"Dirty John – O Golpe do Amor" é uma série interessante pela sua premissa, mas mediana na sua execução. É claro que fato de ser baseado em uma história real e trazer um personagem forte como protagonista chama atenção de cara! Inicialmente, me fez lembrar "American Crime Story", porém, na prática, "Dirty John" acaba se enrolando em todo seu potencial com um roteiro menos empolgante e uma estrutura narrativa um pouco confusa, se afastando de qualquer tipo de comparação com as duas temporadas de "American Crime" - até podemos considerar uma similaridade com "Versace" nos primeiros episódios, mas depois não se sustenta.
"Dirty John – O Golpe do Amor" é a versão para TV de um podcast do jornal Los Angeles Times que fez muito sucesso nos EUA. A série mostra a relação do golpista "profissional" John Meehan, com a empresária Debra Newell. Debra é uma mulher bem sucedida profissionalmente, mas com uma vida amorosa completamente fracassada. Carente e insegura, ela se torna uma presa fácil para John depois de um encontro marcado, veja só, pela internet! Com seu charme e sedução, John vai tomando conta da vida de Debra e é, justamente, esse o elemento que mais atrapalha e transforma a série em apenas um bom entretenimento, nada demais!
As consequências do relacionamento abusivo e conturbado dos personagens são apresentados muito rapidamente, ou seja, nem bem nos envolvemos com o personagem do John e já definimos que ele é um canalha. O roteiro não nos coloca no papel da ótima Connie Britton, pois em nenhum momento temos a impressão que ele pode ser apenas um cara mal interpretado. O grande mérito de "American Crime Story", por exemplo, é sempre mostrar os dois lados e isso nos gera dúvidas ou até incredulidade em alguns momentos: O. J. Simpson era um monstro assassino ou um bode expiatório resultado de um ambiente conturbado pelas disputas raciais que os EUA vivia na época? John, nunca é tratado como um inocente pelo roteiro e isso é rotular demais o personagem. O próprio Eric Bana também não ajuda muito nesse processo - ele é muito canastrão, sem carisma e limitado demais para construir um personagem tão sedutor e cheio de camadas como o John deveria ser pra ter enganado tanta mulher inteligente e bem sucedida. A própria estrutura narrativa também começa a derrapar depois do 4º ou 5º episódio: ela se torna confusa demais com a construção do passado do John que simplesmente "cai de paraquedas" no episódio. Quando terminei série, tive a percepção que não existe uma linha narrativa convincente que justifique os 8 episódios - talvez por ser uma adaptação de um podcast, isso tenha se tornado um complicador. Não sei, em muitos momentos me pareceu arrastado demais!
O fato é que Dirty John nasceu para ser uma minissérie, mas se fez dela uma série que poderia ser muito melhor do que é! Não é ruim, de verdade... mas poderia ser melhor! Se você gostou de "American Crime Story" e até de "Você", é possível que se divirta com a série, mesmo com todas essas limitações criativas. É um entretenimento razoável de um gênero que está em alta na Netflix e que faz muito sucesso com a audiência!
Ah, uma segunda temporada já está confirmada e pelo que apurei deve mostrar um outro caso do próprio John que não, necessariamente, tenha a ver com a primeira temporada, criando assim uma contextualização mais antológica para o projeto. Vamos esperar!!!
"Dirty John – O Golpe do Amor" é uma série interessante pela sua premissa, mas mediana na sua execução. É claro que fato de ser baseado em uma história real e trazer um personagem forte como protagonista chama atenção de cara! Inicialmente, me fez lembrar "American Crime Story", porém, na prática, "Dirty John" acaba se enrolando em todo seu potencial com um roteiro menos empolgante e uma estrutura narrativa um pouco confusa, se afastando de qualquer tipo de comparação com as duas temporadas de "American Crime" - até podemos considerar uma similaridade com "Versace" nos primeiros episódios, mas depois não se sustenta.
"Dirty John – O Golpe do Amor" é a versão para TV de um podcast do jornal Los Angeles Times que fez muito sucesso nos EUA. A série mostra a relação do golpista "profissional" John Meehan, com a empresária Debra Newell. Debra é uma mulher bem sucedida profissionalmente, mas com uma vida amorosa completamente fracassada. Carente e insegura, ela se torna uma presa fácil para John depois de um encontro marcado, veja só, pela internet! Com seu charme e sedução, John vai tomando conta da vida de Debra e é, justamente, esse o elemento que mais atrapalha e transforma a série em apenas um bom entretenimento, nada demais!
As consequências do relacionamento abusivo e conturbado dos personagens são apresentados muito rapidamente, ou seja, nem bem nos envolvemos com o personagem do John e já definimos que ele é um canalha. O roteiro não nos coloca no papel da ótima Connie Britton, pois em nenhum momento temos a impressão que ele pode ser apenas um cara mal interpretado. O grande mérito de "American Crime Story", por exemplo, é sempre mostrar os dois lados e isso nos gera dúvidas ou até incredulidade em alguns momentos: O. J. Simpson era um monstro assassino ou um bode expiatório resultado de um ambiente conturbado pelas disputas raciais que os EUA vivia na época? John, nunca é tratado como um inocente pelo roteiro e isso é rotular demais o personagem. O próprio Eric Bana também não ajuda muito nesse processo - ele é muito canastrão, sem carisma e limitado demais para construir um personagem tão sedutor e cheio de camadas como o John deveria ser pra ter enganado tanta mulher inteligente e bem sucedida. A própria estrutura narrativa também começa a derrapar depois do 4º ou 5º episódio: ela se torna confusa demais com a construção do passado do John que simplesmente "cai de paraquedas" no episódio. Quando terminei série, tive a percepção que não existe uma linha narrativa convincente que justifique os 8 episódios - talvez por ser uma adaptação de um podcast, isso tenha se tornado um complicador. Não sei, em muitos momentos me pareceu arrastado demais!
O fato é que Dirty John nasceu para ser uma minissérie, mas se fez dela uma série que poderia ser muito melhor do que é! Não é ruim, de verdade... mas poderia ser melhor! Se você gostou de "American Crime Story" e até de "Você", é possível que se divirta com a série, mesmo com todas essas limitações criativas. É um entretenimento razoável de um gênero que está em alta na Netflix e que faz muito sucesso com a audiência!
Ah, uma segunda temporada já está confirmada e pelo que apurei deve mostrar um outro caso do próprio John que não, necessariamente, tenha a ver com a primeira temporada, criando assim uma contextualização mais antológica para o projeto. Vamos esperar!!!
Sabe aquela série que a Netflix lança sem muito marketing, com uma levada meio anos 80/90 e que te trás um monte de referências da adolescência?
Pelo jeito a Netflix entendeu o resultado (e o hype) de "Stranger Things" ao lançar "13 Reasons Why"! É exatamente a mesma estratégia e o resultado tende a ser bem similar!!! Aproveite o final de semana e assista, você vai me agradecer! A série conta a história de uma adolescente que se suicidou, mas que antes criou um espécie de "ARG" (alternate reality game) para contar o motivo do seu suicídio para as pessoas que, de alguma forma, foram responsáveis por essa atitude!!! Cada episódio (são 13) é narrado pela protagonista a partir de uma gravação de fita-cassete, ou seja, cada lado da fita, um episódio!!! É muito original o formato da série, e, mesmo se passando nos dias de hoje, trás muito do conceito narrativo de séries clássicas (adolescentes) dos anos 90, mas sem ser piegas! Vale muito a pena. Confira o trailer:
Assim que acabei o episódio final de "13 Reasons Why" tive a certeza de que era uma das coisas mais bacanas que eu assisti na vida! É um episódio realmente especial e que fecha com chave de ouro um arco muito bem construído. É um episódio difícil, duro, profundo, bem feito, bem dirigido, bem interpretado, mas principalmente bem fundamentado! Os produtores e criadores da série foram precisos ao abordar o assunto "suicídio" com uma linguagem correta e verdadeira para os jovens e, indiscutivelmente, para os pais desses jovens - nos faz refletir (e muito)!
"13 Reasons Why" traz aquilo que eu acredito ser um conteúdo perfeito: é um ótimo entretenimento, sem dúvida, mas traz assuntos tão difíceis quanto necessários de serem retratados de uma forma muito inteligente! Se você em algum momento achar que uma ou outra situação está forçando uma barra, eu te aconselho a assistir o documentário "The Hunting Ground" e você vai ver que tudo aquilo realmente existe e que muita gente prefere fechar os olhos do que tirar de uma Universidade o principal jogador de futebol americano que vai fazer com que a cidade e a instituição fiquem famosos por ganhar um campeonato - isso aconteceu, inclusive, com um jogador que hoje ganha milhões na NFL. Revoltante!!!
Vale muito a pena!
Up Date: a série tem mais duas temporadas disponíveis, mas que infelizmente não seguiu a qualidade da primeira!
Sabe aquela série que a Netflix lança sem muito marketing, com uma levada meio anos 80/90 e que te trás um monte de referências da adolescência?
Pelo jeito a Netflix entendeu o resultado (e o hype) de "Stranger Things" ao lançar "13 Reasons Why"! É exatamente a mesma estratégia e o resultado tende a ser bem similar!!! Aproveite o final de semana e assista, você vai me agradecer! A série conta a história de uma adolescente que se suicidou, mas que antes criou um espécie de "ARG" (alternate reality game) para contar o motivo do seu suicídio para as pessoas que, de alguma forma, foram responsáveis por essa atitude!!! Cada episódio (são 13) é narrado pela protagonista a partir de uma gravação de fita-cassete, ou seja, cada lado da fita, um episódio!!! É muito original o formato da série, e, mesmo se passando nos dias de hoje, trás muito do conceito narrativo de séries clássicas (adolescentes) dos anos 90, mas sem ser piegas! Vale muito a pena. Confira o trailer:
Assim que acabei o episódio final de "13 Reasons Why" tive a certeza de que era uma das coisas mais bacanas que eu assisti na vida! É um episódio realmente especial e que fecha com chave de ouro um arco muito bem construído. É um episódio difícil, duro, profundo, bem feito, bem dirigido, bem interpretado, mas principalmente bem fundamentado! Os produtores e criadores da série foram precisos ao abordar o assunto "suicídio" com uma linguagem correta e verdadeira para os jovens e, indiscutivelmente, para os pais desses jovens - nos faz refletir (e muito)!
"13 Reasons Why" traz aquilo que eu acredito ser um conteúdo perfeito: é um ótimo entretenimento, sem dúvida, mas traz assuntos tão difíceis quanto necessários de serem retratados de uma forma muito inteligente! Se você em algum momento achar que uma ou outra situação está forçando uma barra, eu te aconselho a assistir o documentário "The Hunting Ground" e você vai ver que tudo aquilo realmente existe e que muita gente prefere fechar os olhos do que tirar de uma Universidade o principal jogador de futebol americano que vai fazer com que a cidade e a instituição fiquem famosos por ganhar um campeonato - isso aconteceu, inclusive, com um jogador que hoje ganha milhões na NFL. Revoltante!!!
Vale muito a pena!
Up Date: a série tem mais duas temporadas disponíveis, mas que infelizmente não seguiu a qualidade da primeira!
Baseado no livro “The 15:17 to Paris: The True Story of a Terrorist, a Train, and Three American Soldiers”, o filme de Clint Eastwood conta a história de três americanos, Spencer Stone, Anthony Sadler e Alek Skarlatos. Amigos desde a infância, eles estavam viajando pela Europa quando acabaram reféns de um terrorista marroquino, Ayoub El-Khazzani (Ray Corasani), em um trem que ia de Amsterdã para Paris.
Pelo trailer temos a impressão que é mais um grande filme sobre heróis americanos "15:17 Destino Paris", certo? Pois é, de fato, esse é o objetivo de Eastwood, mas o resultado é bem mediano, embora seja um bom entretenimento se você não assistir com as expectativas que um filme do diretor carrega!
O filme é muito bem dirigido por uma cara que domina a gramática cinematográfica como ninguém - é perceptível a qualidade técnica e a capacidade que o Eastwood tem de contar uma história , mas, para mim, o maior problema de "15:17 Destino Paris" é o roteiro! Ele é muito inconsistente - parece que editaram o filme pra caber na "Tela Quente"! O roteiro de Dorothy Blyskal transita entre a vida adulta e a infância dos três protagonistas, porém, o que poderia ser um trabalho profundo sobre a formação do caráter e dos valores dos futuros heróis, é só um retrato de três garotos fazendo malcriação! Já adultos, o filme soa mais como uma espécie de Road Movie, quase colegial, com diálogos completamente superficiais e sem o menor propósito para o que mais interessa: os momentos de tensão perante uma experiência marcante e aterrorizante vivida naquele 21 de agosto de 2015 - como, por exemplo, Paul Greengrass fez no excelente "Voo United 93".
A parte curiosa do filme é que Clint Eastwood não usou atores para contar a história! Quem viveu aquele dia, reviveu na ficção - e isso pesa no filme! Spencer Stone, Anthony Sadler e Alek Skarlatos se esforçam, mas não entregam a dramaticidade que o filme pedia!
Olha, "15:17 Destino Paris" era uma história que merecia ser contada, mas preciso admitir que esperava mais! Vale como referência histórica , mas o filme é aquele típico entretenimento "Sessão da Tarde"!
Baseado no livro “The 15:17 to Paris: The True Story of a Terrorist, a Train, and Three American Soldiers”, o filme de Clint Eastwood conta a história de três americanos, Spencer Stone, Anthony Sadler e Alek Skarlatos. Amigos desde a infância, eles estavam viajando pela Europa quando acabaram reféns de um terrorista marroquino, Ayoub El-Khazzani (Ray Corasani), em um trem que ia de Amsterdã para Paris.
Pelo trailer temos a impressão que é mais um grande filme sobre heróis americanos "15:17 Destino Paris", certo? Pois é, de fato, esse é o objetivo de Eastwood, mas o resultado é bem mediano, embora seja um bom entretenimento se você não assistir com as expectativas que um filme do diretor carrega!
O filme é muito bem dirigido por uma cara que domina a gramática cinematográfica como ninguém - é perceptível a qualidade técnica e a capacidade que o Eastwood tem de contar uma história , mas, para mim, o maior problema de "15:17 Destino Paris" é o roteiro! Ele é muito inconsistente - parece que editaram o filme pra caber na "Tela Quente"! O roteiro de Dorothy Blyskal transita entre a vida adulta e a infância dos três protagonistas, porém, o que poderia ser um trabalho profundo sobre a formação do caráter e dos valores dos futuros heróis, é só um retrato de três garotos fazendo malcriação! Já adultos, o filme soa mais como uma espécie de Road Movie, quase colegial, com diálogos completamente superficiais e sem o menor propósito para o que mais interessa: os momentos de tensão perante uma experiência marcante e aterrorizante vivida naquele 21 de agosto de 2015 - como, por exemplo, Paul Greengrass fez no excelente "Voo United 93".
A parte curiosa do filme é que Clint Eastwood não usou atores para contar a história! Quem viveu aquele dia, reviveu na ficção - e isso pesa no filme! Spencer Stone, Anthony Sadler e Alek Skarlatos se esforçam, mas não entregam a dramaticidade que o filme pedia!
Olha, "15:17 Destino Paris" era uma história que merecia ser contada, mas preciso admitir que esperava mais! Vale como referência histórica , mas o filme é aquele típico entretenimento "Sessão da Tarde"!
"2 Outonos e 3 Invernos" é um premiado filme francês dirigido pelo Sébastien Betbeder que fala, basicamente, sobre os ciclos de um relacionamento. Com um conceito narrativo e visual bem particular, Betbeder nos entrega um filme leve, mas não por isso superficial, que nos provoca a entender como cada um dos personagens se relaciona com o amor.
Na história, Arman, um jovem de 33 anos, está querendo mudar seu estilo de vida e para começar, ele resolve correr no parque aos sábados. É lá que ele conhece Amélie, uma linda parisiense que parece não ser muito, digamos, feliz na escolha de seus relacionamentos. Ao se esbarrem, a primeira impressão causa um choque, porém é no segundo encontro casual que eles realmente se dão uma chance. Benjamin, melhor amigo de Arman, também está no inicio de relacionamento depois de se recuperar de um AVC e ambos vão trocando experiências para tentar encontrar o caminho da felicidade. Entre dois outonos e três invernos, as vidas de Amélie, Arman e Benjamin se cruzam em encontros, desencontros, acidentes e muitas memórias, em um cenário belíssimo! Confira o trailer:
Embora "2 Outonos e 3 Invernos" tenha muitos elementos que o confundem com uma comédia romântica, eu diria que sua história está mais para um leve drama com toques de romance e bem pouco de comédia - um típico filme francês de relações, eu diria: simpático e muito gostoso de assistir! Vale muito o seu play se você estiver no clima, se gostar do estilo Woody Allen e se curtiu a série da Prime Video, "Modern Love"!
Não por acaso citei o estilo Woody Allen de fazer um filme, pois "2 Outonos e 3 Invernos" claramente bebe da mesma fonte que "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" (1977), principalmente ao permitir que os personagens quebrem a quarta parede, encarando diretamente a audiência, para comentar várias das circunstâncias que o filme está mostrando, quase como um narrador onipresente, com o intuito de facilitar o entendimento das complexidades sentimentais que estão vivendo. Ao escolher o aspecto 4:3 (que nos remete ao antigo estilo das telas de TV quadradas), a câmera na mão e uma quantidade enorme de grãos, praticamente "sujando" várias cenas, o diretor Sébastien Betbeder ao lado do fotógrafo Sylvain Verdet, trás um conceito muito documental para o filme - tanto que ele chegou a filmar algumas passagens com uma câmera 16mm. Esse conceito visual nos dá a ideia de se tratar de testemunhos pessoais dos casais, contrastando com uma espécie de "esquetes" que pontuam os três atos do filme. Enquanto assistia, em vários momentos tive a impressão que o roteiro mais parceria ser de uma peça de teatro do que cinema em si - e isso não é demérito, apenas um estilo narrativo que aqui funcionou perfeitamente.
Betbeder também assina o roteiro e com isso fica claro o alinhamento entre o estilo visual e o narrativo. Basicamente o que encontramos é uma história focada nos atores, no texto e com pouquíssima ação - o que para muitos pode dar a impressão de uma certa verborragia. Não foi o meu caso! Porém é preciso dizer que 90 minutos é pouco tempo de tela para abordar com profundidade as nuances e detalhes de dois casais. Quando o roteiro escorrega para os coadjuvantes, Benjamin (Bastien Bouillon) e Katia (Audrey Bastien), o filme perde força - não pela qualidade dos atores, mas pela dispersão, pela falta de foco. Tanto Vincent Macaigne (Arman), quanto Maud Wyler (Amélie) tinham qualidades suficientes para segurar a história tranquilamente - a impressão que ficou é que algo se perdeu nesse vai e volta de tramas e sub-tramas (que pouco acrescentam uma na outra, diga-se de passagem).
"2 Outonos e 3 Invernos" foi bem em bons festivais como Torino e RiverRun - o que já justificaria sua atenção, caso você tenha uma inclinação para filmes independentes, Mas essa produção francesa trás um pouco mais: ela vem para provar que é possível discutir assuntos pesados sem a necessidade vital de nos destruir emocionalmente, mesmo que em alguns momentos possamos sentir o vazio de uma relação fadada ao término, o resultado é extremamente agradável - um ótimo entretenimento!
"2 Outonos e 3 Invernos" é um premiado filme francês dirigido pelo Sébastien Betbeder que fala, basicamente, sobre os ciclos de um relacionamento. Com um conceito narrativo e visual bem particular, Betbeder nos entrega um filme leve, mas não por isso superficial, que nos provoca a entender como cada um dos personagens se relaciona com o amor.
Na história, Arman, um jovem de 33 anos, está querendo mudar seu estilo de vida e para começar, ele resolve correr no parque aos sábados. É lá que ele conhece Amélie, uma linda parisiense que parece não ser muito, digamos, feliz na escolha de seus relacionamentos. Ao se esbarrem, a primeira impressão causa um choque, porém é no segundo encontro casual que eles realmente se dão uma chance. Benjamin, melhor amigo de Arman, também está no inicio de relacionamento depois de se recuperar de um AVC e ambos vão trocando experiências para tentar encontrar o caminho da felicidade. Entre dois outonos e três invernos, as vidas de Amélie, Arman e Benjamin se cruzam em encontros, desencontros, acidentes e muitas memórias, em um cenário belíssimo! Confira o trailer:
Embora "2 Outonos e 3 Invernos" tenha muitos elementos que o confundem com uma comédia romântica, eu diria que sua história está mais para um leve drama com toques de romance e bem pouco de comédia - um típico filme francês de relações, eu diria: simpático e muito gostoso de assistir! Vale muito o seu play se você estiver no clima, se gostar do estilo Woody Allen e se curtiu a série da Prime Video, "Modern Love"!
Não por acaso citei o estilo Woody Allen de fazer um filme, pois "2 Outonos e 3 Invernos" claramente bebe da mesma fonte que "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" (1977), principalmente ao permitir que os personagens quebrem a quarta parede, encarando diretamente a audiência, para comentar várias das circunstâncias que o filme está mostrando, quase como um narrador onipresente, com o intuito de facilitar o entendimento das complexidades sentimentais que estão vivendo. Ao escolher o aspecto 4:3 (que nos remete ao antigo estilo das telas de TV quadradas), a câmera na mão e uma quantidade enorme de grãos, praticamente "sujando" várias cenas, o diretor Sébastien Betbeder ao lado do fotógrafo Sylvain Verdet, trás um conceito muito documental para o filme - tanto que ele chegou a filmar algumas passagens com uma câmera 16mm. Esse conceito visual nos dá a ideia de se tratar de testemunhos pessoais dos casais, contrastando com uma espécie de "esquetes" que pontuam os três atos do filme. Enquanto assistia, em vários momentos tive a impressão que o roteiro mais parceria ser de uma peça de teatro do que cinema em si - e isso não é demérito, apenas um estilo narrativo que aqui funcionou perfeitamente.
Betbeder também assina o roteiro e com isso fica claro o alinhamento entre o estilo visual e o narrativo. Basicamente o que encontramos é uma história focada nos atores, no texto e com pouquíssima ação - o que para muitos pode dar a impressão de uma certa verborragia. Não foi o meu caso! Porém é preciso dizer que 90 minutos é pouco tempo de tela para abordar com profundidade as nuances e detalhes de dois casais. Quando o roteiro escorrega para os coadjuvantes, Benjamin (Bastien Bouillon) e Katia (Audrey Bastien), o filme perde força - não pela qualidade dos atores, mas pela dispersão, pela falta de foco. Tanto Vincent Macaigne (Arman), quanto Maud Wyler (Amélie) tinham qualidades suficientes para segurar a história tranquilamente - a impressão que ficou é que algo se perdeu nesse vai e volta de tramas e sub-tramas (que pouco acrescentam uma na outra, diga-se de passagem).
"2 Outonos e 3 Invernos" foi bem em bons festivais como Torino e RiverRun - o que já justificaria sua atenção, caso você tenha uma inclinação para filmes independentes, Mas essa produção francesa trás um pouco mais: ela vem para provar que é possível discutir assuntos pesados sem a necessidade vital de nos destruir emocionalmente, mesmo que em alguns momentos possamos sentir o vazio de uma relação fadada ao término, o resultado é extremamente agradável - um ótimo entretenimento!
Há pouco tempo comentei sobre um filme europeu que chamou muito a minha atenção quando esteve em Berlin esse ano: Utøya 22. juli. - pelo "simples" fato do filme ser um plano sequencia de mais de uma hora. Pois bem, eu não conhecia a história dos atentados a um grupo de jovens que estavam em um ilha na Noruega antes de assistir esse filme, e a história é realmente perturbadora! Agora a Netflix que não é boba nem nada, resolveu trazer para o seu catálogo original esses terríveis e dramáticos acontecimentos com uma visão mais complexa. Então, ninguém melhor que Paul Greengrass de Vôo United 93 e Capitão Phillips para contar parte da história real que o filme do Erik Poppe não contou. Aliás, se tiverem oportunidade, não deixem de assistir nenhum dos dois, eles se completam - da mesma forma que "Dunkirk" foi essencial para contar parte da história que "O Destino de uma Nação" não contou. Confira o trailer:
"22 July" não é visceral como "Utøya", mas nem por isso deixa de ser um grande filme, muito pelo contrário, cinematograficamente falando é até mais relevante pois mostra muito mais do que o ataque a ilha, mostra a causa, a consequência, o debate, os absurdos que o extremismo pode gerar em uma sociedade cheia de pessoas doentes (estou falando só do filme, ok?). O roteiro foi baseado no livro do Åsne Seierstad ("One of Us") e, para mim, foi o ponto alto do filme ao lado da camera solta, quase documental, do Greengrass. Se no filme Norueguês sofremos com aqueles adolescentes que estavam sem saída na ilha, ne versão da Netflix vemos o inicio dos atentados, o que pensava o terrorista, como ele agiu, como ele planejou e como ele lidou com a prisão. É curioso que na Ilha mesmo, são poucas cenas, e não sentimos falta pq nada é gratuito no filme. As sequências se constroem de uma forma tão orgânica que você nem sente as mais de duas horas passarem.
Pessoalmente achei "Utøya" mais marcante (quase sensorial), enquanto 22 July é mais cinemão, o fato é que se trata de dois excelentes filmes. A dica: assista os dois e tenha experiências diferentes e complementares!!! Vale muito a pena!!!
Há pouco tempo comentei sobre um filme europeu que chamou muito a minha atenção quando esteve em Berlin esse ano: Utøya 22. juli. - pelo "simples" fato do filme ser um plano sequencia de mais de uma hora. Pois bem, eu não conhecia a história dos atentados a um grupo de jovens que estavam em um ilha na Noruega antes de assistir esse filme, e a história é realmente perturbadora! Agora a Netflix que não é boba nem nada, resolveu trazer para o seu catálogo original esses terríveis e dramáticos acontecimentos com uma visão mais complexa. Então, ninguém melhor que Paul Greengrass de Vôo United 93 e Capitão Phillips para contar parte da história real que o filme do Erik Poppe não contou. Aliás, se tiverem oportunidade, não deixem de assistir nenhum dos dois, eles se completam - da mesma forma que "Dunkirk" foi essencial para contar parte da história que "O Destino de uma Nação" não contou. Confira o trailer:
"22 July" não é visceral como "Utøya", mas nem por isso deixa de ser um grande filme, muito pelo contrário, cinematograficamente falando é até mais relevante pois mostra muito mais do que o ataque a ilha, mostra a causa, a consequência, o debate, os absurdos que o extremismo pode gerar em uma sociedade cheia de pessoas doentes (estou falando só do filme, ok?). O roteiro foi baseado no livro do Åsne Seierstad ("One of Us") e, para mim, foi o ponto alto do filme ao lado da camera solta, quase documental, do Greengrass. Se no filme Norueguês sofremos com aqueles adolescentes que estavam sem saída na ilha, ne versão da Netflix vemos o inicio dos atentados, o que pensava o terrorista, como ele agiu, como ele planejou e como ele lidou com a prisão. É curioso que na Ilha mesmo, são poucas cenas, e não sentimos falta pq nada é gratuito no filme. As sequências se constroem de uma forma tão orgânica que você nem sente as mais de duas horas passarem.
Pessoalmente achei "Utøya" mais marcante (quase sensorial), enquanto 22 July é mais cinemão, o fato é que se trata de dois excelentes filmes. A dica: assista os dois e tenha experiências diferentes e complementares!!! Vale muito a pena!!!
Quatro amigos e sócios de uma empresa bem sucedida, discutindo por mais de uma hora, tentando escolher qual deles vai passar 7 anos na cadeia após a Receita Federal descobrir uma transação ilegal que todos estavam cientes. É exatamente isso: 77 minutos em uma mesma locação, com apenas 5 atores e só diálogos! Essa é a história de "7 anos", produção Original da Netflix de 2016. O conceito é o mesmo (ou muito parecido) que vimos nos bem sucedidos "Perfectos Desconocidos"e de "El Bar" - do genial Álex de la Iglesia!
Muito talentoso, premiado em filmes anteriores e diretor de alguns episódios da série "As telefonistas", Roger Gual guia a história de uma forma muito segura. Nos coloca no meio de discussões que deixariam qualquer um constrangido, tantas são as camadas que o texto começa a desvendar conforme o tempo (e a paciência dos personagens) vai passando. É impressionante como não nos damos conta que estamos quase sempre no mesmo ambiente, com as mesmas pessoas. O Fato é que "7 anos" tem diálogos inteligentes e atores muito bem dirigidos (destaque para o ótimo Manuel Morón).
Não é um filme tão fácil, nem todos vão vão gostar, mas se você vem assistindo a nova geração de diretores (e filmes) espanhóis e tem se divertido, "7 años" é, digamos, uma versão mais séria desse movimento!
Vale o play!
Quatro amigos e sócios de uma empresa bem sucedida, discutindo por mais de uma hora, tentando escolher qual deles vai passar 7 anos na cadeia após a Receita Federal descobrir uma transação ilegal que todos estavam cientes. É exatamente isso: 77 minutos em uma mesma locação, com apenas 5 atores e só diálogos! Essa é a história de "7 anos", produção Original da Netflix de 2016. O conceito é o mesmo (ou muito parecido) que vimos nos bem sucedidos "Perfectos Desconocidos"e de "El Bar" - do genial Álex de la Iglesia!
Muito talentoso, premiado em filmes anteriores e diretor de alguns episódios da série "As telefonistas", Roger Gual guia a história de uma forma muito segura. Nos coloca no meio de discussões que deixariam qualquer um constrangido, tantas são as camadas que o texto começa a desvendar conforme o tempo (e a paciência dos personagens) vai passando. É impressionante como não nos damos conta que estamos quase sempre no mesmo ambiente, com as mesmas pessoas. O Fato é que "7 anos" tem diálogos inteligentes e atores muito bem dirigidos (destaque para o ótimo Manuel Morón).
Não é um filme tão fácil, nem todos vão vão gostar, mas se você vem assistindo a nova geração de diretores (e filmes) espanhóis e tem se divertido, "7 años" é, digamos, uma versão mais séria desse movimento!
Vale o play!
"7500" é mais uma excelente surpresa que você pode encontrar na Prime Vídeo! O filme acompanha a história de um voo entre Alemanha e França que sofre uma tentativa de ataque terrorista comandada por extremistas muçulmanos. O interessante, porém, é que o diretor e roteirista alemão, Patrick Vollrath, acabou criando uma atmosfera de tensão quase insuportável ao decidir nos mostrar um único ponto de vista dessa situação de terror: a do co-piloto Tobias Ellis (Joseph Gordon-Levitt), "preso" em sua cabine de comando! Confira o trailer (em inglês):
Para quem gosta desse estilo de filme, a lembrança do ótimo "Voo United 93", do grande diretor Paul Greengrass, surgirá imediatamente na memória. Pelo estilo da câmera solta, mais nervosa, quase documental, ao conceito narrativo escolhido para contar a história, "7500" bebe da mesma fonte com muita competência e nos coloca dentro do avião sem pedir muita licença. Vollrath não economiza ao mostrar os momentos de desespero do protagonista ao ter que tomar decisões muito difíceis, ao mesmo tempo que apenas sugere o que está acontecendo entre a tripulação, passageiros e terroristas fora da cabine. De fato, pode parecer que a história está incompleta, mas a sensação acaba sendo tão claustrofóbica e profunda que temos a impressão de estarmos assistindo uma transmissão ao vivo de tudo aquilo! Mas aqui cabe um aviso importante: "7500" não é um filme de ação, é um drama quase psicológico, angustiante pela veracidade das situações e muito difícil de digerir. Vale muito a pena, mesmo!
Como curiosidade, o código de emergência em situações de seqüestro de um avião é "7500" e a apropriação dessa importante informação para ser o ponto de partida desse filme se justifica desde as primeiras cenas. Enquanto os créditos iniciais ainda são mostrados, vemos a imagem de monitores de segurança acompanhando (e apresentando) os terroristas - muito parecido com o que vimos exaustivamente durante as investigações do 11 de setembro, inclusive. Enquanto isso o co-piloto Tobias Ellis e o comandante Michael Lutzmann (Carlo Kitzlinger) fazem todo o procedimento de checagem e preparação para o voo - eles conversam sobre amenidades, mas já se cria uma relação de empatia com quem assiste ao filme que é impressionante. A câmera se move pouco, o ambiente é realmente muito apertado, escuro, mas o trabalho dos atores deixa transparecer que tudo aquilo é muito aconchegante para ambos. Ao mesmo tempo, a tripulação vai recebendo os passageiros que estão embarcando - temos a impressão de estarmos espiando a cena, até que vemos um dos terroristas passando sem gerar nenhuma suspeita - claro que sabemos o que vai acontecer, mas a forma como esse prólogo é construído já nos incomoda demais! A partir daí, entre a decolagem e o inicio do ato terrorista, vemos um show de direção, um domínio impressionante da gramática cinematográfica do suspense, sem ter que mostrar muito, muitas vezes observando situações apenas pelo monitor da cabine, ou somente escutando a crescente tensão entre os terroristas e passageiros fora dali! Reparem, é sensacional!
Patrick Vollrath é comedido, mas também tem uma direção potente, que até Joseph Gordon-Levitt chama atenção pela sua imersão comovente ao viver aquela situação extrema - ele consegue transmitir todo o peso de ser o responsável por tentar manter passageiros e tripulação seguros ao mesmo tempo em que tem que seguir alguns protocolos para evitar uma tragédia ainda maior. É um trabalho complicado, solitário, silencioso muitas vezes, mas Gordon-Levitt entrega todos esses sentimentos com muita habilidade - eu diria até que o filme poderia ter se tornado um fiasco não fosse seu trabalho! Vollrath, indicado ao Oscar com seu curta-metragem "Tudo ficará bem" de 2016, tem ao seu lado Sebastian Thaler como diretor de Fotografia, e ambos praticamente se completam nesse filme. Thaler usa da restrição de movimento (e das escolhas perfeitas das lentes) sua principal arma, com isso, tudo que vemos na tela fica palpável, visceral!
"7500" nos transporta, em apenas 90 minutos, para o inferno de uma situação improvável com uma verdade perturbadora. Se em alguns momentos o filme pode parecer simplista demais, fica claro que o grande objetivo foi contar uma história pelo ponto de vista de um único personagem que agiu com coragem, cautela, paciência e até desespero, de uma jeito tão humano que acabou transformando o ato de assistir um filme bom em uma ótima experiência!
Imperdível!
"7500" é mais uma excelente surpresa que você pode encontrar na Prime Vídeo! O filme acompanha a história de um voo entre Alemanha e França que sofre uma tentativa de ataque terrorista comandada por extremistas muçulmanos. O interessante, porém, é que o diretor e roteirista alemão, Patrick Vollrath, acabou criando uma atmosfera de tensão quase insuportável ao decidir nos mostrar um único ponto de vista dessa situação de terror: a do co-piloto Tobias Ellis (Joseph Gordon-Levitt), "preso" em sua cabine de comando! Confira o trailer (em inglês):
Para quem gosta desse estilo de filme, a lembrança do ótimo "Voo United 93", do grande diretor Paul Greengrass, surgirá imediatamente na memória. Pelo estilo da câmera solta, mais nervosa, quase documental, ao conceito narrativo escolhido para contar a história, "7500" bebe da mesma fonte com muita competência e nos coloca dentro do avião sem pedir muita licença. Vollrath não economiza ao mostrar os momentos de desespero do protagonista ao ter que tomar decisões muito difíceis, ao mesmo tempo que apenas sugere o que está acontecendo entre a tripulação, passageiros e terroristas fora da cabine. De fato, pode parecer que a história está incompleta, mas a sensação acaba sendo tão claustrofóbica e profunda que temos a impressão de estarmos assistindo uma transmissão ao vivo de tudo aquilo! Mas aqui cabe um aviso importante: "7500" não é um filme de ação, é um drama quase psicológico, angustiante pela veracidade das situações e muito difícil de digerir. Vale muito a pena, mesmo!
Como curiosidade, o código de emergência em situações de seqüestro de um avião é "7500" e a apropriação dessa importante informação para ser o ponto de partida desse filme se justifica desde as primeiras cenas. Enquanto os créditos iniciais ainda são mostrados, vemos a imagem de monitores de segurança acompanhando (e apresentando) os terroristas - muito parecido com o que vimos exaustivamente durante as investigações do 11 de setembro, inclusive. Enquanto isso o co-piloto Tobias Ellis e o comandante Michael Lutzmann (Carlo Kitzlinger) fazem todo o procedimento de checagem e preparação para o voo - eles conversam sobre amenidades, mas já se cria uma relação de empatia com quem assiste ao filme que é impressionante. A câmera se move pouco, o ambiente é realmente muito apertado, escuro, mas o trabalho dos atores deixa transparecer que tudo aquilo é muito aconchegante para ambos. Ao mesmo tempo, a tripulação vai recebendo os passageiros que estão embarcando - temos a impressão de estarmos espiando a cena, até que vemos um dos terroristas passando sem gerar nenhuma suspeita - claro que sabemos o que vai acontecer, mas a forma como esse prólogo é construído já nos incomoda demais! A partir daí, entre a decolagem e o inicio do ato terrorista, vemos um show de direção, um domínio impressionante da gramática cinematográfica do suspense, sem ter que mostrar muito, muitas vezes observando situações apenas pelo monitor da cabine, ou somente escutando a crescente tensão entre os terroristas e passageiros fora dali! Reparem, é sensacional!
Patrick Vollrath é comedido, mas também tem uma direção potente, que até Joseph Gordon-Levitt chama atenção pela sua imersão comovente ao viver aquela situação extrema - ele consegue transmitir todo o peso de ser o responsável por tentar manter passageiros e tripulação seguros ao mesmo tempo em que tem que seguir alguns protocolos para evitar uma tragédia ainda maior. É um trabalho complicado, solitário, silencioso muitas vezes, mas Gordon-Levitt entrega todos esses sentimentos com muita habilidade - eu diria até que o filme poderia ter se tornado um fiasco não fosse seu trabalho! Vollrath, indicado ao Oscar com seu curta-metragem "Tudo ficará bem" de 2016, tem ao seu lado Sebastian Thaler como diretor de Fotografia, e ambos praticamente se completam nesse filme. Thaler usa da restrição de movimento (e das escolhas perfeitas das lentes) sua principal arma, com isso, tudo que vemos na tela fica palpável, visceral!
"7500" nos transporta, em apenas 90 minutos, para o inferno de uma situação improvável com uma verdade perturbadora. Se em alguns momentos o filme pode parecer simplista demais, fica claro que o grande objetivo foi contar uma história pelo ponto de vista de um único personagem que agiu com coragem, cautela, paciência e até desespero, de uma jeito tão humano que acabou transformando o ato de assistir um filme bom em uma ótima experiência!
Imperdível!
Será preciso uma certa sensibilidade para entender a proposta narrativa de "A Assistente", filme de estreia da diretora Kitty Green - que antes havia dirigido apenas documentários e isso acaba ficando claro na maneira como ela internaliza as dores da protagonista, a excelente Julia Garner de "Ozark". Não se trata de um filme tradicional, seu conceito é completamente autoral, cadenciado, trazendo um retrato realista de um ambiente pesado, onde o mal-estar está no rosto de cada funcionário e que se apoia no silêncio para causar uma repulsa pelo simples fato de nos provocar a imaginar o que estaria acontecendo do outro lado da parede!
O filme acompanha um dia na rotina de Jane (Julia Garner), uma assistente de um alto executivo de cinema que trabalha em uma famosa produtora em Manhattan. Jane é a primeira a chegar e a última a sair, responde pelas burocracias do escritório, precisa ouvir desaforos e ainda fazer vista grossa para os abusos dos superiores (e dos puxa-sacos), enfim, aquele pacote completo de uma estagiária que sonha em ter uma oportunidade de ascensão profissional. Porém tudo o que rodeia esse emprego a incomoda e a postura de seu chefe passa a ser retratada como um fantasma onipresente que Jane tem que enfrentar a cada chamada ameaçadora de telefone, a cada e-mail passivo-agressivo que ela recebe ou até a cada compromisso que ela precisa marcar para que essa "entidade" cumpra sua agenda sem maiores problemas. Confira o trailer (em inglês):
Um dos elementos que mais me chamaram a atenção no roteiro de "A Assistente" foi a forma como tudo fica sugestionado e como os pequenos gestos ganham tanto peso no sentimento de Jane - esse trabalho de Garner mereceria uma indicação ao Oscar, tranquilamente! Diferente de "O Escândalo" ou de "A voz mais forte", não se trata de um filme onde os assédios (morais e sexuais) são visíveis, mas sim de ações estruturais que vão se acumulando e ganhando uma forma aterrorizante e transformando o dia da protagonista em um verdadeiro pesadelo moral - o fato de não se ver, não quer dizer que não exista, certo? O desenho de som ajuda a pontuar esse terror do desconhecido, bem como nos guia através do que ouvimos de passagem - isso é tão bem explorado, que a própria Jane quase não fala durante os 90 minutos de filme e sentimos exatamente o seu sofrimento!
Embora muito cuidadosa, a história ganhou sua contextualização dentro do movimento #MeToo e de todos os casos de abuso sexual envolvendo “ex-chefões” de Hollywood, como Harvey Weinstein por exemplo. Onde o ambiente desconfortável se torna praticamente um personagem, inserido em uma gelada Nova Yorke, "A Assistente" cumpre o seu papel de criar a tensão, a angústia e a reflexão, mas talvez cometa o pecado de acreditar que somente o sentimento da protagonista basta para conquistar sua platéia - vai funcionar para alguns, mas muitos outros vão se decepcionar pela falta de conflito externo!
Filme difícil, assunto importante e conceito narrativo corajoso - nós gostamos e indicamos de olhos fechados!
Será preciso uma certa sensibilidade para entender a proposta narrativa de "A Assistente", filme de estreia da diretora Kitty Green - que antes havia dirigido apenas documentários e isso acaba ficando claro na maneira como ela internaliza as dores da protagonista, a excelente Julia Garner de "Ozark". Não se trata de um filme tradicional, seu conceito é completamente autoral, cadenciado, trazendo um retrato realista de um ambiente pesado, onde o mal-estar está no rosto de cada funcionário e que se apoia no silêncio para causar uma repulsa pelo simples fato de nos provocar a imaginar o que estaria acontecendo do outro lado da parede!
O filme acompanha um dia na rotina de Jane (Julia Garner), uma assistente de um alto executivo de cinema que trabalha em uma famosa produtora em Manhattan. Jane é a primeira a chegar e a última a sair, responde pelas burocracias do escritório, precisa ouvir desaforos e ainda fazer vista grossa para os abusos dos superiores (e dos puxa-sacos), enfim, aquele pacote completo de uma estagiária que sonha em ter uma oportunidade de ascensão profissional. Porém tudo o que rodeia esse emprego a incomoda e a postura de seu chefe passa a ser retratada como um fantasma onipresente que Jane tem que enfrentar a cada chamada ameaçadora de telefone, a cada e-mail passivo-agressivo que ela recebe ou até a cada compromisso que ela precisa marcar para que essa "entidade" cumpra sua agenda sem maiores problemas. Confira o trailer (em inglês):
Um dos elementos que mais me chamaram a atenção no roteiro de "A Assistente" foi a forma como tudo fica sugestionado e como os pequenos gestos ganham tanto peso no sentimento de Jane - esse trabalho de Garner mereceria uma indicação ao Oscar, tranquilamente! Diferente de "O Escândalo" ou de "A voz mais forte", não se trata de um filme onde os assédios (morais e sexuais) são visíveis, mas sim de ações estruturais que vão se acumulando e ganhando uma forma aterrorizante e transformando o dia da protagonista em um verdadeiro pesadelo moral - o fato de não se ver, não quer dizer que não exista, certo? O desenho de som ajuda a pontuar esse terror do desconhecido, bem como nos guia através do que ouvimos de passagem - isso é tão bem explorado, que a própria Jane quase não fala durante os 90 minutos de filme e sentimos exatamente o seu sofrimento!
Embora muito cuidadosa, a história ganhou sua contextualização dentro do movimento #MeToo e de todos os casos de abuso sexual envolvendo “ex-chefões” de Hollywood, como Harvey Weinstein por exemplo. Onde o ambiente desconfortável se torna praticamente um personagem, inserido em uma gelada Nova Yorke, "A Assistente" cumpre o seu papel de criar a tensão, a angústia e a reflexão, mas talvez cometa o pecado de acreditar que somente o sentimento da protagonista basta para conquistar sua platéia - vai funcionar para alguns, mas muitos outros vão se decepcionar pela falta de conflito externo!
Filme difícil, assunto importante e conceito narrativo corajoso - nós gostamos e indicamos de olhos fechados!
Antes de mais nada é preciso dizer que assisti "A Cabana" sem ter lido o livro, então vou basear minha análise exclusivamente no filme. Eu gosto muito do assunto e levando em consideração que o filme não poderia ser muito mais longo do que foi (o que deve ter deixado o roteirista que adaptou a obra maluco), eu até que gostei; mas, infelizmente, não é um grande filme - o que me chateia um pouco, pois a história tinha potencial para ser!
O filme conta a história de Mack Phillips (Sam Worthington) que, depois de sofrer uma tragédia familiar, entra em uma profunda depressão, que o faz questionar suas crenças mais íntimas. Diante de uma crise de fé, ele recebe uma carta misteriosa convidando ele para ir até uma cabana abandonada. Mesmo sem a aprovação dos mais próximos, Mack inicia uma jornada na busca por algumas respostas e acaba encontrando verdades tão significativas que transformam seu entendimento sobre a tragédia que abalou sua família e que vai fazer com que sua vida mude para sempre. Confira o trailer:
Inspirada no best-seller de William P. Young, "A Cabana" é o típico filme "sessão da tarde" - o que nesse caso nem é depreciativo, mas que claramente foi produzido para todo mundo assistir e, principalmente, para todo mundo chorar! Embora o roteiro module uma certa profundidade reflexiva ao colocar fortes elementos religiosos como "Deus" (ou Papa) personagem interpretado pela excelente Octavia Spencer, "Jesus" do também elogiado Avraham Aviv Alush e o "Espírito Santo" (ou Sarayu) de Sumire Matsubara, e um contexto interessante sobre o perdão e a culpa que nos consome, a estrutura narrativa escolhida não se aprofunda no elemento que mais importaria para o filme: a dor - e aí, um filme como "Amor além da Vida" (1998) dá um baile na "A Cabana"!
Vale o play? Sim, mas não espere nada mais que um filme água com açúcar, com um tema ótimo, uma discussão conceitual pertinente, alguma emoção e certa superficialidade!
Agora, vou tentar explicar por que o filme tinha tudo para ser incrível e se tornou apenas mediano! O roteiro já começa falhando ao transformar o prólogo em uma espécie de desculpas para que Mack Phillips questione sua fé. Não pelo drama que ele está passando, claro, mas pela forma como todas as suas motivações são apresentadas sem levar em consideração o universo que o cerca e a relação com as pessoas que estariam sofrendo da mesma forma - o texto não se preocupa em demonstrar o impacto nos outros membros da família muitos menos se aprofundar na dor intima que seria capaz de destruir qualquer família. Não existe um cuidado em mostrar o impacto nos filhos adolescentes, por exemplo. Outra coisa que me incomodou é a forma como Phillips se relaciona com "Deus" - questionar as razões de tudo aquilo era inevitável, mas a forma como Papa responde, tira qualquer profundidade que uma discussão inteligente poderia gerar! Sabe livro de "auto ajuda"? Pois foi o que me pareceu - e aqui a direção do Stuart Hazeldine atrapalha demais! Ele não provoca o questionamento natural do ser humano como algo inexplicável (o que afinal se transformaria em "Fé") e suas escolhas visuais são completamente equivocadas: dos enquadramentos ao tom na condução do atores!
Tecnicamente o filme também é muito fraco - em vários momentos fica claro que foi filmado em um cenário dentro de um estúdio e em muitos outros o "fundo verde" fica gritando na tela. A direção de fotografia do Declan Quinn não me agradou - e mais uma vez "Amor além da Vida" me vinha na cabeça: lembrava do Oscar que o filme ganhou em "Efeitos Visuais" e de sua indicação em "Desenho de Produção"! Outro ponto que o filme peca é no "Desenho de Som" - sofrível! Sinceramente, imagino que o diretor deve ter apanhado muito dos produtores, não é possível, pois "A Cabana" foi concebido para ser o típico filme de Estúdio e com um novato no comando para não ser conceitual demais!
Como eu disse, eu gosto do assunto, acho que, para quem assistir focado no entretenimento, também vai se divertir, mas dói um pouco ver algo que poderia ser grandioso, se satisfazer com o medíocre! Para mim, faltou alma para "A Cabana", mas certamente é filme que vai agradar um determinado público pela beleza da mensagem e pela fácil identificação com a história!
Antes de mais nada é preciso dizer que assisti "A Cabana" sem ter lido o livro, então vou basear minha análise exclusivamente no filme. Eu gosto muito do assunto e levando em consideração que o filme não poderia ser muito mais longo do que foi (o que deve ter deixado o roteirista que adaptou a obra maluco), eu até que gostei; mas, infelizmente, não é um grande filme - o que me chateia um pouco, pois a história tinha potencial para ser!
O filme conta a história de Mack Phillips (Sam Worthington) que, depois de sofrer uma tragédia familiar, entra em uma profunda depressão, que o faz questionar suas crenças mais íntimas. Diante de uma crise de fé, ele recebe uma carta misteriosa convidando ele para ir até uma cabana abandonada. Mesmo sem a aprovação dos mais próximos, Mack inicia uma jornada na busca por algumas respostas e acaba encontrando verdades tão significativas que transformam seu entendimento sobre a tragédia que abalou sua família e que vai fazer com que sua vida mude para sempre. Confira o trailer:
Inspirada no best-seller de William P. Young, "A Cabana" é o típico filme "sessão da tarde" - o que nesse caso nem é depreciativo, mas que claramente foi produzido para todo mundo assistir e, principalmente, para todo mundo chorar! Embora o roteiro module uma certa profundidade reflexiva ao colocar fortes elementos religiosos como "Deus" (ou Papa) personagem interpretado pela excelente Octavia Spencer, "Jesus" do também elogiado Avraham Aviv Alush e o "Espírito Santo" (ou Sarayu) de Sumire Matsubara, e um contexto interessante sobre o perdão e a culpa que nos consome, a estrutura narrativa escolhida não se aprofunda no elemento que mais importaria para o filme: a dor - e aí, um filme como "Amor além da Vida" (1998) dá um baile na "A Cabana"!
Vale o play? Sim, mas não espere nada mais que um filme água com açúcar, com um tema ótimo, uma discussão conceitual pertinente, alguma emoção e certa superficialidade!
Agora, vou tentar explicar por que o filme tinha tudo para ser incrível e se tornou apenas mediano! O roteiro já começa falhando ao transformar o prólogo em uma espécie de desculpas para que Mack Phillips questione sua fé. Não pelo drama que ele está passando, claro, mas pela forma como todas as suas motivações são apresentadas sem levar em consideração o universo que o cerca e a relação com as pessoas que estariam sofrendo da mesma forma - o texto não se preocupa em demonstrar o impacto nos outros membros da família muitos menos se aprofundar na dor intima que seria capaz de destruir qualquer família. Não existe um cuidado em mostrar o impacto nos filhos adolescentes, por exemplo. Outra coisa que me incomodou é a forma como Phillips se relaciona com "Deus" - questionar as razões de tudo aquilo era inevitável, mas a forma como Papa responde, tira qualquer profundidade que uma discussão inteligente poderia gerar! Sabe livro de "auto ajuda"? Pois foi o que me pareceu - e aqui a direção do Stuart Hazeldine atrapalha demais! Ele não provoca o questionamento natural do ser humano como algo inexplicável (o que afinal se transformaria em "Fé") e suas escolhas visuais são completamente equivocadas: dos enquadramentos ao tom na condução do atores!
Tecnicamente o filme também é muito fraco - em vários momentos fica claro que foi filmado em um cenário dentro de um estúdio e em muitos outros o "fundo verde" fica gritando na tela. A direção de fotografia do Declan Quinn não me agradou - e mais uma vez "Amor além da Vida" me vinha na cabeça: lembrava do Oscar que o filme ganhou em "Efeitos Visuais" e de sua indicação em "Desenho de Produção"! Outro ponto que o filme peca é no "Desenho de Som" - sofrível! Sinceramente, imagino que o diretor deve ter apanhado muito dos produtores, não é possível, pois "A Cabana" foi concebido para ser o típico filme de Estúdio e com um novato no comando para não ser conceitual demais!
Como eu disse, eu gosto do assunto, acho que, para quem assistir focado no entretenimento, também vai se divertir, mas dói um pouco ver algo que poderia ser grandioso, se satisfazer com o medíocre! Para mim, faltou alma para "A Cabana", mas certamente é filme que vai agradar um determinado público pela beleza da mensagem e pela fácil identificação com a história!
"A Despedida" é um drama extremamente sensível, muito cadenciado e justamente por isso não deve agradar a todos. É um filme que fala sobre as escolhas que temos que fazer durante a vida, em diversas circunstâncias e como elas impactam na nossa alma quando a morte de um ente querido se aproxima. Sem dúvida que o assunto deve tocar aqueles que passaram por uma situação parecida, porém a sutileza como o assunto é tratado nos provoca uma reflexão que transforma uma história relativamente simples em um grande filme!
“The Farewell” (título original) acompanha Billi (Awkwafina), uma imigrante chinesa que mora em Nova York com seus pais. Quando Billi descobre que sua avó (Zhao Shuzhen) está com câncer em um estado bem avançado e que não viverá mais de três meses, ela simplesmente desmorona. Acontece que família decidiu não contar para Nai Nai (“avó paterna” em chinês) sobre seu diagnóstico, ao contrário, eles planejam um casamento falso entre o primo de Billi e sua namorada japonesa, como desculpa para que toda a família possa se reunir na China, passar alguns dias com Nai Nai e, claro, se despedir dela. Confira o trailer:
O roteiro, da também diretora, Lulu Wang, não tem a menor preocupação em obedecer uma estrutura narrativa convencional - o que vemos durante todo o filme é um movimento quase orgânico onde a emoção de Billi vai nos guiando pela história e isso impacta, inclusive, em como "a morte" se torna uma constante, mesmo nos momentos de alegria da família que tenta de todas as formas esquecer da dor que é estar ali sem poder transparecer seu real sentimento. Olha, não é fácil, mas é muito humano e justamente por isso merece seu play!
Embora a decisão da família em não contar a verdade para Nai Nai, possa parecer um pouco absurda para muitos, a grande verdade é que essa postura está de acordo com a cultura e os costumes chineses. A história é baseada nas experiências reais da própria diretora e a legenda que nos sugere isso já chega carregada com uma grande dose de emoção: “baseado em uma mentira real”. Essa história foi contada pela primeira vez por Wang em 2016, em um episódio do podcast "This American Life" e o filme trás para tela justamente essa sensação: de estarmos escutando alguém contar sua experiência em uma situação tão marcante como essa.
Muito bem dirigida, "A Despedida" pontua com muita inteligência os conflitos culturais entre aqueles que saíram da China para buscar um futuro melhor e aqueles que lá permaneceram, mas que não assumem que talvez essa não tenha sido a melhor decisão. São diálogos inteligentes, naturais, exatamente como se estivéssemos em uma mesa de jantar ouvindo nossa família discutir sobre qualquer outro assunto - são nos detalhes desses diálogos (e na interpretação contida dos atores) que percebemos as mágoas, a hipocrisia, a insegurança e até as dores de algumas dessas escolhas. O interessante é que cada um dos personagens, carregam dentro si, sua parcela de arrependimento, percebida somente por estar frente a frente com a possibilidade real de perder alguém que se ama. Reparem como a diretora faz questão de enquadrar o maior número de pessoas da família sempre que pode - ela quer mostrar que existe sim uma união, uma empatia, ao mesmo tempo que incomodo do silêncio ou de um comentário, exalta o individualismo de cada um deles que os orientam na maneira de lidar com a situação (racionalmente e emocionalmente).
"A Despedida" tem nas entre-linhas sua maior força, isso é um fato. É um filme pouco poético no sentido lírico da palavra, porém sua sensibilidade traz uma beleza que poucas vezes encontramos em um filme com um assunto tão pesado. Awkwafina deu show - o que justifica seu Globo de Ouro e nos causa uma certa indignação pela sua não indicação ao Oscar! Saiba que esse filme chinês esteve indicado em mais de 150 premiações pelo mundo inteiro, que venceu mais de 30 e que, não fosse o fenômeno "Parasita", seria o provável vencedor de Melhor Filme Estrangeiro em 2020 (ou pelo menos disputaria "cabeça a cabeça" com "Dor e Glória"- e aqui cabe uma observação: o filme não foi nem indicado ao Oscar, mas o fato de existir um forte concorrente oriental na disputa, provavelmente afastou "A Despedida" de qualquer chance de vitória!
Antes do play, saiba que se trata de um filme autoral, independente e pouco convencional, mas que carrega uma história delicada, sensível e emocionante!
"A Despedida" é um drama extremamente sensível, muito cadenciado e justamente por isso não deve agradar a todos. É um filme que fala sobre as escolhas que temos que fazer durante a vida, em diversas circunstâncias e como elas impactam na nossa alma quando a morte de um ente querido se aproxima. Sem dúvida que o assunto deve tocar aqueles que passaram por uma situação parecida, porém a sutileza como o assunto é tratado nos provoca uma reflexão que transforma uma história relativamente simples em um grande filme!
“The Farewell” (título original) acompanha Billi (Awkwafina), uma imigrante chinesa que mora em Nova York com seus pais. Quando Billi descobre que sua avó (Zhao Shuzhen) está com câncer em um estado bem avançado e que não viverá mais de três meses, ela simplesmente desmorona. Acontece que família decidiu não contar para Nai Nai (“avó paterna” em chinês) sobre seu diagnóstico, ao contrário, eles planejam um casamento falso entre o primo de Billi e sua namorada japonesa, como desculpa para que toda a família possa se reunir na China, passar alguns dias com Nai Nai e, claro, se despedir dela. Confira o trailer:
O roteiro, da também diretora, Lulu Wang, não tem a menor preocupação em obedecer uma estrutura narrativa convencional - o que vemos durante todo o filme é um movimento quase orgânico onde a emoção de Billi vai nos guiando pela história e isso impacta, inclusive, em como "a morte" se torna uma constante, mesmo nos momentos de alegria da família que tenta de todas as formas esquecer da dor que é estar ali sem poder transparecer seu real sentimento. Olha, não é fácil, mas é muito humano e justamente por isso merece seu play!
Embora a decisão da família em não contar a verdade para Nai Nai, possa parecer um pouco absurda para muitos, a grande verdade é que essa postura está de acordo com a cultura e os costumes chineses. A história é baseada nas experiências reais da própria diretora e a legenda que nos sugere isso já chega carregada com uma grande dose de emoção: “baseado em uma mentira real”. Essa história foi contada pela primeira vez por Wang em 2016, em um episódio do podcast "This American Life" e o filme trás para tela justamente essa sensação: de estarmos escutando alguém contar sua experiência em uma situação tão marcante como essa.
Muito bem dirigida, "A Despedida" pontua com muita inteligência os conflitos culturais entre aqueles que saíram da China para buscar um futuro melhor e aqueles que lá permaneceram, mas que não assumem que talvez essa não tenha sido a melhor decisão. São diálogos inteligentes, naturais, exatamente como se estivéssemos em uma mesa de jantar ouvindo nossa família discutir sobre qualquer outro assunto - são nos detalhes desses diálogos (e na interpretação contida dos atores) que percebemos as mágoas, a hipocrisia, a insegurança e até as dores de algumas dessas escolhas. O interessante é que cada um dos personagens, carregam dentro si, sua parcela de arrependimento, percebida somente por estar frente a frente com a possibilidade real de perder alguém que se ama. Reparem como a diretora faz questão de enquadrar o maior número de pessoas da família sempre que pode - ela quer mostrar que existe sim uma união, uma empatia, ao mesmo tempo que incomodo do silêncio ou de um comentário, exalta o individualismo de cada um deles que os orientam na maneira de lidar com a situação (racionalmente e emocionalmente).
"A Despedida" tem nas entre-linhas sua maior força, isso é um fato. É um filme pouco poético no sentido lírico da palavra, porém sua sensibilidade traz uma beleza que poucas vezes encontramos em um filme com um assunto tão pesado. Awkwafina deu show - o que justifica seu Globo de Ouro e nos causa uma certa indignação pela sua não indicação ao Oscar! Saiba que esse filme chinês esteve indicado em mais de 150 premiações pelo mundo inteiro, que venceu mais de 30 e que, não fosse o fenômeno "Parasita", seria o provável vencedor de Melhor Filme Estrangeiro em 2020 (ou pelo menos disputaria "cabeça a cabeça" com "Dor e Glória"- e aqui cabe uma observação: o filme não foi nem indicado ao Oscar, mas o fato de existir um forte concorrente oriental na disputa, provavelmente afastou "A Despedida" de qualquer chance de vitória!
Antes do play, saiba que se trata de um filme autoral, independente e pouco convencional, mas que carrega uma história delicada, sensível e emocionante!
"A Escavação" me surpreendeu. Talvez por ter entrado sem muitas expectativas, logo nos primeiros minutos do filme já foi possível perceber muita qualidade em todos os sentidos. Embora não tenha muitas similaridades narrativas, essa produção da Netflix me lembrou muito a atmosfera do "O Jardineiro Fiel", inclusive em sua direção - o diretor Simon Stone traz muito do cinema autoral do Fernando Meirelles para o seu filme e isso agrada demais!
A trama, baseada em uma história real, se passa em 1939, às vésperas da Segunda Guerra Mundial. Edith Pretty (Carey Mulligan) é uma viúva que mora com seu filho Robert (Archie Barnes) em uma mansão em Sutton Hoo, localizada perto do condado de Suffolk, na Inglaterra. Curiosa com alguns montes que fazem parte da sua propriedade, ela chama Basil Brown (Ralph Fiennes), um arqueólogo amador, para escavar suas terras. É lá que ele encontra um dos tesouros mais importantes da história - um grande barco funerário muito bem preservado, principalmente quando consideramos que ele pode ser rastreado para uma Europa da Idade Média, que até o momento era uma área quase carente de mais informações para os historiadores. Com a descoberta de prataria e outros acessórios de enorme valor, o trabalho toma outra dimensão, com museus e outras entidades governamentais se envolvendo cada vez mais na escavação e, mais uma vez, deixando de lado os créditos de Brown. Confira o trailer:
Além de uma ótima direção, a trilha sonora de Stefan Gregory, em seu primeiro longa-metragem, também me chamou a atenção e é impressionante como ela se encaixa perfeitamente a uma bela fotografia, digna de prêmios (inclusive), do Mike Eley. Já o roteiro de Moira Buffini, de “O Último Vice-Rei”, dá uma leve vacilada quando desvia o foco desenvolvido em um primeiro ato sensacional, para um romance dispensável - principalmente por se tratar de um filme que se apoia no drama denso de uma protagonista bastante complexa, cheia de camadas, e no desafio de um personagem igualmente profundo e que parece buscar uma redenção quase espiritual - e aqui cabe uma observação: enquanto a relação entre Pretty e Brown nos provoca algumas dúvidas e até uma certa angústia, o de Piggott (Lily James) com Rory Lomax (Johnny Flynn) é quase adolescente de tão óbvio. Se o propósito era se permitir uma certa liberdade criativa ao trazer um romance ficcional para história, por que não focar na relação com o filho, com o passado, com os questionamentos de um luto mal vivido ou, no caso de Brown, no distanciamento da esposa e na insegurança no futuro do casamento?
"A Escavação" tem uma história envolvente, mas poderia ter ido mais longe! Não prejudica em nada na experiência de quem está assistindo, o filme continua sendo muito bom, com um drama bem estabelecido, só que o potencial era tão grande que fica impossível não comentar. Ao pontuar conceitos espirituais sobre o que realmente deixamos para a próxima geração, através de paralelos com a arqueologia, "The Dig" (titulo original) nos provoca a refletir sobre como lidar com a vida mesmo sabendo da vulnerabilidade que ela representa!
É um belo filme, com seus defeitos e qualidades, que merece ser visto e fatalmente vai te surpreender também!
"A Escavação" me surpreendeu. Talvez por ter entrado sem muitas expectativas, logo nos primeiros minutos do filme já foi possível perceber muita qualidade em todos os sentidos. Embora não tenha muitas similaridades narrativas, essa produção da Netflix me lembrou muito a atmosfera do "O Jardineiro Fiel", inclusive em sua direção - o diretor Simon Stone traz muito do cinema autoral do Fernando Meirelles para o seu filme e isso agrada demais!
A trama, baseada em uma história real, se passa em 1939, às vésperas da Segunda Guerra Mundial. Edith Pretty (Carey Mulligan) é uma viúva que mora com seu filho Robert (Archie Barnes) em uma mansão em Sutton Hoo, localizada perto do condado de Suffolk, na Inglaterra. Curiosa com alguns montes que fazem parte da sua propriedade, ela chama Basil Brown (Ralph Fiennes), um arqueólogo amador, para escavar suas terras. É lá que ele encontra um dos tesouros mais importantes da história - um grande barco funerário muito bem preservado, principalmente quando consideramos que ele pode ser rastreado para uma Europa da Idade Média, que até o momento era uma área quase carente de mais informações para os historiadores. Com a descoberta de prataria e outros acessórios de enorme valor, o trabalho toma outra dimensão, com museus e outras entidades governamentais se envolvendo cada vez mais na escavação e, mais uma vez, deixando de lado os créditos de Brown. Confira o trailer:
Além de uma ótima direção, a trilha sonora de Stefan Gregory, em seu primeiro longa-metragem, também me chamou a atenção e é impressionante como ela se encaixa perfeitamente a uma bela fotografia, digna de prêmios (inclusive), do Mike Eley. Já o roteiro de Moira Buffini, de “O Último Vice-Rei”, dá uma leve vacilada quando desvia o foco desenvolvido em um primeiro ato sensacional, para um romance dispensável - principalmente por se tratar de um filme que se apoia no drama denso de uma protagonista bastante complexa, cheia de camadas, e no desafio de um personagem igualmente profundo e que parece buscar uma redenção quase espiritual - e aqui cabe uma observação: enquanto a relação entre Pretty e Brown nos provoca algumas dúvidas e até uma certa angústia, o de Piggott (Lily James) com Rory Lomax (Johnny Flynn) é quase adolescente de tão óbvio. Se o propósito era se permitir uma certa liberdade criativa ao trazer um romance ficcional para história, por que não focar na relação com o filho, com o passado, com os questionamentos de um luto mal vivido ou, no caso de Brown, no distanciamento da esposa e na insegurança no futuro do casamento?
"A Escavação" tem uma história envolvente, mas poderia ter ido mais longe! Não prejudica em nada na experiência de quem está assistindo, o filme continua sendo muito bom, com um drama bem estabelecido, só que o potencial era tão grande que fica impossível não comentar. Ao pontuar conceitos espirituais sobre o que realmente deixamos para a próxima geração, através de paralelos com a arqueologia, "The Dig" (titulo original) nos provoca a refletir sobre como lidar com a vida mesmo sabendo da vulnerabilidade que ela representa!
É um belo filme, com seus defeitos e qualidades, que merece ser visto e fatalmente vai te surpreender também!
"A Esposa" é um ótimo filme, sem nenhum "porém" técnico ou até artístico, com todos os elementos cinematográficos muito bem equilibrados (uma marca do diretor Björn Runge), chancelando a obra como irretocável. Dito isso, é preciso ressaltar o sensacional trabalho de Glenn Close - muito acima da média (que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de melhor atriz em 2019)! Reparem como desde o primeiro minuto é possível encontrar um certo desconforto no olhar de sua personagem e mesmo deixando o roteiro um pouco previsível, sua performance é o que vai transformar a simplicidade da história em algo imperdível.
O filme conta a história de um escritor bem-sucedido que acaba de ganhar o Nobel de literatura, chamado Joseph Castleman (Jonathan Pryce) e de sua esposa Joan (Glenn Close) que o acompanha em todos os momentos, inclusive na grande cerimônia de premiação. Acontece que o casal guarda alguns segredos que pouco a pouco vão submergindo graças a presença constante de Nathanial Bone (Christian Slater) um jornalista que trabalha na biografia não autorizada de Castleman. Confira o trailer:
Tem um lado em "A Esposa" que eu gostaria que vocês reparassem: ainda na apresentação dos personagens, percebemos a cumplicidade entre o casal pelos olhos de Joseph Castleman, mas também um certo distanciamento, culposo talvez, pelos olhos de Joan. Até nos momentos de maior alegria do casal, algo insiste em nos incomodar, mesmo que vindo do próprio silêncio - isso, na verdade, é tão raro, que quase nos obriga a voltar o filme para termos a certeza que não perdemos nada. O diretor Björn Runge trabalha essas camadas mais profundas com muita delicadeza, mas durante a progressão da história entendemos a importância dessas marcas do passado e como elas estão muito mais vivas do que imaginávamos lá atrás!
Embora Jonathan Pryce não tenha chamado tanto a atenção como Glenn Close, seu trabalho é igualmente competente! O diretor de fotografia Ulf Brantås (Areia Movediça) é outro que ajuda muito o trabalho dos atores - ele foi capaz de captar o vazio com a mesma habilidade que enquadra as inúmeras emoções com a qual os atores vão nos presenteando - tudo na mesma cena! Uma aula!
A roteirista Jane Anderson adaptou o livro homônimo de Meg Wolitzer com o intuito de expor todas essas nuances, mas sem jamais ignorar a dimensão da dominação que Castleman impunha à Joan - e olhando pelas lentes da humanidade, nos perguntamos se Joseph tinha noção de suas atitudes em todo momento. Essa resposta está no filme, só é preciso encontra-la.
Olha, provavelmente a história vai impactar algumas pessoas com mais força, especialmente as mulheres, mas independente de relações emocionais e empáticas com os personagens, "A Esposa" já vai valer muito a pena por provocar alguns questionamentos bem importantes e que não devem ser ignorados nunca!
"A Esposa" é um ótimo filme, sem nenhum "porém" técnico ou até artístico, com todos os elementos cinematográficos muito bem equilibrados (uma marca do diretor Björn Runge), chancelando a obra como irretocável. Dito isso, é preciso ressaltar o sensacional trabalho de Glenn Close - muito acima da média (que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de melhor atriz em 2019)! Reparem como desde o primeiro minuto é possível encontrar um certo desconforto no olhar de sua personagem e mesmo deixando o roteiro um pouco previsível, sua performance é o que vai transformar a simplicidade da história em algo imperdível.
O filme conta a história de um escritor bem-sucedido que acaba de ganhar o Nobel de literatura, chamado Joseph Castleman (Jonathan Pryce) e de sua esposa Joan (Glenn Close) que o acompanha em todos os momentos, inclusive na grande cerimônia de premiação. Acontece que o casal guarda alguns segredos que pouco a pouco vão submergindo graças a presença constante de Nathanial Bone (Christian Slater) um jornalista que trabalha na biografia não autorizada de Castleman. Confira o trailer:
Tem um lado em "A Esposa" que eu gostaria que vocês reparassem: ainda na apresentação dos personagens, percebemos a cumplicidade entre o casal pelos olhos de Joseph Castleman, mas também um certo distanciamento, culposo talvez, pelos olhos de Joan. Até nos momentos de maior alegria do casal, algo insiste em nos incomodar, mesmo que vindo do próprio silêncio - isso, na verdade, é tão raro, que quase nos obriga a voltar o filme para termos a certeza que não perdemos nada. O diretor Björn Runge trabalha essas camadas mais profundas com muita delicadeza, mas durante a progressão da história entendemos a importância dessas marcas do passado e como elas estão muito mais vivas do que imaginávamos lá atrás!
Embora Jonathan Pryce não tenha chamado tanto a atenção como Glenn Close, seu trabalho é igualmente competente! O diretor de fotografia Ulf Brantås (Areia Movediça) é outro que ajuda muito o trabalho dos atores - ele foi capaz de captar o vazio com a mesma habilidade que enquadra as inúmeras emoções com a qual os atores vão nos presenteando - tudo na mesma cena! Uma aula!
A roteirista Jane Anderson adaptou o livro homônimo de Meg Wolitzer com o intuito de expor todas essas nuances, mas sem jamais ignorar a dimensão da dominação que Castleman impunha à Joan - e olhando pelas lentes da humanidade, nos perguntamos se Joseph tinha noção de suas atitudes em todo momento. Essa resposta está no filme, só é preciso encontra-la.
Olha, provavelmente a história vai impactar algumas pessoas com mais força, especialmente as mulheres, mas independente de relações emocionais e empáticas com os personagens, "A Esposa" já vai valer muito a pena por provocar alguns questionamentos bem importantes e que não devem ser ignorados nunca!
"A Favorita" teve 10 indicações para o Oscar de 2019 e isso, por si só, já o credenciaria como um grande filme. Na verdade é filme grandioso, mas não sei se é um grande filme - daqueles inesquecíveis!
"A Favorita" conta a história conturbada da Rainha Anne com sua amiga e confidente Sarah. A influência que Sarah tem sobre a Rainha abre caminho para vários tipos de interpretação e isso ganha ainda mais força com a chegada Abigail que, pouso a pouco, vai se inserindo no meio dessa relação. A disputa pela atenção da Rainha é só a maquiagem que o diretor usou para falar sobre a imperfeição do ser humano quando o assunto é a busca pelo poder!!!
A maneira provocativa que o diretor grego Yorgos Lanthimos imprime no filme émuito interessante: ele alinha esse conceito com vários elementos narrativos que vão pontuandomuito bem esse "tom acima", o problema éque essa escolha faz com que a história derrape em vários momentos!!! A interpretação é estereotipada, com raros momentos de internalização e isso, para mim, soa como o caminho mais fácil! Funcionou, pois das 10 indicações, 3 envolvem as atrizes do filme, 2em uma mesma categoria "Atriz Coadjuvante". A fotografia têm momentos magníficos e outros extremamente duvidosos. Na verdade, desde o "Cervo Sagrado", eu acho que Yorgos Lanthimos coloca tantas idéias, algumas desconexas, na sua direção que acabam atrapalhando o resultado final.
Bom, dito isso, talvez seja necessário entender cada uma das indicações: (1) "Edição", muito boa, mas não vai levar! (2) "Fotografia", como comentei acima, tem grandes momentos, lindos planos, o trabalho que o Robbie Ryan fez com o a luz do fogo contrastando com o fundo preto é lindo, mas foi nas escolhas das lentes que eu acho que ele derrapou. Eu vi ele explicando que era uma sensação de aprisionamento que ele buscou, para mim, não funcionou. A distorção da imagem ficou desconexa demais, mas é uma opinião muito pessoal. Nunca trocaria a fotografia de "Roma" pela de "A Favorita" - que se beneficia muito mais do cenário para compor grandes quadros! (3) "Desenho de Produção", forte candidato. Tudo é realmente lindo e vai brigar cabeça a cabeça com "Pantera Negra" - eu acho que essa é uma das categorias mais disputadas desse ano! (4) "Figurino", também acho uma das favoritas, mas com um "Pantera Negra" bem próximo! (5) e (6) "Atriz Coadjuvante", Emma Stone e Rachel Weisz, ambas tem chance, talvez com Rachel Weisz um pouco a frente, mas acho difícil a Regina King de "Se a rua Beale falasse" não levar - lembrando que a Amy Adams ainda corre forte por fora!!! (6) "Atriz", Olivia Colman, mereceria demais, foi um grande trabalho - o ponto alto do filme ao lado do departamento de arte, mas não vai levar!!! (8) "Roteiro Original", não vai levar, pode esquecer - é bom, sim, critico, inteligente, mas tem "Green Book", "Roma" e "Vice" na frente! (9) Direção, se Yorgos Lanthimos ganhar eu mudo de nome! (10) "Melhor Filme", o prêmio foi a indicação!
O fato é que "A Favorita" é interessante, bem feito, bonito... mas achei um pouco super estimado demais pela Academia. Das 10 indicações, 3 ou 4 estariam de bom tamanho!! Eu não me apaixonei, mas não posso dizer que não é um filme bom!!! Como disse um amigo: Gostei, mas não gostei!!!!...rs
Up-Date: "A Favorita" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor Atriz!
"A Favorita" teve 10 indicações para o Oscar de 2019 e isso, por si só, já o credenciaria como um grande filme. Na verdade é filme grandioso, mas não sei se é um grande filme - daqueles inesquecíveis!
"A Favorita" conta a história conturbada da Rainha Anne com sua amiga e confidente Sarah. A influência que Sarah tem sobre a Rainha abre caminho para vários tipos de interpretação e isso ganha ainda mais força com a chegada Abigail que, pouso a pouco, vai se inserindo no meio dessa relação. A disputa pela atenção da Rainha é só a maquiagem que o diretor usou para falar sobre a imperfeição do ser humano quando o assunto é a busca pelo poder!!!
A maneira provocativa que o diretor grego Yorgos Lanthimos imprime no filme émuito interessante: ele alinha esse conceito com vários elementos narrativos que vão pontuandomuito bem esse "tom acima", o problema éque essa escolha faz com que a história derrape em vários momentos!!! A interpretação é estereotipada, com raros momentos de internalização e isso, para mim, soa como o caminho mais fácil! Funcionou, pois das 10 indicações, 3 envolvem as atrizes do filme, 2em uma mesma categoria "Atriz Coadjuvante". A fotografia têm momentos magníficos e outros extremamente duvidosos. Na verdade, desde o "Cervo Sagrado", eu acho que Yorgos Lanthimos coloca tantas idéias, algumas desconexas, na sua direção que acabam atrapalhando o resultado final.
Bom, dito isso, talvez seja necessário entender cada uma das indicações: (1) "Edição", muito boa, mas não vai levar! (2) "Fotografia", como comentei acima, tem grandes momentos, lindos planos, o trabalho que o Robbie Ryan fez com o a luz do fogo contrastando com o fundo preto é lindo, mas foi nas escolhas das lentes que eu acho que ele derrapou. Eu vi ele explicando que era uma sensação de aprisionamento que ele buscou, para mim, não funcionou. A distorção da imagem ficou desconexa demais, mas é uma opinião muito pessoal. Nunca trocaria a fotografia de "Roma" pela de "A Favorita" - que se beneficia muito mais do cenário para compor grandes quadros! (3) "Desenho de Produção", forte candidato. Tudo é realmente lindo e vai brigar cabeça a cabeça com "Pantera Negra" - eu acho que essa é uma das categorias mais disputadas desse ano! (4) "Figurino", também acho uma das favoritas, mas com um "Pantera Negra" bem próximo! (5) e (6) "Atriz Coadjuvante", Emma Stone e Rachel Weisz, ambas tem chance, talvez com Rachel Weisz um pouco a frente, mas acho difícil a Regina King de "Se a rua Beale falasse" não levar - lembrando que a Amy Adams ainda corre forte por fora!!! (6) "Atriz", Olivia Colman, mereceria demais, foi um grande trabalho - o ponto alto do filme ao lado do departamento de arte, mas não vai levar!!! (8) "Roteiro Original", não vai levar, pode esquecer - é bom, sim, critico, inteligente, mas tem "Green Book", "Roma" e "Vice" na frente! (9) Direção, se Yorgos Lanthimos ganhar eu mudo de nome! (10) "Melhor Filme", o prêmio foi a indicação!
O fato é que "A Favorita" é interessante, bem feito, bonito... mas achei um pouco super estimado demais pela Academia. Das 10 indicações, 3 ou 4 estariam de bom tamanho!! Eu não me apaixonei, mas não posso dizer que não é um filme bom!!! Como disse um amigo: Gostei, mas não gostei!!!!...rs
Up-Date: "A Favorita" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor Atriz!
Uma co-produção entre Bélgica e França, "La fille inconnue" (título original) foi indicado para a Palme d'Or em 2016 e conta a história de uma jovem médica chamada Jenny (Adèle Haenel), que certa noite resolve não atender ao interfone do consultório pois o horário de expediente já havia terminado. Acontece que na manhã seguinte, ela é informada pela polícia que uma garota não identificada foi encontrada morta próximo ao seu local de trabalho. Sentindo-se culpada, Jenny passa a acreditar que poderia ter salvado a vítima se tivesse atendido sua chamada e como uma forma de redenção (ou perdão), ela inicia sua busca incessante pela verdade sobre o ocorrido. Confira o trailer:
O roteiro é inteligente em discutir algumas questões morais baseado na necessidade da protagonista em diminuir o peso de uma responsabilidade que ela acredita ser sua, o fato de que a garota não teria morrido se ela tive agido diferente só fortalece dois elementos que regem suas ações em todo o filme e que nos convidam à reflexão: o poder da culpa e as escolhas que fazemos sem nem ao menos pensar nas consequências. O problema é que o mesmo roteiro que entrega um subtexto interessante, falha ao querer dar a mesma importância aos dramas paralelos, deixando com que um conceito narrativo bem elaborado se esvazie na superficialidade com que os irmãos Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne, diretores e roteiristas, tratam seus personagens: os pais do estagiário de Jenny, Bryan (Louka Minnella), que tentam reatar o casamento e o trauma de Julien (Olivier Bonnaud) com o pai abusivo, são ótimos exemplos de tramas que não levam a lugar algum!
Embora simples, o filme é muito bem realizado, bem dirigido e tem uma fotografia bem peculiar (mérito de Alain Marcoen) e alinhada com o conceito estético marcante dos irmãos Dardenne, porém essa falta de foco, quase um emaranhado de sub-tramas sem muita conexão com o que realmente importa, prejudicam um pouco nossa percepção sobre o filme. Não que seja ruim, ele não é, mas ao assumir seu caráter independente, transformando algo que poderia ter a força de um thriller investigativo ao melhor estilo "Garota Exemplar" em algo muito mais conceitual, "A Garota Desconhecida" se torna interessante para um publico bastante nichado.
O assinante que se apegar a grife dos irmãos Dardenne: Jean-Pierre, de 65 anos, e Luc, de 62, ambos com duas Palmas de Ouro por "Rosetta" em 1999 e por "A Criança" em 2005 - além de mais de 50 prêmios nos maiores festivais de cinema do mundo e cujo maior sucesso recente foi "Dois Dias, uma Noite" com Marion Cotillard indicada ao Oscar de Melhor Atriz em 2015 por sua personagem no filme, certamente vai relevar muito do que comentei nesse review, mas para você que busca um filme de investigação ou até um drama melhor estruturado, mesmo que comercial, pode ter certeza que existem melhores opções no seu serviço de streaming!
Uma co-produção entre Bélgica e França, "La fille inconnue" (título original) foi indicado para a Palme d'Or em 2016 e conta a história de uma jovem médica chamada Jenny (Adèle Haenel), que certa noite resolve não atender ao interfone do consultório pois o horário de expediente já havia terminado. Acontece que na manhã seguinte, ela é informada pela polícia que uma garota não identificada foi encontrada morta próximo ao seu local de trabalho. Sentindo-se culpada, Jenny passa a acreditar que poderia ter salvado a vítima se tivesse atendido sua chamada e como uma forma de redenção (ou perdão), ela inicia sua busca incessante pela verdade sobre o ocorrido. Confira o trailer:
O roteiro é inteligente em discutir algumas questões morais baseado na necessidade da protagonista em diminuir o peso de uma responsabilidade que ela acredita ser sua, o fato de que a garota não teria morrido se ela tive agido diferente só fortalece dois elementos que regem suas ações em todo o filme e que nos convidam à reflexão: o poder da culpa e as escolhas que fazemos sem nem ao menos pensar nas consequências. O problema é que o mesmo roteiro que entrega um subtexto interessante, falha ao querer dar a mesma importância aos dramas paralelos, deixando com que um conceito narrativo bem elaborado se esvazie na superficialidade com que os irmãos Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne, diretores e roteiristas, tratam seus personagens: os pais do estagiário de Jenny, Bryan (Louka Minnella), que tentam reatar o casamento e o trauma de Julien (Olivier Bonnaud) com o pai abusivo, são ótimos exemplos de tramas que não levam a lugar algum!
Embora simples, o filme é muito bem realizado, bem dirigido e tem uma fotografia bem peculiar (mérito de Alain Marcoen) e alinhada com o conceito estético marcante dos irmãos Dardenne, porém essa falta de foco, quase um emaranhado de sub-tramas sem muita conexão com o que realmente importa, prejudicam um pouco nossa percepção sobre o filme. Não que seja ruim, ele não é, mas ao assumir seu caráter independente, transformando algo que poderia ter a força de um thriller investigativo ao melhor estilo "Garota Exemplar" em algo muito mais conceitual, "A Garota Desconhecida" se torna interessante para um publico bastante nichado.
O assinante que se apegar a grife dos irmãos Dardenne: Jean-Pierre, de 65 anos, e Luc, de 62, ambos com duas Palmas de Ouro por "Rosetta" em 1999 e por "A Criança" em 2005 - além de mais de 50 prêmios nos maiores festivais de cinema do mundo e cujo maior sucesso recente foi "Dois Dias, uma Noite" com Marion Cotillard indicada ao Oscar de Melhor Atriz em 2015 por sua personagem no filme, certamente vai relevar muito do que comentei nesse review, mas para você que busca um filme de investigação ou até um drama melhor estruturado, mesmo que comercial, pode ter certeza que existem melhores opções no seu serviço de streaming!
"A Jornada" é um filme muito bacana, que fala sobre o empoderamento feminino, mas com muita sensibilidade e inteligência. O interessante, inclusive, é perceber como algumas difíceis escolhas que a mulher precisa fazer durante sua vida se transformam em um processo de auto-aceitação ao mesmo tempo em que ela mesmo precisa lidar com uma sociedade notavelmente machista. O filme se aproveita do dia a dia de muito esforço e superação da astronauta francesa Sarah (Eva Green), uma mãe solteira que se prepara para uma missão espacial. Ela luta para equilibrar o tempo e a atenção que sua filha pequena precisa com o intenso e rigoroso treinamento de uma missão espacial. Confira o trailer:
Talvez a frase do seu colega de missão Mike Shannon (Matt Dillon), defina muito bem o que "A Jornada" nos propõe: “Não existe um astronauta perfeito. Assim como não existe uma mãe perfeita” - e certamente, isso vai tocar algumas mulheres mais do que aos homens, mas a sua profundidade merece uma reflexão sincera para ambos os gêneros. Vale a pena, mesmo não sendo um filme inesquecível, ele pode mexer com você!
"Proxima" (título original), foi exibido nos Festivais de Toronto e San Sebastian em 2019, recebendo ótimas críticas e várias recomendações. Eu diria que o filme soube relatar muito bem os sentimentos mais íntimos de uma astronauta mulher pouco antes de partir para uma missão internacional no espaço. A cineasta Alice Winocour (de “Augustine” e “Transtorno”) imprime um tom aspiracional no filme, mas sem esquecer da humanidade da personagem - o antagonismo emocional entre a realização profissional e a responsabilidade como mãe é muito bem trabalhado em vários momentos críticos do roteiro. O trabalho da Eva Green (de "007: Cassino Royale") merece ser mencionado - ela é de uma verdade no olhar, no silêncio, no que não é dito, mas é sentido; impressionante! O próprio Matt Dillon surpreende, embora ainda que um pouco canastrão (e aí não sei se é uma birra que eu tenho), entregando um personagem bastante interessante e, de certa forma, até complexo - mas é uma pena que o roteiro não soube aproveitar mais o potencial do personagem. Faltou desenvolvimento.
A fotografia do diretor Georges Lechaptois é bem interessante e lembra muito a forma como o vencedor do Emmy Jakob Ihre retratou "Chernobyl". A diretora Alice Winocour destaca um elemento que vimos em "Interestelar" do Nolan, mas de uma forma diferente - reparem nas suas palavras: “Para mim, o cerne deste filme está em recontar as emoções, capturar a vida e a intensidade vital dos personagens. À medida que o lançamento se aproxima, esse impulso de viver deve se tornar ainda mais urgente, ardente e consumir a todos. Toda cena foi filmada para evocar velocidade, uma sensação de energia bruta”!
De fato "A Jornada" tem esse poder, mas de uma forma muito mais introspectiva do que ativa. A ação praticamente não existe, mas o drama familiar e a discussão sobre os limites das nossas escolhas ou os reflexos delas na vida de quem amamos, isso sim está lá. Não se trata de um filme dinâmico, mas sua pontuação nos permite empatizar pela personagem e por seus dramas. "A Jornada" é um presente de Winocour para Eva Green da mesma forma que Greta Gerwig fez com Saoirse Ronan em "Lady Bird".
"A Jornada" é um filme muito bacana, que fala sobre o empoderamento feminino, mas com muita sensibilidade e inteligência. O interessante, inclusive, é perceber como algumas difíceis escolhas que a mulher precisa fazer durante sua vida se transformam em um processo de auto-aceitação ao mesmo tempo em que ela mesmo precisa lidar com uma sociedade notavelmente machista. O filme se aproveita do dia a dia de muito esforço e superação da astronauta francesa Sarah (Eva Green), uma mãe solteira que se prepara para uma missão espacial. Ela luta para equilibrar o tempo e a atenção que sua filha pequena precisa com o intenso e rigoroso treinamento de uma missão espacial. Confira o trailer:
Talvez a frase do seu colega de missão Mike Shannon (Matt Dillon), defina muito bem o que "A Jornada" nos propõe: “Não existe um astronauta perfeito. Assim como não existe uma mãe perfeita” - e certamente, isso vai tocar algumas mulheres mais do que aos homens, mas a sua profundidade merece uma reflexão sincera para ambos os gêneros. Vale a pena, mesmo não sendo um filme inesquecível, ele pode mexer com você!
"Proxima" (título original), foi exibido nos Festivais de Toronto e San Sebastian em 2019, recebendo ótimas críticas e várias recomendações. Eu diria que o filme soube relatar muito bem os sentimentos mais íntimos de uma astronauta mulher pouco antes de partir para uma missão internacional no espaço. A cineasta Alice Winocour (de “Augustine” e “Transtorno”) imprime um tom aspiracional no filme, mas sem esquecer da humanidade da personagem - o antagonismo emocional entre a realização profissional e a responsabilidade como mãe é muito bem trabalhado em vários momentos críticos do roteiro. O trabalho da Eva Green (de "007: Cassino Royale") merece ser mencionado - ela é de uma verdade no olhar, no silêncio, no que não é dito, mas é sentido; impressionante! O próprio Matt Dillon surpreende, embora ainda que um pouco canastrão (e aí não sei se é uma birra que eu tenho), entregando um personagem bastante interessante e, de certa forma, até complexo - mas é uma pena que o roteiro não soube aproveitar mais o potencial do personagem. Faltou desenvolvimento.
A fotografia do diretor Georges Lechaptois é bem interessante e lembra muito a forma como o vencedor do Emmy Jakob Ihre retratou "Chernobyl". A diretora Alice Winocour destaca um elemento que vimos em "Interestelar" do Nolan, mas de uma forma diferente - reparem nas suas palavras: “Para mim, o cerne deste filme está em recontar as emoções, capturar a vida e a intensidade vital dos personagens. À medida que o lançamento se aproxima, esse impulso de viver deve se tornar ainda mais urgente, ardente e consumir a todos. Toda cena foi filmada para evocar velocidade, uma sensação de energia bruta”!
De fato "A Jornada" tem esse poder, mas de uma forma muito mais introspectiva do que ativa. A ação praticamente não existe, mas o drama familiar e a discussão sobre os limites das nossas escolhas ou os reflexos delas na vida de quem amamos, isso sim está lá. Não se trata de um filme dinâmico, mas sua pontuação nos permite empatizar pela personagem e por seus dramas. "A Jornada" é um presente de Winocour para Eva Green da mesma forma que Greta Gerwig fez com Saoirse Ronan em "Lady Bird".
Antes de mais nada é preciso dizer que "A Lavanderia" tem grandes chances de te decepcionar! Eu explico: quando encontramos um elenco com Meryl Streep, Gary Oldman e Antonio Banderas e sendo dirigidos por Steven Soderbergh - para mim um dos melhores diretores da sua geração - a expectativa, naturalmente, vai lá para cima! O problema é que na prática essa produção da Netflix não entrega o que promete, ou pelo menos o que esperávamos que ela entregasse - são só alguns sopros de bom entretenimento que devem funcionar apenas para um grupo bem restrito de cinéfilos, mas para grande parte de assinantes o filme não vai agradar. É fato que "A Lavanderia" tem uma premissa interessante: a partir de um drama pessoal vivido pela personagem de Streep, a história acompanha os bastidores do vazamento de emails que expôs o universo de empresas de fachadas sediadas em paraísos fiscais usados globalmente para sonegar impostos, que ficou conhecido como "Panamá Papers". Eu sei que, de cara, fica impossível não se lembrar do ótimo Erin Brockovich do mesmo Soderbergh, porém o estilo que o diretor escolheu para contar essa história, em nada combinou com seu talento e muito menos com o assunto - ficou "pastelão" demais: do conceito visual ao tom das interpretações! Agora, se você quiser arriscar, fique à vontade, mas saiba que será um filme de extremos e isso, provavelmente, incluirá sua opinião!
Baseado no livro "The Secrecy World", do jornalista Jake Bernstein, "A Lavanderia" tinha tudo para ser um grande filme e, é preciso admitir, até que começa bem - se você aceitar que o conceito visual e o estilo narrativo do filme, ao melhor estilo Adam McKay de "Vice", tenha sido uma boa escolha (para mim, não foi). Com Gary Oldman e Antonio Banderas como narradores completamente estereotipados (e escrachados), quebrando a quarta parede, como em "House of Cards" mas sem a elegância de Frank Underwood, vemos um roteiro inteligente ao simplificar um assunto tão complexo como as artimanhas politicas e econômicas dos criadores de empresas "offshores". Ao iniciar a trama de Ellen Martin (Meryl Streep) que nos levará ao clímax do filme, temos a impressão que dois estilos cinematográficos completamente distintos vão dividir nossa atenção e dar um charme para narrativa, porém o distanciamento inicial dos gêneros (comédia e drama) vai se perdendo a partir do segundo ato, inclusive com a inserção de sub-tramas completamente dispensáveis, ou melhor, mal desenvolvidas, que pretensiosamente nos provoca a resolver um enorme quebra-cabeça que não se justifica.
A impressão que deu é que o roteiro se perdeu dentro da sua própria inventividade! Soderbergh também me pareceu pouco inspirado, mesmo com cenas bem construídas e planos sequências interessantes, sua direção decepcionou ao não encontrar uma unidade que pudesse justificar a forma como a história foi contada. Quando vemos Wes Anderson usando de alegorias para fortalecer o desenvolvimento da excelente narrativa de "O Grande Hotel Budapeste", entendemos que a escolha do conceito visual foi cuidadosamente estudada para que fizesse sentido. Em "A Lavanderia" as alegorias me soaram gratuitas e um tanto forçadas - até nos melhores momentos do roteiro, a interpretação dos atores fica um tom acima, com sotaque carregados, e com isso vamos nos distanciando daquela trama que parecia tão envolvente no inicio. As subtramas também prejudicam, elas nos afastam da única personagem por quem nos importamos(Ellen Martin) e deixam a cronologia dos fatos um pouco confusas, até quando a virada do final poderia surpreender, já nem lembramos direito como tudo aconteceu! - É engraçado como, mesmo com uma história boa na mão, as escolhas do realizador prejudicam a experiência de quem assiste.
Até com o Brasil presente na trama, quando o roteiro cita a participação da Odebrecht em várias ilegalidades mundo a fora (quem diria?), eu sou capaz de afirmar que "A Lavanderia" será esquecida em pouco tempo; até mesmo para aqueles que encontrarem no filme algo que possa justificar sua indicação como melhor filme no último Festival de Veneza! Para mim, não agradou!
Antes de mais nada é preciso dizer que "A Lavanderia" tem grandes chances de te decepcionar! Eu explico: quando encontramos um elenco com Meryl Streep, Gary Oldman e Antonio Banderas e sendo dirigidos por Steven Soderbergh - para mim um dos melhores diretores da sua geração - a expectativa, naturalmente, vai lá para cima! O problema é que na prática essa produção da Netflix não entrega o que promete, ou pelo menos o que esperávamos que ela entregasse - são só alguns sopros de bom entretenimento que devem funcionar apenas para um grupo bem restrito de cinéfilos, mas para grande parte de assinantes o filme não vai agradar. É fato que "A Lavanderia" tem uma premissa interessante: a partir de um drama pessoal vivido pela personagem de Streep, a história acompanha os bastidores do vazamento de emails que expôs o universo de empresas de fachadas sediadas em paraísos fiscais usados globalmente para sonegar impostos, que ficou conhecido como "Panamá Papers". Eu sei que, de cara, fica impossível não se lembrar do ótimo Erin Brockovich do mesmo Soderbergh, porém o estilo que o diretor escolheu para contar essa história, em nada combinou com seu talento e muito menos com o assunto - ficou "pastelão" demais: do conceito visual ao tom das interpretações! Agora, se você quiser arriscar, fique à vontade, mas saiba que será um filme de extremos e isso, provavelmente, incluirá sua opinião!
Baseado no livro "The Secrecy World", do jornalista Jake Bernstein, "A Lavanderia" tinha tudo para ser um grande filme e, é preciso admitir, até que começa bem - se você aceitar que o conceito visual e o estilo narrativo do filme, ao melhor estilo Adam McKay de "Vice", tenha sido uma boa escolha (para mim, não foi). Com Gary Oldman e Antonio Banderas como narradores completamente estereotipados (e escrachados), quebrando a quarta parede, como em "House of Cards" mas sem a elegância de Frank Underwood, vemos um roteiro inteligente ao simplificar um assunto tão complexo como as artimanhas politicas e econômicas dos criadores de empresas "offshores". Ao iniciar a trama de Ellen Martin (Meryl Streep) que nos levará ao clímax do filme, temos a impressão que dois estilos cinematográficos completamente distintos vão dividir nossa atenção e dar um charme para narrativa, porém o distanciamento inicial dos gêneros (comédia e drama) vai se perdendo a partir do segundo ato, inclusive com a inserção de sub-tramas completamente dispensáveis, ou melhor, mal desenvolvidas, que pretensiosamente nos provoca a resolver um enorme quebra-cabeça que não se justifica.
A impressão que deu é que o roteiro se perdeu dentro da sua própria inventividade! Soderbergh também me pareceu pouco inspirado, mesmo com cenas bem construídas e planos sequências interessantes, sua direção decepcionou ao não encontrar uma unidade que pudesse justificar a forma como a história foi contada. Quando vemos Wes Anderson usando de alegorias para fortalecer o desenvolvimento da excelente narrativa de "O Grande Hotel Budapeste", entendemos que a escolha do conceito visual foi cuidadosamente estudada para que fizesse sentido. Em "A Lavanderia" as alegorias me soaram gratuitas e um tanto forçadas - até nos melhores momentos do roteiro, a interpretação dos atores fica um tom acima, com sotaque carregados, e com isso vamos nos distanciando daquela trama que parecia tão envolvente no inicio. As subtramas também prejudicam, elas nos afastam da única personagem por quem nos importamos(Ellen Martin) e deixam a cronologia dos fatos um pouco confusas, até quando a virada do final poderia surpreender, já nem lembramos direito como tudo aconteceu! - É engraçado como, mesmo com uma história boa na mão, as escolhas do realizador prejudicam a experiência de quem assiste.
Até com o Brasil presente na trama, quando o roteiro cita a participação da Odebrecht em várias ilegalidades mundo a fora (quem diria?), eu sou capaz de afirmar que "A Lavanderia" será esquecida em pouco tempo; até mesmo para aqueles que encontrarem no filme algo que possa justificar sua indicação como melhor filme no último Festival de Veneza! Para mim, não agradou!
Derek Cianfrance (de "Blue Vallentine") é um dos melhores diretores da sua geração! O cara manda muito bem, a câmera está sempre no lugar certo, para contar a história que tem que ser contada! Em "A Luz entre Oceanos" ele mais uma vez está impecável para contara a história de Tom Sherbourne (Michael Fassbender) e a sua esposa Isabel (Alicia Vikander), um casal feliz que vive em uma ilha na costa da Austrália, no período após a Primeira Guerra Mundial. O maior desejo de Tom e Isabel é ter um filho, mas depois de Isabel abortar algumas vezes, eles acabam perdendo a esperança. No entanto, um dia o casal resgata uma menina em um barco, provavelmente resultado de um naufrágio. Os dois decidem chamá-la de Lucy e adotá-la como filha. Após alguns anos de felicidade, Tom e Isabel, em uma visita ao continente, encontram a viúva Hannah Roennfeldt (Rachel Weisz) que perdeu o marido e a filha no mar. Fica claro para Tom que Lucy é, na verdade, filha de Hannah, e ele sente que é o seu dever devolver a criança à mãe. Mas Isabel não quer que a sua família seja destruída por uma crise de consciência do marido. A partir daí, um maravilhoso sonho se transforma em um terrível pesadelo, trazendo à tona questões difíceis sobre o casamento e a paternidade. Confira o trailer:
"A Luz entre Oceanos" é lindamente bem fotografado pelo diretor Adam Arkapaw (True Detective) e tem um trilha sonora digna de Oscar do, 10 vezes indicado, Alexandre Desplat (Adoráveis Mulheres) - ele venceu duas vezes com "O Grande Hotel Budapeste" e "A Forma da Água". Embora tenha vencido o Festival de Veneza em 2016, o filme me deu a sensação que se tivesse 15 minutos a menos tudo terminaria melhor. Na verdade não sei se é só uma opinião pessoal, certa ou errada, mas quando me entregam demais acabo ficando com preguiça de me envolver tanto. Mas e o público, será que não prefere algo mais fácil? Talvez achar o equilíbrio seja o melhor caminho, talvez o roteiro do próprio Cianfrance, baseado no livro de M.L. Stedman, tenha feito essa escolha, mas para mim ficou a nítida impressão que o filme poderia ter me levado mais longe, porque a história é muito envolvente de fato, mas são aconteceu - ele acabou não me permitindo discutir sobre o final, sobre as escolhas, sobre a história em si!
Eu gostei do filme, ele poético, profundo e visceral em muitos momentos. Para quem acompanha o diretor, o filme é imperdível! Se você gostou de "Blue Valentine" certamente vai encontrar a marca de Cianfrance nesse filme! Não é um filme muito dinâmico, mas mesmo assim vale à pena - só não espere algo que te surpreenda!
Derek Cianfrance (de "Blue Vallentine") é um dos melhores diretores da sua geração! O cara manda muito bem, a câmera está sempre no lugar certo, para contar a história que tem que ser contada! Em "A Luz entre Oceanos" ele mais uma vez está impecável para contara a história de Tom Sherbourne (Michael Fassbender) e a sua esposa Isabel (Alicia Vikander), um casal feliz que vive em uma ilha na costa da Austrália, no período após a Primeira Guerra Mundial. O maior desejo de Tom e Isabel é ter um filho, mas depois de Isabel abortar algumas vezes, eles acabam perdendo a esperança. No entanto, um dia o casal resgata uma menina em um barco, provavelmente resultado de um naufrágio. Os dois decidem chamá-la de Lucy e adotá-la como filha. Após alguns anos de felicidade, Tom e Isabel, em uma visita ao continente, encontram a viúva Hannah Roennfeldt (Rachel Weisz) que perdeu o marido e a filha no mar. Fica claro para Tom que Lucy é, na verdade, filha de Hannah, e ele sente que é o seu dever devolver a criança à mãe. Mas Isabel não quer que a sua família seja destruída por uma crise de consciência do marido. A partir daí, um maravilhoso sonho se transforma em um terrível pesadelo, trazendo à tona questões difíceis sobre o casamento e a paternidade. Confira o trailer:
"A Luz entre Oceanos" é lindamente bem fotografado pelo diretor Adam Arkapaw (True Detective) e tem um trilha sonora digna de Oscar do, 10 vezes indicado, Alexandre Desplat (Adoráveis Mulheres) - ele venceu duas vezes com "O Grande Hotel Budapeste" e "A Forma da Água". Embora tenha vencido o Festival de Veneza em 2016, o filme me deu a sensação que se tivesse 15 minutos a menos tudo terminaria melhor. Na verdade não sei se é só uma opinião pessoal, certa ou errada, mas quando me entregam demais acabo ficando com preguiça de me envolver tanto. Mas e o público, será que não prefere algo mais fácil? Talvez achar o equilíbrio seja o melhor caminho, talvez o roteiro do próprio Cianfrance, baseado no livro de M.L. Stedman, tenha feito essa escolha, mas para mim ficou a nítida impressão que o filme poderia ter me levado mais longe, porque a história é muito envolvente de fato, mas são aconteceu - ele acabou não me permitindo discutir sobre o final, sobre as escolhas, sobre a história em si!
Eu gostei do filme, ele poético, profundo e visceral em muitos momentos. Para quem acompanha o diretor, o filme é imperdível! Se você gostou de "Blue Valentine" certamente vai encontrar a marca de Cianfrance nesse filme! Não é um filme muito dinâmico, mas mesmo assim vale à pena - só não espere algo que te surpreenda!
Acho que um dos grandes méritos dessa "segunda fase" do Globoplay é fazer o caminho inverso ao da Netflix, mas com o objetivo de chegar, exatamente, no mesmo lugar. Quando o Globoplay foi lançado, encontrávamos apenas conteúdo da Globo, ou seja, um catálogo enorme de produções próprias de altíssima qualidade, mas que não eram inéditos e representavam um material com características bem regionais. Com o tempo a plataforma foi mudando sua estratégia, ampliando seu olhar para o mercado e alinhando seu conteúdo inédito com as estréias da TV, até que veio a excelente sacada de lançar antes na plataforma e, em alguns casos, tudo de uma vez para o usuário "maratonar". Agora o Globoplay evoluiu ainda mais, pois passou a produzir projetos exclusivos para o streaming, sem nem passar pela TV e também licenciar conteúdo criado (e exibido) fora da emissora!!! Vamos falar muito desses conteúdos, mas fiz essa introdução toda apenas para dizer que: "A Million Little Things" está lá, no Globoplay, e você não pode deixar de assistir!!!!!
Essa série é a versão da ABC do sucesso da NBC, "This is Us". Na verdade uma série não tem nada a ver com a outra no seu conteúdo, mas a forma de contar a história e os sentimentos que ela é capaz de gerar ao assistirmos cada episódio é exatamente o mesmo! "A Million Little Things" não foca na família, foca na amizade! Seu ponto de partida é o suicídio de um dos protagonistas e, sempre misturando passado e presente, como essa tragédia refletiu na vida de cada um dos seus melhores amigos. Veja o trailer:
A trama não é complicada e talvez não tenha a genialidade narrativa de "This is Us", mas entrega um entretenimento de muita qualidade, humano, sensível e muito, mas muito, fácil de se identificar. Cada um dos personagens tem seu fantasma, seu drama pessoal, mas o roteiro não faz questão nenhuma de enrolar a audiência, ele vai mostrando cada traço da personalidade dos personagens e suas respectivas ações de uma maneira muito orgânica e de repente, você está preso na trama e quer saber sempre mais. Todo episódio tem um detalhe novo que te coloca imediatamente na posição do outro - até julgamento fazemos...rs. Eu assisti três episódios de uma levada só e não queria parar. Durante a 1ª temporada minha única dúvida era se episódios manteriam a qualidade inicial e não se perderiam pelo número absurdo que a TV aberta americana ainda exige para manter sua audiência - para se ter uma idéia são 17 episódios, um absurdo se compararmos com os 10 (em média) do streaming!
O elenco é excelente, a direção muito competente - repare no movimento de camera, com uma levada mais solta, equilibrando o documental com a ficção. Muitos planos fechados para captar as sensações dos personagens - enfim, bebeu da fonte de "This is Us" com muita competência e quem ganhou foi o publico com uma série de ótima qualidade!!! Não deixe de assistir, você vai me agradecer por isso!!! Globoplay, como era de se esperar, não veio para brincar...
Acho que um dos grandes méritos dessa "segunda fase" do Globoplay é fazer o caminho inverso ao da Netflix, mas com o objetivo de chegar, exatamente, no mesmo lugar. Quando o Globoplay foi lançado, encontrávamos apenas conteúdo da Globo, ou seja, um catálogo enorme de produções próprias de altíssima qualidade, mas que não eram inéditos e representavam um material com características bem regionais. Com o tempo a plataforma foi mudando sua estratégia, ampliando seu olhar para o mercado e alinhando seu conteúdo inédito com as estréias da TV, até que veio a excelente sacada de lançar antes na plataforma e, em alguns casos, tudo de uma vez para o usuário "maratonar". Agora o Globoplay evoluiu ainda mais, pois passou a produzir projetos exclusivos para o streaming, sem nem passar pela TV e também licenciar conteúdo criado (e exibido) fora da emissora!!! Vamos falar muito desses conteúdos, mas fiz essa introdução toda apenas para dizer que: "A Million Little Things" está lá, no Globoplay, e você não pode deixar de assistir!!!!!
Essa série é a versão da ABC do sucesso da NBC, "This is Us". Na verdade uma série não tem nada a ver com a outra no seu conteúdo, mas a forma de contar a história e os sentimentos que ela é capaz de gerar ao assistirmos cada episódio é exatamente o mesmo! "A Million Little Things" não foca na família, foca na amizade! Seu ponto de partida é o suicídio de um dos protagonistas e, sempre misturando passado e presente, como essa tragédia refletiu na vida de cada um dos seus melhores amigos. Veja o trailer:
A trama não é complicada e talvez não tenha a genialidade narrativa de "This is Us", mas entrega um entretenimento de muita qualidade, humano, sensível e muito, mas muito, fácil de se identificar. Cada um dos personagens tem seu fantasma, seu drama pessoal, mas o roteiro não faz questão nenhuma de enrolar a audiência, ele vai mostrando cada traço da personalidade dos personagens e suas respectivas ações de uma maneira muito orgânica e de repente, você está preso na trama e quer saber sempre mais. Todo episódio tem um detalhe novo que te coloca imediatamente na posição do outro - até julgamento fazemos...rs. Eu assisti três episódios de uma levada só e não queria parar. Durante a 1ª temporada minha única dúvida era se episódios manteriam a qualidade inicial e não se perderiam pelo número absurdo que a TV aberta americana ainda exige para manter sua audiência - para se ter uma idéia são 17 episódios, um absurdo se compararmos com os 10 (em média) do streaming!
O elenco é excelente, a direção muito competente - repare no movimento de camera, com uma levada mais solta, equilibrando o documental com a ficção. Muitos planos fechados para captar as sensações dos personagens - enfim, bebeu da fonte de "This is Us" com muita competência e quem ganhou foi o publico com uma série de ótima qualidade!!! Não deixe de assistir, você vai me agradecer por isso!!! Globoplay, como era de se esperar, não veio para brincar...
Quando "A Vida em Si" estreou no Brasil, em dezembro de 2018, o filme chegou cheio de expectativas, afinal o seu diretor e roteirista era o Dan Fogelman - nada menos do que a mente criativa por trás do sucesso "This is Us" (e se você ainda não assistiu essa série, não perca tempo, clique no link e seja muito feliz!). Acontece que essa alta expectativa acabou interferindo diretamente na percepção da crítica que, após a première, caiu matando em cima do trabalho de Fogelman! É inegável que o filme tem muitos problemas, mas nem de longe é um filme ruim - eu diria, inclusive, que o filme é bom. Dê uma olhada no trailer antes de continuarmos:
No filme, acompanhamos a história de Abby (Olivia Wilde) e Will (Oscar Isaac), um casal de nova-iorquinos apaixonados e que está prestes a ter um bebê. Contudo, um evento inesperado muda completamente o rumo do casal e de muitos personagens que, de alguma forma, vivenciaram aquela situação. Dividido em 4 atos, o roteiro tenta criar um ponto de intersecção entre Irwin (Mandy Patinkin), Dylan (Olivia Cooke), Saccione (Antonio Banderas), Javier (Sergio Peris-Mencheta), Isabel (Laia Costa) e Rodrigo (Àlex Monner) expondo os reflexos do passado nas consequências do presente - um conceito narrativo, mais ou menos, como "Amores Perros", "Babel", "Crash" e outros inúmeros exemplos, porém, nesse caso, de uma forma mais romantizada, carregada de drama e de, infelizmente, uma falta de identidade - mas isso falaremos mais abaixo!
"A Vida em Si" deve ser assistido com a menor pretensão possível, pois assim a experiência de cada uma das descobertas será essencial para o seu julgamento no final do filme. Embora com um roteiro um pouco desequilibrado, a narrativa tem ótimos momentos e, de fato, sua conclusão é bastante satisfatória. Fica a impressão que Dan Fogelman quis colocar tantos elementos (narrativos e visuais) que ele acabou se perdendo no meio de suas próprias escolhas e referências em algo que poderia ser mais profundo, mesmo que ainda manipulador! Se você gosta do estilo de "This is Us" é bem possível que você vá se identificar e gostar de "A Vida em Si". Por essa similaridade, eu recomendo!
"O quanto a vida pode ser imprevisível" - é a partir dessa premissa que Dan Fogelman começa a desenvolver seu roteiro. Acontece que ao transformar suas palavras em imagens, Fogelman é traído pela sua própria pretensão de entregar um filme inesquecível! De cara, achamos que se trata de uma comédia romântica, sem tanta densidade dramática e com atalhos que pouco me agradam - a participação de Samuel L. Jackson é um ótimo exemplo dessa falta de direção. Pouco a pouco vamos entendendo que a história tem mais verdade para mostrar e que o deslize inicial pode ser esquecido com uma breve citação entre personagens (no caso, a vontade do casal de protagonistas escreverem um roteiro juntos) e tudo bem. É aí que entra um outro atalho (ou mais uma das bengalas de Fogelman): a falta de linearidade da história tão bem trabalhada por ele em "This is Us", fica um pouco capenga aqui, pois vamos do presente para o passado em um piscar de olhos de uma forma que, embora interessante, não se sustenta até o final, pelo simples fato que o diretor não repete ou não assume essa escolha conceitual como uma identidade narrativa própria - esse é o típico pecado de quem é um excelente roteirista e só por isso acredita que será um excepcional diretor!
Existe uma razão para a escolha inteligente de colocar Abby e Will como ponto de partida para um emaranhado de histórias que virão à seguir: tanto Olivia Wilde, quanto Oscar Isaac, vão muito bem na construção desse drama e mostram ter química. A participação de Annette Benning como a Dra Cait Morris é só a cereja do bolo, até que "bum" a história simplesmente acaba - e se fosse um média-metragem, seria incrível! Mas não é; e quando começa a próxima história, sobre a filha de Abby e Will, Dylan (Olivia Cooke), entendemos que será difícil manter o mesmo tom, tanto narrativo quanto visual, que funcionou tão bem depois de o filme se encaixou. É fato que Cooke também merecia um melhor cuidado, mas ok, vamos em frente! Agora já estamos na Espanha, entra em cena Sergio Peris-Mencheta, Laia Costa e Antonio Banderas - novamente com uma história boa, ótimos diálogos e, embora mais previsível, uma trama bacana de assistir! Aqui Dan Fogelman falha novamente como diretor ao não resgatar aquelas escolhas de sua própria gramática cinematográfica e que usou na primeira parte filme, ou seja, temos a impressão que estamos assistindo um outro filme, bom, mas sem conexão ou sem uma unidade conceitual! Quando acaba esse, digamos, segundo ato, precisamos amarrar tudo para finalizar na chegada do terceiro e aí nos damos conta que, embora faça sentido dentro da tese do roteiro, o filme como um todo já perdeu sua força faz tempo! Quando somos apresentados para a narradora fica claro o esforço de recuperar nosso envolvimento, conseguimos mergulhar nas suas palavras, nos emocionamos até, mas não nos identificamos com os personagens - mesmo com um texto e com uma edição competente.
"A Vida em Si" é um bom filme, vale a pena assistir, mas a sensação de que poderia ser inesquecível com um pouco mais de cuidado no roteiro e, principalmente, na direção (mesmo com momentos bastante inspirados em ambos) pode te incomodar. Para mim, soou como entretenimento tranquilo e sem muito apego!
Quando "A Vida em Si" estreou no Brasil, em dezembro de 2018, o filme chegou cheio de expectativas, afinal o seu diretor e roteirista era o Dan Fogelman - nada menos do que a mente criativa por trás do sucesso "This is Us" (e se você ainda não assistiu essa série, não perca tempo, clique no link e seja muito feliz!). Acontece que essa alta expectativa acabou interferindo diretamente na percepção da crítica que, após a première, caiu matando em cima do trabalho de Fogelman! É inegável que o filme tem muitos problemas, mas nem de longe é um filme ruim - eu diria, inclusive, que o filme é bom. Dê uma olhada no trailer antes de continuarmos:
No filme, acompanhamos a história de Abby (Olivia Wilde) e Will (Oscar Isaac), um casal de nova-iorquinos apaixonados e que está prestes a ter um bebê. Contudo, um evento inesperado muda completamente o rumo do casal e de muitos personagens que, de alguma forma, vivenciaram aquela situação. Dividido em 4 atos, o roteiro tenta criar um ponto de intersecção entre Irwin (Mandy Patinkin), Dylan (Olivia Cooke), Saccione (Antonio Banderas), Javier (Sergio Peris-Mencheta), Isabel (Laia Costa) e Rodrigo (Àlex Monner) expondo os reflexos do passado nas consequências do presente - um conceito narrativo, mais ou menos, como "Amores Perros", "Babel", "Crash" e outros inúmeros exemplos, porém, nesse caso, de uma forma mais romantizada, carregada de drama e de, infelizmente, uma falta de identidade - mas isso falaremos mais abaixo!
"A Vida em Si" deve ser assistido com a menor pretensão possível, pois assim a experiência de cada uma das descobertas será essencial para o seu julgamento no final do filme. Embora com um roteiro um pouco desequilibrado, a narrativa tem ótimos momentos e, de fato, sua conclusão é bastante satisfatória. Fica a impressão que Dan Fogelman quis colocar tantos elementos (narrativos e visuais) que ele acabou se perdendo no meio de suas próprias escolhas e referências em algo que poderia ser mais profundo, mesmo que ainda manipulador! Se você gosta do estilo de "This is Us" é bem possível que você vá se identificar e gostar de "A Vida em Si". Por essa similaridade, eu recomendo!
"O quanto a vida pode ser imprevisível" - é a partir dessa premissa que Dan Fogelman começa a desenvolver seu roteiro. Acontece que ao transformar suas palavras em imagens, Fogelman é traído pela sua própria pretensão de entregar um filme inesquecível! De cara, achamos que se trata de uma comédia romântica, sem tanta densidade dramática e com atalhos que pouco me agradam - a participação de Samuel L. Jackson é um ótimo exemplo dessa falta de direção. Pouco a pouco vamos entendendo que a história tem mais verdade para mostrar e que o deslize inicial pode ser esquecido com uma breve citação entre personagens (no caso, a vontade do casal de protagonistas escreverem um roteiro juntos) e tudo bem. É aí que entra um outro atalho (ou mais uma das bengalas de Fogelman): a falta de linearidade da história tão bem trabalhada por ele em "This is Us", fica um pouco capenga aqui, pois vamos do presente para o passado em um piscar de olhos de uma forma que, embora interessante, não se sustenta até o final, pelo simples fato que o diretor não repete ou não assume essa escolha conceitual como uma identidade narrativa própria - esse é o típico pecado de quem é um excelente roteirista e só por isso acredita que será um excepcional diretor!
Existe uma razão para a escolha inteligente de colocar Abby e Will como ponto de partida para um emaranhado de histórias que virão à seguir: tanto Olivia Wilde, quanto Oscar Isaac, vão muito bem na construção desse drama e mostram ter química. A participação de Annette Benning como a Dra Cait Morris é só a cereja do bolo, até que "bum" a história simplesmente acaba - e se fosse um média-metragem, seria incrível! Mas não é; e quando começa a próxima história, sobre a filha de Abby e Will, Dylan (Olivia Cooke), entendemos que será difícil manter o mesmo tom, tanto narrativo quanto visual, que funcionou tão bem depois de o filme se encaixou. É fato que Cooke também merecia um melhor cuidado, mas ok, vamos em frente! Agora já estamos na Espanha, entra em cena Sergio Peris-Mencheta, Laia Costa e Antonio Banderas - novamente com uma história boa, ótimos diálogos e, embora mais previsível, uma trama bacana de assistir! Aqui Dan Fogelman falha novamente como diretor ao não resgatar aquelas escolhas de sua própria gramática cinematográfica e que usou na primeira parte filme, ou seja, temos a impressão que estamos assistindo um outro filme, bom, mas sem conexão ou sem uma unidade conceitual! Quando acaba esse, digamos, segundo ato, precisamos amarrar tudo para finalizar na chegada do terceiro e aí nos damos conta que, embora faça sentido dentro da tese do roteiro, o filme como um todo já perdeu sua força faz tempo! Quando somos apresentados para a narradora fica claro o esforço de recuperar nosso envolvimento, conseguimos mergulhar nas suas palavras, nos emocionamos até, mas não nos identificamos com os personagens - mesmo com um texto e com uma edição competente.
"A Vida em Si" é um bom filme, vale a pena assistir, mas a sensação de que poderia ser inesquecível com um pouco mais de cuidado no roteiro e, principalmente, na direção (mesmo com momentos bastante inspirados em ambos) pode te incomodar. Para mim, soou como entretenimento tranquilo e sem muito apego!
Diferente de "O Escândalo", onde o linha narrativa tinha como único foco as denúncias de assédio sexual (e moral) contra oentão presidente e fundador da Fox News, Roger Ailes, a partir da iniciativa de Gretchen Carlson (Nicole Kidman) e do apoio de Megyn Kelly (Charlize Theron), ambas ancoras do canal, "A voz mais forte" traz um contexto um pouco mais amplo, muito mais interessante e profundo sobre Ailes, apontando sua capacidade única como executivo de TV, sua enorme influência politica e, claro, seu comportamento deplorável - Ailes era um personagem tão complexo e ambíguo, que suas ações soam naturais (para ele e para quem o admira cegamente), como se sua genialidade lhe permitisse agir como bem entendesse, com homens e, principalmente, com mulheres.
Os fatos que assistimos em "O Escândalo" representam apenas dois (importantes) episódios da minissérie da Showtime, o que permite construir um perfil mais rigoroso de Roger Ailes, sem a pressa de um longa metragem de duas horas - e isso faz toda diferença na narrativa e também no nosso julgamento, já que não deixa brecha para qualquer tipo de justificativa ou desculpa para o que poderia ser um ato isolado de Ailes. "A voz mais forte" (ou "The Loudest Voice") é baseada no best-seller, The Loudest Voice in the Room, de Gabriel Sherman e conta a história do falecido executivo e fundador da Fox News, se concentrando nas últimas duas décadas, quando Ailes se tornou uma potente voz do Partido Republicano nos EUA ao colocar suas preferências politicas como guia editorial que levou a Fox a se tornar líder de audiência da TV a cabo no segmento de notícias - justamente por isso, as acusações de assédio sexual que vieram à tona em 2016 foram tão impactantes e culminaram no encerramento da sua brilhante carreira prematuramente. Confira o trailer:
"A voz mais forte" tem sete episódios de uma hora e retrata alguns anos chave da vida de Ailes , porém o mais bacana é que a vida do executivo vai se misturando com inúmeros fatos marcantes da história recente dos Estados Unidos. A maneira como o roteiro e a edição costuram essas situações dão uma dinâmica incrível para a minissérie e nos ajudam a desvendar a personalidade do protagonista. Vale ressaltar que o diretor vai pontuando o comportamento de Ailes de uma maneira muito discreta e que só vai se intensificando com o passar do tempo - isso nos permite entender exatamente como tudo aconteceu, como um homem idolatrado e respeitado por muitos era, na verdade, um ser humano desprezível!
Se você gostou de "O Escândalo ou de "The Morning Show", "A voz mais forte" é para você! A história vai, de fato, te impactar, tanto pela dinâmica politica e corporativa da jornada, quanto pela construção e queda de um mito quando das denúncias de Gretchen. Olha, mais uma vez será preciso ter estômago, mas como contexto histórico e importância na luta contra o assédio, vai valer muito a pena!
Dirigida por Kari Skogland (famosa por comandar episódios de várias séries de sucesso como The Walking Dead, House of Cards e The Borgias) e adaptada por Tom McCarthy (Spotlight) e Alex Metcalf, "A voz mais forte" é quase perfeita como recorte histórico de uma biografia bastante polêmica. O roteiro foi muito feliz em colocar na voz de Ailes toda a sua forma quase patológica de enxergar o mundo. Um cara que vivia nos extremos, sexista, misógino, racista e dependente de poder e que Russell Crowe deu vida de uma maneira impecável - que aliás lhe rendeu o Globo de Ouro em 2020.
Talvez o roteiro deixe algumas brechas, pois alguns personagens simplesmente desaparecem de uma hora para outra, sem muitas explicações e sem uma conclusão satisfatória - mesmo que essa viesse por legenda no final da minissérie. Aqui cito dois personagens: os ex-VP da Fox Corp. e confidente como Rupert Murdoc (Simon McBurney) e o jovem jornalista contratado para trabalhar com a mulher de Ailes, Beth (Sienna Miller). Ainda sobre o roteiro, se em o "Escândalo", Megyn Kelly (Charlize Theron) era a protagonista e Gretchen Carlson (Nicole Kidman) funcionava apenas como gatilho, em "A voz mais forte", Kelly praticamente não aparece (apenas em imagens de arquivo), deixando todo foco para quem desencadeou as denúncias, ou seja, Carlson (brilhantemente interpretada por Naomi Watts) e, principalmente, para Laurie Luhn, de Annabelle Wallis, que sofreu intensamente nas mãos de Ailes,
Minha impressão é que "A voz mais forte" funciona como um complemento de "O Escândalo" por um outro ponto de vista e muito melhor desenvolvido. Desde agosto de 2019 já comentávamos sobre essa relevante tendência de trazer casos de assédio para a tela e até aqui, a minissérie da Showtime foi a melhor disparado! Gostei muito!
Diferente de "O Escândalo", onde o linha narrativa tinha como único foco as denúncias de assédio sexual (e moral) contra oentão presidente e fundador da Fox News, Roger Ailes, a partir da iniciativa de Gretchen Carlson (Nicole Kidman) e do apoio de Megyn Kelly (Charlize Theron), ambas ancoras do canal, "A voz mais forte" traz um contexto um pouco mais amplo, muito mais interessante e profundo sobre Ailes, apontando sua capacidade única como executivo de TV, sua enorme influência politica e, claro, seu comportamento deplorável - Ailes era um personagem tão complexo e ambíguo, que suas ações soam naturais (para ele e para quem o admira cegamente), como se sua genialidade lhe permitisse agir como bem entendesse, com homens e, principalmente, com mulheres.
Os fatos que assistimos em "O Escândalo" representam apenas dois (importantes) episódios da minissérie da Showtime, o que permite construir um perfil mais rigoroso de Roger Ailes, sem a pressa de um longa metragem de duas horas - e isso faz toda diferença na narrativa e também no nosso julgamento, já que não deixa brecha para qualquer tipo de justificativa ou desculpa para o que poderia ser um ato isolado de Ailes. "A voz mais forte" (ou "The Loudest Voice") é baseada no best-seller, The Loudest Voice in the Room, de Gabriel Sherman e conta a história do falecido executivo e fundador da Fox News, se concentrando nas últimas duas décadas, quando Ailes se tornou uma potente voz do Partido Republicano nos EUA ao colocar suas preferências politicas como guia editorial que levou a Fox a se tornar líder de audiência da TV a cabo no segmento de notícias - justamente por isso, as acusações de assédio sexual que vieram à tona em 2016 foram tão impactantes e culminaram no encerramento da sua brilhante carreira prematuramente. Confira o trailer:
"A voz mais forte" tem sete episódios de uma hora e retrata alguns anos chave da vida de Ailes , porém o mais bacana é que a vida do executivo vai se misturando com inúmeros fatos marcantes da história recente dos Estados Unidos. A maneira como o roteiro e a edição costuram essas situações dão uma dinâmica incrível para a minissérie e nos ajudam a desvendar a personalidade do protagonista. Vale ressaltar que o diretor vai pontuando o comportamento de Ailes de uma maneira muito discreta e que só vai se intensificando com o passar do tempo - isso nos permite entender exatamente como tudo aconteceu, como um homem idolatrado e respeitado por muitos era, na verdade, um ser humano desprezível!
Se você gostou de "O Escândalo ou de "The Morning Show", "A voz mais forte" é para você! A história vai, de fato, te impactar, tanto pela dinâmica politica e corporativa da jornada, quanto pela construção e queda de um mito quando das denúncias de Gretchen. Olha, mais uma vez será preciso ter estômago, mas como contexto histórico e importância na luta contra o assédio, vai valer muito a pena!
Dirigida por Kari Skogland (famosa por comandar episódios de várias séries de sucesso como The Walking Dead, House of Cards e The Borgias) e adaptada por Tom McCarthy (Spotlight) e Alex Metcalf, "A voz mais forte" é quase perfeita como recorte histórico de uma biografia bastante polêmica. O roteiro foi muito feliz em colocar na voz de Ailes toda a sua forma quase patológica de enxergar o mundo. Um cara que vivia nos extremos, sexista, misógino, racista e dependente de poder e que Russell Crowe deu vida de uma maneira impecável - que aliás lhe rendeu o Globo de Ouro em 2020.
Talvez o roteiro deixe algumas brechas, pois alguns personagens simplesmente desaparecem de uma hora para outra, sem muitas explicações e sem uma conclusão satisfatória - mesmo que essa viesse por legenda no final da minissérie. Aqui cito dois personagens: os ex-VP da Fox Corp. e confidente como Rupert Murdoc (Simon McBurney) e o jovem jornalista contratado para trabalhar com a mulher de Ailes, Beth (Sienna Miller). Ainda sobre o roteiro, se em o "Escândalo", Megyn Kelly (Charlize Theron) era a protagonista e Gretchen Carlson (Nicole Kidman) funcionava apenas como gatilho, em "A voz mais forte", Kelly praticamente não aparece (apenas em imagens de arquivo), deixando todo foco para quem desencadeou as denúncias, ou seja, Carlson (brilhantemente interpretada por Naomi Watts) e, principalmente, para Laurie Luhn, de Annabelle Wallis, que sofreu intensamente nas mãos de Ailes,
Minha impressão é que "A voz mais forte" funciona como um complemento de "O Escândalo" por um outro ponto de vista e muito melhor desenvolvido. Desde agosto de 2019 já comentávamos sobre essa relevante tendência de trazer casos de assédio para a tela e até aqui, a minissérie da Showtime foi a melhor disparado! Gostei muito!