente que gostaríamos que fosse apenas um filme da Netflix.

Vale muito seu play!

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Normandia Nua

"Normandia Nua" é daqueles filmes leves e divertidos com um leve toque de crítica social - nada que torne a narrativa reflexiva demais, mas que dá o seu recado. Essa produção francesa de 2018 dirigida pelo veterano e talentoso Philippe Le Guay (de "As Mulheres do Sexto Andar") traz um cinema francês diferente, com um tom mais próximo das dramédias argentinas como "Minha Obra-Prima" ou "O Cidadão Ilustre", ou seja, se você sabe do que eu estou falando, já deu para perceber que esse "play" vale a pena, né?

O filme acompanha Georges Balbuzard (François Cluzet), o prefeito da pequena cidade de Mêle sur Sarthe, na Normandia, onde os agricultores vêm sofrendo cada vez mais por conta de uma grave crise econômica. Quando o fotógrafo Blake Newman (Toby Jones), conhecido por deixar multidões nuas em suas obras, está passando pela região, Balbuzard enxerga nisso uma oportunidade perfeita para chamar atenção da grande mídia e salvar seu povo. Só falta convencer os cidadãos, digamos tradicionais, a tirarem a roupa. Confira o trailer:

Como já possível imaginar, "Normandia Nua" não se encaixa naquela prateleira de filmes profundos, com roteiros bem estruturados e mensagens impactantes - e isso tem o seu lado bom, e outro nem tanto. O fato de existir diversas narrativas correndo em paralelo faz com que muito do arco principal, a aceitação de ter um americano querendo deixar uma cidade inteira sem roupa, perca um pouco sua força - o que é um pecado, pois esse choque cultural poderia ter sido melhor aproveitado: vimos isso na série "Famoso na França", por exemplo. Por outro lado, toda a discussão sócio-político-econômica que pontua temas como o esvaziamento dos campos, a desestruturação da agricultura familiar e a destruição dos produtores nacionais em detrimento da concorrência estrangeira, é cirurgicamente inserida de maneira inteligente e sem pesar na mão - em nenhum momento somos mais impactados do que deveríamos sobre o assunto.

As outras tramas paralelas ajudam a compor a dinâmica da cidade pequena, portanto, propositalmente, elas são mais superficiais, mesmo que reflita no cotidiano daquele universo: temos o publicitário que se muda com a família de Paris para o vilarejo e mente insistentemente para si mesmo que agora é um homem feliz e realizado, o rapaz que retorna da capital para vender a antiga loja de fotografias herdada do pai e se apaixona por uma amiga da sua ex-namorada, temos também a história de um homem falido que se culpa por não ter mais os documentos de uma área que sempre foi a paixão da sua família e até a do açougueiro que casou com uma ex-miss da cidade e morre de ciúmes dela, ainda mais agora com a possibilidade de toda cidade ve-la "pelada".

"Normandia Nua" tem François Cluzet (uma espécie de Darin da França) mais uma vez dando um show, mas também tem um Toby Jones tão tímido quanto excêntrico em uma clara homenagem ao fotógrafo Spencer Tunick, conhecido como o “fotógrafo das multidões nuas”. Sem pretensão alguma de ser um filme inesquecível, "Normandie nue" (no original) é a escolha perfeita para um dia onde você só quer relaxar, assistir uma história agradável e ainda dar algumas boas risadas.

Vale a pena!

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"Normandia Nua" é daqueles filmes leves e divertidos com um leve toque de crítica social - nada que torne a narrativa reflexiva demais, mas que dá o seu recado. Essa produção francesa de 2018 dirigida pelo veterano e talentoso Philippe Le Guay (de "As Mulheres do Sexto Andar") traz um cinema francês diferente, com um tom mais próximo das dramédias argentinas como "Minha Obra-Prima" ou "O Cidadão Ilustre", ou seja, se você sabe do que eu estou falando, já deu para perceber que esse "play" vale a pena, né?

O filme acompanha Georges Balbuzard (François Cluzet), o prefeito da pequena cidade de Mêle sur Sarthe, na Normandia, onde os agricultores vêm sofrendo cada vez mais por conta de uma grave crise econômica. Quando o fotógrafo Blake Newman (Toby Jones), conhecido por deixar multidões nuas em suas obras, está passando pela região, Balbuzard enxerga nisso uma oportunidade perfeita para chamar atenção da grande mídia e salvar seu povo. Só falta convencer os cidadãos, digamos tradicionais, a tirarem a roupa. Confira o trailer:

Como já possível imaginar, "Normandia Nua" não se encaixa naquela prateleira de filmes profundos, com roteiros bem estruturados e mensagens impactantes - e isso tem o seu lado bom, e outro nem tanto. O fato de existir diversas narrativas correndo em paralelo faz com que muito do arco principal, a aceitação de ter um americano querendo deixar uma cidade inteira sem roupa, perca um pouco sua força - o que é um pecado, pois esse choque cultural poderia ter sido melhor aproveitado: vimos isso na série "Famoso na França", por exemplo. Por outro lado, toda a discussão sócio-político-econômica que pontua temas como o esvaziamento dos campos, a desestruturação da agricultura familiar e a destruição dos produtores nacionais em detrimento da concorrência estrangeira, é cirurgicamente inserida de maneira inteligente e sem pesar na mão - em nenhum momento somos mais impactados do que deveríamos sobre o assunto.

As outras tramas paralelas ajudam a compor a dinâmica da cidade pequena, portanto, propositalmente, elas são mais superficiais, mesmo que reflita no cotidiano daquele universo: temos o publicitário que se muda com a família de Paris para o vilarejo e mente insistentemente para si mesmo que agora é um homem feliz e realizado, o rapaz que retorna da capital para vender a antiga loja de fotografias herdada do pai e se apaixona por uma amiga da sua ex-namorada, temos também a história de um homem falido que se culpa por não ter mais os documentos de uma área que sempre foi a paixão da sua família e até a do açougueiro que casou com uma ex-miss da cidade e morre de ciúmes dela, ainda mais agora com a possibilidade de toda cidade ve-la "pelada".

"Normandia Nua" tem François Cluzet (uma espécie de Darin da França) mais uma vez dando um show, mas também tem um Toby Jones tão tímido quanto excêntrico em uma clara homenagem ao fotógrafo Spencer Tunick, conhecido como o “fotógrafo das multidões nuas”. Sem pretensão alguma de ser um filme inesquecível, "Normandie nue" (no original) é a escolha perfeita para um dia onde você só quer relaxar, assistir uma história agradável e ainda dar algumas boas risadas.

Vale a pena!

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O Cidadão Ilustre

Mais um filme imperdível! Uma co-produção Argentina/Espanha, vencedor do Prêmio Goya (o Oscar Espanhol) em 2017 na categoria "Best Iberoamerican Film" e dirigido pela dupla Gastón Duprat e Mariano Cohn. E, olha, em um país onde a qualidade cinematográfica já é referência, "O Cidadão Ilustre" foi o filme argentino mais assistido do ano! O filme é sensacional, na delicadeza de tocar em assuntos pesados à qualidade de uma interpretação irretocável - é possível sentir cada sensação do personagem, a cada situação que ele vive e sem passar do tom em nenhum momento - o monstro responsável por isso (não é o Darin...rs) é Oscar Martínez (o mesmo de "Toc Toc").

Martínez interpreta um premiado escritor argentino que vive fora do seu país desde muito jovem e em um determinado momento da sua vida, se sentindo sem muita motivação (e até com uma certa melancolia), ele recebe um convite de sua cidade natal para participar de algumas homenagens pelas suas mais recentes conquistas profissionais. Ao aceitar, ele precisa enfrentar tudo que deixou para trás há 40 anos e ao mesmo tempo recuperar sua essência para continuar contando boas histórias. Veja o Trailer:

Por essa curta sinopse, é fácil pensar que se trata de um drama pesado, triste, mas não, o mérito do filme é justamente esse - tratar esse vazio existencial com um humor inteligente e dramático ao mesmo tempo, e sem perder a mão. Tem um overacting estereotipado de alguns atores que são magistralmente inseridos em um contexto completamente non-sente. É perfeito!!!! Reparem no prefeito da cidade (Manuel Vicente - ele é a personificação desse conceito!!!

É realmente um grande roteiro, muito bem dirigido, muito bem produzido - eu só não gostei muito da câmera solta em alguns momentos quando os diretores apresentavam aquele universo da cidade natal, pois os enquadramentos traduziam a melancolia e a simplicidade do lugar por si só, não precisava de um movimento - aquilo poderia ser um quadro lindo, quase uma pintura (mas foi uma escolha criativa e é preciso respeitar).
Certamente um dos melhores filmes que assisti esse ano!

Dê o play e seja feliz, pois é um entretenimento de primeira qualidade!!!!

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Mais um filme imperdível! Uma co-produção Argentina/Espanha, vencedor do Prêmio Goya (o Oscar Espanhol) em 2017 na categoria "Best Iberoamerican Film" e dirigido pela dupla Gastón Duprat e Mariano Cohn. E, olha, em um país onde a qualidade cinematográfica já é referência, "O Cidadão Ilustre" foi o filme argentino mais assistido do ano! O filme é sensacional, na delicadeza de tocar em assuntos pesados à qualidade de uma interpretação irretocável - é possível sentir cada sensação do personagem, a cada situação que ele vive e sem passar do tom em nenhum momento - o monstro responsável por isso (não é o Darin...rs) é Oscar Martínez (o mesmo de "Toc Toc").

Martínez interpreta um premiado escritor argentino que vive fora do seu país desde muito jovem e em um determinado momento da sua vida, se sentindo sem muita motivação (e até com uma certa melancolia), ele recebe um convite de sua cidade natal para participar de algumas homenagens pelas suas mais recentes conquistas profissionais. Ao aceitar, ele precisa enfrentar tudo que deixou para trás há 40 anos e ao mesmo tempo recuperar sua essência para continuar contando boas histórias. Veja o Trailer:

Por essa curta sinopse, é fácil pensar que se trata de um drama pesado, triste, mas não, o mérito do filme é justamente esse - tratar esse vazio existencial com um humor inteligente e dramático ao mesmo tempo, e sem perder a mão. Tem um overacting estereotipado de alguns atores que são magistralmente inseridos em um contexto completamente non-sente. É perfeito!!!! Reparem no prefeito da cidade (Manuel Vicente - ele é a personificação desse conceito!!!

É realmente um grande roteiro, muito bem dirigido, muito bem produzido - eu só não gostei muito da câmera solta em alguns momentos quando os diretores apresentavam aquele universo da cidade natal, pois os enquadramentos traduziam a melancolia e a simplicidade do lugar por si só, não precisava de um movimento - aquilo poderia ser um quadro lindo, quase uma pintura (mas foi uma escolha criativa e é preciso respeitar).
Certamente um dos melhores filmes que assisti esse ano!

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O Faz Nada

Impossível não olhar Buenos Aires com um certo ar de romantismo e desejo depois de assistir aos cinco episódios dessa excelente (e despretensiosa) minissérie do Star+, "O Faz Nada". Ao melhor estilo Woody Allen de construir uma narrativa cinematográfica se apropriando de fortes elementos da crônica, com personagens complexos (e por isso charmosos), um cenário deslumbrante e um tema que normalmente se mistura entre o cotidiano e o imaginário, essa obra dos geniais Gastón Duprat e Mariano Cohn, ambos de "Cidadão Ilustre" e não por acaso sua maior referência conceitual, é uma divertida e sensível jornada pela gastronomia portenha pela perspectiva de quem é apaixonado pelos detalhes - para o bem e para o mal!

Na história, o bon vivant e icônico crítico gastronômico, Manuel Tamayo Prats (Luis Brandoni), mal tem recursos para manter seu estilo de vida abastado, mas nem por isso deixa de se aproveitar do respeito que adquiriu nos tempos áureos para viver e comer muito bem. Mal humorado e patologicamente sincero, Prats se vê em uma situação inédita quando precisa contratar uma jovem paraguaia, Antonia (Majo Cabrera), para substituir Celsa (María Rosa Fugazot) - uma antiga empregada que cuidou dele por mais de 40 anos, mas que "do nada" acaba de morrer. Confira o trailer (em espanhol):

Logo de cara, a presença de Robert De Niro já coloca nossa expectava em outro patamar. De Niro, com um certo ar "proposital" de superioridade, é basicamente o narrador dessa história que não sabemos exatamente onde vai nos levar. Suas aparições são cirurgias, misteriosas e cheias de elegância - como se estivesse nos preparando para uma epifania dramática matadora. De fato é isso que acontece, talvez sem tanto impacto narrativo, mas sem dúvida repleto de sentimento - e é ai que as conexões fazem sentido, já que a minissérie fala de arte de cultura, de gastronomia, mas são as relações de amizade que realmente tocam nossa alma.

O roteiro de Duprat e Cohn, ao lado do talentoso Emanuel Diez (de "A Extorsão"), sabe exatamente como equilibrar o drama com o cômico, ao mesmo tempo que se mostra extremamente capaz de discutir as nuances das relações humanas com muita honestidade (que personificado por Prats, soa até exagerado) e sensibilidade, sem nunca esquecer da ironia e do humor inteligente. A direção sabe que essa sagacidade e acidez criam laços improváveis entre a audiência e o protagonista - eles fizeram exatamente isso no premiado "Cidadão Ilustre", Marc Forster repetiu a fórmula em "O Pior Vizinho do Mundo" eChuck Lorre fechou com chave de ouro em "O Método Kominsky". Mas para tudo funcionar como se deve, esse protagonista tem que roubar a cena e é justamente o que Brandoni faz - não à toa, o seu Manuel Tamayo Prats sempre tem uma resposta na ponta da língua que contraria, provoca ou simplesmente debocha de alguém, com inteligência e crueldade (nunca uma sem a outra), nos causando até uma certa "inveja".

"Nada" (no original) sabe nos conquistar ao retratar a forma única de levar a vida de um senhor que já não espera muito da vida, mas que teima em não deixar de aproveita-la. As insinuações são excelentes (especialmente quando se trata da relação homem e mulher), mas é na qualidade do texto e na construção de uma atmosfera que celebra o amor de seus criadores pela cidade, pela gastronomia e pela ironia bem colocada, que a minissérie realmente decola. Como não poderia deixar de ser, essa brincadeira cosmopolita meio "woodyallenana" de Duprat e Cohn, é tão apaixonante e cheia de camadas que se dá o direito de trocar o tango pelo jazz, que mesmo mais casual traz leveza para as cenas, e até colocar no mesmo nível de importância o famoso bife de chorizo a cavalo com o conceito da gastronomia chinesa do Wen, Zhao e Wogh. Interessante, não? 

Pois é! Eu diria, imperdível!

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Impossível não olhar Buenos Aires com um certo ar de romantismo e desejo depois de assistir aos cinco episódios dessa excelente (e despretensiosa) minissérie do Star+, "O Faz Nada". Ao melhor estilo Woody Allen de construir uma narrativa cinematográfica se apropriando de fortes elementos da crônica, com personagens complexos (e por isso charmosos), um cenário deslumbrante e um tema que normalmente se mistura entre o cotidiano e o imaginário, essa obra dos geniais Gastón Duprat e Mariano Cohn, ambos de "Cidadão Ilustre" e não por acaso sua maior referência conceitual, é uma divertida e sensível jornada pela gastronomia portenha pela perspectiva de quem é apaixonado pelos detalhes - para o bem e para o mal!

Na história, o bon vivant e icônico crítico gastronômico, Manuel Tamayo Prats (Luis Brandoni), mal tem recursos para manter seu estilo de vida abastado, mas nem por isso deixa de se aproveitar do respeito que adquiriu nos tempos áureos para viver e comer muito bem. Mal humorado e patologicamente sincero, Prats se vê em uma situação inédita quando precisa contratar uma jovem paraguaia, Antonia (Majo Cabrera), para substituir Celsa (María Rosa Fugazot) - uma antiga empregada que cuidou dele por mais de 40 anos, mas que "do nada" acaba de morrer. Confira o trailer (em espanhol):

Logo de cara, a presença de Robert De Niro já coloca nossa expectava em outro patamar. De Niro, com um certo ar "proposital" de superioridade, é basicamente o narrador dessa história que não sabemos exatamente onde vai nos levar. Suas aparições são cirurgias, misteriosas e cheias de elegância - como se estivesse nos preparando para uma epifania dramática matadora. De fato é isso que acontece, talvez sem tanto impacto narrativo, mas sem dúvida repleto de sentimento - e é ai que as conexões fazem sentido, já que a minissérie fala de arte de cultura, de gastronomia, mas são as relações de amizade que realmente tocam nossa alma.

O roteiro de Duprat e Cohn, ao lado do talentoso Emanuel Diez (de "A Extorsão"), sabe exatamente como equilibrar o drama com o cômico, ao mesmo tempo que se mostra extremamente capaz de discutir as nuances das relações humanas com muita honestidade (que personificado por Prats, soa até exagerado) e sensibilidade, sem nunca esquecer da ironia e do humor inteligente. A direção sabe que essa sagacidade e acidez criam laços improváveis entre a audiência e o protagonista - eles fizeram exatamente isso no premiado "Cidadão Ilustre", Marc Forster repetiu a fórmula em "O Pior Vizinho do Mundo" eChuck Lorre fechou com chave de ouro em "O Método Kominsky". Mas para tudo funcionar como se deve, esse protagonista tem que roubar a cena e é justamente o que Brandoni faz - não à toa, o seu Manuel Tamayo Prats sempre tem uma resposta na ponta da língua que contraria, provoca ou simplesmente debocha de alguém, com inteligência e crueldade (nunca uma sem a outra), nos causando até uma certa "inveja".

"Nada" (no original) sabe nos conquistar ao retratar a forma única de levar a vida de um senhor que já não espera muito da vida, mas que teima em não deixar de aproveita-la. As insinuações são excelentes (especialmente quando se trata da relação homem e mulher), mas é na qualidade do texto e na construção de uma atmosfera que celebra o amor de seus criadores pela cidade, pela gastronomia e pela ironia bem colocada, que a minissérie realmente decola. Como não poderia deixar de ser, essa brincadeira cosmopolita meio "woodyallenana" de Duprat e Cohn, é tão apaixonante e cheia de camadas que se dá o direito de trocar o tango pelo jazz, que mesmo mais casual traz leveza para as cenas, e até colocar no mesmo nível de importância o famoso bife de chorizo a cavalo com o conceito da gastronomia chinesa do Wen, Zhao e Wogh. Interessante, não? 

Pois é! Eu diria, imperdível!

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O melhor está por vir

"O melhor está por vir" é um filme francês surpreendente, pois equilibra muito bem dois gêneros que, ao mesmo tempo tão diferentes, se completam: a comédia e o drama. Reparem na história: após descobrir por engano que seu melhor amigo, César (Patrick Bruel), está com câncer e que tem apenas três meses de vida, Arthur (Fabrice Luchini) precisa contar esse duro diagnóstico, porém ele acaba se atrapalhando e deixa a entender que quem está doente é ele e não César. A partir daí eles resolvem deixar os problemas do cotidiano para trás, recuperar o tempo perdido e viver o pouco tempo que lhes restam juntos, da melhor maneira possível!

Olha, o filme é realmente uma graça! Embora a premissa possa parecer batida, dolorida e até indicar uma história cheia de sofrimento fantasiado de nostalgia, "O melhor está por vir" é justamente o contrário, ele é leve, divertido, inteligente e muito sensível para transitar entre o amor e a dor, entre a vida e a morte, sem pegar atalhos! Confesso que fui pego de surpresa, não sabia muito sobre o filme  e posso garantir que a experiência não poderia ter sido melhor.

O roteiro, dos também diretores, Matthieu Delaporte e Alexandre De La Patellière, fala de amizade, claro, mas fala muito sobre o valor e a importância do perdão - para o outro e para si mesmo! É muito inteligente a maneira como o texto pontua algumas das situações de vida desses dois amigos de infância, com personalidades tão diferentes, que precisaram lidar com as consequências de algo que não saiu tão bem como planejado. Arthur tem uma personalidade difícil, sofre com o fim do seu casamento e com a dificuldade de se relacionar com a filha pré-adolescente. Já César é um fracassado profissional, que deve muito dinheiro, mas não abre mão da boa vida. O roteiro dá uma aula de estrutura, tudo é muito bem definido e perceptível: o primeiro ato funciona como apresentação dos personagens, a origem da amizade entre eles e suas particularidades emocionais. O conflito também é naturalmente construído e ainda fortalece a diferença e o estilo de vida de cada um, agora adultos , mas sempre pontuando um elo em comum: a forte amizade! O segundo ato, nos trás muitas referências de  “Antes de Partir” com Jack Nicholson e Morgan Freeman, mas mesmo assim só faz aumentar nossa empatia com os personagens e nos divertir com as situações que eles estão passando juntos durante a jornada. E para finalizar, no terceiro ato, uma entrega sem ser excessivamente dramática, com uma mensagem completamente alinhada à tudo que foi construído durante a narrativa e o melhor: uma sensação de missão cumprida absurda - é lindo, emocionante e verdadeiro!

Se no inicio temos a sensação que "O melhor está por vir" é uma comédia "estilo pastelão" com atuações acima do tom, em seguida já percebemos algo mais suave, com mais pausas, olhares e uma química impressionante entre os dois atores que se sustenta até o final, onde a comédia, naturalmente, dá lugar ao drama - mas tudo, absolutamente tudo, sem perder a alma e a sutileza do texto - para mim, grande mérito de uma direção extremamente competente, técnica e segura de onde queria chegar! Uma menção importante: a fotografia do Guillaume Schiffman (indicado ao Oscar pelo "O Artista") é maravilhosa - vemos uma Paris pelos olhos de parisienses e isso faz toda a diferença - parece que estamos ouvindo uma história de quem realmente viveu tudo aquilo! É lindo!

Pode se preparar, "O melhor está por vir", vai mexer com seu coração, mas de uma forma leve, sem muito drama e com muita sinceridade e sutileza.

Vale muito a pena!

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"O melhor está por vir" é um filme francês surpreendente, pois equilibra muito bem dois gêneros que, ao mesmo tempo tão diferentes, se completam: a comédia e o drama. Reparem na história: após descobrir por engano que seu melhor amigo, César (Patrick Bruel), está com câncer e que tem apenas três meses de vida, Arthur (Fabrice Luchini) precisa contar esse duro diagnóstico, porém ele acaba se atrapalhando e deixa a entender que quem está doente é ele e não César. A partir daí eles resolvem deixar os problemas do cotidiano para trás, recuperar o tempo perdido e viver o pouco tempo que lhes restam juntos, da melhor maneira possível!

Olha, o filme é realmente uma graça! Embora a premissa possa parecer batida, dolorida e até indicar uma história cheia de sofrimento fantasiado de nostalgia, "O melhor está por vir" é justamente o contrário, ele é leve, divertido, inteligente e muito sensível para transitar entre o amor e a dor, entre a vida e a morte, sem pegar atalhos! Confesso que fui pego de surpresa, não sabia muito sobre o filme  e posso garantir que a experiência não poderia ter sido melhor.

O roteiro, dos também diretores, Matthieu Delaporte e Alexandre De La Patellière, fala de amizade, claro, mas fala muito sobre o valor e a importância do perdão - para o outro e para si mesmo! É muito inteligente a maneira como o texto pontua algumas das situações de vida desses dois amigos de infância, com personalidades tão diferentes, que precisaram lidar com as consequências de algo que não saiu tão bem como planejado. Arthur tem uma personalidade difícil, sofre com o fim do seu casamento e com a dificuldade de se relacionar com a filha pré-adolescente. Já César é um fracassado profissional, que deve muito dinheiro, mas não abre mão da boa vida. O roteiro dá uma aula de estrutura, tudo é muito bem definido e perceptível: o primeiro ato funciona como apresentação dos personagens, a origem da amizade entre eles e suas particularidades emocionais. O conflito também é naturalmente construído e ainda fortalece a diferença e o estilo de vida de cada um, agora adultos , mas sempre pontuando um elo em comum: a forte amizade! O segundo ato, nos trás muitas referências de  “Antes de Partir” com Jack Nicholson e Morgan Freeman, mas mesmo assim só faz aumentar nossa empatia com os personagens e nos divertir com as situações que eles estão passando juntos durante a jornada. E para finalizar, no terceiro ato, uma entrega sem ser excessivamente dramática, com uma mensagem completamente alinhada à tudo que foi construído durante a narrativa e o melhor: uma sensação de missão cumprida absurda - é lindo, emocionante e verdadeiro!

Se no inicio temos a sensação que "O melhor está por vir" é uma comédia "estilo pastelão" com atuações acima do tom, em seguida já percebemos algo mais suave, com mais pausas, olhares e uma química impressionante entre os dois atores que se sustenta até o final, onde a comédia, naturalmente, dá lugar ao drama - mas tudo, absolutamente tudo, sem perder a alma e a sutileza do texto - para mim, grande mérito de uma direção extremamente competente, técnica e segura de onde queria chegar! Uma menção importante: a fotografia do Guillaume Schiffman (indicado ao Oscar pelo "O Artista") é maravilhosa - vemos uma Paris pelos olhos de parisienses e isso faz toda a diferença - parece que estamos ouvindo uma história de quem realmente viveu tudo aquilo! É lindo!

Pode se preparar, "O melhor está por vir", vai mexer com seu coração, mas de uma forma leve, sem muito drama e com muita sinceridade e sutileza.

Vale muito a pena!

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O Método Kominsky

Embora estivesse na minha lista desde o lançamento, eu comecei assistir "O Método Kominsky" apenas após as premiações do Globo de Ouro de 2019, onde a série levou "Melhor Comédia ou Musical" e "Melhor Ator" com o Michael Douglas. Olha, de cara eu posso te dizer que a série não é para qualquer um; ela tem um humor bem peculiar, muito ácido - quase inglês!!! A narrativa também não é tão dinâmica, pois o texto exige muitas pausas, reflexões - o silêncio diz muito nessa série!!! A verdade é que quem não estiver realmente disposto a mergulhar nesse universo (tão particular e reflexivo), não vai se divertir.

Dois grandes amigos, acima dos 70 anos: um respeitado Professor de Teatro (por isso a referência do título) e seu agente precisam lidar com os reflexos da idade e a relação com mundo em que vivem. E como todo senhor "bem" humorado, é no mal humor dessa intimidade verdadeira que estão as pérolas dessa série. Michael Douglas (como Sandy Kominsky) e Alan Arkin (como Norman) estão simplesmente perfeitos - aliás, merecidíssimo o prêmio de melhor ator para Douglas e a indicação de ator coadjuvante para Arkin!!! Os dois são a série e dão um show!!!

Eu não sabia absolutamente nada sobre a série e logo depois da primeira cena, já me arrependi de não ter assistido antes - ela é sensacional!!! Enganasse quem assiste com o intuito de encontrar uma comédia tipo "Two and a half man", por exemplo (que é do mesmo produtor - Chuck Lorre, por isso a comparação) - é completamente diferente, pois mesmo parecendo estereotipados, os personagens são muito humanos e isso trás para a tela uma complexidade muito bem trabalhada nas situações que esses dois amigos vivem! A série fala de amizade, de relações entre pessoas e com o amadurecimento como ser humano. Fala sobre envelhecer, sobre perder a vitalidade. Fala sobre as novas gerações, suas diferenças, peculiaridades. Mas principalmente, fala sobre o que projetamos para nossa vida em alguns anos! São muito sensíveis essas discussões no roteiro, tudo está muito escondido entre um comentário (que pode até soar engraçado) e uma piada (que nem sempre nos faz rir e sim refletir). Existe um leveza na dor de lidar com o tempo e isso é magnífico!

O Método Kominsky é daquelas séries que você não quer acabe. O fato de termos 8 episódios de 30 minutos ajuda na experiência, pois não cansa viver cada um daqueles minutos. O mal humor tem seu charme (vide Dr. House) e o desprendimento de lidar com ele de uma forma leve, trás muita coisa boa para essa comédia cheia de drama (e de verdade). Se você tem mais de 35 anos, fez teatro na adolescência, tem aqueles amigos de uma vida inteira, faz um favor pra você: não deixe de assistir! Se não se enquadra na lista anterior, mas está disposto a encarar como bom humor o que vem por aí, também aproveite, porque vale o play! 

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Embora estivesse na minha lista desde o lançamento, eu comecei assistir "O Método Kominsky" apenas após as premiações do Globo de Ouro de 2019, onde a série levou "Melhor Comédia ou Musical" e "Melhor Ator" com o Michael Douglas. Olha, de cara eu posso te dizer que a série não é para qualquer um; ela tem um humor bem peculiar, muito ácido - quase inglês!!! A narrativa também não é tão dinâmica, pois o texto exige muitas pausas, reflexões - o silêncio diz muito nessa série!!! A verdade é que quem não estiver realmente disposto a mergulhar nesse universo (tão particular e reflexivo), não vai se divertir.

Dois grandes amigos, acima dos 70 anos: um respeitado Professor de Teatro (por isso a referência do título) e seu agente precisam lidar com os reflexos da idade e a relação com mundo em que vivem. E como todo senhor "bem" humorado, é no mal humor dessa intimidade verdadeira que estão as pérolas dessa série. Michael Douglas (como Sandy Kominsky) e Alan Arkin (como Norman) estão simplesmente perfeitos - aliás, merecidíssimo o prêmio de melhor ator para Douglas e a indicação de ator coadjuvante para Arkin!!! Os dois são a série e dão um show!!!

Eu não sabia absolutamente nada sobre a série e logo depois da primeira cena, já me arrependi de não ter assistido antes - ela é sensacional!!! Enganasse quem assiste com o intuito de encontrar uma comédia tipo "Two and a half man", por exemplo (que é do mesmo produtor - Chuck Lorre, por isso a comparação) - é completamente diferente, pois mesmo parecendo estereotipados, os personagens são muito humanos e isso trás para a tela uma complexidade muito bem trabalhada nas situações que esses dois amigos vivem! A série fala de amizade, de relações entre pessoas e com o amadurecimento como ser humano. Fala sobre envelhecer, sobre perder a vitalidade. Fala sobre as novas gerações, suas diferenças, peculiaridades. Mas principalmente, fala sobre o que projetamos para nossa vida em alguns anos! São muito sensíveis essas discussões no roteiro, tudo está muito escondido entre um comentário (que pode até soar engraçado) e uma piada (que nem sempre nos faz rir e sim refletir). Existe um leveza na dor de lidar com o tempo e isso é magnífico!

O Método Kominsky é daquelas séries que você não quer acabe. O fato de termos 8 episódios de 30 minutos ajuda na experiência, pois não cansa viver cada um daqueles minutos. O mal humor tem seu charme (vide Dr. House) e o desprendimento de lidar com ele de uma forma leve, trás muita coisa boa para essa comédia cheia de drama (e de verdade). Se você tem mais de 35 anos, fez teatro na adolescência, tem aqueles amigos de uma vida inteira, faz um favor pra você: não deixe de assistir! Se não se enquadra na lista anterior, mas está disposto a encarar como bom humor o que vem por aí, também aproveite, porque vale o play! 

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O Peso do Talento

"O Peso do Talento" é muito divertido - muito mesmo! O filme do diretor Tom Gormican (de "Namoro ou Liberdade") é uma clara homenagem aos filmes clássicos de ação, aqueles cheios de clichês, mas que nos mantém ligados durante toda exibição - obviamente que dentro desse contexto, ninguém melhor do que Nicolas Cage para personificar essa era de ouro do gênero.

Sofrendo por não conseguir bons trabalhos e não ter mais a fama como antes, estando insatisfeito com a vida e cheio de dívidas, Nicolas Cage chegou ao fundo do poço. Após correr atrás de Quentin Tarantino implorando por um papel em seu novo filme e não obtendo sucesso, Cage acaba aceitando US$ 1 milhão para fazer uma espécie de "presença VIP" no aniversário de Javi (Pedro Pascal), um bilionário, superfã e fanático pelo ator. As coisas tomam um rumo inesperado quando Cage é recrutado por uma agente da CIA (Tiffany Haddish) e é forçado a investigar um sequestro onde o principal suspeito é, justamente, seu anfitrião. Confira o trailer:

"O Peso doTalento" chega com a chancela do sucesso que foi sua exibição no festival de cinema SXSW, nos EUA, fazendo com que seu índice de aprovação crítica fosse de surpreendentes 100% no site Rotten Tomatoes. Segundo o The Hollywood Reporter, o filme foi a produção com a melhor avaliação entre os mais de 100 filmes da carreira de Cage. Se 100% de aprovação pode parecer um exagero, eu diria que para os cinéfilos amantes de filmes de ação essa porcentagem é mais do que justa - e de fato ela se justifica, já que o roteiro cria toda uma atmosfera de nostalgia em cima de uma história simples, mas envolvente, principalmente pela excelente performance de Cage vivendo uma versão estereotipada de si mesmo.

Tudo em "O Peso doTalento" é construído para provocar um certo saudosismo despretensioso, já que é impossível levar a sério aquilo que vemos na tela, ao mesmo tempo em que rimos exatamente desses absurdos - veja, não estamos falando de um filme "pastelão", mas sim de uma narrativa que usa muito bem todos os gatilhos dramáticos do gênero para criar as mais diversas sensações na audiência. Muitos diálogos são basicamente livres interpretações de cenas de outros filmes, bem como os movimentos de câmera, os enquadramentos, o estilo da edição de som e da trilha sonora e até, claro, do tom das performances dos atores.

"O Peso do Talento" é uma comédia agradável, engraçada e inteligente - daquelas que nos deixam com um sorriso no rosto durante todo o filme. O mérito de Cage interpretando si mesmo é o maior exemplo de como a metalinguagem pode ser divertida se usada corretamente, com ótimas sacadas e piadas completamente sem noção, mas que fazem todo sentido na proposta de Gormican. Olha, já no prólogo é possível entender qual será o tom da história e quando isso acontece, fica impossível não se conectar com a trama e com um personagem tão marcante.

Vale cada segundo!

Assista Agora

"O Peso do Talento" é muito divertido - muito mesmo! O filme do diretor Tom Gormican (de "Namoro ou Liberdade") é uma clara homenagem aos filmes clássicos de ação, aqueles cheios de clichês, mas que nos mantém ligados durante toda exibição - obviamente que dentro desse contexto, ninguém melhor do que Nicolas Cage para personificar essa era de ouro do gênero.

Sofrendo por não conseguir bons trabalhos e não ter mais a fama como antes, estando insatisfeito com a vida e cheio de dívidas, Nicolas Cage chegou ao fundo do poço. Após correr atrás de Quentin Tarantino implorando por um papel em seu novo filme e não obtendo sucesso, Cage acaba aceitando US$ 1 milhão para fazer uma espécie de "presença VIP" no aniversário de Javi (Pedro Pascal), um bilionário, superfã e fanático pelo ator. As coisas tomam um rumo inesperado quando Cage é recrutado por uma agente da CIA (Tiffany Haddish) e é forçado a investigar um sequestro onde o principal suspeito é, justamente, seu anfitrião. Confira o trailer:

"O Peso doTalento" chega com a chancela do sucesso que foi sua exibição no festival de cinema SXSW, nos EUA, fazendo com que seu índice de aprovação crítica fosse de surpreendentes 100% no site Rotten Tomatoes. Segundo o The Hollywood Reporter, o filme foi a produção com a melhor avaliação entre os mais de 100 filmes da carreira de Cage. Se 100% de aprovação pode parecer um exagero, eu diria que para os cinéfilos amantes de filmes de ação essa porcentagem é mais do que justa - e de fato ela se justifica, já que o roteiro cria toda uma atmosfera de nostalgia em cima de uma história simples, mas envolvente, principalmente pela excelente performance de Cage vivendo uma versão estereotipada de si mesmo.

Tudo em "O Peso doTalento" é construído para provocar um certo saudosismo despretensioso, já que é impossível levar a sério aquilo que vemos na tela, ao mesmo tempo em que rimos exatamente desses absurdos - veja, não estamos falando de um filme "pastelão", mas sim de uma narrativa que usa muito bem todos os gatilhos dramáticos do gênero para criar as mais diversas sensações na audiência. Muitos diálogos são basicamente livres interpretações de cenas de outros filmes, bem como os movimentos de câmera, os enquadramentos, o estilo da edição de som e da trilha sonora e até, claro, do tom das performances dos atores.

"O Peso do Talento" é uma comédia agradável, engraçada e inteligente - daquelas que nos deixam com um sorriso no rosto durante todo o filme. O mérito de Cage interpretando si mesmo é o maior exemplo de como a metalinguagem pode ser divertida se usada corretamente, com ótimas sacadas e piadas completamente sem noção, mas que fazem todo sentido na proposta de Gormican. Olha, já no prólogo é possível entender qual será o tom da história e quando isso acontece, fica impossível não se conectar com a trama e com um personagem tão marcante.

Vale cada segundo!

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O Pior Vizinho do Mundo

Assistam esse filme - é sério!

Mesmo que essa jornada seja daquelas de apertar o coração, é bem provável que ao subirem os créditos, a sensação seja a melhor possível. Eu diria, inclusive, que "O Pior Vizinho do Mundo" tem muito do que fez nos apaixonarmos por "O Método Kominsky" - do mal humor do protagonista à sua maneira de lidar com um mundo que parece não servir mais para nada por estar repleto de idiotas (palavras do protagonista, não minhas...rs). Dirigido pelo alemão Marc Forster (de "Em Busca da Terra do Nunca"), "A Man Called Otto" (no original) é básico em muitos sentidos, mas sem dúvida alguma se aproveita da presença de Tom Hanks e da sua enorme capacidade como ator, para criar um ponto de conexão com a audiência que torna impossível não torcer por ele e por sua felicidade. É clichê dos grandes, eu sei - mas funciona demais aqui!

Otto Anderson (Hanks), é um viúvo, mal-humorado e cheio de hábitos, na sua maioria ranzinzas. Quando um jovem e atrapalhado casal, com suas duas filhas pequenas, chegam no bairro, Otto começa a perceber nos pequenos gestos de sua vizinha Marisol (Mariana Treviño), uma nova forma de olhar para a vida, o que leva para uma amizade improvável e que, por outro lado, coloca seu mundo (todo organizadinho) de cabeça para baixo. Confira o trailer:

Inspirado no livro de Fredrik Beckman, o roteiro de "O Pior Vizinho do Mundo" não surpreende ao seguir um padrão linear de narrativa (o que torna sua trama bastante previsível) onde os eventos se desenrolam de maneira conveniente para o desenvolvimento emocional do protagonista - veja, isso não é um problema se ficar claro desde a primeira cena, que estamos falando de um filme essencialmente de ator. Hanks, como não poderia deixar de ser, leva o filme nas costas e naturalmente vai entregando algumas peças que ao olharmos para o todo, um pouco mais a frente, fazem muito sentido - embora fique claro que essa sempre foi a zona de conforto do filme. Isso faz do filme ruim? Não, pelo contrário, apenas estabelece a proposta do diretor de priorizar a complexidade do ser humano, e de seus sentimentos, ao invés de uma espetacularização superficial de uma condição que merece ser discutida com mais profundidade. 

Com a anuência do roteirista David Magee (do live-action de "A Pequena Sereia"), Forster abre mão do desenvolvimento dos personagens secundários para não tirar o foco do processo de transformação de Otto. Esses personagens têm certa importância, se relacionam com o protagonista no presente (alguns até no passado - nos flashbacks que ajudam a explicar alguns fatos), têm impacto na vida dele, mas são pouco explorados - eles acabam sendo retratados de maneira mais passageira, com características estereotipadas e unidimensionais, servindo como equilíbrio entre o drama e a comédia. Reparem no arco de Anita (Juanita Jennings) e Reuben (Peter Lawson Jones); eles são a personificação da dualidade desse conceito - a passagem onde Otto critica os carros de Reuben é impagável, mas o seu significado intimo vai além da escolha de uma marca de automóvel.

Por mais desconfortável que possa ser acompanhar Otto tentando o tirar sua vida, a forma como essas cenas são retratadas no filme, acreditem,  trazem até uma certa comicidade para o assunto, onde suas falhas acabam mostrando muito mais um lado otimista do que o peso do ato em si - definir "O Pior Vizinho do Mundo" como uma dramédia clássica ajuda muito a entender esse conceito. Essa dualidade, que em muitos momentos define o jogo narrativo proposto por Magee e Forster dão o tom e entregam uma mensagem de mais empatia, de redenção e de aceitação sobre a importância das relações humanas (verdadeiras). A história de Otto se mistura com a de alguém que conhecemos e por isso acaba oferecendo ótimas reflexões sobre o envelhecimento, sobre a solidão e, principalmente, sobre a busca por um ressignificado na vida. 

Dito tudo isso, minha recomendação é a seguinte: dê o play e seja feliz!

Assista Agora

Assistam esse filme - é sério!

Mesmo que essa jornada seja daquelas de apertar o coração, é bem provável que ao subirem os créditos, a sensação seja a melhor possível. Eu diria, inclusive, que "O Pior Vizinho do Mundo" tem muito do que fez nos apaixonarmos por "O Método Kominsky" - do mal humor do protagonista à sua maneira de lidar com um mundo que parece não servir mais para nada por estar repleto de idiotas (palavras do protagonista, não minhas...rs). Dirigido pelo alemão Marc Forster (de "Em Busca da Terra do Nunca"), "A Man Called Otto" (no original) é básico em muitos sentidos, mas sem dúvida alguma se aproveita da presença de Tom Hanks e da sua enorme capacidade como ator, para criar um ponto de conexão com a audiência que torna impossível não torcer por ele e por sua felicidade. É clichê dos grandes, eu sei - mas funciona demais aqui!

Otto Anderson (Hanks), é um viúvo, mal-humorado e cheio de hábitos, na sua maioria ranzinzas. Quando um jovem e atrapalhado casal, com suas duas filhas pequenas, chegam no bairro, Otto começa a perceber nos pequenos gestos de sua vizinha Marisol (Mariana Treviño), uma nova forma de olhar para a vida, o que leva para uma amizade improvável e que, por outro lado, coloca seu mundo (todo organizadinho) de cabeça para baixo. Confira o trailer:

Inspirado no livro de Fredrik Beckman, o roteiro de "O Pior Vizinho do Mundo" não surpreende ao seguir um padrão linear de narrativa (o que torna sua trama bastante previsível) onde os eventos se desenrolam de maneira conveniente para o desenvolvimento emocional do protagonista - veja, isso não é um problema se ficar claro desde a primeira cena, que estamos falando de um filme essencialmente de ator. Hanks, como não poderia deixar de ser, leva o filme nas costas e naturalmente vai entregando algumas peças que ao olharmos para o todo, um pouco mais a frente, fazem muito sentido - embora fique claro que essa sempre foi a zona de conforto do filme. Isso faz do filme ruim? Não, pelo contrário, apenas estabelece a proposta do diretor de priorizar a complexidade do ser humano, e de seus sentimentos, ao invés de uma espetacularização superficial de uma condição que merece ser discutida com mais profundidade. 

Com a anuência do roteirista David Magee (do live-action de "A Pequena Sereia"), Forster abre mão do desenvolvimento dos personagens secundários para não tirar o foco do processo de transformação de Otto. Esses personagens têm certa importância, se relacionam com o protagonista no presente (alguns até no passado - nos flashbacks que ajudam a explicar alguns fatos), têm impacto na vida dele, mas são pouco explorados - eles acabam sendo retratados de maneira mais passageira, com características estereotipadas e unidimensionais, servindo como equilíbrio entre o drama e a comédia. Reparem no arco de Anita (Juanita Jennings) e Reuben (Peter Lawson Jones); eles são a personificação da dualidade desse conceito - a passagem onde Otto critica os carros de Reuben é impagável, mas o seu significado intimo vai além da escolha de uma marca de automóvel.

Por mais desconfortável que possa ser acompanhar Otto tentando o tirar sua vida, a forma como essas cenas são retratadas no filme, acreditem,  trazem até uma certa comicidade para o assunto, onde suas falhas acabam mostrando muito mais um lado otimista do que o peso do ato em si - definir "O Pior Vizinho do Mundo" como uma dramédia clássica ajuda muito a entender esse conceito. Essa dualidade, que em muitos momentos define o jogo narrativo proposto por Magee e Forster dão o tom e entregam uma mensagem de mais empatia, de redenção e de aceitação sobre a importância das relações humanas (verdadeiras). A história de Otto se mistura com a de alguém que conhecemos e por isso acaba oferecendo ótimas reflexões sobre o envelhecimento, sobre a solidão e, principalmente, sobre a busca por um ressignificado na vida. 

Dito tudo isso, minha recomendação é a seguinte: dê o play e seja feliz!

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On The Rocks

Ninguém sabe captar a solidão, o vazio existencial ou a dor da alma como Sofia Coppola, mesmo que tudo isso seja fruto das neuras de um personagem. "On The Rocks", recém lançado filme da Diretora para o AppleTV+, trás o melhor de "Encontros e Desencontros" (ou "Lost in Translation") e "Somewhere" em um terreno onde Coppola domina: a sensibilidade de retratar as relações! Mais uma vez encontramos um texto completamente alinhado com o forma como o filme se apresenta na tela, com uma fotografia linda, uma trilha sonora belíssima e, claro, com o cenário (no caso Nova York) moldando a história, quase como um personagem - ela já fez a mesma coisa com Tóquio e Los Angeles!

Em "On The Rocks", Laura (Rashida Jones) é uma mulher ocupada, que cuida das duas filhas enquanto o marido trabalha. No momento em que ela enfrenta um terrível bloqueio criativo e tenta se readaptar a uma rotina para escrever um livro, seu marido, Dean (Marlon Wayans), vive um período mágico na sua vida profissional, colhendo os frutos de sua dedicação na empresa que criou do zero. Graças a isso, Dean precisa viajar muito e alguns mal-entendidos acabam colocando uma pulga atrás da orelha de Laura - ela acredita que ele pode estar tendo um caso extraconjugal com sua bela assistente Fiona (Jessica Henwick). Com o objetivo de descobrir a verdade, ela se une com seu pai, Felix (Bill Murray), um típico bon vivantnova iorquino apaixonado pela filha. Eles passam a seguir Dean, se colocando em situações extremamente constrangedoras, mas que acaba permitindo que ambos tenham mais tempo juntos para discutir alguns assuntos que, de alguma forma, prejudicaram a relação ente eles. Confira o trailer:

Talvez "On The Rocks" seja o filme mais leve que Sofia Coppola já dirigiu, sugerindo, inclusive, uma "quase" postura de auto-análise - veja, Laura é casada há quase tanto tempo quanto Coppola; elas têm o mesmo número de filhos, ela vem de uma família rica e com um pai famoso e carismático. Porém mais interessante que essas "coincidências", são as "neuras" que as escolhas de vida pode provocar em nós e, certamente, Coppola precisou lidar com muitas delas em vários momentos e talvez por isso ela seja capaz de entregar um filme tão humano, com alma! Antes do play, saiba que se trata de mais um filme de uma diretora que tem uma identidade e defende seu conceito narrativo e estético com unhas e dentes, ou seja, se você não se relacionou com suas obras anteriores, fuja; porém se o contrário for verdadeiro, prepare-se para 1:40 de um filme delicioso de assistir!

Assista Agora

Ninguém sabe captar a solidão, o vazio existencial ou a dor da alma como Sofia Coppola, mesmo que tudo isso seja fruto das neuras de um personagem. "On The Rocks", recém lançado filme da Diretora para o AppleTV+, trás o melhor de "Encontros e Desencontros" (ou "Lost in Translation") e "Somewhere" em um terreno onde Coppola domina: a sensibilidade de retratar as relações! Mais uma vez encontramos um texto completamente alinhado com o forma como o filme se apresenta na tela, com uma fotografia linda, uma trilha sonora belíssima e, claro, com o cenário (no caso Nova York) moldando a história, quase como um personagem - ela já fez a mesma coisa com Tóquio e Los Angeles!

Em "On The Rocks", Laura (Rashida Jones) é uma mulher ocupada, que cuida das duas filhas enquanto o marido trabalha. No momento em que ela enfrenta um terrível bloqueio criativo e tenta se readaptar a uma rotina para escrever um livro, seu marido, Dean (Marlon Wayans), vive um período mágico na sua vida profissional, colhendo os frutos de sua dedicação na empresa que criou do zero. Graças a isso, Dean precisa viajar muito e alguns mal-entendidos acabam colocando uma pulga atrás da orelha de Laura - ela acredita que ele pode estar tendo um caso extraconjugal com sua bela assistente Fiona (Jessica Henwick). Com o objetivo de descobrir a verdade, ela se une com seu pai, Felix (Bill Murray), um típico bon vivantnova iorquino apaixonado pela filha. Eles passam a seguir Dean, se colocando em situações extremamente constrangedoras, mas que acaba permitindo que ambos tenham mais tempo juntos para discutir alguns assuntos que, de alguma forma, prejudicaram a relação ente eles. Confira o trailer:

Talvez "On The Rocks" seja o filme mais leve que Sofia Coppola já dirigiu, sugerindo, inclusive, uma "quase" postura de auto-análise - veja, Laura é casada há quase tanto tempo quanto Coppola; elas têm o mesmo número de filhos, ela vem de uma família rica e com um pai famoso e carismático. Porém mais interessante que essas "coincidências", são as "neuras" que as escolhas de vida pode provocar em nós e, certamente, Coppola precisou lidar com muitas delas em vários momentos e talvez por isso ela seja capaz de entregar um filme tão humano, com alma! Antes do play, saiba que se trata de mais um filme de uma diretora que tem uma identidade e defende seu conceito narrativo e estético com unhas e dentes, ou seja, se você não se relacionou com suas obras anteriores, fuja; porém se o contrário for verdadeiro, prepare-se para 1:40 de um filme delicioso de assistir!

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Only Murders in the Building

"Only Murders in the Building" é muito divertida - ao lado de "Ted Lasso" e "O Método Kominsky", talvez tenha sido a série que mais trouxe um frescor narrativo nos últimos anos para um gênero que tem dificuldade de chamar atenção de uma parte considerável dos assinantes de streaming. Com uma primeira temporada afinadíssima, a produção original da HULU, aqui distribuída pelo Star+, segue a linha conceitual do clássico "Os 7 Suspeitos" e das histórias de Agatha Christie, porém repaginada e pontualmente inserida no contexto dos recentes sucessos dos podcasts de "True Crime".

Na história conhecemos um inusitado trio de vizinhos que moram em um tradicional prédio de NY - o deslumbrante Arconia. Com personalidades completamente distintas, Charles-Haden Savage (Steve Martin), Oliver Putnam (Martin Short) e Mabel Mora (Selena Gomez) têm em comum a paixão por histórias de investigação policial. Embora a aproximação entres eles tenha acontecido por acaso, tudo muda quando os três se veem envolvidos em um possível caso de assassinato, que para a polícia não passa de um suicídio, e resolvem, por conta própria, tentar desvendar o mistério e ainda produzir um podcast sobre o caso. Confira o trailer: 

É inegável que "Only Murders in the Building" caminha na linha tênue entre o "pastelão" e o "genial" - uma marca de Steve Martin nos anos 90 que ele replica ao lado de John Robert Hoffman (de "Grace and Frankie") com os devidos ajustes para equilibrar o mistério com a comédia transformando a série em algo genuinamente original e carismática. Chama atenção como o texto, mesmo satírico, consegue manter a história empolgante durante os dez episódios sem enjoar - existe um clima de leveza, quase ingênua, como se estivéssemos jogando uma partida de "Detetive" com os amigos.

No que diz respeito ao conceito narrativo, cada episódio procura brincar com a forma como os personagens são apresentados. Sempre com um narrador diferente, somos provocados a entender como cada um desses personagens podem interferir na história mesmo quando são meros e passageiros coadjuvantes. Essa dinâmica é divertida, pois as soluções são realmente muito criativas - veja, se em um episódio entendemos o life style novaiorquino a partir de um ator aposentado que vive do seu passado glorioso, mas que carrega o peso da solidão representada por atores fantasiados de personagens infantis; em outro conhecemos alguns fatos importantes da história pelo ponto de vista de um jovem surdo, ou seja, passamos o episódio inteiro sem ouvir um único diálogo - apenas observando a linguagem de sinais e fazendo leitura labial dos atores.

É fato que "Only Murders in the Building" pode parecer bobinha, mas não se engane: ela é tão inteligente quanto divertida. A história se encaixa, os protagonistas são um show a parte, o roteiro é sagaz e a produção é impecável - você vai perceber um certo toque vintageno figurino, no cenário e na trilha sonora, mesmo com um texto dinâmico e moderno. Aliás esse choque de gerações é muito bem explorado na relação de Martin e Short com Selena Gomez - a química entre eles surpreende. E pode se preparar que vem algumas indicações de Emmys e Globos de Ouro pela frente!

Vale muito o seu play!

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"Only Murders in the Building" é muito divertida - ao lado de "Ted Lasso" e "O Método Kominsky", talvez tenha sido a série que mais trouxe um frescor narrativo nos últimos anos para um gênero que tem dificuldade de chamar atenção de uma parte considerável dos assinantes de streaming. Com uma primeira temporada afinadíssima, a produção original da HULU, aqui distribuída pelo Star+, segue a linha conceitual do clássico "Os 7 Suspeitos" e das histórias de Agatha Christie, porém repaginada e pontualmente inserida no contexto dos recentes sucessos dos podcasts de "True Crime".

Na história conhecemos um inusitado trio de vizinhos que moram em um tradicional prédio de NY - o deslumbrante Arconia. Com personalidades completamente distintas, Charles-Haden Savage (Steve Martin), Oliver Putnam (Martin Short) e Mabel Mora (Selena Gomez) têm em comum a paixão por histórias de investigação policial. Embora a aproximação entres eles tenha acontecido por acaso, tudo muda quando os três se veem envolvidos em um possível caso de assassinato, que para a polícia não passa de um suicídio, e resolvem, por conta própria, tentar desvendar o mistério e ainda produzir um podcast sobre o caso. Confira o trailer: 

É inegável que "Only Murders in the Building" caminha na linha tênue entre o "pastelão" e o "genial" - uma marca de Steve Martin nos anos 90 que ele replica ao lado de John Robert Hoffman (de "Grace and Frankie") com os devidos ajustes para equilibrar o mistério com a comédia transformando a série em algo genuinamente original e carismática. Chama atenção como o texto, mesmo satírico, consegue manter a história empolgante durante os dez episódios sem enjoar - existe um clima de leveza, quase ingênua, como se estivéssemos jogando uma partida de "Detetive" com os amigos.

No que diz respeito ao conceito narrativo, cada episódio procura brincar com a forma como os personagens são apresentados. Sempre com um narrador diferente, somos provocados a entender como cada um desses personagens podem interferir na história mesmo quando são meros e passageiros coadjuvantes. Essa dinâmica é divertida, pois as soluções são realmente muito criativas - veja, se em um episódio entendemos o life style novaiorquino a partir de um ator aposentado que vive do seu passado glorioso, mas que carrega o peso da solidão representada por atores fantasiados de personagens infantis; em outro conhecemos alguns fatos importantes da história pelo ponto de vista de um jovem surdo, ou seja, passamos o episódio inteiro sem ouvir um único diálogo - apenas observando a linguagem de sinais e fazendo leitura labial dos atores.

É fato que "Only Murders in the Building" pode parecer bobinha, mas não se engane: ela é tão inteligente quanto divertida. A história se encaixa, os protagonistas são um show a parte, o roteiro é sagaz e a produção é impecável - você vai perceber um certo toque vintageno figurino, no cenário e na trilha sonora, mesmo com um texto dinâmico e moderno. Aliás esse choque de gerações é muito bem explorado na relação de Martin e Short com Selena Gomez - a química entre eles surpreende. E pode se preparar que vem algumas indicações de Emmys e Globos de Ouro pela frente!

Vale muito o seu play!

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Os Encanadores da Casa Branca

"Imagina se aquela série do diretor José Padilha, "O Mecanismo" da Netflix, que retrata os bastidores da Lava-Jato e todas as ramificações até o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, fosse contada de uma forma mais leve, irônica, quase satírica, sem, obviamente, esquecer que todos os fatos retratados na narrativa são, de fato, reais! Pois bem, "Os Encanadores da Casa Branca", produção da HBO, é mais ou menos isso, já que ela acompanha os detalhes da operação política mais catastrófica da história dos Estados Unidos, conhecida como o "Caso Watergate", só que dessa vez pela ótica dos próprios criminosos. Mas atenção: para uma experiência mais interessante, é preciso ter o mínimo de conhecimento sobre o caso e seus principais personagens. Se esse não é o seu caso, sugiro assistir ao filme "Todos Os Homens do Presidente" (de 1976), que oferecerá um prólogo bastante satisfatório.

A minissérie basicamente acompanha E. Howard Hunt (interpretado por Woody Harrelson) e Gordon Liddy (interpretado por Justin Theroux), dois espiões veteranos, um da CIA e outro do FBI, que passaram a trabalhar no comitê de reeleição do então presidente Richard Nixon e que foram as mentes por trás do escândalo Watergate que derrubou acidentalmente o político que estavam tentando proteger. Confira o trailer:

Em 2007, Egil Krogh, advogado da administração de Richard Nixon que foi condenado à prisão por seu envolvimento no caso Watergate, escreveu um livro sobre o assunto com a ajuda de seu filho Matthew, que foi inicialmente batizado de "Integridade", mas que depois ganhou uma edição com o nome de "Os Encanadores da Casa Branca"- foi esse livro que serviu de base para a minissérie da HBO. Para quem não sabe, o caso Watergate foi um escândalo político que ocorreu nos Estados Unidos na década de 1970, quando cinco homens foram presos por tentarem invadir o escritório do Partido Democrata, no complexo Watergate. As investigações revelaram que a invasão estava ligada a uma série de atividades ilegais realizadas pelo comitê de reeleição do Presidente Nixon, que buscava obter vantagens políticas e assim vencer nas urnas. O caso envolveu suborno, obstrução da justiça e abuso de poder, levando à renúncia do presidente em 1974.

Aqui, os criadores Alex Gregory e Peter Huyck, ambos produtores de "Veep", se unem mais uma vez ao diretor David Mandel para construir uma atmosfera envolvente que mistura o melhor do drama político com o tragicômico da idolatria política - repare como, em tempos de total polarização, o assunto é até mais atemporal do que podemos imaginar e estupidamente repetitivo ao longo das décadas, no mundo inteiro. A obsessão que seus protagonistas nutrem por Nixon soa bizarra, mas é inegável como o roteiro expande essas camadas de forma fluida e inteligente para criar um paralelo consistente entre corrupção, desvio de caráter e, claro, as consequências catastróficas que uma servidão cega pode trazer como efeito colateral.

Com um verdadeiro show de Harrelson (sempre ele) e Theroux, "White House Plumbers" (no original) brilha - mesmo carregando o peso de abordar a maior quantidade de fatos possíveis, muitos deles inacreditáveis, ao longo de uma linha temporal curta que a narrativa escolheu para contextualizar o Watergate. Veja, o apego à realidade é tão grande que, cinematograficamente, soa excessivo. Dito isso, fica fácil afirmar que a minissérie não é uma jornada das mais fáceis; no entanto, com o mínimo de conhecimento do caso, ela é um mergulho na história democrática americana com muito entretenimento e de uma forma muito original.

Vale muito a pena assistir!"

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"Imagina se aquela série do diretor José Padilha, "O Mecanismo" da Netflix, que retrata os bastidores da Lava-Jato e todas as ramificações até o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, fosse contada de uma forma mais leve, irônica, quase satírica, sem, obviamente, esquecer que todos os fatos retratados na narrativa são, de fato, reais! Pois bem, "Os Encanadores da Casa Branca", produção da HBO, é mais ou menos isso, já que ela acompanha os detalhes da operação política mais catastrófica da história dos Estados Unidos, conhecida como o "Caso Watergate", só que dessa vez pela ótica dos próprios criminosos. Mas atenção: para uma experiência mais interessante, é preciso ter o mínimo de conhecimento sobre o caso e seus principais personagens. Se esse não é o seu caso, sugiro assistir ao filme "Todos Os Homens do Presidente" (de 1976), que oferecerá um prólogo bastante satisfatório.

A minissérie basicamente acompanha E. Howard Hunt (interpretado por Woody Harrelson) e Gordon Liddy (interpretado por Justin Theroux), dois espiões veteranos, um da CIA e outro do FBI, que passaram a trabalhar no comitê de reeleição do então presidente Richard Nixon e que foram as mentes por trás do escândalo Watergate que derrubou acidentalmente o político que estavam tentando proteger. Confira o trailer:

Em 2007, Egil Krogh, advogado da administração de Richard Nixon que foi condenado à prisão por seu envolvimento no caso Watergate, escreveu um livro sobre o assunto com a ajuda de seu filho Matthew, que foi inicialmente batizado de "Integridade", mas que depois ganhou uma edição com o nome de "Os Encanadores da Casa Branca"- foi esse livro que serviu de base para a minissérie da HBO. Para quem não sabe, o caso Watergate foi um escândalo político que ocorreu nos Estados Unidos na década de 1970, quando cinco homens foram presos por tentarem invadir o escritório do Partido Democrata, no complexo Watergate. As investigações revelaram que a invasão estava ligada a uma série de atividades ilegais realizadas pelo comitê de reeleição do Presidente Nixon, que buscava obter vantagens políticas e assim vencer nas urnas. O caso envolveu suborno, obstrução da justiça e abuso de poder, levando à renúncia do presidente em 1974.

Aqui, os criadores Alex Gregory e Peter Huyck, ambos produtores de "Veep", se unem mais uma vez ao diretor David Mandel para construir uma atmosfera envolvente que mistura o melhor do drama político com o tragicômico da idolatria política - repare como, em tempos de total polarização, o assunto é até mais atemporal do que podemos imaginar e estupidamente repetitivo ao longo das décadas, no mundo inteiro. A obsessão que seus protagonistas nutrem por Nixon soa bizarra, mas é inegável como o roteiro expande essas camadas de forma fluida e inteligente para criar um paralelo consistente entre corrupção, desvio de caráter e, claro, as consequências catastróficas que uma servidão cega pode trazer como efeito colateral.

Com um verdadeiro show de Harrelson (sempre ele) e Theroux, "White House Plumbers" (no original) brilha - mesmo carregando o peso de abordar a maior quantidade de fatos possíveis, muitos deles inacreditáveis, ao longo de uma linha temporal curta que a narrativa escolheu para contextualizar o Watergate. Veja, o apego à realidade é tão grande que, cinematograficamente, soa excessivo. Dito isso, fica fácil afirmar que a minissérie não é uma jornada das mais fáceis; no entanto, com o mínimo de conhecimento do caso, ela é um mergulho na história democrática americana com muito entretenimento e de uma forma muito original.

Vale muito a pena assistir!"

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Otros Pecados

Você provavelmente ainda não assistiu "Otros Pecados" - o que é até natural já que essa produção argentina de 2019 está escondida no catálogo da HBO Max e nunca chegou a chamar tanta atenção fora dos limites do seu território. No entanto, me sinto extremamente confortável em atestar: cinco anos após o excelente "Relatos Selvagens", essa nova antologia, aqui no formato de minissérie, traz o melhor daquele cinema argentino, na sua forma e no seu conteúdo, de uma maneira criativa e extremamente envolvente que vai fazer você maratonar e torcer para que o fim demore muito para chegar. Sempre com aquele misto de comédia, drama e sarcasmo, somos convidados a explorar outros pecados (daí o título) que não aqueles sete capitais que já conhecemos.

Em cada uma das dez histórias há uma construção única, original, que nos convida a ser espectadores de situações onde o limite está ligado ao inimaginável (alguém já viu isso em "Relatos"?). Onde essas situações abordadas fazem parte do nosso dia a dia, mesmo que aqui elevadas ao absurdo. É nesse contexto que surgem as misérias íntimas dos personagens, absorvidos pela culpa, pelo ciúme e pelas vicissitudes sociais, aquelas aptas a acabar com uma vida aparentemente tranquila e que embora pouco se saiba sobre quem de fato estaria disposto a agir de tal forma, suas consequências se tornam claras e irremediáveis. Confira o trailer (em espanhol):

As histórias de "Otros Pecados" navegam em situações difíceis de resolver, o que nos provoca sensações indescritíveis e talvez esteja aí a grande força dessa narrativa - o exercício de nos projetar para cada uma das histórias e assim refletir como nos comportaríamos em uma situação tão extrema, é tão forte quanto natural. Porém nada disso aconteceria não fosse o talentoso elenco para dar vida a esse personagens - Rafael Ferro, Leonardo Sbaraglia, Erica Rivas, Germán Palacios, Celeste Cid, Gonzalo Heredia, Violeta Urtizberea e Dady Brieva, entre muitos outros nomes que já são reconhecíveis para a audiência brasileira além de Ricardo Darín.

O tom de "Otros Pecados" foi um grande gancho para unificar essa estrutura de antologia. Os diretores Daniel Barone (de "El Lobista") e Jorge Nisco (de "Sua Parte do Trato") seguem um certo padrão, senão visual, pelo menos no mood.  É verdade que cada história tem o seu encanto pessoal, umas são mais interessantes que outras, natural, mas todas oferecem uma perspectiva muito interessante no que diz respeito a complexidade das ações e dos dramas humanos. Seja em uma trama onde um fenômeno do tênis não consegue sobreviver sem sua treinadora abusiva, ou um rapaz que precisa lidar com o rancor de uma ex-namorada dez anos depois e até um publicitário capaz de tudo para não perder seu lugar (e status) para um talento mais novo; a minissérie entretem como poucas.

O fato é que "Otros Pecados" é uma jóia! Um entretenimento de primeiríssima qualidade para quem já está acostumado com um certo estilo argentino de contar histórias absurdas sem se levar tão a sério com o simples objetivo de se divertir. E o melhor de tudo isso é que as tramas são independentes, prontas para nos surpreender a cada episódio e olha, não decepcionam!

Vale muito o seu play!

Assista Agora

Você provavelmente ainda não assistiu "Otros Pecados" - o que é até natural já que essa produção argentina de 2019 está escondida no catálogo da HBO Max e nunca chegou a chamar tanta atenção fora dos limites do seu território. No entanto, me sinto extremamente confortável em atestar: cinco anos após o excelente "Relatos Selvagens", essa nova antologia, aqui no formato de minissérie, traz o melhor daquele cinema argentino, na sua forma e no seu conteúdo, de uma maneira criativa e extremamente envolvente que vai fazer você maratonar e torcer para que o fim demore muito para chegar. Sempre com aquele misto de comédia, drama e sarcasmo, somos convidados a explorar outros pecados (daí o título) que não aqueles sete capitais que já conhecemos.

Em cada uma das dez histórias há uma construção única, original, que nos convida a ser espectadores de situações onde o limite está ligado ao inimaginável (alguém já viu isso em "Relatos"?). Onde essas situações abordadas fazem parte do nosso dia a dia, mesmo que aqui elevadas ao absurdo. É nesse contexto que surgem as misérias íntimas dos personagens, absorvidos pela culpa, pelo ciúme e pelas vicissitudes sociais, aquelas aptas a acabar com uma vida aparentemente tranquila e que embora pouco se saiba sobre quem de fato estaria disposto a agir de tal forma, suas consequências se tornam claras e irremediáveis. Confira o trailer (em espanhol):

As histórias de "Otros Pecados" navegam em situações difíceis de resolver, o que nos provoca sensações indescritíveis e talvez esteja aí a grande força dessa narrativa - o exercício de nos projetar para cada uma das histórias e assim refletir como nos comportaríamos em uma situação tão extrema, é tão forte quanto natural. Porém nada disso aconteceria não fosse o talentoso elenco para dar vida a esse personagens - Rafael Ferro, Leonardo Sbaraglia, Erica Rivas, Germán Palacios, Celeste Cid, Gonzalo Heredia, Violeta Urtizberea e Dady Brieva, entre muitos outros nomes que já são reconhecíveis para a audiência brasileira além de Ricardo Darín.

O tom de "Otros Pecados" foi um grande gancho para unificar essa estrutura de antologia. Os diretores Daniel Barone (de "El Lobista") e Jorge Nisco (de "Sua Parte do Trato") seguem um certo padrão, senão visual, pelo menos no mood.  É verdade que cada história tem o seu encanto pessoal, umas são mais interessantes que outras, natural, mas todas oferecem uma perspectiva muito interessante no que diz respeito a complexidade das ações e dos dramas humanos. Seja em uma trama onde um fenômeno do tênis não consegue sobreviver sem sua treinadora abusiva, ou um rapaz que precisa lidar com o rancor de uma ex-namorada dez anos depois e até um publicitário capaz de tudo para não perder seu lugar (e status) para um talento mais novo; a minissérie entretem como poucas.

O fato é que "Otros Pecados" é uma jóia! Um entretenimento de primeiríssima qualidade para quem já está acostumado com um certo estilo argentino de contar histórias absurdas sem se levar tão a sério com o simples objetivo de se divertir. E o melhor de tudo isso é que as tramas são independentes, prontas para nos surpreender a cada episódio e olha, não decepcionam!

Vale muito o seu play!

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Paternidade

O melhor elogio que um homem pode receber após ter um filho é que ele se tornou um bom pai (o melhor do mundo pelos olhos do filho)! A vida não se trata mais de conquistas profissionais ou materiais - tudo ganha um outro sentido, por mais que você não tenha a menor noção do que essa transformação vai fazer com você ou com seu coração! Dito isso, "Paternidade", produção da Netflix com Kevin Hart, é muito feliz ao captar a essência vital da relação ente pai e filha e é aí que o filme ganha força, não nas fracas piadas que o roteiro teima em propor durante o primeiro ato - é como se o filme também aprendesse com a relação que, por si só, já é o suficiente para contar um boa e divertida história!

Baseado em uma história real, "Paternidade" acompanha a jornada de um homem descobrindo como é ser pai. Matt (Hart) fica viúvo inesperadamente quando sua esposa morre no dia seguinte ao parto de sua filha Maddy (Melody Hurd). Ainda sob o efeito devastador do luto, ele decide criar a menina sozinho, mesmo que ninguém acredite que ele tenha vocação para isso. Confira o trailer:

Embora o roteiro vacile um pouco no texto, Paul Weitz (indicado ao Oscar em 2002 pelo roteiro adaptado de "Um Grande Garoto") foi muito inteligente ao dividir a história em dois momentos bastante distintos, usando de muito flashback para estabelecer as relações entre os personagens que a linearidade impediria o filme de mostrar. Ao acompanhar os desafios de Matt como pai de primeira viagem e o convívio diário com os desafios naturais de cuidar de uma filha recém-nascida, "Paternidade" cria um vínculo emocional com quem assiste imediatamente - quem é pai vai entender do que estou falando! É nessa fase que alguns diálogos parecem forçados demais, sem graça e até estereotipados, porém as situações são tão divertidas que o filme se sustenta até deslanchar.  É quando Maddy faz 5 anos e começa ir para escola que tudo se encaixa - lidar com as inseguranças de um pai vendo sua filha crescer ao mesmo tempo em que se permite ter uma nova namorada e a recomeçar a viver como homem depois do luto. E aqui cabe uma observação: excelente escolha de DeWanda Wise como Swan - ela é cativante, além de linda!

Hart faz um protagonista mais dramático e mesmo não sendo sua zona de conforto, ele vai muito bem. Agora, de fato, ele não tem um range muito grande de interpretação, se limitando apraticamente reprisar o papel que fez em "Amigos para Sempre" - e como naquela adaptação, Hart não está no mesmo nível de Omar Sy. Porém, ele cria uma química perfeita com Melody Hurd e com DeWanda Wis e isso ajuda muito na sua performance - quando ele está sozinho em cena, também vai muito bem ao transitar entre a insegurança do homem machucado pela vida com a alegria de estar vivendo ao lado da filha ainda bebê. Seu mau humor e dependência de um pai que prioriza as necessidades de sua filha, também convencem!

"Paternidade" é uma obra muito honesta na forma e no conteúdo. Com um tom mais leve, mesmo discutindo temas difíceis, tem uma história muito tocante e que possui uma bela mensagem sobre o real significado de ter uma filha(o). Diverte e emociona na mesma proporção!

Vale a pena!

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O melhor elogio que um homem pode receber após ter um filho é que ele se tornou um bom pai (o melhor do mundo pelos olhos do filho)! A vida não se trata mais de conquistas profissionais ou materiais - tudo ganha um outro sentido, por mais que você não tenha a menor noção do que essa transformação vai fazer com você ou com seu coração! Dito isso, "Paternidade", produção da Netflix com Kevin Hart, é muito feliz ao captar a essência vital da relação ente pai e filha e é aí que o filme ganha força, não nas fracas piadas que o roteiro teima em propor durante o primeiro ato - é como se o filme também aprendesse com a relação que, por si só, já é o suficiente para contar um boa e divertida história!

Baseado em uma história real, "Paternidade" acompanha a jornada de um homem descobrindo como é ser pai. Matt (Hart) fica viúvo inesperadamente quando sua esposa morre no dia seguinte ao parto de sua filha Maddy (Melody Hurd). Ainda sob o efeito devastador do luto, ele decide criar a menina sozinho, mesmo que ninguém acredite que ele tenha vocação para isso. Confira o trailer:

Embora o roteiro vacile um pouco no texto, Paul Weitz (indicado ao Oscar em 2002 pelo roteiro adaptado de "Um Grande Garoto") foi muito inteligente ao dividir a história em dois momentos bastante distintos, usando de muito flashback para estabelecer as relações entre os personagens que a linearidade impediria o filme de mostrar. Ao acompanhar os desafios de Matt como pai de primeira viagem e o convívio diário com os desafios naturais de cuidar de uma filha recém-nascida, "Paternidade" cria um vínculo emocional com quem assiste imediatamente - quem é pai vai entender do que estou falando! É nessa fase que alguns diálogos parecem forçados demais, sem graça e até estereotipados, porém as situações são tão divertidas que o filme se sustenta até deslanchar.  É quando Maddy faz 5 anos e começa ir para escola que tudo se encaixa - lidar com as inseguranças de um pai vendo sua filha crescer ao mesmo tempo em que se permite ter uma nova namorada e a recomeçar a viver como homem depois do luto. E aqui cabe uma observação: excelente escolha de DeWanda Wise como Swan - ela é cativante, além de linda!

Hart faz um protagonista mais dramático e mesmo não sendo sua zona de conforto, ele vai muito bem. Agora, de fato, ele não tem um range muito grande de interpretação, se limitando apraticamente reprisar o papel que fez em "Amigos para Sempre" - e como naquela adaptação, Hart não está no mesmo nível de Omar Sy. Porém, ele cria uma química perfeita com Melody Hurd e com DeWanda Wis e isso ajuda muito na sua performance - quando ele está sozinho em cena, também vai muito bem ao transitar entre a insegurança do homem machucado pela vida com a alegria de estar vivendo ao lado da filha ainda bebê. Seu mau humor e dependência de um pai que prioriza as necessidades de sua filha, também convencem!

"Paternidade" é uma obra muito honesta na forma e no conteúdo. Com um tom mais leve, mesmo discutindo temas difíceis, tem uma história muito tocante e que possui uma bela mensagem sobre o real significado de ter uma filha(o). Diverte e emociona na mesma proporção!

Vale a pena!

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Physical

"Physical", série de 10 episódios da AppleTV+, é surpreendente desde o primeiro episódio, mas te garanto: assim que você entender o conceito narrativo e a forma como a história foi desenvolvida (e como os personagens se relacionam com ela), fica ainda mais claro que se trata de um produto com um requinte raro, inteligente ao mesmo tempo que é "desagradável" - como foi "Breaking Bad", por exemplo. Meu conselho então, é para que você não se guie apenas pelo primeiro episódio, pois não vai dar tempo de entender a dinâmica da série e assim se preparar para um drama extremamente profundo que será apresentado nos demais episódios que, aliás, vai tocar em assuntos bem desconfortáveis, duros e incômodos; mas que ao mesmo tempo vai chegar embrulhado em uma atmosfera nostálgica, colorida e, principalmente, irônica - e é isso que faz de "Physical" genial!

A série acompanha Sheila Rubin (Rose Byrne), uma típica dona de casa atormentada por suas escolhas, em uma San Diego cruel dos anos 80. Uma mulher que luta diariamente contra seus demônios pessoais - inclusive exteriorizado por um distúrbio alimentar gravíssimo, enquanto seu marido, Danny Rubin (Rory Scovel), um professor desempregado, ativista e muitas vezes machista, tenta se dar bem na carreira politica. Sheila busca se reencontrar como mulher e as coisas começam a mudar drasticamente quando ela descobre a aeróbica, mergulhando assim em uma jornada de empoderamento e de sucesso profissional. Confira o trailer:

Além de um conceito visual muito interessante, como comentei, "Physical" traz no seu DNA "elementos de transformação de personagem" que foram muito explorados em "Breaking Bad" por anos e que depois acabou virando uma marca registrada do Vince Gilligan, sendo transportada (em diferentes níveis, claro) para o universo feminino em outras duas séries que tem no subtexto irônico e corajoso, sua maior força (e que também merecem nossa atenção): "Good Girls" e "Mytho".

Veja, "Physical" tinha tudo para ser mais uma versão nostálgica dos anos 80 - dessa vez apoiada na febre das fitas VHS contendo exercícios aeróbicos ao melhor estilo "Jane Fonda". Ela também poderia ser um retrato romântico da jornada do herói (ou da heroína, como preferir) na busca pela independência e pelo sucesso muito além da sombra de um marido machista (mesmo fracassado). Tudo isso ainda inserido em um cenário praiano da Costa Oeste americana ao som do pós-disco da era Reagan. Pois bem, "Physical" até tem tudo isso, mas não "só" isso - o que a criadora e showrunner da série, Annie Weisman (Desperate Housewives), nos entrega é um mergulho muito mais profundo em uma história complicada, angustiante e bastante triste, onde as imperfeições do ser humano (maravilhosamente transformadas em uma sinceridade brutal pela "voz" do pensamento da protagonista) simplesmente explodem na tela.

Se Sheila Rubin diz ou age de uma forma, saiba que você nunca será surpreendido por sua motivação real já que essa "voz do pensamento" expõe exatamente todas as suas vontades - e aqui um ponto de originalidade que nos afasta da mesma empatia imediata que tivemos por Walter White, já que Sheila não foi criada para que a audiência torça por ela. Sheila, de fato, tem mais defeitos do que qualidades, mas com o passar do tempo pelo menos, vamos entendendo e até aceitando suas imperfeições. E aqui cabe um rápido, mas pertinente elogio: Rose Byrne está simplesmente fantástica e será nome certo nas premiações a partir de agora!

"Physical" vale por tudo isso e muito mais! A série não se apega a uma narrativa convencional, muito menos chega com o compromisso de ser engraçada (mesmo sendo) - se o trailer te passou isso, fique atento no que não é mostrado e interprete cada diálogo da maneira mais obscura que você conseguir, pois a série vai te provocar a ter essa atitude em todos os episódios da primeira temporada.

Vale muito a pena! 

Assista Agora

"Physical", série de 10 episódios da AppleTV+, é surpreendente desde o primeiro episódio, mas te garanto: assim que você entender o conceito narrativo e a forma como a história foi desenvolvida (e como os personagens se relacionam com ela), fica ainda mais claro que se trata de um produto com um requinte raro, inteligente ao mesmo tempo que é "desagradável" - como foi "Breaking Bad", por exemplo. Meu conselho então, é para que você não se guie apenas pelo primeiro episódio, pois não vai dar tempo de entender a dinâmica da série e assim se preparar para um drama extremamente profundo que será apresentado nos demais episódios que, aliás, vai tocar em assuntos bem desconfortáveis, duros e incômodos; mas que ao mesmo tempo vai chegar embrulhado em uma atmosfera nostálgica, colorida e, principalmente, irônica - e é isso que faz de "Physical" genial!

A série acompanha Sheila Rubin (Rose Byrne), uma típica dona de casa atormentada por suas escolhas, em uma San Diego cruel dos anos 80. Uma mulher que luta diariamente contra seus demônios pessoais - inclusive exteriorizado por um distúrbio alimentar gravíssimo, enquanto seu marido, Danny Rubin (Rory Scovel), um professor desempregado, ativista e muitas vezes machista, tenta se dar bem na carreira politica. Sheila busca se reencontrar como mulher e as coisas começam a mudar drasticamente quando ela descobre a aeróbica, mergulhando assim em uma jornada de empoderamento e de sucesso profissional. Confira o trailer:

Além de um conceito visual muito interessante, como comentei, "Physical" traz no seu DNA "elementos de transformação de personagem" que foram muito explorados em "Breaking Bad" por anos e que depois acabou virando uma marca registrada do Vince Gilligan, sendo transportada (em diferentes níveis, claro) para o universo feminino em outras duas séries que tem no subtexto irônico e corajoso, sua maior força (e que também merecem nossa atenção): "Good Girls" e "Mytho".

Veja, "Physical" tinha tudo para ser mais uma versão nostálgica dos anos 80 - dessa vez apoiada na febre das fitas VHS contendo exercícios aeróbicos ao melhor estilo "Jane Fonda". Ela também poderia ser um retrato romântico da jornada do herói (ou da heroína, como preferir) na busca pela independência e pelo sucesso muito além da sombra de um marido machista (mesmo fracassado). Tudo isso ainda inserido em um cenário praiano da Costa Oeste americana ao som do pós-disco da era Reagan. Pois bem, "Physical" até tem tudo isso, mas não "só" isso - o que a criadora e showrunner da série, Annie Weisman (Desperate Housewives), nos entrega é um mergulho muito mais profundo em uma história complicada, angustiante e bastante triste, onde as imperfeições do ser humano (maravilhosamente transformadas em uma sinceridade brutal pela "voz" do pensamento da protagonista) simplesmente explodem na tela.

Se Sheila Rubin diz ou age de uma forma, saiba que você nunca será surpreendido por sua motivação real já que essa "voz do pensamento" expõe exatamente todas as suas vontades - e aqui um ponto de originalidade que nos afasta da mesma empatia imediata que tivemos por Walter White, já que Sheila não foi criada para que a audiência torça por ela. Sheila, de fato, tem mais defeitos do que qualidades, mas com o passar do tempo pelo menos, vamos entendendo e até aceitando suas imperfeições. E aqui cabe um rápido, mas pertinente elogio: Rose Byrne está simplesmente fantástica e será nome certo nas premiações a partir de agora!

"Physical" vale por tudo isso e muito mais! A série não se apega a uma narrativa convencional, muito menos chega com o compromisso de ser engraçada (mesmo sendo) - se o trailer te passou isso, fique atento no que não é mostrado e interprete cada diálogo da maneira mais obscura que você conseguir, pois a série vai te provocar a ter essa atitude em todos os episódios da primeira temporada.

Vale muito a pena! 

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Quem Fizer Ganha

Futebol é coisa séria, certo? Certíssimo, mas para nós que somos brasileiros o nível de seriedade extrapola o óbvio! Já para o time de Samoa Americana e seus torcedores, futebol é apenas mais um jogo, que deve ser levado a sério, claro, mas que em hipótese alguma chancela a felicidade de um ser humano pelos seus resultados no esporte. Aliás, é assim que deveria ser, não?  Talvez mais do que pela qualidade como obra cinematográfica, "Quem Fizer Ganha" de fato tem uma história incrível, especialmente por sua importante mensagem sobre o real valor das conexões humanas, mas que aqui não tem a menor pretensão de não se deixar cair no clichê - e é aí que Taika Waititi (de "JoJo Rabbit"), literalmente, marca um golaço! Seu filme é um amontoado de clichês, mas construído de uma maneira leve, divertida e propositalmente simples; que nem por isso deixa de ser um excelente entretenimento bem ao estilo que fez de "Ted Lasso" um grande sucesso de crítica e público. O fato é que existe um caminho para contar boas histórias sobre o esporte sem precisar se apegar ao estilo documental ou ter uma estrutura dramática demais; é possível simplesmente rir e chorar sem ter que se levar tão a sério - fica a dica!

Em 2001, a seleção da Samoa Americana sofreu a maior derrota da história do futebol, perdendo por 31 a 0 para a Austrália. Dez anos depois, o técnico americano/holandês Thomas Rongen (Michael Fassbender) assume o desafio de levar a equipe à sua primeira vitória nas Eliminatórias da Copa do Mundo. Com um elenco excêntrico, composto por jogadores inexperientes e até mesmo a primeira jogadora de futebol transgênero do mundo, Jaiyah Saelua (Kaimana), Rongen precisa superar as diferenças culturais e as dificuldades do país para construir um time coeso e, quem sabe, competitivo. Confira o trailer:

Baseado no documentário homônimo de 2014, dirigido por Steve Jamison, "Quem Fizer Ganha" parte de uma improvável história real de superação para contar, da sua maneira, um episódio esportivo sem muita importância no cenário mundial, mas certamente inesquecível para um pequeno grupo de torcedores de um território não incorporado dos Estados Unidos situado na Polinésia, Oceania, com pouco menos de 200km de extensão. Com um humor próximo ao "pastelão", mas muito divertido pela sua proposta, o filme pontua o contraste cultural entre a ocidentalidade, de certa maneira agressiva, personificada por Rogen, e a tranquilidade e o respeito às tradições religiosas dos samoanos.

A direção de Waititi é inteligente, pois ele sabe ser sensível e bem-humorado na dose certa. Waititi se apoia no absurdo para capturar a essência da cultura de Samoa Americana, suas referências capitalistas e a paixão do seu povo pelo futebol. O roteiro, co-escrito por Waititi e Iain Morris (o mesmo de "O Que Fazemos nas Sombras") é leve, mas sempre com a preocupação de não deixar de lado os momentos dramáticos da história que dão certa veracidade para a jornada - as marcas da goleada para a Austrália e a redenção do goleiro Nicky Salapu são bons exemplos disso. Outro ponto que merece certo destaque é a trilha sonora composta por Michael Giacchino (vencedor do Oscar por "Up: Altas Aventuras") - ela é empolgante e contribui demais para a atmosfera vibrante do filme.

Embora Fassbender não tenha o carisma de Jason Sudeikis e de seu Ted Lasso, é inegável o valor da sua entrega como ator através de uma performance memorável. Ele consegue mostrar o lado humano de um técnico marcado pela vida e pela profissão - inclusive com uma cena que certamente vai te deixar de queixo caído. O elenco de apoio também é excelente, destaque para Kaimana.

"Quem Fizer Ganha" é um ótimo entretenimento, daquelesque te fará rir, chorar e vibrar com uma história real que merecia ser contada. Imperdível!

Assista Agora

Futebol é coisa séria, certo? Certíssimo, mas para nós que somos brasileiros o nível de seriedade extrapola o óbvio! Já para o time de Samoa Americana e seus torcedores, futebol é apenas mais um jogo, que deve ser levado a sério, claro, mas que em hipótese alguma chancela a felicidade de um ser humano pelos seus resultados no esporte. Aliás, é assim que deveria ser, não?  Talvez mais do que pela qualidade como obra cinematográfica, "Quem Fizer Ganha" de fato tem uma história incrível, especialmente por sua importante mensagem sobre o real valor das conexões humanas, mas que aqui não tem a menor pretensão de não se deixar cair no clichê - e é aí que Taika Waititi (de "JoJo Rabbit"), literalmente, marca um golaço! Seu filme é um amontoado de clichês, mas construído de uma maneira leve, divertida e propositalmente simples; que nem por isso deixa de ser um excelente entretenimento bem ao estilo que fez de "Ted Lasso" um grande sucesso de crítica e público. O fato é que existe um caminho para contar boas histórias sobre o esporte sem precisar se apegar ao estilo documental ou ter uma estrutura dramática demais; é possível simplesmente rir e chorar sem ter que se levar tão a sério - fica a dica!

Em 2001, a seleção da Samoa Americana sofreu a maior derrota da história do futebol, perdendo por 31 a 0 para a Austrália. Dez anos depois, o técnico americano/holandês Thomas Rongen (Michael Fassbender) assume o desafio de levar a equipe à sua primeira vitória nas Eliminatórias da Copa do Mundo. Com um elenco excêntrico, composto por jogadores inexperientes e até mesmo a primeira jogadora de futebol transgênero do mundo, Jaiyah Saelua (Kaimana), Rongen precisa superar as diferenças culturais e as dificuldades do país para construir um time coeso e, quem sabe, competitivo. Confira o trailer:

Baseado no documentário homônimo de 2014, dirigido por Steve Jamison, "Quem Fizer Ganha" parte de uma improvável história real de superação para contar, da sua maneira, um episódio esportivo sem muita importância no cenário mundial, mas certamente inesquecível para um pequeno grupo de torcedores de um território não incorporado dos Estados Unidos situado na Polinésia, Oceania, com pouco menos de 200km de extensão. Com um humor próximo ao "pastelão", mas muito divertido pela sua proposta, o filme pontua o contraste cultural entre a ocidentalidade, de certa maneira agressiva, personificada por Rogen, e a tranquilidade e o respeito às tradições religiosas dos samoanos.

A direção de Waititi é inteligente, pois ele sabe ser sensível e bem-humorado na dose certa. Waititi se apoia no absurdo para capturar a essência da cultura de Samoa Americana, suas referências capitalistas e a paixão do seu povo pelo futebol. O roteiro, co-escrito por Waititi e Iain Morris (o mesmo de "O Que Fazemos nas Sombras") é leve, mas sempre com a preocupação de não deixar de lado os momentos dramáticos da história que dão certa veracidade para a jornada - as marcas da goleada para a Austrália e a redenção do goleiro Nicky Salapu são bons exemplos disso. Outro ponto que merece certo destaque é a trilha sonora composta por Michael Giacchino (vencedor do Oscar por "Up: Altas Aventuras") - ela é empolgante e contribui demais para a atmosfera vibrante do filme.

Embora Fassbender não tenha o carisma de Jason Sudeikis e de seu Ted Lasso, é inegável o valor da sua entrega como ator através de uma performance memorável. Ele consegue mostrar o lado humano de um técnico marcado pela vida e pela profissão - inclusive com uma cena que certamente vai te deixar de queixo caído. O elenco de apoio também é excelente, destaque para Kaimana.

"Quem Fizer Ganha" é um ótimo entretenimento, daquelesque te fará rir, chorar e vibrar com uma história real que merecia ser contada. Imperdível!

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Questão de Tempo

"Questão de Tempo" é delicioso de assistir, daqueles filmes que você não tira o sorriso no rosto - leve, engraçado, emocionante e muito bacana! Mas te adianto: essa paixão toda não é imediata. O prólogo apresenta uma premissa quase infantil e sua aplicação na narrativa pode soar adolescente demais, mas eu te garanto: dê uma chance que você não vai se arrepender. Pode me cobrar depois.

Veja, o filme conta a história de Tim (Domhnall Gleeson), um jovem inglês que, depois de uma conversa com o pai (Bill Nighy), descobre que os homens de sua família têm a capacidade de viajar no tempo, porém apenas para o passado. Com esse conhecimento, ele começa a resolver todas as suas inseguranças e fragilidades de uma forma muito natural. Quando Tim vai morar em Londres com Harry (Tom Hollander), um mal humorado produtor de teatro e amigo de seu pai, para cursar a faculdade de Direito, ele conhece Mary (Rachel McAdams), por quem se apaixona à primeira vista. A partir daí ele passa a criar (e a reviver quando necessário) as melhores experiências para que os dois fiquem juntos para sempre. Confira o trailer:

Richard Curtis que tem no seu currículo de diretor poucos e competentes trabalhos como "Simplesmente Amor", carrega a experiência de dominar um tipo de narrativa que está no seu DNA de roteirista - já é seu estilo, inclusive. É dele os roteiros de "O Diário de Bridget Jones", "Quatro Casamentos e um Funeral", "Um Lugar Chamado Notting Hill" e "Yesterday"- apenas para citar alguns dos seus sucessos. Em "Questão de Tempo", Curtis é muito inteligente ao usar o conceito da viagem no tempo apenas para estabelecer a possibilidade de uma segunda chance, mesmo que algumas vezes essa chance não mude em nada o destino do protagonista. O bacana é que roteiro aproveita dessa ferramenta dramática para traduzir de forma leve e inteligente as aflições que todos nós vivemos em algum momento. Ao estabelecer as “regras” para essas viagens, entendemos pelos olhos de Tim que tudo tem um limite e a cada escolha do personagem, te garanto, nosso coração se enche de coisa boa - mesmo nos momentos mais sensíveis!

A música, como em todo trabalho de Curtis, é um espetáculo a parte. A trilha sonora funcionam praticamente como um personagem, ou pelo como parte deles. Temos algumas pérolas como “How Long Will I Love You” e “Mid Air” - tudo se encaixa tão bem que curtimos cada cena de uma forma bem particular. No elenco temos um Domhnall Gleeson excelente e Rachel McAdams que é, definitivamente, uma graça - do mesmo nível de Ellen Page em "Juno". Agora, quem rouba a cena é o pai de Tim, Bill Nighy - ele tem a delicadeza do texto e a sensibilidade do olhar mais fraternal que um filho pode receber. Emocionante!

"Questão de Tempo" (ou "About Time" no original) é o melhor que podemos assistir para aquecer nosso coração e a nossa alma se esse for o clima para um excelente momento de entretenimento. O filme é capaz de emocionar e divertir na mesma medida, com personagens extremamente cativantes e um roteiro que mesmo apoiado em idéias pouco originais, vai nos passar ótimas lições de vida através do seu simbolismo e inteligência.

Vale muito o seu play!

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"Questão de Tempo" é delicioso de assistir, daqueles filmes que você não tira o sorriso no rosto - leve, engraçado, emocionante e muito bacana! Mas te adianto: essa paixão toda não é imediata. O prólogo apresenta uma premissa quase infantil e sua aplicação na narrativa pode soar adolescente demais, mas eu te garanto: dê uma chance que você não vai se arrepender. Pode me cobrar depois.

Veja, o filme conta a história de Tim (Domhnall Gleeson), um jovem inglês que, depois de uma conversa com o pai (Bill Nighy), descobre que os homens de sua família têm a capacidade de viajar no tempo, porém apenas para o passado. Com esse conhecimento, ele começa a resolver todas as suas inseguranças e fragilidades de uma forma muito natural. Quando Tim vai morar em Londres com Harry (Tom Hollander), um mal humorado produtor de teatro e amigo de seu pai, para cursar a faculdade de Direito, ele conhece Mary (Rachel McAdams), por quem se apaixona à primeira vista. A partir daí ele passa a criar (e a reviver quando necessário) as melhores experiências para que os dois fiquem juntos para sempre. Confira o trailer:

Richard Curtis que tem no seu currículo de diretor poucos e competentes trabalhos como "Simplesmente Amor", carrega a experiência de dominar um tipo de narrativa que está no seu DNA de roteirista - já é seu estilo, inclusive. É dele os roteiros de "O Diário de Bridget Jones", "Quatro Casamentos e um Funeral", "Um Lugar Chamado Notting Hill" e "Yesterday"- apenas para citar alguns dos seus sucessos. Em "Questão de Tempo", Curtis é muito inteligente ao usar o conceito da viagem no tempo apenas para estabelecer a possibilidade de uma segunda chance, mesmo que algumas vezes essa chance não mude em nada o destino do protagonista. O bacana é que roteiro aproveita dessa ferramenta dramática para traduzir de forma leve e inteligente as aflições que todos nós vivemos em algum momento. Ao estabelecer as “regras” para essas viagens, entendemos pelos olhos de Tim que tudo tem um limite e a cada escolha do personagem, te garanto, nosso coração se enche de coisa boa - mesmo nos momentos mais sensíveis!

A música, como em todo trabalho de Curtis, é um espetáculo a parte. A trilha sonora funcionam praticamente como um personagem, ou pelo como parte deles. Temos algumas pérolas como “How Long Will I Love You” e “Mid Air” - tudo se encaixa tão bem que curtimos cada cena de uma forma bem particular. No elenco temos um Domhnall Gleeson excelente e Rachel McAdams que é, definitivamente, uma graça - do mesmo nível de Ellen Page em "Juno". Agora, quem rouba a cena é o pai de Tim, Bill Nighy - ele tem a delicadeza do texto e a sensibilidade do olhar mais fraternal que um filho pode receber. Emocionante!

"Questão de Tempo" (ou "About Time" no original) é o melhor que podemos assistir para aquecer nosso coração e a nossa alma se esse for o clima para um excelente momento de entretenimento. O filme é capaz de emocionar e divertir na mesma medida, com personagens extremamente cativantes e um roteiro que mesmo apoiado em idéias pouco originais, vai nos passar ótimas lições de vida através do seu simbolismo e inteligência.

Vale muito o seu play!

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