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Brian Banks: Um Sonho Interrompido

"Brian Banks" (que no Brasil ganhou o expositivo subtítulo de "Um Sonho Interrompido") é o tipo do filme que desde a primeira cena temos a exata sensação de já conhecermos a história. Mesmo baseado em um caso real, de fato, a trama não tem nada de original, mas nem por isso deixa de ser uma jornada interessante - o filme dirigido pelo Tom Shadyac (do inesquecível "Patch Adams, o Amor é Contagioso") cumpre muito bem o seu papel como entretenimento, sua história é tão revoltante quanto envolvente, mas o tom é leve, gostoso de assistir.

Brian Banks (Aldis Hodge) é um astro de futebol americano universitário que vê seu sonho de jogar na NFL ser interrompido ao ser acusado por um crime que não cometeu. Mesmo com a ausência de provas, Banks é mal orientado e por isso acaba condenado a dez anos de prisão. Já em liberdade condicional, ele tenta retomar sua vida, provar sua inocência e, claro, ir atrás de seus sonhos como esportista. Confira o trailer (em inglês):

A escolha do roteiro escrito pelo Doug Atchison (de "Um Crime Racial") em retratar a triste realidade que um ex-presidiário enfrenta no dia a dia, especialmente sendo negro, funciona apenas como gatilho para nos conectarmos imediatamente ao protagonista. Aqui não temos dúvida que ele é mesmo inocente, que ele é mais uma vítima de racismo, de um sistema corrompido e de uma condenação absurda. O drama não está no crime, mas em como isso deixa marcas em quem foi injustiçado. É por isso que ao discutir esses temas, o filme não pesa na mão - o tom de esperança é tão latente que temos certeza que tudo vai dar certo no final. Isso pode até ser um problema para alguns, mas a ideia é justamente mostrar que a percepção do "copo meio cheio", muitas vezes é o que nos motiva a continuar enfrentando as dificuldades da vida.

Sim, o filme tem um pezinho no "espiritual" de "O Segredo - Ouse Sonhar"ao mesmo tempo em que traz elementos narrativos mais dramáticos dos filmes de tribunal como em "Luta por Justiça" - Morgan Freeman e Greg Kinnear são as personificações dessa dualidade narrativa. Tanto de um lado quanto de outro, você vai se deparar com uma série de clichês, mas a tendência é que isso não te incomode (pelo menos não muito). Veja, quando o protagonista está na pior, na solitária de uma prisão, e surge uma luz (literalmente) dando força para que ele continue acreditando que tudo vai melhorar, tendemos a desacreditar no poder transformador do ser humano como ferramenta de auto-superação, por outro lado nos faz refletir sobre aquelas passagens bem íntimas e solitárias que não podemos (ou sabemos) explicar com tanta exatidão - talvez nesse contexto, como linguagem cinematográfica, o filme até vacile um pouco na sua "forma", mas, sinceramente, no "conteúdo" em si, toda essa alegoria faz muito mais sentido. 

"Brian Banks: Um Sonho Interrompido" tenta se equilibrar ao mostrar uma versão "pé no chão" da história com aquela leve inclinação para a "auto-ajuda", no entanto o resultado surpreende pela honestidade com que o roteiro expõe esses lados. Se a produção foge do embate filosófico, certamente ela defende sua versão dos fatos e com isso mergulhamos cada vez mais na dor do protagonista sem se sentir na obrigação de acreditar em tudo que vemos na tela - isso é entretenimento!

Em tempo, o filme tem o futebol americanos como pano bem de fundo - então não espere nenhuma relação mais próxima com o esporte que o fato do protagonista ter tido seu sonho de criança interrompido.

Vale seu play!

Assista Agora

"Brian Banks" (que no Brasil ganhou o expositivo subtítulo de "Um Sonho Interrompido") é o tipo do filme que desde a primeira cena temos a exata sensação de já conhecermos a história. Mesmo baseado em um caso real, de fato, a trama não tem nada de original, mas nem por isso deixa de ser uma jornada interessante - o filme dirigido pelo Tom Shadyac (do inesquecível "Patch Adams, o Amor é Contagioso") cumpre muito bem o seu papel como entretenimento, sua história é tão revoltante quanto envolvente, mas o tom é leve, gostoso de assistir.

Brian Banks (Aldis Hodge) é um astro de futebol americano universitário que vê seu sonho de jogar na NFL ser interrompido ao ser acusado por um crime que não cometeu. Mesmo com a ausência de provas, Banks é mal orientado e por isso acaba condenado a dez anos de prisão. Já em liberdade condicional, ele tenta retomar sua vida, provar sua inocência e, claro, ir atrás de seus sonhos como esportista. Confira o trailer (em inglês):

A escolha do roteiro escrito pelo Doug Atchison (de "Um Crime Racial") em retratar a triste realidade que um ex-presidiário enfrenta no dia a dia, especialmente sendo negro, funciona apenas como gatilho para nos conectarmos imediatamente ao protagonista. Aqui não temos dúvida que ele é mesmo inocente, que ele é mais uma vítima de racismo, de um sistema corrompido e de uma condenação absurda. O drama não está no crime, mas em como isso deixa marcas em quem foi injustiçado. É por isso que ao discutir esses temas, o filme não pesa na mão - o tom de esperança é tão latente que temos certeza que tudo vai dar certo no final. Isso pode até ser um problema para alguns, mas a ideia é justamente mostrar que a percepção do "copo meio cheio", muitas vezes é o que nos motiva a continuar enfrentando as dificuldades da vida.

Sim, o filme tem um pezinho no "espiritual" de "O Segredo - Ouse Sonhar"ao mesmo tempo em que traz elementos narrativos mais dramáticos dos filmes de tribunal como em "Luta por Justiça" - Morgan Freeman e Greg Kinnear são as personificações dessa dualidade narrativa. Tanto de um lado quanto de outro, você vai se deparar com uma série de clichês, mas a tendência é que isso não te incomode (pelo menos não muito). Veja, quando o protagonista está na pior, na solitária de uma prisão, e surge uma luz (literalmente) dando força para que ele continue acreditando que tudo vai melhorar, tendemos a desacreditar no poder transformador do ser humano como ferramenta de auto-superação, por outro lado nos faz refletir sobre aquelas passagens bem íntimas e solitárias que não podemos (ou sabemos) explicar com tanta exatidão - talvez nesse contexto, como linguagem cinematográfica, o filme até vacile um pouco na sua "forma", mas, sinceramente, no "conteúdo" em si, toda essa alegoria faz muito mais sentido. 

"Brian Banks: Um Sonho Interrompido" tenta se equilibrar ao mostrar uma versão "pé no chão" da história com aquela leve inclinação para a "auto-ajuda", no entanto o resultado surpreende pela honestidade com que o roteiro expõe esses lados. Se a produção foge do embate filosófico, certamente ela defende sua versão dos fatos e com isso mergulhamos cada vez mais na dor do protagonista sem se sentir na obrigação de acreditar em tudo que vemos na tela - isso é entretenimento!

Em tempo, o filme tem o futebol americanos como pano bem de fundo - então não espere nenhuma relação mais próxima com o esporte que o fato do protagonista ter tido seu sonho de criança interrompido.

Vale seu play!

Assista Agora

Cadáver

"Cadáver" (ou Kadaver, no seu título original) é um filme norueguês que vem chamando muito a atenção dos assinantes da Netflix por apresentar uma história criativa bem ao estilo "Sleep No More" - espetáculo que trás uma interessante proposta narrativa conhecida como teatro de imersão. Vale ressaltar que essa é, provavelmente, a experiência teatral mais original em muito tempo, de Nova York, onde você não senta para assistir a peça, pois não existe palco para se ter platéia; se você quer saber a história, é preciso acompanhar os atores pelos corredores e cômodos de um hotel, vivenciar as cenas, mesmo que mascarados para diferenciar público de personagens.

Pois bem, esse suspense psicológico da Netflix mostra uma cidade arrasada por uma catástrofe nuclear, onde as pessoas não tem o que comer e, literalmente, estão morrendo de fome e de frio pelas ruas. Escondidos em uma casa, a ex-atriz Leo (Gitte Witt) tenta sobreviver como pode com sua filha de dez anos, Alice (Tuva Olivia Remman), e com seu marido, Jacob (Thomas Gullestad). É nessa realidade devastadora, mas relativizada pelo lúdico da relação mãe e filha, que surge um fio de esperança quando o dono de um hotel de luxo da cidade convida alguns moradores para um misterioso jantar que culminará, justamente, em um bizarro espetáculo de teatro imersivo! Confira o trailer:

Talvez "Cadáver" não tenha o impacto visual para chocar ou até uma profundidade narrativa como o "O Poço", porém é preciso dizer que o diretor e roteirista Jarand Herdal (Everywhen) teve o grande mérito de criar uma constante tensão se apoiando muito mais no medo do desconhecido do que nos sustos que poderíamos levar durante o filme e isso, propositalmente, nos remete ao estilo de entretenimento que temos ao assistir um teatro imersivo: o fato de Herdal manipular nossa curiosidade ao mesmo tempo que manipula as sensações de insegurança dos protagonistas nos coloca dentro daquela realidade!

Saiba que não se trata de algo tão marcante, mas mesmo assim vale muito a pena se você se interessa pelo estilo do filme, por se tratar de uma escola cinematográfica completamente diferente do que estamos acostumados e, claro, por nos provocar a entender o que de fato está acontecendo ali.

Quando entendemos que a maior referência de "Cadáver" vem da obra de Lewis Carroll e é praticamente uma versão macabra de "Alice no País das Maravilhas", tudo passa a fazer um pouco mais de sentido. Veja: Alice é uma linda menina loira, seu bicho de pelúcia é um coelho, o convite para o chá na verdade é um banquete que antecede o espetáculo, Mathias é um anfitrião maluco como o chapeleiro, o cenário é repleto de espelhos, buracos e formas, e o tempo se torna questão de sobrevivência para tentar encontrar o caminho de volta para casa. Reparem: não é por acaso que, na chegada da família ao hotel, Mathias diz, encantado com a pequena Alice:Você deixa eu te mostrar o meu País das Maravilhas?”

Marcante como a versão de Tim Burton para o clássico de Carroll, "Cadáver" trás a bela fotografia de Jallo Faber que mostra diferentes ambientes, separados como universos, a partir de uma predominância azulada e fria para o mundo exterior, pontuada com o vermelho do figurino de Alice, e uma linha mais amarelada, quente, quase "kubrickiana" dentro do hotel. Aliás, o cenário é quase um copy/paste de "O Iluminado" - repleto de corredores longos e escuros, quadros de animais (na maioria das vezes, mortos) e um mobilia pesada, vitoriana.

Se visualmente o filme chama atenção é no roteiro que ele vacila: Herdal pesa na mão ao focar na busca desesperada de uma mãe por sua filha e esquece de tudo que está acontecendo a sua volta. Não que isso não carregue um drama natural, mas é que quase nada é revelado durante os dois primeiros atos e, de repente, tudo é despejado no terceiro para finalizar o arco principal e os secundários, sem muitas explicações e com motivações bem previsíveis, eu diria.

É fato que a história não tem um ritmo tão marcante quanto "Us" do Jordan Peele, por exemplo, mas é impossível negar que ela não te prenda! Por tudo isso vale a recomendação e a promessa de um entretenimento de qualidade, mas que não vai ser inesquecível (como poderia)!

Assista Agora

"Cadáver" (ou Kadaver, no seu título original) é um filme norueguês que vem chamando muito a atenção dos assinantes da Netflix por apresentar uma história criativa bem ao estilo "Sleep No More" - espetáculo que trás uma interessante proposta narrativa conhecida como teatro de imersão. Vale ressaltar que essa é, provavelmente, a experiência teatral mais original em muito tempo, de Nova York, onde você não senta para assistir a peça, pois não existe palco para se ter platéia; se você quer saber a história, é preciso acompanhar os atores pelos corredores e cômodos de um hotel, vivenciar as cenas, mesmo que mascarados para diferenciar público de personagens.

Pois bem, esse suspense psicológico da Netflix mostra uma cidade arrasada por uma catástrofe nuclear, onde as pessoas não tem o que comer e, literalmente, estão morrendo de fome e de frio pelas ruas. Escondidos em uma casa, a ex-atriz Leo (Gitte Witt) tenta sobreviver como pode com sua filha de dez anos, Alice (Tuva Olivia Remman), e com seu marido, Jacob (Thomas Gullestad). É nessa realidade devastadora, mas relativizada pelo lúdico da relação mãe e filha, que surge um fio de esperança quando o dono de um hotel de luxo da cidade convida alguns moradores para um misterioso jantar que culminará, justamente, em um bizarro espetáculo de teatro imersivo! Confira o trailer:

Talvez "Cadáver" não tenha o impacto visual para chocar ou até uma profundidade narrativa como o "O Poço", porém é preciso dizer que o diretor e roteirista Jarand Herdal (Everywhen) teve o grande mérito de criar uma constante tensão se apoiando muito mais no medo do desconhecido do que nos sustos que poderíamos levar durante o filme e isso, propositalmente, nos remete ao estilo de entretenimento que temos ao assistir um teatro imersivo: o fato de Herdal manipular nossa curiosidade ao mesmo tempo que manipula as sensações de insegurança dos protagonistas nos coloca dentro daquela realidade!

Saiba que não se trata de algo tão marcante, mas mesmo assim vale muito a pena se você se interessa pelo estilo do filme, por se tratar de uma escola cinematográfica completamente diferente do que estamos acostumados e, claro, por nos provocar a entender o que de fato está acontecendo ali.

Quando entendemos que a maior referência de "Cadáver" vem da obra de Lewis Carroll e é praticamente uma versão macabra de "Alice no País das Maravilhas", tudo passa a fazer um pouco mais de sentido. Veja: Alice é uma linda menina loira, seu bicho de pelúcia é um coelho, o convite para o chá na verdade é um banquete que antecede o espetáculo, Mathias é um anfitrião maluco como o chapeleiro, o cenário é repleto de espelhos, buracos e formas, e o tempo se torna questão de sobrevivência para tentar encontrar o caminho de volta para casa. Reparem: não é por acaso que, na chegada da família ao hotel, Mathias diz, encantado com a pequena Alice:Você deixa eu te mostrar o meu País das Maravilhas?”

Marcante como a versão de Tim Burton para o clássico de Carroll, "Cadáver" trás a bela fotografia de Jallo Faber que mostra diferentes ambientes, separados como universos, a partir de uma predominância azulada e fria para o mundo exterior, pontuada com o vermelho do figurino de Alice, e uma linha mais amarelada, quente, quase "kubrickiana" dentro do hotel. Aliás, o cenário é quase um copy/paste de "O Iluminado" - repleto de corredores longos e escuros, quadros de animais (na maioria das vezes, mortos) e um mobilia pesada, vitoriana.

Se visualmente o filme chama atenção é no roteiro que ele vacila: Herdal pesa na mão ao focar na busca desesperada de uma mãe por sua filha e esquece de tudo que está acontecendo a sua volta. Não que isso não carregue um drama natural, mas é que quase nada é revelado durante os dois primeiros atos e, de repente, tudo é despejado no terceiro para finalizar o arco principal e os secundários, sem muitas explicações e com motivações bem previsíveis, eu diria.

É fato que a história não tem um ritmo tão marcante quanto "Us" do Jordan Peele, por exemplo, mas é impossível negar que ela não te prenda! Por tudo isso vale a recomendação e a promessa de um entretenimento de qualidade, mas que não vai ser inesquecível (como poderia)!

Assista Agora

Campeões

Se você está procurando um filme leve que vai melhorar o seu astral, daqueles que você assiste com um leve sorriso no rosto e que, de fato, te toca a alma; "Campeões" é a escolha certa. Versão americana do filme espanhol vencedor do prêmio Goya em 2019, "Campeões" é realmente um filme imperdível, que conquista corações e desafia o preconceito de uma forma muito sensível e bem humorada. Ao abordar as dificuldades impregnadas na sociedade quando o assunto é a inclusão de pessoas com deficiência, o diretor Bobby Farrelly (de "Quem Vai Ficar com Mary?") acaba encontrando o exato equilíbrio entre o drama e a comédia de uma maneira muito realista, emocionante e totalmente humana. Mesmo que soe se apoiar em alguns clichês, algo que a versão original não tem, Farrelly mostra que é possível entregar uma mensagem dura e direta sem precisar impactar visualmente a audiência. Tenha certeza que estamos diante de um filme delicioso de assistir!

Aqui Woody Harrelson protagoniza uma hilária e comovente história sobre um ex-técnico de basquete da liga secundária americana, chamado Marcus, que, após uma série de vacilos, é ordenado pelo tribunal a gerenciar de forma voluntária um time de jovens jogadores com algum tipo de deficiência intelectual. Ao perceber que, apesar de suas dúvidas e dificuldades, ele e o time podem ir muito mais longe do que todos jamais imaginaram, se inicia uma linda jornada de superação e auto-conhecimento. Confira o trailer:

Antes de mais nada, saiba que esse filme não é sobre basquete - "Campeões" é sobre pessoas! Baseado no brilhante roteiro de Javier Fesser e David Marqués, esse inteligente e bem estruturado filme sabe muito bem como alternar momentos de humor (daqueles que o texto só amplifica o poder da situação) com cenas de profunda emoção ao som de uma trilha sonora belíssima e muito bem trabalhada para nos provocar sensações bastante particulares. Farrelly demonstra sensibilidade e competência ao conduzir a história, criando uma atmosfera acolhedora e inspiradora de fácil conexão. Eu diria que é impossível não se apaixonar pelo time dos "Friends" e por sua jornada!

Não é preciso mais do que duas cenas para entender como "Campeões" se destaca pela performance impecável do elenco. Harrelson, mais uma vez, parece se divertir em cena, entregando um personagem complexo e em constante transformação - sem nunca pesar na mão. Já o time de atores com deficiência, como Kevin Iannucci e James Day Keith, brilham em seus papeis, mostrando um talento impressionante e um carisma que olha, vai deixar muita gente de queixo caído. Reparem como a química entre os membros do time é tão contagiante que temos a exata sensação de que aquela história é mais do que uma ficção - essa relação que o diretor conseguiu construir, contribui demais para a veracidade da história. A fotografia do indicado ao Emmy por por "Still - Ainda Sou Michael J. Fox", C. Kim Miles, é vibrante e imersiva - o que ratifica a leveza da trama ao mesmo tempo em que documenta a realidade de cada personagem.  

A grande verdade, aliás, é que "Champions" (no original) além de impecável tecnicamente, tem todos os elementos artísticos que chancelam o filme como "imperdível". Para todos que acreditam no poder transformador da inclusão, temos uma história simples e envolvente que vai te fazer rir, chorar e, principalmente, te fazer refletir sobre a importância da empatia e do respeito perante as diferenças. Olha, na linha de "Extraordinário" (mas com um certo "upgrade" narrativo), o filme é mesmo um verdadeiro triunfo que nos convida a celebrar a beleza real da diversidade na prática!

Golaço, ou melhor "cestaça"!

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Se você está procurando um filme leve que vai melhorar o seu astral, daqueles que você assiste com um leve sorriso no rosto e que, de fato, te toca a alma; "Campeões" é a escolha certa. Versão americana do filme espanhol vencedor do prêmio Goya em 2019, "Campeões" é realmente um filme imperdível, que conquista corações e desafia o preconceito de uma forma muito sensível e bem humorada. Ao abordar as dificuldades impregnadas na sociedade quando o assunto é a inclusão de pessoas com deficiência, o diretor Bobby Farrelly (de "Quem Vai Ficar com Mary?") acaba encontrando o exato equilíbrio entre o drama e a comédia de uma maneira muito realista, emocionante e totalmente humana. Mesmo que soe se apoiar em alguns clichês, algo que a versão original não tem, Farrelly mostra que é possível entregar uma mensagem dura e direta sem precisar impactar visualmente a audiência. Tenha certeza que estamos diante de um filme delicioso de assistir!

Aqui Woody Harrelson protagoniza uma hilária e comovente história sobre um ex-técnico de basquete da liga secundária americana, chamado Marcus, que, após uma série de vacilos, é ordenado pelo tribunal a gerenciar de forma voluntária um time de jovens jogadores com algum tipo de deficiência intelectual. Ao perceber que, apesar de suas dúvidas e dificuldades, ele e o time podem ir muito mais longe do que todos jamais imaginaram, se inicia uma linda jornada de superação e auto-conhecimento. Confira o trailer:

Antes de mais nada, saiba que esse filme não é sobre basquete - "Campeões" é sobre pessoas! Baseado no brilhante roteiro de Javier Fesser e David Marqués, esse inteligente e bem estruturado filme sabe muito bem como alternar momentos de humor (daqueles que o texto só amplifica o poder da situação) com cenas de profunda emoção ao som de uma trilha sonora belíssima e muito bem trabalhada para nos provocar sensações bastante particulares. Farrelly demonstra sensibilidade e competência ao conduzir a história, criando uma atmosfera acolhedora e inspiradora de fácil conexão. Eu diria que é impossível não se apaixonar pelo time dos "Friends" e por sua jornada!

Não é preciso mais do que duas cenas para entender como "Campeões" se destaca pela performance impecável do elenco. Harrelson, mais uma vez, parece se divertir em cena, entregando um personagem complexo e em constante transformação - sem nunca pesar na mão. Já o time de atores com deficiência, como Kevin Iannucci e James Day Keith, brilham em seus papeis, mostrando um talento impressionante e um carisma que olha, vai deixar muita gente de queixo caído. Reparem como a química entre os membros do time é tão contagiante que temos a exata sensação de que aquela história é mais do que uma ficção - essa relação que o diretor conseguiu construir, contribui demais para a veracidade da história. A fotografia do indicado ao Emmy por por "Still - Ainda Sou Michael J. Fox", C. Kim Miles, é vibrante e imersiva - o que ratifica a leveza da trama ao mesmo tempo em que documenta a realidade de cada personagem.  

A grande verdade, aliás, é que "Champions" (no original) além de impecável tecnicamente, tem todos os elementos artísticos que chancelam o filme como "imperdível". Para todos que acreditam no poder transformador da inclusão, temos uma história simples e envolvente que vai te fazer rir, chorar e, principalmente, te fazer refletir sobre a importância da empatia e do respeito perante as diferenças. Olha, na linha de "Extraordinário" (mas com um certo "upgrade" narrativo), o filme é mesmo um verdadeiro triunfo que nos convida a celebrar a beleza real da diversidade na prática!

Golaço, ou melhor "cestaça"!

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Candy

Se Vince Gilligan (de "Breaking Bad") tivesse dirigido "The Sinner", o resultado fatalmente seria algo como o que encontramos em "Candy" (que no Brasil ganhou o sugestivo, para não dizer expositivo, subtítulo de "Uma História de Paixão e Crime"). Além de ter a mesma protagonista, Jessica Biel, a minissérie do Hulu distribuída pelo Star+ por aqui, mistura muitos conceitos (do visual ao narrativo) de Gilligan para contar a história real de uma dona de casa comum que certo dia cometeu um crime terrivelmente bárbaro nada condizente com sua personalidade.

Baseado no livro "Evidence of Love", escrito por Jim Atkinson, "Candy" acompanha Candy Montgomery (Jessica Biel), uma dona de casa do Texas que parecia ter a vida perfeita: um marido amoroso com um bom emprego, filhos lindos e uma casa maravilhosa no subúrbio. Mas então o que a teria levado a matar sua amiga da igreja, Betty Gore (Melanie Lynskey), com um machado? Confira o trailer:

Seguindo uma linha menos dramática, "Candy" talvez fique no exato meio termo entre "The Thing About Pam" (também do Star+) e "The Undoing" (da HBO). O fato da história se passar em uma cidade pacata do Texas, no inicio dos anos 80, naturalmente já cria uma atmosfera bastante estereotipada da sociedade interiorana americana - porém, esse elemento exterior mais colorido esconde uma complexidade bastante interessante sobre os personagens, cheio de camadas, atormentados por aquela vida cotidiana sem expectativas, que certamente nos remete ao monocromático, ao escuro até. Essa dualidade é o ponto alto da minissérie e claramente bebe na mesma fonte de "Breaking Bad" - o desenho de som, os enquadramentos criativos (quase sempre brincado com as distorções tanto nos planos abertos como nos fechados) e o estilo de montagem em retrospectiva, fazem parte da identidade de Gilligan e foram perfeitamente absorvidas pelos quatro diretores que comandam os 5 episódios.

Desde a belíssima abertura (indicada ao Emmy de 2022) já temos a exata noção do emaranhado de situações que vamos precisar desconstruir para entender as motivações de Candy. Se inicialmente tudo parece um pouco fora de propósito, rapidamente o roteiro (e a montagem) trata de ir colocando as peças nos devidos lugares (olha o estilo Gilligan aqui de novo). Em nenhum momento você terá a sensação de estar perdido ou terá dificuldade de entender os personagens envolvidos no crime, não é esse o propósito da série. Nós sabemos quem matou Betty logo de cara, só não sabemos a razão e o que de fato aconteceu. O roteiro trata esse mistério com inteligência, com a direção dando pistas a todo momento (e que lá na frente farão todo o sentido) - ninguém rouba no jogo, então repare em todas as reações dos personagens desde o primeiro episódio.

Jessica Biel, Melanie Lynskey, Pablo Schreiber (como Allan, marido de Betty) e Timothy Simons (como Pat, marido de Candy) estão simplesmente perfeitos - o tom da performance de cada um deles briga sim com o conceito visual da minissérie e isso causa um certo descompasso, um proposital incomodo. Chega a ser surpreendente ninguém do elenco ter sido lembrado no Emmy, especialmente Lynskey. Ao melhor estilo "true crime", "Candy" pode parecer cadenciado demais em sua narrativa, mas essa dinâmica se justifica pela necessidade de apresentação dos personagens e do ambiente em que estão inseridos para que tudo faça mais sentido ao final da história - essa escolha pode cansar alguns, mas eu posso atestar que faz parte da experiência que, na minha opinião, entra naquela lista das melhores de 2022 até aqui.

Vale muito a pena!

PS: A HBO lançará em 2022 sua versão para a mesma história - "Love and Death"  também será inspirada no livro "Evidence of Love: A True Story of Passion and Death in the Suburbs", além de contar com os artigos do "Texas Monthly". O elenco também promete: Elizabeth Olsen será Candy Montgomery e para completar teremos Jesse Plemons, Lily Rabe, Patrick Fugit, Keir Gilchrist, Elizabeth Marvel, Tom Pelphrey e Krysten Ritter. 

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Se Vince Gilligan (de "Breaking Bad") tivesse dirigido "The Sinner", o resultado fatalmente seria algo como o que encontramos em "Candy" (que no Brasil ganhou o sugestivo, para não dizer expositivo, subtítulo de "Uma História de Paixão e Crime"). Além de ter a mesma protagonista, Jessica Biel, a minissérie do Hulu distribuída pelo Star+ por aqui, mistura muitos conceitos (do visual ao narrativo) de Gilligan para contar a história real de uma dona de casa comum que certo dia cometeu um crime terrivelmente bárbaro nada condizente com sua personalidade.

Baseado no livro "Evidence of Love", escrito por Jim Atkinson, "Candy" acompanha Candy Montgomery (Jessica Biel), uma dona de casa do Texas que parecia ter a vida perfeita: um marido amoroso com um bom emprego, filhos lindos e uma casa maravilhosa no subúrbio. Mas então o que a teria levado a matar sua amiga da igreja, Betty Gore (Melanie Lynskey), com um machado? Confira o trailer:

Seguindo uma linha menos dramática, "Candy" talvez fique no exato meio termo entre "The Thing About Pam" (também do Star+) e "The Undoing" (da HBO). O fato da história se passar em uma cidade pacata do Texas, no inicio dos anos 80, naturalmente já cria uma atmosfera bastante estereotipada da sociedade interiorana americana - porém, esse elemento exterior mais colorido esconde uma complexidade bastante interessante sobre os personagens, cheio de camadas, atormentados por aquela vida cotidiana sem expectativas, que certamente nos remete ao monocromático, ao escuro até. Essa dualidade é o ponto alto da minissérie e claramente bebe na mesma fonte de "Breaking Bad" - o desenho de som, os enquadramentos criativos (quase sempre brincado com as distorções tanto nos planos abertos como nos fechados) e o estilo de montagem em retrospectiva, fazem parte da identidade de Gilligan e foram perfeitamente absorvidas pelos quatro diretores que comandam os 5 episódios.

Desde a belíssima abertura (indicada ao Emmy de 2022) já temos a exata noção do emaranhado de situações que vamos precisar desconstruir para entender as motivações de Candy. Se inicialmente tudo parece um pouco fora de propósito, rapidamente o roteiro (e a montagem) trata de ir colocando as peças nos devidos lugares (olha o estilo Gilligan aqui de novo). Em nenhum momento você terá a sensação de estar perdido ou terá dificuldade de entender os personagens envolvidos no crime, não é esse o propósito da série. Nós sabemos quem matou Betty logo de cara, só não sabemos a razão e o que de fato aconteceu. O roteiro trata esse mistério com inteligência, com a direção dando pistas a todo momento (e que lá na frente farão todo o sentido) - ninguém rouba no jogo, então repare em todas as reações dos personagens desde o primeiro episódio.

Jessica Biel, Melanie Lynskey, Pablo Schreiber (como Allan, marido de Betty) e Timothy Simons (como Pat, marido de Candy) estão simplesmente perfeitos - o tom da performance de cada um deles briga sim com o conceito visual da minissérie e isso causa um certo descompasso, um proposital incomodo. Chega a ser surpreendente ninguém do elenco ter sido lembrado no Emmy, especialmente Lynskey. Ao melhor estilo "true crime", "Candy" pode parecer cadenciado demais em sua narrativa, mas essa dinâmica se justifica pela necessidade de apresentação dos personagens e do ambiente em que estão inseridos para que tudo faça mais sentido ao final da história - essa escolha pode cansar alguns, mas eu posso atestar que faz parte da experiência que, na minha opinião, entra naquela lista das melhores de 2022 até aqui.

Vale muito a pena!

PS: A HBO lançará em 2022 sua versão para a mesma história - "Love and Death"  também será inspirada no livro "Evidence of Love: A True Story of Passion and Death in the Suburbs", além de contar com os artigos do "Texas Monthly". O elenco também promete: Elizabeth Olsen será Candy Montgomery e para completar teremos Jesse Plemons, Lily Rabe, Patrick Fugit, Keir Gilchrist, Elizabeth Marvel, Tom Pelphrey e Krysten Ritter. 

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Capitão Fantástico

Capitão Fantástico

Existem duas formas de enxergar "Capitão Fantástico": a primeira com um viés político-social e o segundo a partir da profunda relação familiar estabelecida pelo protagonista e seus filhos. De todo modo, é possível refletir seja qual for o caminho que a audiência escolher - mas é inegável que a alma do roteiro está na jornada de descoberta dos personagens como "família"! Então, antes de mais nada, um conselho: não se apegue ao discurso negacionista sobre os valores do liberalismo econômico em detrimento de uma vida livre e igualitária - o filme é bem melhor que isso, mesmo que certas escolhas sejam interessantes do ponto de vista de conflito (mas a linha crítica é tênue, muito tênue).

Em meio à floresta do Noroeste Pacífico, isolado da sociedade, um devoto pai, Ben (Viggo Mortensen), dedica sua vida a transformar seus seis jovens filhos em adultos extraordinários. Mas, quando uma tragédia atinge a família, eles são forçados a deixar seu paraíso e iniciar uma jornada pelo mundo exterior – um mundo que desafia a ideia do que realmente é ser pai, traz à tona tudo o que ele ensinou e queagora talvez não seja o ideal para seus filhos enfrentarem o que vem pela frente. Confira o trailer:

Um homem que cria seus filhos em uma casa simples no meio da mata, onde ensina desde sobrevivência na selva até o mais erudito da literatura e da música, sempre baseado nos princípios de sociedade ideal de Noam Chomsky, precisa, no mínimo, ser estudado. Porém o roteiro do também diretor e ator Matt Ross (sim ele é o Gavin Belson de "Silicon Valley") vai além: ele se propõe a dissecar várias camadas sociais e artísticas diferentes e que certamente vão provocar inúmeras discussões - e é ai que o filme insere um elemento primordial para nossa conexão que é o valor de tudo isso no crescimento dos nossos filhos e como o mundo vai recebe-los quando eles resolverem voar com as próprias asas. Pela voz do protagonista, vamos ouvir críticas sobre o patético (para alguns) e auto-destrutivo estilo de vida americano baseado no consumo e na ostentação, mas também ótimas reflexões sobre o robotizado (e falido há muito tempo) método de ensino que incentiva os alunos a decorarem a matéria para passar de ano e não para explorarem sua criatividade e capacidade analítica.

Muita coisa fará sentido no discurso de Ben, mas será no embate (quase sempre muito pacífico) com quem não concorda com ele, que "Capitão Fantástico" ganha força como obra dramática - as cenas entre Ben e sua irmã Harper (Kathryn Hahn) são sensacionais. Embora o filme enfoque um mood de road movie tradicional, onde a jornada é mais importante que o objetivo final, é no processo de amadurecimento dos personagens que nos conectamos emocionalmente com a história. São passagens muito emocionantes, com Mortensen mais uma vez dando um show (tanto que ele foi indicado ao Oscar por essa performance). Outro destaque do elenco, GeorgeMacKay como o jovem e inocente Bodevan funciona como um ótimo alívio cômico - a cena dele depois de beijar uma garota pela primeira vez é impagável.

Matt Ross é eficiente em equilibrar um texto provocador com imagens que misturam planos fechados dos atores em momentos extremamente introspectivos com planos abertos de tirar o fôlego, priorizando a natureza e a sensação de liberdade dos personagens - é de fato mais um lindo e competente trabalho da fotógrafa Stéphane Fontaine ("Ferrugem e Osso" e "Jackie"). Dito isso, "Capitão Fantástico" vai te provocar interessantes reflexões, alguns julgamentos e até alguma repulsa (principalmente na primeira sequência do filme), mas tenha em mente que depois desse impacto a narrativa vai por uma trilha mais leve, de resignação e que, mesmo com todas as críticas, culmina em uma interessante e previsível catarse que faz valer o seu play! 

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Existem duas formas de enxergar "Capitão Fantástico": a primeira com um viés político-social e o segundo a partir da profunda relação familiar estabelecida pelo protagonista e seus filhos. De todo modo, é possível refletir seja qual for o caminho que a audiência escolher - mas é inegável que a alma do roteiro está na jornada de descoberta dos personagens como "família"! Então, antes de mais nada, um conselho: não se apegue ao discurso negacionista sobre os valores do liberalismo econômico em detrimento de uma vida livre e igualitária - o filme é bem melhor que isso, mesmo que certas escolhas sejam interessantes do ponto de vista de conflito (mas a linha crítica é tênue, muito tênue).

Em meio à floresta do Noroeste Pacífico, isolado da sociedade, um devoto pai, Ben (Viggo Mortensen), dedica sua vida a transformar seus seis jovens filhos em adultos extraordinários. Mas, quando uma tragédia atinge a família, eles são forçados a deixar seu paraíso e iniciar uma jornada pelo mundo exterior – um mundo que desafia a ideia do que realmente é ser pai, traz à tona tudo o que ele ensinou e queagora talvez não seja o ideal para seus filhos enfrentarem o que vem pela frente. Confira o trailer:

Um homem que cria seus filhos em uma casa simples no meio da mata, onde ensina desde sobrevivência na selva até o mais erudito da literatura e da música, sempre baseado nos princípios de sociedade ideal de Noam Chomsky, precisa, no mínimo, ser estudado. Porém o roteiro do também diretor e ator Matt Ross (sim ele é o Gavin Belson de "Silicon Valley") vai além: ele se propõe a dissecar várias camadas sociais e artísticas diferentes e que certamente vão provocar inúmeras discussões - e é ai que o filme insere um elemento primordial para nossa conexão que é o valor de tudo isso no crescimento dos nossos filhos e como o mundo vai recebe-los quando eles resolverem voar com as próprias asas. Pela voz do protagonista, vamos ouvir críticas sobre o patético (para alguns) e auto-destrutivo estilo de vida americano baseado no consumo e na ostentação, mas também ótimas reflexões sobre o robotizado (e falido há muito tempo) método de ensino que incentiva os alunos a decorarem a matéria para passar de ano e não para explorarem sua criatividade e capacidade analítica.

Muita coisa fará sentido no discurso de Ben, mas será no embate (quase sempre muito pacífico) com quem não concorda com ele, que "Capitão Fantástico" ganha força como obra dramática - as cenas entre Ben e sua irmã Harper (Kathryn Hahn) são sensacionais. Embora o filme enfoque um mood de road movie tradicional, onde a jornada é mais importante que o objetivo final, é no processo de amadurecimento dos personagens que nos conectamos emocionalmente com a história. São passagens muito emocionantes, com Mortensen mais uma vez dando um show (tanto que ele foi indicado ao Oscar por essa performance). Outro destaque do elenco, GeorgeMacKay como o jovem e inocente Bodevan funciona como um ótimo alívio cômico - a cena dele depois de beijar uma garota pela primeira vez é impagável.

Matt Ross é eficiente em equilibrar um texto provocador com imagens que misturam planos fechados dos atores em momentos extremamente introspectivos com planos abertos de tirar o fôlego, priorizando a natureza e a sensação de liberdade dos personagens - é de fato mais um lindo e competente trabalho da fotógrafa Stéphane Fontaine ("Ferrugem e Osso" e "Jackie"). Dito isso, "Capitão Fantástico" vai te provocar interessantes reflexões, alguns julgamentos e até alguma repulsa (principalmente na primeira sequência do filme), mas tenha em mente que depois desse impacto a narrativa vai por uma trilha mais leve, de resignação e que, mesmo com todas as críticas, culmina em uma interessante e previsível catarse que faz valer o seu play! 

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Capote

“Capote” é um belíssimo drama sobre o escritor Truman Capote e seu desejo de destrinchar todas as informações de um crime brutal.

No filme, Truman Capote (Philip Seymour Hoffman) lê um artigo no jornal sobre o assassinato de quatro integrantes de uma conhecida família de fazendeiros. Acompanhado por Harper Lee (Catherine Keener), sua amiga de infância, Capote viaja até lá e surpreende a sociedade local com sua voz infantil e seus maneirismos femininos. Logo, o escritor ganha a confiança de Alvin Dewey (Chris Cooper), o agente que lidera a investigação pelo assassinato. Pouco depois, os assassinos, Perry Smith (Clifton Collins Jr.) e Dick Hickock (Mark Pellegrino), são capturados,  julgados e condenados à morte, mas a relação com Capote não para por aí. Confira o trailer:

O roteiro de Dan Futterman (de "Foxcatcher") é muito inteligente em trabalhar a motivação do romancista (e repórter) a partir de sua vaidade em desenvolver o melhor livro de sua carreira e do vínculo direto com um dos agressores. Mas também fica implícito que além de estar exercendo sua profissão, Capote também poderia estar desenvolvendo algum laço maior com o criminoso. O fato é que, sem perceber, somos inseridos nesse quebra-cabeça que mexe com nossas emoções já que ora estamos julgando as escolhas do protagonista, depois somos norteados com revelações que nos fazem crer que estávamos errados, até descobrirmos que nem tanto assim.

A atuação de Philip Seymour Hoffman é responsável por expor com primor a ambiguidade de Truman Capote. A direção do talentoso Bennett Miller (de "Foxcatcher" e "O Homem que mudou o Jogo") conduz todo o drama com perfeição, explorando camadas intrínsecas dos seus complexos personagens e embora seja um drama criminal, existe um clima de suspense - aqui, também mérito da direção de fotografia de Adam Kimmel (de "Não me abandone jamais) que usa paletas de cores e tons escuros que nos remetem aos melhores dias e obras ficcionais de David Fincher.

Ambientado entre o final dos anos 50 e o inicio dos anos 60, o filme aborda justamente o período em que o autor trabalhou em cima de sua criação mais importante, aquela que traria a fama definitiva para ele: o romance "A Sangue Frio“. É com essa atmosfera que "Capote” não só conta uma história baseada em fatos reais, como explora um pouco dos relacionamentos interpessoais e laços familiares do protagonista. Sem cair no clichê de entregar todas as respostas, o filme nos convida para um interessante e profundo mergulho na psique humana.

Vale muito a pena!

"Capote" foi indicado em 5 categorias no Oscar de 2006, inclusive como "Melhor Filme" e acabou consagrando Philip Seymour Hoffman como o "Melhor Ator" daquele ano.

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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“Capote” é um belíssimo drama sobre o escritor Truman Capote e seu desejo de destrinchar todas as informações de um crime brutal.

No filme, Truman Capote (Philip Seymour Hoffman) lê um artigo no jornal sobre o assassinato de quatro integrantes de uma conhecida família de fazendeiros. Acompanhado por Harper Lee (Catherine Keener), sua amiga de infância, Capote viaja até lá e surpreende a sociedade local com sua voz infantil e seus maneirismos femininos. Logo, o escritor ganha a confiança de Alvin Dewey (Chris Cooper), o agente que lidera a investigação pelo assassinato. Pouco depois, os assassinos, Perry Smith (Clifton Collins Jr.) e Dick Hickock (Mark Pellegrino), são capturados,  julgados e condenados à morte, mas a relação com Capote não para por aí. Confira o trailer:

O roteiro de Dan Futterman (de "Foxcatcher") é muito inteligente em trabalhar a motivação do romancista (e repórter) a partir de sua vaidade em desenvolver o melhor livro de sua carreira e do vínculo direto com um dos agressores. Mas também fica implícito que além de estar exercendo sua profissão, Capote também poderia estar desenvolvendo algum laço maior com o criminoso. O fato é que, sem perceber, somos inseridos nesse quebra-cabeça que mexe com nossas emoções já que ora estamos julgando as escolhas do protagonista, depois somos norteados com revelações que nos fazem crer que estávamos errados, até descobrirmos que nem tanto assim.

A atuação de Philip Seymour Hoffman é responsável por expor com primor a ambiguidade de Truman Capote. A direção do talentoso Bennett Miller (de "Foxcatcher" e "O Homem que mudou o Jogo") conduz todo o drama com perfeição, explorando camadas intrínsecas dos seus complexos personagens e embora seja um drama criminal, existe um clima de suspense - aqui, também mérito da direção de fotografia de Adam Kimmel (de "Não me abandone jamais) que usa paletas de cores e tons escuros que nos remetem aos melhores dias e obras ficcionais de David Fincher.

Ambientado entre o final dos anos 50 e o inicio dos anos 60, o filme aborda justamente o período em que o autor trabalhou em cima de sua criação mais importante, aquela que traria a fama definitiva para ele: o romance "A Sangue Frio“. É com essa atmosfera que "Capote” não só conta uma história baseada em fatos reais, como explora um pouco dos relacionamentos interpessoais e laços familiares do protagonista. Sem cair no clichê de entregar todas as respostas, o filme nos convida para um interessante e profundo mergulho na psique humana.

Vale muito a pena!

"Capote" foi indicado em 5 categorias no Oscar de 2006, inclusive como "Melhor Filme" e acabou consagrando Philip Seymour Hoffman como o "Melhor Ator" daquele ano.

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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Casa Gucci

"Casa Gucci" é um bom filme, mas poderia ser uma temporada sensacional de "American Crime Story", tranquilamente. Se você assistiu a série, vai entender o que estou afirmando: todos os elementos dramáticos da série estão no roteiro de Becky Johnston e Roberto Bentivegna, porém sem muito aprofundamento devido ao tempo limitado de tela. - embora o filme tenha mais que duas horas e meia. Justamente por isso, a trama oscila e se em muitos momentos nos envolvemos com uma dinâmica narrativa interessante e direta, em outros temos e exata sensação de muita pressa para chegar em determinado ponto da história. Veja, se na segunda temporada da série vimos o que aconteceu com Gianni Versace, sua relação familiar, profissional e até com seu assassino, aqui o conceito é exatamente o mesmo, mas com Maurizio Gucci e Patrizia Reggiani, cercados de dinheiro, fama, glamour, poder, traição e, óbvio, morte!

O filme acompanha a ambiciosa Patrizia Reggiani (Lady Gaga) e seu inesperado romance com Maurizio Gucci (Adam Driver). Eles se conhecem meio que por acaso, se apaixonam, se casam, e ela entra na dinâmica familiar, dona de uma das marcas mais luxuosas da Itália. Quando Patrizia percebe que os negócios da família não atraem Maurizio e vê que o verdadeiro poder está nas mãos de seu sogro, Rodolfo (Jeremy Irons), e do irmão dele, Aldo (Al Pacino), ela tenta ganhar a confiança de todos para que seu marido passe a ser considerado um nome forte dentro do império Gucci, já que o outro herdeiro, seu primo Paolo (Jared Leto), exala mediocridade. O problema é que Patrizia escolhe uma tática bastante arriscada para isso: colocar a família uns contra os outros - mas vida dá voltas e acaba cobrando seu preço. Confira o trailer:

Visualmente bellissimo, resultado da longa parceira entre o fotógrafo Dariusz Wolsk (Prometheus) e Ridley Scott, "Casa Gucci" convence ao estabelecer aquela atmosfera quase caótica que sempre envolveu a família Gucci - sinônimo de riqueza e opulência, característico dos anos 70 e 80, onde a Máfia impactava diretamente na herança cultural dos italianos vindos da Sicília. E de fato, alguns bons personagens do filme como Rodolfo (em mais um competente trabalho de Jeremy Irons) e Aldo (aquele Al Pacino que conhecemos) parecem ter acabado de sair de uma reunião da "Cosa Nostra".

É inegável também, que o elenco se sobressai em relação ao roteiro. Lady Gaga merece uma indicação ao Oscar pela sua Patrizia Reggiani e Jared Leto, com seu Paolo, vai chegar como fortíssimo concorrente nas premiações de 2022 - ele, irreconhecível, está impecável, além de funcionar como um essencial alívio cômico em muitos momentos. Adam Driver é outro que brilha, embora mais contido, seu personagem não exige tanto do seu talento. Outro ponto que merece sua atenção e muitos elogios, diz respeito a todo departamento de arte, do Desenho de Produção de Arthur Max (Gladiador) até o Figurino de Janty Yates (também de "Gladiador") - todos ganhadores ou indicados ao Oscar. A maquiagem, especialmente de Leto, também está um espetáculo e a trilha sonora que mistura da ópera ao pop americano, perfeita.

É até interessante como Ridley Scott impõe um certo estilo mais novelesco ao filme - existe um sotaque italiano que soa forçado e o próprio Jared Leto parece sempre estar um tom acima, exagerado. Essa escolha conceitual do diretor cria um certo clima familiar para a história e o roteiro se aproveita desse dramalhão que durou quase 30 anos para expor um recorte importante da sociedade da época que se baseava na ganância e no poder para forma de conquistar sua (falsa) felicidade. 

"Casa Gucci" é um filme sobre falsidade, que chega fácil, de uma forma divertida e equilibrando muito bem uma história interessante com um bom entretenimento. Vale a pena!

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"Casa Gucci" é um bom filme, mas poderia ser uma temporada sensacional de "American Crime Story", tranquilamente. Se você assistiu a série, vai entender o que estou afirmando: todos os elementos dramáticos da série estão no roteiro de Becky Johnston e Roberto Bentivegna, porém sem muito aprofundamento devido ao tempo limitado de tela. - embora o filme tenha mais que duas horas e meia. Justamente por isso, a trama oscila e se em muitos momentos nos envolvemos com uma dinâmica narrativa interessante e direta, em outros temos e exata sensação de muita pressa para chegar em determinado ponto da história. Veja, se na segunda temporada da série vimos o que aconteceu com Gianni Versace, sua relação familiar, profissional e até com seu assassino, aqui o conceito é exatamente o mesmo, mas com Maurizio Gucci e Patrizia Reggiani, cercados de dinheiro, fama, glamour, poder, traição e, óbvio, morte!

O filme acompanha a ambiciosa Patrizia Reggiani (Lady Gaga) e seu inesperado romance com Maurizio Gucci (Adam Driver). Eles se conhecem meio que por acaso, se apaixonam, se casam, e ela entra na dinâmica familiar, dona de uma das marcas mais luxuosas da Itália. Quando Patrizia percebe que os negócios da família não atraem Maurizio e vê que o verdadeiro poder está nas mãos de seu sogro, Rodolfo (Jeremy Irons), e do irmão dele, Aldo (Al Pacino), ela tenta ganhar a confiança de todos para que seu marido passe a ser considerado um nome forte dentro do império Gucci, já que o outro herdeiro, seu primo Paolo (Jared Leto), exala mediocridade. O problema é que Patrizia escolhe uma tática bastante arriscada para isso: colocar a família uns contra os outros - mas vida dá voltas e acaba cobrando seu preço. Confira o trailer:

Visualmente bellissimo, resultado da longa parceira entre o fotógrafo Dariusz Wolsk (Prometheus) e Ridley Scott, "Casa Gucci" convence ao estabelecer aquela atmosfera quase caótica que sempre envolveu a família Gucci - sinônimo de riqueza e opulência, característico dos anos 70 e 80, onde a Máfia impactava diretamente na herança cultural dos italianos vindos da Sicília. E de fato, alguns bons personagens do filme como Rodolfo (em mais um competente trabalho de Jeremy Irons) e Aldo (aquele Al Pacino que conhecemos) parecem ter acabado de sair de uma reunião da "Cosa Nostra".

É inegável também, que o elenco se sobressai em relação ao roteiro. Lady Gaga merece uma indicação ao Oscar pela sua Patrizia Reggiani e Jared Leto, com seu Paolo, vai chegar como fortíssimo concorrente nas premiações de 2022 - ele, irreconhecível, está impecável, além de funcionar como um essencial alívio cômico em muitos momentos. Adam Driver é outro que brilha, embora mais contido, seu personagem não exige tanto do seu talento. Outro ponto que merece sua atenção e muitos elogios, diz respeito a todo departamento de arte, do Desenho de Produção de Arthur Max (Gladiador) até o Figurino de Janty Yates (também de "Gladiador") - todos ganhadores ou indicados ao Oscar. A maquiagem, especialmente de Leto, também está um espetáculo e a trilha sonora que mistura da ópera ao pop americano, perfeita.

É até interessante como Ridley Scott impõe um certo estilo mais novelesco ao filme - existe um sotaque italiano que soa forçado e o próprio Jared Leto parece sempre estar um tom acima, exagerado. Essa escolha conceitual do diretor cria um certo clima familiar para a história e o roteiro se aproveita desse dramalhão que durou quase 30 anos para expor um recorte importante da sociedade da época que se baseava na ganância e no poder para forma de conquistar sua (falsa) felicidade. 

"Casa Gucci" é um filme sobre falsidade, que chega fácil, de uma forma divertida e equilibrando muito bem uma história interessante com um bom entretenimento. Vale a pena!

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Conexão Escobar

Se você não assistiu esse filme, assista! Embora "Conexão Escobar" se apoie na premissa do agente infiltrado correndo muito perigo para desmantelar um cartel de tráfico de drogas como em "Sicario - Terra de Ninguém", aqui o foco não está tanto na ação e sim no drama, na relação dos personagens, no planejamento e, principalmente, na construção de laços que colocam, inclusive, os objetivos da missão em dúvida. 

O filme acompanha a história real de Robert Mazur (Bryan Cranston), um agente infiltrado sob o disfarce de Bob Musella que trabalha para acabar com a operação de lavagem de dinheiro do cartel de Pablo Escobar a partir da relação do tráfico com bancos panamenhos. Confira o trailer:

Dirigido pelo ótimo Brad Furman (de "City of Lies") e baseado no livro do próprio Robert Mazur, "Conexão Escobar" é um prato cheio para quem gosta de filmes de ação, com elementos de investigação, que vão além do tiroteiro. A forma como o roteiro da (na época) estreante Ellen Furman vai amarrando as histórias dá a exata proporção do que foi a Operação C-Chase e o que ela representou na luta contra o tráfico de drogas durante os anos 80 - que, inclusive, culminou com a queda do Banco de Crédito e Comércio Internacional (BCCI), o sétimo maior banco privado do mundo.

O maior mérito do filme, sem dúvida, é ter Bryan Cranston como protagonista e o sempre divertido e competente John Leguizamo ("Waco") como coadjuvante (o agente Emir Abreu). Para os fãs de "Breaking Bad" é impossível não comparar a performance do ator com o tom que dá aos seus personagens Mazur e Mr. White, mas, principalmente, com a semelhança que vai além dos diálogos para exaltar a jornada moral de cada um! É impressionante como, embora diferentes, o conceito por trás dos personagens é parecido: ambos possuem um vida comum, em diferentes pontos de satisfação (claro), mas claramente aquém do que seus talentos poderiam oferecer, porém quando eles assumem uma segunda identidade, o flerte com a ilegalidade desperta a ambição - justamente o nó que o filme tenta desatar ou, pelo menos, medir o seu valor (a chegada da agente Kathy Ertz de Diane Kruger, personifica esse conflito interno).

"Conexão Escobar" poderia tranquilamente ser um spin-off da série "Narcos" - o que dá uma ótima noção do que você vai encontrar em 120 minutos de filme. Mesmo que a figura mítica de Pablo Escobar seja apenas um detalhe muito bem pontuado na trama, a atmosfera criada é extremante tensa e angustiante para quem assiste. Se a fotografia do diretor Joshua Reis se aproveita do enorme contraste de tons para retratar a diferença entre a vida “infiltrada” e a “verdadeira” de Robert, é na sensibilidade dos atores e na inteligência do roteiro que o filme decola!

Vale muito a pena!

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Se você não assistiu esse filme, assista! Embora "Conexão Escobar" se apoie na premissa do agente infiltrado correndo muito perigo para desmantelar um cartel de tráfico de drogas como em "Sicario - Terra de Ninguém", aqui o foco não está tanto na ação e sim no drama, na relação dos personagens, no planejamento e, principalmente, na construção de laços que colocam, inclusive, os objetivos da missão em dúvida. 

O filme acompanha a história real de Robert Mazur (Bryan Cranston), um agente infiltrado sob o disfarce de Bob Musella que trabalha para acabar com a operação de lavagem de dinheiro do cartel de Pablo Escobar a partir da relação do tráfico com bancos panamenhos. Confira o trailer:

Dirigido pelo ótimo Brad Furman (de "City of Lies") e baseado no livro do próprio Robert Mazur, "Conexão Escobar" é um prato cheio para quem gosta de filmes de ação, com elementos de investigação, que vão além do tiroteiro. A forma como o roteiro da (na época) estreante Ellen Furman vai amarrando as histórias dá a exata proporção do que foi a Operação C-Chase e o que ela representou na luta contra o tráfico de drogas durante os anos 80 - que, inclusive, culminou com a queda do Banco de Crédito e Comércio Internacional (BCCI), o sétimo maior banco privado do mundo.

O maior mérito do filme, sem dúvida, é ter Bryan Cranston como protagonista e o sempre divertido e competente John Leguizamo ("Waco") como coadjuvante (o agente Emir Abreu). Para os fãs de "Breaking Bad" é impossível não comparar a performance do ator com o tom que dá aos seus personagens Mazur e Mr. White, mas, principalmente, com a semelhança que vai além dos diálogos para exaltar a jornada moral de cada um! É impressionante como, embora diferentes, o conceito por trás dos personagens é parecido: ambos possuem um vida comum, em diferentes pontos de satisfação (claro), mas claramente aquém do que seus talentos poderiam oferecer, porém quando eles assumem uma segunda identidade, o flerte com a ilegalidade desperta a ambição - justamente o nó que o filme tenta desatar ou, pelo menos, medir o seu valor (a chegada da agente Kathy Ertz de Diane Kruger, personifica esse conflito interno).

"Conexão Escobar" poderia tranquilamente ser um spin-off da série "Narcos" - o que dá uma ótima noção do que você vai encontrar em 120 minutos de filme. Mesmo que a figura mítica de Pablo Escobar seja apenas um detalhe muito bem pontuado na trama, a atmosfera criada é extremante tensa e angustiante para quem assiste. Se a fotografia do diretor Joshua Reis se aproveita do enorme contraste de tons para retratar a diferença entre a vida “infiltrada” e a “verdadeira” de Robert, é na sensibilidade dos atores e na inteligência do roteiro que o filme decola!

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Crescendo Juntas

Sabe aquele tipo de filme que você assiste com um leve sorriso no rosto? Pois é, "Crescendo Juntas" talvez seja a melhor definição de filme "que te abraça" - principalmente se você tiver uma filha menina (meu caso). Essa é o tipo de adaptação cinematográfica que não pode passar despercebida, "Are You There God? It's Me, Margaret" (no original) transcende as barreiras do drama trazendo uma leveza impressionante para discutir assuntos, digamos, cotidianos da vida de uma pré-adolescente, oferecendo assim uma experiência cativante, envolvente e muito reflexiva. Aliás, pela resposta do público e da crítica, o filme faz jus ao sucesso da obra de Judy Blume - o que já não seria uma tarefa fácil.

Margaret (Abby Ryder Fortson), de 11 anos, muda-se para uma nova cidade e começa a contemplar tudo que a vida, a amizade e a adolescência têm para oferecer - é um período de descobertas, mas também de muita insegurança. Ela conta com a mãe, católica, Bárbara (Rachel McAdams), que oferece um apoio amoroso, e com a avó, judia, Sylvia (Kathy Bates), que está tentando encontrar a felicidade mesmo longe da neta. Questões de identidade, do lugar de cada um no mundo e do que dá sentido à vida rapidamente os aproximam mais do que nunca, mas ainda existe um ponto a ser discutido: que religião seguir? Confira o trailer:

Os elementos que tornam "Crescendo Juntas" imperdível, me parece, vão além da trama, ou seja, naturalmente passa pela nossa identificação com os personagens. Semelhante a outras obras que exploraram a complexidade da adolescência, como "Lady Bird" e até "As Vantagens de Ser Invisível", aqui temos um olhar verdadeiro sobre a jornada de aceitação perante o novo - e a metáfora da mudança de cidade e da dúvida sobre qual religião pertencer se encaixam perfeitamente na bola de neve que se transforma a vida da protagonista quando ela é confrontada com os desafios que todas as meninas enfrentam nessa fase: de aprender a usar um sutiã, passando pelo entendimento das mudanças do corpo e a chegada da menstruação, até a importância ou o tabu de dar o primeiro beijo.

A direção sensível de Kelly Fremon Craig (do elogiado "Quase 18") merece aplausos, pois ela não apenas captura a essência do livro, como adiciona camadas emocionais à narrativa que nos deixam encantados - e aqui é preciso que se diga: muito dessa percepção de realidade passa pela performance impressionante de Abby Ryder Fortson. Reparem como ela explora a vulnerabilidade e autodescoberta de sua personagem de maneira autêntica, contribuindo para que as relações construídas ao longo da trama façam total sentido dentro de um contexto emocional tão caótico - olha, eu não me surpreenderia se Craig recebesse uma indicação ao Oscar. Outro detalhe que merece sua atenção: a escolha da fotografia, com seus tons suaves e nostálgicos, nos leva para um mergulho profundo na atmosfera da década de 70 - não por acaso, mérito do diretor Tim Ives, indicado duas vezes ao Emmy por "Stranger Things".  

Para finalizar, preciso reforçar que "Crescendo Juntas"  é realmente mais do que uma simples adaptação; é uma celebração da juventude, da busca pela identidade e pelo entendimento da complexidade das relações humanas. Craig inteligentemente coloca a obra da premiada Judy Blume em outro patamar, oferecendo um filme intimista que ressoa com o público de todas as idades, que aquece o coração ao mesmo tempo que provoca ótimas discussões - é um olhar honesto sobre uma fase onde tudo ganha uma dimensão muito maior do que os fatos em si, mas que por outro lado ajuda a construir autonomia e uma percepção de vida onde nem tudo é simples!

Vale muito o seu play!

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Sabe aquele tipo de filme que você assiste com um leve sorriso no rosto? Pois é, "Crescendo Juntas" talvez seja a melhor definição de filme "que te abraça" - principalmente se você tiver uma filha menina (meu caso). Essa é o tipo de adaptação cinematográfica que não pode passar despercebida, "Are You There God? It's Me, Margaret" (no original) transcende as barreiras do drama trazendo uma leveza impressionante para discutir assuntos, digamos, cotidianos da vida de uma pré-adolescente, oferecendo assim uma experiência cativante, envolvente e muito reflexiva. Aliás, pela resposta do público e da crítica, o filme faz jus ao sucesso da obra de Judy Blume - o que já não seria uma tarefa fácil.

Margaret (Abby Ryder Fortson), de 11 anos, muda-se para uma nova cidade e começa a contemplar tudo que a vida, a amizade e a adolescência têm para oferecer - é um período de descobertas, mas também de muita insegurança. Ela conta com a mãe, católica, Bárbara (Rachel McAdams), que oferece um apoio amoroso, e com a avó, judia, Sylvia (Kathy Bates), que está tentando encontrar a felicidade mesmo longe da neta. Questões de identidade, do lugar de cada um no mundo e do que dá sentido à vida rapidamente os aproximam mais do que nunca, mas ainda existe um ponto a ser discutido: que religião seguir? Confira o trailer:

Os elementos que tornam "Crescendo Juntas" imperdível, me parece, vão além da trama, ou seja, naturalmente passa pela nossa identificação com os personagens. Semelhante a outras obras que exploraram a complexidade da adolescência, como "Lady Bird" e até "As Vantagens de Ser Invisível", aqui temos um olhar verdadeiro sobre a jornada de aceitação perante o novo - e a metáfora da mudança de cidade e da dúvida sobre qual religião pertencer se encaixam perfeitamente na bola de neve que se transforma a vida da protagonista quando ela é confrontada com os desafios que todas as meninas enfrentam nessa fase: de aprender a usar um sutiã, passando pelo entendimento das mudanças do corpo e a chegada da menstruação, até a importância ou o tabu de dar o primeiro beijo.

A direção sensível de Kelly Fremon Craig (do elogiado "Quase 18") merece aplausos, pois ela não apenas captura a essência do livro, como adiciona camadas emocionais à narrativa que nos deixam encantados - e aqui é preciso que se diga: muito dessa percepção de realidade passa pela performance impressionante de Abby Ryder Fortson. Reparem como ela explora a vulnerabilidade e autodescoberta de sua personagem de maneira autêntica, contribuindo para que as relações construídas ao longo da trama façam total sentido dentro de um contexto emocional tão caótico - olha, eu não me surpreenderia se Craig recebesse uma indicação ao Oscar. Outro detalhe que merece sua atenção: a escolha da fotografia, com seus tons suaves e nostálgicos, nos leva para um mergulho profundo na atmosfera da década de 70 - não por acaso, mérito do diretor Tim Ives, indicado duas vezes ao Emmy por "Stranger Things".  

Para finalizar, preciso reforçar que "Crescendo Juntas"  é realmente mais do que uma simples adaptação; é uma celebração da juventude, da busca pela identidade e pelo entendimento da complexidade das relações humanas. Craig inteligentemente coloca a obra da premiada Judy Blume em outro patamar, oferecendo um filme intimista que ressoa com o público de todas as idades, que aquece o coração ao mesmo tempo que provoca ótimas discussões - é um olhar honesto sobre uma fase onde tudo ganha uma dimensão muito maior do que os fatos em si, mas que por outro lado ajuda a construir autonomia e uma percepção de vida onde nem tudo é simples!

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Crimes em Hollywood

Na linha tênue de "Entre Facas e Segredos" e de "Magnatas do Crime", o diretor Tim Kirkby (de "Fleabag") até entrega um filme divertido e dinâmico, mas longe de ser genial. "Crimes em Hollywood" pode surpreender com sua narrativa, com ótimas performances de um elenco de peso e até pelo seu toque de mistério, mas não será lembrado como nada além de um bom entretenimento! Mesmo que a jornada do protagonista seja repleta de surpresas, fazendo com que algumas reviravoltas nos envolvam ainda mais com a trama, dá a impressão que falta um pouco de charme na proposta de Kirkby em transformar um filme "ok" em uma espécie de "noir moderninho" como na série "Knives Out", por exemplo.

"Last Looks" (no original) nos conduz por uma intrigante história de assassinato pelo olhar de Charlie Waldo (Charlie Hunnam), um detetive particular que se afastou de todos após um trágico (e mal explicado) incidente. Ele é arrastado de volta para o mundo da investigação quando uma antiga amiga, Lorena (Morena Baccarin), pede sua ajuda para resolver um crime onde o principal suspeito é um famoso astro da TV americana, o ator Alastair Pinch (Mel Gibson). Confira o trailer:

"Crimes em Hollywood" tem o mérito de construir uma história intrigante, sem cair no erro de se tornar um drama denso ou complexo demais. Longe disso, aqui o que encontramos é mais uma narrativa que se apoia na dramédia, com seus esteriótipos de gênero, que se propõe a entreter ao mesmo tempo em que habilmente captura a essência de uma investigação criminal que nos leva de volta aos clássicos repaginados de Agatha Christie. Kirkby, embora não arrisque como Rian Johnson ou Guy Ritchie, demonstra competência ao criar essa atmosfera inquietante dentro de um caos de tramas e sub-tramas que o roteiro propõe - e isso precisa ser ressaltado.

Já o roteiro de Howard Michael Gould (de "O Rei do Jogo") parece ser o calcanhar de Aquiles do filme. Muitas vezes ele se perde na necessidade de jogar várias peças no tabuleiro para nos afastar do que realmente importa: descobrir quem matou a mulher de Alastair Pinch. Essa escolha conceitual pode funcionar melhor em um livro, mas na adaptação me parece ser um erro, no entanto, e isso eu posso te garantir, não prejudica nossa experiência como audiência. Talvez, e aqui só o tempo dirá, a ideia seja mesmo deixar algo nas entrelinhas para justificar outros filmes e por assim dizer, iniciar uma franquia a partir de sua versão literária. Nesse sentido, surge outro problema: Charlie Hunnam sofre com a falta de carisma, principalmente quando está em cena com Mel Gibson. Gibson faz jus ao estereótipo de seu personagem com sua habilidade excepcional de ser caricato e humano ao mesmo tempo, enquanto Hunnam parece completamente dispensável como detetive - é como se esperássemos uma cartada genial de seu personagem e mesmo quando ela surge, não tem força para nos roubar um sorriso (ou um suspiro).

"Crimes em Hollywood" é bom, divertido e merece uma chance de ser descoberto pelo que oferece - mesmo com todos esses "poréns". Como história, o filme realmente cativa mais pelo seu inicio, do que pela conclusão do mistério, mas também não deixa aquela sensação de decepção, sabe? Como produção, a barra sobe mais um pouco e não deixa nada a desejar para outras produções do mesmo estilo. Como proposta para uma franquia, com um ou outro ajuste, podemos até seguir acreditando que mais histórias de crimes com essa atmosfera menos densa de narrativa vai continuar entregando ótimos momentos de diversão e entretenimento - mas não dá para esperar mais que isso, ok?

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Na linha tênue de "Entre Facas e Segredos" e de "Magnatas do Crime", o diretor Tim Kirkby (de "Fleabag") até entrega um filme divertido e dinâmico, mas longe de ser genial. "Crimes em Hollywood" pode surpreender com sua narrativa, com ótimas performances de um elenco de peso e até pelo seu toque de mistério, mas não será lembrado como nada além de um bom entretenimento! Mesmo que a jornada do protagonista seja repleta de surpresas, fazendo com que algumas reviravoltas nos envolvam ainda mais com a trama, dá a impressão que falta um pouco de charme na proposta de Kirkby em transformar um filme "ok" em uma espécie de "noir moderninho" como na série "Knives Out", por exemplo.

"Last Looks" (no original) nos conduz por uma intrigante história de assassinato pelo olhar de Charlie Waldo (Charlie Hunnam), um detetive particular que se afastou de todos após um trágico (e mal explicado) incidente. Ele é arrastado de volta para o mundo da investigação quando uma antiga amiga, Lorena (Morena Baccarin), pede sua ajuda para resolver um crime onde o principal suspeito é um famoso astro da TV americana, o ator Alastair Pinch (Mel Gibson). Confira o trailer:

"Crimes em Hollywood" tem o mérito de construir uma história intrigante, sem cair no erro de se tornar um drama denso ou complexo demais. Longe disso, aqui o que encontramos é mais uma narrativa que se apoia na dramédia, com seus esteriótipos de gênero, que se propõe a entreter ao mesmo tempo em que habilmente captura a essência de uma investigação criminal que nos leva de volta aos clássicos repaginados de Agatha Christie. Kirkby, embora não arrisque como Rian Johnson ou Guy Ritchie, demonstra competência ao criar essa atmosfera inquietante dentro de um caos de tramas e sub-tramas que o roteiro propõe - e isso precisa ser ressaltado.

Já o roteiro de Howard Michael Gould (de "O Rei do Jogo") parece ser o calcanhar de Aquiles do filme. Muitas vezes ele se perde na necessidade de jogar várias peças no tabuleiro para nos afastar do que realmente importa: descobrir quem matou a mulher de Alastair Pinch. Essa escolha conceitual pode funcionar melhor em um livro, mas na adaptação me parece ser um erro, no entanto, e isso eu posso te garantir, não prejudica nossa experiência como audiência. Talvez, e aqui só o tempo dirá, a ideia seja mesmo deixar algo nas entrelinhas para justificar outros filmes e por assim dizer, iniciar uma franquia a partir de sua versão literária. Nesse sentido, surge outro problema: Charlie Hunnam sofre com a falta de carisma, principalmente quando está em cena com Mel Gibson. Gibson faz jus ao estereótipo de seu personagem com sua habilidade excepcional de ser caricato e humano ao mesmo tempo, enquanto Hunnam parece completamente dispensável como detetive - é como se esperássemos uma cartada genial de seu personagem e mesmo quando ela surge, não tem força para nos roubar um sorriso (ou um suspiro).

"Crimes em Hollywood" é bom, divertido e merece uma chance de ser descoberto pelo que oferece - mesmo com todos esses "poréns". Como história, o filme realmente cativa mais pelo seu inicio, do que pela conclusão do mistério, mas também não deixa aquela sensação de decepção, sabe? Como produção, a barra sobe mais um pouco e não deixa nada a desejar para outras produções do mesmo estilo. Como proposta para uma franquia, com um ou outro ajuste, podemos até seguir acreditando que mais histórias de crimes com essa atmosfera menos densa de narrativa vai continuar entregando ótimos momentos de diversão e entretenimento - mas não dá para esperar mais que isso, ok?

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Crown Heights

Na linha de "Luta por Justiça" e de "Olhos que condenam", a história de "Crown Heights" é mais uma daquelas difíceis de digerir onde questionamos a racionalidade e os valores do ser humano sem o menor receio de ser injusto, afinal, o que vemos em pouco mais de 90 minutos é um retrato de uma sociedade racista e egocêntrica incapaz de olhar o outro através de suas próprias inseguranças e vulnerabilidades.

Quando Colin Warner (LaKeith Stanfield) é injustamente condenado por homicídio, seu melhor amigo, Carl King (Nnamdi Asomugha), dedica sua vida para provar a inocência de Colin. Adaptado de "This American Life", esta é a incrível história real sobre uma angustiante busca pela justiça por mais de 20 anos. Confira o trailer (em inglês):

Chancelado pelo prêmio de "Melhor Filme Dramático" pela audiência no Festival de Sundance em 2017, o filme dirigido pelo Matt Ruskin (muito conhecido por ter produzido o excelente "Conexão Escolbar") procura alinhar a vida de dois personagens na busca pela verdade. Se de uma lado temos o ponto de vista de quem foi condenado e sofre o dia a dia de uma prisão, do outro temos a resiliência de quem acredita que ainda é possível fazer justiça dentro de uma sociedade preconceituosa e elitista. E embora o roteiro do próprio Ruskin retrate a fragilidade do sistema penal e carcerário americano, é inegável que é a jornada dos protagonistas nos move, nos emociona e, principalmente, nos faz refletir!  

Sem a preocupação de colocar em dúvida a inocência de Colin Warner, "Crown Heights" se esforça é para retratar a realidade, considerando que o acusado está longe de ser um modelo irretocável de caráter. Warner parece ser uma boa pessoa se analisado pelo âmbito familiar, porém suas atitudes (e cada um é convidado ao julgamento unicamente por elas) também expõem suas falhas - o interessante dessa construção cuidadosa do personagem, é que o roteiro vai nos apresentando diversas camadas, humanizando Warner, e provando que nem sempre existem respostas 100% seguras para muitos atos quando eles são fortemente provocados pelo meio em que seus atores estão inseridos.

Como o recorte da vida de Warner apresentado no filme é bastante extenso, é natural percebermos que a narrativa se apoia na edição bem realizada pelo, duas vezes vencedor do Oscar (das quatro indicações que recebeu), Joe Hutshing. Sim, Hutshing (de "JFK") fragmenta a jornada; mas é extremamente competente em unir duas histórias com a mesma precisão com que pontua os problemas sociais e as inúmeras falhas do sistema sem que um assunto atropele o outro. Nesse ponto, aliás, o diretor Matt Ruskin também brilha - é impressionante como ele conduz os personagens, como eles vão se transformando e ganhando (ou perdendo) vida durante a progressão da história.

"Crown Heights" é muito envolvente, mas pouco confortável. Olhando em retrospectiva, chega a ser surpreendente que o filme não tenha ganhado os holofotes na temporada de premiação daquele ano, seja pelo roteiro muito bem escrito, pela direção surpreendente de Ruskin, mas, principalmente, pelas performances de LaKeith Stanfield, de Nnamdi Asomugha e até de Natalie Paul (como a futura esposa de Warner, Antoinette).

Por tudo isso e muito mais, "Crown Heights"  vale muito o seu play!

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Na linha de "Luta por Justiça" e de "Olhos que condenam", a história de "Crown Heights" é mais uma daquelas difíceis de digerir onde questionamos a racionalidade e os valores do ser humano sem o menor receio de ser injusto, afinal, o que vemos em pouco mais de 90 minutos é um retrato de uma sociedade racista e egocêntrica incapaz de olhar o outro através de suas próprias inseguranças e vulnerabilidades.

Quando Colin Warner (LaKeith Stanfield) é injustamente condenado por homicídio, seu melhor amigo, Carl King (Nnamdi Asomugha), dedica sua vida para provar a inocência de Colin. Adaptado de "This American Life", esta é a incrível história real sobre uma angustiante busca pela justiça por mais de 20 anos. Confira o trailer (em inglês):

Chancelado pelo prêmio de "Melhor Filme Dramático" pela audiência no Festival de Sundance em 2017, o filme dirigido pelo Matt Ruskin (muito conhecido por ter produzido o excelente "Conexão Escolbar") procura alinhar a vida de dois personagens na busca pela verdade. Se de uma lado temos o ponto de vista de quem foi condenado e sofre o dia a dia de uma prisão, do outro temos a resiliência de quem acredita que ainda é possível fazer justiça dentro de uma sociedade preconceituosa e elitista. E embora o roteiro do próprio Ruskin retrate a fragilidade do sistema penal e carcerário americano, é inegável que é a jornada dos protagonistas nos move, nos emociona e, principalmente, nos faz refletir!  

Sem a preocupação de colocar em dúvida a inocência de Colin Warner, "Crown Heights" se esforça é para retratar a realidade, considerando que o acusado está longe de ser um modelo irretocável de caráter. Warner parece ser uma boa pessoa se analisado pelo âmbito familiar, porém suas atitudes (e cada um é convidado ao julgamento unicamente por elas) também expõem suas falhas - o interessante dessa construção cuidadosa do personagem, é que o roteiro vai nos apresentando diversas camadas, humanizando Warner, e provando que nem sempre existem respostas 100% seguras para muitos atos quando eles são fortemente provocados pelo meio em que seus atores estão inseridos.

Como o recorte da vida de Warner apresentado no filme é bastante extenso, é natural percebermos que a narrativa se apoia na edição bem realizada pelo, duas vezes vencedor do Oscar (das quatro indicações que recebeu), Joe Hutshing. Sim, Hutshing (de "JFK") fragmenta a jornada; mas é extremamente competente em unir duas histórias com a mesma precisão com que pontua os problemas sociais e as inúmeras falhas do sistema sem que um assunto atropele o outro. Nesse ponto, aliás, o diretor Matt Ruskin também brilha - é impressionante como ele conduz os personagens, como eles vão se transformando e ganhando (ou perdendo) vida durante a progressão da história.

"Crown Heights" é muito envolvente, mas pouco confortável. Olhando em retrospectiva, chega a ser surpreendente que o filme não tenha ganhado os holofotes na temporada de premiação daquele ano, seja pelo roteiro muito bem escrito, pela direção surpreendente de Ruskin, mas, principalmente, pelas performances de LaKeith Stanfield, de Nnamdi Asomugha e até de Natalie Paul (como a futura esposa de Warner, Antoinette).

Por tudo isso e muito mais, "Crown Heights"  vale muito o seu play!

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Depois da Festa

"Depois da Festa", produção original da Apple, é muito divertida e, sem a menor dúvida, veio para beber na mesma fonte de "Only Murders in the Building"- na sua forma e no seu conteúdo. Embora sejam histórias completamente diferentes, a série parte do mesmo principio: um assassinato onde todos são suspeitos (conteúdo). Misturando comédia com investigação (forma), "Depois da Festa" usa um conceito narrativo muito interessante: cada um dos interrogados conta sua versão da história respeitando as características de um determinado gênero de TV ou do cinema, criando uma dinâmica surpreendentemente criativa que vai do suspense à animação.

Na história acompanhamos a detetive Danner (Tiffany Haddish) que é chamada para investigar o assassinato do astro pop, Xavier (Dave Franco), morto em sua mansão durante uma festa entre amigos realizada após um evento de reencontro de 15 anos da sua turma do colégio. Confira o trailer:

Criada por Chris Miller, mente por trás do sucesso "Homem-Aranha no Aranhaverso"(2018), "Depois da Festa" agrada logo de cara, com sacadas muito bem inseridas no roteiro e com uma proposta narrativa das mais interessantes. O sucesso foi tão grande que mesmo antes do aguardado final da primeira temporada, a Apple já havia dado o sinal verde para uma segunda e confirmado o retorno de Haddish como detetive Danner para tentar desvendar o mistério de outro caso.

Veja, em um primeiro momento você pode até estranhar a forma como a história está sendo contada, com alguns erros de continuidade grosseiros e um certo descompasso entre os personagens e a trama que movimenta a história, porém logo percebemos que tudo isso faz parte da proposta - afinal as histórias são contadas pelo ponto de vista de quem viveu aquilo tudo e isso lhe dá o direito de construir a sua versão dos fatos, mesmo que soe fantasioso demais. A mudança de gênero que cada personagem escolhe para contar essa sua versão colabora para uma experiência única: o de tentar encontrar o assassino com as peças que nos são mostradas - e não se engane, essa peças são mostradas em todo momento, então preste muita atenção - o último episódio, inclusive, faz uso de uma montagem sensacional para nos provar que "quase" tudo foi realmente mostrado antes.

"The AfterParty" (no original) tem o mistério, ao melhor estilo "quem matou?", na sua essência, mas é durante a jornada que a série brilha (e brilha muito). Até o sétimo episódio, o mais fraco na minha opinião e que conta a história da detetive Danner, tem conexão com o arco central e se justifica logo no episódio seguinte. Esse cuidado em amarrar todas as pontas é uma aula de planejamento narrativo e faz de toda série imperdível - é impossível não ficar ansioso para conhecer as próximas pistas e assim construir a sua própria versão para o caso! Olha, se comentei no review de "Only Murders in the Building" que ao lado de "Ted Lasso" e "O Método Kominsky", aquela tinha sido a série que mais trouxe um frescor narrativo nos últimos anos, fico muito a vontade em adicionar mais um título nessa prateleira: "Depois da Festa"!

Vale muito o seu play!

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"Depois da Festa", produção original da Apple, é muito divertida e, sem a menor dúvida, veio para beber na mesma fonte de "Only Murders in the Building"- na sua forma e no seu conteúdo. Embora sejam histórias completamente diferentes, a série parte do mesmo principio: um assassinato onde todos são suspeitos (conteúdo). Misturando comédia com investigação (forma), "Depois da Festa" usa um conceito narrativo muito interessante: cada um dos interrogados conta sua versão da história respeitando as características de um determinado gênero de TV ou do cinema, criando uma dinâmica surpreendentemente criativa que vai do suspense à animação.

Na história acompanhamos a detetive Danner (Tiffany Haddish) que é chamada para investigar o assassinato do astro pop, Xavier (Dave Franco), morto em sua mansão durante uma festa entre amigos realizada após um evento de reencontro de 15 anos da sua turma do colégio. Confira o trailer:

Criada por Chris Miller, mente por trás do sucesso "Homem-Aranha no Aranhaverso"(2018), "Depois da Festa" agrada logo de cara, com sacadas muito bem inseridas no roteiro e com uma proposta narrativa das mais interessantes. O sucesso foi tão grande que mesmo antes do aguardado final da primeira temporada, a Apple já havia dado o sinal verde para uma segunda e confirmado o retorno de Haddish como detetive Danner para tentar desvendar o mistério de outro caso.

Veja, em um primeiro momento você pode até estranhar a forma como a história está sendo contada, com alguns erros de continuidade grosseiros e um certo descompasso entre os personagens e a trama que movimenta a história, porém logo percebemos que tudo isso faz parte da proposta - afinal as histórias são contadas pelo ponto de vista de quem viveu aquilo tudo e isso lhe dá o direito de construir a sua versão dos fatos, mesmo que soe fantasioso demais. A mudança de gênero que cada personagem escolhe para contar essa sua versão colabora para uma experiência única: o de tentar encontrar o assassino com as peças que nos são mostradas - e não se engane, essa peças são mostradas em todo momento, então preste muita atenção - o último episódio, inclusive, faz uso de uma montagem sensacional para nos provar que "quase" tudo foi realmente mostrado antes.

"The AfterParty" (no original) tem o mistério, ao melhor estilo "quem matou?", na sua essência, mas é durante a jornada que a série brilha (e brilha muito). Até o sétimo episódio, o mais fraco na minha opinião e que conta a história da detetive Danner, tem conexão com o arco central e se justifica logo no episódio seguinte. Esse cuidado em amarrar todas as pontas é uma aula de planejamento narrativo e faz de toda série imperdível - é impossível não ficar ansioso para conhecer as próximas pistas e assim construir a sua própria versão para o caso! Olha, se comentei no review de "Only Murders in the Building" que ao lado de "Ted Lasso" e "O Método Kominsky", aquela tinha sido a série que mais trouxe um frescor narrativo nos últimos anos, fico muito a vontade em adicionar mais um título nessa prateleira: "Depois da Festa"!

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Destacamento Blood

O novo filmedirigido pelo Spike Lee é extremamente interessante por inverter o processo de re-adaptação de um ex-combatente da Guerra do Vietnã. Enquanto o retorno para casa sempre guiou essa jornada, o diretor faz justamente uma provocação: o que aconteceria se soldados veteranosvoltassem ao Vietnã décadas depois? "Destacamento Blood" segue o conceito narrativo que Lee vem experimentando e que chamou tanto a atenção em "Infiltrado na Klan" - onde ele usa e abusa do seu repertório "multi-plataforma" para promover algum tipo de crítica social ou para expôr algum assunto político que precisa ser discutido!

Em "Destacamento Blood" acompanhamos quatro ex-soldados, não por acaso, negros, que retornam ao Vietnã com o objetivo de encontrar o corpo de um dos membros do destacamento, morto durante a guerra. Acontece que, na verdade, eles querem mesmo é reaver uma grande quantia de ouro que esconderam na época em que estavam em combate. Confira o trailer:

Embora no primeiro momento "Destacamento Blood" tenha um ar quase romântico de um "road movie", onde velhos amigos se reunem para (re)viver alguma grande experiência e finalmente encontrar uma espécie de "paz espiritual", logo percebemos que o filme vai muito além, nos surpreendendo com as várias camadas que Spike Lee nos mostra, sem a menor pressa, com o intuito de desmistificar a complexidade que é lidar com os fantasmas da Guerra. Acontece que os personagens trazem para si a humanidade de serem únicos, ou seja, o trauma se manifesta de maneira diferente entre eles e isso faz com que o conflito se instale de uma forma tão orgânica que fica completamente justificado o mapa mental do diretor ao conectar fatos reais com a ficção - mesmo que em alguns momentos possa parecer didático demais. A "grande experiência" que os amigos buscam está lá, claro, mas a forma como ela vai se materializando é que faz de "Destacamento Blood" o primeiro grande lançamento de 2020 - só por isso já valeria o seu play, mas tenha certeza: o filme tem muito mais para oferecer!

O roteiro é muito inteligente em alternar duas linhas temporais para nos mostrar o valor da amizade entre um grupo de soldados negros, mesmo com ideologias diferentes - e aqui já cabe um comentário sobre a direção de Lee: ele é extremamente inventivo desde as transições entre essas épocas distintas ao tipo de janela que ele usa para contar a história. Embora não seja nada original usar o 4:3 para definir o que é passado e o 16:9 para estabelecer o que é o presente, Lee vai além, ele divide os aspectos da imagem da seguinte forma: "1.33 : 1" nas cenas do passado, "1.85 : 1" para as cenas do presente que se passam na floresta e "2.39 : 1" para as cenas urbanas do presente. Além disso, o diretor brinca com diversas formas de captação de imagens, usando câmeras com negativos 8mm, 16 mm (o que trás aquele visual mais granulado para as cenas) até câmeras digitais, mais tradicionais nos dias de hoje!

Eu sei que as informações acima podem parecer técnicas demais, mas basta reparar na forma como cada fase da história é mostrada na tela que ficará fácil entender a razão pela qual Lee escolheu misturar tantas técnicas e tecnologias. Vale lembrar que o diretor de fotografia do filme é o Newton Thomas Sigel, muito elogiado pela sua criatividade no, também da Netflix, "Resgate"! Outro ponto alto de "Destacamento Blood" é o trabalho do elenco e o equilíbrio perfeito entre o drama e a comédia - se a leveza marca o tom dos primeiros minutos, a sua transformação é tão bem executada durante o segundo ato que temos a impressão de se tratar de um outro filme. O grande destaque, sem dúvida, é Delroy Lindo como Paul - pode ter certeza que, mesmo ainda sendo muito cedo, ele já entra como potencial indicado para o Oscar 2021! Uma decisão criativa do Spike Lee que favoreceu a exposição do elenco principal é que, mesmo em flashbacks,as cenas são interpretadas pelos mesmos atores e sem nenhuma caracterização para rejuvenescê-los, criando assim uma relação quase imaginativa para as cenas de combate - ficou lindo!

"Destacamento Blood" não é um filme de guerra; é notavelmente um drama bem estruturado onde a jornada dos personagens é apresentada em diferentes camadas para classificar as diferentes formas de lidar com o mesmo fantasma! Como todo filme de um diretor com uma identidade tão forte como o Spike Lee, você não vai encontrar uma obra fácil, ou superficial. Suas citações históricas e até a exposição contundente de sua luta, surgem dentro de um contexto que poucos seriam capazes de fazer e isso pode até diminuir a força dramática existente no imaginário de quem procura dramas de guerra, mas tranquilamente vai fortalecer a discussão sobre como lidar com personagens que nada mais são do que o reflexo histórico de uma nação desigual!

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O novo filmedirigido pelo Spike Lee é extremamente interessante por inverter o processo de re-adaptação de um ex-combatente da Guerra do Vietnã. Enquanto o retorno para casa sempre guiou essa jornada, o diretor faz justamente uma provocação: o que aconteceria se soldados veteranosvoltassem ao Vietnã décadas depois? "Destacamento Blood" segue o conceito narrativo que Lee vem experimentando e que chamou tanto a atenção em "Infiltrado na Klan" - onde ele usa e abusa do seu repertório "multi-plataforma" para promover algum tipo de crítica social ou para expôr algum assunto político que precisa ser discutido!

Em "Destacamento Blood" acompanhamos quatro ex-soldados, não por acaso, negros, que retornam ao Vietnã com o objetivo de encontrar o corpo de um dos membros do destacamento, morto durante a guerra. Acontece que, na verdade, eles querem mesmo é reaver uma grande quantia de ouro que esconderam na época em que estavam em combate. Confira o trailer:

Embora no primeiro momento "Destacamento Blood" tenha um ar quase romântico de um "road movie", onde velhos amigos se reunem para (re)viver alguma grande experiência e finalmente encontrar uma espécie de "paz espiritual", logo percebemos que o filme vai muito além, nos surpreendendo com as várias camadas que Spike Lee nos mostra, sem a menor pressa, com o intuito de desmistificar a complexidade que é lidar com os fantasmas da Guerra. Acontece que os personagens trazem para si a humanidade de serem únicos, ou seja, o trauma se manifesta de maneira diferente entre eles e isso faz com que o conflito se instale de uma forma tão orgânica que fica completamente justificado o mapa mental do diretor ao conectar fatos reais com a ficção - mesmo que em alguns momentos possa parecer didático demais. A "grande experiência" que os amigos buscam está lá, claro, mas a forma como ela vai se materializando é que faz de "Destacamento Blood" o primeiro grande lançamento de 2020 - só por isso já valeria o seu play, mas tenha certeza: o filme tem muito mais para oferecer!

O roteiro é muito inteligente em alternar duas linhas temporais para nos mostrar o valor da amizade entre um grupo de soldados negros, mesmo com ideologias diferentes - e aqui já cabe um comentário sobre a direção de Lee: ele é extremamente inventivo desde as transições entre essas épocas distintas ao tipo de janela que ele usa para contar a história. Embora não seja nada original usar o 4:3 para definir o que é passado e o 16:9 para estabelecer o que é o presente, Lee vai além, ele divide os aspectos da imagem da seguinte forma: "1.33 : 1" nas cenas do passado, "1.85 : 1" para as cenas do presente que se passam na floresta e "2.39 : 1" para as cenas urbanas do presente. Além disso, o diretor brinca com diversas formas de captação de imagens, usando câmeras com negativos 8mm, 16 mm (o que trás aquele visual mais granulado para as cenas) até câmeras digitais, mais tradicionais nos dias de hoje!

Eu sei que as informações acima podem parecer técnicas demais, mas basta reparar na forma como cada fase da história é mostrada na tela que ficará fácil entender a razão pela qual Lee escolheu misturar tantas técnicas e tecnologias. Vale lembrar que o diretor de fotografia do filme é o Newton Thomas Sigel, muito elogiado pela sua criatividade no, também da Netflix, "Resgate"! Outro ponto alto de "Destacamento Blood" é o trabalho do elenco e o equilíbrio perfeito entre o drama e a comédia - se a leveza marca o tom dos primeiros minutos, a sua transformação é tão bem executada durante o segundo ato que temos a impressão de se tratar de um outro filme. O grande destaque, sem dúvida, é Delroy Lindo como Paul - pode ter certeza que, mesmo ainda sendo muito cedo, ele já entra como potencial indicado para o Oscar 2021! Uma decisão criativa do Spike Lee que favoreceu a exposição do elenco principal é que, mesmo em flashbacks,as cenas são interpretadas pelos mesmos atores e sem nenhuma caracterização para rejuvenescê-los, criando assim uma relação quase imaginativa para as cenas de combate - ficou lindo!

"Destacamento Blood" não é um filme de guerra; é notavelmente um drama bem estruturado onde a jornada dos personagens é apresentada em diferentes camadas para classificar as diferentes formas de lidar com o mesmo fantasma! Como todo filme de um diretor com uma identidade tão forte como o Spike Lee, você não vai encontrar uma obra fácil, ou superficial. Suas citações históricas e até a exposição contundente de sua luta, surgem dentro de um contexto que poucos seriam capazes de fazer e isso pode até diminuir a força dramática existente no imaginário de quem procura dramas de guerra, mas tranquilamente vai fortalecer a discussão sobre como lidar com personagens que nada mais são do que o reflexo histórico de uma nação desigual!

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Diana

"Diana", filme que erroneamente foi vendido como uma cinebiografia, é uma espécie de "Um Lugar Chamado Notting Hill" da vida real - e não falo isso com demérito algum, mas é preciso alinhar as expectativas para que você não se decepcione com o recorte (e o caminho) escolhido para contar como foram os dois últimos anos de vida da princesa Diana, entre sua chocante entrevista para e jornalista Martin Bashir do programaPanorama, da BBC, em novembro de 1995 até sua morte em 31 de agosto de 1997, em Paris.

O filme mostra, basicamente, a princesa Diana (Naomi Watts), a mulher mais famosa do mundo na época, embarcando em um caso de amor complicado com um homem simples e reservado, o cirurgião cardíaco paquistanês Hasnat Khan (Naveen Andrews). Confira o trailer (em inglês):

Dirigido por Oliver Hirschbiegel (de "A Queda! As Últimas Horas de Hitler"), "Diana" é um filme agradável de assistir, mas funciona muito mais como curiosidade do que por sua narrativa dramática e cheia de camadas de uma protagonista complexa que todos conhecem seu destino. "Diana" é um sopro do que poderia representar uma cinebiografia de uma personalidade com esse tamanho, embora o roteiro Stephen Jeffreys, inspirado no livro de Kate Snell, "Diana Her Last Love'", deixe claro isso desde o seu início, ou seja, em hipótese nenhuma, depois do play, pode-se dizer que a audiência foi enganada. Tirando algumas passagens como quando Diana cruza o olhar com o médico Hasnat Khan e na cena seguinte ela já está sonhando com a cabeça no travesseiro, toda apaixonada; Hirschbiegel e Jeffreys foram muito felizes em expor alguns detalhes da intimidade da princesa sem precisar coloca-la em um pedestal. Se sua fama destruiu sua privacidade, afastou o que seria seu grande amor e a separou de seus filhos, seu ativismo em causas nobres e a forma como ela manipulava a imprensa também ajudou a transformar sua vida - a passagem que mostra sua relação com o repórter do "The Sun" para vazar as famosas fotos dela com Dodi Fayed (Cas Anvar) em seu iate, é um bom exemplo disso.

Muito bem fotografado pelo suíço Rainer Klausmann (do excelente "Em Pedaços"), "Diana" não compromete em absolutamente nenhum elemento técnico ou artístico. Naomi Watts fez um excelente trabalho - uma construção de personagem que merece elogios e, principalmente, com uma consciência corporal bastante competente, trazendo para tela vários trejeitos da Diana que, ao lado da maquiagem, facilmente nos transportam para o passado.

O farto é que "Diana" deixa um gostinho de "quero mais" por imaginarmos que sua vida seria muito mais interessante do que a que foi retratada no filme - mas repito, isso não diminui o valor da historia já que esse não era o objetivo e ponto final! Talvez em "The Crown" ou em "Spencer", filme dirigido por Pablo Larraín e com Kristen Stewart como protagonista, tenhamos isso. A questão do desejo das pessoas em viver uma vida através das atitudes de seus ídolos e o papel da mídia sensacionalista inglesa nisso tudo é até mencionada, mas sem muita força. Então lembre-se: "Diana" é "Um Lugar Chamado Notting Hill" da vida real e mais nada!

Dito isso, vale o play tranquilamente!

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"Diana", filme que erroneamente foi vendido como uma cinebiografia, é uma espécie de "Um Lugar Chamado Notting Hill" da vida real - e não falo isso com demérito algum, mas é preciso alinhar as expectativas para que você não se decepcione com o recorte (e o caminho) escolhido para contar como foram os dois últimos anos de vida da princesa Diana, entre sua chocante entrevista para e jornalista Martin Bashir do programaPanorama, da BBC, em novembro de 1995 até sua morte em 31 de agosto de 1997, em Paris.

O filme mostra, basicamente, a princesa Diana (Naomi Watts), a mulher mais famosa do mundo na época, embarcando em um caso de amor complicado com um homem simples e reservado, o cirurgião cardíaco paquistanês Hasnat Khan (Naveen Andrews). Confira o trailer (em inglês):

Dirigido por Oliver Hirschbiegel (de "A Queda! As Últimas Horas de Hitler"), "Diana" é um filme agradável de assistir, mas funciona muito mais como curiosidade do que por sua narrativa dramática e cheia de camadas de uma protagonista complexa que todos conhecem seu destino. "Diana" é um sopro do que poderia representar uma cinebiografia de uma personalidade com esse tamanho, embora o roteiro Stephen Jeffreys, inspirado no livro de Kate Snell, "Diana Her Last Love'", deixe claro isso desde o seu início, ou seja, em hipótese nenhuma, depois do play, pode-se dizer que a audiência foi enganada. Tirando algumas passagens como quando Diana cruza o olhar com o médico Hasnat Khan e na cena seguinte ela já está sonhando com a cabeça no travesseiro, toda apaixonada; Hirschbiegel e Jeffreys foram muito felizes em expor alguns detalhes da intimidade da princesa sem precisar coloca-la em um pedestal. Se sua fama destruiu sua privacidade, afastou o que seria seu grande amor e a separou de seus filhos, seu ativismo em causas nobres e a forma como ela manipulava a imprensa também ajudou a transformar sua vida - a passagem que mostra sua relação com o repórter do "The Sun" para vazar as famosas fotos dela com Dodi Fayed (Cas Anvar) em seu iate, é um bom exemplo disso.

Muito bem fotografado pelo suíço Rainer Klausmann (do excelente "Em Pedaços"), "Diana" não compromete em absolutamente nenhum elemento técnico ou artístico. Naomi Watts fez um excelente trabalho - uma construção de personagem que merece elogios e, principalmente, com uma consciência corporal bastante competente, trazendo para tela vários trejeitos da Diana que, ao lado da maquiagem, facilmente nos transportam para o passado.

O farto é que "Diana" deixa um gostinho de "quero mais" por imaginarmos que sua vida seria muito mais interessante do que a que foi retratada no filme - mas repito, isso não diminui o valor da historia já que esse não era o objetivo e ponto final! Talvez em "The Crown" ou em "Spencer", filme dirigido por Pablo Larraín e com Kristen Stewart como protagonista, tenhamos isso. A questão do desejo das pessoas em viver uma vida através das atitudes de seus ídolos e o papel da mídia sensacionalista inglesa nisso tudo é até mencionada, mas sem muita força. Então lembre-se: "Diana" é "Um Lugar Chamado Notting Hill" da vida real e mais nada!

Dito isso, vale o play tranquilamente!

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DOM

DOM

"DOM" é surpreendentemente boa - e digo isso com a tranquilidade de quem sabe as dificuldades que é produzir uma série desse tamanho aqui no Brasil. Embora algumas decisões conceituais sejam impactados diretamente pela limitação do orçamento de sua produção, o resultado final é de extrema qualidade narrativa e visual. "DOM" é um recorte social do Rio de Janeiro dos anos 2000 na sua essência, construído a partir de uma base histórica de 30 anos, justamente quando as drogas começaram a invadir os morros cariocas e se transformar em um cruel negócio dos mais lucrativos.

Na série acompanhamos duas histórias reais que se completam: a de Pedro Dom, um belo rapaz da classe média carioca que foi apresentado à cocaína na adolescência e que acabou colocando ele frente a frente com o crime, onde se transformou no líder de uma gangue criminosa que dominou os tabloides cariocas no início dos anos 2000. E a de seu pai, Victor Dantas, ex-mergulhador, que quando jovem fez uma descoberta no fundo do mar que logo o direcionou para o serviço de inteligência da polícia para combater, justamente, o inicio do tráfico de drogas no país. Confira o trailer:

A série é baseada nas obras "O Beijo da Bruxa", de Luiz Victor Lomba, e "DOM", de Tony Bellotto. Produzido e dirigido pelo sempre impecável Breno Silveira (de "Dois Filhos de Francisco"), o roteiro é bastante competente em cobrir os eventos em duas linhas temporais que a principio parece ter "apenas" a droga como conexão, mas que, posso garantir, vai muito além disso. As marcas do passado de Victor impactam diretamente no seu relacionamento com a família e principalmente com seu filho Pedro - então é preciso que se diga: não se trata da história de mais um criminoso ou da romantização da construção de um mito, muito pelo contrário, "DOM" traz para a discussão um problema social sério, o tráfico de drogas e o impacto dele nas famílias. 

Como já é de costume nos projetos de Breno Silveira, tecnicamente, "DOM" é um espetáculo. A fotografa do argentino Adrian Teijido (Capitu) mostra um contraste maravilhoso da cidade do Rio de Janeiro, criando uma dinâmica visual entre o morro, a praia e o asfalto, impressionante! A direção de Silveira, ao lado de Vicente Kubrusly, é precisa na construção do drama e das relações do núcleo central - só peca no trabalho com os atores do elenco de apoio. O trabalho do Claudio Amaral Peixoto na direção de arte também me chamou a atenção - o realismo quase minimalista compõe o cenário de uma forma completamente orgânica nas duas linhas temporais e ajuda demais na construção do mood da série.

Gabriel Leone é um dos melhores atores da sua geração - absolutamente tudo que assisti dele, me convenceu! Eu não gosto da sua versão adolescente na série, mas entendo a demanda. Sua postura como o jovem de classe média carioca, loiro e de olhos azuis, que aproveitava do racismo estrutural para entrar nos condomínios de luxo sem levantar suspeitas, é perfeito - me lembrou muito "The Bling Ring" de Sofia Coppola, mas com uma pegada mais "Cidade de Deus".

"DOM" tem visual de minissérie da Globo e isso é um baita elogio, tudo funciona perfeitamente e nos proporciona um experiência bastante visceral. Não se deixe enganar por qualquer tipo de glamourização ou pelos apelidos de Pedro Dom - essa coisa de "bandido fashion" ou "bandido gato" é marketing para vender jornal de terceira. A série é muito mais profunda, pesada até - ela mostra o uso excessivo de drogas sem se preocupar com os extremos e, por isso, é bem provável que você precise de um tempo para se conectar com a história. Mas vale a pena, mesmo que a jornada exija uma pausa entre um episódio e outro para recuperar o fôlego!

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"DOM" é surpreendentemente boa - e digo isso com a tranquilidade de quem sabe as dificuldades que é produzir uma série desse tamanho aqui no Brasil. Embora algumas decisões conceituais sejam impactados diretamente pela limitação do orçamento de sua produção, o resultado final é de extrema qualidade narrativa e visual. "DOM" é um recorte social do Rio de Janeiro dos anos 2000 na sua essência, construído a partir de uma base histórica de 30 anos, justamente quando as drogas começaram a invadir os morros cariocas e se transformar em um cruel negócio dos mais lucrativos.

Na série acompanhamos duas histórias reais que se completam: a de Pedro Dom, um belo rapaz da classe média carioca que foi apresentado à cocaína na adolescência e que acabou colocando ele frente a frente com o crime, onde se transformou no líder de uma gangue criminosa que dominou os tabloides cariocas no início dos anos 2000. E a de seu pai, Victor Dantas, ex-mergulhador, que quando jovem fez uma descoberta no fundo do mar que logo o direcionou para o serviço de inteligência da polícia para combater, justamente, o inicio do tráfico de drogas no país. Confira o trailer:

A série é baseada nas obras "O Beijo da Bruxa", de Luiz Victor Lomba, e "DOM", de Tony Bellotto. Produzido e dirigido pelo sempre impecável Breno Silveira (de "Dois Filhos de Francisco"), o roteiro é bastante competente em cobrir os eventos em duas linhas temporais que a principio parece ter "apenas" a droga como conexão, mas que, posso garantir, vai muito além disso. As marcas do passado de Victor impactam diretamente no seu relacionamento com a família e principalmente com seu filho Pedro - então é preciso que se diga: não se trata da história de mais um criminoso ou da romantização da construção de um mito, muito pelo contrário, "DOM" traz para a discussão um problema social sério, o tráfico de drogas e o impacto dele nas famílias. 

Como já é de costume nos projetos de Breno Silveira, tecnicamente, "DOM" é um espetáculo. A fotografa do argentino Adrian Teijido (Capitu) mostra um contraste maravilhoso da cidade do Rio de Janeiro, criando uma dinâmica visual entre o morro, a praia e o asfalto, impressionante! A direção de Silveira, ao lado de Vicente Kubrusly, é precisa na construção do drama e das relações do núcleo central - só peca no trabalho com os atores do elenco de apoio. O trabalho do Claudio Amaral Peixoto na direção de arte também me chamou a atenção - o realismo quase minimalista compõe o cenário de uma forma completamente orgânica nas duas linhas temporais e ajuda demais na construção do mood da série.

Gabriel Leone é um dos melhores atores da sua geração - absolutamente tudo que assisti dele, me convenceu! Eu não gosto da sua versão adolescente na série, mas entendo a demanda. Sua postura como o jovem de classe média carioca, loiro e de olhos azuis, que aproveitava do racismo estrutural para entrar nos condomínios de luxo sem levantar suspeitas, é perfeito - me lembrou muito "The Bling Ring" de Sofia Coppola, mas com uma pegada mais "Cidade de Deus".

"DOM" tem visual de minissérie da Globo e isso é um baita elogio, tudo funciona perfeitamente e nos proporciona um experiência bastante visceral. Não se deixe enganar por qualquer tipo de glamourização ou pelos apelidos de Pedro Dom - essa coisa de "bandido fashion" ou "bandido gato" é marketing para vender jornal de terceira. A série é muito mais profunda, pesada até - ela mostra o uso excessivo de drogas sem se preocupar com os extremos e, por isso, é bem provável que você precise de um tempo para se conectar com a história. Mas vale a pena, mesmo que a jornada exija uma pausa entre um episódio e outro para recuperar o fôlego!

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Drive

"Drive" é um excelente filme de ação carregado de drama, filmado pela lente poética de um grande diretor que em nenhum momento teve a preocupação de se apoiar em elementos narrativos que colocariam a história no lugar comum. "Drive" sem Nicolas Winding Refn ("Demônio de Neon") seria como "Breaking Bad" sem Vince Gilligan!

Na trama, Ryan Gosling é um habilidoso motorista que trabalha como dublê de Hollywood, mas que costuma usar seu talento no volante, pontualmente, dirigindo em fugas de assaltos. Quando ele se vê envolvido emocionalmente com sua vizinha Irene (Carey Mulligan) e com o filho, Benício (Kaden Leos), esse motorista (que propositalmente não tem um nome) tenta salvar a pele do marido dela, Standard (Oscar Isaac), que acaba de sair da prisão, para que eles possam viver em paz e em família, mas, claro, as coisas não saem exatamente como planejado. Confira o trailer (em inglês):

Em inglês,drive não significa apenas dirigir, pilotar, mas também tem uma outra conotação: algo como impulso ou motivação. O personagem de Gosling é justamente um homem movido pela ação nessa dupla interpretação do título original do filme - o interessante é que essa dualidade também brinca com a cadência da história e de como o protagonista se posiciona perante seus desafios - sua introspecção e o silêncio se opõem a velocidade (olha que sensacional) das suas ações de uma forma infinitamente mais lenta que sua principal habilidade exige. Mérito dessa leitura quase poética é do dinamarquês Nicolas Winding Refn, que ganhou o prêmio de Melhor Diretor no Festival de Cannes de 2012 e levou esse filme até a disputa da Palma de Ouro - mesmo com a Academia supreendentemente tendo ignorado "Drive" para o Oscar daquele ano, o indicando apenas em "Edição de Som".

É importante pontuar que o roteiro de "Drive", escrito por Hossein Amini (de "McMafia") a partir da adaptação do livro homônimo de James Sallis, busca expor uma personalidade pacata do protagonista como gatilho para nos conectarmos com sua jornada - é na tentativa de ajudar alguém que nunca esteve ao seu lado, que faz o personagem se transformar pelo meio em que se inseriu ou pelas próprias circunstâncias - e aqui é impossível não lembrar de Gilligan novamente e do seu Walter White.  A forma como Winding Refn nos faz experienciar a jornada desse motorista é muito potente - por mais que tenhamos poucas informações sobre ele, estamos sempre ao seu lado, como testemunhas de suas ações e transformações.

A fotografia do talentoso Newton Thomas Sigel (de "Os Suspeitos") traz uma sensação de solidão impressionante, mesmo o filme se passando em Los Angeles. Mais uma vez o diretor brinca com essa dualidade narrativa e é por isso que coloco "Drive" como uma obra de arte, muito mais profundo que a maioria dos filmes de ação, mas sem perder a emoção e a tensão do gênero. 

"Drive" merece ser apreciado, no seu tempo, mesmo que ele seja completamente diferente do que se espera de um filme de ação, mas não se engane: ele é muito violento e impactante visualmente - como se fosse um "Tarantino", com aquele esmero artístico e conceitual. Lindo de ver!

Vale muito a pena!

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"Drive" é um excelente filme de ação carregado de drama, filmado pela lente poética de um grande diretor que em nenhum momento teve a preocupação de se apoiar em elementos narrativos que colocariam a história no lugar comum. "Drive" sem Nicolas Winding Refn ("Demônio de Neon") seria como "Breaking Bad" sem Vince Gilligan!

Na trama, Ryan Gosling é um habilidoso motorista que trabalha como dublê de Hollywood, mas que costuma usar seu talento no volante, pontualmente, dirigindo em fugas de assaltos. Quando ele se vê envolvido emocionalmente com sua vizinha Irene (Carey Mulligan) e com o filho, Benício (Kaden Leos), esse motorista (que propositalmente não tem um nome) tenta salvar a pele do marido dela, Standard (Oscar Isaac), que acaba de sair da prisão, para que eles possam viver em paz e em família, mas, claro, as coisas não saem exatamente como planejado. Confira o trailer (em inglês):

Em inglês,drive não significa apenas dirigir, pilotar, mas também tem uma outra conotação: algo como impulso ou motivação. O personagem de Gosling é justamente um homem movido pela ação nessa dupla interpretação do título original do filme - o interessante é que essa dualidade também brinca com a cadência da história e de como o protagonista se posiciona perante seus desafios - sua introspecção e o silêncio se opõem a velocidade (olha que sensacional) das suas ações de uma forma infinitamente mais lenta que sua principal habilidade exige. Mérito dessa leitura quase poética é do dinamarquês Nicolas Winding Refn, que ganhou o prêmio de Melhor Diretor no Festival de Cannes de 2012 e levou esse filme até a disputa da Palma de Ouro - mesmo com a Academia supreendentemente tendo ignorado "Drive" para o Oscar daquele ano, o indicando apenas em "Edição de Som".

É importante pontuar que o roteiro de "Drive", escrito por Hossein Amini (de "McMafia") a partir da adaptação do livro homônimo de James Sallis, busca expor uma personalidade pacata do protagonista como gatilho para nos conectarmos com sua jornada - é na tentativa de ajudar alguém que nunca esteve ao seu lado, que faz o personagem se transformar pelo meio em que se inseriu ou pelas próprias circunstâncias - e aqui é impossível não lembrar de Gilligan novamente e do seu Walter White.  A forma como Winding Refn nos faz experienciar a jornada desse motorista é muito potente - por mais que tenhamos poucas informações sobre ele, estamos sempre ao seu lado, como testemunhas de suas ações e transformações.

A fotografia do talentoso Newton Thomas Sigel (de "Os Suspeitos") traz uma sensação de solidão impressionante, mesmo o filme se passando em Los Angeles. Mais uma vez o diretor brinca com essa dualidade narrativa e é por isso que coloco "Drive" como uma obra de arte, muito mais profundo que a maioria dos filmes de ação, mas sem perder a emoção e a tensão do gênero. 

"Drive" merece ser apreciado, no seu tempo, mesmo que ele seja completamente diferente do que se espera de um filme de ação, mas não se engane: ele é muito violento e impactante visualmente - como se fosse um "Tarantino", com aquele esmero artístico e conceitual. Lindo de ver!

Vale muito a pena!

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Duna

"Duna" é uma poesia visual! Um verdadeiro épico como poucas vezes assistimos - e aqui eu coloco, sem o menor receio de errar, "Senhor dos Anéis" e "Star Wars" no mesmo nível! Ter um diretor como Dennis Villeneuve no comando de uma obra tão complexa visualmente, e que há pouco tempo dizia-se impossível de transportar para a tela de cinema com o respeito ao texto magistral de Frank Herbert, é posicionar o filme em um outro patamar, daqueles raros artisticamente, claro, mas principalmente, tecnicamente! Sério, se você achou que em "A Chegada" (de 2016) e em "Blade Runner 2049" (de 2017) ele entregou grandes filmes, seja em termos de narrativa ou equilibrando perfeitamente a gramática cinematográfica com uma belíssima fotografia e o uso de computação gráfica, se prepare porque "Duna" vai redefinir o padrão estético para filmes do gênero! 

"Duna" conta a história de Paul Atreides, jovem talentoso e brilhante que nasceu com um destino grandioso, para além até da sua própria compreensão. A pedido do Imperador, ele e sua família são convidados a reestabelecer a paz em um dos planetas mais perigosos do universo e assim garantir o futuro de seu povo. Enquanto forças malévolas levam à uma acirrada disputa pelo controle exclusivo do fornecimento do recurso natural mais precioso existente nesse planeta - capaz de liberar o maior potencial da humanidade, apenas aqueles que conseguem vencer seu medo vão sobreviver em um ambiente árido e cheio de desafios. Confira o trailer:

Trata-se de um épico de ficção cientifica? Sim, mas não apenas isso. Ao assistir o filme, não será uma única vez que você vai conectar o mood de "Duna" com séries como "Game of Thrones" ou filmes como "Star Wars" - e aqui não estou estabelecendo nenhum tipo de comparação entre as obras e as especificidades de cada uma, apenas pontuando que vários elementos narrativos vão nos transportar pela memória. 

Mais do que apresentar com inteligência um novo universo para aqueles pouco familiarizados com a obra literária, Villeneuve impõe uma visão clássica de "Duna" sem esquecer da dinâmica narrativa referenciada por George Lucas ou R. R. Martin - quando Paul encara o Verme da Areia de Arrakis é como se replicássemos a cena de Drogon pronto para queimar Jon Snow no final de GoT. O fato é que o diretor, ao lado dos roteiristas Jon Spaihts e Eric Rothnão apenas se inspiram na dinâmica, como também tratam de diversos assuntos presentes em ambos universos, como política, religião, economia, geografia e ciência, organizando as ações e batalhas em cima dos gatilhos de três fortes elementos narrativos: conquista, traição e vingança.

Saiba que "Duna"é apenas a primeira parte, então não caia no erro de criticar a história ou pensar nos filmes isoladamente quando, na verdade, será preciso analisar o projeto como um todo -Peter Jackson que não nos ouça. Mesmo Villeneuve entregando um filme com começo, meio e fim, a sensação ao subir o primeiro crédito é que estamos apenas no fim da primeira temporada de uma saga que já tem dia para acabar (ou pelo menos deveria, pois a Warner ainda não confirmou as sequências).

Antes de finalizar, preciso fazer um comentário, reparem nos elementos técnicos e artísticos de "Duna" e aqui eu destaco alguns: a trilha sonora de Hans Zimmer (“Blade Runner 2049”) é algo de se aplaudir de pé; a fotografia de Greig Fraser (“Lion: Uma Jornada para Casa” e “A Hora Mais Escura”) é belíssima; o figurino da Jacqueline West (“O Regresso”) também sensacional e, por fim, o desenho de produção de Patrice Vermette ("A Chegada"), muito criativo e original nos detalhes dentro de tudo que já vimos. Não se surpreendam se "Duna" receber por volta de 15 indicações no Oscar 2022 - e de levar tranquilamente, pelo menos, metade disso.

"Duna" é uma linda adaptação, um espetáculo visual que realmente merece ser assistido em uma tela grande e com o melhor sistema de som possível, mas adianto, mesmo com a satisfação de ter experienciado um filme raro, será preciso ter muita paciência até que o destino de Paul Atreides seja mostrado nos demais filmes - e que assim seja, pois essa ansiedade vai nos incomodar durante os próximos 3 ou 4 anos.

Vale muito a pena!!!

Up-date: "Duna" recebeu 10 indicações, ganhando em seis categorias no Oscar 2022, inclusive Melhor Fotografia.

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"Duna" é uma poesia visual! Um verdadeiro épico como poucas vezes assistimos - e aqui eu coloco, sem o menor receio de errar, "Senhor dos Anéis" e "Star Wars" no mesmo nível! Ter um diretor como Dennis Villeneuve no comando de uma obra tão complexa visualmente, e que há pouco tempo dizia-se impossível de transportar para a tela de cinema com o respeito ao texto magistral de Frank Herbert, é posicionar o filme em um outro patamar, daqueles raros artisticamente, claro, mas principalmente, tecnicamente! Sério, se você achou que em "A Chegada" (de 2016) e em "Blade Runner 2049" (de 2017) ele entregou grandes filmes, seja em termos de narrativa ou equilibrando perfeitamente a gramática cinematográfica com uma belíssima fotografia e o uso de computação gráfica, se prepare porque "Duna" vai redefinir o padrão estético para filmes do gênero! 

"Duna" conta a história de Paul Atreides, jovem talentoso e brilhante que nasceu com um destino grandioso, para além até da sua própria compreensão. A pedido do Imperador, ele e sua família são convidados a reestabelecer a paz em um dos planetas mais perigosos do universo e assim garantir o futuro de seu povo. Enquanto forças malévolas levam à uma acirrada disputa pelo controle exclusivo do fornecimento do recurso natural mais precioso existente nesse planeta - capaz de liberar o maior potencial da humanidade, apenas aqueles que conseguem vencer seu medo vão sobreviver em um ambiente árido e cheio de desafios. Confira o trailer:

Trata-se de um épico de ficção cientifica? Sim, mas não apenas isso. Ao assistir o filme, não será uma única vez que você vai conectar o mood de "Duna" com séries como "Game of Thrones" ou filmes como "Star Wars" - e aqui não estou estabelecendo nenhum tipo de comparação entre as obras e as especificidades de cada uma, apenas pontuando que vários elementos narrativos vão nos transportar pela memória. 

Mais do que apresentar com inteligência um novo universo para aqueles pouco familiarizados com a obra literária, Villeneuve impõe uma visão clássica de "Duna" sem esquecer da dinâmica narrativa referenciada por George Lucas ou R. R. Martin - quando Paul encara o Verme da Areia de Arrakis é como se replicássemos a cena de Drogon pronto para queimar Jon Snow no final de GoT. O fato é que o diretor, ao lado dos roteiristas Jon Spaihts e Eric Rothnão apenas se inspiram na dinâmica, como também tratam de diversos assuntos presentes em ambos universos, como política, religião, economia, geografia e ciência, organizando as ações e batalhas em cima dos gatilhos de três fortes elementos narrativos: conquista, traição e vingança.

Saiba que "Duna"é apenas a primeira parte, então não caia no erro de criticar a história ou pensar nos filmes isoladamente quando, na verdade, será preciso analisar o projeto como um todo -Peter Jackson que não nos ouça. Mesmo Villeneuve entregando um filme com começo, meio e fim, a sensação ao subir o primeiro crédito é que estamos apenas no fim da primeira temporada de uma saga que já tem dia para acabar (ou pelo menos deveria, pois a Warner ainda não confirmou as sequências).

Antes de finalizar, preciso fazer um comentário, reparem nos elementos técnicos e artísticos de "Duna" e aqui eu destaco alguns: a trilha sonora de Hans Zimmer (“Blade Runner 2049”) é algo de se aplaudir de pé; a fotografia de Greig Fraser (“Lion: Uma Jornada para Casa” e “A Hora Mais Escura”) é belíssima; o figurino da Jacqueline West (“O Regresso”) também sensacional e, por fim, o desenho de produção de Patrice Vermette ("A Chegada"), muito criativo e original nos detalhes dentro de tudo que já vimos. Não se surpreendam se "Duna" receber por volta de 15 indicações no Oscar 2022 - e de levar tranquilamente, pelo menos, metade disso.

"Duna" é uma linda adaptação, um espetáculo visual que realmente merece ser assistido em uma tela grande e com o melhor sistema de som possível, mas adianto, mesmo com a satisfação de ter experienciado um filme raro, será preciso ter muita paciência até que o destino de Paul Atreides seja mostrado nos demais filmes - e que assim seja, pois essa ansiedade vai nos incomodar durante os próximos 3 ou 4 anos.

Vale muito a pena!!!

Up-date: "Duna" recebeu 10 indicações, ganhando em seis categorias no Oscar 2022, inclusive Melhor Fotografia.

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Easy

Como "Modern Love" da Prime Vídeo, "Easy", produção original da Netflix, é uma série deliciosa de assistir e que usa de um conceito narrativo muito inteligente para falar "basicamente" de relacionamentos - em diferentes pontos, perspectivas, gêneros, etc. O interessante é que o talento do diretor Joe Swanberg (de "Love") traz para o projeto um tom extremamente realista, com personagens tão complexos quanto palpáveis, onde as situações se apoiam muito mais nas consequências das decisões tomadas por eles do que apenas na aparente superficialidade do que causou determinada situação - e é por isso que nos identificamos com esses dramas.

A história é simples, mas nem por isso simplista - em 8 episódios, "Easy" acompanha um grupo de jovens que moram em Chicago e que acabam se atrapalhando com o moderno labirinto do amor. Cada qual da sua maneira, os personagens precisam lidar com as dificuldades de suas relações, seja no sexo, pela tecnologia ou até enfrentando as novas perspectivas de uma cultura que passou a ser tão presente em nossas decisões cotidianas. Confira o trailer:

Saber tratar de forma tão honesta (e original) vários tipos de conflitos pessoais, de casais tão diferentes, mas que se encontram em algum buraco de suas vidas, faz de "Easy" uma das séries mais interessantes desse gênero - o equilíbrio entre o drama e a comédia é cirúrgico. Swanberg, aliás, se apropria do estilo mumblecore para impactar a audiência com uma realidade quase que visceral. Para quem não sabe, esse é um movimento cinematográfico que funciona como uma espécie de sub-gênero do cinema independente, onde a atmosfera da narrativa é a mais natural possível, sendo comum ver improvisos entre os atores em cena, muitos deles amadores ou desconhecidos em um ambiente completamente naturalista que chega a dispensar a iluminação artificial e onde a câmera documental funciona como uma espécie de observador onipresente.

É claro que os próprios roteiros sustentam essa escolha conceitual - eles são excelentes e como os atores são ótimos, até mesmo quando os planos são mais longos (e têm vários) os diálogos não se perdem em futilidades ou esteriótipos de gênero. Aqui cabe um comentário: alguns anos atrás assisti duas séries inglesas com o mesmo conceito e seguindo o mesmo gênero: "Dates" e "True Love". Para quem sabe do que estou falando, "Easy" traz um pouco dessas duas produções, talvez com um pouco menos de sutileza no texto e de uma fotografia mais autoral, mas com um resultado igualmente elogiável.

Uma grande vantagem das séries que possuem o formato de antologia é o de poder contar histórias que não precisem necessariamente se conectar uma nas outras - essa estrutura de fato se repete em sete episódios, porém no oitavo revisitamos alguns personagens e entendemos que tudo que foi visto até ali poderá ter suas consequências - e de fato se provou assim na segunda e terceira temporadas. Embora seja uma série mais de nicho, ou menos ritmada (como preferir), sua trama chega carregada de profundas discussões, com tantas camadas e assuntos que temos a exata sensação de que conhecemos alguém que vive (ou viveu) algo parecido com os dramas dos protagonistas.

"Easy" é mais uma daquelas que indico de olhos fechados para quem gosta desse tipo de série, ainda mais sabendo que a Netflix se planejou e produziu um final já na terceira temporada! Vale muito o seu play!

Como "Modern Love" da Prime Vídeo, "Easy", produção original da Netflix, é uma série deliciosa de assistir e que usa de um conceito narrativo muito inteligente para falar "basicamente" de relacionamentos - em diferentes pontos, perspectivas, gêneros, etc. O interessante é que o talento do diretor Joe Swanberg (de "Love") traz para o projeto um tom extremamente realista, com personagens tão complexos quanto palpáveis, onde as situações se apoiam muito mais nas consequências das decisões tomadas por eles do que apenas na aparente superficialidade do que causou determinada situação - e é por isso que nos identificamos com esses dramas.

A história é simples, mas nem por isso simplista - em 8 episódios, "Easy" acompanha um grupo de jovens que moram em Chicago e que acabam se atrapalhando com o moderno labirinto do amor. Cada qual da sua maneira, os personagens precisam lidar com as dificuldades de suas relações, seja no sexo, pela tecnologia ou até enfrentando as novas perspectivas de uma cultura que passou a ser tão presente em nossas decisões cotidianas. Confira o trailer:

Saber tratar de forma tão honesta (e original) vários tipos de conflitos pessoais, de casais tão diferentes, mas que se encontram em algum buraco de suas vidas, faz de "Easy" uma das séries mais interessantes desse gênero - o equilíbrio entre o drama e a comédia é cirúrgico. Swanberg, aliás, se apropria do estilo mumblecore para impactar a audiência com uma realidade quase que visceral. Para quem não sabe, esse é um movimento cinematográfico que funciona como uma espécie de sub-gênero do cinema independente, onde a atmosfera da narrativa é a mais natural possível, sendo comum ver improvisos entre os atores em cena, muitos deles amadores ou desconhecidos em um ambiente completamente naturalista que chega a dispensar a iluminação artificial e onde a câmera documental funciona como uma espécie de observador onipresente.

É claro que os próprios roteiros sustentam essa escolha conceitual - eles são excelentes e como os atores são ótimos, até mesmo quando os planos são mais longos (e têm vários) os diálogos não se perdem em futilidades ou esteriótipos de gênero. Aqui cabe um comentário: alguns anos atrás assisti duas séries inglesas com o mesmo conceito e seguindo o mesmo gênero: "Dates" e "True Love". Para quem sabe do que estou falando, "Easy" traz um pouco dessas duas produções, talvez com um pouco menos de sutileza no texto e de uma fotografia mais autoral, mas com um resultado igualmente elogiável.

Uma grande vantagem das séries que possuem o formato de antologia é o de poder contar histórias que não precisem necessariamente se conectar uma nas outras - essa estrutura de fato se repete em sete episódios, porém no oitavo revisitamos alguns personagens e entendemos que tudo que foi visto até ali poderá ter suas consequências - e de fato se provou assim na segunda e terceira temporadas. Embora seja uma série mais de nicho, ou menos ritmada (como preferir), sua trama chega carregada de profundas discussões, com tantas camadas e assuntos que temos a exata sensação de que conhecemos alguém que vive (ou viveu) algo parecido com os dramas dos protagonistas.

"Easy" é mais uma daquelas que indico de olhos fechados para quem gosta desse tipo de série, ainda mais sabendo que a Netflix se planejou e produziu um final já na terceira temporada! Vale muito o seu play!

Ela Disse

Se você gostou de "O Escândalo""A Assistente" ou "A Voz Mais Forte", saiba que "Ela Disse" pode ser considerada a cereja do bolo de uma discussão tão importante quanto necessária e que, contextualizada dentro do movimento #MeToo e de todos os casos de abuso sexual envolvendo gente muito importante, foi brilhantemente explorada pela diretora Maria Schrader (de "Nada Ortodoxa"). 

Baseado na investigação vencedora do prêmio Pulitzer pelo The New York Times, "Ela Disse" acompanha Megan Twohey (Carey Mulligan) e Jodi Kantor (Zoe Kazan), duas jornalistas que juntas publicaram uma das histórias mais importantes e relevantes de uma geração: sérias denuncias de abuso sexual (e até estupro) contra o "todo poderoso" do cinema americano, o produtor e CEO da Miramax, Harvey Weinstein. A história que ajudou a lançar o movimento#Metoo, quebrou décadas de silêncio em torno do assunto de agressão sexual em Hollywood e alterou a cultura americana para sempre. Confira o trailer:

Com um time de primeiríssima qualidade, começando pelos produtores (os mesmos de "12 Anos de Escravidão", "Moonlight: Sob a Luz do Luar" e "Minari"), passando pela roteirista Rebecca Lenkiewicz (de "Ida") e culminando nas protagonistas Carey Mulligan e Zoe Kazan, "Ela Disse" pode ser considerado um dos melhores filmes de 2022 sem a menor sombra de dúvida. Mesmo com uma narrativa mais cadenciada, com uma levada mais jornalística do que investigativa e um texto denso (muitas vezes complexo), o filme cria uma atmosfera documental impressionante, expondo em detalhes todo o processo que levou as vitimas de Weinstein enfrentar o medo e denuncia-lo. 

Ao lado de Schrader, a diretora de fotografia Natasha Braier (de "Demônio de Neon") nos joga dentro da redação do The New York Times e sem pressa alguma vai nos presenteando com um drama ao melhor estilo "Todos os Homens do Presidente". Mulligan e Kazan estão incríveis - dignas de indicações ao Oscar, eu diria. Mesmo que em alguns momentos o roteiro ceda a tentação do sensacionalismo, o elenco segura com muito realismo toda a jornada entre uma denuncia isolada e a construção de uma matéria bombástica - o interessante é justamente perceber essa montanha russa de emoções nos olhos das protagonistas. A cena em que Jodi Kantor recebe a ligação de Ashley Judd (interpretando ela mesmo), é impagável! Reparem! No papel da editora da dupla, Rebecca Corbett, e do editor executivo do NYT, Dean Baquet, Patricia Clarkson e Andre Braugher, respectivamente, merecem elogios, bem como Mike Houston como Harvey Weinstein que mesmo sem aparecer seu rosto em nenhum momento, consegue passar toda imponência e força de seu personagem.

"Ela Disse" é sim um soco no estômago, mas que sugere muito mais do que mostra e muito por causa disso nos coloca em uma posição de permanente tensão e angustia - o áudio da gravação de uma das vitimas sendo assediada por Harvey, enquanto a câmera enquadra os corredores de um hotel, chega a ser chocante. Os depoimentos também - é um mais visceral que o outro e faz com que tenhamos a exata noção de como essas mulheres foram expostas e desrespeitadas. Na verdade não há muito o que dizer, é preciso mergulhar nessa verdadeira cruzada e se o tema de fato te interessar, não deixe de ler "Ela Disse: Os bastidores da reportagem que impulsionou o #MeToo"- que como o filme, é tão surpreendente quanto doloroso!

Assista Agora

Se você gostou de "O Escândalo""A Assistente" ou "A Voz Mais Forte", saiba que "Ela Disse" pode ser considerada a cereja do bolo de uma discussão tão importante quanto necessária e que, contextualizada dentro do movimento #MeToo e de todos os casos de abuso sexual envolvendo gente muito importante, foi brilhantemente explorada pela diretora Maria Schrader (de "Nada Ortodoxa"). 

Baseado na investigação vencedora do prêmio Pulitzer pelo The New York Times, "Ela Disse" acompanha Megan Twohey (Carey Mulligan) e Jodi Kantor (Zoe Kazan), duas jornalistas que juntas publicaram uma das histórias mais importantes e relevantes de uma geração: sérias denuncias de abuso sexual (e até estupro) contra o "todo poderoso" do cinema americano, o produtor e CEO da Miramax, Harvey Weinstein. A história que ajudou a lançar o movimento#Metoo, quebrou décadas de silêncio em torno do assunto de agressão sexual em Hollywood e alterou a cultura americana para sempre. Confira o trailer:

Com um time de primeiríssima qualidade, começando pelos produtores (os mesmos de "12 Anos de Escravidão", "Moonlight: Sob a Luz do Luar" e "Minari"), passando pela roteirista Rebecca Lenkiewicz (de "Ida") e culminando nas protagonistas Carey Mulligan e Zoe Kazan, "Ela Disse" pode ser considerado um dos melhores filmes de 2022 sem a menor sombra de dúvida. Mesmo com uma narrativa mais cadenciada, com uma levada mais jornalística do que investigativa e um texto denso (muitas vezes complexo), o filme cria uma atmosfera documental impressionante, expondo em detalhes todo o processo que levou as vitimas de Weinstein enfrentar o medo e denuncia-lo. 

Ao lado de Schrader, a diretora de fotografia Natasha Braier (de "Demônio de Neon") nos joga dentro da redação do The New York Times e sem pressa alguma vai nos presenteando com um drama ao melhor estilo "Todos os Homens do Presidente". Mulligan e Kazan estão incríveis - dignas de indicações ao Oscar, eu diria. Mesmo que em alguns momentos o roteiro ceda a tentação do sensacionalismo, o elenco segura com muito realismo toda a jornada entre uma denuncia isolada e a construção de uma matéria bombástica - o interessante é justamente perceber essa montanha russa de emoções nos olhos das protagonistas. A cena em que Jodi Kantor recebe a ligação de Ashley Judd (interpretando ela mesmo), é impagável! Reparem! No papel da editora da dupla, Rebecca Corbett, e do editor executivo do NYT, Dean Baquet, Patricia Clarkson e Andre Braugher, respectivamente, merecem elogios, bem como Mike Houston como Harvey Weinstein que mesmo sem aparecer seu rosto em nenhum momento, consegue passar toda imponência e força de seu personagem.

"Ela Disse" é sim um soco no estômago, mas que sugere muito mais do que mostra e muito por causa disso nos coloca em uma posição de permanente tensão e angustia - o áudio da gravação de uma das vitimas sendo assediada por Harvey, enquanto a câmera enquadra os corredores de um hotel, chega a ser chocante. Os depoimentos também - é um mais visceral que o outro e faz com que tenhamos a exata noção de como essas mulheres foram expostas e desrespeitadas. Na verdade não há muito o que dizer, é preciso mergulhar nessa verdadeira cruzada e se o tema de fato te interessar, não deixe de ler "Ela Disse: Os bastidores da reportagem que impulsionou o #MeToo"- que como o filme, é tão surpreendente quanto doloroso!

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Elle

Extremamente premiado na temporada 2016/2017, "Elle" ficou marcado por ter colocado a excelente atriz Isabelle Huppert na disputa do Oscar depois de uma performance, de fato, surpreendente. Dirigido pelo experiente diretor holandês Paul Verhoeven (de "Instinto Selvagem"), essa produção francesa é, no mínimo, intrigante - eu diria até que é um filme que desafia as nossas expectativas ao nos convidar para uma jornada profunda pelas entranhas da psique humana como poucos. Considerado por muitos uma obra de arte que merecia uma indicação de "Melhor Filme" em 2017, "Elle" se apropria de um tema denso e uma narrativa complexa para nos provocar inúmeras reflexões e, claro, fortes emoções. 

Baseado no romance "Oh...", dePhilippe Djian, conhecemos Michèle (Isabelle Huppert), uma executiva-chefe de uma empresa de videogames que administra sua vida profissional do mesmo jeito que sua vida amorosa e sentimental: com mão de ferro, organizando de maneira precisa e ordenada para que tudo funcione - mas sabemos que a realidade não é bem assim. Sua rotina quase patológica é quebrada quando ela é atacada por um desconhecido, dentro de sua própria casa e ela decide não deixar que essa experiência traumática a abale. É aí que Michèle passa a observar e investigar quem poderia ser seu agressor - o problema é que o próprio agressor misterioso também não desistiu dela. Confira o trailer:

Sem dúvida alguma que "Elle" é o filme da vida de Verhoeven e mereceu todo o sucesso que teve nos festivais - para você ter uma ideia, foram mais de 65 prêmios em quase 100 indicações, incluindo vitórias no Globo de Ouro, no BAFTA e no Goya. Com uma narrativa que desafia convenções ao explorar a natureza dicotômica do trauma e do desejo, o filme nos mantém em estado de tensão e angustia enquanto tentamos decifrar os enigmas que permeiam a história de Michèle. O desempenho de Huppert é simplesmente fenomenal - reparem a maneira como ela dá vida a Michèle, retratando sua força e vulnerabilidade de forma tão convincente e visceral. E aqui cabe um rápido comentário: o elenco de apoio, incluindo nomes como Laurent Lafitte e Anne Consigny, também merece elogios - eles são o gatilho perfeito para Huppert brilhar ao mesmo tempo em que enriquecem a trama.

A direção de Paul Verhoeven é magistral! Ele é capaz de criar essa atmosfera de tensão extremamente provocante, se apoiando em um texto afiado, cheio de camadas, de dois roteiristas sem muita expressão: Philippe Djian (de "Betty Blue") e David Birke (de "Os 13 Pecados"). Equilibrando com maestria o suspense e o viés psicológico da trama, Verhoeven conduz a narrativa sempre no tom exato, sem escorregar como já havia feito antes. Outro mérito do diretor e é preciso admitir, é o fato dele ter trazido para o projeto o fotógrafo Stéphane Fontaine (de "Capitão Fantástico") e a compositora de Anne Dudley (de "Tudo ou Nada") - dois profissionais de primeira linha que foram essenciais para intensificar as nossas emoções exatamente como ele queria.

Veja, embora a recepção de "Elle" tenha dividido opiniões, provocando debates acalorados entre críticos e público, é preciso reconhecer e elogiar a coragem do filme em abordar temas tão delicados sem esquecer do seu valor como entretenimento - mais ou menos como o alemão, "Está tudo certo". É inegável que a obra provoca reações emocionais intensas, e isso deve ser considerado até como um testemunho de seu impacto, no entanto o filme tem uma precisão, um cuidado, um equilíbrio tão cirúrgico entre o humor negro e o sarcasmo inteligente que, olha, merece muito o seu play e voando!

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Extremamente premiado na temporada 2016/2017, "Elle" ficou marcado por ter colocado a excelente atriz Isabelle Huppert na disputa do Oscar depois de uma performance, de fato, surpreendente. Dirigido pelo experiente diretor holandês Paul Verhoeven (de "Instinto Selvagem"), essa produção francesa é, no mínimo, intrigante - eu diria até que é um filme que desafia as nossas expectativas ao nos convidar para uma jornada profunda pelas entranhas da psique humana como poucos. Considerado por muitos uma obra de arte que merecia uma indicação de "Melhor Filme" em 2017, "Elle" se apropria de um tema denso e uma narrativa complexa para nos provocar inúmeras reflexões e, claro, fortes emoções. 

Baseado no romance "Oh...", dePhilippe Djian, conhecemos Michèle (Isabelle Huppert), uma executiva-chefe de uma empresa de videogames que administra sua vida profissional do mesmo jeito que sua vida amorosa e sentimental: com mão de ferro, organizando de maneira precisa e ordenada para que tudo funcione - mas sabemos que a realidade não é bem assim. Sua rotina quase patológica é quebrada quando ela é atacada por um desconhecido, dentro de sua própria casa e ela decide não deixar que essa experiência traumática a abale. É aí que Michèle passa a observar e investigar quem poderia ser seu agressor - o problema é que o próprio agressor misterioso também não desistiu dela. Confira o trailer:

Sem dúvida alguma que "Elle" é o filme da vida de Verhoeven e mereceu todo o sucesso que teve nos festivais - para você ter uma ideia, foram mais de 65 prêmios em quase 100 indicações, incluindo vitórias no Globo de Ouro, no BAFTA e no Goya. Com uma narrativa que desafia convenções ao explorar a natureza dicotômica do trauma e do desejo, o filme nos mantém em estado de tensão e angustia enquanto tentamos decifrar os enigmas que permeiam a história de Michèle. O desempenho de Huppert é simplesmente fenomenal - reparem a maneira como ela dá vida a Michèle, retratando sua força e vulnerabilidade de forma tão convincente e visceral. E aqui cabe um rápido comentário: o elenco de apoio, incluindo nomes como Laurent Lafitte e Anne Consigny, também merece elogios - eles são o gatilho perfeito para Huppert brilhar ao mesmo tempo em que enriquecem a trama.

A direção de Paul Verhoeven é magistral! Ele é capaz de criar essa atmosfera de tensão extremamente provocante, se apoiando em um texto afiado, cheio de camadas, de dois roteiristas sem muita expressão: Philippe Djian (de "Betty Blue") e David Birke (de "Os 13 Pecados"). Equilibrando com maestria o suspense e o viés psicológico da trama, Verhoeven conduz a narrativa sempre no tom exato, sem escorregar como já havia feito antes. Outro mérito do diretor e é preciso admitir, é o fato dele ter trazido para o projeto o fotógrafo Stéphane Fontaine (de "Capitão Fantástico") e a compositora de Anne Dudley (de "Tudo ou Nada") - dois profissionais de primeira linha que foram essenciais para intensificar as nossas emoções exatamente como ele queria.

Veja, embora a recepção de "Elle" tenha dividido opiniões, provocando debates acalorados entre críticos e público, é preciso reconhecer e elogiar a coragem do filme em abordar temas tão delicados sem esquecer do seu valor como entretenimento - mais ou menos como o alemão, "Está tudo certo". É inegável que a obra provoca reações emocionais intensas, e isso deve ser considerado até como um testemunho de seu impacto, no entanto o filme tem uma precisão, um cuidado, um equilíbrio tão cirúrgico entre o humor negro e o sarcasmo inteligente que, olha, merece muito o seu play e voando!

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