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11/9 - A Vida sob Ataque

"11/9 - A Vida sob Ataque" é um documentário muito humano, sensível e ao mesmo tempo impactante, já que seu foco é exclusivamente contar a história do 11 de setembro pelos olhos de alguns novaiorquinos que de alguma forma presenciaram os ataques as Torres Gêmeas. 

É de fato um relato único, comovente e vívido do dia que mudou o mundo moderno. "9/11 Life Under Attack" (no original) é um filme de 90 minutos da ITV que conta histórias nunca antes reveladas, criadas por meio de uma montagem de vários vídeos e áudios inéditos. Confira o trailer (em inglês):

Veja, o que você vai encontrar é o mais próximo do que uma pessoa conseguiu assistir durante os ataques em NY. O diretor Nigel Levy (o mesmo por trás de "Formula 1: Dirigir para Viver") reuniu dezenas de vídeos caseiros e construiu uma narrativa "minuto a minuto" dos atentados. Sem nenhum depoimento, apenas apresentando os personagens com legendas, áudios das rádios locais, dos controladores de voo, de telefonemas vindos das Torres e dos aviões, Levy ilustra toda a tensão e incredulidade que as testemunhas viveram naquela manhã.

Claro que muitas daquelas imagens nós já conhecemos, mas as histórias não - são tão pessoais quanto desesperadoras! É conjunto de narrativas em primeira pessoa (na maioria das vezes) que nos impacta de uma forma muito sentimental, pois não faz parte de uma reinterpretação dos fatos, de uma lembrança distante ou de uma visão confortável do que acontecia - tudo que vemos em "real time" talvez seja a melhor definição do caos e isso é impressionante!

Para quem gostou de "11/9: Dentro da Sala de Guerra do Presidente" e "Ponto de Virada: 11/9 e a Guerra ao Terror" esse é mais um documentário imperdível - pela originalidade e pelo testemunho cruel! Vale muito a pena, mesmo!

Assista Agora

"11/9 - A Vida sob Ataque" é um documentário muito humano, sensível e ao mesmo tempo impactante, já que seu foco é exclusivamente contar a história do 11 de setembro pelos olhos de alguns novaiorquinos que de alguma forma presenciaram os ataques as Torres Gêmeas. 

É de fato um relato único, comovente e vívido do dia que mudou o mundo moderno. "9/11 Life Under Attack" (no original) é um filme de 90 minutos da ITV que conta histórias nunca antes reveladas, criadas por meio de uma montagem de vários vídeos e áudios inéditos. Confira o trailer (em inglês):

Veja, o que você vai encontrar é o mais próximo do que uma pessoa conseguiu assistir durante os ataques em NY. O diretor Nigel Levy (o mesmo por trás de "Formula 1: Dirigir para Viver") reuniu dezenas de vídeos caseiros e construiu uma narrativa "minuto a minuto" dos atentados. Sem nenhum depoimento, apenas apresentando os personagens com legendas, áudios das rádios locais, dos controladores de voo, de telefonemas vindos das Torres e dos aviões, Levy ilustra toda a tensão e incredulidade que as testemunhas viveram naquela manhã.

Claro que muitas daquelas imagens nós já conhecemos, mas as histórias não - são tão pessoais quanto desesperadoras! É conjunto de narrativas em primeira pessoa (na maioria das vezes) que nos impacta de uma forma muito sentimental, pois não faz parte de uma reinterpretação dos fatos, de uma lembrança distante ou de uma visão confortável do que acontecia - tudo que vemos em "real time" talvez seja a melhor definição do caos e isso é impressionante!

Para quem gostou de "11/9: Dentro da Sala de Guerra do Presidente" e "Ponto de Virada: 11/9 e a Guerra ao Terror" esse é mais um documentário imperdível - pela originalidade e pelo testemunho cruel! Vale muito a pena, mesmo!

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A Acusação

"A Acusação" (ou "Le Mensonge" no original) é uma minissérie de 4 episódios que se apoia em um drama denso para discutir assuntos delicados como a pedofilia, as relações entre pais e filhos e, principalmente, o princípio da presunção de inocência.

Na trama, Claude Arbone (Daniel Auteuil) é um homem bem-sucedido com uma carreira política impecável e uma família aparentemente feliz. Ele tem sua vida virada de cabeça para baixo quando seu neto de nove anos, Lucas (Alex Terrier-Thiebaux), o acusa de estupro. Diante do escândalo e de uma longa jornada para provar sua inocência, durante 15 anos, Claude passa a ver sua família completamente dividida até que algumas verdades começam a surgir. Confira o trailer (em francês):

Comandada pelo Vincent Garenq, diretor que construiu sua carreira em documentários, a minissérie muitas vezes se apropria da ficção para elevar o tom dramático dando a exata noção da seriedade de uma acusação como essa e também como toda sociedade (e todo o sistema) lida com ela - algo como vimos no excelente "A Caça"de Thomas Vinterberg.

Talvez sem tanta profundidade e esmero cinematográfico como na produção dinamarquesa que concorreu ao Oscar de "Melhor Filme Estrangeiro" em 2014, "Le Mensonge" sofre com o próprio conceito narrativo que se propõe a usar - o recorte temporal é tão extenso que mesmo com uma edição competente, alguns momentos da história se tornam repetitivos, enquanto outros parecem servir apenas como trampolim para um final que soa previsível. O interessante porém, é que Garenq a todo momento fomenta a dúvida, mesmo que os fatos indiquem um caminho mais plausível perante a situação. Na verdade aqui não existe a intenção de surpreender a audiência com uma revelação bombástica, mas sim de colocar as peças na mesa e nos provocar o julgamento enquanto supomos o que, de fato, aconteceu.

Como na inglesa "Em Prantos", "A Acusação" parece uma versão roteirizada de algo que aconteceu na vida real - não é o caso, mas poderia ter sido. Essa sensação nos acompanha nos quatro episódios e nos mantém presos em uma trama bastante envolvente e atual. Mesmo que você perceba um ou outro vacilo narrativo (e estético), como nas passagens em que Claude está no tribunal onde a história poderia ter sido melhor desenvolvida ou no romance de Lucas (Victor Meutelet), quando adulto, que é totalmente dispensável, te garanto que em nada prejudicará sua experiência e no final tudo se encaixará perfeitamente como um bom entretenimento, bem realizado e com temas tão pertinentes para ótimas discussões. 

Vale seu play! 

Assista Agora

"A Acusação" (ou "Le Mensonge" no original) é uma minissérie de 4 episódios que se apoia em um drama denso para discutir assuntos delicados como a pedofilia, as relações entre pais e filhos e, principalmente, o princípio da presunção de inocência.

Na trama, Claude Arbone (Daniel Auteuil) é um homem bem-sucedido com uma carreira política impecável e uma família aparentemente feliz. Ele tem sua vida virada de cabeça para baixo quando seu neto de nove anos, Lucas (Alex Terrier-Thiebaux), o acusa de estupro. Diante do escândalo e de uma longa jornada para provar sua inocência, durante 15 anos, Claude passa a ver sua família completamente dividida até que algumas verdades começam a surgir. Confira o trailer (em francês):

Comandada pelo Vincent Garenq, diretor que construiu sua carreira em documentários, a minissérie muitas vezes se apropria da ficção para elevar o tom dramático dando a exata noção da seriedade de uma acusação como essa e também como toda sociedade (e todo o sistema) lida com ela - algo como vimos no excelente "A Caça"de Thomas Vinterberg.

Talvez sem tanta profundidade e esmero cinematográfico como na produção dinamarquesa que concorreu ao Oscar de "Melhor Filme Estrangeiro" em 2014, "Le Mensonge" sofre com o próprio conceito narrativo que se propõe a usar - o recorte temporal é tão extenso que mesmo com uma edição competente, alguns momentos da história se tornam repetitivos, enquanto outros parecem servir apenas como trampolim para um final que soa previsível. O interessante porém, é que Garenq a todo momento fomenta a dúvida, mesmo que os fatos indiquem um caminho mais plausível perante a situação. Na verdade aqui não existe a intenção de surpreender a audiência com uma revelação bombástica, mas sim de colocar as peças na mesa e nos provocar o julgamento enquanto supomos o que, de fato, aconteceu.

Como na inglesa "Em Prantos", "A Acusação" parece uma versão roteirizada de algo que aconteceu na vida real - não é o caso, mas poderia ter sido. Essa sensação nos acompanha nos quatro episódios e nos mantém presos em uma trama bastante envolvente e atual. Mesmo que você perceba um ou outro vacilo narrativo (e estético), como nas passagens em que Claude está no tribunal onde a história poderia ter sido melhor desenvolvida ou no romance de Lucas (Victor Meutelet), quando adulto, que é totalmente dispensável, te garanto que em nada prejudicará sua experiência e no final tudo se encaixará perfeitamente como um bom entretenimento, bem realizado e com temas tão pertinentes para ótimas discussões. 

Vale seu play! 

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A Bruxa

O que mais me chamou a atenção em "A Bruxa", sem dúvida, foi a atmosfera densa e opressiva criada pelo talentoso Robert Eggers (de "O Farol"ao longo da narrativa - ela é tão cativante quanto envolvente. Existe uma abordagem realista e muito detalhada da vida no período e no local em que se passa a história: algo em torno do século XVII, na Nova Inglaterra. Essa atenção meticulosa aos detalhes que vai do figurino aos diálogos em inglês arcaico, contribui para uma imersão impressionante que o roteiro faz questão de potencializar ao explorar nuances do paganismo e de uma paranoia religiosa naturalmente impactante.

Em "The Witch" (no original), uma família puritana é exilada de sua comunidade religiosa e se estabelece em uma fazenda isolada, à beira de uma floresta assombrada. Logo, eles começam a experimentar eventos sobrenaturais e perturbadores, culminando no desaparecimento misterioso de seu filho recém-nascido. Conforme a tensão aumenta e o medo se instala, a família se vê lutando contra forças obscuras e o mal que parece estar presente em seu meio. Confira o trailer:

"A Bruxa" chega chancelada por ser um dos filmes mais premiados na temporada de 2015. Seu conceito mais independente e autoral deu para Eggers o prêmio de um dos diretores mais promissores do ano por ser seu primeiro longa-metragem em Sundance - além do prêmio de "Melhor Filme" pelo júri, obviamente. É inegável que o filme se destaca por seus diferenciais técnicos e artísticos. A trilha sonora de Mark Korven é de arrepiar e contribui demais nessa construção sinistra que a fotografia do Jarin Blaschke (indicado ao Oscar com "O Farol") impõe visualmente com suas paisagens sombrias e enquadramentos precisos, que intensifica a sensação de claustrofobia e isolamento vivenciada pelos personagens. Aliás, as performances do elenco também merecem elogios - o destaque fica para Anya Taylor-Joy no papel da jovem Thomasin. Ela entrega uma interpretação poderosa, para não dizer visceral..

Existe um aspecto interessante na narrativa de "A Bruxa" - ela apresenta diversos elementos que podem passar despercebidos em uma primeira análise, mas que são fundamentais para a compreensão do filme (por isso que algumas pessoas não se conectam de cara). A história aborda temas sensíveis como fanatismo religioso, superstição e até repressão sexual - tudo de forma muito sutil, explorando o conflito entre a crença cega e a realidade de uma maneira muito inteligente. Reparem como os diálogos são carregados de simbolismos e referências históricas, o que exige uma atenção cuidadosa por parte da audiência, ou seja, não estamos diante de um filme fácil.

Se você está em busca de um filme que te desafia ao mesmo tempo em que te instiga, despertando emoções intensas (algumas não muito agradáveis), "A Bruxa" certamente é a escolha ideal, só não espere uma jornada usual ou uma perspectiva rasa, já que o drama é realmente potente e o suspense muito bem explorado!

Vale muito o seu play!

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O que mais me chamou a atenção em "A Bruxa", sem dúvida, foi a atmosfera densa e opressiva criada pelo talentoso Robert Eggers (de "O Farol"ao longo da narrativa - ela é tão cativante quanto envolvente. Existe uma abordagem realista e muito detalhada da vida no período e no local em que se passa a história: algo em torno do século XVII, na Nova Inglaterra. Essa atenção meticulosa aos detalhes que vai do figurino aos diálogos em inglês arcaico, contribui para uma imersão impressionante que o roteiro faz questão de potencializar ao explorar nuances do paganismo e de uma paranoia religiosa naturalmente impactante.

Em "The Witch" (no original), uma família puritana é exilada de sua comunidade religiosa e se estabelece em uma fazenda isolada, à beira de uma floresta assombrada. Logo, eles começam a experimentar eventos sobrenaturais e perturbadores, culminando no desaparecimento misterioso de seu filho recém-nascido. Conforme a tensão aumenta e o medo se instala, a família se vê lutando contra forças obscuras e o mal que parece estar presente em seu meio. Confira o trailer:

"A Bruxa" chega chancelada por ser um dos filmes mais premiados na temporada de 2015. Seu conceito mais independente e autoral deu para Eggers o prêmio de um dos diretores mais promissores do ano por ser seu primeiro longa-metragem em Sundance - além do prêmio de "Melhor Filme" pelo júri, obviamente. É inegável que o filme se destaca por seus diferenciais técnicos e artísticos. A trilha sonora de Mark Korven é de arrepiar e contribui demais nessa construção sinistra que a fotografia do Jarin Blaschke (indicado ao Oscar com "O Farol") impõe visualmente com suas paisagens sombrias e enquadramentos precisos, que intensifica a sensação de claustrofobia e isolamento vivenciada pelos personagens. Aliás, as performances do elenco também merecem elogios - o destaque fica para Anya Taylor-Joy no papel da jovem Thomasin. Ela entrega uma interpretação poderosa, para não dizer visceral..

Existe um aspecto interessante na narrativa de "A Bruxa" - ela apresenta diversos elementos que podem passar despercebidos em uma primeira análise, mas que são fundamentais para a compreensão do filme (por isso que algumas pessoas não se conectam de cara). A história aborda temas sensíveis como fanatismo religioso, superstição e até repressão sexual - tudo de forma muito sutil, explorando o conflito entre a crença cega e a realidade de uma maneira muito inteligente. Reparem como os diálogos são carregados de simbolismos e referências históricas, o que exige uma atenção cuidadosa por parte da audiência, ou seja, não estamos diante de um filme fácil.

Se você está em busca de um filme que te desafia ao mesmo tempo em que te instiga, despertando emoções intensas (algumas não muito agradáveis), "A Bruxa" certamente é a escolha ideal, só não espere uma jornada usual ou uma perspectiva rasa, já que o drama é realmente potente e o suspense muito bem explorado!

Vale muito o seu play!

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A Million Little Things

Acho que um dos grandes méritos dessa "segunda fase" do Globoplay é fazer o caminho inverso ao da Netflix, mas com o objetivo de chegar, exatamente, no mesmo lugar. Quando o Globoplay foi lançado, encontrávamos apenas conteúdo da Globo, ou seja, um catálogo enorme de produções próprias de altíssima qualidade, mas que não eram inéditos e representavam um material com características bem regionais. Com o tempo a plataforma foi mudando sua estratégia, ampliando seu olhar para o mercado e alinhando seu conteúdo inédito com as estréias da TV, até que veio a excelente sacada de lançar antes na plataforma e, em alguns casos, tudo de uma vez para o usuário "maratonar". Agora o Globoplay evoluiu ainda mais, pois passou a produzir projetos exclusivos para o streaming, sem nem passar pela TV e também licenciar conteúdo criado (e exibido) fora da emissora!!! Vamos falar muito desses conteúdos, mas fiz essa introdução toda apenas para dizer que: "A Million Little Things" está lá, no Globoplay, e você não pode deixar de assistir!!!!!

Essa série é a versão da ABC do sucesso da NBC, "This is Us". Na verdade uma série não tem nada a ver com a outra no seu conteúdo, mas a forma de contar a história e os sentimentos que ela é capaz de gerar ao assistirmos cada episódio é exatamente o mesmo! "A Million Little Things" não foca na família, foca na amizade! Seu ponto de partida é o suicídio de um dos protagonistas e, sempre misturando passado e presente, como essa tragédia refletiu na vida de cada um dos seus melhores amigos. Veja o trailer:

A trama não é complicada e talvez não tenha a genialidade narrativa de "This is Us", mas entrega um entretenimento de muita qualidade, humano, sensível e muito, mas muito, fácil de se identificar. Cada um dos personagens tem seu fantasma, seu drama pessoal, mas o roteiro não faz questão nenhuma de enrolar a audiência, ele vai mostrando cada traço da personalidade dos personagens e suas respectivas ações de uma maneira muito orgânica e de repente, você está preso na trama e quer saber sempre mais. Todo episódio tem um detalhe novo que te coloca imediatamente na posição do outro - até julgamento fazemos...rs. Eu assisti três episódios de uma levada só e não queria parar. Durante a 1ª temporada minha única dúvida era se episódios manteriam a qualidade inicial e não se perderiam pelo número absurdo que a TV aberta americana ainda exige para manter sua audiência - para se ter uma idéia são 17 episódios, um absurdo se compararmos com os 10 (em média) do streaming!

O elenco é excelente, a direção muito competente - repare no movimento de camera, com uma levada mais solta, equilibrando o documental com a ficção. Muitos planos fechados para captar as sensações dos personagens - enfim, bebeu da fonte de "This is Us" com muita competência e quem ganhou foi o publico com uma série de ótima qualidade!!! Não deixe de assistir, você vai me agradecer por isso!!! Globoplay, como era de se esperar, não veio para brincar...

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Acho que um dos grandes méritos dessa "segunda fase" do Globoplay é fazer o caminho inverso ao da Netflix, mas com o objetivo de chegar, exatamente, no mesmo lugar. Quando o Globoplay foi lançado, encontrávamos apenas conteúdo da Globo, ou seja, um catálogo enorme de produções próprias de altíssima qualidade, mas que não eram inéditos e representavam um material com características bem regionais. Com o tempo a plataforma foi mudando sua estratégia, ampliando seu olhar para o mercado e alinhando seu conteúdo inédito com as estréias da TV, até que veio a excelente sacada de lançar antes na plataforma e, em alguns casos, tudo de uma vez para o usuário "maratonar". Agora o Globoplay evoluiu ainda mais, pois passou a produzir projetos exclusivos para o streaming, sem nem passar pela TV e também licenciar conteúdo criado (e exibido) fora da emissora!!! Vamos falar muito desses conteúdos, mas fiz essa introdução toda apenas para dizer que: "A Million Little Things" está lá, no Globoplay, e você não pode deixar de assistir!!!!!

Essa série é a versão da ABC do sucesso da NBC, "This is Us". Na verdade uma série não tem nada a ver com a outra no seu conteúdo, mas a forma de contar a história e os sentimentos que ela é capaz de gerar ao assistirmos cada episódio é exatamente o mesmo! "A Million Little Things" não foca na família, foca na amizade! Seu ponto de partida é o suicídio de um dos protagonistas e, sempre misturando passado e presente, como essa tragédia refletiu na vida de cada um dos seus melhores amigos. Veja o trailer:

A trama não é complicada e talvez não tenha a genialidade narrativa de "This is Us", mas entrega um entretenimento de muita qualidade, humano, sensível e muito, mas muito, fácil de se identificar. Cada um dos personagens tem seu fantasma, seu drama pessoal, mas o roteiro não faz questão nenhuma de enrolar a audiência, ele vai mostrando cada traço da personalidade dos personagens e suas respectivas ações de uma maneira muito orgânica e de repente, você está preso na trama e quer saber sempre mais. Todo episódio tem um detalhe novo que te coloca imediatamente na posição do outro - até julgamento fazemos...rs. Eu assisti três episódios de uma levada só e não queria parar. Durante a 1ª temporada minha única dúvida era se episódios manteriam a qualidade inicial e não se perderiam pelo número absurdo que a TV aberta americana ainda exige para manter sua audiência - para se ter uma idéia são 17 episódios, um absurdo se compararmos com os 10 (em média) do streaming!

O elenco é excelente, a direção muito competente - repare no movimento de camera, com uma levada mais solta, equilibrando o documental com a ficção. Muitos planos fechados para captar as sensações dos personagens - enfim, bebeu da fonte de "This is Us" com muita competência e quem ganhou foi o publico com uma série de ótima qualidade!!! Não deixe de assistir, você vai me agradecer por isso!!! Globoplay, como era de se esperar, não veio para brincar...

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Angela Black

Angela Black

"Angela Black" é uma minissérie de seis episódios fruto de uma parceria internacional entre a Spectrum (produtora responsável pelo excelente "Manhunt") e a emissora britânica ITV (principal concorrente da BBC). Exibida com exclusividade no Brasil pela Globoplay, "Angela Black" é um bom drama com elementos de investigação e suspense que toca em assuntos delicados como violência doméstica, por exemplo. Aliás, o prólogo do primeiro episódio já nos prende pelo impacto da sugestão, ao mesmo tempo que também entrega uma característica que pode incomodar uma audiência mais exigente: a direção de Craig Viveiros (Ghosted) é muito expositiva - mas vamos nos aprofundar sobre o assunto um pouco mais abaixo.

Na história conhecemos Angela (Joanne Froggatt de "Downton Abbey"), uma mulher que parece levar uma vida normal com uma uma linda casa no subúrbio de Londres. A personagem se mostra em uma vida perfeita, com dois lindos filhos e um marido bem sucedido, charmoso e trabalhador, além de prestar serviços voluntários em um abrigo para cães. Porém, na realidade, Angela vive em um casamento extremamente tóxico com Olivier Meyer (Michiel Huisman), um homem extremamente controlador e agressivo, que já a violentou várias vezes. Após um dos ataques de fúria de Meyer, ela se encontra com um estranho chamado Ed (Samuel Adewunmi), e é ele que acaba revelando todos os segredos e traições do seu marido, levando a Angela a querer resolver tudo da sua maneira. Confira o trailer (em inglês):

Vamos lá, antes de mais nada é preciso dizer que "Angela Black" é um ótimo entretenimento e mesmo que se afaste do tema pela qual a série ganhou muita relevância na Inglaterra (a violência doméstica), a narrativa não enrola, trazendo uma dinâmica interessante para a história, mesmo abusando dos esteriótipos do gênero. O que eu quero dizer é que  "Angela Black" é uma mistura do clássico "Dormindo com o Inimigo", "Doctor Foster", "The Undoing", tudo isso com um toque muito presente do "estilo Harlan Coben" ("Não Fale com Estranhos") de mistério - e é daí que deve vir tanta exposição e didatismo!

Viveiros tem um bom roteiro na mão, com várias passagens que vão exigir uma certa suspensão da realidade (claro!), algumas tramas completamente dispensáveis de conspirações e assassinatos, mas é impossível negar que a história é, de fato, bem amarrada. Talvez por se tratar de um produto veiculado na TV aberta do Reino Unido, algumas escolhas conceituais acabam afastando a minissérie daquele "estilo HBO" de dramas profundos de investigação que fundem nossa cabeça. A performance dos atores soa um pouco acima do tom - a própria Froggatt parece não acreditar na dor e desespero íntimo que sua personagem está sentindo em muitos momentos. Huisman não prejudica, mas definitivamente não tem a capacidade de Alexander Skarsgård (o Perry Wright de "Big Little Lies"). A produção em si é excelente, com uma fotografia bem elaborada e até com uma direção interessante - os movimentos de câmera são ótimos, não fosse a obrigação de deixar tudo muito claro: se escutamos o marido bater na mulher, por que terminar a cena com um close no dente arrancado no chão?

"Angela Black" é mais um bom achado no catálogo da Globoplay que vai agradar muitas pessoas e mesmo com suas imperfeições, não deve afastar quem gosta de um bom mistério com um gostinho de vingança e superação. 

Vale a pena!

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"Angela Black" é uma minissérie de seis episódios fruto de uma parceria internacional entre a Spectrum (produtora responsável pelo excelente "Manhunt") e a emissora britânica ITV (principal concorrente da BBC). Exibida com exclusividade no Brasil pela Globoplay, "Angela Black" é um bom drama com elementos de investigação e suspense que toca em assuntos delicados como violência doméstica, por exemplo. Aliás, o prólogo do primeiro episódio já nos prende pelo impacto da sugestão, ao mesmo tempo que também entrega uma característica que pode incomodar uma audiência mais exigente: a direção de Craig Viveiros (Ghosted) é muito expositiva - mas vamos nos aprofundar sobre o assunto um pouco mais abaixo.

Na história conhecemos Angela (Joanne Froggatt de "Downton Abbey"), uma mulher que parece levar uma vida normal com uma uma linda casa no subúrbio de Londres. A personagem se mostra em uma vida perfeita, com dois lindos filhos e um marido bem sucedido, charmoso e trabalhador, além de prestar serviços voluntários em um abrigo para cães. Porém, na realidade, Angela vive em um casamento extremamente tóxico com Olivier Meyer (Michiel Huisman), um homem extremamente controlador e agressivo, que já a violentou várias vezes. Após um dos ataques de fúria de Meyer, ela se encontra com um estranho chamado Ed (Samuel Adewunmi), e é ele que acaba revelando todos os segredos e traições do seu marido, levando a Angela a querer resolver tudo da sua maneira. Confira o trailer (em inglês):

Vamos lá, antes de mais nada é preciso dizer que "Angela Black" é um ótimo entretenimento e mesmo que se afaste do tema pela qual a série ganhou muita relevância na Inglaterra (a violência doméstica), a narrativa não enrola, trazendo uma dinâmica interessante para a história, mesmo abusando dos esteriótipos do gênero. O que eu quero dizer é que  "Angela Black" é uma mistura do clássico "Dormindo com o Inimigo", "Doctor Foster", "The Undoing", tudo isso com um toque muito presente do "estilo Harlan Coben" ("Não Fale com Estranhos") de mistério - e é daí que deve vir tanta exposição e didatismo!

Viveiros tem um bom roteiro na mão, com várias passagens que vão exigir uma certa suspensão da realidade (claro!), algumas tramas completamente dispensáveis de conspirações e assassinatos, mas é impossível negar que a história é, de fato, bem amarrada. Talvez por se tratar de um produto veiculado na TV aberta do Reino Unido, algumas escolhas conceituais acabam afastando a minissérie daquele "estilo HBO" de dramas profundos de investigação que fundem nossa cabeça. A performance dos atores soa um pouco acima do tom - a própria Froggatt parece não acreditar na dor e desespero íntimo que sua personagem está sentindo em muitos momentos. Huisman não prejudica, mas definitivamente não tem a capacidade de Alexander Skarsgård (o Perry Wright de "Big Little Lies"). A produção em si é excelente, com uma fotografia bem elaborada e até com uma direção interessante - os movimentos de câmera são ótimos, não fosse a obrigação de deixar tudo muito claro: se escutamos o marido bater na mulher, por que terminar a cena com um close no dente arrancado no chão?

"Angela Black" é mais um bom achado no catálogo da Globoplay que vai agradar muitas pessoas e mesmo com suas imperfeições, não deve afastar quem gosta de um bom mistério com um gostinho de vingança e superação. 

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As Vantagens de Ser Invisível

A adolescência é a fase mais complicada e difícil na vida de uma pessoa. Nesta época passamos por um turbilhão de mudanças - psicológicas, hormonais, sociais e comportamentais - que irão moldar o nosso caráter e definir o nosso lugar no mundo! “As Vantagens de Ser Invisível" aborda este universo de maneira simples e, ao mesmo tempo, profunda. Lida, principalmente, com dois problemas muito sérios que afligem a juventude: a depressão e o suicídio. Apesar dos temas pesados, há uma leveza na condução do enredo que torna a experiência de acompanhar a história muito prazerosa.

A trama é ambientada nos anos 90 e apresenta muitas referências literárias e musicais da época, o que garante um charme especial à produção. O protagonista é Charlie (Logan Lerman), um jovem retraído que possui bastante dificuldade em fazer novas amizades. Tudo muda, quando ele conhece dois veteranos, a descolada Sam (Emma Watson) e seu meio-irmão Patrick (Ezra Miller), que o ajudam a viver novas experiências. Embora esteja feliz nessa nova fase, Charlie possui traumas do passado que o impedem de seguir a sua vida de maneira plena e saudável. Confira o trailer:

Dirigido por Stephen Chbosky (de "Extraordinário"), fica fácil perceber a razão de todos os personagens serem bastante reais e cativantes - a ponto de você se identificar com as suas histórias e questões emocionais. E o enredo vai mais longe, apresentando ainda outros temas importantes, como virgindade, drogas, violência contra a mulher, bullying, assédio de menores e homofobia. Destaco ainda o excelente roteiro (do próprio Chbosky) e o ótimo trabalho do elenco jovem, em especial da atriz Emma Watson que está não menos que perfeita!

Por fim, preciso confessar que The Perks of Being a Wallflower (no original) foi uma surpresa muito agradável. Gostei tanto, que a produção entra fácil numa lista com as melhores produções sobre os dramas da juventude. Portanto, recomendo que não deixem de assistir, principalmente se você gosta deste universo teen, mas está cansado de produções que retratam os jovens de maneira rasa e sem conteúdo.

Aliás, “As Vantagens de Ser Invisível" recebeu mais de 50 indicações e recebeu inúmeros prêmios em festivais de cinema como "Film Independent Spirit Awards", "Hollywood Film Awards" e até no "People's Choice Awards" de 2013.

Vale muito o seu play!

Escrito por Lucio Tannure - uma parceria @dicas_pra_maratonar

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A adolescência é a fase mais complicada e difícil na vida de uma pessoa. Nesta época passamos por um turbilhão de mudanças - psicológicas, hormonais, sociais e comportamentais - que irão moldar o nosso caráter e definir o nosso lugar no mundo! “As Vantagens de Ser Invisível" aborda este universo de maneira simples e, ao mesmo tempo, profunda. Lida, principalmente, com dois problemas muito sérios que afligem a juventude: a depressão e o suicídio. Apesar dos temas pesados, há uma leveza na condução do enredo que torna a experiência de acompanhar a história muito prazerosa.

A trama é ambientada nos anos 90 e apresenta muitas referências literárias e musicais da época, o que garante um charme especial à produção. O protagonista é Charlie (Logan Lerman), um jovem retraído que possui bastante dificuldade em fazer novas amizades. Tudo muda, quando ele conhece dois veteranos, a descolada Sam (Emma Watson) e seu meio-irmão Patrick (Ezra Miller), que o ajudam a viver novas experiências. Embora esteja feliz nessa nova fase, Charlie possui traumas do passado que o impedem de seguir a sua vida de maneira plena e saudável. Confira o trailer:

Dirigido por Stephen Chbosky (de "Extraordinário"), fica fácil perceber a razão de todos os personagens serem bastante reais e cativantes - a ponto de você se identificar com as suas histórias e questões emocionais. E o enredo vai mais longe, apresentando ainda outros temas importantes, como virgindade, drogas, violência contra a mulher, bullying, assédio de menores e homofobia. Destaco ainda o excelente roteiro (do próprio Chbosky) e o ótimo trabalho do elenco jovem, em especial da atriz Emma Watson que está não menos que perfeita!

Por fim, preciso confessar que The Perks of Being a Wallflower (no original) foi uma surpresa muito agradável. Gostei tanto, que a produção entra fácil numa lista com as melhores produções sobre os dramas da juventude. Portanto, recomendo que não deixem de assistir, principalmente se você gosta deste universo teen, mas está cansado de produções que retratam os jovens de maneira rasa e sem conteúdo.

Aliás, “As Vantagens de Ser Invisível" recebeu mais de 50 indicações e recebeu inúmeros prêmios em festivais de cinema como "Film Independent Spirit Awards", "Hollywood Film Awards" e até no "People's Choice Awards" de 2013.

Vale muito o seu play!

Escrito por Lucio Tannure - uma parceria @dicas_pra_maratonar

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Assédio

A Minissérie "Assédio" foi lançada exclusivamente para o Globoplay em uma tentativa da Globo de entrar com mais força na briga contra a Netflix e se tornar relevante também no streaming - e com projetos como esse, tem tudo para conseguir: "Assédio" conta a história do médico Abdelmassih, aquele mesmo que estuprou 37 pacientes e que foi condenado a mais de 100 anos de prisão (e depois liberado para cumprir prisão domiciliar). O que eu tenho para dizer é que a minissérie está linda.

Dirigida pela Amora Mautner, "Assédio" tem um conceito estético muito bem definido e uma personalidade que se não vê muito por aí na TV aberta. Com muitas referências conceituais de "House of Cards"- do estilo da trilha incidental aos movimentos de câmera lineares, muita coisa chama atenção: a fotografia é diferente, mais escura, com pontos de luz pontuando só no que interessa da cena e uma cor mais esverdeada que traz uma frieza interessante para os ambientes (embora, as vezes, até se pesa um pouco a mão).

No primeiro episódio, no prólogo, a "janela de projeção" mais cinematográfica e aquela música tema criam um clima incrível que se sustenta durante todo o episódio, extremamente bem dirigido - uma pena que não mantiveram aquela janela (barras maiores que deixariam o projeto mais elegante, mas ok, seria um risco para um público ainda mais acostumado com as novelas do que com um cinema autoral). Até as cenas mais delicadas com alguma violência sexual, estão lindamente bem realizadas. O roteiro começa muito bem, mas lá pelo quarto episódio perde um pouco de força; mas mesmo assim incomoda demais! A história é muito forte, o personagem belamente interpretado pelo Calloni é um doente, maníaco, maluco - e cruel. Cenas fortes, impactantes, mas nada é gratuito, muito pelo contrário, tudo faz sentido e dá voz a quem antes ficava calada, com medo. É muito duro imaginar que se trata de uma história real! Mesmo!!!

A verdade é que a Globo mostra que não entra na onda do streaming para fazer número ou backup de catálogo, entra com a mesma capacidade técnica e criativa que vemos na TV com a liberdade que um serviço mais "prime" oferece - não tem como dar errado! Co-produção Globo/Globoplay/O2 entrega um resultado de altíssimo nível!!!

Vale muito seu play!

Assista Agora

A Minissérie "Assédio" foi lançada exclusivamente para o Globoplay em uma tentativa da Globo de entrar com mais força na briga contra a Netflix e se tornar relevante também no streaming - e com projetos como esse, tem tudo para conseguir: "Assédio" conta a história do médico Abdelmassih, aquele mesmo que estuprou 37 pacientes e que foi condenado a mais de 100 anos de prisão (e depois liberado para cumprir prisão domiciliar). O que eu tenho para dizer é que a minissérie está linda.

Dirigida pela Amora Mautner, "Assédio" tem um conceito estético muito bem definido e uma personalidade que se não vê muito por aí na TV aberta. Com muitas referências conceituais de "House of Cards"- do estilo da trilha incidental aos movimentos de câmera lineares, muita coisa chama atenção: a fotografia é diferente, mais escura, com pontos de luz pontuando só no que interessa da cena e uma cor mais esverdeada que traz uma frieza interessante para os ambientes (embora, as vezes, até se pesa um pouco a mão).

No primeiro episódio, no prólogo, a "janela de projeção" mais cinematográfica e aquela música tema criam um clima incrível que se sustenta durante todo o episódio, extremamente bem dirigido - uma pena que não mantiveram aquela janela (barras maiores que deixariam o projeto mais elegante, mas ok, seria um risco para um público ainda mais acostumado com as novelas do que com um cinema autoral). Até as cenas mais delicadas com alguma violência sexual, estão lindamente bem realizadas. O roteiro começa muito bem, mas lá pelo quarto episódio perde um pouco de força; mas mesmo assim incomoda demais! A história é muito forte, o personagem belamente interpretado pelo Calloni é um doente, maníaco, maluco - e cruel. Cenas fortes, impactantes, mas nada é gratuito, muito pelo contrário, tudo faz sentido e dá voz a quem antes ficava calada, com medo. É muito duro imaginar que se trata de uma história real! Mesmo!!!

A verdade é que a Globo mostra que não entra na onda do streaming para fazer número ou backup de catálogo, entra com a mesma capacidade técnica e criativa que vemos na TV com a liberdade que um serviço mais "prime" oferece - não tem como dar errado! Co-produção Globo/Globoplay/O2 entrega um resultado de altíssimo nível!!!

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Bacurau

Provavelmente "Bacurau" não seja o tipo de filme que você está pensando que é - eu diria que ele está muito mais para "Cidade de Deus" do que para "Abril Despedaçado", portanto se você tinha qualquer tipo de receio, pode confiar: "Bacurau" é um grande filme e vai te surpreender!

No sertão de Pernambuco, existe uma cidade chamada Bacurau. Quando uma moradora respeitada por todos, dona Carmelita, morre, estranhos episódios começam acontecer. É quando Lunga (Silvero Pereira) é chamado para ajudar seus conterrâneos, mas o perigo vai muito além do que todos poderiam imaginar.

Antes de assistir o trailer eu preciso te dar mais um aviso: quanto menos você souber sobre o filme, mais impactante será sua experiência! Agora é com você:

Não é  por acaso que o filme começa com ares de ficção científica, onde vemos a Terra pela perspectiva de quem está no espaço. Conforme a câmera vai se movimentando para estabelecer o cenário onde a ação que assistiremos nas próximas duas horas vai desenrolar, percebemos que o destino não é o hemisfério norte ou o Estados Unidos, como de costume. O destino é o hemisfério sul, a América do Sul, mais precisamente em um país, vejam só, chamado Brasil. Acontece que o mergulho dramático ainda vai além até chegarmos em Bacurau - e como a placa que indica a proximidade da cidade, em meio a uma estrada cheia de buracos e um calor de matar, sugere: se for para Bacurau, vá em paz!

Não existem forma melhor de começar um filme como a partir do roteiro escrito por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles (que também dirigem a obra) - sem dizer uma única palavra, já entendemos a importância que aquele cenário trará para trama. E não digo isso pela necessidade regionalista de exaltar um Brasil que muitos de nós não conhecemos e que sofre com a miséria e com a corrupção daqueles que deveriam defender os interesses de um povo sofrido - e eu disse um povo sofrido, não infeliz! Se você leu até aqui, já pode estar imaginando: mais um filme sobre o sertão, briga de famílias, dificuldades sociais, seca, calor e mosquitos. Embora "Bacurau" tenha tudo isso, ele é muito mais, já que não se trata de um drama e sim de um filme de ação - por mais que ele seja construído em cima de camadas bem profundas e sutilmente referenciadas em um texto inteligente e, principalmente, provocativo.

"Bacurau" é uma viagem emocional, o nosso "Casamento Vermelho"! Tecnicamente muito bem realizado, com uma fotografia belíssima do Pedro Sotero, não é por acaso que o filme venceu o Prêmio do Juri no Festival de Cannes em 2019 e esteve concorrendo em mais de 70 eventos ao redor do globo, tendo levado mais de 50 prêmios em todos eles. Ao dar o play, tenha em mente que nada que os diretores colocam em cena está ali por acaso - desde uma explicação sobre a real localização da cidade no Google Earth ao tosco disco voador com aspecto de anos 70 que aparece misteriosamente - é muito interessante como o roteiro brinca com a dicotomia entre tecnologia e tradição cultural ou até entre violência e tranquilidade.

Quando me propus a escrever um review sobre "Bacurau" meu único propósito era: preciso dizer para as pessoas assistirem a esse filme, mas não posso prejudicar sua experiência, para que elas tenham a exata sensação que sinto agora: a de ter assistido um filme realmente incrível! Diferente de outros reviews, não me aprofundei na trama e nem critiquei alguns elementos artísticos justamente para não quebrar sua expectativa - então se você buscou algo assim, você pode até estar irritado comigo, mas assista o filme porque tenho certeza que essa irritação vai ser tornar agradecimento.

Vale muito a pena!

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Provavelmente "Bacurau" não seja o tipo de filme que você está pensando que é - eu diria que ele está muito mais para "Cidade de Deus" do que para "Abril Despedaçado", portanto se você tinha qualquer tipo de receio, pode confiar: "Bacurau" é um grande filme e vai te surpreender!

No sertão de Pernambuco, existe uma cidade chamada Bacurau. Quando uma moradora respeitada por todos, dona Carmelita, morre, estranhos episódios começam acontecer. É quando Lunga (Silvero Pereira) é chamado para ajudar seus conterrâneos, mas o perigo vai muito além do que todos poderiam imaginar.

Antes de assistir o trailer eu preciso te dar mais um aviso: quanto menos você souber sobre o filme, mais impactante será sua experiência! Agora é com você:

Não é  por acaso que o filme começa com ares de ficção científica, onde vemos a Terra pela perspectiva de quem está no espaço. Conforme a câmera vai se movimentando para estabelecer o cenário onde a ação que assistiremos nas próximas duas horas vai desenrolar, percebemos que o destino não é o hemisfério norte ou o Estados Unidos, como de costume. O destino é o hemisfério sul, a América do Sul, mais precisamente em um país, vejam só, chamado Brasil. Acontece que o mergulho dramático ainda vai além até chegarmos em Bacurau - e como a placa que indica a proximidade da cidade, em meio a uma estrada cheia de buracos e um calor de matar, sugere: se for para Bacurau, vá em paz!

Não existem forma melhor de começar um filme como a partir do roteiro escrito por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles (que também dirigem a obra) - sem dizer uma única palavra, já entendemos a importância que aquele cenário trará para trama. E não digo isso pela necessidade regionalista de exaltar um Brasil que muitos de nós não conhecemos e que sofre com a miséria e com a corrupção daqueles que deveriam defender os interesses de um povo sofrido - e eu disse um povo sofrido, não infeliz! Se você leu até aqui, já pode estar imaginando: mais um filme sobre o sertão, briga de famílias, dificuldades sociais, seca, calor e mosquitos. Embora "Bacurau" tenha tudo isso, ele é muito mais, já que não se trata de um drama e sim de um filme de ação - por mais que ele seja construído em cima de camadas bem profundas e sutilmente referenciadas em um texto inteligente e, principalmente, provocativo.

"Bacurau" é uma viagem emocional, o nosso "Casamento Vermelho"! Tecnicamente muito bem realizado, com uma fotografia belíssima do Pedro Sotero, não é por acaso que o filme venceu o Prêmio do Juri no Festival de Cannes em 2019 e esteve concorrendo em mais de 70 eventos ao redor do globo, tendo levado mais de 50 prêmios em todos eles. Ao dar o play, tenha em mente que nada que os diretores colocam em cena está ali por acaso - desde uma explicação sobre a real localização da cidade no Google Earth ao tosco disco voador com aspecto de anos 70 que aparece misteriosamente - é muito interessante como o roteiro brinca com a dicotomia entre tecnologia e tradição cultural ou até entre violência e tranquilidade.

Quando me propus a escrever um review sobre "Bacurau" meu único propósito era: preciso dizer para as pessoas assistirem a esse filme, mas não posso prejudicar sua experiência, para que elas tenham a exata sensação que sinto agora: a de ter assistido um filme realmente incrível! Diferente de outros reviews, não me aprofundei na trama e nem critiquei alguns elementos artísticos justamente para não quebrar sua expectativa - então se você buscou algo assim, você pode até estar irritado comigo, mas assista o filme porque tenho certeza que essa irritação vai ser tornar agradecimento.

Vale muito a pena!

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Bastardos Inglórios

"Bastardos Inglórios" é mais uma obra-prima do mestre Tarantino! Eliminar nazistas, que tema lindo, não acham? Misture esse lindo tema com um roteiro inteligente, atuações estupendas e uma direção visceral, pronto... temos um clássico!

Segunda Guerra Mundial. A França está ocupada pelos nazistas. O tenente Aldo Raine (Brad Pitt) é o encarregado de reunir um pelotão de soldados de origem judaica, com o objetivo de realizar uma missão suicida contra os alemães. O objetivo é eliminar o maior número possível de nazistas, da forma mais cruel possível. Paralelamente Shosanna Dreyfuss (Mélanie Laurent) assiste a execução de sua família pelas mãos do coronel Hans Landa (Christoph Waltz), o que faz com que ela fuja para Paris. Lá Dreyfuss se disfarça como operadora e dona de um cinema local, enquanto planeja uma forma de se vingar. Confira o trailer:

Fatalmente, penso que junto com "Pulp Fiction", "Bastardos Inglórios" está, tranquilamente, no top 2 do Tarantino até aqui - na minha opinião.

Se trata de uma obra com a narração de fatos de uma França sob o domínio nazista com um roteiro perspicaz, não há como negar! A direção se alinha com uma estrutura narrativa que vai abordando os acontecimentos e intercalando os personagens até completar a ação - é uma completa “bagunça” arrumada. Tarantino abusa dos seus artifícios de imersão, é fácil nos sentirmos parte do filme, é um senso de espacialidade única. As explosões e o sangue jorrando não demora a aparecer - é um filme do Tarantino, né? Mas o verdadeiro mérito se encontra na dualidade designada para toda a narrativa, onde mesclam esplendorosamente bem as cenas de crueldade com os diálogos impecáveis.

Os diálogos são a cobertura e a cereja do bolo - eles são expressivos e intensos. A veracidade com que as conversas fluem é angustiante, isso aumenta o nível de tensão e o receio, o desconforto, vão nos invadindo de uma forma implacável! As atuações estão esplendorosas, o destaque vai para Waltz, que não por acaso venceu o Oscar de "Ator Coadjuvante" em 2010, com um personagem magnífico, misturando uma serenidade densa com um senso de crueldade - um assassino perfeito e digo mais: é um dos melhores coadjuvantes do século, sem dúvida. Pitt é outro que está ótimo, o personagem caiu como uma luva para o ator, está descontraído e elegante, uma excelente atuação. Todos do elenco parecem muito a vontade, era nítido que o clima nos bastidores realmente colocaria o filme em outro patamar - foi o que aconteceu!

Tarantino nos presenteia do melhor "jeito tarantinesco" possível: referências ao extremo, sangue jorrando em litros, um vilão odiável e fogo nos nazistas - olha que coisa linda de se contar e de assistir. "Bastardos Inglórios" é nitidamente um filme fora da curva. Personagens inesquecíveis, uma narrativa pesada colocando em jogo a sobrevivência de todos em cena com o maior clamor de originalidade e perspicácia possível - um marco do cinema, um dos melhores filmes da década! É impressionante como o filme consegue nos transmitir o alívio de tentar expurgar essa raça nazista que só nos deixou sequelas!

É a junção de brutalidade e inteligência sendo codificada em um filme icônico! Tarantino é gênio e é um deleite ver e rever essa obra! Ainda preciso dizer que vale a pena?

Up-date: "Bastardos Inglórios" recebeu 8 indicações no Oscar 2010, inclusive "Melhor Filme"!

Escrito por Bruno Overbeck - uma parceria @overcinee

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"Bastardos Inglórios" é mais uma obra-prima do mestre Tarantino! Eliminar nazistas, que tema lindo, não acham? Misture esse lindo tema com um roteiro inteligente, atuações estupendas e uma direção visceral, pronto... temos um clássico!

Segunda Guerra Mundial. A França está ocupada pelos nazistas. O tenente Aldo Raine (Brad Pitt) é o encarregado de reunir um pelotão de soldados de origem judaica, com o objetivo de realizar uma missão suicida contra os alemães. O objetivo é eliminar o maior número possível de nazistas, da forma mais cruel possível. Paralelamente Shosanna Dreyfuss (Mélanie Laurent) assiste a execução de sua família pelas mãos do coronel Hans Landa (Christoph Waltz), o que faz com que ela fuja para Paris. Lá Dreyfuss se disfarça como operadora e dona de um cinema local, enquanto planeja uma forma de se vingar. Confira o trailer:

Fatalmente, penso que junto com "Pulp Fiction", "Bastardos Inglórios" está, tranquilamente, no top 2 do Tarantino até aqui - na minha opinião.

Se trata de uma obra com a narração de fatos de uma França sob o domínio nazista com um roteiro perspicaz, não há como negar! A direção se alinha com uma estrutura narrativa que vai abordando os acontecimentos e intercalando os personagens até completar a ação - é uma completa “bagunça” arrumada. Tarantino abusa dos seus artifícios de imersão, é fácil nos sentirmos parte do filme, é um senso de espacialidade única. As explosões e o sangue jorrando não demora a aparecer - é um filme do Tarantino, né? Mas o verdadeiro mérito se encontra na dualidade designada para toda a narrativa, onde mesclam esplendorosamente bem as cenas de crueldade com os diálogos impecáveis.

Os diálogos são a cobertura e a cereja do bolo - eles são expressivos e intensos. A veracidade com que as conversas fluem é angustiante, isso aumenta o nível de tensão e o receio, o desconforto, vão nos invadindo de uma forma implacável! As atuações estão esplendorosas, o destaque vai para Waltz, que não por acaso venceu o Oscar de "Ator Coadjuvante" em 2010, com um personagem magnífico, misturando uma serenidade densa com um senso de crueldade - um assassino perfeito e digo mais: é um dos melhores coadjuvantes do século, sem dúvida. Pitt é outro que está ótimo, o personagem caiu como uma luva para o ator, está descontraído e elegante, uma excelente atuação. Todos do elenco parecem muito a vontade, era nítido que o clima nos bastidores realmente colocaria o filme em outro patamar - foi o que aconteceu!

Tarantino nos presenteia do melhor "jeito tarantinesco" possível: referências ao extremo, sangue jorrando em litros, um vilão odiável e fogo nos nazistas - olha que coisa linda de se contar e de assistir. "Bastardos Inglórios" é nitidamente um filme fora da curva. Personagens inesquecíveis, uma narrativa pesada colocando em jogo a sobrevivência de todos em cena com o maior clamor de originalidade e perspicácia possível - um marco do cinema, um dos melhores filmes da década! É impressionante como o filme consegue nos transmitir o alívio de tentar expurgar essa raça nazista que só nos deixou sequelas!

É a junção de brutalidade e inteligência sendo codificada em um filme icônico! Tarantino é gênio e é um deleite ver e rever essa obra! Ainda preciso dizer que vale a pena?

Up-date: "Bastardos Inglórios" recebeu 8 indicações no Oscar 2010, inclusive "Melhor Filme"!

Escrito por Bruno Overbeck - uma parceria @overcinee

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Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria

É praticamente impossível você passar inteiro pelos 5 episódios da minissérie documental da Globoplay, "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria"- simplesmente impossível! Embora realizado (e dirigido) por um jornalista, o competente Marcelo Canellas, o que fatalmente impacta na narrativa menos cinematográfica da obra, dando um caráter mais de "reportagem especial"; é de se elogiar a forma como ele vai costurando os fatos e atribuindo em uma linha do tempo dolorosa, o peso exato de cada fase da luta por justiça dos pais e dos sobreviventes da tragédia de 2013. Eu diria que esse material é uma espécie de conteúdo complementar de luxo que basicamente eleva a experiência de ter assistido a versão ficcional da Netflix, "Todo Dia A Mesma Noite", para outro patamar!

Aqui, Canellas (que viveu parte de sua vida em Santa Maria) conta a história da batalha judicial pelo viés dos familiares das vítimas e de alguns sobreviventes, revivendo os detalhes que levaram à tragédia, a partir de imagens de arquivo e entrevistas que chegam a partir o coração. Confira o trailer:

Depois do primeiro impacto visual onde Canellas se apropria de uma boa quantidade de vídeos amadores (quase todos gravados pelo celular de quem conseguiu sobreviver ao incêndio da Boate Kiss) para estabelecer o tamanho da tragédia que aconteceu naquela pequena cidade do Rio Grande do Sul, e de alguns depoimentos de quem esteve no local durante o caos, percebemos que a narrativa subverte o "entretenimento" e se torna mais "informativa" - a própria narração do repórter dá o tom desse conceito e mesmo que alguns assuntos levantados por ele soem desinteressantes em um olhar mais crítico, a conexão que vai se estabelecendo com aquela comunidade faz toda diferença na forma como nos relacionaremos com o que vem a seguir.

É notável a preocupação do documentário em trabalhar apenas com os fatos, evitando ao máximo qualquer especulação que não possa ser provada por A + B - a forma como os alvarás e outras liberações (que a série da Netflix pontua como decisões politicas ou de relacionamento) que um dos donos da Boate, Mauro Hoffmann, teria conseguido, nem citado é. Embora a narrativa até soe investigativa, pouco se traz de novidade. Por outro lado, "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria" se aproveita de uma edição primorosa para deixar um recorte histórico bastante fluido - é inegável que assistir a versão real da história e dos personagens que conhecemos em  "Todo Dia A Mesma Noite", nos impressiona.

A imparcialidade de Canellas também merece elogio: a mesma voz que ele dá aos familiares e sobreviventes, ele também dá aos acusados. Essa postura chega incomodar em alguns momentos, mas enriquece a discussão e provoca o julgamento. Ao revelar as tensões entre sobreviventes, advogados, acusados e sociedade, o documentário ganha um tom midiático que, para mim, seria dispensável, mas sem dúvida alguma fortalece o conflito fortalece e prende nossa atenção. Agora, é muito (mas muito) difícil não sentir um verdadeiro nó na garganta diante do dolorido relato de um dos sobreviventes, Delvani, a respeito daquela noite, no tribunal - essa humanização da tragédia mexe com nossas emoções de uma forma muito peculiar.

O fato é que "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria" funciona como um olhar mais realista, crível e visceral ao material que a jornalista Daniela Arbex emprestou para a ficção - isso, aliás, não diminui o valor da  minissérie da Netflix, pelo contrário, apenas chancela sua importância e dimensiona toda a dor que experienciamos de uma maneira completamente diferente, deixando claro que ainda havia muito a ser contato, tanto de um lado quanto do outro, nos provocando ainda mais indignação e empatia!

Sendo assim, só posso te dizer: vale muito seu play!

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É praticamente impossível você passar inteiro pelos 5 episódios da minissérie documental da Globoplay, "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria"- simplesmente impossível! Embora realizado (e dirigido) por um jornalista, o competente Marcelo Canellas, o que fatalmente impacta na narrativa menos cinematográfica da obra, dando um caráter mais de "reportagem especial"; é de se elogiar a forma como ele vai costurando os fatos e atribuindo em uma linha do tempo dolorosa, o peso exato de cada fase da luta por justiça dos pais e dos sobreviventes da tragédia de 2013. Eu diria que esse material é uma espécie de conteúdo complementar de luxo que basicamente eleva a experiência de ter assistido a versão ficcional da Netflix, "Todo Dia A Mesma Noite", para outro patamar!

Aqui, Canellas (que viveu parte de sua vida em Santa Maria) conta a história da batalha judicial pelo viés dos familiares das vítimas e de alguns sobreviventes, revivendo os detalhes que levaram à tragédia, a partir de imagens de arquivo e entrevistas que chegam a partir o coração. Confira o trailer:

Depois do primeiro impacto visual onde Canellas se apropria de uma boa quantidade de vídeos amadores (quase todos gravados pelo celular de quem conseguiu sobreviver ao incêndio da Boate Kiss) para estabelecer o tamanho da tragédia que aconteceu naquela pequena cidade do Rio Grande do Sul, e de alguns depoimentos de quem esteve no local durante o caos, percebemos que a narrativa subverte o "entretenimento" e se torna mais "informativa" - a própria narração do repórter dá o tom desse conceito e mesmo que alguns assuntos levantados por ele soem desinteressantes em um olhar mais crítico, a conexão que vai se estabelecendo com aquela comunidade faz toda diferença na forma como nos relacionaremos com o que vem a seguir.

É notável a preocupação do documentário em trabalhar apenas com os fatos, evitando ao máximo qualquer especulação que não possa ser provada por A + B - a forma como os alvarás e outras liberações (que a série da Netflix pontua como decisões politicas ou de relacionamento) que um dos donos da Boate, Mauro Hoffmann, teria conseguido, nem citado é. Embora a narrativa até soe investigativa, pouco se traz de novidade. Por outro lado, "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria" se aproveita de uma edição primorosa para deixar um recorte histórico bastante fluido - é inegável que assistir a versão real da história e dos personagens que conhecemos em  "Todo Dia A Mesma Noite", nos impressiona.

A imparcialidade de Canellas também merece elogio: a mesma voz que ele dá aos familiares e sobreviventes, ele também dá aos acusados. Essa postura chega incomodar em alguns momentos, mas enriquece a discussão e provoca o julgamento. Ao revelar as tensões entre sobreviventes, advogados, acusados e sociedade, o documentário ganha um tom midiático que, para mim, seria dispensável, mas sem dúvida alguma fortalece o conflito fortalece e prende nossa atenção. Agora, é muito (mas muito) difícil não sentir um verdadeiro nó na garganta diante do dolorido relato de um dos sobreviventes, Delvani, a respeito daquela noite, no tribunal - essa humanização da tragédia mexe com nossas emoções de uma forma muito peculiar.

O fato é que "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria" funciona como um olhar mais realista, crível e visceral ao material que a jornalista Daniela Arbex emprestou para a ficção - isso, aliás, não diminui o valor da  minissérie da Netflix, pelo contrário, apenas chancela sua importância e dimensiona toda a dor que experienciamos de uma maneira completamente diferente, deixando claro que ainda havia muito a ser contato, tanto de um lado quanto do outro, nos provocando ainda mais indignação e empatia!

Sendo assim, só posso te dizer: vale muito seu play!

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Carlos Ghosn: O Último Voo

A história que você vai conhecer em "Carlos Ghosn: O Último Voo" é surpreendente - uma mistura de "Indústria Americana" com "A Verdadeira História do Roubo do Século" e ainda com um leve toque de cinebiografia empreendedora como em "Steve Jobs: O Homem e a Máquina". Muito bem dirigida pelo talentoso Nick Green (do premiado "Putin: A Russian Spy Story" - indicado ao BAFTA 2021 como melhor série documental), esse documentário de quase duas horas transita perfeitamente por um universo conspiratório sem a pretensão de cravar quem seriam os verdadeiros culpados. Por mais que um dos lados carregue o peso do protagonismo, Green deixa claro desde o inicio que toda história possui dois lados e é isso que ele quer explorar.

Produzido pela BBC inglesa, o documentário faz um verdadeiro mergulho na carreira de Carlos Ghosn, brasileiro e ex-CEO da Aliança Renault-Nissan, que precisou fugir do Japão após ser acusado de crimes financeiros em 2019 quando ainda comandava a Nissan. A partir de entrevistas e de imagens exclusivas, essa história impressionante ganha novos detalhes e, pela primeira, a voz de quem acredita ser vitima de uma grande conspiração política. Confira o trailer (em inglês):

Os problemas de Carlos Ghosn com a justiça japonesa começaram em novembro de 2018, quando ele foi preso assim que desembarcou no Japão para uma reunião corporativa. Sem muitas explicações, o executivo da Aliança Renault-Nissan foi acusado de ocultar parte de seus ganhos salariais. Ghosn ficou 3 meses na prisão até conseguir, em um acordo de US$ 14 milhões (cerca de R$ 56 milhões), migrar para a prisão domiciliar. Apesar das acusações da promotoria japonesa terem sido feitas com base em uma investigação interna da Nissan, não havia perspectiva alguma de um julgamento justo e, enquanto aguardava, Ghosn ainda ficou proibido de ter qualquer tipo de contato com qualquer pessoa de sua família. Desesperado, óbvio, ele decide fugir do país em uma ação simplesmente cinematográfica.

Além de uma narrativa muito bem desenvolvida por Green, onde o diretor constrói uma linha do tempo extremamente didática sobre a vida e a carreira do executivo, "Carlos Ghosn: O Último Voo" se beneficia muito pelo fato de ter o protagonista dando depoimentos detalhados sobre toda essa epopeia. Minha única crítica, fantasiada de elogio, é que fosse um documentário em duas partes - uma focada na vida e carreira  e outra no drama da prisão e na construção do plano para sua fuga - o resultado seria muito mais satisfatório já que muitas passagens foram explicadas muito apressadamente. As consequências que envolveram a polícia turca e a prisão de sete pessoas supostamente coniventes com sua fuga: quatro pilotos, dois trabalhadores de solo de um aeroporto e um funcionário de uma empresa de transporte de carga, é um bom exemplo desse gap do roteiro.

O fato é que "Carlos Ghosn: The Last Flight" (no original) é mais um filme que vai te surpreender - uma história de sucesso profissional cercada de preconceito e inveja, com forte envolvimento político que extrapolou as paredes corporativas de duas empresas automobilísticas com culturas completamente distintas e que naturalmente encontraram inúmeros pontos de embates e desacordos. Uma história que também envolveu muito dinheiro, poder, ganância e ego. Além, é claro, de um desfecho digno dos melhores filmes de ação hollywoodiano.

Vale muito a pena!

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A história que você vai conhecer em "Carlos Ghosn: O Último Voo" é surpreendente - uma mistura de "Indústria Americana" com "A Verdadeira História do Roubo do Século" e ainda com um leve toque de cinebiografia empreendedora como em "Steve Jobs: O Homem e a Máquina". Muito bem dirigida pelo talentoso Nick Green (do premiado "Putin: A Russian Spy Story" - indicado ao BAFTA 2021 como melhor série documental), esse documentário de quase duas horas transita perfeitamente por um universo conspiratório sem a pretensão de cravar quem seriam os verdadeiros culpados. Por mais que um dos lados carregue o peso do protagonismo, Green deixa claro desde o inicio que toda história possui dois lados e é isso que ele quer explorar.

Produzido pela BBC inglesa, o documentário faz um verdadeiro mergulho na carreira de Carlos Ghosn, brasileiro e ex-CEO da Aliança Renault-Nissan, que precisou fugir do Japão após ser acusado de crimes financeiros em 2019 quando ainda comandava a Nissan. A partir de entrevistas e de imagens exclusivas, essa história impressionante ganha novos detalhes e, pela primeira, a voz de quem acredita ser vitima de uma grande conspiração política. Confira o trailer (em inglês):

Os problemas de Carlos Ghosn com a justiça japonesa começaram em novembro de 2018, quando ele foi preso assim que desembarcou no Japão para uma reunião corporativa. Sem muitas explicações, o executivo da Aliança Renault-Nissan foi acusado de ocultar parte de seus ganhos salariais. Ghosn ficou 3 meses na prisão até conseguir, em um acordo de US$ 14 milhões (cerca de R$ 56 milhões), migrar para a prisão domiciliar. Apesar das acusações da promotoria japonesa terem sido feitas com base em uma investigação interna da Nissan, não havia perspectiva alguma de um julgamento justo e, enquanto aguardava, Ghosn ainda ficou proibido de ter qualquer tipo de contato com qualquer pessoa de sua família. Desesperado, óbvio, ele decide fugir do país em uma ação simplesmente cinematográfica.

Além de uma narrativa muito bem desenvolvida por Green, onde o diretor constrói uma linha do tempo extremamente didática sobre a vida e a carreira do executivo, "Carlos Ghosn: O Último Voo" se beneficia muito pelo fato de ter o protagonista dando depoimentos detalhados sobre toda essa epopeia. Minha única crítica, fantasiada de elogio, é que fosse um documentário em duas partes - uma focada na vida e carreira  e outra no drama da prisão e na construção do plano para sua fuga - o resultado seria muito mais satisfatório já que muitas passagens foram explicadas muito apressadamente. As consequências que envolveram a polícia turca e a prisão de sete pessoas supostamente coniventes com sua fuga: quatro pilotos, dois trabalhadores de solo de um aeroporto e um funcionário de uma empresa de transporte de carga, é um bom exemplo desse gap do roteiro.

O fato é que "Carlos Ghosn: The Last Flight" (no original) é mais um filme que vai te surpreender - uma história de sucesso profissional cercada de preconceito e inveja, com forte envolvimento político que extrapolou as paredes corporativas de duas empresas automobilísticas com culturas completamente distintas e que naturalmente encontraram inúmeros pontos de embates e desacordos. Uma história que também envolveu muito dinheiro, poder, ganância e ego. Além, é claro, de um desfecho digno dos melhores filmes de ação hollywoodiano.

Vale muito a pena!

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Cidade Proibida

"Cidade Proibida" é uma série procedural, ou seja, com uma história por episódio mas com uma arco maior que se extende por toda temporada, aliás, durante os episódios não vamos deixar de assistir muitas traições, paixões, ciúmes, crimes, suspense e mistério. Com mulheres fatais e homens violentos vivendo em uma cidade rica, charmosa, elegante e perigosa, a série acompanha as aventuras do detetive particular Zózimo Barbosa (Vladimir Brichta) em pleno Rio de Janeiro da década de 50! Confira o trailer:

Ex-policial, Zózimo decide trabalhar sozinho e se especializa em investigar casos extraconjugais. De quebra, acaba sempre se envolvendo com as belas clientes. No dia a dia das investigações - entre uma tocaia atrás de um amante e um chope no Bar Sereia, ponto de encontro dos personagens principais na trama - Zózimo conta com a ajuda da garota de programaMarli (Regiane Alves), do corrupto delegado Paranhos (Ailton Graça) e do malandro e sedutor profissional, que atende pelo nome de Bonitão (José Loreto).

Desde o primeiro episódio de "Cidade Proibida" já é possível se divertir. A adaptação está excelente e o "clima noir" de um saudoso Rio de Janeiro é perfeito. Me impressionei com o Desenho de Som e Trilha Sonora da série - nível internacional! Tecnicamente a série funciona bem, porém senti um pouco de falta de coragem para arriscar um pouquinho mais: não sei, talvez filmar em 2:35 para entender o tamanho do quadro e dar uma sensação mais cinematográfica ou até diminuir bem a saturação, realçar um pouco o RGB e aumentar o contraste para criar uma identidade menos televisiva - porém nada disso interfere na qualidade do projeto, é preciso que se diga! Era possível chegar próximo a um nível HBO, mas acho que o primeiro passo foi dado e funcionou!!! 

Muito bacana, vale o play pela diversão e entretenimento se você gostar de uma dramaturgia nacional de qualidade! A primeira temporada conta com 12 episódios de 40 minutos, mas uma segunda temporada ainda não foi confirmada!

PS: A abertura ficou excelente!

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"Cidade Proibida" é uma série procedural, ou seja, com uma história por episódio mas com uma arco maior que se extende por toda temporada, aliás, durante os episódios não vamos deixar de assistir muitas traições, paixões, ciúmes, crimes, suspense e mistério. Com mulheres fatais e homens violentos vivendo em uma cidade rica, charmosa, elegante e perigosa, a série acompanha as aventuras do detetive particular Zózimo Barbosa (Vladimir Brichta) em pleno Rio de Janeiro da década de 50! Confira o trailer:

Ex-policial, Zózimo decide trabalhar sozinho e se especializa em investigar casos extraconjugais. De quebra, acaba sempre se envolvendo com as belas clientes. No dia a dia das investigações - entre uma tocaia atrás de um amante e um chope no Bar Sereia, ponto de encontro dos personagens principais na trama - Zózimo conta com a ajuda da garota de programaMarli (Regiane Alves), do corrupto delegado Paranhos (Ailton Graça) e do malandro e sedutor profissional, que atende pelo nome de Bonitão (José Loreto).

Desde o primeiro episódio de "Cidade Proibida" já é possível se divertir. A adaptação está excelente e o "clima noir" de um saudoso Rio de Janeiro é perfeito. Me impressionei com o Desenho de Som e Trilha Sonora da série - nível internacional! Tecnicamente a série funciona bem, porém senti um pouco de falta de coragem para arriscar um pouquinho mais: não sei, talvez filmar em 2:35 para entender o tamanho do quadro e dar uma sensação mais cinematográfica ou até diminuir bem a saturação, realçar um pouco o RGB e aumentar o contraste para criar uma identidade menos televisiva - porém nada disso interfere na qualidade do projeto, é preciso que se diga! Era possível chegar próximo a um nível HBO, mas acho que o primeiro passo foi dado e funcionou!!! 

Muito bacana, vale o play pela diversão e entretenimento se você gostar de uma dramaturgia nacional de qualidade! A primeira temporada conta com 12 episódios de 40 minutos, mas uma segunda temporada ainda não foi confirmada!

PS: A abertura ficou excelente!

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Departure - 1ª Temporada

Mesmo sendo uma série de 2019, só assista "Departure" se você estiver disposto a fazer uma viagem nostálgica para o final dos anos 90, em uma época pré-streaming, onde a narrativa se permitia criar uma atmosfera de mistério, repleta de reviravoltas, mas completamente distante da realidade. O fato é que essa produção canadense que recebe o selo de original da Peacock (plataforma da NBC ainda inédita no Brasil) é uma espécie de "24 Horas" com "C.S.I" - dinâmica, divertida, interessante, mas claramente feita para a TV aberta.

Após o misterioso desaparecimento do voo 716 no meio do Oceano Atlântico, a investigadora Kendra Malley (Archie Panjabi) é recrutada pelo seu antigo chefe e mentor, Howard Lawson (o saudoso Christopher Plummer em seu último trabalho), para comandar uma equipe de elite e assim tentar descobrir o que de fato aconteceu com aeronave e, quem sabe, localizar possíveis sobreviventes. Confira o trailer (em inglês):

"Departure" segue a cartilha da era de ouro da TV americana, inclusive com um alto nível de produção. Veja, é como se estivéssemos assistindo um episódio de "C.S.I" de 6 horas ou uma temporada de "24 horas" em 6 episódios. O formato de antologia (onde a história se encerra em alguns episódios definidos) se mistura àquela estrutura de procedural (quando o arco principal se encerra em um episódio, mas deixa tramas secundárias para serem desenvolvidas em outros) - e isso é muito importante ressaltar para que as expectativas estejam alinhadas: a trama não tem o menor compromisso em ser 100% realista, o propósito da narrativa é apenas o de te segurar até o último segundo da temporada, mesmo que para isso algumas soluções possam soar absurdas. Os elementos dramáticos desse tipo de formato se repetem em vários títulos, portanto, não se irrite, apenas embarque na proposta e se divirta - muitos de nós fazíamos isso antes de Netflix, Globoplay, Prime Vídeo, etc.

É inegável a qualidade do trabalho de T.J. Scott, um diretor que construiu sua carreira dirigindo episódios de séries (de "Xena: A Princesa Guerreira" à "Star Trek: Discovery") da mesma forma que muitos brasileiros dirigiam novelas antes de buscarem outro caminhos, portanto é natural encontrarmos alguns vícios narrativos de Scott em toda temporada. Praticamente todas as cenas possuem um trilha sonora de fundo para manipular nossas emoções (tensão, drama, mistério, romance, etc), aqueles cortes onde o foco está na reação do personagem depois de uma "grande" descoberta que precedia o intervalo, inúmeras cenas se passam dentro de um mesmo cenário (no caso o QG da equipe - uma espécie de CTU de "24 horas") e até a construção de um arco com o filho adolescente revoltado que só traz problemas para a protagonista que sente dividida entre a família e sua missão profissional.

Além de Panjabi e Plummer, a série ainda conta com um elenco de peso como Kris Holden-Ried (The Umbrella Academy) como Dom, Rebecca Liddiard (Run This Town) como Madelyn, Tamara Duarte (Longmire) como Nadia, Mark Rendall (Versailles) como Theo, Peter Mensah (Midnight, Texas) como Levi e Sasha Roiz (Grimm) como Pavel Bartok; e isso, sem a menor dúvida, ajuda muito no desenvolvimento da história que, acreditem, conquistou a audiência americana, rendendo, inclusive, uma segunda temporada que estreia em 2022 - onde Kendra Malley e sua equipe vão investigar um acidente de trem.

"Departure" é um entretenimento despretensioso, rápido, divertido e até surpreendente, que vai te prender do início ao fim desde que você esteja disposto a acreditar naquela história, sem julgamentos ou preconceitos. Típica série boa para aquele sábado chuvoso onde não queremos nada muito profundo, apenas curtir bons episódios - como fazíamos antigamente com os boxes de DVDs.

Vale o seu play!

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Mesmo sendo uma série de 2019, só assista "Departure" se você estiver disposto a fazer uma viagem nostálgica para o final dos anos 90, em uma época pré-streaming, onde a narrativa se permitia criar uma atmosfera de mistério, repleta de reviravoltas, mas completamente distante da realidade. O fato é que essa produção canadense que recebe o selo de original da Peacock (plataforma da NBC ainda inédita no Brasil) é uma espécie de "24 Horas" com "C.S.I" - dinâmica, divertida, interessante, mas claramente feita para a TV aberta.

Após o misterioso desaparecimento do voo 716 no meio do Oceano Atlântico, a investigadora Kendra Malley (Archie Panjabi) é recrutada pelo seu antigo chefe e mentor, Howard Lawson (o saudoso Christopher Plummer em seu último trabalho), para comandar uma equipe de elite e assim tentar descobrir o que de fato aconteceu com aeronave e, quem sabe, localizar possíveis sobreviventes. Confira o trailer (em inglês):

"Departure" segue a cartilha da era de ouro da TV americana, inclusive com um alto nível de produção. Veja, é como se estivéssemos assistindo um episódio de "C.S.I" de 6 horas ou uma temporada de "24 horas" em 6 episódios. O formato de antologia (onde a história se encerra em alguns episódios definidos) se mistura àquela estrutura de procedural (quando o arco principal se encerra em um episódio, mas deixa tramas secundárias para serem desenvolvidas em outros) - e isso é muito importante ressaltar para que as expectativas estejam alinhadas: a trama não tem o menor compromisso em ser 100% realista, o propósito da narrativa é apenas o de te segurar até o último segundo da temporada, mesmo que para isso algumas soluções possam soar absurdas. Os elementos dramáticos desse tipo de formato se repetem em vários títulos, portanto, não se irrite, apenas embarque na proposta e se divirta - muitos de nós fazíamos isso antes de Netflix, Globoplay, Prime Vídeo, etc.

É inegável a qualidade do trabalho de T.J. Scott, um diretor que construiu sua carreira dirigindo episódios de séries (de "Xena: A Princesa Guerreira" à "Star Trek: Discovery") da mesma forma que muitos brasileiros dirigiam novelas antes de buscarem outro caminhos, portanto é natural encontrarmos alguns vícios narrativos de Scott em toda temporada. Praticamente todas as cenas possuem um trilha sonora de fundo para manipular nossas emoções (tensão, drama, mistério, romance, etc), aqueles cortes onde o foco está na reação do personagem depois de uma "grande" descoberta que precedia o intervalo, inúmeras cenas se passam dentro de um mesmo cenário (no caso o QG da equipe - uma espécie de CTU de "24 horas") e até a construção de um arco com o filho adolescente revoltado que só traz problemas para a protagonista que sente dividida entre a família e sua missão profissional.

Além de Panjabi e Plummer, a série ainda conta com um elenco de peso como Kris Holden-Ried (The Umbrella Academy) como Dom, Rebecca Liddiard (Run This Town) como Madelyn, Tamara Duarte (Longmire) como Nadia, Mark Rendall (Versailles) como Theo, Peter Mensah (Midnight, Texas) como Levi e Sasha Roiz (Grimm) como Pavel Bartok; e isso, sem a menor dúvida, ajuda muito no desenvolvimento da história que, acreditem, conquistou a audiência americana, rendendo, inclusive, uma segunda temporada que estreia em 2022 - onde Kendra Malley e sua equipe vão investigar um acidente de trem.

"Departure" é um entretenimento despretensioso, rápido, divertido e até surpreendente, que vai te prender do início ao fim desde que você esteja disposto a acreditar naquela história, sem julgamentos ou preconceitos. Típica série boa para aquele sábado chuvoso onde não queremos nada muito profundo, apenas curtir bons episódios - como fazíamos antigamente com os boxes de DVDs.

Vale o seu play!

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Doutor Castor

Se o diretor Adam McKay (de "Succession" e "Vice") assistisse o documentário Original do Globoplay, "Doutor Castor", certamente ele não descansaria até transformar essa história em uma minissérie digna de muitos Emmys! É sério, poucas vezes assisti algo tão insano (e olha que demorei para encontrar uma palavra que definisse tão perfeitamente o que acabei de presenciar na tela), com um personagem tão genial quanto complexo capaz de deixar um Walter White ou um Tony Soprano com uma certa inveja (e não acho que seja um exagero já que Castor de Andrade, de fato, existiu)!

"Doutor Castor" é uma série documental de quatro episódios que, basicamente, conta a história de Castor de Andrade, o bicheiro mais famoso do Rio de Janeiro. A produção explora as múltiplas facetas de um personagem que transitava em diversos ambientes, desde o jogo do bicho e a criminalidade até duas das paixões mais populares do brasileiro (e por consequência do carioca): o carnaval e o futebol. Confira o trailer:

Existe um certo tom de romantismo na narrativa de "Doutor Castor" na mesma medida que enxergamos a hipocrisia da sociedade. Eram outros tempos, claro, mas a história do Castor de Andrade é igualmente inacreditável quanto a do colombiano Pablo Escobar - não pela magnitude, mas pela forma com que o personagem se misturava ao inconsciente coletivo da época que respeitava o poder, o privilégio e uma, digamos, bem feitoria social mesmo que os "meios" não justificassem os "fins". O que vemos na narrativa, inúmeras vezes, é uma completa distorção da realidade, tão explícita que chega a embrulhar o estômago, por outro lado, conhecemos um personagem de uma simpatia e carisma absurdos que, não se surpreenda, provoca uma certa relativização dos fatos - exatamente igual como fizemos com "Breaking Bad" ou "Sopranos" na ficção.

Com uma direção extremamente competente do Marco Antonio Araujo, “Doutor Castor” se propõe a fazer um recorte de um Rio de Janeiro malandro, quase esteriotipado (basta assistir alguns depoimentos de personagens que parecem ter saído de um tirinha de jornal dos anos 70 e que não por acaso usam como cenário um típico botequim carioca), através de três eixos fundamentais (o carnaval, o futebol e o jogo do bicho) que vão se misturando pouco a pouco e ajudando a criar uma figura mítica que transita pela contravenção e pelo crime organizado com a mesma tranquilidade com que é entrevistado pelo Jô Soares, por exemplo.

É incrível como todos os caminhos levam à emblemática figura de Castor de Andrade, que entre os anos 60 e 90, atuou desde patrono da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel à cartola do Bangu Atlético Clube, vice campeão brasileiro em 1985, passando pela posição "condecorada" de maior e mais influente bicheiro do Rio. Eu diria que "Doutor Castor" é um verdadeiro mergulho no universo de um personagem tão único, tão contraditório, tão perturbado e tão (acreditem) amado, de onde você terá uma enorme dificuldade de escapar antes do fim e que, com a mais absoluta certeza, vai mexer com sua percepção sobre o "certo" e o "errado" como poucas vezes você experienciou!

"Doutor Castor" é uma aula de narrativa, simplesmente imperdível!

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Se o diretor Adam McKay (de "Succession" e "Vice") assistisse o documentário Original do Globoplay, "Doutor Castor", certamente ele não descansaria até transformar essa história em uma minissérie digna de muitos Emmys! É sério, poucas vezes assisti algo tão insano (e olha que demorei para encontrar uma palavra que definisse tão perfeitamente o que acabei de presenciar na tela), com um personagem tão genial quanto complexo capaz de deixar um Walter White ou um Tony Soprano com uma certa inveja (e não acho que seja um exagero já que Castor de Andrade, de fato, existiu)!

"Doutor Castor" é uma série documental de quatro episódios que, basicamente, conta a história de Castor de Andrade, o bicheiro mais famoso do Rio de Janeiro. A produção explora as múltiplas facetas de um personagem que transitava em diversos ambientes, desde o jogo do bicho e a criminalidade até duas das paixões mais populares do brasileiro (e por consequência do carioca): o carnaval e o futebol. Confira o trailer:

Existe um certo tom de romantismo na narrativa de "Doutor Castor" na mesma medida que enxergamos a hipocrisia da sociedade. Eram outros tempos, claro, mas a história do Castor de Andrade é igualmente inacreditável quanto a do colombiano Pablo Escobar - não pela magnitude, mas pela forma com que o personagem se misturava ao inconsciente coletivo da época que respeitava o poder, o privilégio e uma, digamos, bem feitoria social mesmo que os "meios" não justificassem os "fins". O que vemos na narrativa, inúmeras vezes, é uma completa distorção da realidade, tão explícita que chega a embrulhar o estômago, por outro lado, conhecemos um personagem de uma simpatia e carisma absurdos que, não se surpreenda, provoca uma certa relativização dos fatos - exatamente igual como fizemos com "Breaking Bad" ou "Sopranos" na ficção.

Com uma direção extremamente competente do Marco Antonio Araujo, “Doutor Castor” se propõe a fazer um recorte de um Rio de Janeiro malandro, quase esteriotipado (basta assistir alguns depoimentos de personagens que parecem ter saído de um tirinha de jornal dos anos 70 e que não por acaso usam como cenário um típico botequim carioca), através de três eixos fundamentais (o carnaval, o futebol e o jogo do bicho) que vão se misturando pouco a pouco e ajudando a criar uma figura mítica que transita pela contravenção e pelo crime organizado com a mesma tranquilidade com que é entrevistado pelo Jô Soares, por exemplo.

É incrível como todos os caminhos levam à emblemática figura de Castor de Andrade, que entre os anos 60 e 90, atuou desde patrono da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel à cartola do Bangu Atlético Clube, vice campeão brasileiro em 1985, passando pela posição "condecorada" de maior e mais influente bicheiro do Rio. Eu diria que "Doutor Castor" é um verdadeiro mergulho no universo de um personagem tão único, tão contraditório, tão perturbado e tão (acreditem) amado, de onde você terá uma enorme dificuldade de escapar antes do fim e que, com a mais absoluta certeza, vai mexer com sua percepção sobre o "certo" e o "errado" como poucas vezes você experienciou!

"Doutor Castor" é uma aula de narrativa, simplesmente imperdível!

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Dreamgirls

"Dreamgirls" (que no Brasil ganhou o subtítulo de "Em Busca de um Sonho") é uma verdadeira viagem pela "Black Music" através dos anos 60, 70 e 80, com suas releituras e o seu movimento (politico, social e cultural). Visualmente impecável, o filme é um musical bem construído e potente, que carrega em seus personagens o ritmo e o drama com a mesma importância, e mesmo que falte um aprofundamento maior nas histórias isoladas, o conjunto é praticamente impecável, realista e emocionante - um verdadeiro show!

Baseado no musical homônimo, que estreou na Broadway em 1981, "Dreamgirls" acompanha a jornada de Effie White (Jennifer Hudson), Deena Jones (Beyoncé) e Lorrell Robinson (Anika Noni Rose) que formam um grupo musical e começam a fazer sucesso com a ajuda de um empresário extremamente manipulador, Curtis Taylor Jr. (Jamie Foxx). Não demora para surgir tensões inconciliáveis entre as talentosas jovens quando Curtis resolve mudar a dinâmica do grupo para se ajustar a uma demanda do mercado. Confira o trailer (em inglês):

O roteiro do excelente Bill Condon (de "Deuses e Monstros" e "Chicago") adapta com muita qualidade o espetáculo de Tom Eyen e nos apresenta um trio fictício livremente inspirado na história de Diana Ross e as Supremes. O caminho entre a realidade e a ficção é praticamente o mesmo: três garotas de Detroit são descobertas pela recém-inagurada gravadora Motown ao fazerem muito sucesso com um ingênuo, mas envolvente, doo-wopda época. Logo depois, a líder, daquele estilo "Diva", com a voz mais potente, mas esteticamente menos atraente, é trocada pela integrante mais bonita, tudo isso para que o grupo emplaque nas paradas de sucesso. Daí vem a  necessidade de se reinventar, custe o que custar, com o trio se moldando à moda musical de cada época, do soul ao disco music das décadas de 70 e 80.

O interessante porém, é que essa jornada de sucesso, conflitos, decadência e reinvenção é até melhor trabalhado pelo diretor do que pelo roteiro - não que a história seja ruim, mas o recorte temporal é muito extenso e com isso fica impossível se aprofundar nas peculiaridades de cada momento com o a mesma qualidade que vemos no prólogo. Condon que também dirige o filme, aplica um conceito estético muito particular, que equilibra perfeitamente a tradição dos musicais da Broadway com a modernidade das superproduções dos vídeo clipes para criar uma atmosfera cinematográfica bem alinhada com o mood da disrupção do cenário musical - mesmo respeitando as características mais marcantes de cada período.

"Dreamgirls" é belíssimo como musical e muito competente como drama. Se Beyoncé não pode ser considerada uma atriz de primeira linha, certamente ela também não decepciona ao encarnar, com muita propriedade, aquele perfil de cantora que se adapta a um novo momento da música negra. Por outro lado, a novata Jennifer Hudson rouba a cena assim que abre a boca - todos os seus solos são verdadeiros monólogos cantados, de se aplaudir de pé. Eddie Murphy como James 'Thunder' Early, uma mistura de James Brown com Marvin Gaye, alcança o grande papel dramático da sua carreira - ele está sensacional!

Entretenimento de primeira qualidade artística e técnica, com ritmo, cor, drama e muita emoção!

Pode dar o play sem o menor receio! 

Up-date: "Dreamgirls" ganhou em duas categorias no Oscar 2007: Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Mixagem, mas esteve indicado em mais 4 categorias, sendo que em "Melhor Música" tinha três composições na disputa.

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"Dreamgirls" (que no Brasil ganhou o subtítulo de "Em Busca de um Sonho") é uma verdadeira viagem pela "Black Music" através dos anos 60, 70 e 80, com suas releituras e o seu movimento (politico, social e cultural). Visualmente impecável, o filme é um musical bem construído e potente, que carrega em seus personagens o ritmo e o drama com a mesma importância, e mesmo que falte um aprofundamento maior nas histórias isoladas, o conjunto é praticamente impecável, realista e emocionante - um verdadeiro show!

Baseado no musical homônimo, que estreou na Broadway em 1981, "Dreamgirls" acompanha a jornada de Effie White (Jennifer Hudson), Deena Jones (Beyoncé) e Lorrell Robinson (Anika Noni Rose) que formam um grupo musical e começam a fazer sucesso com a ajuda de um empresário extremamente manipulador, Curtis Taylor Jr. (Jamie Foxx). Não demora para surgir tensões inconciliáveis entre as talentosas jovens quando Curtis resolve mudar a dinâmica do grupo para se ajustar a uma demanda do mercado. Confira o trailer (em inglês):

O roteiro do excelente Bill Condon (de "Deuses e Monstros" e "Chicago") adapta com muita qualidade o espetáculo de Tom Eyen e nos apresenta um trio fictício livremente inspirado na história de Diana Ross e as Supremes. O caminho entre a realidade e a ficção é praticamente o mesmo: três garotas de Detroit são descobertas pela recém-inagurada gravadora Motown ao fazerem muito sucesso com um ingênuo, mas envolvente, doo-wopda época. Logo depois, a líder, daquele estilo "Diva", com a voz mais potente, mas esteticamente menos atraente, é trocada pela integrante mais bonita, tudo isso para que o grupo emplaque nas paradas de sucesso. Daí vem a  necessidade de se reinventar, custe o que custar, com o trio se moldando à moda musical de cada época, do soul ao disco music das décadas de 70 e 80.

O interessante porém, é que essa jornada de sucesso, conflitos, decadência e reinvenção é até melhor trabalhado pelo diretor do que pelo roteiro - não que a história seja ruim, mas o recorte temporal é muito extenso e com isso fica impossível se aprofundar nas peculiaridades de cada momento com o a mesma qualidade que vemos no prólogo. Condon que também dirige o filme, aplica um conceito estético muito particular, que equilibra perfeitamente a tradição dos musicais da Broadway com a modernidade das superproduções dos vídeo clipes para criar uma atmosfera cinematográfica bem alinhada com o mood da disrupção do cenário musical - mesmo respeitando as características mais marcantes de cada período.

"Dreamgirls" é belíssimo como musical e muito competente como drama. Se Beyoncé não pode ser considerada uma atriz de primeira linha, certamente ela também não decepciona ao encarnar, com muita propriedade, aquele perfil de cantora que se adapta a um novo momento da música negra. Por outro lado, a novata Jennifer Hudson rouba a cena assim que abre a boca - todos os seus solos são verdadeiros monólogos cantados, de se aplaudir de pé. Eddie Murphy como James 'Thunder' Early, uma mistura de James Brown com Marvin Gaye, alcança o grande papel dramático da sua carreira - ele está sensacional!

Entretenimento de primeira qualidade artística e técnica, com ritmo, cor, drama e muita emoção!

Pode dar o play sem o menor receio! 

Up-date: "Dreamgirls" ganhou em duas categorias no Oscar 2007: Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Mixagem, mas esteve indicado em mais 4 categorias, sendo que em "Melhor Música" tinha três composições na disputa.

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E então nós dançamos

"E então nós dançamos" é um belíssimo e sensível filme sobre a aceitação da homossexualidade em diversas esferas da sociedade, bem na linha de "Me chame pelo seu nome" - obviamente que respeitando suas particularidades culturais e talvez esteja aí o grande trunfo do roteiro, já que a história se passa na Geórgia, país extremamente preconceituoso, onde a figura do homem é exaltada e onde até o seu tradicional ballet se baseia em "movimentos masculinizados e de força impositiva".

O jovem Merab (Levan Gelbakhiani) faz parte de uma companhia georgiana de dança folclórica, seguindo os passos do pai. Descontente com a vida de precariedade financeira e o baixo reconhecimento artístico, ele tem sua vida transformada pela chegada de Irakli (Bachi Valishvili), dançarino novato que disputa com ele a mesma vaga em uma importante audição que pode coloca-lo no elenco principal do National Georgian Ensemble. Porém Merab descobre, pela primeira vez, sua paixão por outro rapaz, dentro de um contexto homofóbico e, não surpreendente, violento. Confira o trailer:

Como no já referenciado "Me chame pelo seu nome", esse premiado filme vindo da Geórgia deixa claro, já nos seus primeiros minutos, qual é o seu objetivo: assim que o novato Irakli entra na sala de dança onde se encontra com Merab, sabemos que os dois ficarão juntos em algum momento do filme, mesmo que o diretor sueco Levan Akin (de "O Círculo") sugira que a disputa será pelo protagonismo da companhia de dança. A grande questão, no entanto, ganha mais profundidade quando o comentário sobre um colega gay que foi agredido e expulso da companhia vem à tona - é a partir desse gatilho que Akin começa a construir as angústias e euforias das descobertas de Merab e até de Irakli.

Veja, ao mesmo tempo que Merab descobre uma nova paixão, é o seu amor pela dança que pode afasta-lo da felicidade - e mais uma vez o roteiro se aprofunda em questionar: onde está a felicidade? Essas nuances vão e voltam a cada aproximação entre os personagens em seus diversos ambientes sociais - essa dinâmica faz com que tenhamos a sensação de que, em outro país, o protagonista faria parte um grupo e encontraria seu caminho com mais tranquilidade, mas a barreira está na tradição cultural, na mente fechada da sociedade georgiana. Seja no ambiente familiar, caótico por sinal, no grupo de dança e até nas reuniões com os amigos, a história deixa claro que o homem precisa se relacionar com a mulher. Uma das cenas mais emblemáticas, na minha opinião, é quando Mary (Ana Javakishvili), parceira de dança e amiga intima de Merab, mostra uma camisinha, convidando ele para uma relação sexual casual que, obviamente, ele se esquiva.

"E então nós dançamos" é uma drama de relação onde o pano de fundo é a dança. Dito isso é de se esperar cenas bem coreografadas e culturalmente relevantes para nós que assistimos a produção do outro lado do planeta. Destaco as passagens ao som de ‘Take a Chance on Me’ do ABBA, e ‘Honey’, de Robyn; além da excelente cena final ao melhor estilo "Cisne Negro" / "Flashdance". Muito bem dirigido por Akin (reparem no complexo plano-sequência durante o casamento do irmão do protagonista), o cinema georgiano debuta com classe por aqui e por isso a recomendação - mesmo sabendo que apenas um pequeno nicho dos nosso usuários vão se relacionar bem com a história. Uma pena, já que o filme tem muita qualidade e mereceria maior atenção!

Vale seu play!

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"E então nós dançamos" é um belíssimo e sensível filme sobre a aceitação da homossexualidade em diversas esferas da sociedade, bem na linha de "Me chame pelo seu nome" - obviamente que respeitando suas particularidades culturais e talvez esteja aí o grande trunfo do roteiro, já que a história se passa na Geórgia, país extremamente preconceituoso, onde a figura do homem é exaltada e onde até o seu tradicional ballet se baseia em "movimentos masculinizados e de força impositiva".

O jovem Merab (Levan Gelbakhiani) faz parte de uma companhia georgiana de dança folclórica, seguindo os passos do pai. Descontente com a vida de precariedade financeira e o baixo reconhecimento artístico, ele tem sua vida transformada pela chegada de Irakli (Bachi Valishvili), dançarino novato que disputa com ele a mesma vaga em uma importante audição que pode coloca-lo no elenco principal do National Georgian Ensemble. Porém Merab descobre, pela primeira vez, sua paixão por outro rapaz, dentro de um contexto homofóbico e, não surpreendente, violento. Confira o trailer:

Como no já referenciado "Me chame pelo seu nome", esse premiado filme vindo da Geórgia deixa claro, já nos seus primeiros minutos, qual é o seu objetivo: assim que o novato Irakli entra na sala de dança onde se encontra com Merab, sabemos que os dois ficarão juntos em algum momento do filme, mesmo que o diretor sueco Levan Akin (de "O Círculo") sugira que a disputa será pelo protagonismo da companhia de dança. A grande questão, no entanto, ganha mais profundidade quando o comentário sobre um colega gay que foi agredido e expulso da companhia vem à tona - é a partir desse gatilho que Akin começa a construir as angústias e euforias das descobertas de Merab e até de Irakli.

Veja, ao mesmo tempo que Merab descobre uma nova paixão, é o seu amor pela dança que pode afasta-lo da felicidade - e mais uma vez o roteiro se aprofunda em questionar: onde está a felicidade? Essas nuances vão e voltam a cada aproximação entre os personagens em seus diversos ambientes sociais - essa dinâmica faz com que tenhamos a sensação de que, em outro país, o protagonista faria parte um grupo e encontraria seu caminho com mais tranquilidade, mas a barreira está na tradição cultural, na mente fechada da sociedade georgiana. Seja no ambiente familiar, caótico por sinal, no grupo de dança e até nas reuniões com os amigos, a história deixa claro que o homem precisa se relacionar com a mulher. Uma das cenas mais emblemáticas, na minha opinião, é quando Mary (Ana Javakishvili), parceira de dança e amiga intima de Merab, mostra uma camisinha, convidando ele para uma relação sexual casual que, obviamente, ele se esquiva.

"E então nós dançamos" é uma drama de relação onde o pano de fundo é a dança. Dito isso é de se esperar cenas bem coreografadas e culturalmente relevantes para nós que assistimos a produção do outro lado do planeta. Destaco as passagens ao som de ‘Take a Chance on Me’ do ABBA, e ‘Honey’, de Robyn; além da excelente cena final ao melhor estilo "Cisne Negro" / "Flashdance". Muito bem dirigido por Akin (reparem no complexo plano-sequência durante o casamento do irmão do protagonista), o cinema georgiano debuta com classe por aqui e por isso a recomendação - mesmo sabendo que apenas um pequeno nicho dos nosso usuários vão se relacionar bem com a história. Uma pena, já que o filme tem muita qualidade e mereceria maior atenção!

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Evil

"Evil" é muito bacana - um ótimo e despretensioso entretenimento que foi capaz de juntar elementos de "Código da Vinci", da franquia "Invocação do Mal", de "O Advogado do Diabo" e até de "Arquivo X". Por mais que essa mistura soe até indigesta, tudo funciona perfeitamente, pois a série segue o conceito procedural para construir a sua linha narrativa, ou seja, em cada episódio temos um misterioso caso para ser investigado, enquanto acompanhamos um arco maior baseado nos problemas e nas relações conflituosas entre os personagens.

Um seminarista chamado David Acosta (Mike Colter) trabalha para a igreja católica usando sua fé e sua sensibilidade para investigar possíveis casos sobrenaturais. Mas, ele precisa contratar a psicóloga forense Kristen Bouchard (Katja Herbers) para oferecer um contraponto e levantar as dúvidas que naturalmente poderiam surgir. Confira o trailer:

"Evil" (que por aqui ganhou um sugestivo subtítulo, "Contatos Sobrenaturais") foi criada por Robert e Michelle King, o casal responsável por "The Good Wife" e pelo derivado "The Good Fight" e tem Michael Emerson (o Ben de "Lost") no seu elenco. Dito isso, já é possível antecipar que a série não deve ser tão levada a sério para que ela se torne aquele compromisso de "apenas um episódio antes de dormir". Ela carrega esse mood informal e antes de nos darmos conta, estamos viciados - então cuidado!

Vendida como um suspense, posso te garantir que ela não passa nem perto da experiência de assistir "A Maldição da Residência Hill" da Netflix - é importante alinhar essa expectativa. Você pode até levar um susto aqui e outro ali, mas nada que possa impactar na sua noite de sono. Os episódios partem do principio fantástico das situações, mas finalizam com respostas céticas e palpáveis sobre os ditos "fenômenos", porém existe algo por trás e a genialidade do roteiro está em nos dar detalhes que, justamente, não podem ser explicados - essa dualidade de interpretações é muito interessante e praticamente nos transformam em um detetive da internet para encontrar uma possível brecha ou a inconsistência de uma tese.

Outro ponto que me agradou, mesmo não se preocupando em se aprofundar, são os confrontos ideológicos entre ciência e religião. Personificadas por Acosta e Bouchard (e essa ainda conta com a ajuda do ótimo Ben Shakir), as discussões são interessantes, respeitosas e até provocadoras - o clima entre os dois personagens e a tensão sexual que os rodeiam, ajudam criar outro elemento narrativo que funciona perfeitamente com a proposta da série: o que é certo e o que é errado, perante a fé ou a ciência? Os subtextos são excelentes e merecem uma certa atenção, mas nunca interferem na linha mais leve dos episódios - mesmo em assuntos densos.

O final da primeira temporada estabelece alguns ganchos interessantes, mas talvez tenha sido expositiva demais. Por outro lado, o roteiro deixa claro que não existe a menor necessidade de se prender aos casos da semana para a série funcionar - focar na mitologia do arco maior foi uma acerto muito bem explorado na segunda temporada que mantém a qualidade, surpreende até e ainda garante uma renovação para a terceira.

Mais uma vez, "Evil - Contatos Sobrenaturais" é entretenimento puro e muito divertido!

Assista Agora

"Evil" é muito bacana - um ótimo e despretensioso entretenimento que foi capaz de juntar elementos de "Código da Vinci", da franquia "Invocação do Mal", de "O Advogado do Diabo" e até de "Arquivo X". Por mais que essa mistura soe até indigesta, tudo funciona perfeitamente, pois a série segue o conceito procedural para construir a sua linha narrativa, ou seja, em cada episódio temos um misterioso caso para ser investigado, enquanto acompanhamos um arco maior baseado nos problemas e nas relações conflituosas entre os personagens.

Um seminarista chamado David Acosta (Mike Colter) trabalha para a igreja católica usando sua fé e sua sensibilidade para investigar possíveis casos sobrenaturais. Mas, ele precisa contratar a psicóloga forense Kristen Bouchard (Katja Herbers) para oferecer um contraponto e levantar as dúvidas que naturalmente poderiam surgir. Confira o trailer:

"Evil" (que por aqui ganhou um sugestivo subtítulo, "Contatos Sobrenaturais") foi criada por Robert e Michelle King, o casal responsável por "The Good Wife" e pelo derivado "The Good Fight" e tem Michael Emerson (o Ben de "Lost") no seu elenco. Dito isso, já é possível antecipar que a série não deve ser tão levada a sério para que ela se torne aquele compromisso de "apenas um episódio antes de dormir". Ela carrega esse mood informal e antes de nos darmos conta, estamos viciados - então cuidado!

Vendida como um suspense, posso te garantir que ela não passa nem perto da experiência de assistir "A Maldição da Residência Hill" da Netflix - é importante alinhar essa expectativa. Você pode até levar um susto aqui e outro ali, mas nada que possa impactar na sua noite de sono. Os episódios partem do principio fantástico das situações, mas finalizam com respostas céticas e palpáveis sobre os ditos "fenômenos", porém existe algo por trás e a genialidade do roteiro está em nos dar detalhes que, justamente, não podem ser explicados - essa dualidade de interpretações é muito interessante e praticamente nos transformam em um detetive da internet para encontrar uma possível brecha ou a inconsistência de uma tese.

Outro ponto que me agradou, mesmo não se preocupando em se aprofundar, são os confrontos ideológicos entre ciência e religião. Personificadas por Acosta e Bouchard (e essa ainda conta com a ajuda do ótimo Ben Shakir), as discussões são interessantes, respeitosas e até provocadoras - o clima entre os dois personagens e a tensão sexual que os rodeiam, ajudam criar outro elemento narrativo que funciona perfeitamente com a proposta da série: o que é certo e o que é errado, perante a fé ou a ciência? Os subtextos são excelentes e merecem uma certa atenção, mas nunca interferem na linha mais leve dos episódios - mesmo em assuntos densos.

O final da primeira temporada estabelece alguns ganchos interessantes, mas talvez tenha sido expositiva demais. Por outro lado, o roteiro deixa claro que não existe a menor necessidade de se prender aos casos da semana para a série funcionar - focar na mitologia do arco maior foi uma acerto muito bem explorado na segunda temporada que mantém a qualidade, surpreende até e ainda garante uma renovação para a terceira.

Mais uma vez, "Evil - Contatos Sobrenaturais" é entretenimento puro e muito divertido!

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Expresso do Amanhã

"Expresso do Amanhã" (Snowpiercer, título original) do diretor coreano vencedor do Oscar 2020, Bong Joon Ho, é uma mistura do seu mais famoso filme, "Parasita" com "Mãe!" do Darren Aronofsky. Só por essas referências já fica fácil entender a razão pela qual "Expresso do Amanhã" precisa ser assistido, além de justificar a quantidade enorme de indicações que o filme levou em Festivais entre os anos de 2013 e 2014 - foram mais de 100.

Nessa adaptação de uma famosa HQ francesa chamada "Le Transperceneige" de Jacques Lob, Benjamin Legrand e Jean-Marc Rochette, Bong Joon Ho trás mais uma vez para a discussão vários elementos do capitalismo como a pirâmide de classes e as diferenças sociais que assolam nossa sociedade moderna. Dessa vez o cenário é uma locomotiva que, após a extinção humana decorrente de uma alteração climática catastrófica que transformou a Terra em uma enorme Bola do Gelo, se tornou o único refúgio de uma pequena parcela da humanidade que foi dividida em vagões de acordo com sua classe social. Confira o trailer:

Em um único cenário, cheio de metáforas (como em "Mãe!"), com uma forte e profunda crítica social (como em "Parasita"), "Expresso do Amanhã" é mais um daqueles filmes que nos faz sentir culpa por não ter assistido antes. Muito bem realizado, com um roteiro inteligente e um desenho de produção impecável, o filme é um convite para conhecer o trabalho do genial Bong Joon Ho, além de ser um entretenimento de altíssima qualidade - daqueles que nos tira da zona de conforto e nos faz refletir a cada página do roteiro filmada.

O roteiro escrito por Bong Joon Ho e pelo Kelly Masterson ("Risco Imediato") foi muito feliz na adaptação de uma obra extremamente complexa para apenas duas horas - ao focar na insatisfação de Curtis (Chris Evans), um jovem líder da casta mais miserável da locomotiva, a história equilibra muito bem o drama e a ação de um movimento crescente de revolta, quando Curtis e seus companheiro resolvem invadir os demais vagões na busca por condições melhores de sobrevivência. O interessante é que essa jornada de ascendência social é muito bem traduzida de acordo com a construção do ambiente que representa cada vagão. A delicadeza com que as metáforas são inseridas contrasta com o exagero daquele universo, seja ele alegórico ou no over-acting de alguns personagens como a porta-voz/governanta Mason (Tilda Swinton).

As cenas de violência são um espetáculo à parte, bem como em "Parasita", Bong Joon Ho alterna a ação como se fosse uma apresentação de balé, com movimentos do elenco extremamente organizados, com uma câmera completamente caótica e um conceito visual bem "tarantinesco"! Reparem na cena da luta no túnel: a construção da tensão é tão bem feita, que a própria dificuldade de perceber o que realmente está acontecendo serve como um gatilho emocional impressionante. Aliás, a fotografia do diretor Kyung-pyo Hong ajuda a estabelecer tanto o conceito visual como narrativo do filme, deixando tudo muito bem alinhado - a própria escolha de Bong Joon Ho em alternar planos mais abertos para estabelecer a posição social dos personagens, com planos fechados dos momentos de auto-analise do protagonista, ajudam a entender desde a força da discussão social até como ela e o poder podem corromper o ser humano.

Interessante uma frase que li ao pesquisar sobre a profundidade do texto da HQ que claramente guiou a direção do filme e muito me impressionou: "A história funciona como um verdadeiro tubo de ensaio em que os autores analisam toda a humanidade, testando suas capacidades de organização, justiça e relacionamento, e a passagem do protagonista, vagão por vagão, é uma pintura fiel da sociedade estratificada. Com um enredo instigante e violento, repleto de ação e escárnio"! Eu diria que essa sentença resume perfeitamente o que você está prestes a assistir, mas ainda assim cabe um complemento: "Expresso do Amanhã" é um filme corajoso, indigesto e indispensável!

Assista Agora

"Expresso do Amanhã" (Snowpiercer, título original) do diretor coreano vencedor do Oscar 2020, Bong Joon Ho, é uma mistura do seu mais famoso filme, "Parasita" com "Mãe!" do Darren Aronofsky. Só por essas referências já fica fácil entender a razão pela qual "Expresso do Amanhã" precisa ser assistido, além de justificar a quantidade enorme de indicações que o filme levou em Festivais entre os anos de 2013 e 2014 - foram mais de 100.

Nessa adaptação de uma famosa HQ francesa chamada "Le Transperceneige" de Jacques Lob, Benjamin Legrand e Jean-Marc Rochette, Bong Joon Ho trás mais uma vez para a discussão vários elementos do capitalismo como a pirâmide de classes e as diferenças sociais que assolam nossa sociedade moderna. Dessa vez o cenário é uma locomotiva que, após a extinção humana decorrente de uma alteração climática catastrófica que transformou a Terra em uma enorme Bola do Gelo, se tornou o único refúgio de uma pequena parcela da humanidade que foi dividida em vagões de acordo com sua classe social. Confira o trailer:

Em um único cenário, cheio de metáforas (como em "Mãe!"), com uma forte e profunda crítica social (como em "Parasita"), "Expresso do Amanhã" é mais um daqueles filmes que nos faz sentir culpa por não ter assistido antes. Muito bem realizado, com um roteiro inteligente e um desenho de produção impecável, o filme é um convite para conhecer o trabalho do genial Bong Joon Ho, além de ser um entretenimento de altíssima qualidade - daqueles que nos tira da zona de conforto e nos faz refletir a cada página do roteiro filmada.

O roteiro escrito por Bong Joon Ho e pelo Kelly Masterson ("Risco Imediato") foi muito feliz na adaptação de uma obra extremamente complexa para apenas duas horas - ao focar na insatisfação de Curtis (Chris Evans), um jovem líder da casta mais miserável da locomotiva, a história equilibra muito bem o drama e a ação de um movimento crescente de revolta, quando Curtis e seus companheiro resolvem invadir os demais vagões na busca por condições melhores de sobrevivência. O interessante é que essa jornada de ascendência social é muito bem traduzida de acordo com a construção do ambiente que representa cada vagão. A delicadeza com que as metáforas são inseridas contrasta com o exagero daquele universo, seja ele alegórico ou no over-acting de alguns personagens como a porta-voz/governanta Mason (Tilda Swinton).

As cenas de violência são um espetáculo à parte, bem como em "Parasita", Bong Joon Ho alterna a ação como se fosse uma apresentação de balé, com movimentos do elenco extremamente organizados, com uma câmera completamente caótica e um conceito visual bem "tarantinesco"! Reparem na cena da luta no túnel: a construção da tensão é tão bem feita, que a própria dificuldade de perceber o que realmente está acontecendo serve como um gatilho emocional impressionante. Aliás, a fotografia do diretor Kyung-pyo Hong ajuda a estabelecer tanto o conceito visual como narrativo do filme, deixando tudo muito bem alinhado - a própria escolha de Bong Joon Ho em alternar planos mais abertos para estabelecer a posição social dos personagens, com planos fechados dos momentos de auto-analise do protagonista, ajudam a entender desde a força da discussão social até como ela e o poder podem corromper o ser humano.

Interessante uma frase que li ao pesquisar sobre a profundidade do texto da HQ que claramente guiou a direção do filme e muito me impressionou: "A história funciona como um verdadeiro tubo de ensaio em que os autores analisam toda a humanidade, testando suas capacidades de organização, justiça e relacionamento, e a passagem do protagonista, vagão por vagão, é uma pintura fiel da sociedade estratificada. Com um enredo instigante e violento, repleto de ação e escárnio"! Eu diria que essa sentença resume perfeitamente o que você está prestes a assistir, mas ainda assim cabe um complemento: "Expresso do Amanhã" é um filme corajoso, indigesto e indispensável!

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Framing Britney Spears

"Framing Britney Spears", que aqui no Brasil ganhou o subtítulo de "A vida de uma estrela", é mais um documentário produzido pelo The New York Times para a plataforma Hulu. De imediato, temos a sensação de que se trata de mais uma história de construção de um fenômeno pop americano que acaba despencando depois de decisões e atitudes bastante questionáveis. De fato esse arco narrativo está no filme, mas o interessante é a perspectiva que a diretora Samantha Stark nos mostra - o que acaba destruindo aquele pré conceito que tomamos como a mais absoluta verdade sem ao menos nos aprofundar ou procurar entender o outro lado da história.

O documentário acompanha a ascensão de Britney Spears como um fenômeno global até sua queda, considerado até hoje como uma espécie de esporte nacional da mais cruel das formas. A partir de depoimentos de pessoas próximas a ela e de advogados que, de alguma maneira, estavam envolvidos no mistério da tutela legal exercida por seu pai e que gerou um movimento popular importante no país: o Free Britney. Confira o teaser: 

A carreira de Britney Spears é um case de sucesso em um período onde as "boys bands" dominavam as paradas e os corações adolescentes. Sua chegada no cenário musical criou um enorme desconforto, pela forma como ela se apresentava, mas por outro lado provocou um sentimento de identificação que subverteu as inúmeras manifestações machistas, hipócritas e conservadoras, tão comum na sociedade americana. O fato é que Britney venceu, marcou uma geração e o documentário é muito feliz em resumir essa jornada de forma direta, sem perder muito tempo. Hoje, quase 13 anos depois de um surto registrado pelas câmeras e virar piada no mundo inteiro, sua vida é controlada pelo seu pai - mesmo ela sendo considerada capaz de tomar suas próprias decisões. É incrível como muitas pessoas ainda consideram a cantora como uma artista de sucesso que simplesmente surtou e nem se preocupam em entender como a vida dela chegou neste ponto. É exatamente esse o objetivo de "Framing Britney Spears": dar voz à Britney, sem necessariamente poder contar com ela no documentário. 

Veja, não se trata de um documentário com um conceito narrativo inovador ou visualmente inesquecível, digno de Oscar ou muitos prêmios, "Framing Britney Spears" é quase uma reportagem especial de qualquer programa jornalístico com um arco narrativo, digamos, mais cinematográfico - mas isso não deve incomodar, pois a história é realmente muito boa e a maneira como a diretora nos apresenta essa jornada, cria um vinculo emocional com a protagonista que fica difícil não defende-la. Os que antes a consideravam uma louca, certamente vão enxergar a situação com outros olhos.

O documentário é superficial, está longe de ter a qualidade narrativa e a pesquisa de "Sandy & Junior: A História", por exemplo; mas atinge seu objetivo e nos entretem ao mesmo temo que nos faz refletir sobre como existe um certo prazer sádico em endeusar um artista (ou esportista) durante o seu ápice, para depois sacramentar sua queda, transformando sua vida em um verdadeiro inferno - como em "Tiger" da HBO, para citar outra produção na mesma linha.

A verdade é que esse é outro documentário onde final não é tão feliz, mas que pelo menos ainda nos deixa uma esperança. Vale o play!

Assista Agora

"Framing Britney Spears", que aqui no Brasil ganhou o subtítulo de "A vida de uma estrela", é mais um documentário produzido pelo The New York Times para a plataforma Hulu. De imediato, temos a sensação de que se trata de mais uma história de construção de um fenômeno pop americano que acaba despencando depois de decisões e atitudes bastante questionáveis. De fato esse arco narrativo está no filme, mas o interessante é a perspectiva que a diretora Samantha Stark nos mostra - o que acaba destruindo aquele pré conceito que tomamos como a mais absoluta verdade sem ao menos nos aprofundar ou procurar entender o outro lado da história.

O documentário acompanha a ascensão de Britney Spears como um fenômeno global até sua queda, considerado até hoje como uma espécie de esporte nacional da mais cruel das formas. A partir de depoimentos de pessoas próximas a ela e de advogados que, de alguma maneira, estavam envolvidos no mistério da tutela legal exercida por seu pai e que gerou um movimento popular importante no país: o Free Britney. Confira o teaser: 

A carreira de Britney Spears é um case de sucesso em um período onde as "boys bands" dominavam as paradas e os corações adolescentes. Sua chegada no cenário musical criou um enorme desconforto, pela forma como ela se apresentava, mas por outro lado provocou um sentimento de identificação que subverteu as inúmeras manifestações machistas, hipócritas e conservadoras, tão comum na sociedade americana. O fato é que Britney venceu, marcou uma geração e o documentário é muito feliz em resumir essa jornada de forma direta, sem perder muito tempo. Hoje, quase 13 anos depois de um surto registrado pelas câmeras e virar piada no mundo inteiro, sua vida é controlada pelo seu pai - mesmo ela sendo considerada capaz de tomar suas próprias decisões. É incrível como muitas pessoas ainda consideram a cantora como uma artista de sucesso que simplesmente surtou e nem se preocupam em entender como a vida dela chegou neste ponto. É exatamente esse o objetivo de "Framing Britney Spears": dar voz à Britney, sem necessariamente poder contar com ela no documentário. 

Veja, não se trata de um documentário com um conceito narrativo inovador ou visualmente inesquecível, digno de Oscar ou muitos prêmios, "Framing Britney Spears" é quase uma reportagem especial de qualquer programa jornalístico com um arco narrativo, digamos, mais cinematográfico - mas isso não deve incomodar, pois a história é realmente muito boa e a maneira como a diretora nos apresenta essa jornada, cria um vinculo emocional com a protagonista que fica difícil não defende-la. Os que antes a consideravam uma louca, certamente vão enxergar a situação com outros olhos.

O documentário é superficial, está longe de ter a qualidade narrativa e a pesquisa de "Sandy & Junior: A História", por exemplo; mas atinge seu objetivo e nos entretem ao mesmo temo que nos faz refletir sobre como existe um certo prazer sádico em endeusar um artista (ou esportista) durante o seu ápice, para depois sacramentar sua queda, transformando sua vida em um verdadeiro inferno - como em "Tiger" da HBO, para citar outra produção na mesma linha.

A verdade é que esse é outro documentário onde final não é tão feliz, mas que pelo menos ainda nos deixa uma esperança. Vale o play!

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Galvão: Olha o que ele fez

A voz dele se confundiu com a história esportiva do país nos últimos 40 e poucos anos. Aliás, ninguém cobriu mais vitórias (e derrotas) do esporte brasileiro como ele. Sim, estou falando do locutor Galvão Bueno que teve um recorte bastante interessante de sua vida, com alguns momentos dos mais marcantes de sua carreira, retratados no documentário original da Globoplay, "Galvão: Olha o que ele fez". Dirigido pelo Sidney Garambone e pelo Gustavo Gomes, os cinco episódios tem um conceito visual e uma dinâmica narrativa das mais interessantes - equilibrando perfeitamente o lado humano com o do personagem "Galvão". Fica o aviso: para aqueles que são apaixonados pelo esporte, é impossível não maratonar essa série!

A beleza de "Galvão: Olha o que ele fez" está justamente na honestidade de seu protagonista. A partir de depoimentos do próprio Galvão e de muitas celebridades do esporte e do jornalismo, a série se concentra em expor os bastidores de sua jornada como locutor, além de sua intimidade profissional e, olha só, pessoal, como marido e pai. A série, obviamente, aborda seus momentos mais importantes, as conquistas, as dores e os muitos desafios profissionais, mas também desmistifica o personagem de um forma nunca vista antes e que vai te surpreender. Confira o trailer que você terá uma ideia do que esperar:

Galvão Bueno pode não ser uma unanimidade - alguns apreciam sua paixão e entusiasmo, enquanto outros criticam veemente sua forma de narrar um jogo ou de tecer alguns comentários, digamos, mais exaltados; mas é inegável que ele está (e estará) na memória emotiva da maioria dos brasileiros há (e por) muito tempo. Sua presença como locutor titular da Rede Globo proporcionou para ele e para nós, incontáveis jornadas esportivas que iam da Fórmula 1 ao Futebol, passando pelo Vôlei, pelo Boxe, pelo Basquete, etc. 

E é mais ou menos seguindo essa linha nostálgica que o roteiro de "Galvão: Olha o que ele fez" consegue capturar uma verdade muito difícil para esse tipo de celebridade. O interessante, no entanto, é que a linha temporal de toda essa longa história é pontuada pelo presente, mais precisamente pelos jogos da Seleção na última Copa do Mundo, e isso nos dá a exata noção da responsabilidade que é comandar um evento esportivo como esse - assistir aos jogos pelo ponto de vista do Galvão, dentro de sua cabine de transmissão e ao lados de toda sua equipe, é simplesmente sensacional. A preparação, as resenhas com os amigos mais próximos, os bastidores antes de entrar no ar; tudo isso é mostrado, e melhor: sem filtro!

É praticamente impossível nominar todas as pessoas que deram seu depoimento durante a série - falando bem (e mal) de algumas de suas atitudes e posturas perante assuntos espinhosos, ou até de como ele mesmo foi se construindo e se tornando a "a voz do esporte" na Globo. Seu poder e influência é facilmente percebido por essas conversas com jornalistas, atletas, executivos e até com seus filhos e mulher. Suas paixões e desafetos também estão lá - e aqui cabe a curiosa informação das pessoas que não quiseram participar do projeto, é o caso do Piquet, do Renato Mauricio Prado, do Felipão e até do Neymar.

O fato é que "Galvão: Olha o que ele fez" é um documentário para assistir muitas vezes, um verdadeiro presente para quem viveu as melhores (e piores) experiências com o esporte desde os anos 80 ao lado de um profissional que é considerado insubstituível. Galvão Bueno para muitos é um gênio, para outros "chato pra caramba", mas olhar para sua carreira e não entender a importância dessa obra como recorte histórico da televisão brasileira e do esporte mundial, ou até como homenagem se assim preferirem, passa pela imaturidade de não celebrar o que será realmente inesquecível! 

Golaço da Globoplay! 

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A voz dele se confundiu com a história esportiva do país nos últimos 40 e poucos anos. Aliás, ninguém cobriu mais vitórias (e derrotas) do esporte brasileiro como ele. Sim, estou falando do locutor Galvão Bueno que teve um recorte bastante interessante de sua vida, com alguns momentos dos mais marcantes de sua carreira, retratados no documentário original da Globoplay, "Galvão: Olha o que ele fez". Dirigido pelo Sidney Garambone e pelo Gustavo Gomes, os cinco episódios tem um conceito visual e uma dinâmica narrativa das mais interessantes - equilibrando perfeitamente o lado humano com o do personagem "Galvão". Fica o aviso: para aqueles que são apaixonados pelo esporte, é impossível não maratonar essa série!

A beleza de "Galvão: Olha o que ele fez" está justamente na honestidade de seu protagonista. A partir de depoimentos do próprio Galvão e de muitas celebridades do esporte e do jornalismo, a série se concentra em expor os bastidores de sua jornada como locutor, além de sua intimidade profissional e, olha só, pessoal, como marido e pai. A série, obviamente, aborda seus momentos mais importantes, as conquistas, as dores e os muitos desafios profissionais, mas também desmistifica o personagem de um forma nunca vista antes e que vai te surpreender. Confira o trailer que você terá uma ideia do que esperar:

Galvão Bueno pode não ser uma unanimidade - alguns apreciam sua paixão e entusiasmo, enquanto outros criticam veemente sua forma de narrar um jogo ou de tecer alguns comentários, digamos, mais exaltados; mas é inegável que ele está (e estará) na memória emotiva da maioria dos brasileiros há (e por) muito tempo. Sua presença como locutor titular da Rede Globo proporcionou para ele e para nós, incontáveis jornadas esportivas que iam da Fórmula 1 ao Futebol, passando pelo Vôlei, pelo Boxe, pelo Basquete, etc. 

E é mais ou menos seguindo essa linha nostálgica que o roteiro de "Galvão: Olha o que ele fez" consegue capturar uma verdade muito difícil para esse tipo de celebridade. O interessante, no entanto, é que a linha temporal de toda essa longa história é pontuada pelo presente, mais precisamente pelos jogos da Seleção na última Copa do Mundo, e isso nos dá a exata noção da responsabilidade que é comandar um evento esportivo como esse - assistir aos jogos pelo ponto de vista do Galvão, dentro de sua cabine de transmissão e ao lados de toda sua equipe, é simplesmente sensacional. A preparação, as resenhas com os amigos mais próximos, os bastidores antes de entrar no ar; tudo isso é mostrado, e melhor: sem filtro!

É praticamente impossível nominar todas as pessoas que deram seu depoimento durante a série - falando bem (e mal) de algumas de suas atitudes e posturas perante assuntos espinhosos, ou até de como ele mesmo foi se construindo e se tornando a "a voz do esporte" na Globo. Seu poder e influência é facilmente percebido por essas conversas com jornalistas, atletas, executivos e até com seus filhos e mulher. Suas paixões e desafetos também estão lá - e aqui cabe a curiosa informação das pessoas que não quiseram participar do projeto, é o caso do Piquet, do Renato Mauricio Prado, do Felipão e até do Neymar.

O fato é que "Galvão: Olha o que ele fez" é um documentário para assistir muitas vezes, um verdadeiro presente para quem viveu as melhores (e piores) experiências com o esporte desde os anos 80 ao lado de um profissional que é considerado insubstituível. Galvão Bueno para muitos é um gênio, para outros "chato pra caramba", mas olhar para sua carreira e não entender a importância dessa obra como recorte histórico da televisão brasileira e do esporte mundial, ou até como homenagem se assim preferirem, passa pela imaturidade de não celebrar o que será realmente inesquecível! 

Golaço da Globoplay! 

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