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A Fera

"A Fera" é uma espécie de "Orca - A Baleia Assassina" com "Jurassic Park", que se passa na África. Dito isso, fica muito simples alinhar as expectativas e entender o que esperar dessa produção dirigida pelo islandês Baltasar Kormákur (de "Vidas à Deriva"). De fato "Beast" (no original) não é um grande filme: ele é cheio de clichês, tem um roteiro que se apoia em esteriótipos bem batidos e toma decisões narrativas no terceiro ato, digamos, duvidosas; mas por outro lado, entrega exatamente o que promete: entretenimento, ação e alguns (bons) sustos. 

O Dr. Nate Daniels (Idris Elba) é um recém viúvo que retorna para África do Sul, onde conheceu sua esposa, em uma viagem há muito tempo planejada com suas duas filhas. Em uma reserva gerenciada por Martin Battles (Sharlto Copley), um antigo amigo da família e biólogo da natureza selvagem, o que seria uma jornada de cura e redescobrimento, se desdobra em uma luta por sobrevivência quando um leão passa a enxergar todos os humanos como inimigos e começa a persegui-los até a morte. Confira o trailer:

O ponto alto do filme é a atmosfera de tensão que Kormákur constrói ao impor um conceito visual muito próximo do documental - com uma câmera bem solta, quase sempre dentro das cenas de ação ao lado dos personagens, uma montagem bem alinhada com a gramática do gênero que se apoia em poucos cortes, porém bruscos, no time certo de um desenho de som impactante e de uma trilha sonora incrível (aqui mérito do vencedor do Oscar por "Gravidade", Steven Price).

Obviamente que o visual da geografia africana ajuda muito na composição desse mood, inclusive com planos belíssimos da natureza local - o aspecto da imagem em 2.35 (mais alongado nas laterais do que o normal) dá uma sensação de amplitude que se encaixa perfeitamente na proposta de "A Fera" durante as cenas diurnas e na relação de sombra e luz, dos planos mais fechados, nas cenas noturnas, reparem! Ao optar pelo constante movimento, Kormákur cria uma dinâmica interessante para uma história que é bem morna, mas que ganha muita força quando o leão (em um belíssimo trabalho de composição e CGI) entra em cena. A Fera, como é conhecido o animal, é realmente tão assustador quanto os Velociraptors que perseguiam as crianças no primeiro Jurassic Park - aliás, as referências (e homenagens) da obra de Spielberg estão em várias sequências do filme, inclusive na camiseta de uma das filhas de Daniels.

Idris Elba como protagonista convence tanto quanto "The Rock" - ambos têm porte fisico para um filme tão movimentado como esse (embora o roteiro abuse narrativamente dessa qualidade do ator). Suas filhas na ficção: Meredith (Iyana Halley) de 18 anos, e Norah (Leah Sava Jeffries) de 13 anos, poderiam ser melhor aproveitadas caso o texto do Ryan Engle (de "Rampage") fosse um pouco mais inteligente ou criasse algumas camadas emocionais para que o talento delas pudessem sobressair - uma pena. Mas esperar muito de "A Fera" talvez fosse pedir demais, ou seja, se você quer apenas se divertir, esse filme é para você, mas saiba que ele exigirá uma boa dose de suspensão da realidade para que a experiência venha valer a pena.

Assista Agora

"A Fera" é uma espécie de "Orca - A Baleia Assassina" com "Jurassic Park", que se passa na África. Dito isso, fica muito simples alinhar as expectativas e entender o que esperar dessa produção dirigida pelo islandês Baltasar Kormákur (de "Vidas à Deriva"). De fato "Beast" (no original) não é um grande filme: ele é cheio de clichês, tem um roteiro que se apoia em esteriótipos bem batidos e toma decisões narrativas no terceiro ato, digamos, duvidosas; mas por outro lado, entrega exatamente o que promete: entretenimento, ação e alguns (bons) sustos. 

O Dr. Nate Daniels (Idris Elba) é um recém viúvo que retorna para África do Sul, onde conheceu sua esposa, em uma viagem há muito tempo planejada com suas duas filhas. Em uma reserva gerenciada por Martin Battles (Sharlto Copley), um antigo amigo da família e biólogo da natureza selvagem, o que seria uma jornada de cura e redescobrimento, se desdobra em uma luta por sobrevivência quando um leão passa a enxergar todos os humanos como inimigos e começa a persegui-los até a morte. Confira o trailer:

O ponto alto do filme é a atmosfera de tensão que Kormákur constrói ao impor um conceito visual muito próximo do documental - com uma câmera bem solta, quase sempre dentro das cenas de ação ao lado dos personagens, uma montagem bem alinhada com a gramática do gênero que se apoia em poucos cortes, porém bruscos, no time certo de um desenho de som impactante e de uma trilha sonora incrível (aqui mérito do vencedor do Oscar por "Gravidade", Steven Price).

Obviamente que o visual da geografia africana ajuda muito na composição desse mood, inclusive com planos belíssimos da natureza local - o aspecto da imagem em 2.35 (mais alongado nas laterais do que o normal) dá uma sensação de amplitude que se encaixa perfeitamente na proposta de "A Fera" durante as cenas diurnas e na relação de sombra e luz, dos planos mais fechados, nas cenas noturnas, reparem! Ao optar pelo constante movimento, Kormákur cria uma dinâmica interessante para uma história que é bem morna, mas que ganha muita força quando o leão (em um belíssimo trabalho de composição e CGI) entra em cena. A Fera, como é conhecido o animal, é realmente tão assustador quanto os Velociraptors que perseguiam as crianças no primeiro Jurassic Park - aliás, as referências (e homenagens) da obra de Spielberg estão em várias sequências do filme, inclusive na camiseta de uma das filhas de Daniels.

Idris Elba como protagonista convence tanto quanto "The Rock" - ambos têm porte fisico para um filme tão movimentado como esse (embora o roteiro abuse narrativamente dessa qualidade do ator). Suas filhas na ficção: Meredith (Iyana Halley) de 18 anos, e Norah (Leah Sava Jeffries) de 13 anos, poderiam ser melhor aproveitadas caso o texto do Ryan Engle (de "Rampage") fosse um pouco mais inteligente ou criasse algumas camadas emocionais para que o talento delas pudessem sobressair - uma pena. Mas esperar muito de "A Fera" talvez fosse pedir demais, ou seja, se você quer apenas se divertir, esse filme é para você, mas saiba que ele exigirá uma boa dose de suspensão da realidade para que a experiência venha valer a pena.

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A Noite do Jogo

"A Noite do Jogo" é uma espécie de "O Peso do Talento" sem o Nicolas Cage - mas com Jason Bateman e cheio de referências ao cinema de ação, especialmente ao "quase" incomparável Liam Neeson. Os diretores John Francis Daley e Jonathan Goldstein (os mesmos do esperado "Dungeons & Dragons: Honor Among Thieves") entregam, de fato, um filme divertido, surreal (claro) e dinâmico, onde toda atmosfera criada nos faz ficar com um sorriso no rosto durante toda jornada - eu diria, inclusive, que o roteiro é extremamente inteligente em pontuar nos detalhes muito do que mais gostamos de experienciarmos com os nossos amigos e essa sensação nostálgica nos acompanha e potencializa a brincadeira proposta por ele.

Na trama, o casal Max (Jason Bateman) e Annie (Rachel McAdams) costuma receber outros casais em sua casa para participarem de jogos que vão de mímica ao “jogo da vida“. Um dia, porém, Brooks (Kyle Chandler), o irmão bem-sucedido de Max, convida todos para o que ele chama de "uma noite de jogos memorável" que, lógico, acaba levando os personagens para uma aventura que envolve perigos reais e com consequências reais. Confira o trailer:

Existem alguns elementos narrativos e conceituais em "A Noite do Jogo" que deixam claro como o filme vai muito além de uma comédia despretensiosa que usa e abusa de clichês para entreter sua audiência. Esse é o tipo de filme que não deve ser subestimado pelo seu gênero e sim apreciado justamente por isso - é claro que o expectador mais atento vai pescar mais referências de clássicos como "Duro de Matar 2", "RoboCop" e até "A Noite dos Mortos-Vivos", mas é perceptível para qualquer um as boas sacadas do texto, mérito do roteiro de Mark Perez (de "Herbie, Meu Fusca Turbinado") - existe uma inteligência textual, mesmo estereotipada, que encanta.

Dê o play sabendo que toda a ideia por trás de "A Noite do Jogo" é focar no absurdo das situações - ao introduzir temas ridículos para que pessoas normais tenham de lidar com elas, a história ganha uma dinâmica extremamente engraçada e a relação entre os personagens potencializam isso. Reparem na prólogo onde conhecemos os protagonistas - com pouco diálogo e muita ação, entendemos exatamente onde o filme vai nos levar graças as características marcantes das personalidades de cada um deles. Outro detalhe: os outros personagens (mais coadjuvantes) também tem seus fantasmas internos, são cheios de camadas, mesmo socializando de uma forma que parece superficial - e aqui os diálogos que envolvem o Ryan (Billy Magnussen) são impagáveis. 

John Francis Daley e Jonathan Goldstein usam uma lente chama Tilt-Shift para estabelecer a posição geográfica onde a ação vai acontecer - essa lente controla a perspectiva para criar imagens miniaturizadas e assim termos a sensação que os personagens estão realmente em um board game e não na vida real - isso é genial. Esse cuidado no trabalho do diretor de fotografia, Barry Peterson, se extende ao equilíbrio narrativo da trama, veja, se nas passagens mais engraçadas a iluminação é mais clara, priorizando os gestos corporais e as reações faciais; nos momentos de suspense e ação as cenas são naturalmente mais escuras, com um foco de luz voltado somente para o rosto dos atores - isso sem falar no movimento de câmera, mais estático para a comédia, mais nervoso na ação (mais uma homenagem à gramática cinematográfica dos gêneros).

Resumindo: "A Noite do Jogo" se apoia no absurdo sem se propor a encarar a seriedade, o que permite que sua narrativa flerte com a sátira inteligente, quase irônica. Com isso, relembramos sucessos recentes do streaming como "Only Murders in the Building" ou "Depois da Festa" - se não na sua "forma", certamente em seu "conteúdo" nostálgico.

Vale muito a pena!

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"A Noite do Jogo" é uma espécie de "O Peso do Talento" sem o Nicolas Cage - mas com Jason Bateman e cheio de referências ao cinema de ação, especialmente ao "quase" incomparável Liam Neeson. Os diretores John Francis Daley e Jonathan Goldstein (os mesmos do esperado "Dungeons & Dragons: Honor Among Thieves") entregam, de fato, um filme divertido, surreal (claro) e dinâmico, onde toda atmosfera criada nos faz ficar com um sorriso no rosto durante toda jornada - eu diria, inclusive, que o roteiro é extremamente inteligente em pontuar nos detalhes muito do que mais gostamos de experienciarmos com os nossos amigos e essa sensação nostálgica nos acompanha e potencializa a brincadeira proposta por ele.

Na trama, o casal Max (Jason Bateman) e Annie (Rachel McAdams) costuma receber outros casais em sua casa para participarem de jogos que vão de mímica ao “jogo da vida“. Um dia, porém, Brooks (Kyle Chandler), o irmão bem-sucedido de Max, convida todos para o que ele chama de "uma noite de jogos memorável" que, lógico, acaba levando os personagens para uma aventura que envolve perigos reais e com consequências reais. Confira o trailer:

Existem alguns elementos narrativos e conceituais em "A Noite do Jogo" que deixam claro como o filme vai muito além de uma comédia despretensiosa que usa e abusa de clichês para entreter sua audiência. Esse é o tipo de filme que não deve ser subestimado pelo seu gênero e sim apreciado justamente por isso - é claro que o expectador mais atento vai pescar mais referências de clássicos como "Duro de Matar 2", "RoboCop" e até "A Noite dos Mortos-Vivos", mas é perceptível para qualquer um as boas sacadas do texto, mérito do roteiro de Mark Perez (de "Herbie, Meu Fusca Turbinado") - existe uma inteligência textual, mesmo estereotipada, que encanta.

Dê o play sabendo que toda a ideia por trás de "A Noite do Jogo" é focar no absurdo das situações - ao introduzir temas ridículos para que pessoas normais tenham de lidar com elas, a história ganha uma dinâmica extremamente engraçada e a relação entre os personagens potencializam isso. Reparem na prólogo onde conhecemos os protagonistas - com pouco diálogo e muita ação, entendemos exatamente onde o filme vai nos levar graças as características marcantes das personalidades de cada um deles. Outro detalhe: os outros personagens (mais coadjuvantes) também tem seus fantasmas internos, são cheios de camadas, mesmo socializando de uma forma que parece superficial - e aqui os diálogos que envolvem o Ryan (Billy Magnussen) são impagáveis. 

John Francis Daley e Jonathan Goldstein usam uma lente chama Tilt-Shift para estabelecer a posição geográfica onde a ação vai acontecer - essa lente controla a perspectiva para criar imagens miniaturizadas e assim termos a sensação que os personagens estão realmente em um board game e não na vida real - isso é genial. Esse cuidado no trabalho do diretor de fotografia, Barry Peterson, se extende ao equilíbrio narrativo da trama, veja, se nas passagens mais engraçadas a iluminação é mais clara, priorizando os gestos corporais e as reações faciais; nos momentos de suspense e ação as cenas são naturalmente mais escuras, com um foco de luz voltado somente para o rosto dos atores - isso sem falar no movimento de câmera, mais estático para a comédia, mais nervoso na ação (mais uma homenagem à gramática cinematográfica dos gêneros).

Resumindo: "A Noite do Jogo" se apoia no absurdo sem se propor a encarar a seriedade, o que permite que sua narrativa flerte com a sátira inteligente, quase irônica. Com isso, relembramos sucessos recentes do streaming como "Only Murders in the Building" ou "Depois da Festa" - se não na sua "forma", certamente em seu "conteúdo" nostálgico.

Vale muito a pena!

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A Noite que Mudou o Pop

Você precisa assistir esse documentário! Independente da sua idade, mas sabendo que para os maiores de 40 anos a história terá uma camada extra de nostalgia, "A Noite que Mudou o Pop" é uma das melhores coisas que você vai assistir em muito tempo. Sim, eu sei que posso parecer exagerado, mas o documentário do diretor Bao Nguyen ("Be Water") é um verdadeiro mergulho na emocionante gravação de "We Are the World", canção beneficente contra fome na Etiópia, que reuniu as maiores estrelas da música naquele ano. O filme é uma aula de criatividade, de network, de planejamento (naquelas condições tão especiais), de liderança e, principalmente, de generosidade (embora aqui dê para separar o "joio do trigo").

Em 28 de janeiro de 1985, ícones da música como Lionel Richie, Michael Jackson, Stevie Wonder, Cyndi Lauper, Bruce Springsteen, entre outros; se reuniram para gravar "We Are the World", uma canção composta por Richie e Jackson para combater a fome na África que alcançava números alarmantes. Aqui acompanhamos os bastidores desse projeto histórico, desde a ideia, a concepção da música, a logística para que todos estivessem em Los Angeles no mesmo dia, até a gravação final; revelando os desafios, as alegrias e uma envolvente camaradagem entre tantos profissionais bem acima da média. Confira o trailer (em inglês):

Cheio de preciosidades, o roteiro de Nguyen é preciso ao construir uma linha temporal clara e objetiva sobre o projeto e como tudo foi se encaixando. Bob Geldof e Midge Ure iniciaram um movimento contra a fome que originou o "Do They Know It’s Christmas?"- uma gravação realizada por uma "super banda" chamada Band Aid e que contava com nomes como George Michael, Phil Collins, Bono Vox, Paul McCartney, Sting, entre outros. Inspirado por Geldof e Ure, Harry Belafonte pediu para o agente musical e produtor americano Ken Kragen começar a reunir nomes importantes do que viria a se tornar o fenômeno "We Are the World". A grande questão é que não se reune quase 50 astros da música em apenas uma semana. Dito isso, dá para se ter uma ideia da maratona (e todas as dificuldades) que foi colocar esse projeto em pé, culminando nas gravações (de áudio e vídeo) em uma única noite e que acabou durando por toda a madrugada - era isso ou nada!

Com imagens de arquivo e entrevistas com alguns participantes memoráveis como Springsteen, Richie e Lauper, o documentário não só captura a magia daquele momento único como também pontua casos curiosos de bastidores que nunca antes foram revelados. Nguyen é sensível ao criar uma dinâmica que soa como uma viagem no tempo, intercalando essas entrevistas com imagens da gravação e cenas da época, fazendo um recorte histórico importante daquela noite - e digo histórico no sentido mais amplo da palavra, já que, infelizmente, muitos que estiveram ali, já se foram, e claro, não preciso nem dizer o quanto "We Are the World" foi importante como obra. Talvez, ou até justamente por isso, senti que "A Noite que Mudou o Pop" parece ter uma duração apertada. Para lidar com tantos nomes importantes, eu diria que é admirável o esforço da produção em não esquecer de ninguém ou de nenhum detalhe - o desconforto de Bob Dylan é tão evidente quanto a sua transformação quando ele vira protagonista da gravação. Reparem.

"The Greatest Night in Pop" (no original) vai além da música que estava sendo gravada - é um filme sobre esperança, união e o poder da arte para fazer a diferença. É um lembrete da importância da ação social e da responsabilidade que os artistas têm e de como usar sua enorme capacidade criativa (até da voz, claro) para causas tão importantes. Mais do que um documentário, o que temos aqui é uma experiência emocionante, inspiradora e muito envolvente - um filme que vai te tocar a alma e, certamente, te fazer cantar. Imperdível!

Vale muito o seu play!

Assista Agora

Você precisa assistir esse documentário! Independente da sua idade, mas sabendo que para os maiores de 40 anos a história terá uma camada extra de nostalgia, "A Noite que Mudou o Pop" é uma das melhores coisas que você vai assistir em muito tempo. Sim, eu sei que posso parecer exagerado, mas o documentário do diretor Bao Nguyen ("Be Water") é um verdadeiro mergulho na emocionante gravação de "We Are the World", canção beneficente contra fome na Etiópia, que reuniu as maiores estrelas da música naquele ano. O filme é uma aula de criatividade, de network, de planejamento (naquelas condições tão especiais), de liderança e, principalmente, de generosidade (embora aqui dê para separar o "joio do trigo").

Em 28 de janeiro de 1985, ícones da música como Lionel Richie, Michael Jackson, Stevie Wonder, Cyndi Lauper, Bruce Springsteen, entre outros; se reuniram para gravar "We Are the World", uma canção composta por Richie e Jackson para combater a fome na África que alcançava números alarmantes. Aqui acompanhamos os bastidores desse projeto histórico, desde a ideia, a concepção da música, a logística para que todos estivessem em Los Angeles no mesmo dia, até a gravação final; revelando os desafios, as alegrias e uma envolvente camaradagem entre tantos profissionais bem acima da média. Confira o trailer (em inglês):

Cheio de preciosidades, o roteiro de Nguyen é preciso ao construir uma linha temporal clara e objetiva sobre o projeto e como tudo foi se encaixando. Bob Geldof e Midge Ure iniciaram um movimento contra a fome que originou o "Do They Know It’s Christmas?"- uma gravação realizada por uma "super banda" chamada Band Aid e que contava com nomes como George Michael, Phil Collins, Bono Vox, Paul McCartney, Sting, entre outros. Inspirado por Geldof e Ure, Harry Belafonte pediu para o agente musical e produtor americano Ken Kragen começar a reunir nomes importantes do que viria a se tornar o fenômeno "We Are the World". A grande questão é que não se reune quase 50 astros da música em apenas uma semana. Dito isso, dá para se ter uma ideia da maratona (e todas as dificuldades) que foi colocar esse projeto em pé, culminando nas gravações (de áudio e vídeo) em uma única noite e que acabou durando por toda a madrugada - era isso ou nada!

Com imagens de arquivo e entrevistas com alguns participantes memoráveis como Springsteen, Richie e Lauper, o documentário não só captura a magia daquele momento único como também pontua casos curiosos de bastidores que nunca antes foram revelados. Nguyen é sensível ao criar uma dinâmica que soa como uma viagem no tempo, intercalando essas entrevistas com imagens da gravação e cenas da época, fazendo um recorte histórico importante daquela noite - e digo histórico no sentido mais amplo da palavra, já que, infelizmente, muitos que estiveram ali, já se foram, e claro, não preciso nem dizer o quanto "We Are the World" foi importante como obra. Talvez, ou até justamente por isso, senti que "A Noite que Mudou o Pop" parece ter uma duração apertada. Para lidar com tantos nomes importantes, eu diria que é admirável o esforço da produção em não esquecer de ninguém ou de nenhum detalhe - o desconforto de Bob Dylan é tão evidente quanto a sua transformação quando ele vira protagonista da gravação. Reparem.

"The Greatest Night in Pop" (no original) vai além da música que estava sendo gravada - é um filme sobre esperança, união e o poder da arte para fazer a diferença. É um lembrete da importância da ação social e da responsabilidade que os artistas têm e de como usar sua enorme capacidade criativa (até da voz, claro) para causas tão importantes. Mais do que um documentário, o que temos aqui é uma experiência emocionante, inspiradora e muito envolvente - um filme que vai te tocar a alma e, certamente, te fazer cantar. Imperdível!

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A Pequena Sereia

Visualmente magnifico e com aquela atmosfera de fantasia que só a Disney é capaz de entregar - talvez não exista forma melhor de definir essa experiência cinematográfica que notavelmente vai além do entretenimento, é afetiva! "A Pequena Sereia", sem dúvida, está entre os maiores acertos da temporada em vários sentidos - mas essencialmente no de nos permitir embarcar em uma jornada tão especial (principalmente para aqueles maiores de 40) como aquela que vivemos com a animação de 1989, dirigida pelo Ron Clements e pelo John Musker, e que ganhou dois Oscars no ano seguinte! Com um roteiro que privilegia o material original, mas sem perder a oportunidade de elaborar melhor algumas passagens da trama, atuações de tirar o fôlego (especialmente de Halle Bailey) e um desenho de produção que, conectado com um ótimo CGI, mergulha fundo na magia dos oceanos, este live-action oferece uma jornada única que cativa e emociona desde o primeiro minuto. Olha, se você já se apaixonou pelas mais recentes adaptações de "A Bela e a Fera" e de "Rei Leão", prepare-se para se encantar novamente porque o filme é realmente lindo!

"A Pequena Sereia" nos leva a um submerso mundo de sonhos, onde Ariel (Bailey), uma jovem sereia curiosa e determinada, anseia por conhecer tudo sobre os humanos. Quando ela se encanta pelo príncipe Eric (Jonah Hauer-King) após salvar a sua vida, Ariel faz um pacto com a bruxa do mar Ursula (Melissa McCarthy) para trocar sua voz por pernas humanas e assim poder tentar encontra-lo novamente. Acontece que Ariel tem apenas três dias para conquistar o coração de Eric, o problema é que ele tem em sua lembrança apenas a voz da pessoa que o salvou. Confira o trailer:

"A Pequena Sereia" é mais um deslumbrante exemplo de como o cinema pode criar mundos mágicos e envolventes de geração em geração. Nessa linha, a direção de Rob Marshall (indicado ao Oscar por "Chicago") merece nosso elogio, pois ele foi capaz de equilibrar habilmente os elementos de fantasia tão particulares da animação, com a profundidade emocional dos personagens que agora parecem reais. Reparem como no roteiro de David Magee (de “O Pior Vizinho do Mundo”), Ariel é uma princesa mais autossuficiente, independente, capaz de mostrar que seu fascínio vai muito além de um interesse amoroso, que sua curiosidade é, de fato, por toda a humanidade e suas complexidades. O ótimo Javier Bardem também entrega um Rei Tritão um pouco mais sensível e (ironicamente) mais humano, enquanto Jonah Hauer-King vive um Príncipe Eric com mais personalidade e até mais encanto que o original - a relação com sua mãe e rainha (Noma Dumezweni), que não existia no filme original, amplia as camadas emocionais de um núcleo que praticamente não tinha força em 89 e funciona demais!

A fotografia do craque Dion Beebe (também de "Chicago" e vencedor do Oscar por "Memórias de uma Gueixa") é simplesmente espetacular - as cores vibrantes e os cenários deslumbrantes nos transportam para um reino submerso com muita naturalidade. Se atentem também em como a cauda de Ariel é retratada, com tons que vão se alterando conforme a luz, se projetando sobre ela, com seu movimento extremamente orgânico, contribuindo ainda mais para que a magia Disney se torna palpável. A trilha sonora, obviamente, é outro ponto alto do live-action, com novas interpretações das icônicas músicas da animação original, bem como canções inéditas que se integram perfeitamente à narrativa - Lin-Manuel Miranda (de “Encanto”) mais uma vez brilha! A combinação de músicas como  imagens de Marshall, olha, é simplesmente hipnotizante - prepare-se para momentos emocionantes e inesquecíveis. E se você acha que estou exagerando, veja a capacidade vocal da própria Halle Bailey nesse video abaixo:

"A Pequena Sereia" tem mesmo aquele toque nostálgico e talvez por isso seja capaz de transcender as expectativas de grande parte da audiência. É original? Não - assim como também não foi o "Rei Leão", mas te garanto: continua apaixonante!  Pode ter certeza que essa é mais uma experiência proporcionada pela Disney que vai tocar seu coração e te transportar para um mundo de magia e romance com a mesma intensidade e competência que a animação original, mesmo depois de 34 anos!

Vale seu play! 

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Visualmente magnifico e com aquela atmosfera de fantasia que só a Disney é capaz de entregar - talvez não exista forma melhor de definir essa experiência cinematográfica que notavelmente vai além do entretenimento, é afetiva! "A Pequena Sereia", sem dúvida, está entre os maiores acertos da temporada em vários sentidos - mas essencialmente no de nos permitir embarcar em uma jornada tão especial (principalmente para aqueles maiores de 40) como aquela que vivemos com a animação de 1989, dirigida pelo Ron Clements e pelo John Musker, e que ganhou dois Oscars no ano seguinte! Com um roteiro que privilegia o material original, mas sem perder a oportunidade de elaborar melhor algumas passagens da trama, atuações de tirar o fôlego (especialmente de Halle Bailey) e um desenho de produção que, conectado com um ótimo CGI, mergulha fundo na magia dos oceanos, este live-action oferece uma jornada única que cativa e emociona desde o primeiro minuto. Olha, se você já se apaixonou pelas mais recentes adaptações de "A Bela e a Fera" e de "Rei Leão", prepare-se para se encantar novamente porque o filme é realmente lindo!

"A Pequena Sereia" nos leva a um submerso mundo de sonhos, onde Ariel (Bailey), uma jovem sereia curiosa e determinada, anseia por conhecer tudo sobre os humanos. Quando ela se encanta pelo príncipe Eric (Jonah Hauer-King) após salvar a sua vida, Ariel faz um pacto com a bruxa do mar Ursula (Melissa McCarthy) para trocar sua voz por pernas humanas e assim poder tentar encontra-lo novamente. Acontece que Ariel tem apenas três dias para conquistar o coração de Eric, o problema é que ele tem em sua lembrança apenas a voz da pessoa que o salvou. Confira o trailer:

"A Pequena Sereia" é mais um deslumbrante exemplo de como o cinema pode criar mundos mágicos e envolventes de geração em geração. Nessa linha, a direção de Rob Marshall (indicado ao Oscar por "Chicago") merece nosso elogio, pois ele foi capaz de equilibrar habilmente os elementos de fantasia tão particulares da animação, com a profundidade emocional dos personagens que agora parecem reais. Reparem como no roteiro de David Magee (de “O Pior Vizinho do Mundo”), Ariel é uma princesa mais autossuficiente, independente, capaz de mostrar que seu fascínio vai muito além de um interesse amoroso, que sua curiosidade é, de fato, por toda a humanidade e suas complexidades. O ótimo Javier Bardem também entrega um Rei Tritão um pouco mais sensível e (ironicamente) mais humano, enquanto Jonah Hauer-King vive um Príncipe Eric com mais personalidade e até mais encanto que o original - a relação com sua mãe e rainha (Noma Dumezweni), que não existia no filme original, amplia as camadas emocionais de um núcleo que praticamente não tinha força em 89 e funciona demais!

A fotografia do craque Dion Beebe (também de "Chicago" e vencedor do Oscar por "Memórias de uma Gueixa") é simplesmente espetacular - as cores vibrantes e os cenários deslumbrantes nos transportam para um reino submerso com muita naturalidade. Se atentem também em como a cauda de Ariel é retratada, com tons que vão se alterando conforme a luz, se projetando sobre ela, com seu movimento extremamente orgânico, contribuindo ainda mais para que a magia Disney se torna palpável. A trilha sonora, obviamente, é outro ponto alto do live-action, com novas interpretações das icônicas músicas da animação original, bem como canções inéditas que se integram perfeitamente à narrativa - Lin-Manuel Miranda (de “Encanto”) mais uma vez brilha! A combinação de músicas como  imagens de Marshall, olha, é simplesmente hipnotizante - prepare-se para momentos emocionantes e inesquecíveis. E se você acha que estou exagerando, veja a capacidade vocal da própria Halle Bailey nesse video abaixo:

"A Pequena Sereia" tem mesmo aquele toque nostálgico e talvez por isso seja capaz de transcender as expectativas de grande parte da audiência. É original? Não - assim como também não foi o "Rei Leão", mas te garanto: continua apaixonante!  Pode ter certeza que essa é mais uma experiência proporcionada pela Disney que vai tocar seu coração e te transportar para um mundo de magia e romance com a mesma intensidade e competência que a animação original, mesmo depois de 34 anos!

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A Super Fantástica História do Balão

A Super Fantástica História do Balão

O documentário do Star+ foi até vendido com ares de drama e lavação de roupa suja, mas a grande verdade é que "A Super Fantástica História do Balão" é muito mais uma celebração, um recorte de uma época que praticamente marcou uma geração, e, principalmente, é uma análise sobre o sucesso pela perspectiva de cada um dos seus quatro integrantes. Se em "Sandy & Junior: A História" somos transportados para uma jornada de 30 anos de carreira da maior referência na música jovem que o Brasil já teve, aqui a minissérie de três episódios mergulha nos, inacreditáveis 3 anos de sucesso fenomenal do maior grupo infantil da nossa história. E já adianto, se você passou dos 40, você vai se emocionar!

Em "A Super Fantástica História do Balão", o quarteto Simony, Jairzinho, Tob e Mike se reunem pela primeira vez para dar suas versões sobre o começo, o auge e o fim do fenômeno infantil dos anos 80, o Balão Mágico. Ilustrados por depoimentos de pessoas que fizeram parte do projeto e por inéditas imagens de arquivo, os quatro relatam suas experiências pessoais e profissionais a partir do sucesso meteórico do grupo, ainda quando eram crianças. Confira o trailer:

Com direção de Tatiana Issa, que comandou o filme “Pacto Brutal: o assassinato de Daniela Perez” e roteiro de Fernando Ceylão (“Zorra Total”) e de Beatriz Monteiro (“Caso Evandro”), a minissérie sabe equilibrar perfeitamente dois cenários: um com os depoimentos dos quatro integrantes juntos, em uma espécie de reencontro emocional; e outro com uma versão tão honesta quanto, de entrevistas individuais com cada um deles. Obviamente que os assuntos mais espinhosos são discutidos individualmente e mesmo assim fica longe do que a plataforma insistiu em vender como polêmica desde o anúncio do projeto. Outro ponto a ser observado, diz respeito aos depoimentos dos artistas, familiares e executivos do entretenimento que participaram da construção do Balão Mágico - são eles que pontuam os dramas e os pontos mais sensíveis dos bastidores, mas já te adianto: nada que possa nos deixar de cabelo em pé ou nos provocar alguma emoção mais acalorada. O fato é que o tom da narrativa é leve, nostálgica, agradável e até emocionante; nunca tensa.

O grupo era claramente um produto da indústria fonográfica dos anos 80, mais precisamente da CBS (que depois veio ser vendida para a Som Livre). Tudo, absolutamente tudo, foi  moldado para atender aos interesses comerciais de uma fatia do mercado de entretenimento praticamente inexistente na época. O grande ponto, e aí "A Super Fantástica História do Balão" talvez não tenha a força dramática que outros documentários como "Showbiz Kids" (por exemplo), é que, mesmo com esse impacto cultural pioneiro do grupo infantil, a vida dos integrantes pós-sucesso não é muito bem explorada - o plot até existe, claro, mas me pareceu que poderia ter sido melhor desenvolvido. Essa abordagem mais, digamos, controversa, talvez trouxesse um pouco mais de conflito ao roteiro, nos foi vendido isso, mas ela não está ali. No entanto existe uma honestidade tão marcante em cada um dos ex-integrantes que até esse vacilo narrativo, parece não fazer tanta falta. Aliás aqui é impossível não destacar a postura do Mike em expor toda sua história e sua relação com seu pai, o famoso assaltante Ronald Biggs (falecido há 10 anos) ou de Tob nos contando sobre seus medos gerados pela necessidade de acertar sempre.

"A Super Fantástica História do Balão" é daquelas para assistir em uma sentada - muito bem produzida e com uma dinâmica narrativa das mais competentes, a minissérie merece sua atenção., principalmente se você for dessa época! Se sim, é bem possível que você se divirta e se emocione com as histórias e as lembranças nostálgicas que inevitavelmente vão te transportar para a sua infância - nisso o documentário cumpre seu papel. Agora, para ganhar um 10, faltou cutucar algumas feridas com mais vontade - tanto nas questões de bastidores envolvendo a família da Simony quanto na relação da própria Simony com a Mara Maravilha, são exemplos de alguns espinhos que ainda não parecem prontos para serem eliminados. Uma pena!

Para você que também cantou "A Galinha Magricela" o play é quase uma obrigação!

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O documentário do Star+ foi até vendido com ares de drama e lavação de roupa suja, mas a grande verdade é que "A Super Fantástica História do Balão" é muito mais uma celebração, um recorte de uma época que praticamente marcou uma geração, e, principalmente, é uma análise sobre o sucesso pela perspectiva de cada um dos seus quatro integrantes. Se em "Sandy & Junior: A História" somos transportados para uma jornada de 30 anos de carreira da maior referência na música jovem que o Brasil já teve, aqui a minissérie de três episódios mergulha nos, inacreditáveis 3 anos de sucesso fenomenal do maior grupo infantil da nossa história. E já adianto, se você passou dos 40, você vai se emocionar!

Em "A Super Fantástica História do Balão", o quarteto Simony, Jairzinho, Tob e Mike se reunem pela primeira vez para dar suas versões sobre o começo, o auge e o fim do fenômeno infantil dos anos 80, o Balão Mágico. Ilustrados por depoimentos de pessoas que fizeram parte do projeto e por inéditas imagens de arquivo, os quatro relatam suas experiências pessoais e profissionais a partir do sucesso meteórico do grupo, ainda quando eram crianças. Confira o trailer:

Com direção de Tatiana Issa, que comandou o filme “Pacto Brutal: o assassinato de Daniela Perez” e roteiro de Fernando Ceylão (“Zorra Total”) e de Beatriz Monteiro (“Caso Evandro”), a minissérie sabe equilibrar perfeitamente dois cenários: um com os depoimentos dos quatro integrantes juntos, em uma espécie de reencontro emocional; e outro com uma versão tão honesta quanto, de entrevistas individuais com cada um deles. Obviamente que os assuntos mais espinhosos são discutidos individualmente e mesmo assim fica longe do que a plataforma insistiu em vender como polêmica desde o anúncio do projeto. Outro ponto a ser observado, diz respeito aos depoimentos dos artistas, familiares e executivos do entretenimento que participaram da construção do Balão Mágico - são eles que pontuam os dramas e os pontos mais sensíveis dos bastidores, mas já te adianto: nada que possa nos deixar de cabelo em pé ou nos provocar alguma emoção mais acalorada. O fato é que o tom da narrativa é leve, nostálgica, agradável e até emocionante; nunca tensa.

O grupo era claramente um produto da indústria fonográfica dos anos 80, mais precisamente da CBS (que depois veio ser vendida para a Som Livre). Tudo, absolutamente tudo, foi  moldado para atender aos interesses comerciais de uma fatia do mercado de entretenimento praticamente inexistente na época. O grande ponto, e aí "A Super Fantástica História do Balão" talvez não tenha a força dramática que outros documentários como "Showbiz Kids" (por exemplo), é que, mesmo com esse impacto cultural pioneiro do grupo infantil, a vida dos integrantes pós-sucesso não é muito bem explorada - o plot até existe, claro, mas me pareceu que poderia ter sido melhor desenvolvido. Essa abordagem mais, digamos, controversa, talvez trouxesse um pouco mais de conflito ao roteiro, nos foi vendido isso, mas ela não está ali. No entanto existe uma honestidade tão marcante em cada um dos ex-integrantes que até esse vacilo narrativo, parece não fazer tanta falta. Aliás aqui é impossível não destacar a postura do Mike em expor toda sua história e sua relação com seu pai, o famoso assaltante Ronald Biggs (falecido há 10 anos) ou de Tob nos contando sobre seus medos gerados pela necessidade de acertar sempre.

"A Super Fantástica História do Balão" é daquelas para assistir em uma sentada - muito bem produzida e com uma dinâmica narrativa das mais competentes, a minissérie merece sua atenção., principalmente se você for dessa época! Se sim, é bem possível que você se divirta e se emocione com as histórias e as lembranças nostálgicas que inevitavelmente vão te transportar para a sua infância - nisso o documentário cumpre seu papel. Agora, para ganhar um 10, faltou cutucar algumas feridas com mais vontade - tanto nas questões de bastidores envolvendo a família da Simony quanto na relação da própria Simony com a Mara Maravilha, são exemplos de alguns espinhos que ainda não parecem prontos para serem eliminados. Uma pena!

Para você que também cantou "A Galinha Magricela" o play é quase uma obrigação!

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A Última Loja de Consertos

"A Última Loja de Consertos" chega chancelada pelo Oscar de "Melhor Curta de Documentário" de 2024, trazendo com ele uma sinfonia emocionante de esperança e memória que merece ser apreciado em pouco menos de 40 minutos de história. Em meio a uma era descartável, esse sensível documentário dirigido pelo Kris Bowers (responsável por composições de filmes de peso como "Green Book" e "A Cor Púrpura") e pelo Ben Proudfoot (vencedor do Oscar na mesma categoria em 2022 com "The Queen of Basketball" e indicado em 2021 com "A Concerto Is a Conversation") nos transporta para o coração de Los Angeles, onde um oásis de restauração musical desafia a tirania da obsolescência. Mais do que um simples conserto de instrumentos, o filme celebra a paixão, a comunidade e a preservação daquilo que nos conecta ao passado e nutre o futuro através de quatro emocionantes depoimentos. Sim, o filme é sobre pessoas e isso é belíssimo!

Em linhas gerais, "The Last Repair Shop" (no original) narra a história real de um dos últimos ateliês de reparos de instrumentos musicais nos Estados Unidos. Localizado em Los Angeles, o local oferece consertos gratuitos para alunos de escolas públicas desde 1959. O filme acompanha a rotina dedicada dos profissionais que trabalham ali, revelando o impacto transformador que a arte teve em suas vidas e na vida de milhares de jovens e adultos americanos. Confira o trailer (em inglês):

Antes de mais nada é preciso enxergar "A Última Loja de Consertos" como um curta-metragem basicamente realizado para entrar em festivais ao redor do planeta - nesse formato, não existe o menor interesse comercial como obra. Essa característica permite ao seu realizador extrapolar o seu propósito critico, artístico e técnico com muito mais liberdade, ou seja, é perceptível a "alma" em uma história sobre um ateliê e seus funcionários, que nos leva a questionar a cultura descartável, claro, mas que ao mesmo tempo nos convida para celebrar a beleza da tradição e da busca pela perfeição em pró de algo maior.

Os depoimentos dos profissionais e dos jovens músicos que de alguma forma foram impactados pela "Última Loja de Consertos" são, de fato, inspiradores e nos fazem acreditar na força transformadora da música e da arte, pela perspectiva do ser humano. Mais do que um mero registro histórico, o filme é um hino à preservação da memória e da cultura que nos faz repensar nossa relação com os objetos (que por alguma razão descartamos) e a valorizar o trabalho artesanal, que transcende a mera funcionalidade e se torna uma expressão de amor e dedicação, capaz de mudar a vida de alguém.

A fotografia impecável do jovem David Feeney-Mosier (guardem esse nome) captura a beleza singular dos instrumentos e o cuidado meticuloso dos profissionais. Já a trilha sonora, composta pelo próprio co-diretor, Kris Bowers, é uma sinfonia emocionante que acompanha a narrativa com sensibilidade e força. Já a direção de Proudfoot é precisa e envolvente, tecendo uma história rica em emoções e reflexões. Tecnicamente invejável, "A Última Loja de Consertos" é um documentário imperdível para todos que apreciam histórias inspiradoras, música de qualidade e reflexões sobre o sentido da vida. Um filme que nos toca profundamente e nos deixa com a esperança de que a paixão, o amor pela comunidade e a preservação da tradição ainda são valores importantes em nosso mundo. 

Vale muito o seu play!

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"A Última Loja de Consertos" chega chancelada pelo Oscar de "Melhor Curta de Documentário" de 2024, trazendo com ele uma sinfonia emocionante de esperança e memória que merece ser apreciado em pouco menos de 40 minutos de história. Em meio a uma era descartável, esse sensível documentário dirigido pelo Kris Bowers (responsável por composições de filmes de peso como "Green Book" e "A Cor Púrpura") e pelo Ben Proudfoot (vencedor do Oscar na mesma categoria em 2022 com "The Queen of Basketball" e indicado em 2021 com "A Concerto Is a Conversation") nos transporta para o coração de Los Angeles, onde um oásis de restauração musical desafia a tirania da obsolescência. Mais do que um simples conserto de instrumentos, o filme celebra a paixão, a comunidade e a preservação daquilo que nos conecta ao passado e nutre o futuro através de quatro emocionantes depoimentos. Sim, o filme é sobre pessoas e isso é belíssimo!

Em linhas gerais, "The Last Repair Shop" (no original) narra a história real de um dos últimos ateliês de reparos de instrumentos musicais nos Estados Unidos. Localizado em Los Angeles, o local oferece consertos gratuitos para alunos de escolas públicas desde 1959. O filme acompanha a rotina dedicada dos profissionais que trabalham ali, revelando o impacto transformador que a arte teve em suas vidas e na vida de milhares de jovens e adultos americanos. Confira o trailer (em inglês):

Antes de mais nada é preciso enxergar "A Última Loja de Consertos" como um curta-metragem basicamente realizado para entrar em festivais ao redor do planeta - nesse formato, não existe o menor interesse comercial como obra. Essa característica permite ao seu realizador extrapolar o seu propósito critico, artístico e técnico com muito mais liberdade, ou seja, é perceptível a "alma" em uma história sobre um ateliê e seus funcionários, que nos leva a questionar a cultura descartável, claro, mas que ao mesmo tempo nos convida para celebrar a beleza da tradição e da busca pela perfeição em pró de algo maior.

Os depoimentos dos profissionais e dos jovens músicos que de alguma forma foram impactados pela "Última Loja de Consertos" são, de fato, inspiradores e nos fazem acreditar na força transformadora da música e da arte, pela perspectiva do ser humano. Mais do que um mero registro histórico, o filme é um hino à preservação da memória e da cultura que nos faz repensar nossa relação com os objetos (que por alguma razão descartamos) e a valorizar o trabalho artesanal, que transcende a mera funcionalidade e se torna uma expressão de amor e dedicação, capaz de mudar a vida de alguém.

A fotografia impecável do jovem David Feeney-Mosier (guardem esse nome) captura a beleza singular dos instrumentos e o cuidado meticuloso dos profissionais. Já a trilha sonora, composta pelo próprio co-diretor, Kris Bowers, é uma sinfonia emocionante que acompanha a narrativa com sensibilidade e força. Já a direção de Proudfoot é precisa e envolvente, tecendo uma história rica em emoções e reflexões. Tecnicamente invejável, "A Última Loja de Consertos" é um documentário imperdível para todos que apreciam histórias inspiradoras, música de qualidade e reflexões sobre o sentido da vida. Um filme que nos toca profundamente e nos deixa com a esperança de que a paixão, o amor pela comunidade e a preservação da tradição ainda são valores importantes em nosso mundo. 

Vale muito o seu play!

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Alerta Máximo

Assistir "Alerta Máximo" é como jogar uma boa partida de "Fair Cry" ou como viajar para os anos 80 ou 90 e reviver os clássicos filmes de ação onde um herói improvável ao melhor estilo Nicolas Cage, Bruce Willis, Steven Seagal ou até Sylvester Stallone, busca sua redenção tentando salvar um grupo de pessoas em uma perigosa (para não dizer suicida) jornada contra mercenários infinitamente melhor equipados que ele. Dito isso, já dá para imaginar o tamanho da abstração da realidade que será necessário para embarcar nessa aventura , certo? Então soma-se o fato de um piloto tentando pousar um avião comercial em uma estrada de terra, com árvores para todo lado, durante uma forte tempestade noturna e sem nenhum tipo de instrumento de navegação para auxiliá-lo. Difícil, né? Mas acredite: tudo isso é muito (mais muito) divertido!

O experiente piloto Brodie Torrance (Gerard Butler), após ser atingido por um raio em meio a uma forte tempestade, salva seus passageirosfazendo um pouso arriscado em uma ilha devastada pela guerra civil – é ali que ele descobre que sobreviver a um acidente aéreo será apenas o começo de uma perigosa jornada. Quando a maioria dos passageiros são feitos de reféns por perigosos rebeldes, a única pessoa com quem Torrance pode contar para ajudar no resgate é Louis Gaspare (Mike Colter), um acusado de assassinato que estava sendo transportado pelo FBI. Confira o trailer:

Como um bom filme de ação deve ser, os roteiristas J. P. Davis (de "Contrato Perigoso) e o estreante Charles Cumming não perdem muito tempo na apresentação dos personagens, muito menos nas motivações que os colocaram naquela situação - mesmo que o gatilho emocional seja a conexão familiar, sua exposição superficial praticamente não interfere no andamento da trama, ou seja, você até vai encontrar algum sentimentalismo barato (natural), mas o que vai te divertir mesmo serão os tiros para tudo quanto é lado. Obviamente que essa dinâmica narrativa tão particular nos exige certo relaxamento intelectual, porém é de se elogiar a forma como o diretor francês Jean-François Richet (de "Assalto ao 13° Distrito" e "Inimigo Público") se alinha ao texto e nos entrega um excelente entretenimento de pouco mais de 90 minutos.

Richet não esconde suas referências que vão de "Duro de Matar" ao game "Call of Duty" em apenas um corte de câmera - ele conduz a narrativa com uma eficaz alternância de estilos, chancelando sua capacidade e conhecimento sobre a gramática cinematográfica do gênero. Se no primeiro ato ele se apoia no tradicional da câmera fixa, a partir do segundo sua câmera nervosa tira a audiência do papel de observador e rapidamente nos coloca como parte da tropa, aproveitando todo clima de tensão e angustia que os personagens estão vivendo - e aqui cabe um comentário: a sequência de caos quando o avião é atingido pelo raio e as consequências desse acidente funcionam lindamente (que chega a dar uma saudade de "Lost").

No final das contas, "Plane" (no original) pode até parecer um emaranhado de referências e estilos narrativos, mas na verdade ele simplesmente segue, linha a linha, a cartilha do bom filme de ação dos anos 80 e 90 - e com muitos méritos eu diria! Então se você viveu esses anos dourados do cinema de gênero e gostou de "obras-primas" como "Con Air", "A Outra Face", "A Força em Alerta", etc; pode ter certeza que você vai se amarrar em "Alerta Máximo" e ainda colocar o ator escocês Gerard Butler naquela prateleira que poucos tem a honra de estar!

Vale muito a pena!

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Assistir "Alerta Máximo" é como jogar uma boa partida de "Fair Cry" ou como viajar para os anos 80 ou 90 e reviver os clássicos filmes de ação onde um herói improvável ao melhor estilo Nicolas Cage, Bruce Willis, Steven Seagal ou até Sylvester Stallone, busca sua redenção tentando salvar um grupo de pessoas em uma perigosa (para não dizer suicida) jornada contra mercenários infinitamente melhor equipados que ele. Dito isso, já dá para imaginar o tamanho da abstração da realidade que será necessário para embarcar nessa aventura , certo? Então soma-se o fato de um piloto tentando pousar um avião comercial em uma estrada de terra, com árvores para todo lado, durante uma forte tempestade noturna e sem nenhum tipo de instrumento de navegação para auxiliá-lo. Difícil, né? Mas acredite: tudo isso é muito (mais muito) divertido!

O experiente piloto Brodie Torrance (Gerard Butler), após ser atingido por um raio em meio a uma forte tempestade, salva seus passageirosfazendo um pouso arriscado em uma ilha devastada pela guerra civil – é ali que ele descobre que sobreviver a um acidente aéreo será apenas o começo de uma perigosa jornada. Quando a maioria dos passageiros são feitos de reféns por perigosos rebeldes, a única pessoa com quem Torrance pode contar para ajudar no resgate é Louis Gaspare (Mike Colter), um acusado de assassinato que estava sendo transportado pelo FBI. Confira o trailer:

Como um bom filme de ação deve ser, os roteiristas J. P. Davis (de "Contrato Perigoso) e o estreante Charles Cumming não perdem muito tempo na apresentação dos personagens, muito menos nas motivações que os colocaram naquela situação - mesmo que o gatilho emocional seja a conexão familiar, sua exposição superficial praticamente não interfere no andamento da trama, ou seja, você até vai encontrar algum sentimentalismo barato (natural), mas o que vai te divertir mesmo serão os tiros para tudo quanto é lado. Obviamente que essa dinâmica narrativa tão particular nos exige certo relaxamento intelectual, porém é de se elogiar a forma como o diretor francês Jean-François Richet (de "Assalto ao 13° Distrito" e "Inimigo Público") se alinha ao texto e nos entrega um excelente entretenimento de pouco mais de 90 minutos.

Richet não esconde suas referências que vão de "Duro de Matar" ao game "Call of Duty" em apenas um corte de câmera - ele conduz a narrativa com uma eficaz alternância de estilos, chancelando sua capacidade e conhecimento sobre a gramática cinematográfica do gênero. Se no primeiro ato ele se apoia no tradicional da câmera fixa, a partir do segundo sua câmera nervosa tira a audiência do papel de observador e rapidamente nos coloca como parte da tropa, aproveitando todo clima de tensão e angustia que os personagens estão vivendo - e aqui cabe um comentário: a sequência de caos quando o avião é atingido pelo raio e as consequências desse acidente funcionam lindamente (que chega a dar uma saudade de "Lost").

No final das contas, "Plane" (no original) pode até parecer um emaranhado de referências e estilos narrativos, mas na verdade ele simplesmente segue, linha a linha, a cartilha do bom filme de ação dos anos 80 e 90 - e com muitos méritos eu diria! Então se você viveu esses anos dourados do cinema de gênero e gostou de "obras-primas" como "Con Air", "A Outra Face", "A Força em Alerta", etc; pode ter certeza que você vai se amarrar em "Alerta Máximo" e ainda colocar o ator escocês Gerard Butler naquela prateleira que poucos tem a honra de estar!

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Belfast

"Belfast" está para o diretor Kenneth Branagh da mesma forma como "Roma" foi para o Alfonso Cuarón - e não por acaso, o filme também chega como um dos favoritos ao Oscar 2022!

Buddy (Jude Hill) é um menino de nove anos que passa a questionar o caminho para a vida adulta no momento em que seu mundo vira de cabeça para baixo quando sua comunidade,  estável e amorosa, passa a sofrer ataques e a fomentar a rivalidade entre famílias católicas e protestantes. A partir daí, tudo o que Buddy achava que entendia sobre a vida muda para sempre, mas sua alegria, seu sorriso, a música e a magia formativa dos filmes que ele sempre amou, passam a servir de combustível para ele enfrentar suas novas dificuldades. Confira o trailer:

"Belfast" retrata eventos verídicos de uma época conhecida na Irlanda como "The Troubles", tendo a população protestante de um lado, maioria e que queria mais proximidade com a Inglaterra, e do outro a população católica que, por sua vez, defendia a independência ou mesmo a integração da Irlanda do Norte com a Irlanda - obviamente que essa irracionalidade fez com que pequenos grupos (de ambos os lados) recorressem à violência e à rebelião a fim de resolverem seus impasses sócio-políticos.

Pois bem, buscando um equilíbrio conceitual e narrativo entre "Roma" e "Jojo Rabbit"(de Taika Waititi), o diretor e roteirista Kenneth Branagh foi extremamente feliz em abordar um conflito muito impactante para aquela sociedade (imagina para uma criança de 9 anos) e ainda sim manter a leveza e a simpatia da história graças a forma como Buddy enxergava aquele momento delicado. É claro que o filme carrega uma atmosfera de dor, de sofrimento, de memórias marcantes, ainda assim ele nos faz sorrir. Filmado em preto e branco e com uma fotografia irretocável do diretor Haris Zambarloukos (de "Locke") o conceito visual traz um carga emocional muito necessária para a trama ao mesmo tempo em que brinca com lúdico ao usar as cores apenas quando Buddy se relaciona com arte - essa perspectiva cria uma sensação nostálgica impressionante.

Se "Licorice Pizza" é o coming-of-age de Paul Thomas Anderson, "Belfast" é a versão do sub-gênero cheia de dor e sorrisos de Branagh - uma verdadeira celebração familiar, mesmo quando nossos olhos mais maduros entendem de outra forma o relacionamento (e as dificuldades) dos pais de Buddy, o casal Ma (Caitirona Balfe) e Pa (Jamie Dornan), ou a vida com marcas profundas de seus avós - com Judi Dench e Ciarán Hinds dando um show e justificando suas indicações como "coadjuvantes". O fato é que "Belfast" se apoia na intransigência ideológica de quem precisa rotular o ser humano para criticar as diferenças em vez de exaltar a pluralidade cultural, para contar uma história de dificuldades e receios, com muita ternura, amor e, principalmente, saudade!

Imperdível!

Up-date: "Belfast" foi indicado em sete categorias no Oscar 2022, inclusive Melhor Filme e ganhou em Melhor Roteiro.

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"Belfast" está para o diretor Kenneth Branagh da mesma forma como "Roma" foi para o Alfonso Cuarón - e não por acaso, o filme também chega como um dos favoritos ao Oscar 2022!

Buddy (Jude Hill) é um menino de nove anos que passa a questionar o caminho para a vida adulta no momento em que seu mundo vira de cabeça para baixo quando sua comunidade,  estável e amorosa, passa a sofrer ataques e a fomentar a rivalidade entre famílias católicas e protestantes. A partir daí, tudo o que Buddy achava que entendia sobre a vida muda para sempre, mas sua alegria, seu sorriso, a música e a magia formativa dos filmes que ele sempre amou, passam a servir de combustível para ele enfrentar suas novas dificuldades. Confira o trailer:

"Belfast" retrata eventos verídicos de uma época conhecida na Irlanda como "The Troubles", tendo a população protestante de um lado, maioria e que queria mais proximidade com a Inglaterra, e do outro a população católica que, por sua vez, defendia a independência ou mesmo a integração da Irlanda do Norte com a Irlanda - obviamente que essa irracionalidade fez com que pequenos grupos (de ambos os lados) recorressem à violência e à rebelião a fim de resolverem seus impasses sócio-políticos.

Pois bem, buscando um equilíbrio conceitual e narrativo entre "Roma" e "Jojo Rabbit"(de Taika Waititi), o diretor e roteirista Kenneth Branagh foi extremamente feliz em abordar um conflito muito impactante para aquela sociedade (imagina para uma criança de 9 anos) e ainda sim manter a leveza e a simpatia da história graças a forma como Buddy enxergava aquele momento delicado. É claro que o filme carrega uma atmosfera de dor, de sofrimento, de memórias marcantes, ainda assim ele nos faz sorrir. Filmado em preto e branco e com uma fotografia irretocável do diretor Haris Zambarloukos (de "Locke") o conceito visual traz um carga emocional muito necessária para a trama ao mesmo tempo em que brinca com lúdico ao usar as cores apenas quando Buddy se relaciona com arte - essa perspectiva cria uma sensação nostálgica impressionante.

Se "Licorice Pizza" é o coming-of-age de Paul Thomas Anderson, "Belfast" é a versão do sub-gênero cheia de dor e sorrisos de Branagh - uma verdadeira celebração familiar, mesmo quando nossos olhos mais maduros entendem de outra forma o relacionamento (e as dificuldades) dos pais de Buddy, o casal Ma (Caitirona Balfe) e Pa (Jamie Dornan), ou a vida com marcas profundas de seus avós - com Judi Dench e Ciarán Hinds dando um show e justificando suas indicações como "coadjuvantes". O fato é que "Belfast" se apoia na intransigência ideológica de quem precisa rotular o ser humano para criticar as diferenças em vez de exaltar a pluralidade cultural, para contar uma história de dificuldades e receios, com muita ternura, amor e, principalmente, saudade!

Imperdível!

Up-date: "Belfast" foi indicado em sete categorias no Oscar 2022, inclusive Melhor Filme e ganhou em Melhor Roteiro.

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Belle Époque

"Belle Époque" é um delicioso convite à nostalgia! Como em "Meia-noite em Paris" ou em “O Último Amor de Mr. Morgan”, o filme traz no roteiro uma leveza e uma sensibilidade impressionantes para discutir a importância de olhar para si, para só depois poder encontrar o outro. Eu diria, inclusive, que essa produção francesa dirigida pelo talentoso Nicolas Bedos (de "Os Infiéis") traz o que existe de melhor nos dramas de relação para o tom envolvente de uma comédia que em nenhum instante se perde no usual e que sabe aproveitar os gatilhos emocionais para nos perguntar, a cada momento, se estaríamos dispostos a viver a melhor época de nossa vida de novo!

Victor (Daniel Auteuil) é um sexagenário desiludido com o casamento em crise. Quando ele é apresentado para a empresa de Antoine (Guillaume Canet) que o sugere um serviço que une encenação teatral com recriação histórica, sua vida vira de cabeça para baixo. Victor decide então reviver o que ele considera a semana mais marcante de sua vida, onde, 40 anos antes, conheceu um grande e inesquecível amor. Confira o trailer:

Talvez o grande mérito de "Belle Époque" seja o de nos provocar, não só uma reflexão profunda como também a lidar com a dor da autoindulgência! Obviamente que todo aquele sentimento mais nostálgico escondido em nossa memória e principalmente em nosso coração, nos acompanha por toda jornada, porém o texto do próprio Bedos estabelece que mesmo nas decisões mais racionais, de alguma forma, é possível encontrar um leve sorriso ou um aprendizado capaz de mudar nossa percepção - essa dinâmica narrativa deixa tudo mais agradável, te garanto. Sim, eu sei que pode até parecer filosófico demais, mas é justamente por isso que o filme nos prende do começo ao fim - a identificação com Victor é imediata e a conexão com sua situação soa tão realista que nos permite estar ao seu lado, custe o que custar.

Guillaume Canet (como Antoine) e a belíssima Doria Tillier (como Margot) representam com muita sabedoria alguns arquétipos que se encaixam perfeitamente ao novo olhar sobre o sucesso e o fracasso das relações: o controlador e bem sucedido empresário que se apaixona pela sensível e talentosa artista que busca o seu lugar no mundo. Esse é exatamente o mesmo recorte, só que invertido, de Marianne Drumond (Fanny Ardant) e de Victor (Daniel Auteuil) - aqui as discussões sobre o peso de algumas escolhas e o reflexo de determinadas decisões de vida vão do presente ao passado para o casal em crise com a mesma simetria que um dia pode se tornar o futuro do casal que ainda luta para se encontrar.

Com uma trilha sonora original que vai de Billie Holiday à Fontella Bass, "La Belle Époque" (no original) celebra o amor sem pieguice - como uma bela poesia aos saudosistas ou um choque de realidade aos mais racionais, tudo sem esquecer do bom entretenimento. Se a arte nos permite sonhar, Bedos certamente se aproveitou da sua para nos presentear com um universo tão mágico quanto palpável, daqueles que não queremos acordar mesmo na hora marcada. Se o filme soa como uma reencenação de uma história de amor, certamente você vai sentir seu coração apertar por desejar reviver algum momento especial da sua vida!

E é por isso que vale muito o seu play!

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"Belle Époque" é um delicioso convite à nostalgia! Como em "Meia-noite em Paris" ou em “O Último Amor de Mr. Morgan”, o filme traz no roteiro uma leveza e uma sensibilidade impressionantes para discutir a importância de olhar para si, para só depois poder encontrar o outro. Eu diria, inclusive, que essa produção francesa dirigida pelo talentoso Nicolas Bedos (de "Os Infiéis") traz o que existe de melhor nos dramas de relação para o tom envolvente de uma comédia que em nenhum instante se perde no usual e que sabe aproveitar os gatilhos emocionais para nos perguntar, a cada momento, se estaríamos dispostos a viver a melhor época de nossa vida de novo!

Victor (Daniel Auteuil) é um sexagenário desiludido com o casamento em crise. Quando ele é apresentado para a empresa de Antoine (Guillaume Canet) que o sugere um serviço que une encenação teatral com recriação histórica, sua vida vira de cabeça para baixo. Victor decide então reviver o que ele considera a semana mais marcante de sua vida, onde, 40 anos antes, conheceu um grande e inesquecível amor. Confira o trailer:

Talvez o grande mérito de "Belle Époque" seja o de nos provocar, não só uma reflexão profunda como também a lidar com a dor da autoindulgência! Obviamente que todo aquele sentimento mais nostálgico escondido em nossa memória e principalmente em nosso coração, nos acompanha por toda jornada, porém o texto do próprio Bedos estabelece que mesmo nas decisões mais racionais, de alguma forma, é possível encontrar um leve sorriso ou um aprendizado capaz de mudar nossa percepção - essa dinâmica narrativa deixa tudo mais agradável, te garanto. Sim, eu sei que pode até parecer filosófico demais, mas é justamente por isso que o filme nos prende do começo ao fim - a identificação com Victor é imediata e a conexão com sua situação soa tão realista que nos permite estar ao seu lado, custe o que custar.

Guillaume Canet (como Antoine) e a belíssima Doria Tillier (como Margot) representam com muita sabedoria alguns arquétipos que se encaixam perfeitamente ao novo olhar sobre o sucesso e o fracasso das relações: o controlador e bem sucedido empresário que se apaixona pela sensível e talentosa artista que busca o seu lugar no mundo. Esse é exatamente o mesmo recorte, só que invertido, de Marianne Drumond (Fanny Ardant) e de Victor (Daniel Auteuil) - aqui as discussões sobre o peso de algumas escolhas e o reflexo de determinadas decisões de vida vão do presente ao passado para o casal em crise com a mesma simetria que um dia pode se tornar o futuro do casal que ainda luta para se encontrar.

Com uma trilha sonora original que vai de Billie Holiday à Fontella Bass, "La Belle Époque" (no original) celebra o amor sem pieguice - como uma bela poesia aos saudosistas ou um choque de realidade aos mais racionais, tudo sem esquecer do bom entretenimento. Se a arte nos permite sonhar, Bedos certamente se aproveitou da sua para nos presentear com um universo tão mágico quanto palpável, daqueles que não queremos acordar mesmo na hora marcada. Se o filme soa como uma reencenação de uma história de amor, certamente você vai sentir seu coração apertar por desejar reviver algum momento especial da sua vida!

E é por isso que vale muito o seu play!

Assista Agora

Cobra Kai

"Cobra Kai" é um projeto que merece ser estudado. Imaginem um nova série onde dois antigos rivais do esporte: o primeiro se tornou um empresário de sucesso, casado, dois filhos, feliz; já o segundo, sobrevive como um fracassado, na vida pessoal e profissional, alcoólatra e solitário. De repente o caminho dos dois volta a se cruzar, o fracassado se vê com a oportunidade de ensinar karatê para que um jovem imigrante consiga se defender dos valentões da escola, enquanto o bem sucedido se sente na obrigação de evitar que o fantasma que o assombrou há 30 anos atrás, ressurja. Junte a essa premissa vários personagens estereotipados, um texto extremamente superficial e um conceito visual e narrativo completamente ultrapassado - você acha que essa série mereceria uma recomendação? Pois bem, "Cobra Kai" é, de fato, tudo isso que pontuei, porém com uma dupla de protagonistas que subverte toda essa percepção: Daniel LaRusso (Ralph Macchio) e Johnny Lawrence (William Zabka) - e quando ligamos "o nome à pessoa", uma enorme carga nostálgica toma conta do nosso subconsciente e tudo que julgávamos ruim se transforma em algo sensacional. Duvida? Então assista o trailer abaixo:

Nada em "Cobra Kai" é por acaso, pode acreditar - ou seja, por mais estranho que pareça, todos elementos que criticaríamos em qualquer outra circunstância se tornam simplesmente geniais ao recriar, 30 anos depois, o mesmo universo que marcou toda uma geração - e aqui é preciso deixar claro: essa série é justamente para quem tem mais que 40 anos e torceu por Daniel San como se estivesse assistindo uma final olímpica ou que tenha repetido aquele golpe final de "Karatê Kid" em alguma brincadeira adolescente lá pelos 80 e 90. É óbvio que essa conexão emocional está pautando o sucesso da série, mais ou menos como aconteceu com "Stranger Things", mas se você não faz parte dessa geração e ficou curioso, eu sugiro que você assista o clássico de 1984 antes e só se você se divertir muito, parta para os episódios da série disponíveis na Netflix. Para os mais de 40, imperdível!

A principio, "Cobra Kai" aproveitou o contexto do primeiro filme e os dez minutos iniciais do segundo, o resto foi para o lixo (e ainda bem!). Apresentar uma nova perspectiva em uma história que já foi contada, para mim, foi a grande sacada da série. Mostrar que para uma mesma história, existem pontos de vista diferentes, que aquela necessidade de escolhermos um lado e torcermos por ele, quase sempre funciona apenas como um gatilho para rotularmos quem é o herói e quem é o bandido - e é justamente ao discutir sobre "rótulos" que "Cobra Kai" ganha ainda mais força. Impactar uma nova geração com problemas atuais, mas se equilibrando em conceitos que já não se encaixam na sociedade moderna e ainda não problematizar sobre eles, certamente, deixa a série leve, entretenimento puro! Todos os signos que marcaram o gênero em 1984 estão presentes: desde os momentos de tensão pontuados com uma trilha sonora motivacional e transformadora à toda uma construção de jornada dos personagens mais jovens em cima da "imagem e semelhança" do que aconteceu há 30 anos atrás, porém repaginada! 

O roteiro é direto, sem pegadinhas ou necessidade de grandes plot twists, e é por isso que sempre sabemos exatamente o que vai acontecer em cada cena e quais serão suas consequências, e nem assim paramos de assistir ou deixamos de torcer pelos personagens que escolhemos como heróis (e aqui, mais uma vez, não sabemos exatamente quais são). É em cima disso que Jon Hurwitz, Hayden Schlossberg e Josh Heald, criadores da série, foram muito inteligentes - eles nos provocam, como se dissessem: "as coisas não são exatamente como nós achamos que elas são!" As homenagens são sensíveis, como ao citar o Sr. Miyagi (o saudoso Pat Morita - indicado ao Oscar pelo personagem) ou mostrar apenas de relance o carro amarelo que Daniel San tanto encerou no primeiro filme e até ao relembrar alguns eventos-chave da obra de John G. Avildsen (e que acabam fazendo todo sentido na narrativa da série, diga-se de passagem).

"Cobra Kai" reaproveita os clichês de um gênero que fez muito sucesso nos anos 80, sem a menor vergonha, e transforma em uma viagem nostálgica ao descompromisso com o subtexto, com a seriedade de discussões filosóficas ou existenciais, deixando que o entretenimento nos conduza e permitindo que nossas interpretações fiquem limitadas entre uma cena de pancadaria e outra, sem aquela necessidade de encontrar um algo a mais onde não existe - ou pelo menos, onde não precisaria existir! "Cobra Kai" foi um tiro certo da Netflix e mais uma prova de que os "fins" justificam os "meios", ou seja, mesmo com um certo sucesso que a série teve quando fazia parte do finado "YouTube Red", só agora ela alcançou o status de cult e o reconhecimento de crítica e público!

Vale muito a pena! Dê o play e divirta-se, só!

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"Cobra Kai" é um projeto que merece ser estudado. Imaginem um nova série onde dois antigos rivais do esporte: o primeiro se tornou um empresário de sucesso, casado, dois filhos, feliz; já o segundo, sobrevive como um fracassado, na vida pessoal e profissional, alcoólatra e solitário. De repente o caminho dos dois volta a se cruzar, o fracassado se vê com a oportunidade de ensinar karatê para que um jovem imigrante consiga se defender dos valentões da escola, enquanto o bem sucedido se sente na obrigação de evitar que o fantasma que o assombrou há 30 anos atrás, ressurja. Junte a essa premissa vários personagens estereotipados, um texto extremamente superficial e um conceito visual e narrativo completamente ultrapassado - você acha que essa série mereceria uma recomendação? Pois bem, "Cobra Kai" é, de fato, tudo isso que pontuei, porém com uma dupla de protagonistas que subverte toda essa percepção: Daniel LaRusso (Ralph Macchio) e Johnny Lawrence (William Zabka) - e quando ligamos "o nome à pessoa", uma enorme carga nostálgica toma conta do nosso subconsciente e tudo que julgávamos ruim se transforma em algo sensacional. Duvida? Então assista o trailer abaixo:

Nada em "Cobra Kai" é por acaso, pode acreditar - ou seja, por mais estranho que pareça, todos elementos que criticaríamos em qualquer outra circunstância se tornam simplesmente geniais ao recriar, 30 anos depois, o mesmo universo que marcou toda uma geração - e aqui é preciso deixar claro: essa série é justamente para quem tem mais que 40 anos e torceu por Daniel San como se estivesse assistindo uma final olímpica ou que tenha repetido aquele golpe final de "Karatê Kid" em alguma brincadeira adolescente lá pelos 80 e 90. É óbvio que essa conexão emocional está pautando o sucesso da série, mais ou menos como aconteceu com "Stranger Things", mas se você não faz parte dessa geração e ficou curioso, eu sugiro que você assista o clássico de 1984 antes e só se você se divertir muito, parta para os episódios da série disponíveis na Netflix. Para os mais de 40, imperdível!

A principio, "Cobra Kai" aproveitou o contexto do primeiro filme e os dez minutos iniciais do segundo, o resto foi para o lixo (e ainda bem!). Apresentar uma nova perspectiva em uma história que já foi contada, para mim, foi a grande sacada da série. Mostrar que para uma mesma história, existem pontos de vista diferentes, que aquela necessidade de escolhermos um lado e torcermos por ele, quase sempre funciona apenas como um gatilho para rotularmos quem é o herói e quem é o bandido - e é justamente ao discutir sobre "rótulos" que "Cobra Kai" ganha ainda mais força. Impactar uma nova geração com problemas atuais, mas se equilibrando em conceitos que já não se encaixam na sociedade moderna e ainda não problematizar sobre eles, certamente, deixa a série leve, entretenimento puro! Todos os signos que marcaram o gênero em 1984 estão presentes: desde os momentos de tensão pontuados com uma trilha sonora motivacional e transformadora à toda uma construção de jornada dos personagens mais jovens em cima da "imagem e semelhança" do que aconteceu há 30 anos atrás, porém repaginada! 

O roteiro é direto, sem pegadinhas ou necessidade de grandes plot twists, e é por isso que sempre sabemos exatamente o que vai acontecer em cada cena e quais serão suas consequências, e nem assim paramos de assistir ou deixamos de torcer pelos personagens que escolhemos como heróis (e aqui, mais uma vez, não sabemos exatamente quais são). É em cima disso que Jon Hurwitz, Hayden Schlossberg e Josh Heald, criadores da série, foram muito inteligentes - eles nos provocam, como se dissessem: "as coisas não são exatamente como nós achamos que elas são!" As homenagens são sensíveis, como ao citar o Sr. Miyagi (o saudoso Pat Morita - indicado ao Oscar pelo personagem) ou mostrar apenas de relance o carro amarelo que Daniel San tanto encerou no primeiro filme e até ao relembrar alguns eventos-chave da obra de John G. Avildsen (e que acabam fazendo todo sentido na narrativa da série, diga-se de passagem).

"Cobra Kai" reaproveita os clichês de um gênero que fez muito sucesso nos anos 80, sem a menor vergonha, e transforma em uma viagem nostálgica ao descompromisso com o subtexto, com a seriedade de discussões filosóficas ou existenciais, deixando que o entretenimento nos conduza e permitindo que nossas interpretações fiquem limitadas entre uma cena de pancadaria e outra, sem aquela necessidade de encontrar um algo a mais onde não existe - ou pelo menos, onde não precisaria existir! "Cobra Kai" foi um tiro certo da Netflix e mais uma prova de que os "fins" justificam os "meios", ou seja, mesmo com um certo sucesso que a série teve quando fazia parte do finado "YouTube Red", só agora ela alcançou o status de cult e o reconhecimento de crítica e público!

Vale muito a pena! Dê o play e divirta-se, só!

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Creed 2

Antes de falar de "Creed 2", eu preciso admitir que, para mim, a franquia "Rocky" terminou no quarto filme, quando ele nocauteia Ivan Drago com Burning Heart ecoando nos meus ouvidos, no ápice da guerra fria de 1985 - Meu Deus, eu assisti esse filme no cinema (rs)!!! Aquelas presepadas do 5 e do 6, devem ser esquecidas em nome do sucesso que essa nova série de filmes, que tem o filho do Apollo como protagonista, vem alcançando, ok?

Dito isso, agora podemos continuar sem nenhum peso na consciência! Creed trás para os anos 2000, um pouco do que Rocky representou para os anos 80! Fazendo esse paralelo, podemos dizer que "Creed" (2015) tem aquela atmosfera de cinema independente do "Rocky 1 e 2" - quando, inclusive, "o lutador" ganhou o Oscar de melhor filme em 1977. Ele espelha aquele conceito de cinema de autor, focado muito mais no drama do que na ação, nas lutas em si. Claro que com uma pegada mais moderna, mas com o mesmo foco na história mais existencial, com um roteiro mais profundo, trabalhado e com um diretor extremamente competente como o Ryan Coogler (de Pantera Negra) no comando para criar uma identidade própria, forte, ao mesmo tempo que revive um gênero que foi se perdendo no meio de tanta porcaria que fizeram durante anos. Funcionou! "Creed" foi um sucesso de bilheteria e de crítica - até presenteando o Stallone com uma indicação de melhor ator no Oscar de 2016!!!

Bom, ai vem Creed 2, filme que acabei de assistir: definitivamente é um filme menos autoral, eu diria que é mais de Estúdio, estilo blockbuster mesmo; sem tanta alma, sem tanto roteiro, mas com muito mais ação e aquela fórmula consagrada da jornada de superação do herói inseguro - como foi Rocky 3 e 4. Isso é um problema? De maneira nenhuma, Rocky 3 e 4 são os meus favoritos (me julguem, rs) e Creed 2 é praticamente um reboot desses dois filmes em um só! "Creed 2" é completamente previsível, superficial, mas muito (muito) divertido!  O filme trás aquele sorriso no rosto já nos primeiros acordes da música tema (aquela...) no momento da virada, na última luta, quando tudo parecia perdido...

É claro que você já viu isso, a sinopse já te entrega o que vem pela frente de cara: o filho do Apollo tendo que enfrentar o filho do Drago em busca de auto-afirmação fantasiada de vingança! O fato é que essa previsibilidade pouco importa, porque a sensação de assistir essa jornada "novamente" é maravilhosa!!! Aliás você que tem mais de 40 anos (e/ou é fã da série anterior), vai adivinhar o filme inteirinho; vai reconhecer muito dos filmes dos anos 80, mas vai se divertir como adolescente de novo!!! Já você, na casa do 20, vai começar a entender um pouco mais "por que?" o Stallone se tornou um dos atores mais bem pagos daquela época e um ícone de uma geração!!!

A verdade é que "Creed 2" é um conjunto de clichês, não tem nada de novo, tudo é uma versão mais moderna do que já foi contado um dia... Perde muito em qualidade cinematográfica para o primeiro filme, tem um diretor infinitamente menos relevante, deixam de lado aquela inserção gráfica magnífica do cartel dos lutadores que poderia virar uma marca da série (e que era linda), mas, mesmo assim, te garanto: "Creed 2" vale cada centavo!!! É muito divertido, além de ter aquele tom nostálgico dos anos 80... 

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Antes de falar de "Creed 2", eu preciso admitir que, para mim, a franquia "Rocky" terminou no quarto filme, quando ele nocauteia Ivan Drago com Burning Heart ecoando nos meus ouvidos, no ápice da guerra fria de 1985 - Meu Deus, eu assisti esse filme no cinema (rs)!!! Aquelas presepadas do 5 e do 6, devem ser esquecidas em nome do sucesso que essa nova série de filmes, que tem o filho do Apollo como protagonista, vem alcançando, ok?

Dito isso, agora podemos continuar sem nenhum peso na consciência! Creed trás para os anos 2000, um pouco do que Rocky representou para os anos 80! Fazendo esse paralelo, podemos dizer que "Creed" (2015) tem aquela atmosfera de cinema independente do "Rocky 1 e 2" - quando, inclusive, "o lutador" ganhou o Oscar de melhor filme em 1977. Ele espelha aquele conceito de cinema de autor, focado muito mais no drama do que na ação, nas lutas em si. Claro que com uma pegada mais moderna, mas com o mesmo foco na história mais existencial, com um roteiro mais profundo, trabalhado e com um diretor extremamente competente como o Ryan Coogler (de Pantera Negra) no comando para criar uma identidade própria, forte, ao mesmo tempo que revive um gênero que foi se perdendo no meio de tanta porcaria que fizeram durante anos. Funcionou! "Creed" foi um sucesso de bilheteria e de crítica - até presenteando o Stallone com uma indicação de melhor ator no Oscar de 2016!!!

Bom, ai vem Creed 2, filme que acabei de assistir: definitivamente é um filme menos autoral, eu diria que é mais de Estúdio, estilo blockbuster mesmo; sem tanta alma, sem tanto roteiro, mas com muito mais ação e aquela fórmula consagrada da jornada de superação do herói inseguro - como foi Rocky 3 e 4. Isso é um problema? De maneira nenhuma, Rocky 3 e 4 são os meus favoritos (me julguem, rs) e Creed 2 é praticamente um reboot desses dois filmes em um só! "Creed 2" é completamente previsível, superficial, mas muito (muito) divertido!  O filme trás aquele sorriso no rosto já nos primeiros acordes da música tema (aquela...) no momento da virada, na última luta, quando tudo parecia perdido...

É claro que você já viu isso, a sinopse já te entrega o que vem pela frente de cara: o filho do Apollo tendo que enfrentar o filho do Drago em busca de auto-afirmação fantasiada de vingança! O fato é que essa previsibilidade pouco importa, porque a sensação de assistir essa jornada "novamente" é maravilhosa!!! Aliás você que tem mais de 40 anos (e/ou é fã da série anterior), vai adivinhar o filme inteirinho; vai reconhecer muito dos filmes dos anos 80, mas vai se divertir como adolescente de novo!!! Já você, na casa do 20, vai começar a entender um pouco mais "por que?" o Stallone se tornou um dos atores mais bem pagos daquela época e um ícone de uma geração!!!

A verdade é que "Creed 2" é um conjunto de clichês, não tem nada de novo, tudo é uma versão mais moderna do que já foi contado um dia... Perde muito em qualidade cinematográfica para o primeiro filme, tem um diretor infinitamente menos relevante, deixam de lado aquela inserção gráfica magnífica do cartel dos lutadores que poderia virar uma marca da série (e que era linda), mas, mesmo assim, te garanto: "Creed 2" vale cada centavo!!! É muito divertido, além de ter aquele tom nostálgico dos anos 80... 

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Creed 3

"Creed 3" é essencialmente um filme de boxe, com as forças e as franquezas que o fã desse subgênero de ação já está acostumado. No entanto, especificamente nesse capitulo da franquia, o filme sofre com a imaturidade de Michael B. Jordan na direção e com o roteiro pouco inspirado (e certamente o menos consistente) do Ryan Coogler, que, inclusive, escreveu os anteriores e me parece que aqui apenas supervisionou o trabalho de Keenan Coogler (de "Space Jam 2") e de Zach Baylin (de "King Richard"). Ok, mas o filme é ruim? Não, longe disso, mas é preciso dizer que ao dar o play, você vai encontrar "mais do mesmo"!

Depois de dominar o mundo do boxe, Adonis Creed (Michael B. Jordan) vem prosperando tanto na carreira quanto na vida familiar até que um amigo de infância e ex-prodígio do boxe, Damian (Jonathan Majors), ressurge após ficar 18 anos na prisão. Ansioso para provar que merece sua chance no ringue, Damian pede a ajuda de Creed. Apesar de apoio do amigo, Damian parece não estar nada satisfeito com a ideia de que Creed tenha "tomado seu lugar" e é aí que os dois velhos amigos resolvem lutar para enfrentar os fantasmas do  passado e assim encontrar um futuro mais digno para ambos. Confira o trailer:

Como já era de se esperar, as sequências de luta são o ponto alto de "Creed 3" - coreografadas com maestria e filmadas de forma bastante imersiva pelo diretor de fotografia Kramer Morgenthau. Cada soco, cada movimento é capturado de uma maneira visceral, fazendo com que a audiência, de fato, se sinta parte do ringue. A energia e a intensidade dessas cenas são impressionantes e é o que mantém nossa adrenalina em alta ao longo da trama, no entanto essas cenas são pontuais e o drama dos personagens em si, parece não ter a mesma "alma" dos outros dois filmes (especialmente o primeiro pelo tom mais independente da direção do próprio Coogler ou até do segundo graças ao conceito mais nostálgico da narrativa).

É inegável que o roteiro até se esforça para explorar questões sociais relevantes, ao abordar assuntos como o impacto da fama e do sucesso, a importância de encontrar sua própria voz e até a luta  para superar o passado em pró do futuro - eu diria até que esses elementos adicionam certa profundidade à história, mas falta desenvolvimento. A relação do próprio Adonis com Damian, o impacto desse convívio com o que ambos se tornaram e as conexões entre a juventude pobre com as questões raciais e de preconceito, parecem pouco exploradas e deixam uma certa sensação de frustração quando chegamos no terceiro ato.

A trilha sonora produzida pelo selo Dreamville com músicas do rapper J. Cole é um espetáculo à parte - a cada filme, uma identidade, um verdadeiro show. Repare como as canções se encaixam quando combinadas com os temas de perseverança e dedicação que são exploradas pelo roteiro. Esse impacto emocional continua sendo um trunfo da franquia e faz com que “Creed 3” se mantenha interessante, divertido e até alinhado com a essência de "Rocky", mas como amante de filmes de boxe, eu abriria os olhos para não cometer as mesmas falhas que o grande Stallone cometeu por não aceitar que existe uma hora de finalizar um ciclo - imagino que o de "Creed" está chegando.

Para você, fã, vale o play!

Assista Agora

"Creed 3" é essencialmente um filme de boxe, com as forças e as franquezas que o fã desse subgênero de ação já está acostumado. No entanto, especificamente nesse capitulo da franquia, o filme sofre com a imaturidade de Michael B. Jordan na direção e com o roteiro pouco inspirado (e certamente o menos consistente) do Ryan Coogler, que, inclusive, escreveu os anteriores e me parece que aqui apenas supervisionou o trabalho de Keenan Coogler (de "Space Jam 2") e de Zach Baylin (de "King Richard"). Ok, mas o filme é ruim? Não, longe disso, mas é preciso dizer que ao dar o play, você vai encontrar "mais do mesmo"!

Depois de dominar o mundo do boxe, Adonis Creed (Michael B. Jordan) vem prosperando tanto na carreira quanto na vida familiar até que um amigo de infância e ex-prodígio do boxe, Damian (Jonathan Majors), ressurge após ficar 18 anos na prisão. Ansioso para provar que merece sua chance no ringue, Damian pede a ajuda de Creed. Apesar de apoio do amigo, Damian parece não estar nada satisfeito com a ideia de que Creed tenha "tomado seu lugar" e é aí que os dois velhos amigos resolvem lutar para enfrentar os fantasmas do  passado e assim encontrar um futuro mais digno para ambos. Confira o trailer:

Como já era de se esperar, as sequências de luta são o ponto alto de "Creed 3" - coreografadas com maestria e filmadas de forma bastante imersiva pelo diretor de fotografia Kramer Morgenthau. Cada soco, cada movimento é capturado de uma maneira visceral, fazendo com que a audiência, de fato, se sinta parte do ringue. A energia e a intensidade dessas cenas são impressionantes e é o que mantém nossa adrenalina em alta ao longo da trama, no entanto essas cenas são pontuais e o drama dos personagens em si, parece não ter a mesma "alma" dos outros dois filmes (especialmente o primeiro pelo tom mais independente da direção do próprio Coogler ou até do segundo graças ao conceito mais nostálgico da narrativa).

É inegável que o roteiro até se esforça para explorar questões sociais relevantes, ao abordar assuntos como o impacto da fama e do sucesso, a importância de encontrar sua própria voz e até a luta  para superar o passado em pró do futuro - eu diria até que esses elementos adicionam certa profundidade à história, mas falta desenvolvimento. A relação do próprio Adonis com Damian, o impacto desse convívio com o que ambos se tornaram e as conexões entre a juventude pobre com as questões raciais e de preconceito, parecem pouco exploradas e deixam uma certa sensação de frustração quando chegamos no terceiro ato.

A trilha sonora produzida pelo selo Dreamville com músicas do rapper J. Cole é um espetáculo à parte - a cada filme, uma identidade, um verdadeiro show. Repare como as canções se encaixam quando combinadas com os temas de perseverança e dedicação que são exploradas pelo roteiro. Esse impacto emocional continua sendo um trunfo da franquia e faz com que “Creed 3” se mantenha interessante, divertido e até alinhado com a essência de "Rocky", mas como amante de filmes de boxe, eu abriria os olhos para não cometer as mesmas falhas que o grande Stallone cometeu por não aceitar que existe uma hora de finalizar um ciclo - imagino que o de "Creed" está chegando.

Para você, fã, vale o play!

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Cruella

A Disney deveria seguir o exemplo da DC e criar um selo focado apenas em releituras menos convencionais de seus clássicos, como fez com "Cruella". Eu diria, inclusive, que esse filme é uma das estreias mais surpreendentes do ano - tecnicamente perfeito e narrativamente muito bem construído, equilibrando elementos clássicos da personagem, com a modernidade, beleza e a liberdade criativa para se aplaudir de pé - mais ou menos como Baz Luhrmann fez em "Romeu e Julieta".

Ambientado na Londres dos anos 70 em meio a revolução do punk rock, "Cruella" mostra a história de uma jovem vigarista chamada Estella (Emma Stone) que, desde a morte trágica de sua mãe, vive de pequenos golpes ao lado dos amigos Jasper (Joel Fry) e Horace (Paul Walter Hauser). Inteligente, criativa e determinada a mudar de vida e fazer seu nome através de seu talento na moda, ela acaba chamando a atenção da Baronesa Von Hellman (Emma Thompson), uma lenda fashion que é devastadoramente chique e assustadoramente egocêntrica. Entretanto, o relacionamento entre elas desencadeia uma série de eventos e revelações que farão com que Estella abrace seu lado mais rebelde, sombrio até, e se torne a impiedosa Cruella que, mesmo elegante, tem a vingança como seu maior combustível. Confira o trailer:

Antes de falar do bom roteiro de Dana Fox (Megarrromântico) e Tony McNamara (A Favorita), destaco como o visual de "Cruella" chama atenção - e aqui fica claro o enorme talento do diretor Craig Gillespie (Eu, Tonya) que, referenciado por uma respeitável carreira na publicidade, usa toda sua habilidade em construir uma atmosfera moderna e dinâmica para contar uma história mais adulta, mas sem perder a essência da fantasia clássica. Gillespie nos leva em viagem divertida, usando uma câmera quase sempre em movimento, criando um balé técnico pouco convencional e muito bem executado. A fotografia do Nicolas Karakatsanis, parceiro de Gillespie em "Eu, Tonya"- que também trouxe esse balé "Cisne Negro" para a arena de patinação no gelo), está 100% alinhada com um trabalho do departamento de direção de arte dos mais bonitos (e que fatalmente será indicado em algumas categorias do Oscar 2022 com muito mérito). Criados por Jenny Beavan (Mad Max: Estrada da Fúria), o figurino tem uma estética punk e funciona como um gatilho de transgressão, quebrando padrões que dialogam exatamente com o surgimento de Cruella - os cenários para isso são instalações criativas que vão de caminhões de lixo a shows cheios de pirotecnia ao som de uma trilha sonora com versões de Supertramp, Bee Gees, Queen e The Clash intercaladas com composições originais de Nicholas Britell (a mente brilhante por traz de "Sussession", "The Underground Railroad", "Moonlight" e "Se a rua Beale falasse").

O roteiro é ótimo, criativo, cheio de easter eggs que fazem referências à animação original de uma forma muito orgânica. No entanto, talvez o seu único deslize tenha sido a falta de sutileza na transição de Estella para Cruella - para os mais atentos e críticos, vai parecer uma falta de um cuidado maior, talvez com soluções menos óbvias, para aí sim se aproximar de um ápice de protagonista com momentos memoráveis como de "Coringa" por exemplo. Aliás, seguindo o trabalho exemplar de Joaquin Phoenix, Emma Stone está fantástica e não se surpreenda se ela for indicada mais uma vez ao Oscar - o mesmo eu digo para Emma Thompson, a implacável Baronesa, como coadjuvante.

Bem mais divertido do que eu esperava, "Cruella" é entretenimento de ótima qualidade - sem a pretensão de ser inesquecível, certamente o filme marca pela originalidade, inteligência e qualidade! Vale muito a pena, mesmo!

Up-date: "Cruella" foi indicado em duas das três categorias de arte, mas ganhou apenas em Melhor Figurino.

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A Disney deveria seguir o exemplo da DC e criar um selo focado apenas em releituras menos convencionais de seus clássicos, como fez com "Cruella". Eu diria, inclusive, que esse filme é uma das estreias mais surpreendentes do ano - tecnicamente perfeito e narrativamente muito bem construído, equilibrando elementos clássicos da personagem, com a modernidade, beleza e a liberdade criativa para se aplaudir de pé - mais ou menos como Baz Luhrmann fez em "Romeu e Julieta".

Ambientado na Londres dos anos 70 em meio a revolução do punk rock, "Cruella" mostra a história de uma jovem vigarista chamada Estella (Emma Stone) que, desde a morte trágica de sua mãe, vive de pequenos golpes ao lado dos amigos Jasper (Joel Fry) e Horace (Paul Walter Hauser). Inteligente, criativa e determinada a mudar de vida e fazer seu nome através de seu talento na moda, ela acaba chamando a atenção da Baronesa Von Hellman (Emma Thompson), uma lenda fashion que é devastadoramente chique e assustadoramente egocêntrica. Entretanto, o relacionamento entre elas desencadeia uma série de eventos e revelações que farão com que Estella abrace seu lado mais rebelde, sombrio até, e se torne a impiedosa Cruella que, mesmo elegante, tem a vingança como seu maior combustível. Confira o trailer:

Antes de falar do bom roteiro de Dana Fox (Megarrromântico) e Tony McNamara (A Favorita), destaco como o visual de "Cruella" chama atenção - e aqui fica claro o enorme talento do diretor Craig Gillespie (Eu, Tonya) que, referenciado por uma respeitável carreira na publicidade, usa toda sua habilidade em construir uma atmosfera moderna e dinâmica para contar uma história mais adulta, mas sem perder a essência da fantasia clássica. Gillespie nos leva em viagem divertida, usando uma câmera quase sempre em movimento, criando um balé técnico pouco convencional e muito bem executado. A fotografia do Nicolas Karakatsanis, parceiro de Gillespie em "Eu, Tonya"- que também trouxe esse balé "Cisne Negro" para a arena de patinação no gelo), está 100% alinhada com um trabalho do departamento de direção de arte dos mais bonitos (e que fatalmente será indicado em algumas categorias do Oscar 2022 com muito mérito). Criados por Jenny Beavan (Mad Max: Estrada da Fúria), o figurino tem uma estética punk e funciona como um gatilho de transgressão, quebrando padrões que dialogam exatamente com o surgimento de Cruella - os cenários para isso são instalações criativas que vão de caminhões de lixo a shows cheios de pirotecnia ao som de uma trilha sonora com versões de Supertramp, Bee Gees, Queen e The Clash intercaladas com composições originais de Nicholas Britell (a mente brilhante por traz de "Sussession", "The Underground Railroad", "Moonlight" e "Se a rua Beale falasse").

O roteiro é ótimo, criativo, cheio de easter eggs que fazem referências à animação original de uma forma muito orgânica. No entanto, talvez o seu único deslize tenha sido a falta de sutileza na transição de Estella para Cruella - para os mais atentos e críticos, vai parecer uma falta de um cuidado maior, talvez com soluções menos óbvias, para aí sim se aproximar de um ápice de protagonista com momentos memoráveis como de "Coringa" por exemplo. Aliás, seguindo o trabalho exemplar de Joaquin Phoenix, Emma Stone está fantástica e não se surpreenda se ela for indicada mais uma vez ao Oscar - o mesmo eu digo para Emma Thompson, a implacável Baronesa, como coadjuvante.

Bem mais divertido do que eu esperava, "Cruella" é entretenimento de ótima qualidade - sem a pretensão de ser inesquecível, certamente o filme marca pela originalidade, inteligência e qualidade! Vale muito a pena, mesmo!

Up-date: "Cruella" foi indicado em duas das três categorias de arte, mas ganhou apenas em Melhor Figurino.

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Dumbo

Talvez o maior mérito do "Cinema" seja nos transportar para dentro da Fantasia com tanta veracidade que as duas horas de uma projeção ficam reverberando na nossa imaginação por muito tempo. "Dumbo" talvez não seja um grande filme no sentido narrativo, mas visualmente é e, mais importante, tem a alma da Disney!!! Tenho a mais absoluta certeza que se Walt fosse vivo, terminaria de assistir "Dumbo", olharia para o lado e diria para seu irmão: "Valeu a pena"!!! "Dumbo" é um filme que equilibra muito bem o que Walt acreditava, seus ideais como criador, com a tecnologia necessária para dar vida para um elefante voador. É impressionante, e te garanto, ele te transporta para um mundo de fantasia já nas primeiras cenas!!

Um circo decadente, passando por dificuldades financeiras acaba encontrando em um elefante recém-nascido, a oportunidade de se reerguer. O pequeno elefante, embora pareça uma aberração por ter orelhas enormes, acaba descobrindo uma capacidade muito curiosa: a de voar! Isso chama atenção de um grande empresário que está inovando o mercado de entretenimento da época com uma espécie de Parque Temático chamado "Dreamland". Ter Dumbo como atração seria a certeza de mais público e, claro, investimentos; mesmo que para isso seja necessário sacrificar o antigo circo e dispensar todos os outros artistas que não empolgariam mais nenhuma platéia! 

Dito isso, alguns elementos dessa versão live-action do clássico de 1941 merecem destaque: Eu achei a adaptação muito coerente com os dias atuais e, em alguns momentos, muito corajosa, afinal o "showbiz acima de tudo" nunca pode ser considerado o objetivo principal (tá, eu sei que minha visão é muito romântica...rs). Tim Burton foi muito sagaz em desconstruir o ideal de Walt, mas se apropriando da sua visão empreendedora, para dar vida ao vilão do filme - e olhem só, em um filme da Disney!!! O uso de animais em Circos também já me parece uma discussão batida, mas o filme faz questão de manter viva e faz isso com muita inteligência. A cena do descontrole da mãe de Dumbo ao ver o filho em perigo é muito interessante e faz pensar nas consequências de algumas escolhas. A troca de universos também ficou bem bacana: primeiro a tradição, o clássico que não se renovou, o Circo como entretenimento em tempos de guerra, mesmo com a cor na tela, está menos saturada, mais lavada, com muito marrom no figurino e na cenografia. Já na modernidade ostensiva de "Dreamland", as cores vibram com as luzes, o contraste é muito maior e vivo!!! É um lindo trabalho de direção de arte integrado com a pós produção, uma marca dos filmes do Tim Burton, inclusive!!! A fotografia é muito bonita e traz sensações muito relevantes para quem assiste: reparem na cena em que o personagem do Michael Keaton convida o personagem do Danny DeVito para ser seu sócio - a construção do quadro é perfeita, pois ao mesmo tempo que mostra a beleza da natureza, com um Circo decadente ao fundo, transmite o vazio de uma decisão que deixa de lado a essência da arte pelo dinheiro e pelo sucesso - mérito do inglês Ben Davis, diretor de fotografia de quase todos os filmes da Marvel!!! 

Dois pontos acho que mereciam um cuidado maior no filme. O primeiro é a escolha do elenco infantil. Achei os dois atores fracos e sem nenhum carisma. E o outro ponto: o Dumbo aparece em muitas apresentações voando e isso tira um pouco da emoção do 3º ato, onde na história original ele se obriga a voar e enfrentar seus medos para salvar as crianças do incêndio. Não sei, faltou a emoção de um grande final!!!! Na minha opinião, isso não prejudica a experiência de voltar a infância e revisitar uma história que fez parte da vida de todos nós. Vale muito a pena, é um filme para a família e ainda, no final, faz uma linda homenagem ao cinema.

PS: "Dumbo" é quase um ensaio para o que veremos em Rei Leão!!! A Composição dos animais em CG com a integração dos cenários reais, olha, é digna de Oscar, podem anotar!!! 

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Talvez o maior mérito do "Cinema" seja nos transportar para dentro da Fantasia com tanta veracidade que as duas horas de uma projeção ficam reverberando na nossa imaginação por muito tempo. "Dumbo" talvez não seja um grande filme no sentido narrativo, mas visualmente é e, mais importante, tem a alma da Disney!!! Tenho a mais absoluta certeza que se Walt fosse vivo, terminaria de assistir "Dumbo", olharia para o lado e diria para seu irmão: "Valeu a pena"!!! "Dumbo" é um filme que equilibra muito bem o que Walt acreditava, seus ideais como criador, com a tecnologia necessária para dar vida para um elefante voador. É impressionante, e te garanto, ele te transporta para um mundo de fantasia já nas primeiras cenas!!

Um circo decadente, passando por dificuldades financeiras acaba encontrando em um elefante recém-nascido, a oportunidade de se reerguer. O pequeno elefante, embora pareça uma aberração por ter orelhas enormes, acaba descobrindo uma capacidade muito curiosa: a de voar! Isso chama atenção de um grande empresário que está inovando o mercado de entretenimento da época com uma espécie de Parque Temático chamado "Dreamland". Ter Dumbo como atração seria a certeza de mais público e, claro, investimentos; mesmo que para isso seja necessário sacrificar o antigo circo e dispensar todos os outros artistas que não empolgariam mais nenhuma platéia! 

Dito isso, alguns elementos dessa versão live-action do clássico de 1941 merecem destaque: Eu achei a adaptação muito coerente com os dias atuais e, em alguns momentos, muito corajosa, afinal o "showbiz acima de tudo" nunca pode ser considerado o objetivo principal (tá, eu sei que minha visão é muito romântica...rs). Tim Burton foi muito sagaz em desconstruir o ideal de Walt, mas se apropriando da sua visão empreendedora, para dar vida ao vilão do filme - e olhem só, em um filme da Disney!!! O uso de animais em Circos também já me parece uma discussão batida, mas o filme faz questão de manter viva e faz isso com muita inteligência. A cena do descontrole da mãe de Dumbo ao ver o filho em perigo é muito interessante e faz pensar nas consequências de algumas escolhas. A troca de universos também ficou bem bacana: primeiro a tradição, o clássico que não se renovou, o Circo como entretenimento em tempos de guerra, mesmo com a cor na tela, está menos saturada, mais lavada, com muito marrom no figurino e na cenografia. Já na modernidade ostensiva de "Dreamland", as cores vibram com as luzes, o contraste é muito maior e vivo!!! É um lindo trabalho de direção de arte integrado com a pós produção, uma marca dos filmes do Tim Burton, inclusive!!! A fotografia é muito bonita e traz sensações muito relevantes para quem assiste: reparem na cena em que o personagem do Michael Keaton convida o personagem do Danny DeVito para ser seu sócio - a construção do quadro é perfeita, pois ao mesmo tempo que mostra a beleza da natureza, com um Circo decadente ao fundo, transmite o vazio de uma decisão que deixa de lado a essência da arte pelo dinheiro e pelo sucesso - mérito do inglês Ben Davis, diretor de fotografia de quase todos os filmes da Marvel!!! 

Dois pontos acho que mereciam um cuidado maior no filme. O primeiro é a escolha do elenco infantil. Achei os dois atores fracos e sem nenhum carisma. E o outro ponto: o Dumbo aparece em muitas apresentações voando e isso tira um pouco da emoção do 3º ato, onde na história original ele se obriga a voar e enfrentar seus medos para salvar as crianças do incêndio. Não sei, faltou a emoção de um grande final!!!! Na minha opinião, isso não prejudica a experiência de voltar a infância e revisitar uma história que fez parte da vida de todos nós. Vale muito a pena, é um filme para a família e ainda, no final, faz uma linda homenagem ao cinema.

PS: "Dumbo" é quase um ensaio para o que veremos em Rei Leão!!! A Composição dos animais em CG com a integração dos cenários reais, olha, é digna de Oscar, podem anotar!!! 

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Ghostbusters - Mais Além

O que mais chama atenção em "Ghostbusters - Mais Além", sem a menor dúvida, é o elemento nostálgico - principalmente se você estiver na casa dos 45 anos e lembrar do que representou o filme original para a cultura pop da época. Já para os mais novos, a comparação com "Stranger Things" será natural e isso, de fato, pode prejudicar sua percepção sobre a proposta do filme. Claro que existem similaridades, mas o tom é completamente outro e basta assistir ao "Ghostbusters" de 1984 para entender que a estrutura narrativa do novo filme é muito semelhante, menos densa que a série da Netflix, mas também muito divertida - alinhar as expectativas é a principal premissa para que sua experiência seja divertida aqui!

Depois de se mudar com seus filhos, Trevor (Finn Wolfhard) e Phoebe (Mckenna Grace), para uma pequena cidade, Callie (Carrie Coon) acaba descobrindo sobre os escombros de seu passado uma conexão inesperada com os Caça-Fantasmas por meio da herança deixada para trás por seu pai. Confira o trailer:

Mesmo não sendo uma continuação direta (simplesmente ignorando os filmes de 1989 e o reboot de 2016), eu sugiro que antes do play, você assista o "Ghostbusters" original, pois, muito mais do que uma revitalização da franquia (que nunca decolou, convenhamos),  "Ghostbusters - Afterlife" (no original) é uma grande homenagem, cheio de elementos emocionais e referências narrativas que impactam diretamente na nossa jornada como audiência - e aqui cabe um comentário que pode gerar certa polêmica: eu não tenho certeza se esse filme funciona tão bem isoladamente, quanto dentro de um contexto histórico e , principalmente, afetivo.

Mas "afetivo"? Sim e cito dois pontos cruciais que justificam essa tese. O primeiro é o fato de Jason Reitman (do imperdível "Tully") ser filho do diretor Ivan Reitman, responsável pelos dois primeiros filmes - é incrível como Jason moderniza seu conceito cinematográfico, construindo belíssimas cenas com a ajuda do fotógrafo Eric Steelberg (também de "Tully"), entregando um filme visualmente impecável, sem perder aquele estilo narrativo que fez muito sucesso nos anos 80 com os clássicos "Goonies", "Gremlins" e até "E.T.". A sensação de estarmos assistindo um filme "datado", que exige uma boa dose de suspensão da realidade (mesmo sendo fantasia), nos acompanha durante toda a história - e é proposital, então se acostume. Já o segundo fato diz respeito ao subtítulo em inglês (claro). "Afterlife" nos remete a algo como "o que acontece depois que morremos" - é quando a arte imita a vida,  já que Harold Ramis (o Caça Fantasma original Egan Spangler) nos deixou em 2014. E é a partir da sua "morte" em "Ghostbusters - Mais Além" que essa jornada começa (eu diria, inclusive, que as cenas finais são emocionantes justamente por essa conexão entre presente e passado, entre ficção e realidade)!

"Ghostbusters - Mais Além" está recheado de easter-eggs que passam pelos diálogos (muitos deles com um certo tom de humor - como quando o xerife pergunta para quem Phoebe gostaria de ligar?), pelos cenários, até chegar nos objetos de cena onde encontramos com as mochilas de prótons, com várias Ghost Trap e, claro, com o inesquecível Ectomóvel, o Ecto-1 - sem falar nas participações mais que especiais de vários personagens do filme original! Dito isso, é impossível não se conectar emocionalmente com a história, mesmo não sendo um primor de roteiro; por outro lado é de se elogiar que o elenco formado por Finn Wolfhard, McKenna Grace, Celeste O 'Connor e o estreante (e impagável) Logan Kim, tenha deixado muito claro sua capacidade de perpetuar uma franquia que precisava se revitalizar e que agora sabe exatamente qual o melhor caminho à seguir.

Vale a pena pelo entretenimento e pela nostalgia!

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O que mais chama atenção em "Ghostbusters - Mais Além", sem a menor dúvida, é o elemento nostálgico - principalmente se você estiver na casa dos 45 anos e lembrar do que representou o filme original para a cultura pop da época. Já para os mais novos, a comparação com "Stranger Things" será natural e isso, de fato, pode prejudicar sua percepção sobre a proposta do filme. Claro que existem similaridades, mas o tom é completamente outro e basta assistir ao "Ghostbusters" de 1984 para entender que a estrutura narrativa do novo filme é muito semelhante, menos densa que a série da Netflix, mas também muito divertida - alinhar as expectativas é a principal premissa para que sua experiência seja divertida aqui!

Depois de se mudar com seus filhos, Trevor (Finn Wolfhard) e Phoebe (Mckenna Grace), para uma pequena cidade, Callie (Carrie Coon) acaba descobrindo sobre os escombros de seu passado uma conexão inesperada com os Caça-Fantasmas por meio da herança deixada para trás por seu pai. Confira o trailer:

Mesmo não sendo uma continuação direta (simplesmente ignorando os filmes de 1989 e o reboot de 2016), eu sugiro que antes do play, você assista o "Ghostbusters" original, pois, muito mais do que uma revitalização da franquia (que nunca decolou, convenhamos),  "Ghostbusters - Afterlife" (no original) é uma grande homenagem, cheio de elementos emocionais e referências narrativas que impactam diretamente na nossa jornada como audiência - e aqui cabe um comentário que pode gerar certa polêmica: eu não tenho certeza se esse filme funciona tão bem isoladamente, quanto dentro de um contexto histórico e , principalmente, afetivo.

Mas "afetivo"? Sim e cito dois pontos cruciais que justificam essa tese. O primeiro é o fato de Jason Reitman (do imperdível "Tully") ser filho do diretor Ivan Reitman, responsável pelos dois primeiros filmes - é incrível como Jason moderniza seu conceito cinematográfico, construindo belíssimas cenas com a ajuda do fotógrafo Eric Steelberg (também de "Tully"), entregando um filme visualmente impecável, sem perder aquele estilo narrativo que fez muito sucesso nos anos 80 com os clássicos "Goonies", "Gremlins" e até "E.T.". A sensação de estarmos assistindo um filme "datado", que exige uma boa dose de suspensão da realidade (mesmo sendo fantasia), nos acompanha durante toda a história - e é proposital, então se acostume. Já o segundo fato diz respeito ao subtítulo em inglês (claro). "Afterlife" nos remete a algo como "o que acontece depois que morremos" - é quando a arte imita a vida,  já que Harold Ramis (o Caça Fantasma original Egan Spangler) nos deixou em 2014. E é a partir da sua "morte" em "Ghostbusters - Mais Além" que essa jornada começa (eu diria, inclusive, que as cenas finais são emocionantes justamente por essa conexão entre presente e passado, entre ficção e realidade)!

"Ghostbusters - Mais Além" está recheado de easter-eggs que passam pelos diálogos (muitos deles com um certo tom de humor - como quando o xerife pergunta para quem Phoebe gostaria de ligar?), pelos cenários, até chegar nos objetos de cena onde encontramos com as mochilas de prótons, com várias Ghost Trap e, claro, com o inesquecível Ectomóvel, o Ecto-1 - sem falar nas participações mais que especiais de vários personagens do filme original! Dito isso, é impossível não se conectar emocionalmente com a história, mesmo não sendo um primor de roteiro; por outro lado é de se elogiar que o elenco formado por Finn Wolfhard, McKenna Grace, Celeste O 'Connor e o estreante (e impagável) Logan Kim, tenha deixado muito claro sua capacidade de perpetuar uma franquia que precisava se revitalizar e que agora sabe exatamente qual o melhor caminho à seguir.

Vale a pena pelo entretenimento e pela nostalgia!

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Império da Luz

Existe uma beleza em "Império da Luz" que dificilmente percebemos se não nos permitimos mergulhar na proposta dramática do diretor - e digo isso, pois esse tipo de filme parece se apropriar dos sentimentos mais íntimos de seu realizador, de sua identidade como artista, de seu modo de interpretar algumas questões e até do seu olhar mais poético, para, aí sim, encontrar uma audiência capaz de enxergar aquela história como algo único, sensível e tocante. A magia do cinema, desde seu enquadramento ao trabalho dedicado dos atores, é capaz de alcançar essa complexidade sem tanto esforço, basta um quadro; no entanto, ao sentirmos a verdade, quase sempre, saímos transformados e com o coração, digamos, mais aquecido - então saiba: se aqui não encontraremos uma unanimidade, pode ter certeza, existirá uma conexão capaz de explicar muitas coisas escondidas dentro de nós.

Essa é uma história de amor e amizade ambientada em um antigo cinema de rua, na costa sul da Inglaterra, durante a década de 1980. Em um período de recessão, onde o desemprego e o racismo assombravam a sociedade, conhecemos Hilary (Olivia Colman), uma adorada gerente que sofre com sua sua instabilidade de humor e depressão. Embora ela tenha uma ótima relação com seus companheiros de trabalho, seu estado de solidão e tristeza, mesmo em tratamento, parece cada vez mais profundo. Quando o novo vendedor de ingressos, Stephen (Micheal Ward), um simpático jovem negro, percebe sua conexão com Hilary, um ar de esperança toma conta do ambiente até que as coisas saem do controle. Confira o trailer:

Em um primeiro olhar, você pode imaginar que "Império da Luz" se trata de um filme nostálgico, talvez até autoral, sobre o cinema. Não se engane, o filme está longe de representar o que foi "Cinema Paradiso" e mais recentemente "Os Fabelmans". Aqui o foco está na importância de uma conexão humana verdadeira, tendo a magia do cinema apenas como subtexto para envolver, ou até "empacotar", os inúmeros temas espinhosos que o roteiro faz questão de levantar. Sem dúvida que a "forma" como o diretor Sam Mendes (de "1917") constrói essa narrativa, ao lado de seu parceiro na fotografia, Roger Deakins (de "Blade Runner 2049" e também "1917"), impressiona tanto pela beleza quanto pelo simbolismo gráfico. Deakins empresta para aquela ambientação litorânea, um olhar que estimula a audiência a enxergar esse conto moral de uma maneira menos grosseira - em algumas passagens, até mais gentil do que o próprio texto mereceria.

Com (a sempre impressionante) Olivia Colman e seu parceiro de cena, Micheal Ward, temos um embate sentimental, ideológico e marcante, onde as dores desses dois personagens muitas vezes se sobrepõem até ao verdadeiro objetivo do próprio texto. O que eu quero dizer é que a história pode até patinar em sua pretensão de cobrir tantos assuntos importantes em tão pouco tempo, mas quando o elenco coloca toda sua verdade em cena, percebemos o quanto o racismo e as consequências de distúrbios mentais podem impactar nas relações humanas, cada qual em sua forma de enxergar o mundo. E é justamente nesse momento que o ponto de convergência entre realidade e fantasia encontra seu valor: o cinema é tratado como ferramenta de escapismo, com planos que são verdadeiras pinturas e que, de fato, fazem todo sentido ao drama que Mendes vai pontuando "visualmente" com muita sensibilidade.

"Empire Of Light" (no original) tem mais acertos do que erros, mas deve agradar quem está a procura de um drama menos convencional. Se em alguns momentos da história você tem a exata sensação de estar de frente com uma trama simplista e pouco inspirada, em outros a impressão é que tudo é tão profundo e cuidadoso que até uma pausa para a reflexão se faz necessária - e aqui cito uma passagem que vai fazer muita diferença na sua experiência (e que apenas o mais atentos podem ter percebido): reparem quando Hilary, já no final do filme, assiste "Muito Além do Jardim", clássico de Hal Ashby. Ele serve como uma espécie de síntese para sua história, por ser uma mulher que também precisa olhar além de sua enfermidade para poder libertar a si mesma de uma casca inerte. Veja, é nesse tipo de detalhe que entendemos a complexidade desse grande filme!

Vale muito o seu play!

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Existe uma beleza em "Império da Luz" que dificilmente percebemos se não nos permitimos mergulhar na proposta dramática do diretor - e digo isso, pois esse tipo de filme parece se apropriar dos sentimentos mais íntimos de seu realizador, de sua identidade como artista, de seu modo de interpretar algumas questões e até do seu olhar mais poético, para, aí sim, encontrar uma audiência capaz de enxergar aquela história como algo único, sensível e tocante. A magia do cinema, desde seu enquadramento ao trabalho dedicado dos atores, é capaz de alcançar essa complexidade sem tanto esforço, basta um quadro; no entanto, ao sentirmos a verdade, quase sempre, saímos transformados e com o coração, digamos, mais aquecido - então saiba: se aqui não encontraremos uma unanimidade, pode ter certeza, existirá uma conexão capaz de explicar muitas coisas escondidas dentro de nós.

Essa é uma história de amor e amizade ambientada em um antigo cinema de rua, na costa sul da Inglaterra, durante a década de 1980. Em um período de recessão, onde o desemprego e o racismo assombravam a sociedade, conhecemos Hilary (Olivia Colman), uma adorada gerente que sofre com sua sua instabilidade de humor e depressão. Embora ela tenha uma ótima relação com seus companheiros de trabalho, seu estado de solidão e tristeza, mesmo em tratamento, parece cada vez mais profundo. Quando o novo vendedor de ingressos, Stephen (Micheal Ward), um simpático jovem negro, percebe sua conexão com Hilary, um ar de esperança toma conta do ambiente até que as coisas saem do controle. Confira o trailer:

Em um primeiro olhar, você pode imaginar que "Império da Luz" se trata de um filme nostálgico, talvez até autoral, sobre o cinema. Não se engane, o filme está longe de representar o que foi "Cinema Paradiso" e mais recentemente "Os Fabelmans". Aqui o foco está na importância de uma conexão humana verdadeira, tendo a magia do cinema apenas como subtexto para envolver, ou até "empacotar", os inúmeros temas espinhosos que o roteiro faz questão de levantar. Sem dúvida que a "forma" como o diretor Sam Mendes (de "1917") constrói essa narrativa, ao lado de seu parceiro na fotografia, Roger Deakins (de "Blade Runner 2049" e também "1917"), impressiona tanto pela beleza quanto pelo simbolismo gráfico. Deakins empresta para aquela ambientação litorânea, um olhar que estimula a audiência a enxergar esse conto moral de uma maneira menos grosseira - em algumas passagens, até mais gentil do que o próprio texto mereceria.

Com (a sempre impressionante) Olivia Colman e seu parceiro de cena, Micheal Ward, temos um embate sentimental, ideológico e marcante, onde as dores desses dois personagens muitas vezes se sobrepõem até ao verdadeiro objetivo do próprio texto. O que eu quero dizer é que a história pode até patinar em sua pretensão de cobrir tantos assuntos importantes em tão pouco tempo, mas quando o elenco coloca toda sua verdade em cena, percebemos o quanto o racismo e as consequências de distúrbios mentais podem impactar nas relações humanas, cada qual em sua forma de enxergar o mundo. E é justamente nesse momento que o ponto de convergência entre realidade e fantasia encontra seu valor: o cinema é tratado como ferramenta de escapismo, com planos que são verdadeiras pinturas e que, de fato, fazem todo sentido ao drama que Mendes vai pontuando "visualmente" com muita sensibilidade.

"Empire Of Light" (no original) tem mais acertos do que erros, mas deve agradar quem está a procura de um drama menos convencional. Se em alguns momentos da história você tem a exata sensação de estar de frente com uma trama simplista e pouco inspirada, em outros a impressão é que tudo é tão profundo e cuidadoso que até uma pausa para a reflexão se faz necessária - e aqui cito uma passagem que vai fazer muita diferença na sua experiência (e que apenas o mais atentos podem ter percebido): reparem quando Hilary, já no final do filme, assiste "Muito Além do Jardim", clássico de Hal Ashby. Ele serve como uma espécie de síntese para sua história, por ser uma mulher que também precisa olhar além de sua enfermidade para poder libertar a si mesma de uma casca inerte. Veja, é nesse tipo de detalhe que entendemos a complexidade desse grande filme!

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Licorice Pizza

Certa vez uma grande amiga me disse que quando nós nossos jovens temos uma série de convicções que ao amadurecemos entendemos que não serviram para nada, porém são essas mesmas convicções que ajudam a moldar nossa personalidade e permitem que tenhamos certas atitudes sem precisarmos sofrer por isso depois. "Licorice Pizza", novo filme do cultuado Paul Thomas Anderson (indicado para 11 Oscars, o último com "Trama Fantasma"), é uma homenagem nostálgica à adolescência em San Fernando Valley e as convicções pessoais do próprio diretor - eu diria que é sua história de amadurecimento!

Gary Valentine (Cooper Hoffman) tem 15 anos, certo sucesso na sua carreira como ator, uma lábia como poucos e um potencial empreendedor impressionante - ele é imparável. Alana Kane (Alana Haim) tem 25 anos, uma vida monótona, praticamente sem propósito, mas uma vontade enorme de dar certo - inclusive no amor. Ambos têm algo em comum: nenhum deles está preparado para essa etapa da vida e eles nem imaginam que isso pode ser um problema. Confira o trailer:

"Licorice Pizza" é na sua essência um filme sobre as descobertas de uma vida promissora e de um sentimento sincero entre dois jovens no inicio dos anos 70. Não é um filme sobre uma jornada impossível ou uma conquista inabalável, "Licorice Pizza" é sobre as imperfeições de ser quem somos, de aceitar o outro para se sentir bem protegido, é sobre esconder o amor, mesmo ele sendo a coisa mais clara que existe; é sobre ser feliz, mesmo que na inocência das nossas inseguranças.

Além de tecnicamente perfeito (por favor reparem nos movimentos de câmera - sensacionais), o filme tem um charme narrativo que poucos teriam a capacidade de expressar em imagens. Esse é o típico filme que nas mãos de outro diretor, teria tudo para passar batido, mas é incrível como Paul Thomas Anderson cria uma atmosfera saudosista fantástica, muitas vezes engraçadíssima, para nos mostrar aquele universo pelos olhos de Valentine e de Kane - que aliás, estão impecáveis juntos! É impossível não torcer por eles, como se o diretor tivesse encontrado o equilíbrio perfeito entre a densidade de um potente drama pessoal e a leveza de uma boa comédia romântica!

"Licorice Pizza" não é nem de longe o melhor trabalho do diretor, mas talvez seja o mais simpático - um sinal de amadurecimento que extrapola a construção dos personagens que ele mesmo criou. O filme conquista por sua sensibilidade e honestidade, é engraçado, é comovente, é atemporal, é pessoal, é sobre como se achar no outro e ainda é sobre acreditar naquilo que nos faz feliz, mesmo que em uma fase onde a intensidade é tão importante quanto a verdade.

Vale muito a pena!

Up-date: "Licorice Pizza" foi indicada em três categorias no Oscar 2022: Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original! 

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Certa vez uma grande amiga me disse que quando nós nossos jovens temos uma série de convicções que ao amadurecemos entendemos que não serviram para nada, porém são essas mesmas convicções que ajudam a moldar nossa personalidade e permitem que tenhamos certas atitudes sem precisarmos sofrer por isso depois. "Licorice Pizza", novo filme do cultuado Paul Thomas Anderson (indicado para 11 Oscars, o último com "Trama Fantasma"), é uma homenagem nostálgica à adolescência em San Fernando Valley e as convicções pessoais do próprio diretor - eu diria que é sua história de amadurecimento!

Gary Valentine (Cooper Hoffman) tem 15 anos, certo sucesso na sua carreira como ator, uma lábia como poucos e um potencial empreendedor impressionante - ele é imparável. Alana Kane (Alana Haim) tem 25 anos, uma vida monótona, praticamente sem propósito, mas uma vontade enorme de dar certo - inclusive no amor. Ambos têm algo em comum: nenhum deles está preparado para essa etapa da vida e eles nem imaginam que isso pode ser um problema. Confira o trailer:

"Licorice Pizza" é na sua essência um filme sobre as descobertas de uma vida promissora e de um sentimento sincero entre dois jovens no inicio dos anos 70. Não é um filme sobre uma jornada impossível ou uma conquista inabalável, "Licorice Pizza" é sobre as imperfeições de ser quem somos, de aceitar o outro para se sentir bem protegido, é sobre esconder o amor, mesmo ele sendo a coisa mais clara que existe; é sobre ser feliz, mesmo que na inocência das nossas inseguranças.

Além de tecnicamente perfeito (por favor reparem nos movimentos de câmera - sensacionais), o filme tem um charme narrativo que poucos teriam a capacidade de expressar em imagens. Esse é o típico filme que nas mãos de outro diretor, teria tudo para passar batido, mas é incrível como Paul Thomas Anderson cria uma atmosfera saudosista fantástica, muitas vezes engraçadíssima, para nos mostrar aquele universo pelos olhos de Valentine e de Kane - que aliás, estão impecáveis juntos! É impossível não torcer por eles, como se o diretor tivesse encontrado o equilíbrio perfeito entre a densidade de um potente drama pessoal e a leveza de uma boa comédia romântica!

"Licorice Pizza" não é nem de longe o melhor trabalho do diretor, mas talvez seja o mais simpático - um sinal de amadurecimento que extrapola a construção dos personagens que ele mesmo criou. O filme conquista por sua sensibilidade e honestidade, é engraçado, é comovente, é atemporal, é pessoal, é sobre como se achar no outro e ainda é sobre acreditar naquilo que nos faz feliz, mesmo que em uma fase onde a intensidade é tão importante quanto a verdade.

Vale muito a pena!

Up-date: "Licorice Pizza" foi indicada em três categorias no Oscar 2022: Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original! 

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Lobisomem da Noite

É inegável que existe dentro da Marvel uma certa orientação para a criatividade - em alguns projetos com IPs (propriedade intelectual) menos conhecidos (não necessariamente menos relevantes) é, inclusive, incentivado pesar um pouco na mão, arriscar, inovar narrativamente e até experimentar novas formas ou conceitos que de alguma maneira possam impactar na percepção da audiência e assim colocar o projeto mais em evidência. Aconteceu lá trás com "Guardiões da Galáxia" e mais recentemente com "WandaVision". Pois bem, "Lobisomem da Noite" certamente se encaixa dentro dessa linha e justamente por isso vai dividir opiniões - ou você vai gostar muito, ou vai achar bobo (tenho até uma tendência a imaginar que a maturidade de quem assiste vai impactar diretamente nesse julgamento).

Em uma noite escura e sombria, uma cabala secreta de caçadores de monstros emerge das sombras e se reúne no Templo Bloodstone após a morte de seu líder. Em um estranho e macabro memorial à vida do líder, os participantes são empurrados para uma misteriosa e mortal competição por uma relíquia poderosa – uma caçada que, em última análise, os colocará cara a cara com uma criatura das mais perigosas. Confira o trailer (em inglês):

Com pouco menos de uma hora de duração e embaixo do novo selo de "Especiais" da Marvel, "Lobisomem da Noite" marca a nova empreitada do compositor (vencedor do Oscar por "Up" e indicado por "Ratatouille") Michael Giacchino como diretor. Giacchino que carrega no seu invejável currículo trabalhos sensacionais como em "Batman" e "Lost" (só para citar dois dos mais referenciados), se aproveitou de uma surpreendente liberdade criativa para construir uma atmosfera que nos remete aos filmes de horror dos anos 30 da Universal - não apenas por ser em P&B (branco e preto), como também por emular algumas características nostálgicas de um filme em película e de uma estética narrativa bastante particular do gênero como, por exemplo, o longo close-up no rosto apavorado de Elsa Bloodstone (Laura Donnelly) que testemunha a esperada transformação de Jack Russell (Gael García Bernal) no Lobisomem.

A ideia de celebrar histórias de horror do cinema antigo com monstros clássicos como oLobisomem, Drácula e A Múmia, não surgiu por acaso. A partir de tramas mais curtas, a Marvel pretende ampliar seu universo e assim ir criando conexões com alguns personagens que serão inseridos na sua linha do tempo e em produções mais complexas como "Blade" e o "Cavaleiro Negro". Essa informação é muito importante até para darmos a devida importância ao "Lobisomem da Noite" - aqui não se trata de uma obra completa, com três atos estabelecidos e 100% desenvolvido, mas sim de uma peça (criativa) dentro de um jogo muito maior que, pouco a pouco, vai ser construído.

"Lobisomem na Noite" provavelmente não é o que você espera - nem um longa-metragem ele é, mas por outro lado é divertido dentro da sua simplicidade e aproveita muito bem do formato para contar uma história que vai te levar para algum lugar mais interessante muito em breve. O conceito visual se encaixa perfeitamente com a proposta de entregar uma viagem obscura de horror com elementos de ação e drama pontuando temas como vingança, legado e amizade. Como trabalho de estreia de Giacchino, uma agradável surpresa - tudo funciona perfeitamente e mesmo que alguns planos possam irritar aqueles mais tradicionais por sugerir mais do que mostrar, é inegável a qualidade cinematográfica que ele impõe para a produção.

Dito tudo isso, vale a pena experimentar "Lobisomem na Noite" sem perder de vista que sua importância só vai ser percebida lá na frente.

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É inegável que existe dentro da Marvel uma certa orientação para a criatividade - em alguns projetos com IPs (propriedade intelectual) menos conhecidos (não necessariamente menos relevantes) é, inclusive, incentivado pesar um pouco na mão, arriscar, inovar narrativamente e até experimentar novas formas ou conceitos que de alguma maneira possam impactar na percepção da audiência e assim colocar o projeto mais em evidência. Aconteceu lá trás com "Guardiões da Galáxia" e mais recentemente com "WandaVision". Pois bem, "Lobisomem da Noite" certamente se encaixa dentro dessa linha e justamente por isso vai dividir opiniões - ou você vai gostar muito, ou vai achar bobo (tenho até uma tendência a imaginar que a maturidade de quem assiste vai impactar diretamente nesse julgamento).

Em uma noite escura e sombria, uma cabala secreta de caçadores de monstros emerge das sombras e se reúne no Templo Bloodstone após a morte de seu líder. Em um estranho e macabro memorial à vida do líder, os participantes são empurrados para uma misteriosa e mortal competição por uma relíquia poderosa – uma caçada que, em última análise, os colocará cara a cara com uma criatura das mais perigosas. Confira o trailer (em inglês):

Com pouco menos de uma hora de duração e embaixo do novo selo de "Especiais" da Marvel, "Lobisomem da Noite" marca a nova empreitada do compositor (vencedor do Oscar por "Up" e indicado por "Ratatouille") Michael Giacchino como diretor. Giacchino que carrega no seu invejável currículo trabalhos sensacionais como em "Batman" e "Lost" (só para citar dois dos mais referenciados), se aproveitou de uma surpreendente liberdade criativa para construir uma atmosfera que nos remete aos filmes de horror dos anos 30 da Universal - não apenas por ser em P&B (branco e preto), como também por emular algumas características nostálgicas de um filme em película e de uma estética narrativa bastante particular do gênero como, por exemplo, o longo close-up no rosto apavorado de Elsa Bloodstone (Laura Donnelly) que testemunha a esperada transformação de Jack Russell (Gael García Bernal) no Lobisomem.

A ideia de celebrar histórias de horror do cinema antigo com monstros clássicos como oLobisomem, Drácula e A Múmia, não surgiu por acaso. A partir de tramas mais curtas, a Marvel pretende ampliar seu universo e assim ir criando conexões com alguns personagens que serão inseridos na sua linha do tempo e em produções mais complexas como "Blade" e o "Cavaleiro Negro". Essa informação é muito importante até para darmos a devida importância ao "Lobisomem da Noite" - aqui não se trata de uma obra completa, com três atos estabelecidos e 100% desenvolvido, mas sim de uma peça (criativa) dentro de um jogo muito maior que, pouco a pouco, vai ser construído.

"Lobisomem na Noite" provavelmente não é o que você espera - nem um longa-metragem ele é, mas por outro lado é divertido dentro da sua simplicidade e aproveita muito bem do formato para contar uma história que vai te levar para algum lugar mais interessante muito em breve. O conceito visual se encaixa perfeitamente com a proposta de entregar uma viagem obscura de horror com elementos de ação e drama pontuando temas como vingança, legado e amizade. Como trabalho de estreia de Giacchino, uma agradável surpresa - tudo funciona perfeitamente e mesmo que alguns planos possam irritar aqueles mais tradicionais por sugerir mais do que mostrar, é inegável a qualidade cinematográfica que ele impõe para a produção.

Dito tudo isso, vale a pena experimentar "Lobisomem na Noite" sem perder de vista que sua importância só vai ser percebida lá na frente.

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Nocaute

"Nocaute" é um excelente exemplo daquele tipo de filme que bastam algumas cenas para você já saber exatamente tudo que vai acontecer durante os 120 minutos de jornada do protagonista! Mas isso faz do filme uma experiência ruim? Não vejo dessa forma, até porquê estamos falando de um estilo de filme bem específico, mas é inegável que a enorme quantidade de clichês narrativos nos dá a sensação de que já assistimos aquela história, com aqueles tipos de personagens e ainda assim nos divertimos com tudo isso. O que eu quero dizer é que a história é do lutador Billy Hope, mas poderia ser de Adonis "Creed" Johnson ou até de Rocky Balboa. Pegou?

Billy "The Great" Hope (Jake Gyllenhaal), é um fenômeno do boxe. Um lutador com 43 vitórias e nenhuma derrota que trilhou o seu caminho rumo ao título de campeão mundial enquanto enfrentava diversas tragédias em sua vida pessoal. Após um evento traumático, Hope perde tudo, inclusive o respeito como atleta; é quando ele é forçado a voltar a lutar para tentar reconquistar a guarda e o amor de sua filha, em uma verdadeira cruzada na busca pela redenção. Confira o trailer:

Dirigido pelo inconstante Antoine Fuqua (de "Dia da Treinamento"), "Southpaw" (no original) é um verdadeiro "filme de ator" - e nesse ponto é visível o esforço de Gyllenhaal para transformar um roteiro mediano (por tudo que comentei acima) em um projeto 100% pessoal. Fico imaginando Gyllenhaal lendo o roteiro e pensando: esse é o meu "Touro Indomável", basta eu me transformar fisicamente como Robert De Niro, trabalhar minha enorme capacidade de atuação, equilibrando momentos de introspecção com algumas explosões emocionais (e físicas), para não exagerar no overacting,que meu Oscar está garantido! Acontece que mesmo com o bom trabalho do ator e com Fuqua impondo um bom ritmo narrativo e lutando (sem trocadilho) para encontrar uma identidade cinematográfica mais requintada, trazendo o "charme" daquela atmosfera novaiorquina do submundo do boxe; a história não se sustenta - ou melhor, não inova e não surpreende.

Essa desconexão entre a qualidade técnica dos realizadores e falta de originalidade da trama que foi desenvolvida pelo Kurt Sutter (de "Sons of Anarchy") certamente distanciou Gyllenhaal do seu objetivo maior, mas pode se dizer que não diminuiu o propósito do filme - o de entreter um público médio. A montagem mais frenética do competente John Refoua (indicado ao Oscar por "Avatar"), a trilha sonora empolgante do saudoso James Horner, repleta de hip-hop e notas de tensão (aquelas que descaradamente pontuam as emoções dos personagens), e a câmera mais nervosa do diretor de fotografia Mauro Fiore (esse sim vencedor do Oscar por "Avatar"), compõem esse cenário envolvente, em muitos momentos, vibrante, e em alguns poucos, emocionante (aliás, para quem é pai de menina, isso fará ainda mais sentido).

“Nocaute” segue a cartilha dos filmes de superação com louvor - quem gosta, gosta muito, e provavelmente vai gostar desse também! Embora não encontre forças suficientes para ser reconhecido como um filme inesquecível, algo como "Creed" (para citar o primo mais novo), podemos dizer que ele cumpre muito bem o seu papel. 

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"Nocaute" é um excelente exemplo daquele tipo de filme que bastam algumas cenas para você já saber exatamente tudo que vai acontecer durante os 120 minutos de jornada do protagonista! Mas isso faz do filme uma experiência ruim? Não vejo dessa forma, até porquê estamos falando de um estilo de filme bem específico, mas é inegável que a enorme quantidade de clichês narrativos nos dá a sensação de que já assistimos aquela história, com aqueles tipos de personagens e ainda assim nos divertimos com tudo isso. O que eu quero dizer é que a história é do lutador Billy Hope, mas poderia ser de Adonis "Creed" Johnson ou até de Rocky Balboa. Pegou?

Billy "The Great" Hope (Jake Gyllenhaal), é um fenômeno do boxe. Um lutador com 43 vitórias e nenhuma derrota que trilhou o seu caminho rumo ao título de campeão mundial enquanto enfrentava diversas tragédias em sua vida pessoal. Após um evento traumático, Hope perde tudo, inclusive o respeito como atleta; é quando ele é forçado a voltar a lutar para tentar reconquistar a guarda e o amor de sua filha, em uma verdadeira cruzada na busca pela redenção. Confira o trailer:

Dirigido pelo inconstante Antoine Fuqua (de "Dia da Treinamento"), "Southpaw" (no original) é um verdadeiro "filme de ator" - e nesse ponto é visível o esforço de Gyllenhaal para transformar um roteiro mediano (por tudo que comentei acima) em um projeto 100% pessoal. Fico imaginando Gyllenhaal lendo o roteiro e pensando: esse é o meu "Touro Indomável", basta eu me transformar fisicamente como Robert De Niro, trabalhar minha enorme capacidade de atuação, equilibrando momentos de introspecção com algumas explosões emocionais (e físicas), para não exagerar no overacting,que meu Oscar está garantido! Acontece que mesmo com o bom trabalho do ator e com Fuqua impondo um bom ritmo narrativo e lutando (sem trocadilho) para encontrar uma identidade cinematográfica mais requintada, trazendo o "charme" daquela atmosfera novaiorquina do submundo do boxe; a história não se sustenta - ou melhor, não inova e não surpreende.

Essa desconexão entre a qualidade técnica dos realizadores e falta de originalidade da trama que foi desenvolvida pelo Kurt Sutter (de "Sons of Anarchy") certamente distanciou Gyllenhaal do seu objetivo maior, mas pode se dizer que não diminuiu o propósito do filme - o de entreter um público médio. A montagem mais frenética do competente John Refoua (indicado ao Oscar por "Avatar"), a trilha sonora empolgante do saudoso James Horner, repleta de hip-hop e notas de tensão (aquelas que descaradamente pontuam as emoções dos personagens), e a câmera mais nervosa do diretor de fotografia Mauro Fiore (esse sim vencedor do Oscar por "Avatar"), compõem esse cenário envolvente, em muitos momentos, vibrante, e em alguns poucos, emocionante (aliás, para quem é pai de menina, isso fará ainda mais sentido).

“Nocaute” segue a cartilha dos filmes de superação com louvor - quem gosta, gosta muito, e provavelmente vai gostar desse também! Embora não encontre forças suficientes para ser reconhecido como um filme inesquecível, algo como "Creed" (para citar o primo mais novo), podemos dizer que ele cumpre muito bem o seu papel. 

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O Conde

"O Conde" é simplesmente genial, no entanto não será uma jornada muito fácil já que sua narrativa cheia de simbolismo, ironia, sarcasmo e critica exige da audiência um certo conhecimento da história politica sangrenta do ditador Augusto Pinochet, no Chile, para que a experiência seja, de fato, marcante. Com uma habilidade impressionante, o diretor Pablo Larraín (de "Spencer"), resgata a figura de Pinochet emprestando um certo tom de fábula, com vários elementos fantásticos, capaz de transformar o conhecido genocida em um vampiro caricato, resignificando com muita inteligência a sua reconhecida sede por sangue. A capacidade de Larraín em revisitar o recente passado de seu país e recontar algumas passagens politicas tão marcantes quanto tristes, de uma forma quase nonsense, faz dessa produção da Netflix uma das melhores de 2023. Mas atenção: esse filme não deve agradar a todos, portanto sugiro uma leitura atenta antes do play!

O filme se passa em uma realidade alternativa que mostra Augusto Pinochet (Jaime Vadell) como um vampiro envelhecido e isolado em uma mansão abandonada. Após 250 anos se alimentando de sangue para sobreviver, ele está decidido a morrer de uma vez por todas. Frustrado pela forma como o povo chileno o reconhece, e cercado por uma família notavelmente oportunista, o vampiro já não vê nenhuma razão para continuar sua trajetória de conquistas pela vida eterna. Porém, quando tudo parece perdido, ele acaba descobrindo uma inspiração que lhe faz querer abandonar esses planos. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Com um roteiro repleto de cinismo (daqueles que você ri de nervoso, mas aplaude mentalmente), Guillermo Calder (de "Neruda") ao lado do próprio Larraín, transitam entre o absurdo e a ignorância (obviamente sempre pontuada pela crítica irônica e respaldada pelos fatos) para contar a história do ditador Augusto Pinochet pelos seus próprios olhos - embora o filme seja narrado por uma personagem misteriosa que assim que é apresentada no terceiro ato, nos deixa de queixo caído. Para quem não sabe, Pinochet liderou um golpe de Estado em 1973, derrubando o governo democraticamente eleito de Salvador Allende. e assumiu o poder como líder da junta militar e posteriormente se autoproclamou presidente do Chile. Seu governo, que durou de 1973 a 1990, foi marcado por repressão política, violações dos direitos humanos e políticas econômicas que bebiam na fonte da corrupção - o curioso, no entanto, é como o filme insere informações relevantes sobre os bastidores dessas histórias e como o personagem interpreta seu legado em meio a uma crise existencial (ele sofrendo por ser reconhecido como "ladrão", é impagável).

Toda essa qualidade do texto é lindamente emoldurada por uma fotografia digna de Oscar. O fotografo americano Edward Lachman (indicado ao Oscar por "Carol" e "Longe do Paraíso") se apropria do preto e branco para criar um tom sombrio e misterioso - é como se assistíssemos "Nosferatu". Todo o desenho de produção, habilmente, explora esse aspecto de velho e carcomido para falar do passado, mas sem deixar de criar paralelos  com o presente - as metáforas visuais são tão imponentes quanto as textuais e juntas, olha, é uma aula de cinema. Como diretor, Larraín é muito, mas muito, sagaz ao convidar a audiência a interpretar os eventos do filme e assim encontrar sentido com o que vimos ou vivemos na história recente do nosso país - fico imaginando como é rica essa experiência para um chileno, se para nós já é sensacional!

Outro ponto que merece destaque é a relação familiar de Augusto Pinochet, especialmente com sua mulher, Lucía Hiriart (Gloria Münchmeyer). Veja, embora essa relação tenha sido usada para criar uma imagem de estabilidade e moralidade, ela também foi marcada por acusações de corrupção e enriquecimento pessoal, que contribuíram para a controvérsia em torno de seu regime autoritário no Chile - a cena da freira Carmencita (Paula Luchsinger) entrevistando os cinco filhos do ditador e perguntando sobre algumas situações, digamos duvidosas, como aquela do caso Riggs, por exemplo, é muito engraçada. Quando embarcarmos nessa genialidade mais debochada de Larraín, nossa percepção muda de patamar!

"O Conde" talvez seja o "Roma" de Larraín - autoral, corajoso, bem executado tecnicamente, artisticamente impecável, e longe de ser um filme fácil e muito menos superficial. Toda essa linguagem mais satírica, misturada com uma bem equilibrada farsa política, não vai agradar aquela audiência que acha se tratar de um filme de terror sobre vampiros. Esquece! "O Conde" é muito mais do que isso e vale muito o seu play, principalmente se você tiver o cuidado de ler ou souber o que representou o governo Pinochet e como suas atitudes e discurso, além de hipócritas, foram fatais para aquele país.

Imperdível!

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"O Conde" é simplesmente genial, no entanto não será uma jornada muito fácil já que sua narrativa cheia de simbolismo, ironia, sarcasmo e critica exige da audiência um certo conhecimento da história politica sangrenta do ditador Augusto Pinochet, no Chile, para que a experiência seja, de fato, marcante. Com uma habilidade impressionante, o diretor Pablo Larraín (de "Spencer"), resgata a figura de Pinochet emprestando um certo tom de fábula, com vários elementos fantásticos, capaz de transformar o conhecido genocida em um vampiro caricato, resignificando com muita inteligência a sua reconhecida sede por sangue. A capacidade de Larraín em revisitar o recente passado de seu país e recontar algumas passagens politicas tão marcantes quanto tristes, de uma forma quase nonsense, faz dessa produção da Netflix uma das melhores de 2023. Mas atenção: esse filme não deve agradar a todos, portanto sugiro uma leitura atenta antes do play!

O filme se passa em uma realidade alternativa que mostra Augusto Pinochet (Jaime Vadell) como um vampiro envelhecido e isolado em uma mansão abandonada. Após 250 anos se alimentando de sangue para sobreviver, ele está decidido a morrer de uma vez por todas. Frustrado pela forma como o povo chileno o reconhece, e cercado por uma família notavelmente oportunista, o vampiro já não vê nenhuma razão para continuar sua trajetória de conquistas pela vida eterna. Porém, quando tudo parece perdido, ele acaba descobrindo uma inspiração que lhe faz querer abandonar esses planos. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Com um roteiro repleto de cinismo (daqueles que você ri de nervoso, mas aplaude mentalmente), Guillermo Calder (de "Neruda") ao lado do próprio Larraín, transitam entre o absurdo e a ignorância (obviamente sempre pontuada pela crítica irônica e respaldada pelos fatos) para contar a história do ditador Augusto Pinochet pelos seus próprios olhos - embora o filme seja narrado por uma personagem misteriosa que assim que é apresentada no terceiro ato, nos deixa de queixo caído. Para quem não sabe, Pinochet liderou um golpe de Estado em 1973, derrubando o governo democraticamente eleito de Salvador Allende. e assumiu o poder como líder da junta militar e posteriormente se autoproclamou presidente do Chile. Seu governo, que durou de 1973 a 1990, foi marcado por repressão política, violações dos direitos humanos e políticas econômicas que bebiam na fonte da corrupção - o curioso, no entanto, é como o filme insere informações relevantes sobre os bastidores dessas histórias e como o personagem interpreta seu legado em meio a uma crise existencial (ele sofrendo por ser reconhecido como "ladrão", é impagável).

Toda essa qualidade do texto é lindamente emoldurada por uma fotografia digna de Oscar. O fotografo americano Edward Lachman (indicado ao Oscar por "Carol" e "Longe do Paraíso") se apropria do preto e branco para criar um tom sombrio e misterioso - é como se assistíssemos "Nosferatu". Todo o desenho de produção, habilmente, explora esse aspecto de velho e carcomido para falar do passado, mas sem deixar de criar paralelos  com o presente - as metáforas visuais são tão imponentes quanto as textuais e juntas, olha, é uma aula de cinema. Como diretor, Larraín é muito, mas muito, sagaz ao convidar a audiência a interpretar os eventos do filme e assim encontrar sentido com o que vimos ou vivemos na história recente do nosso país - fico imaginando como é rica essa experiência para um chileno, se para nós já é sensacional!

Outro ponto que merece destaque é a relação familiar de Augusto Pinochet, especialmente com sua mulher, Lucía Hiriart (Gloria Münchmeyer). Veja, embora essa relação tenha sido usada para criar uma imagem de estabilidade e moralidade, ela também foi marcada por acusações de corrupção e enriquecimento pessoal, que contribuíram para a controvérsia em torno de seu regime autoritário no Chile - a cena da freira Carmencita (Paula Luchsinger) entrevistando os cinco filhos do ditador e perguntando sobre algumas situações, digamos duvidosas, como aquela do caso Riggs, por exemplo, é muito engraçada. Quando embarcarmos nessa genialidade mais debochada de Larraín, nossa percepção muda de patamar!

"O Conde" talvez seja o "Roma" de Larraín - autoral, corajoso, bem executado tecnicamente, artisticamente impecável, e longe de ser um filme fácil e muito menos superficial. Toda essa linguagem mais satírica, misturada com uma bem equilibrada farsa política, não vai agradar aquela audiência que acha se tratar de um filme de terror sobre vampiros. Esquece! "O Conde" é muito mais do que isso e vale muito o seu play, principalmente se você tiver o cuidado de ler ou souber o que representou o governo Pinochet e como suas atitudes e discurso, além de hipócritas, foram fatais para aquele país.

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