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O Espião Inglês

Você pode ter deixado passar esse filme - o que é um grande pecado, principalmente se você gostar de um drama profundo sobre espionagem, mas sem aquele elemento de ação tão presente com cenas de perseguições hollywoodianas e tal. Em "O Espião Inglês", a narrativa se apoia na força de personagens reais como aqueles raros indivíduos dispostos a, de alguma forma, salvar o mundo; mesmo que para isso seja necessário arriscar sua própria vida - e acreditem: isso trás uma camada visceral de angústia e tensão absurda.

Durante a Guerra Fria, diversos civis atuaram como espiões para impedir o avanço soviético no mundo. Greville Wynne (Benedict Cumberbatch), um engenheiro elétrico e empresário, foi um desses homens recrutados pelo Serviço de Inteligência Militar Britânico, o MI5. Através de informações cruciais obtidas por uma de suas fontes, o russo Oleg Penkovsky (Merab Ninidze), Wynne arrisca sua própria vida para colaborar na luta pelo fim da Crise dos Mísseis de Cuba, em 1962. Confira o trailer:

É inegável que o filme do diretor Dominic Cooke (de "Na Praia de Chesil") tenta trazer para a realidade uma história que por muito tempo fez parte do inconsciente coletivo inglês como uma das passagens mais curiosas das relações diplomáticas do país. De uma nação onde uma figura imbatível como o "007" é considerado praticamente um super-herói, foi um homem comum, pai de família e empresário singelo que, na mais tenra inocência, se tornou peça-chave entre a CIA e a União Soviética, em um relato que soa impossível ter sido contado em primeira pessoa.

Dito isso, fica fácil definir o caminho que Cooke escolheu para seu "O Espião Inglês": um filme denso que se apoia no talento de dois atores para tentar (e quase sempre conseguir) mostrar a importância das relações humanas mesmo quando o perigo vai muito além do aceitável. Tanto Cumberbatch quanto Ninidze, conseguem alcançar um nível de performance tão palpável que nos faz ter a exata impressão de estarmos assistindo um documentário sobre seus personagens - existe uma troca tão intensa entre os dois, cheio de nuances, receios, (des)confiança e cumplicidade, que fica impossível não sentir a tensão de estar vivendo em uma linha tão tênue entre a glória e a morte. 

Embora o filme pareça ser divido em apenas dois atos (e não em três como de costume), "The Courier" (no original) é eficiente em construir uma linha do tempo coerente e fácil de entender, ao mesmo tempo em que nos provoca uma empatia imediata com os protagonistas - muito mérito disso se deve ao Tom O`Connor (de "Dupla Explosiva") que usou como base para o seu roteiro, os livros do próprio Wynne : “The Man From Moscow” (1967) e “The Man From Odessa” (1981), que validaram o filme como um drama histórico dos mais fiéis aos fatos e com uma riqueza de detalhes absurda.

Por tudo isso, eu te asseguro: "O Espião Inglês" vale muito a pena!

Assista Agora

Você pode ter deixado passar esse filme - o que é um grande pecado, principalmente se você gostar de um drama profundo sobre espionagem, mas sem aquele elemento de ação tão presente com cenas de perseguições hollywoodianas e tal. Em "O Espião Inglês", a narrativa se apoia na força de personagens reais como aqueles raros indivíduos dispostos a, de alguma forma, salvar o mundo; mesmo que para isso seja necessário arriscar sua própria vida - e acreditem: isso trás uma camada visceral de angústia e tensão absurda.

Durante a Guerra Fria, diversos civis atuaram como espiões para impedir o avanço soviético no mundo. Greville Wynne (Benedict Cumberbatch), um engenheiro elétrico e empresário, foi um desses homens recrutados pelo Serviço de Inteligência Militar Britânico, o MI5. Através de informações cruciais obtidas por uma de suas fontes, o russo Oleg Penkovsky (Merab Ninidze), Wynne arrisca sua própria vida para colaborar na luta pelo fim da Crise dos Mísseis de Cuba, em 1962. Confira o trailer:

É inegável que o filme do diretor Dominic Cooke (de "Na Praia de Chesil") tenta trazer para a realidade uma história que por muito tempo fez parte do inconsciente coletivo inglês como uma das passagens mais curiosas das relações diplomáticas do país. De uma nação onde uma figura imbatível como o "007" é considerado praticamente um super-herói, foi um homem comum, pai de família e empresário singelo que, na mais tenra inocência, se tornou peça-chave entre a CIA e a União Soviética, em um relato que soa impossível ter sido contado em primeira pessoa.

Dito isso, fica fácil definir o caminho que Cooke escolheu para seu "O Espião Inglês": um filme denso que se apoia no talento de dois atores para tentar (e quase sempre conseguir) mostrar a importância das relações humanas mesmo quando o perigo vai muito além do aceitável. Tanto Cumberbatch quanto Ninidze, conseguem alcançar um nível de performance tão palpável que nos faz ter a exata impressão de estarmos assistindo um documentário sobre seus personagens - existe uma troca tão intensa entre os dois, cheio de nuances, receios, (des)confiança e cumplicidade, que fica impossível não sentir a tensão de estar vivendo em uma linha tão tênue entre a glória e a morte. 

Embora o filme pareça ser divido em apenas dois atos (e não em três como de costume), "The Courier" (no original) é eficiente em construir uma linha do tempo coerente e fácil de entender, ao mesmo tempo em que nos provoca uma empatia imediata com os protagonistas - muito mérito disso se deve ao Tom O`Connor (de "Dupla Explosiva") que usou como base para o seu roteiro, os livros do próprio Wynne : “The Man From Moscow” (1967) e “The Man From Odessa” (1981), que validaram o filme como um drama histórico dos mais fiéis aos fatos e com uma riqueza de detalhes absurda.

Por tudo isso, eu te asseguro: "O Espião Inglês" vale muito a pena!

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O Fotógrafo e o Carteiro

"O que é poder? Poder é ficar impune!" - Talvez a resposta do mega-empresário argentino Alfredo Yabrán tenha sido inocente ou uma armadilha para expor seu caráter, o fato é que essa frase define perfeitamente o que representa o documentário da Netflix, "O Fotógrafo e o Carteiro", que tem no seu subtítulo o tamanho da comoção que o assassinato do fotógrafo José Luiz Cabezas provocou no país. De fato foi "O Crime que Parou a Argentina"!

Em pouco mais de 90 minutos, acompanhamos a investigação sobre a morte de Cabezas. Sequestrado, torturado e assassinado, José foi morto um ano após ter feito a foto que tirou do anonimato Alfredo Yabrán, considerado um mafioso com forte influência no governo, acusado de utilizar suas empresas para o tráfico de drogas, de armas e lavagem de dinheiro. Por meio de material de arquivo e depoimentos, o documentário investiga o caso e reconstrói, passo a passo, o crime ocorrido em 1997. Confira o trailer (em espanhol):

Seguindo uma proposta narrativa que busca nas obras de "True Crime" dos EUA uma dinâmica narrativa mais envolvente, eu diria que "O Fotógrafo e o Carteiro: O crime que parou a Argentina" está mais para uma reportagem especial do Fantástico. Não falo isso com demérito algum, mas é claro que o trabalho do diretor argentino Alejandro Hartmann (o mesmo de "Quem Matou María Marta?") se apoia muito mais no jornalismo do que no entretenimento.

A forma como Hartmann constrói a linha do tempo, mesmo que não respeitando sua linearidade ao buscar no passado algumas explicações que poderiam ajudar no entendimento da audiência, é primorosa. Para nós brasileiros, pouco familiarizados com os bastidores da politica e da sociedade argentina, essa escolha do diretor cai como uma luva, pois facilmente entendemos o caso, reconhecemos seus personagens e suas motivações, mas, principalmente, nos envolvemos com a história - inclusive com muitas referências do caso PC Farias, além de aspectos narrativos que vi em "O Caso Celso Daniel" da Globoplay.

Era 27 de janeiro de 1997 quando encontraram o cadáver de Cabezas algemado e completamente carbonizado dentro de um carro em uma vala em um dos principais pontos turísticos do litoral portenho da época. A investigação que revelou esquemas de corrupção e atos de repressão à imprensa é o tema central do documentário, mas o que impressiona são os nomes envolvidos no caso que vão do ex-presidente Carlos Menem, passando pelo ex-ministro da economia do país, Domingo Cavallo, e do ex-governador de Buenos Aires, Eduardo Duhalde, até chegar no nome de Alfredo Yabrán.

Para quem gosta de conspirações politicas, investigações jornalísticas e, claro, de um bom "true crime" sem o sensacionalismo da narrativa, "O Fotógrafo e o Carteiro: O crime que parou a Argentina" é uma curiosa e até surpreendente pedida!

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"O que é poder? Poder é ficar impune!" - Talvez a resposta do mega-empresário argentino Alfredo Yabrán tenha sido inocente ou uma armadilha para expor seu caráter, o fato é que essa frase define perfeitamente o que representa o documentário da Netflix, "O Fotógrafo e o Carteiro", que tem no seu subtítulo o tamanho da comoção que o assassinato do fotógrafo José Luiz Cabezas provocou no país. De fato foi "O Crime que Parou a Argentina"!

Em pouco mais de 90 minutos, acompanhamos a investigação sobre a morte de Cabezas. Sequestrado, torturado e assassinado, José foi morto um ano após ter feito a foto que tirou do anonimato Alfredo Yabrán, considerado um mafioso com forte influência no governo, acusado de utilizar suas empresas para o tráfico de drogas, de armas e lavagem de dinheiro. Por meio de material de arquivo e depoimentos, o documentário investiga o caso e reconstrói, passo a passo, o crime ocorrido em 1997. Confira o trailer (em espanhol):

Seguindo uma proposta narrativa que busca nas obras de "True Crime" dos EUA uma dinâmica narrativa mais envolvente, eu diria que "O Fotógrafo e o Carteiro: O crime que parou a Argentina" está mais para uma reportagem especial do Fantástico. Não falo isso com demérito algum, mas é claro que o trabalho do diretor argentino Alejandro Hartmann (o mesmo de "Quem Matou María Marta?") se apoia muito mais no jornalismo do que no entretenimento.

A forma como Hartmann constrói a linha do tempo, mesmo que não respeitando sua linearidade ao buscar no passado algumas explicações que poderiam ajudar no entendimento da audiência, é primorosa. Para nós brasileiros, pouco familiarizados com os bastidores da politica e da sociedade argentina, essa escolha do diretor cai como uma luva, pois facilmente entendemos o caso, reconhecemos seus personagens e suas motivações, mas, principalmente, nos envolvemos com a história - inclusive com muitas referências do caso PC Farias, além de aspectos narrativos que vi em "O Caso Celso Daniel" da Globoplay.

Era 27 de janeiro de 1997 quando encontraram o cadáver de Cabezas algemado e completamente carbonizado dentro de um carro em uma vala em um dos principais pontos turísticos do litoral portenho da época. A investigação que revelou esquemas de corrupção e atos de repressão à imprensa é o tema central do documentário, mas o que impressiona são os nomes envolvidos no caso que vão do ex-presidente Carlos Menem, passando pelo ex-ministro da economia do país, Domingo Cavallo, e do ex-governador de Buenos Aires, Eduardo Duhalde, até chegar no nome de Alfredo Yabrán.

Para quem gosta de conspirações politicas, investigações jornalísticas e, claro, de um bom "true crime" sem o sensacionalismo da narrativa, "O Fotógrafo e o Carteiro: O crime que parou a Argentina" é uma curiosa e até surpreendente pedida!

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O Mago das Mentiras

Você conhece a expressão "não existe almoço grátis"? Pois é, Bernie Madoff elevou essa expressão para um nível estratosférico, mais precisamente, na casa de 50 bilhões de dólares... de prejuízo. Madoff, é preciso que se diga, era um dos profissionais mais respeitados do mercado financeiro nos EUA, tendo sido presidente da NASDAQ e CEO de uma das empresas de investimentos com mais prestigio em Wall Street. O único problema é que Madoff foi ambicioso demais e para alcançar seus objetivos resolveu cortar um caminho que acabou custando muito caro para ele e para seus clientes que, da noite para dia, perderam todo seu patrimônio!

Como é de se imaginar, a trama dessa produção original da HBO de 2017 gira em torno da história real de Bernard Madoff, um ex-consultor financeiro norte-americano que acabou condenado a 150 anos de prisão - ele foi responsável por uma sofisticada operação, nomeada Esquema Ponzi, uma espécie de pirâmide, que é considerada a maior fraude financeira da história dos EUA. Confira o trailer:

Dirigido por Barry Levinson, indicado 5 vezes ao Oscar e vencendor em 1988 com "Rain Man", "The Wizard of Lies" (no original) é um retrato brutal da ganância que sempre permeou o mercado financeiro de Wall Street, justamente no auge da crise do subprime deflagrada com a quebra de um dos bancos de investimentos mais tradicionais dos EUA, o Lehman Brothers, e que desencadeou uma queda insustentável nas bolsas do mundo todo - tema que você pode se aprofundar em filmes como: "Grande demais para Quebrar", "Trabalho Interno" e "Margin Call - o dia antes do fim". É nesse contexto que o diretor traz para ficção a história real da família Madoff, incrivelmente bem interpretada por Robert De Niro (Bernie), Michelle Pfeiffer (Ruth) - ambos indicados ao Emmy pelos respectivos personagens -  e um surpreendente Alessandro Nivola (como Mark - filho mais velho do casal e completamente renegado pelo pai). Veja, se você gosta de "Succession", a relação de Bernie e Mark é incrivelmente parecida com a dinâmica de Logan e Kendall.

O roteiro de Sam Levinson (isso mesmo, aquele de Euphoria e Malcolm & Marie) é extremamente feliz ao não aliviar na seriedade em uma cena sequer. A construção da narrativa é tão consistente e simples que a imersão naquela situação terrível é imediata - reparem na cena em que Bernie pede desculpas para seus clientes minutos antes de receber sua sentença! É mais uma aula de de interpretação de De Niro! Outro ponto muito interessante do roteiro diz respeito a desconstrução do "Mito Madoff" perante seus clientes e sua família, especialmente para os filhos. Figura intocável, exemplo de honestidade, durante 15, 20 anos, ele convenceu clientes de peso a investir em fundos que simplesmente não existiam e quando houve a necessidade de liquidez devido a crise de 2008, ele não teve como honrar com o enorme volume de dinheiro que ele mesmo manipulou e o reflexo disso é perfeitamente pontuado durante o filme, seja em flashes ou no arco paralelo de sua família, criando a exata sensação de desespero e angústia que todos aqueles que foram afetados pelo golpe sofreram.

"O Mago das Mentiras" pode até ser definido como cadenciado demais, lento, mas é coerente com a proposta de entregar uma história dramática e densa, com performances de um elenco que seguram a nossa atenção do início ao fim. A forte relação entre obsessão e destruição, bem como o efeito colateral que isso gerou alcançou as últimas consequências - é de embrulhar estômago, mas nos faz refletir e nos ensina ao mesmo tempo que entretem!

Vale seu play! 

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Você conhece a expressão "não existe almoço grátis"? Pois é, Bernie Madoff elevou essa expressão para um nível estratosférico, mais precisamente, na casa de 50 bilhões de dólares... de prejuízo. Madoff, é preciso que se diga, era um dos profissionais mais respeitados do mercado financeiro nos EUA, tendo sido presidente da NASDAQ e CEO de uma das empresas de investimentos com mais prestigio em Wall Street. O único problema é que Madoff foi ambicioso demais e para alcançar seus objetivos resolveu cortar um caminho que acabou custando muito caro para ele e para seus clientes que, da noite para dia, perderam todo seu patrimônio!

Como é de se imaginar, a trama dessa produção original da HBO de 2017 gira em torno da história real de Bernard Madoff, um ex-consultor financeiro norte-americano que acabou condenado a 150 anos de prisão - ele foi responsável por uma sofisticada operação, nomeada Esquema Ponzi, uma espécie de pirâmide, que é considerada a maior fraude financeira da história dos EUA. Confira o trailer:

Dirigido por Barry Levinson, indicado 5 vezes ao Oscar e vencendor em 1988 com "Rain Man", "The Wizard of Lies" (no original) é um retrato brutal da ganância que sempre permeou o mercado financeiro de Wall Street, justamente no auge da crise do subprime deflagrada com a quebra de um dos bancos de investimentos mais tradicionais dos EUA, o Lehman Brothers, e que desencadeou uma queda insustentável nas bolsas do mundo todo - tema que você pode se aprofundar em filmes como: "Grande demais para Quebrar", "Trabalho Interno" e "Margin Call - o dia antes do fim". É nesse contexto que o diretor traz para ficção a história real da família Madoff, incrivelmente bem interpretada por Robert De Niro (Bernie), Michelle Pfeiffer (Ruth) - ambos indicados ao Emmy pelos respectivos personagens -  e um surpreendente Alessandro Nivola (como Mark - filho mais velho do casal e completamente renegado pelo pai). Veja, se você gosta de "Succession", a relação de Bernie e Mark é incrivelmente parecida com a dinâmica de Logan e Kendall.

O roteiro de Sam Levinson (isso mesmo, aquele de Euphoria e Malcolm & Marie) é extremamente feliz ao não aliviar na seriedade em uma cena sequer. A construção da narrativa é tão consistente e simples que a imersão naquela situação terrível é imediata - reparem na cena em que Bernie pede desculpas para seus clientes minutos antes de receber sua sentença! É mais uma aula de de interpretação de De Niro! Outro ponto muito interessante do roteiro diz respeito a desconstrução do "Mito Madoff" perante seus clientes e sua família, especialmente para os filhos. Figura intocável, exemplo de honestidade, durante 15, 20 anos, ele convenceu clientes de peso a investir em fundos que simplesmente não existiam e quando houve a necessidade de liquidez devido a crise de 2008, ele não teve como honrar com o enorme volume de dinheiro que ele mesmo manipulou e o reflexo disso é perfeitamente pontuado durante o filme, seja em flashes ou no arco paralelo de sua família, criando a exata sensação de desespero e angústia que todos aqueles que foram afetados pelo golpe sofreram.

"O Mago das Mentiras" pode até ser definido como cadenciado demais, lento, mas é coerente com a proposta de entregar uma história dramática e densa, com performances de um elenco que seguram a nossa atenção do início ao fim. A forte relação entre obsessão e destruição, bem como o efeito colateral que isso gerou alcançou as últimas consequências - é de embrulhar estômago, mas nos faz refletir e nos ensina ao mesmo tempo que entretem!

Vale seu play! 

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O Pacto

"O Pacto" talvez seja o filme de ação menos "Guy Ritchie" do Guy Ritchie. Digo isso com a tranquilidade de quem conhece praticamente todos os projetos do diretor no gênero, que, de alguma forma, impõe sua identidade com a mesma competência com que constrói uma trama normalmente fragmentada, cheia de intervenções gráficas e que fomenta uma certa ironia no tom e na performance dos atores. Aqui, o que temos é sim um filme de ação, que nos faz lembrar os bons tempos de "Homeland", mas a potência da narrativa está mesmo é no drama, na atmosfera de tensão e de angustia pela qual os personagens precisam passar. É uma experiência inesquecível? Certamente não, mas posso te garantir que são 120 minutos de um ótimo e dinâmico entretenimento - eu diria até, imperdível!

Durante a Guerra do Afeganistão, o Sargento John Kinley (Jake Gylenhaal) recruta o intérprete local Ahmed (Dar Salim) para acompanhar a equipe na missão de neutralizar o maior número possível de instalações do Talibã. Porém, no confronto, Kinley acaba sendo atingido e é gravemente ferido. Para salvar o sargento, Ahmed não pensa duas vezes antes de colocar a própria vida em risco e carregar Kinley através de cenários perigosos para escapar dos inimigos. Porém, Kinley volta para casa e descobre que, no Afeganistão, Ahmed está sendo perseguido pelo Talibã por ter salvo sua vida. Com as autoridades se negando a enviar ajuda, John decide retornar para o campo de batalha por conta própria para ajudar o homem. Confira o trailer (em inglês):

Sem a menor dúvida que "The Covenant" (no original) pode ser definido como um drama de guerra dos mais eficientes e empolgantes, no entanto é de se questionar por qual razão que o diretor não se arriscou mais? Isso não é uma critica, mas uma constatação - com exceção de um ou outro plano mais criativo, a sua condução é mais flat. A narrativa também é mais linear, ao ponto de termos a exata sensação de estarmos assistindo um episódio de "Homeland" - no bom e no mal sentido. No bom, é perceptível que Ritchie se apropria dos dramas dos personagens para dimensionar o tamanho do problema que foi a Guerra do Afeganistão - inclusive ao abordar o evento de forma realista, explorando as complexidades morais e éticas enfrentadas pelos soldados americanos, bem como os dilemas enfrentados pelos afegãos que eram contra o sistema talibã. Já pelo lado, digamos, "ruim"; o filme não traz nada de muito novo, ou seja, é mais um filme sobre a jornada do herói que busca sua redenção.

Visualmente, o trabalho do diretor de fotografia Ed Wild (o mesmo de "Invasão a Londres") é impecável. Os planos construídos ao lado Ritchie são incríveis - a forma como Wild interpreta a geografia local soa quase documental (e não é exagero). As montanhas, o silêncio, as estradas vazias, o ar pesado, o calor, enfim, todos esses elementos são brilhantemente explorados e dão o tom claustrofóbico da trama. Reparem que até nas sequências de ação na fábrica e depois na barragem, a câmera pontua o local do embate sem esquecer do cenário em que ele está inserido e ao somar aqueles enquadramentos mais baixos, com as caminhonetes cheias de talibãs chegando, pronto, tudo fica muito alinhado à angústia e ao suspense do momento.

Olhar a Guerra no Oriente Médio sob o contexto dos americanos e suas alianças estratégicas superficiais virou algo comum em Hollywood nesses mais de 20 anos de produção do gênero - algo como os anos 80 fez com o Vietnã. No entanto, "O Pacto" parece ter adicionado algumas camadas que o diferenciam e, de certa forma, insere mais realidade ao filme. O excepcional trabalho de Gyllenhaal ao lado de Salim potencializa essa premissa e nos conecta à jornada sem muito esforço. Até quando o roteiro aponta bem rapidamente para a Síndrome de Estresse Pós-Traumático do personagem, sabemos que aquilo vai funcionar apenas como gatilho para um embate que vem pela frente. Em um filme claramente dividido só em dois atos, cada qual com seu "salvamento" para guiar a narrativa, eu reforço que ambos são dignos de muitos elogios.

Vale muito o seu play!

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"O Pacto" talvez seja o filme de ação menos "Guy Ritchie" do Guy Ritchie. Digo isso com a tranquilidade de quem conhece praticamente todos os projetos do diretor no gênero, que, de alguma forma, impõe sua identidade com a mesma competência com que constrói uma trama normalmente fragmentada, cheia de intervenções gráficas e que fomenta uma certa ironia no tom e na performance dos atores. Aqui, o que temos é sim um filme de ação, que nos faz lembrar os bons tempos de "Homeland", mas a potência da narrativa está mesmo é no drama, na atmosfera de tensão e de angustia pela qual os personagens precisam passar. É uma experiência inesquecível? Certamente não, mas posso te garantir que são 120 minutos de um ótimo e dinâmico entretenimento - eu diria até, imperdível!

Durante a Guerra do Afeganistão, o Sargento John Kinley (Jake Gylenhaal) recruta o intérprete local Ahmed (Dar Salim) para acompanhar a equipe na missão de neutralizar o maior número possível de instalações do Talibã. Porém, no confronto, Kinley acaba sendo atingido e é gravemente ferido. Para salvar o sargento, Ahmed não pensa duas vezes antes de colocar a própria vida em risco e carregar Kinley através de cenários perigosos para escapar dos inimigos. Porém, Kinley volta para casa e descobre que, no Afeganistão, Ahmed está sendo perseguido pelo Talibã por ter salvo sua vida. Com as autoridades se negando a enviar ajuda, John decide retornar para o campo de batalha por conta própria para ajudar o homem. Confira o trailer (em inglês):

Sem a menor dúvida que "The Covenant" (no original) pode ser definido como um drama de guerra dos mais eficientes e empolgantes, no entanto é de se questionar por qual razão que o diretor não se arriscou mais? Isso não é uma critica, mas uma constatação - com exceção de um ou outro plano mais criativo, a sua condução é mais flat. A narrativa também é mais linear, ao ponto de termos a exata sensação de estarmos assistindo um episódio de "Homeland" - no bom e no mal sentido. No bom, é perceptível que Ritchie se apropria dos dramas dos personagens para dimensionar o tamanho do problema que foi a Guerra do Afeganistão - inclusive ao abordar o evento de forma realista, explorando as complexidades morais e éticas enfrentadas pelos soldados americanos, bem como os dilemas enfrentados pelos afegãos que eram contra o sistema talibã. Já pelo lado, digamos, "ruim"; o filme não traz nada de muito novo, ou seja, é mais um filme sobre a jornada do herói que busca sua redenção.

Visualmente, o trabalho do diretor de fotografia Ed Wild (o mesmo de "Invasão a Londres") é impecável. Os planos construídos ao lado Ritchie são incríveis - a forma como Wild interpreta a geografia local soa quase documental (e não é exagero). As montanhas, o silêncio, as estradas vazias, o ar pesado, o calor, enfim, todos esses elementos são brilhantemente explorados e dão o tom claustrofóbico da trama. Reparem que até nas sequências de ação na fábrica e depois na barragem, a câmera pontua o local do embate sem esquecer do cenário em que ele está inserido e ao somar aqueles enquadramentos mais baixos, com as caminhonetes cheias de talibãs chegando, pronto, tudo fica muito alinhado à angústia e ao suspense do momento.

Olhar a Guerra no Oriente Médio sob o contexto dos americanos e suas alianças estratégicas superficiais virou algo comum em Hollywood nesses mais de 20 anos de produção do gênero - algo como os anos 80 fez com o Vietnã. No entanto, "O Pacto" parece ter adicionado algumas camadas que o diferenciam e, de certa forma, insere mais realidade ao filme. O excepcional trabalho de Gyllenhaal ao lado de Salim potencializa essa premissa e nos conecta à jornada sem muito esforço. Até quando o roteiro aponta bem rapidamente para a Síndrome de Estresse Pós-Traumático do personagem, sabemos que aquilo vai funcionar apenas como gatilho para um embate que vem pela frente. Em um filme claramente dividido só em dois atos, cada qual com seu "salvamento" para guiar a narrativa, eu reforço que ambos são dignos de muitos elogios.

Vale muito o seu play!

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O Preço da Verdade

O Preço da Verdade

"O Preço da Verdade" (Dark Waters) é o típico projeto que se fosse uma minissérie seria sensacional - nível "Chernobyl", mas devido a limitação de tempo, se tornou apenas um ótimo filme!

Ele conta a história real de um recém-nomeado sócio de um escritório de advocacia, Rob Bilott (Mark Ruffalo), que tem como especialidade defender empresas químicas em processos corporativos. Após ser procurado por um fazendeiro de sua cidade natal em West Virgínia, devido a uma misteriosa sequência de 190 mortes de cabeças de gado, Bilott se vê no meio de uma suspeita muito indesejável: a responsável seria uma fábrica da "gigante" DuPont que emprega 90% da cidade de Parkersburg e que estaria contaminando a principal fonte de abastecimento de água da região! A partir daí, Rob Bilott começa a reunir provas contundentes e ao iniciar um processo contra a Dupont, ele descobre que os efeitos desse crime ambiental é infinitamente maior do que ele imaginava e que podem ter provocado reflexos na saúde de 99% da população mundial até os dias de hoje. Olha, é de revirar o estômago - pode até soar como uma grande conspiração, mas o filme é muito inteligente em se apoiar em uma série de fatos amplamente divulgados na época e que, de alguma forma, nos convidam a refletir sobre nossa atuação perante o planeta que gostaríamos de deixar para os nosso filhos e netos! Não é um filme que se propõe a levantar bandeiras ideológicas, mas, certamente, é um filme que vai te fazer pensar! Vale muito a pena!

"O Preço da Verdade" é inspirado numa história verdadeira e seu roteiro foi desenvolvido a partir de um artigo publicado em 2016 pelo jornal The New York Times, intitulado: “O advogado que se tornou o maior pesadelo da Dupont” (você pode ler esse artigo na íntegra, em inglês, aqui). A história é, de fato, complexa, já que a cadeia de eventos é extensa e as informações vão se amontoando na mesma velocidade em que os documentos da Dupont chegam no escritório de Rob Bilott para serem analisados. São mais de 20 anos de processo que precisaram ser condensados em pouco mais de duas horas de filme - é pouco para a riqueza do material, pela força da trama e pelas motivações de ótimos personagens. Por mais estereotipados que possam parecer, não podemos esquecer que estamos falando de personagens típicos de uma cidade do interior de West Virgínia que hoje tem cerca de 30 mil habitantes ou de advogados corporativos de Cincinnati, Ohio e não de Nova Yorke.  Por outro lado vemos a jornada de ascensão social e profissional de um jovem e talentoso advogado, maravilhosamente interpretado por Mark Ruffalo - aliás Ruffalo poderia ter disputado a temporada premiações como "Melhor Ator", tranquilamente! A quem diga que é sua melhor atuação desde "Foxcatcher".

Outro ponto que merece destaque é a direção do Todd Haynes - é dele o excelente "Longe do Paraíso", indicado à 4 Oscars em 2003. Haynes não inventa moda, foca na direção dos atores e prova que não é preciso de uma câmera documental (nada contra) estilo Adam McKay, para se "documentar" uma história real na ficção! Os planos são bem construídos, mas fica claro que o foco está na relação entre os personagens, no diálogo, no peso das investigações e no reflexo da impunidade - é esse o grande trunfo do filme que nos move até o final com a faca nos dentes! O roteiro soube alinhar todos esses elementos, com as ferramentas que tinha e com isso transformou um filme complexo em uma história dinâmica e muito passional! O departamento de arte foi competente em fazer todas as transições de épocas e a fotografia do Edward Lachman foi inteligente em se aproveitar disso para deixar o filme ainda mais bonito visualmente - aliás, Lachman é aquele tipo de diretor de fotografia que praticamente não erra. Parceiro de Haynes em vários projetos, foi indicado ao Oscar duas vezes por filmes do diretor: 2016 por "Carol" e 2003 por "Longe do Paraíso".

"O Preço da Verdade" é um filme que foi pouco percebido nas premiações, talvez por seu lançamento ter acontecido muito no final do ano, mas merecia uma melhor chance. O elenco, além de Ruffalo, conta com Anne Hathaway como a esposa de Bilott - uma personagem discreta, mas com momentos pontuais que merecem destaque: a cena do hospital onde ela contra-cena com outro peso-pesado, Tim Robbins (Tom Terp), é sensacional! Bill Pullman e Victor Garber também estão no filme. Resumindo: gostei do que assisti, me penalizei com o roteirista por ter tido que adaptar uma grande história em pouco tempo de tela e fico muito a vontade para indicar "O Preço da Verdade". É um filme que nos provoca e mexe com a gente, principalmente por nos mostrar um outro lado da busca incansável do capitalismo americano pelo lucro a qualquer preço! Vale a pena!

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"O Preço da Verdade" (Dark Waters) é o típico projeto que se fosse uma minissérie seria sensacional - nível "Chernobyl", mas devido a limitação de tempo, se tornou apenas um ótimo filme!

Ele conta a história real de um recém-nomeado sócio de um escritório de advocacia, Rob Bilott (Mark Ruffalo), que tem como especialidade defender empresas químicas em processos corporativos. Após ser procurado por um fazendeiro de sua cidade natal em West Virgínia, devido a uma misteriosa sequência de 190 mortes de cabeças de gado, Bilott se vê no meio de uma suspeita muito indesejável: a responsável seria uma fábrica da "gigante" DuPont que emprega 90% da cidade de Parkersburg e que estaria contaminando a principal fonte de abastecimento de água da região! A partir daí, Rob Bilott começa a reunir provas contundentes e ao iniciar um processo contra a Dupont, ele descobre que os efeitos desse crime ambiental é infinitamente maior do que ele imaginava e que podem ter provocado reflexos na saúde de 99% da população mundial até os dias de hoje. Olha, é de revirar o estômago - pode até soar como uma grande conspiração, mas o filme é muito inteligente em se apoiar em uma série de fatos amplamente divulgados na época e que, de alguma forma, nos convidam a refletir sobre nossa atuação perante o planeta que gostaríamos de deixar para os nosso filhos e netos! Não é um filme que se propõe a levantar bandeiras ideológicas, mas, certamente, é um filme que vai te fazer pensar! Vale muito a pena!

"O Preço da Verdade" é inspirado numa história verdadeira e seu roteiro foi desenvolvido a partir de um artigo publicado em 2016 pelo jornal The New York Times, intitulado: “O advogado que se tornou o maior pesadelo da Dupont” (você pode ler esse artigo na íntegra, em inglês, aqui). A história é, de fato, complexa, já que a cadeia de eventos é extensa e as informações vão se amontoando na mesma velocidade em que os documentos da Dupont chegam no escritório de Rob Bilott para serem analisados. São mais de 20 anos de processo que precisaram ser condensados em pouco mais de duas horas de filme - é pouco para a riqueza do material, pela força da trama e pelas motivações de ótimos personagens. Por mais estereotipados que possam parecer, não podemos esquecer que estamos falando de personagens típicos de uma cidade do interior de West Virgínia que hoje tem cerca de 30 mil habitantes ou de advogados corporativos de Cincinnati, Ohio e não de Nova Yorke.  Por outro lado vemos a jornada de ascensão social e profissional de um jovem e talentoso advogado, maravilhosamente interpretado por Mark Ruffalo - aliás Ruffalo poderia ter disputado a temporada premiações como "Melhor Ator", tranquilamente! A quem diga que é sua melhor atuação desde "Foxcatcher".

Outro ponto que merece destaque é a direção do Todd Haynes - é dele o excelente "Longe do Paraíso", indicado à 4 Oscars em 2003. Haynes não inventa moda, foca na direção dos atores e prova que não é preciso de uma câmera documental (nada contra) estilo Adam McKay, para se "documentar" uma história real na ficção! Os planos são bem construídos, mas fica claro que o foco está na relação entre os personagens, no diálogo, no peso das investigações e no reflexo da impunidade - é esse o grande trunfo do filme que nos move até o final com a faca nos dentes! O roteiro soube alinhar todos esses elementos, com as ferramentas que tinha e com isso transformou um filme complexo em uma história dinâmica e muito passional! O departamento de arte foi competente em fazer todas as transições de épocas e a fotografia do Edward Lachman foi inteligente em se aproveitar disso para deixar o filme ainda mais bonito visualmente - aliás, Lachman é aquele tipo de diretor de fotografia que praticamente não erra. Parceiro de Haynes em vários projetos, foi indicado ao Oscar duas vezes por filmes do diretor: 2016 por "Carol" e 2003 por "Longe do Paraíso".

"O Preço da Verdade" é um filme que foi pouco percebido nas premiações, talvez por seu lançamento ter acontecido muito no final do ano, mas merecia uma melhor chance. O elenco, além de Ruffalo, conta com Anne Hathaway como a esposa de Bilott - uma personagem discreta, mas com momentos pontuais que merecem destaque: a cena do hospital onde ela contra-cena com outro peso-pesado, Tim Robbins (Tom Terp), é sensacional! Bill Pullman e Victor Garber também estão no filme. Resumindo: gostei do que assisti, me penalizei com o roteirista por ter tido que adaptar uma grande história em pouco tempo de tela e fico muito a vontade para indicar "O Preço da Verdade". É um filme que nos provoca e mexe com a gente, principalmente por nos mostrar um outro lado da busca incansável do capitalismo americano pelo lucro a qualquer preço! Vale a pena!

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O Primeiro Milhão

"O Primeiro Milhão" colabora com a tese de que se você for um bom vendedor, a chance de você se dar bem na vida é muito grande. O grande problema é que com o talento e com ótimos resultados vem a ambição e, normalmente, é aí que o ser humano se perde. Esse filme de 2010 traz muitos elementos narrativos que viríamos a conhecer em histórias reais como "O Mago das Mentiras", "Grande demais para quebrar" ou em "Trabalho Interno" - mesmo bebendo na fonte de um clássico de 1987 como "Wall Street: Poder e Cobiça" - que aqui é homenageado em uma cena que diz muito sobre o universo daqueles personagens sem uma única frase do roteiro original.

"O Primeiro Milhão" basicamente conta a história de Seth (Giovanni Ribisi), um jovem de 19 anos de idade que ganha a vida bancando um cassino ilegal no seu apartamento. Seu pai, um rigoroso e respeitado juiz local, descobre e dá uma verdadeira lição de moral no filho que, para limpar sua barra, resolve aceitar o convite de um amigo e tentar um emprego como corretor em uma pequena, mas ascendente, empresa de investimentos - a "J.T. Marlin". O problema é que essa tal corretora vende apenas lixo, sem valor de mercado, através de técnicas de persuasão nada sutis. Quando Seth se dá conta que algo muito errado acontece nos bastidores da empresa, ele já está tão envolvido que simplesmente sair não parece ser mais uma opção. Confira o trailer (em inglês):

Olhando em retrospectiva, o mais interessante de "Boiler Room" (título original) é que ele é praticamente uma premonição do que aconteceria alguns anos depois - o que nos provoca uma reflexão imediata sobre a sujeira que sempre foi o mercado financeiro nos EUA e como as autoridades, de fato, nunca agiram com seriedade ou, no mínimo, com prudência. Pois bem, dessa vez se trata de uma ficção, com uma narrativa fácil e uma história que te prende do começo ao fim. Não se trata de um filme que será inesquecível, mas de um excelente entretenimento sobre um assunto que costuma funcionar muito bem nas telas.

"O Primeiro Milhão" foi o primeiro filme do diretor e roteirista Ben Younger que na época tinha apenas 29 anos de idade e que foi muito elogiado em sua estreia. O filme realmente traz muita autenticidade para narrativa, mas não inova em nada - eram outros tempo, eu sei, mas a direção segue uma cartilha conservadora demais. O maior mérito de Younger, e é preciso que se diga, foi sua imersão na cultura ambiciosa de Wall Street e na forma como ele conseguiu impactar um elenco promissor com essa atmosfera - um elenco que contava com Ben Affleck, Vin Diesel, Nia Long, Tom Everett Scott, entre outros. Todos estão excelentes, completamente dentro da proposta e no tom perfeito.

"O Primeiro Milhão" é um espécie de prequel lite do que seria "O Lobo de Wall Street" com toda aquela receita: dinheiro, sexo, drogas, crime e ambição - talvez mais sugerido do que explicito como no filme de Scorsese, mas com a mesma competência. O roteiro talvez escorregue um pouco, principalmente no terceiro ato e na pressa de concluir a trama onde a construção da investigação fica um pouco confusa e a relação entre os personagens praticamente se desfaz.

Se você gosta do tema, pode ir tranquilo, porque ao final, temos 120 minutos de um ótimo entretenimento! Vale o play!

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"O Primeiro Milhão" colabora com a tese de que se você for um bom vendedor, a chance de você se dar bem na vida é muito grande. O grande problema é que com o talento e com ótimos resultados vem a ambição e, normalmente, é aí que o ser humano se perde. Esse filme de 2010 traz muitos elementos narrativos que viríamos a conhecer em histórias reais como "O Mago das Mentiras", "Grande demais para quebrar" ou em "Trabalho Interno" - mesmo bebendo na fonte de um clássico de 1987 como "Wall Street: Poder e Cobiça" - que aqui é homenageado em uma cena que diz muito sobre o universo daqueles personagens sem uma única frase do roteiro original.

"O Primeiro Milhão" basicamente conta a história de Seth (Giovanni Ribisi), um jovem de 19 anos de idade que ganha a vida bancando um cassino ilegal no seu apartamento. Seu pai, um rigoroso e respeitado juiz local, descobre e dá uma verdadeira lição de moral no filho que, para limpar sua barra, resolve aceitar o convite de um amigo e tentar um emprego como corretor em uma pequena, mas ascendente, empresa de investimentos - a "J.T. Marlin". O problema é que essa tal corretora vende apenas lixo, sem valor de mercado, através de técnicas de persuasão nada sutis. Quando Seth se dá conta que algo muito errado acontece nos bastidores da empresa, ele já está tão envolvido que simplesmente sair não parece ser mais uma opção. Confira o trailer (em inglês):

Olhando em retrospectiva, o mais interessante de "Boiler Room" (título original) é que ele é praticamente uma premonição do que aconteceria alguns anos depois - o que nos provoca uma reflexão imediata sobre a sujeira que sempre foi o mercado financeiro nos EUA e como as autoridades, de fato, nunca agiram com seriedade ou, no mínimo, com prudência. Pois bem, dessa vez se trata de uma ficção, com uma narrativa fácil e uma história que te prende do começo ao fim. Não se trata de um filme que será inesquecível, mas de um excelente entretenimento sobre um assunto que costuma funcionar muito bem nas telas.

"O Primeiro Milhão" foi o primeiro filme do diretor e roteirista Ben Younger que na época tinha apenas 29 anos de idade e que foi muito elogiado em sua estreia. O filme realmente traz muita autenticidade para narrativa, mas não inova em nada - eram outros tempo, eu sei, mas a direção segue uma cartilha conservadora demais. O maior mérito de Younger, e é preciso que se diga, foi sua imersão na cultura ambiciosa de Wall Street e na forma como ele conseguiu impactar um elenco promissor com essa atmosfera - um elenco que contava com Ben Affleck, Vin Diesel, Nia Long, Tom Everett Scott, entre outros. Todos estão excelentes, completamente dentro da proposta e no tom perfeito.

"O Primeiro Milhão" é um espécie de prequel lite do que seria "O Lobo de Wall Street" com toda aquela receita: dinheiro, sexo, drogas, crime e ambição - talvez mais sugerido do que explicito como no filme de Scorsese, mas com a mesma competência. O roteiro talvez escorregue um pouco, principalmente no terceiro ato e na pressa de concluir a trama onde a construção da investigação fica um pouco confusa e a relação entre os personagens praticamente se desfaz.

Se você gosta do tema, pode ir tranquilo, porque ao final, temos 120 minutos de um ótimo entretenimento! Vale o play!

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O Próprio Enterro

O cinema muitas vezes nos surpreende ao contar histórias emocionantes e inspiradoras que são baseadas em eventos da vida real, mas em "O Próprio Enterro" ainda temos um elemento que, de fato, chama a atenção: trata-se de uma história, no mínimo, inusitada. O filme dirigido pela Maggie Betts (de "Noviciado") é uma dessas pérolas que não apenas merece sua atenção, mas também vai te envolver do começo ao fim, graças a uma narrativa muito bem construída, atuações notáveis e uma direção precisa capaz criar uma experiência cativante! Eu diria que "The Burial" (no original) tem aquele toque de batalha jurídica ao melhor estilo “David x Golias corporativo" que fez de "Erin Brockovich" uma referências para filmes como "O Preço da Verdade".

Quando o acordo com o poderoso Loewen Group dá errado, o dono de uma pequena cadeia de funerárias do Mississipi, Jeremiah O’Keefe (Tommy Lee Jones), contrata o advogado rockstar Willie E. Gary (Jamie Foxx) para salvar o negócio de sua família. Os ânimos explodem quando os dois passam a expor as práticas questionáveis da gigante canadense do ramo funerário, que vão de corrupção à injustiças raciais, em um contexto social que vai muito além dos tribunais. Confira o trailer (em inglês):

A narrativa de "O Próprio Enterro"se desenrola de maneira envolvente, se apoiando na "dramédia" para revelar detalhes complexos de um caso que mudou a vida de seu protagonista e serviu de gatilho para discussões muito mais profundas - essencialmente no que diz respeito aos conflitos raciais da história americana através das décadas. Betts sabe que não é preciso pesar na mão em nenhum momento - sua proposta conceitual traz sim o embate, mas nunca de uma forma dramática demais. Mesmo que exista uma certa densidade no assunto, sua atmosfera nunca é impactante, mesmo com aquela profundidade emocional que nos remete ao básico do "já sei onde tudo isso vai dar"!

A fotografia da incrível Maryse Alberti (de "O Lutador") é meticulosamente planejada para pontuar as sombras e contrastes do tribunal perante a luz e a cor do "maravilhoso mundo de Willie E. Gary" - a conotação de "sonho americano" realmente acompanha a jornada dos personagens, mas cada um com sua particularidade, inclusive visual. Se o roteiro da própria Maggie Betts acerta na apresentação desses personagens, ela certamente derrapa no desenvolvimento de outros - algumas peças (raras) se perdem e ótimas premissas simplesmente são deixadas de lado para focar apenas em  O’Keefe e Gary. É o caso da personagem Mame Downes da atriz Jurnee Smollet e de Mike Allred e Hal Dockins dos atores Alan Ruck e Mamoudou Athie, respectivamente. Ah, Bill Camp como o todo poderoso Ray Loewen brilha quando é demandado e por isso merece elogios.

"O Próprio Enterro" é realmente um ótimo entretenimento, mas longe de ser inesquecível. No entanto é daqueles que chega quietinho e vai conquistando a audiência ao ponto de marcar 91% de aprovação no Rotten Tomatoes.As performances acima da média são um bom atrativo - especialmente de Foxx; mas não é só isso já que Betts conduz uma narrativa que, mesmo com seus vacilos, é cativante. O filme sabe mesmo mergulhar nas complexidades da justiça americana pelos olhos de quem está disposto a lutar pela verdade até quando tudo leva a crer que a batalha já está perdida. Original? Longe disso, mas muito divertido mesmo sem ser uma comédia como muitos disseram por aí.

Vale seu play!

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O cinema muitas vezes nos surpreende ao contar histórias emocionantes e inspiradoras que são baseadas em eventos da vida real, mas em "O Próprio Enterro" ainda temos um elemento que, de fato, chama a atenção: trata-se de uma história, no mínimo, inusitada. O filme dirigido pela Maggie Betts (de "Noviciado") é uma dessas pérolas que não apenas merece sua atenção, mas também vai te envolver do começo ao fim, graças a uma narrativa muito bem construída, atuações notáveis e uma direção precisa capaz criar uma experiência cativante! Eu diria que "The Burial" (no original) tem aquele toque de batalha jurídica ao melhor estilo “David x Golias corporativo" que fez de "Erin Brockovich" uma referências para filmes como "O Preço da Verdade".

Quando o acordo com o poderoso Loewen Group dá errado, o dono de uma pequena cadeia de funerárias do Mississipi, Jeremiah O’Keefe (Tommy Lee Jones), contrata o advogado rockstar Willie E. Gary (Jamie Foxx) para salvar o negócio de sua família. Os ânimos explodem quando os dois passam a expor as práticas questionáveis da gigante canadense do ramo funerário, que vão de corrupção à injustiças raciais, em um contexto social que vai muito além dos tribunais. Confira o trailer (em inglês):

A narrativa de "O Próprio Enterro"se desenrola de maneira envolvente, se apoiando na "dramédia" para revelar detalhes complexos de um caso que mudou a vida de seu protagonista e serviu de gatilho para discussões muito mais profundas - essencialmente no que diz respeito aos conflitos raciais da história americana através das décadas. Betts sabe que não é preciso pesar na mão em nenhum momento - sua proposta conceitual traz sim o embate, mas nunca de uma forma dramática demais. Mesmo que exista uma certa densidade no assunto, sua atmosfera nunca é impactante, mesmo com aquela profundidade emocional que nos remete ao básico do "já sei onde tudo isso vai dar"!

A fotografia da incrível Maryse Alberti (de "O Lutador") é meticulosamente planejada para pontuar as sombras e contrastes do tribunal perante a luz e a cor do "maravilhoso mundo de Willie E. Gary" - a conotação de "sonho americano" realmente acompanha a jornada dos personagens, mas cada um com sua particularidade, inclusive visual. Se o roteiro da própria Maggie Betts acerta na apresentação desses personagens, ela certamente derrapa no desenvolvimento de outros - algumas peças (raras) se perdem e ótimas premissas simplesmente são deixadas de lado para focar apenas em  O’Keefe e Gary. É o caso da personagem Mame Downes da atriz Jurnee Smollet e de Mike Allred e Hal Dockins dos atores Alan Ruck e Mamoudou Athie, respectivamente. Ah, Bill Camp como o todo poderoso Ray Loewen brilha quando é demandado e por isso merece elogios.

"O Próprio Enterro" é realmente um ótimo entretenimento, mas longe de ser inesquecível. No entanto é daqueles que chega quietinho e vai conquistando a audiência ao ponto de marcar 91% de aprovação no Rotten Tomatoes.As performances acima da média são um bom atrativo - especialmente de Foxx; mas não é só isso já que Betts conduz uma narrativa que, mesmo com seus vacilos, é cativante. O filme sabe mesmo mergulhar nas complexidades da justiça americana pelos olhos de quem está disposto a lutar pela verdade até quando tudo leva a crer que a batalha já está perdida. Original? Longe disso, mas muito divertido mesmo sem ser uma comédia como muitos disseram por aí.

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O Relatório

"O Relatório" é um dos melhores filmes de 2019 sem a menor dúvida e muito me impressiona o fato de ter sido praticamente descartado na temporada de prêmios do ano passado! Uma co-produção original da Amazon em parceria com a Vice, baseado em fatos reais, "O Relatório" acompanha uma delicada investigação comandada por Daniel Jones (Adam Driver), um funcionário da senadora norte-americana Dianne Feinstein (Annette Bening), sobre um sigiloso programa de "Detenção e Interrogatório" desenvolvido pela CIA (sempre ela), logo após os ataques de 11 de Setembro. Jones acaba descobrindo que a metodologia usada contra os presos, conhecida como “técnicas de interrogatório avançadas”, nada mais era do que várias formas de tortura e, pior, muitos dos 119 detidos eram civis sem nenhuma ligação com a Al Qaeda. Essas práticas autorizadas pelo alto escalão da CIA, resultaram na morte de vários inocentes e de suspeitos pouco relevantes na prevenção de ataques terroristas, sendo considerada um fracasso em sua execução, além de infringir a legislação norte-americana e o Direitos Humanos. Confira o trailer (em inglês):

"O Relatório" é quase uma continuação dos fatos retratados em outra produção que está disponível na Prime Vídeo chamada "The Looming Tower" (da Hulu) - inclusive vários personagens são facilmente reconhecidos. Se em "The Looming Tower" a CIA demostrava sua total incompetência para impedir um ataque terrorista ao guardar para si informações importantes, graças a uma rixa política dom o FBI, em "O Relatório" é apenas a comprovação do seu despreparo para lidar com suas próprias falhas. É mais uma história de embrulhar o estômago, cercada de burocratas egocêntricos, que é muito bem contada por um diretor quase estreante, Scott Z. Burns - o roteirista que já nos entregou dois ótimos thrillers: "Terapia de Risco" e "Contágio"! 

Olha, o filme vale muito a pena, mas se você assina Amazon Prime eu sugiro que você assista os dez episódios de  "The Looming Tower" e logo depois "O Relatório" - pode se preparar para uma experiência incrível com dramas políticos (reais) de primeiríssima qualidade!

Um dos elementos que mais me impressionou no filme foi seu roteiro. Ele comprime cerca de dez anos de história em "apenas" duas horas, com muita maestria - não entendo como esse roteiro não concorreu ao Oscar! São várias cenas de interrogatórios com prisioneiros, filmadas quase documentalmente de uma maneira muito parecida ao premiado "A Hora Mais Escura", enquanto as cenas de investigação segue muito o conceito visual do cultuado "Spotlight" - eu diria que "O Relatório" é uma junção dessas duas referências. Imagine que o relatório oficial dessa investigação era composta por sete mil páginas e sua versão publicada, 400. Tendo em mente que o roteiro não tem mais que 200 páginas, imagine o trabalho que foi equilibrar os fatos reais com a dinâmica cinematográfica de uma história que precisaria ser assimilada pelo público e ainda sem uma denotação de superficial!

A senadora vivida por Annette Bening, responsável pelo comitê que ordena a investigação, é outro elemento que merece destaque. Ela funciona como o ponto de equilíbrio para o personagem de Adam Driver, já que ambos parecem comprometidos com a investigação, mas com preocupações completamente diferentes - o que ajuda a criar um ponto de tensão muito interessante para a história. Reparem quando ela questiona Dan: "Você trabalha para mim ou para o relatório?" E completa logo em seguida: "Cuidado com sua resposta!" - tecnicamente ela é a força racional enquanto ele é a emocional! Um verdadeiro convite ao nosso julgamento, posso concluir!

Sem dúvida que o trabalho do diretor Scott Z. Burns diminui a impressão que "O Relatório" poderia gerar ao assumir que está usando a linguagem cinematográfica como meio para tornar acessível uma informação relevante para a sociedade americana (e mundial) - e isso teria muito do envolvimento do grupo Vice na produção, mas também não dá para esquecer que o filme é uma espécie de aula sobre politica com toques de drama, com um texto denso e bastante difícil de se localizar para quem desconhece completamente o caso (ou a linha temporal que culminou na investigação).

Olha, eu gostei demais - em todos os aspectos: dos cinematográficos ao histórico! Vale muito a pena, mesmo!

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"O Relatório" é um dos melhores filmes de 2019 sem a menor dúvida e muito me impressiona o fato de ter sido praticamente descartado na temporada de prêmios do ano passado! Uma co-produção original da Amazon em parceria com a Vice, baseado em fatos reais, "O Relatório" acompanha uma delicada investigação comandada por Daniel Jones (Adam Driver), um funcionário da senadora norte-americana Dianne Feinstein (Annette Bening), sobre um sigiloso programa de "Detenção e Interrogatório" desenvolvido pela CIA (sempre ela), logo após os ataques de 11 de Setembro. Jones acaba descobrindo que a metodologia usada contra os presos, conhecida como “técnicas de interrogatório avançadas”, nada mais era do que várias formas de tortura e, pior, muitos dos 119 detidos eram civis sem nenhuma ligação com a Al Qaeda. Essas práticas autorizadas pelo alto escalão da CIA, resultaram na morte de vários inocentes e de suspeitos pouco relevantes na prevenção de ataques terroristas, sendo considerada um fracasso em sua execução, além de infringir a legislação norte-americana e o Direitos Humanos. Confira o trailer (em inglês):

"O Relatório" é quase uma continuação dos fatos retratados em outra produção que está disponível na Prime Vídeo chamada "The Looming Tower" (da Hulu) - inclusive vários personagens são facilmente reconhecidos. Se em "The Looming Tower" a CIA demostrava sua total incompetência para impedir um ataque terrorista ao guardar para si informações importantes, graças a uma rixa política dom o FBI, em "O Relatório" é apenas a comprovação do seu despreparo para lidar com suas próprias falhas. É mais uma história de embrulhar o estômago, cercada de burocratas egocêntricos, que é muito bem contada por um diretor quase estreante, Scott Z. Burns - o roteirista que já nos entregou dois ótimos thrillers: "Terapia de Risco" e "Contágio"! 

Olha, o filme vale muito a pena, mas se você assina Amazon Prime eu sugiro que você assista os dez episódios de  "The Looming Tower" e logo depois "O Relatório" - pode se preparar para uma experiência incrível com dramas políticos (reais) de primeiríssima qualidade!

Um dos elementos que mais me impressionou no filme foi seu roteiro. Ele comprime cerca de dez anos de história em "apenas" duas horas, com muita maestria - não entendo como esse roteiro não concorreu ao Oscar! São várias cenas de interrogatórios com prisioneiros, filmadas quase documentalmente de uma maneira muito parecida ao premiado "A Hora Mais Escura", enquanto as cenas de investigação segue muito o conceito visual do cultuado "Spotlight" - eu diria que "O Relatório" é uma junção dessas duas referências. Imagine que o relatório oficial dessa investigação era composta por sete mil páginas e sua versão publicada, 400. Tendo em mente que o roteiro não tem mais que 200 páginas, imagine o trabalho que foi equilibrar os fatos reais com a dinâmica cinematográfica de uma história que precisaria ser assimilada pelo público e ainda sem uma denotação de superficial!

A senadora vivida por Annette Bening, responsável pelo comitê que ordena a investigação, é outro elemento que merece destaque. Ela funciona como o ponto de equilíbrio para o personagem de Adam Driver, já que ambos parecem comprometidos com a investigação, mas com preocupações completamente diferentes - o que ajuda a criar um ponto de tensão muito interessante para a história. Reparem quando ela questiona Dan: "Você trabalha para mim ou para o relatório?" E completa logo em seguida: "Cuidado com sua resposta!" - tecnicamente ela é a força racional enquanto ele é a emocional! Um verdadeiro convite ao nosso julgamento, posso concluir!

Sem dúvida que o trabalho do diretor Scott Z. Burns diminui a impressão que "O Relatório" poderia gerar ao assumir que está usando a linguagem cinematográfica como meio para tornar acessível uma informação relevante para a sociedade americana (e mundial) - e isso teria muito do envolvimento do grupo Vice na produção, mas também não dá para esquecer que o filme é uma espécie de aula sobre politica com toques de drama, com um texto denso e bastante difícil de se localizar para quem desconhece completamente o caso (ou a linha temporal que culminou na investigação).

Olha, eu gostei demais - em todos os aspectos: dos cinematográficos ao histórico! Vale muito a pena, mesmo!

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Operação Cerveja

Você vai se surpreender! "Operação Cerveja" é um ótimo filme, que sabe equilibrar perfeitamente o tom mais crítico com uma boa levada de entretenimento - bem na linha de "Green Book", aliás, filme que deu para o mesmo diretor, Peter Farrelly, dois Oscars em 2019. Aqui o conceito "road movie" se repete, porém de uma forma menos usual, se apropriando mais uma vez de uma história real para retratar as aventuras (insanas) de um jovem americano que resolveu viver a experiência de estar em uma guerra sem saber exatamente qual o tamanho do problema que ele estava arranjando para si mesmo - obviamente que muito foi romanizado, mas a jornada é tão surreal que vai te proporcionar ótimas risadas.

A história é simples, mas não por isso menos empolgante: John "Chickie" Donohue (Zac Efron), é um jovem de 22 anos que sai de Nova York, em 1967, para levar cerveja (isso mesmo: cerveja) para seus amigos de infância enquanto eles lutavam no Vietnã e assim proporcionar algum momento de prazer em pleno campo de batalha. Confira o trailer (em inglês):

"The Greatest Beer Run Ever" (no original) é um filme cheio de camadas e se engana quem pensa que se trata de uma comédia leve com alguns momentos de tensão e muita aventura. Não, não é nada disso. O roteiro de Brian Hayes Currie, companheiro de Farrelly em "Green Book", é muito competente em inserir imputs narrativos que mesmo funcionando como pano de fundo ao arco principal, nos provocam inúmera reflexões - a principal delas (muito pertinente na sociedade que vivemos) é justamente sobre a diferença entre o que achamos que conhecemos e o que, de fato, é a realidade (fora de uma determinada "bolha').

Ao se apegar em uma história tão absurda que só poderia ter acontecido na vida real, "Operação Cerveja" transita entre a critica sociopolítica e o non-sense - a própria construção cênica do filme nos dá a exata impressão de que tudo aquilo não pode estar acontecendo, mesmo sabendo que aconteceu e que alguém voltou para contar aquela história. Zac Efron brilha dentro dessa dinâmica de ingenuidade e descoberta, enquanto os outros personagens (coadjuvantes) estabelecem os fatos e apresentam a real perspectiva preocupante daquela atmosfera - essa dicotomia, em vários momentos, funciona como alivio cômico, o que traz leveza para narrativa. Algumas passagens, como nas cenas com Russell Crowe (o fotógrafo de guerra, Coates), pendem para o drama, mas reparem que nunca se sobressaem ao ponto de nos impactar ao ponto de transformar nossa experiência como audiência em algo mais denso.

"Operação Cerveja" tem muito mais qualidades do que defeitos, mas é preciso entender a proposta do diretor e, por assim dizer, não levar o filme tão a sério. Com ótimas participações como a de Bill Murray (como o "Coronel"), Paul Adelstein (como Mr. Donohue), de Matt Cook (como Lt. Habershaw) e principalmente de Kevin K. Tran (como "Oklahoma"), Peter Farrelly entrega mais uma vez uma jornada emocional que nos conquista enquanto nos entretem e só por isso, já vale seu play!

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Você vai se surpreender! "Operação Cerveja" é um ótimo filme, que sabe equilibrar perfeitamente o tom mais crítico com uma boa levada de entretenimento - bem na linha de "Green Book", aliás, filme que deu para o mesmo diretor, Peter Farrelly, dois Oscars em 2019. Aqui o conceito "road movie" se repete, porém de uma forma menos usual, se apropriando mais uma vez de uma história real para retratar as aventuras (insanas) de um jovem americano que resolveu viver a experiência de estar em uma guerra sem saber exatamente qual o tamanho do problema que ele estava arranjando para si mesmo - obviamente que muito foi romanizado, mas a jornada é tão surreal que vai te proporcionar ótimas risadas.

A história é simples, mas não por isso menos empolgante: John "Chickie" Donohue (Zac Efron), é um jovem de 22 anos que sai de Nova York, em 1967, para levar cerveja (isso mesmo: cerveja) para seus amigos de infância enquanto eles lutavam no Vietnã e assim proporcionar algum momento de prazer em pleno campo de batalha. Confira o trailer (em inglês):

"The Greatest Beer Run Ever" (no original) é um filme cheio de camadas e se engana quem pensa que se trata de uma comédia leve com alguns momentos de tensão e muita aventura. Não, não é nada disso. O roteiro de Brian Hayes Currie, companheiro de Farrelly em "Green Book", é muito competente em inserir imputs narrativos que mesmo funcionando como pano de fundo ao arco principal, nos provocam inúmera reflexões - a principal delas (muito pertinente na sociedade que vivemos) é justamente sobre a diferença entre o que achamos que conhecemos e o que, de fato, é a realidade (fora de uma determinada "bolha').

Ao se apegar em uma história tão absurda que só poderia ter acontecido na vida real, "Operação Cerveja" transita entre a critica sociopolítica e o non-sense - a própria construção cênica do filme nos dá a exata impressão de que tudo aquilo não pode estar acontecendo, mesmo sabendo que aconteceu e que alguém voltou para contar aquela história. Zac Efron brilha dentro dessa dinâmica de ingenuidade e descoberta, enquanto os outros personagens (coadjuvantes) estabelecem os fatos e apresentam a real perspectiva preocupante daquela atmosfera - essa dicotomia, em vários momentos, funciona como alivio cômico, o que traz leveza para narrativa. Algumas passagens, como nas cenas com Russell Crowe (o fotógrafo de guerra, Coates), pendem para o drama, mas reparem que nunca se sobressaem ao ponto de nos impactar ao ponto de transformar nossa experiência como audiência em algo mais denso.

"Operação Cerveja" tem muito mais qualidades do que defeitos, mas é preciso entender a proposta do diretor e, por assim dizer, não levar o filme tão a sério. Com ótimas participações como a de Bill Murray (como o "Coronel"), Paul Adelstein (como Mr. Donohue), de Matt Cook (como Lt. Habershaw) e principalmente de Kevin K. Tran (como "Oklahoma"), Peter Farrelly entrega mais uma vez uma jornada emocional que nos conquista enquanto nos entretem e só por isso, já vale seu play!

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Os 7 de Chicago

"Os 7 de Chicago" é uma agradável surpresa no catálogo da Netflix. Esse é o segundo filme dirigido pelo badalado roteirista de "A Rede Social", "A Grande Jogada" e "Steve Jobs", Aaron Sorkin. Mesmo com a certeza de que Sorkin é infinitamente melhor como Roteirista do que como Diretor, aqui ele entrega um filme muito bem realizado tecnicamente e claramente vemos uma evolução artística ao equilibrar muito bem sua capacidade de contar a história com a câmera e uma condução segura no trabalho com os atores - ponto alto do filme!

O filme acompanha a história real do julgamento de sete líderes de grupos completamente independentes entre si que queriam, de alguma forma, protestar contra o aumento absurdo do recrutamento de americanos para lutar na Guerra do Vietnã durante o governo do democrata Lyndon Johnson. A forma encontrada por eles foi aproveitar a Convenção Nacional Democrata de 1968 em Chicago para chamar a atenção do país, afinal todos estariam assistindo. O problema é que essas manifestações, que tinham um caráter pacífico, acabaram se transformando em um enfrentamento bastante violento com a policia local e transformando os "7 de Chicago" em verdadeiros bodes expiatórios de uma tramóia politica muito mais relevante do que parecia inicialmente. Confira o trailer:

Claramente referenciado pelo trabalho de Spike Lee, Sorkin é muito inteligente em não inventar moda ao se apropriar de um conceito narrativo já estabelecido para filmes de tribunal - ele mesmo começou sua carreira com "Questão de Honra" em 1992; um drama de tirar o fôlego que funciona perfeitamente como linha condutora enquanto flashbacks explicam fatos marcantes da história. Na própria "A Rede Social" ele usou muito dessa estratégia! Pois bem, com isso "Os 7 de Chicago" não sofre com o fato de 80% do filme se passar em um único cenário e mesmo com duas horas de filme, a dinâmica é tão fluída que fica impossível não se divertir com que estamos assistindo. Tenho a impressão que esse filme pode correr por fora na temporada de premiações do próximo e ano e não vou me surpreender se beliscar algo em categorias como Ator coadjuvante, Montagem e Roteiro Adaptado. 

Já na abertura entendemos a qualidade do roteiro e a força narrativa que veremos a seguir ao apresentar os protagonistas: Abbie Hoffman (Sacha Baron Cohen) e Jerry Rubin (Jeremy Strong), co-fundadores do Partido Internacional da Juventude e líderes da contracultura - ambos com postura aguerrida e confrontadora; Tom Hayden (Eddie Redmayne) e Rennie Davis (Alex Sharp), dois amigos ativistas que prezam pela organização e pelas manifestações não violentas; David Dellinger (John Carroll Lynch), pai de família, pacifista radical e anti-belicista e Bobby Seale (Yahya Abdul-Mateen II), co-fundador do Partido dos Panteras Negras e o “oitavo” réu; em poucos minutos, já se estabelecem as posições de cada personagem e a razão pela qual eles estão prestes a se encontrar em Chicago - reparem que as imagens dos personagens na ficção são intercaladas com coberturas jornalísticas da época sobre o Vietnã e sobre tudo que envolve a revolta dos grupos que acabei de citar.

Quando o assistente da promotoria (Joseph Gordon-Levitt) recebe a missão de processar cada um desses líderes, de cara entendemos que tudo não passa de um show político - e aqui eu já preciso citar o incrível trabalho deFrank Langella como o Juiz Julius Hoffman e deMark Rylance como o advogado William Kunstler. Claro que "Os 7 de Chicago" usa de várias licenças poéticas para potencializar o efeito dramático, principalmente na construção desses ótimos personagens. A própria relação que Abbie Hoffman tem com Jerry Rubin serve de exemplo - um pouco estereotipados propositalmente, mas que servem como o alivio cômico perfeito para equilibrar os momentos de tensão que certamente causarão sua revolta. 

Para finalizar, talvez o mais fantástico de "Os 7 de Chicago", independente de se tratar de uma história real (e brutal), é que o filme traz muitas sensações para quem assiste, transformando um assunto tão sério (e atual) em um entretenimento de altíssima qualidade - o que eu quero dizer, é que mesmo com o peso dos fatos, você vai rir e se emocionar com a mesma facilidade - e isso é raro! Vale a pena enfatizar que o filme tem uma importância histórica bastante clara e faz uma crítica inteligente e certeira (como vimos em "Infiltrado na Klan", por exemplo): "a democracia e a liberdade tem como maior ameaça o abuso de pessoas despreparadas que por um acaso inexplicável estão no comando de uma política egoísta e medrosa!" Dito isso, vale muito seu play e, claro, uma reflexão! Grande filme!

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"Os 7 de Chicago" é uma agradável surpresa no catálogo da Netflix. Esse é o segundo filme dirigido pelo badalado roteirista de "A Rede Social", "A Grande Jogada" e "Steve Jobs", Aaron Sorkin. Mesmo com a certeza de que Sorkin é infinitamente melhor como Roteirista do que como Diretor, aqui ele entrega um filme muito bem realizado tecnicamente e claramente vemos uma evolução artística ao equilibrar muito bem sua capacidade de contar a história com a câmera e uma condução segura no trabalho com os atores - ponto alto do filme!

O filme acompanha a história real do julgamento de sete líderes de grupos completamente independentes entre si que queriam, de alguma forma, protestar contra o aumento absurdo do recrutamento de americanos para lutar na Guerra do Vietnã durante o governo do democrata Lyndon Johnson. A forma encontrada por eles foi aproveitar a Convenção Nacional Democrata de 1968 em Chicago para chamar a atenção do país, afinal todos estariam assistindo. O problema é que essas manifestações, que tinham um caráter pacífico, acabaram se transformando em um enfrentamento bastante violento com a policia local e transformando os "7 de Chicago" em verdadeiros bodes expiatórios de uma tramóia politica muito mais relevante do que parecia inicialmente. Confira o trailer:

Claramente referenciado pelo trabalho de Spike Lee, Sorkin é muito inteligente em não inventar moda ao se apropriar de um conceito narrativo já estabelecido para filmes de tribunal - ele mesmo começou sua carreira com "Questão de Honra" em 1992; um drama de tirar o fôlego que funciona perfeitamente como linha condutora enquanto flashbacks explicam fatos marcantes da história. Na própria "A Rede Social" ele usou muito dessa estratégia! Pois bem, com isso "Os 7 de Chicago" não sofre com o fato de 80% do filme se passar em um único cenário e mesmo com duas horas de filme, a dinâmica é tão fluída que fica impossível não se divertir com que estamos assistindo. Tenho a impressão que esse filme pode correr por fora na temporada de premiações do próximo e ano e não vou me surpreender se beliscar algo em categorias como Ator coadjuvante, Montagem e Roteiro Adaptado. 

Já na abertura entendemos a qualidade do roteiro e a força narrativa que veremos a seguir ao apresentar os protagonistas: Abbie Hoffman (Sacha Baron Cohen) e Jerry Rubin (Jeremy Strong), co-fundadores do Partido Internacional da Juventude e líderes da contracultura - ambos com postura aguerrida e confrontadora; Tom Hayden (Eddie Redmayne) e Rennie Davis (Alex Sharp), dois amigos ativistas que prezam pela organização e pelas manifestações não violentas; David Dellinger (John Carroll Lynch), pai de família, pacifista radical e anti-belicista e Bobby Seale (Yahya Abdul-Mateen II), co-fundador do Partido dos Panteras Negras e o “oitavo” réu; em poucos minutos, já se estabelecem as posições de cada personagem e a razão pela qual eles estão prestes a se encontrar em Chicago - reparem que as imagens dos personagens na ficção são intercaladas com coberturas jornalísticas da época sobre o Vietnã e sobre tudo que envolve a revolta dos grupos que acabei de citar.

Quando o assistente da promotoria (Joseph Gordon-Levitt) recebe a missão de processar cada um desses líderes, de cara entendemos que tudo não passa de um show político - e aqui eu já preciso citar o incrível trabalho deFrank Langella como o Juiz Julius Hoffman e deMark Rylance como o advogado William Kunstler. Claro que "Os 7 de Chicago" usa de várias licenças poéticas para potencializar o efeito dramático, principalmente na construção desses ótimos personagens. A própria relação que Abbie Hoffman tem com Jerry Rubin serve de exemplo - um pouco estereotipados propositalmente, mas que servem como o alivio cômico perfeito para equilibrar os momentos de tensão que certamente causarão sua revolta. 

Para finalizar, talvez o mais fantástico de "Os 7 de Chicago", independente de se tratar de uma história real (e brutal), é que o filme traz muitas sensações para quem assiste, transformando um assunto tão sério (e atual) em um entretenimento de altíssima qualidade - o que eu quero dizer, é que mesmo com o peso dos fatos, você vai rir e se emocionar com a mesma facilidade - e isso é raro! Vale a pena enfatizar que o filme tem uma importância histórica bastante clara e faz uma crítica inteligente e certeira (como vimos em "Infiltrado na Klan", por exemplo): "a democracia e a liberdade tem como maior ameaça o abuso de pessoas despreparadas que por um acaso inexplicável estão no comando de uma política egoísta e medrosa!" Dito isso, vale muito seu play e, claro, uma reflexão! Grande filme!

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Os Banshees de Inisherin

"Os Banshees de Inisherin" não será uma unanimidade e parte dessa certeza se dá pelo fato de seu texto ser extremamente teatral, razão pela qual, mesmo embrulhado em um pacote completamente realista, seu conteúdo prioriza muito mais o simbolismo (e o absurdo das situações) para retratar a complexidade das relações humanas. Indicado em 9 categorias no Oscar 2023, inclusive ao prêmio de "Melhor Filme", essa produção dirigida pelo talentoso Martin McDonagh (de "Três Anúncios para um Crime") sabe exatamente como manipular nossas emoções ao expor (sem o menor medo de parecer piegas) as nuances de um término de relação que parecia ser eterna - mas calma, não se trata de uma "dramalhão", longe disso, o filme é muito mais uma espécie de conto, que sabe equilibrar perfeitamente o sorriso com as lágrimas, sem ao menos se preocupar em entregar todas as respostas.

Toda a história se passa na ilha fictícia de Inisherin, por volta de 1923, durante a Guerra Civil Irlandesa. Pádraic (Colin Farrell) é um homem muito gentil que tem sua vida abalada depois de experimentar a crueldade abrupta e casual de Colm (Breendan Gleeson), amigo de longa data, que se distancia aparentemente sem motivo algum. Pádraic, confuso e devastado, tenta reatar essa amizade com o apoio de sua irmã Siobhan (Kerry Condon) e do jovem Dominic (Barry Keoghan), filho de um policial local. Porém, quando Colm lança um ultimato chocante para o ex-amigo e passa a agir pautado no extremo, toda aquela pequena comunidade começa a sentir os impactos do desequilíbrio emocional de seus habitantes. Confira o trailer:

Assistir "Os Banshees de Inisherin" vai exigir uma certa inspiração, pois a narrativa é bastante cadenciada e a conexão com os personagens não é imediata - mesmo com as performances irretocáveis de Farrell e Gleeson essa introdução é lenta e um pouco cansativa. Aliás, nem posso pontuar isso como um problema, mas sim entender como uma escolha consciente de McDonagh - já que ele faz sempre muita questão de impor sua identidade (bastante autoral) como cineasta. O roteiro praticamente impõe esse mood de solidão e silêncio que só é interrompido pelos tiros e bombas explodindo do outro lado do rio, no continente. Mesmo que os longos planos abertos e bem construídos pelo diretor de fotografia, o badalado Ben Davis (de "Doutor Estranho" e a "Vingadores: Era de Ultron"), visualmente, nos conecte com aquela realidade bem particular, é a partir do segundo ato que começamos a entender a importância que o conflito entre os protagonistas tem para a dinâmica daquela  sociedade e como os reflexos dessa crise vão se ampliando pouco a pouco e destruindo a "pseudo-paz" de viver ali, "longe da guerra".

Veja, não por acaso, a beleza de "Os Banshees de Inisherin"  está nos pequenos detalhes - existe um padrão semiótico capaz de nos provocar inúmeras interpretações e com isso nos afastar de uma história que a princípio parece nem ter força para suportar os 120 minutos de filme (esse é mais um fator que afastará parte da audiência, mas que com certeza coloca esse roteiro como um dos melhores do ano). Enxergar a dinâmica local de Inisherin é essencial para entender o organismo vivo que a ilha é - existe um tom de fábula, de final feliz, mas que vai se afastando quando a realidade passa a se sobrepor ao absurdo - o curioso é que essa transformação é contada pelos olhos de seu personagem mais fantasioso, como uma personificação do "destino" - a Sra. McCormack (Sheila Flitton).

Se para alguns "Os Banshees de Inisherin" vai parecer um filme bastante reflexivo, para outros será considerado "chato demais" - por isso fiz questão de pontuar a importância de se permitir mergulhar no simbolismo de McDonagh para enfim poder curtir a experiência, mesmo que tenha soado até repetitivo. Existe uma excentricidade nas entrelinhas, um humor negro tipicamente britânico e diálogos bastante caricatos, por outro lado, a jornada é poderosa, os temas discutidos são densos, complexos, mesmo que explorados em situações divertidas. 

Por tudo isso e além de ser um dos filmes mais premiados da temporada, com mais de 130 prêmios nos festivais de todo planeta, "Os Banshees de Inisherin" vai, no mínimo, te tirar da zona de conforto! Vale seu play!

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"Os Banshees de Inisherin" não será uma unanimidade e parte dessa certeza se dá pelo fato de seu texto ser extremamente teatral, razão pela qual, mesmo embrulhado em um pacote completamente realista, seu conteúdo prioriza muito mais o simbolismo (e o absurdo das situações) para retratar a complexidade das relações humanas. Indicado em 9 categorias no Oscar 2023, inclusive ao prêmio de "Melhor Filme", essa produção dirigida pelo talentoso Martin McDonagh (de "Três Anúncios para um Crime") sabe exatamente como manipular nossas emoções ao expor (sem o menor medo de parecer piegas) as nuances de um término de relação que parecia ser eterna - mas calma, não se trata de uma "dramalhão", longe disso, o filme é muito mais uma espécie de conto, que sabe equilibrar perfeitamente o sorriso com as lágrimas, sem ao menos se preocupar em entregar todas as respostas.

Toda a história se passa na ilha fictícia de Inisherin, por volta de 1923, durante a Guerra Civil Irlandesa. Pádraic (Colin Farrell) é um homem muito gentil que tem sua vida abalada depois de experimentar a crueldade abrupta e casual de Colm (Breendan Gleeson), amigo de longa data, que se distancia aparentemente sem motivo algum. Pádraic, confuso e devastado, tenta reatar essa amizade com o apoio de sua irmã Siobhan (Kerry Condon) e do jovem Dominic (Barry Keoghan), filho de um policial local. Porém, quando Colm lança um ultimato chocante para o ex-amigo e passa a agir pautado no extremo, toda aquela pequena comunidade começa a sentir os impactos do desequilíbrio emocional de seus habitantes. Confira o trailer:

Assistir "Os Banshees de Inisherin" vai exigir uma certa inspiração, pois a narrativa é bastante cadenciada e a conexão com os personagens não é imediata - mesmo com as performances irretocáveis de Farrell e Gleeson essa introdução é lenta e um pouco cansativa. Aliás, nem posso pontuar isso como um problema, mas sim entender como uma escolha consciente de McDonagh - já que ele faz sempre muita questão de impor sua identidade (bastante autoral) como cineasta. O roteiro praticamente impõe esse mood de solidão e silêncio que só é interrompido pelos tiros e bombas explodindo do outro lado do rio, no continente. Mesmo que os longos planos abertos e bem construídos pelo diretor de fotografia, o badalado Ben Davis (de "Doutor Estranho" e a "Vingadores: Era de Ultron"), visualmente, nos conecte com aquela realidade bem particular, é a partir do segundo ato que começamos a entender a importância que o conflito entre os protagonistas tem para a dinâmica daquela  sociedade e como os reflexos dessa crise vão se ampliando pouco a pouco e destruindo a "pseudo-paz" de viver ali, "longe da guerra".

Veja, não por acaso, a beleza de "Os Banshees de Inisherin"  está nos pequenos detalhes - existe um padrão semiótico capaz de nos provocar inúmeras interpretações e com isso nos afastar de uma história que a princípio parece nem ter força para suportar os 120 minutos de filme (esse é mais um fator que afastará parte da audiência, mas que com certeza coloca esse roteiro como um dos melhores do ano). Enxergar a dinâmica local de Inisherin é essencial para entender o organismo vivo que a ilha é - existe um tom de fábula, de final feliz, mas que vai se afastando quando a realidade passa a se sobrepor ao absurdo - o curioso é que essa transformação é contada pelos olhos de seu personagem mais fantasioso, como uma personificação do "destino" - a Sra. McCormack (Sheila Flitton).

Se para alguns "Os Banshees de Inisherin" vai parecer um filme bastante reflexivo, para outros será considerado "chato demais" - por isso fiz questão de pontuar a importância de se permitir mergulhar no simbolismo de McDonagh para enfim poder curtir a experiência, mesmo que tenha soado até repetitivo. Existe uma excentricidade nas entrelinhas, um humor negro tipicamente britânico e diálogos bastante caricatos, por outro lado, a jornada é poderosa, os temas discutidos são densos, complexos, mesmo que explorados em situações divertidas. 

Por tudo isso e além de ser um dos filmes mais premiados da temporada, com mais de 130 prêmios nos festivais de todo planeta, "Os Banshees de Inisherin" vai, no mínimo, te tirar da zona de conforto! Vale seu play!

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Os Encanadores da Casa Branca

"Imagina se aquela série do diretor José Padilha, "O Mecanismo" da Netflix, que retrata os bastidores da Lava-Jato e todas as ramificações até o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, fosse contada de uma forma mais leve, irônica, quase satírica, sem, obviamente, esquecer que todos os fatos retratados na narrativa são, de fato, reais! Pois bem, "Os Encanadores da Casa Branca", produção da HBO, é mais ou menos isso, já que ela acompanha os detalhes da operação política mais catastrófica da história dos Estados Unidos, conhecida como o "Caso Watergate", só que dessa vez pela ótica dos próprios criminosos. Mas atenção: para uma experiência mais interessante, é preciso ter o mínimo de conhecimento sobre o caso e seus principais personagens. Se esse não é o seu caso, sugiro assistir ao filme "Todos Os Homens do Presidente" (de 1976), que oferecerá um prólogo bastante satisfatório.

A minissérie basicamente acompanha E. Howard Hunt (interpretado por Woody Harrelson) e Gordon Liddy (interpretado por Justin Theroux), dois espiões veteranos, um da CIA e outro do FBI, que passaram a trabalhar no comitê de reeleição do então presidente Richard Nixon e que foram as mentes por trás do escândalo Watergate que derrubou acidentalmente o político que estavam tentando proteger. Confira o trailer:

Em 2007, Egil Krogh, advogado da administração de Richard Nixon que foi condenado à prisão por seu envolvimento no caso Watergate, escreveu um livro sobre o assunto com a ajuda de seu filho Matthew, que foi inicialmente batizado de "Integridade", mas que depois ganhou uma edição com o nome de "Os Encanadores da Casa Branca"- foi esse livro que serviu de base para a minissérie da HBO. Para quem não sabe, o caso Watergate foi um escândalo político que ocorreu nos Estados Unidos na década de 1970, quando cinco homens foram presos por tentarem invadir o escritório do Partido Democrata, no complexo Watergate. As investigações revelaram que a invasão estava ligada a uma série de atividades ilegais realizadas pelo comitê de reeleição do Presidente Nixon, que buscava obter vantagens políticas e assim vencer nas urnas. O caso envolveu suborno, obstrução da justiça e abuso de poder, levando à renúncia do presidente em 1974.

Aqui, os criadores Alex Gregory e Peter Huyck, ambos produtores de "Veep", se unem mais uma vez ao diretor David Mandel para construir uma atmosfera envolvente que mistura o melhor do drama político com o tragicômico da idolatria política - repare como, em tempos de total polarização, o assunto é até mais atemporal do que podemos imaginar e estupidamente repetitivo ao longo das décadas, no mundo inteiro. A obsessão que seus protagonistas nutrem por Nixon soa bizarra, mas é inegável como o roteiro expande essas camadas de forma fluida e inteligente para criar um paralelo consistente entre corrupção, desvio de caráter e, claro, as consequências catastróficas que uma servidão cega pode trazer como efeito colateral.

Com um verdadeiro show de Harrelson (sempre ele) e Theroux, "White House Plumbers" (no original) brilha - mesmo carregando o peso de abordar a maior quantidade de fatos possíveis, muitos deles inacreditáveis, ao longo de uma linha temporal curta que a narrativa escolheu para contextualizar o Watergate. Veja, o apego à realidade é tão grande que, cinematograficamente, soa excessivo. Dito isso, fica fácil afirmar que a minissérie não é uma jornada das mais fáceis; no entanto, com o mínimo de conhecimento do caso, ela é um mergulho na história democrática americana com muito entretenimento e de uma forma muito original.

Vale muito a pena assistir!"

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"Imagina se aquela série do diretor José Padilha, "O Mecanismo" da Netflix, que retrata os bastidores da Lava-Jato e todas as ramificações até o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, fosse contada de uma forma mais leve, irônica, quase satírica, sem, obviamente, esquecer que todos os fatos retratados na narrativa são, de fato, reais! Pois bem, "Os Encanadores da Casa Branca", produção da HBO, é mais ou menos isso, já que ela acompanha os detalhes da operação política mais catastrófica da história dos Estados Unidos, conhecida como o "Caso Watergate", só que dessa vez pela ótica dos próprios criminosos. Mas atenção: para uma experiência mais interessante, é preciso ter o mínimo de conhecimento sobre o caso e seus principais personagens. Se esse não é o seu caso, sugiro assistir ao filme "Todos Os Homens do Presidente" (de 1976), que oferecerá um prólogo bastante satisfatório.

A minissérie basicamente acompanha E. Howard Hunt (interpretado por Woody Harrelson) e Gordon Liddy (interpretado por Justin Theroux), dois espiões veteranos, um da CIA e outro do FBI, que passaram a trabalhar no comitê de reeleição do então presidente Richard Nixon e que foram as mentes por trás do escândalo Watergate que derrubou acidentalmente o político que estavam tentando proteger. Confira o trailer:

Em 2007, Egil Krogh, advogado da administração de Richard Nixon que foi condenado à prisão por seu envolvimento no caso Watergate, escreveu um livro sobre o assunto com a ajuda de seu filho Matthew, que foi inicialmente batizado de "Integridade", mas que depois ganhou uma edição com o nome de "Os Encanadores da Casa Branca"- foi esse livro que serviu de base para a minissérie da HBO. Para quem não sabe, o caso Watergate foi um escândalo político que ocorreu nos Estados Unidos na década de 1970, quando cinco homens foram presos por tentarem invadir o escritório do Partido Democrata, no complexo Watergate. As investigações revelaram que a invasão estava ligada a uma série de atividades ilegais realizadas pelo comitê de reeleição do Presidente Nixon, que buscava obter vantagens políticas e assim vencer nas urnas. O caso envolveu suborno, obstrução da justiça e abuso de poder, levando à renúncia do presidente em 1974.

Aqui, os criadores Alex Gregory e Peter Huyck, ambos produtores de "Veep", se unem mais uma vez ao diretor David Mandel para construir uma atmosfera envolvente que mistura o melhor do drama político com o tragicômico da idolatria política - repare como, em tempos de total polarização, o assunto é até mais atemporal do que podemos imaginar e estupidamente repetitivo ao longo das décadas, no mundo inteiro. A obsessão que seus protagonistas nutrem por Nixon soa bizarra, mas é inegável como o roteiro expande essas camadas de forma fluida e inteligente para criar um paralelo consistente entre corrupção, desvio de caráter e, claro, as consequências catastróficas que uma servidão cega pode trazer como efeito colateral.

Com um verdadeiro show de Harrelson (sempre ele) e Theroux, "White House Plumbers" (no original) brilha - mesmo carregando o peso de abordar a maior quantidade de fatos possíveis, muitos deles inacreditáveis, ao longo de uma linha temporal curta que a narrativa escolheu para contextualizar o Watergate. Veja, o apego à realidade é tão grande que, cinematograficamente, soa excessivo. Dito isso, fica fácil afirmar que a minissérie não é uma jornada das mais fáceis; no entanto, com o mínimo de conhecimento do caso, ela é um mergulho na história democrática americana com muito entretenimento e de uma forma muito original.

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Os Miseráveis

Esse filme é simplesmente espetacular - e com a mais absoluta certeza, não fosse o fenômeno "Parasita", seria o grande vencedor do Oscar 2020 na categoria "Melhor Filme Estrangeiro". "Les Miserables" (no original) parte da premissa da famosa obra de Vitor Hugo para discutir a realidade multicultural na França, especialmente em Paris. Com um conceito visual extremamente poético na sua essência cinematográfica e contrastando com uma narrativa visceral do seu roteiro incrivelmente realista, o filme dirigido pelo talentoso (e estreante) Ladj Ly, sem exagero algum, pode ser considerado uma obra-prima - uma espécie de "Cidade de Deus" francês!  

Stéphane (Damien Bonnard) é um jovem oficial que acaba de se mudar para Montfermeil e se junta ao esquadrão anti-crime daquela comuna (uma espécie de comunidade multi-racial situada nos subúrbios de Paris). Convocado para atuar no mesmo time de Chris (Alexis Manenti) e Gwada (Djibril Zonga), dois policiais de métodos pouco convencionais, em menos de 24 horas, ele logo se vê envolvido um uma verdadeira "guerra de percepções" resultado de uma enorme tensão entre as diferentes gangues do local e a própria polícia. Confira o trailer (em inglês):

Baseado em seu premiado curta-metragem de 2017, o diretor malinês Ladj Ly se apropria do contexto marcante das manifestações de 2005 na França para ampliar sua (já provada e bem sucedida) narrativa para entregar uma obra conectada com uma realidade europeia pautada na violência e na intolerância racial, social, religiosa e, claro, cultural. O aspecto documental de "Os Miseráveis" traz para uma potente narrativa, elementos tão marcantes de obras como "Florida Project" (no seu aspecto mais emocional) e "Je Suis Karl"(no seu lado mais impactante) - eu diria que é o encontro do caos com o sentimento mais íntimo do não-pertencimento. Impressionante!

O fato do diretor ser um morador de Montfermeil acaba chancelando um aspecto importante, mas que teria tudo para se tornar um problema: a caracterização dos personagens sempre pensado, construído e desenvolvido com o simples intuito de tipificar alguém - do branco racista ao muçulmano espiritualmente redescoberto. Fernando Meirelles fez muito disso em "Cidade de Deus" e, como lá, aqui também funcionou.  O impacto dos personagens na história é essencial, principalmente quando explora temas sensíveis à sociedade moderna e também quando busca levantar questões que o próprio estilo de Ly faz questão de jogar na nossa cara com sua câmera nervosa ou com sua lente 85mm que coloca os atores em close-ups capazes de tocar nossa alma.

"Os Miseráveis" não é uma versão moderna do clássico francês como muitos podem achar, embora as referências, obviamente, sejam gigantescas. O filme também não é um drama policial ao melhor estilo "Dia de Treinamento" mesmo com suas similaridades narrativas. O que temos aqui é um encontro entre o cinema independente na sua forma, com a importância cultural que o cinema de ação pode provocar - uma aula de direção, de fotografia (do premiado com o César Awards, Julien Poupard) e de um roteiro que é capaz de trabalhar com muita sensibilidade a simbologia da união de uma nação em meio a uma Copa do Mundo (e o prólogo só reforça a ideia) com a dolorosa imagem de uma criança segurando um coquetel molotov achando que ali está a solução para todos os problemas estruturais de um país dividido na sua essência.

Olha, vale muito a pena!

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Esse filme é simplesmente espetacular - e com a mais absoluta certeza, não fosse o fenômeno "Parasita", seria o grande vencedor do Oscar 2020 na categoria "Melhor Filme Estrangeiro". "Les Miserables" (no original) parte da premissa da famosa obra de Vitor Hugo para discutir a realidade multicultural na França, especialmente em Paris. Com um conceito visual extremamente poético na sua essência cinematográfica e contrastando com uma narrativa visceral do seu roteiro incrivelmente realista, o filme dirigido pelo talentoso (e estreante) Ladj Ly, sem exagero algum, pode ser considerado uma obra-prima - uma espécie de "Cidade de Deus" francês!  

Stéphane (Damien Bonnard) é um jovem oficial que acaba de se mudar para Montfermeil e se junta ao esquadrão anti-crime daquela comuna (uma espécie de comunidade multi-racial situada nos subúrbios de Paris). Convocado para atuar no mesmo time de Chris (Alexis Manenti) e Gwada (Djibril Zonga), dois policiais de métodos pouco convencionais, em menos de 24 horas, ele logo se vê envolvido um uma verdadeira "guerra de percepções" resultado de uma enorme tensão entre as diferentes gangues do local e a própria polícia. Confira o trailer (em inglês):

Baseado em seu premiado curta-metragem de 2017, o diretor malinês Ladj Ly se apropria do contexto marcante das manifestações de 2005 na França para ampliar sua (já provada e bem sucedida) narrativa para entregar uma obra conectada com uma realidade europeia pautada na violência e na intolerância racial, social, religiosa e, claro, cultural. O aspecto documental de "Os Miseráveis" traz para uma potente narrativa, elementos tão marcantes de obras como "Florida Project" (no seu aspecto mais emocional) e "Je Suis Karl"(no seu lado mais impactante) - eu diria que é o encontro do caos com o sentimento mais íntimo do não-pertencimento. Impressionante!

O fato do diretor ser um morador de Montfermeil acaba chancelando um aspecto importante, mas que teria tudo para se tornar um problema: a caracterização dos personagens sempre pensado, construído e desenvolvido com o simples intuito de tipificar alguém - do branco racista ao muçulmano espiritualmente redescoberto. Fernando Meirelles fez muito disso em "Cidade de Deus" e, como lá, aqui também funcionou.  O impacto dos personagens na história é essencial, principalmente quando explora temas sensíveis à sociedade moderna e também quando busca levantar questões que o próprio estilo de Ly faz questão de jogar na nossa cara com sua câmera nervosa ou com sua lente 85mm que coloca os atores em close-ups capazes de tocar nossa alma.

"Os Miseráveis" não é uma versão moderna do clássico francês como muitos podem achar, embora as referências, obviamente, sejam gigantescas. O filme também não é um drama policial ao melhor estilo "Dia de Treinamento" mesmo com suas similaridades narrativas. O que temos aqui é um encontro entre o cinema independente na sua forma, com a importância cultural que o cinema de ação pode provocar - uma aula de direção, de fotografia (do premiado com o César Awards, Julien Poupard) e de um roteiro que é capaz de trabalhar com muita sensibilidade a simbologia da união de uma nação em meio a uma Copa do Mundo (e o prólogo só reforça a ideia) com a dolorosa imagem de uma criança segurando um coquetel molotov achando que ali está a solução para todos os problemas estruturais de um país dividido na sua essência.

Olha, vale muito a pena!

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Oslo

Todo projeto baseado em um espetáculo de teatro tende a sofrer com a limitação cênica - ou seja, muitas cenas acontecem exatamente no mesmo cenário, o que dificulta a criação de uma dinâmica narrativa mais eficiente, mesmo com um roteiro inteligente e chancelado como uma das grandes vencedoras do Prêmio Tony durante as temporadas 2016/17. O fato é que "Oslo" é muito bom, mas não será inesquecível como "Chernobyl", por exemplo. 

O filme mostra as intermináveis negociações secretas que levaram ao Acordo de Paz de Oslo em 1993, entre Israel e aOLP (Organização para a Libertação da Palestina), liderada porYasser Arafat e orquestrado por dois funcionários do governo norueguês: Mona Juul (Ruth Wilson) e Terje Rød-Larsen (Andrew Scott). Esse é um momento breve, mas brilhante na história politica mundial - embora o "Acordo de Oslo" não tenha resultado em um processo de paz duradouro, ele continua representando um ponto de esperança diplomático quando pessoas de boa-vontade se reúnem e conversam sem preconceitos em busca de um bem maior. Confira o trailer:

Com um tema bastante sensível, é perceptível o cuidado do roteirista J.T. Rogers e do diretor Bartlett Sher, ambos estreantes, para que não haja nenhum desequilíbrio ideológico muito evidente entre o posicionamento de Israel ou dos palestinos, sobre diversos assuntos discutidos naqueles dias - uma outra produção da HBO sobre as diferenças entre os dois povos e que merece ser assistida é "Our Boys".

Pois bem, alguns pontos diplomáticos entre a Noruega e os dois países, inclusive, foram omitidos, outros, tratados rapidamente, mas nada que impacte na experiência que é acompanhar uma negociação marcada por um rancor histórico. Vale ressaltar que os diálogos podem fugir um pouco do que realmente aconteceu na realidade, mas é de se elogiar a simplicidade como o problema é exposto sem ser didático demais e a forma marcante como os personagens se relacionam entre si ajudam no entendimento - talvez um pouco fora do tom em alguns momentos, pouco esteriotipados como é o caso de Jeff Wilbusch com seu Uri Savir. Aliás, do elenco, Salim Daucomo Ahmed Qurei (representante de Yasser Arafat) é o ponto alto do filme.

"Oslo" tem um mérito de deixar bem claro que não existe uma única narrativa dos fatos que os levaram até ali e que nenhuma delas necessariamente é a verdadeira - apenas versões de ambos os lados. O filme não ignora o fato de que o conflito entre Israel e palestinos é o resultado de um emaranhado de histórias que foram inflamadas ao longo do tempo, seja pela guerra, pelo colonialismo, pelo Holocausto ou também pela forma como tudo sempre foi noticiado. Não há heróis e muito menos bandidos. Não se trata de uma jornada de Mona e Terje para alcançar a paz, mas sim de mostrar qual o papel de cada um deles nesse momento relevante da história recente e aí cabe um crítica: talvez "Oslo" merecesse ser uma minissérie - muitas passagens, personagens e discussões poderiam tranquilamente ser melhor explorados. 

"Oslo" não é brilhante como já atestamos, mas é importante, interessante e bem realizado - para quem gosta de teatro, a dinâmica será melhor absorvida. Vale a pena? Claro, ainda mais pelo momento onde o confronto entre Israel e Palestina voltou a ser notícia em uma história marcada por questões territoriais, históricas e religiosas que nós, de muito longe, não somos capazes de entender.

Assista Agora

Todo projeto baseado em um espetáculo de teatro tende a sofrer com a limitação cênica - ou seja, muitas cenas acontecem exatamente no mesmo cenário, o que dificulta a criação de uma dinâmica narrativa mais eficiente, mesmo com um roteiro inteligente e chancelado como uma das grandes vencedoras do Prêmio Tony durante as temporadas 2016/17. O fato é que "Oslo" é muito bom, mas não será inesquecível como "Chernobyl", por exemplo. 

O filme mostra as intermináveis negociações secretas que levaram ao Acordo de Paz de Oslo em 1993, entre Israel e aOLP (Organização para a Libertação da Palestina), liderada porYasser Arafat e orquestrado por dois funcionários do governo norueguês: Mona Juul (Ruth Wilson) e Terje Rød-Larsen (Andrew Scott). Esse é um momento breve, mas brilhante na história politica mundial - embora o "Acordo de Oslo" não tenha resultado em um processo de paz duradouro, ele continua representando um ponto de esperança diplomático quando pessoas de boa-vontade se reúnem e conversam sem preconceitos em busca de um bem maior. Confira o trailer:

Com um tema bastante sensível, é perceptível o cuidado do roteirista J.T. Rogers e do diretor Bartlett Sher, ambos estreantes, para que não haja nenhum desequilíbrio ideológico muito evidente entre o posicionamento de Israel ou dos palestinos, sobre diversos assuntos discutidos naqueles dias - uma outra produção da HBO sobre as diferenças entre os dois povos e que merece ser assistida é "Our Boys".

Pois bem, alguns pontos diplomáticos entre a Noruega e os dois países, inclusive, foram omitidos, outros, tratados rapidamente, mas nada que impacte na experiência que é acompanhar uma negociação marcada por um rancor histórico. Vale ressaltar que os diálogos podem fugir um pouco do que realmente aconteceu na realidade, mas é de se elogiar a simplicidade como o problema é exposto sem ser didático demais e a forma marcante como os personagens se relacionam entre si ajudam no entendimento - talvez um pouco fora do tom em alguns momentos, pouco esteriotipados como é o caso de Jeff Wilbusch com seu Uri Savir. Aliás, do elenco, Salim Daucomo Ahmed Qurei (representante de Yasser Arafat) é o ponto alto do filme.

"Oslo" tem um mérito de deixar bem claro que não existe uma única narrativa dos fatos que os levaram até ali e que nenhuma delas necessariamente é a verdadeira - apenas versões de ambos os lados. O filme não ignora o fato de que o conflito entre Israel e palestinos é o resultado de um emaranhado de histórias que foram inflamadas ao longo do tempo, seja pela guerra, pelo colonialismo, pelo Holocausto ou também pela forma como tudo sempre foi noticiado. Não há heróis e muito menos bandidos. Não se trata de uma jornada de Mona e Terje para alcançar a paz, mas sim de mostrar qual o papel de cada um deles nesse momento relevante da história recente e aí cabe um crítica: talvez "Oslo" merecesse ser uma minissérie - muitas passagens, personagens e discussões poderiam tranquilamente ser melhor explorados. 

"Oslo" não é brilhante como já atestamos, mas é importante, interessante e bem realizado - para quem gosta de teatro, a dinâmica será melhor absorvida. Vale a pena? Claro, ainda mais pelo momento onde o confronto entre Israel e Palestina voltou a ser notícia em uma história marcada por questões territoriais, históricas e religiosas que nós, de muito longe, não somos capazes de entender.

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Parasita

Não é por acaso que "Parasita" é considerado um dos melhores filmes de 2019! Embora seja uma produção sul-coreana, que para muitos pode causar um certo estranhamento devido ao idioma, o filme de Bong Joon Ho (Okja) tem elementos narrativos (e até conceituais) que nos lembram "Era uma vez em Hollywood" do Tarantino e "Nós" de Jordan Peele. É preciso deixar claro que "Parasita" é um filme de metáforas e faz do seu roteiro uma das coisas mais bacanas que assisti recentemente. Então vamos partir do principio: parasita é um organismo que vive às custas de outro organismo, obtendo dele alimento e causando danos - agora aplique isso em uma crítica muito bem embasada sobre a sociedade moderna e a diferenciação de classes. Importante: a genialidade do filme está em tocar em assuntos extremamente delicados sem precisar impor qualquer tipo de discussão filosófica ou política (por mais que ele saiba perfeitamente onde quer chegar)! 

"Parasita" conta a história de como duas famílias completamente distintas socialmente que acabam se relacionando: Os "Kim", representam uma família mais pobre, que sobrevive dobrando caixas de papelão. Eles vivem em uma espécie de sótão, bem na periferia, e que mal conseguem dinheiro para comer. Os "Park", já representam um família mais rica, com um homem bem sucedido no comando e uma mulher que cuida da casa cercada de empregados e cheia de neuroses sobre a educação dos filhos. Eles vivem em uma casa maravilhosa, com muito conforto e espaço! O mundo dessas duas famílias se encontram quando, depois de uma indicação, o jovem Ki-woo (Woo-sik Choi), da família "Kin", se torna tutor de inglês da filha mais velha dos "Park", Da-hye (Ji-so Jung). Ki-woo, ao perceber que se trata de uma família bastante ingênua e completamente fora da realidade, vê a oportunidade de colocar os outros membros da família para também trabalhar com os "Park" - mesmo que para isso seja necessário trapacear e tirar quem já trabalhava lá. O interessante é que essa dinâmica dos "Kin" não carrega o peso da desonestidade e isso é discutido durante o filme sem a obrigação de se fazer julgamentos, afinal, eles "só" queriam ganhar mais dinheiro e viver com mais dignidade, embora, como parasitas, para se obter o alimento, certamente, algum dano precisaria ser causado!

Um dos elementos que mais me impressionou enquanto assistia "Parasita" foi a facilidade de como o roteiro (do próprio Bong Joon Ho e do novato Jin Won Han) traduzia cada um dos extremos sociais dessa história sem efetivamente transformar nenhum dos lados em um vilão, mesmo que apontando seus defeitos e fraquezas. O roteiro deixa muito fácil de se entender que não se tratam de pessoas más, mas de pessoas aprisionadas em mundos completamente opostos e que por isso pagam o preço das oportunidades.

Reparem como o diretor enquadra a janela principal da casa dos "Kin" - é como se eles estivem dentro de um bueiro e depois insiste em mostrar a importância (e a imponência) das escadas na casa dos "Park". Ou quando Ki-woo diz que não estava enganando ninguém ao falsificar um diploma para conseguir o emprego, apenas imprimiu ele antes de fazer a faculdade! E quando Park comenta com a esposa sobre o cheiro dos empregados e que isso lembrava muito o cheiro do metro. Ela logo responde que fazia anos que não andava de metro e mesmo assim Park retruca dizendo que as pessoas no metro tinham um cheiro bem peculiar! - é muito interessante não enxergar a maldade que os diálogos sugerem, graças a uma apresentação de personagens incrível! Outro detalhe bem interessante é a forma como os atores se movimentam em cena: os "Kin" são como baratas, esperam o momento certo para ir de um lado para o outro, enquanto os "Park" não olham para baixo em momento algum, sendo assim não percebem nem os "insetos" que os rodeiam! O filme é cheio dessas metáforas. São só exemplos e acreditem: existe muito mais profundidade nos diálogos que podemos imaginar!

A fotografia é algo interessante também, além dos já citados enquadramentos e movimentos de câmera, Kyung-pyo Hong faz um trabalho incrível ao lado do departamento de arte: a casa dos "Kim", por exemplo, é apertada, com muita coisa amontoada, sem padrão de cor para criar a sensação de caos, mas com uma certa escuridão - chega a ser angustiante, sujo. Já na casa dos "Park" vemos um estilo totalmente "clean" com tudo hermeticamente organizado ao mesmo tempo que o tom mais "pastel" e a iluminação amarelada traduz um certo aconchego. Já caminhando para o final, tem uma sequência linda, onde chove muito e sentimos exatamente o que representa as dores de tanta diferença social - o diálogo de Park Yeon-kyo no dia seguinte, só fortalece a maneira como essas realidades lidam com cada detalhe da história - é muito bom!!! Vale ressaltar que o Desenho de Produção de "Parasita" foi indicado ao Oscar 2020 e não vou me surpreender se levar! Reparem em cada detalhe, porque é muito fácil perceber a mensagem que Bong Joon Ho quer passar. O elenco está incrível: todos, sem exceção! Me surpreende nenhum dos atores ter sido indicado ao Oscar, mas a recente vitória no SAG Awards, o prêmio do Sindicato de Atores de Hollywood, corrige esse conservadorismo da Academia - e vale ressaltar que o elenco do filme coreano foi aplaudido de pé durante a premiação!

Com um orçamento de US$ 11 milhões, "Parasita" arrecadou mais que dez vezes esse valor pelo mundo inteiro, chegando a US$ 140 milhões. Ganhou mais de 150 prêmios em Festivais Internacionais (inclusive Cannes) e foi indicado para outros 150. Teve papel importante em premiações de peso como Globo de Ouro e SAG Awards. É o grande favorito (eu diria que barbada) para levar o Oscar de Filme Estrangeiro e deve beliscar pelo menos mais uma ou duas categorias das seis em que foi indicado. "Parasita" é um fenômeno do mesmo nível (ou maior) que "A vida é bela" - acredito, inclusive, que se o filme fosse americano, seria o vencedor do ano! É fato que a Academia reconhece a obra, claro, mas não sei se teria coragem de coloca-la na frente de nomes como Tarantino ou Scorsese e de filmes como 1917 ou Coringa - por merecimento, seria o campeão da noite; por intuição o páreo ainda está aberto! Não deixe de assistir!

Up-date: "Parasita" ganhou em quatro categorias no Oscar 2020: Melhor Filme, Melhor Filme Internacional, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original!

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Não é por acaso que "Parasita" é considerado um dos melhores filmes de 2019! Embora seja uma produção sul-coreana, que para muitos pode causar um certo estranhamento devido ao idioma, o filme de Bong Joon Ho (Okja) tem elementos narrativos (e até conceituais) que nos lembram "Era uma vez em Hollywood" do Tarantino e "Nós" de Jordan Peele. É preciso deixar claro que "Parasita" é um filme de metáforas e faz do seu roteiro uma das coisas mais bacanas que assisti recentemente. Então vamos partir do principio: parasita é um organismo que vive às custas de outro organismo, obtendo dele alimento e causando danos - agora aplique isso em uma crítica muito bem embasada sobre a sociedade moderna e a diferenciação de classes. Importante: a genialidade do filme está em tocar em assuntos extremamente delicados sem precisar impor qualquer tipo de discussão filosófica ou política (por mais que ele saiba perfeitamente onde quer chegar)! 

"Parasita" conta a história de como duas famílias completamente distintas socialmente que acabam se relacionando: Os "Kim", representam uma família mais pobre, que sobrevive dobrando caixas de papelão. Eles vivem em uma espécie de sótão, bem na periferia, e que mal conseguem dinheiro para comer. Os "Park", já representam um família mais rica, com um homem bem sucedido no comando e uma mulher que cuida da casa cercada de empregados e cheia de neuroses sobre a educação dos filhos. Eles vivem em uma casa maravilhosa, com muito conforto e espaço! O mundo dessas duas famílias se encontram quando, depois de uma indicação, o jovem Ki-woo (Woo-sik Choi), da família "Kin", se torna tutor de inglês da filha mais velha dos "Park", Da-hye (Ji-so Jung). Ki-woo, ao perceber que se trata de uma família bastante ingênua e completamente fora da realidade, vê a oportunidade de colocar os outros membros da família para também trabalhar com os "Park" - mesmo que para isso seja necessário trapacear e tirar quem já trabalhava lá. O interessante é que essa dinâmica dos "Kin" não carrega o peso da desonestidade e isso é discutido durante o filme sem a obrigação de se fazer julgamentos, afinal, eles "só" queriam ganhar mais dinheiro e viver com mais dignidade, embora, como parasitas, para se obter o alimento, certamente, algum dano precisaria ser causado!

Um dos elementos que mais me impressionou enquanto assistia "Parasita" foi a facilidade de como o roteiro (do próprio Bong Joon Ho e do novato Jin Won Han) traduzia cada um dos extremos sociais dessa história sem efetivamente transformar nenhum dos lados em um vilão, mesmo que apontando seus defeitos e fraquezas. O roteiro deixa muito fácil de se entender que não se tratam de pessoas más, mas de pessoas aprisionadas em mundos completamente opostos e que por isso pagam o preço das oportunidades.

Reparem como o diretor enquadra a janela principal da casa dos "Kin" - é como se eles estivem dentro de um bueiro e depois insiste em mostrar a importância (e a imponência) das escadas na casa dos "Park". Ou quando Ki-woo diz que não estava enganando ninguém ao falsificar um diploma para conseguir o emprego, apenas imprimiu ele antes de fazer a faculdade! E quando Park comenta com a esposa sobre o cheiro dos empregados e que isso lembrava muito o cheiro do metro. Ela logo responde que fazia anos que não andava de metro e mesmo assim Park retruca dizendo que as pessoas no metro tinham um cheiro bem peculiar! - é muito interessante não enxergar a maldade que os diálogos sugerem, graças a uma apresentação de personagens incrível! Outro detalhe bem interessante é a forma como os atores se movimentam em cena: os "Kin" são como baratas, esperam o momento certo para ir de um lado para o outro, enquanto os "Park" não olham para baixo em momento algum, sendo assim não percebem nem os "insetos" que os rodeiam! O filme é cheio dessas metáforas. São só exemplos e acreditem: existe muito mais profundidade nos diálogos que podemos imaginar!

A fotografia é algo interessante também, além dos já citados enquadramentos e movimentos de câmera, Kyung-pyo Hong faz um trabalho incrível ao lado do departamento de arte: a casa dos "Kim", por exemplo, é apertada, com muita coisa amontoada, sem padrão de cor para criar a sensação de caos, mas com uma certa escuridão - chega a ser angustiante, sujo. Já na casa dos "Park" vemos um estilo totalmente "clean" com tudo hermeticamente organizado ao mesmo tempo que o tom mais "pastel" e a iluminação amarelada traduz um certo aconchego. Já caminhando para o final, tem uma sequência linda, onde chove muito e sentimos exatamente o que representa as dores de tanta diferença social - o diálogo de Park Yeon-kyo no dia seguinte, só fortalece a maneira como essas realidades lidam com cada detalhe da história - é muito bom!!! Vale ressaltar que o Desenho de Produção de "Parasita" foi indicado ao Oscar 2020 e não vou me surpreender se levar! Reparem em cada detalhe, porque é muito fácil perceber a mensagem que Bong Joon Ho quer passar. O elenco está incrível: todos, sem exceção! Me surpreende nenhum dos atores ter sido indicado ao Oscar, mas a recente vitória no SAG Awards, o prêmio do Sindicato de Atores de Hollywood, corrige esse conservadorismo da Academia - e vale ressaltar que o elenco do filme coreano foi aplaudido de pé durante a premiação!

Com um orçamento de US$ 11 milhões, "Parasita" arrecadou mais que dez vezes esse valor pelo mundo inteiro, chegando a US$ 140 milhões. Ganhou mais de 150 prêmios em Festivais Internacionais (inclusive Cannes) e foi indicado para outros 150. Teve papel importante em premiações de peso como Globo de Ouro e SAG Awards. É o grande favorito (eu diria que barbada) para levar o Oscar de Filme Estrangeiro e deve beliscar pelo menos mais uma ou duas categorias das seis em que foi indicado. "Parasita" é um fenômeno do mesmo nível (ou maior) que "A vida é bela" - acredito, inclusive, que se o filme fosse americano, seria o vencedor do ano! É fato que a Academia reconhece a obra, claro, mas não sei se teria coragem de coloca-la na frente de nomes como Tarantino ou Scorsese e de filmes como 1917 ou Coringa - por merecimento, seria o campeão da noite; por intuição o páreo ainda está aberto! Não deixe de assistir!

Up-date: "Parasita" ganhou em quatro categorias no Oscar 2020: Melhor Filme, Melhor Filme Internacional, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original!

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Privacidade Hackeada

O que as eleições da Argentina em 2015, Trindade e Tobago em 2009, Índia em 2010, Malásia em 2013, Itália em 2012, Quênia em 2013 e Colômbia 2011 tem em comum? Por mais surpreendente que possa parecer a resposta, o seu complemento é ainda mais assustador: "análise de dados"... "roubados". A responsável por isso interferiu em dois recentes momentos históricos da politica mundial: a improvável eleição de Trump e o plebicito do Brexit. "Privacidade Hackeada", documentário original da Netflix, mostra como esses dados roubados ajudaram na manipulação de eleitores indecisos nesses dois eventos políticos e quais foram as consequências no processo de fragilização da democracia. Tendo como vilões dois personagens-chave: o Facebook e a Cambridge Analytica, o documentário analisa cada um dos movimentos estratégicos que renderam milhões de dólares para a empresa inglesa e uma grande dor de cabeça para o Mark Zuckerberg. É preciso dizer que o volume de informações prejudica a experiência de quem assiste e não conhece do assunto - por isso sugiro que, antes do documentário, você assista o filme da HBO "Brexit", pois nele fica mais fácil perceber como esses dados roubados foram, na prática, fundamentais na estratégia de campanha do "Leave.EU". O documentário vale muito a pena, mas claramente tem o objetivo de demonizar a tecnologia e o tamanho da nossa exposição que ela gera quando clicamos no quadradinho "aceito" de vários aplicativos e sites!

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O que as eleições da Argentina em 2015, Trindade e Tobago em 2009, Índia em 2010, Malásia em 2013, Itália em 2012, Quênia em 2013 e Colômbia 2011 tem em comum? Por mais surpreendente que possa parecer a resposta, o seu complemento é ainda mais assustador: "análise de dados"... "roubados". A responsável por isso interferiu em dois recentes momentos históricos da politica mundial: a improvável eleição de Trump e o plebicito do Brexit. "Privacidade Hackeada", documentário original da Netflix, mostra como esses dados roubados ajudaram na manipulação de eleitores indecisos nesses dois eventos políticos e quais foram as consequências no processo de fragilização da democracia. Tendo como vilões dois personagens-chave: o Facebook e a Cambridge Analytica, o documentário analisa cada um dos movimentos estratégicos que renderam milhões de dólares para a empresa inglesa e uma grande dor de cabeça para o Mark Zuckerberg. É preciso dizer que o volume de informações prejudica a experiência de quem assiste e não conhece do assunto - por isso sugiro que, antes do documentário, você assista o filme da HBO "Brexit", pois nele fica mais fácil perceber como esses dados roubados foram, na prática, fundamentais na estratégia de campanha do "Leave.EU". O documentário vale muito a pena, mas claramente tem o objetivo de demonizar a tecnologia e o tamanho da nossa exposição que ela gera quando clicamos no quadradinho "aceito" de vários aplicativos e sites!

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Proibido por Deus

"Proibido por Deus" é muito bom! Esse documentário produzido pela Hulu (e que aqui no Brasil você encontra no Star+) acompanha mais uma história "cabeluda" que expõe aquela receita explosiva que tem tudo para dar errado: politica, religião, sexo e poder, com um certo toque especial de hipocrisia que a sociedade americana adora fingir que não existe. Mesmo que inicialmente nossa percepção seja baseada em uma única perspectiva sobre o escândalo que derrubou Jerry Fallwell Jr., filho de um dos mais influentes pastores evangélicos do país, diretor da Liberty University e um dos mais importantes apoiadores de Donald Trump durante a campanha que o levou à presidência dos EUA, o filme dirigido pelo premiado Billy Corben (de "Cocaine Cowboys: The Kings of Miami") se esforça para equilibrar inúmeros fatos relevantes sobre o caso com um recorte de como a comunidade evangélica e o culto à personalidade podem, de fato, decidir uma eleição presidencial.

"God Forbid: The Sex Scandal that Brought Down a Dynasty" (no original) nos apresenta Giancarlo Granda, um ex-funcionário do badalado Fontainebleau Hotel em Miami Beach, que compartilha detalhes íntimos sobre seu relacionamento de 7 anos com uma mulher 20 anos mais velha, Becki Falwell, e seu influente marido, Jerry Falwell Jr. Confira o trailer (em inglês):

Com uma pegada que mistura "Jeffrey Epstein: Poder e Perversão" (da Netflix) com "The Vow" (da HBO), "Proibido por Deus" é muito mais do que um olhar ingênuo sobre fantasias e desejos como pode parecer em seu primeiro ato, já que o roteiro não se limita em contar apenas as aventuras sexuais de um complicado e sórdido relacionamento de Granda com o casal de evangélicos, mas em uma camada mais profunda, ele discute a enorme influência que a rica cúpula evangélica americana tem sobre a política dos Estados Unidos e sobre a perigosa ascensão do ultra-nacionalismo cristão. Veja, é muito interessante como Corben vai contextualizando os acontecimentos envolvendo Granda e os Fallwell, e criando pontos de conexão com uma herança histórica, social e politica vergonhosa.

Através de uma narrativa extremamente envolvente e dinâmica que mostra, aí sim, os reflexos da falta de maturidade de um jovem ambicioso, o filme acaba provocando discussões significativas ao levantar questões importantes sobre as lideranças religiosas, sobre os valores mais conservadores, sobre a ética pessoal e, principalmente, sobre moralidade - talvez por isso, esse caso tenha ganhado uma repercussão tão importante ao mostrar a capacidade que os escândalos tem em influenciar a percepção pública e a reputação dos envolvidos em tempos de redes sociais, mesmo que isso vá mudando enquanto as verdades vão aparecendo.

Se apropriando de um tom de denúncia, "Proibido por Deus" funciona muito bem como entretenimento, no entanto não deixa de tocar em pontos sensíveis à condição humana que nos tiram de uma zona de conforto como audiência, e, claro, nos convida ao julgamento - esse conceito funciona tão bem que nem vemos o tempo passar, mesmo quando a história parece não caminhar para uma conclusão. Dito isso, tenho certeza que vale pela diversão então fica impossível não recomendar o play!

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"Proibido por Deus" é muito bom! Esse documentário produzido pela Hulu (e que aqui no Brasil você encontra no Star+) acompanha mais uma história "cabeluda" que expõe aquela receita explosiva que tem tudo para dar errado: politica, religião, sexo e poder, com um certo toque especial de hipocrisia que a sociedade americana adora fingir que não existe. Mesmo que inicialmente nossa percepção seja baseada em uma única perspectiva sobre o escândalo que derrubou Jerry Fallwell Jr., filho de um dos mais influentes pastores evangélicos do país, diretor da Liberty University e um dos mais importantes apoiadores de Donald Trump durante a campanha que o levou à presidência dos EUA, o filme dirigido pelo premiado Billy Corben (de "Cocaine Cowboys: The Kings of Miami") se esforça para equilibrar inúmeros fatos relevantes sobre o caso com um recorte de como a comunidade evangélica e o culto à personalidade podem, de fato, decidir uma eleição presidencial.

"God Forbid: The Sex Scandal that Brought Down a Dynasty" (no original) nos apresenta Giancarlo Granda, um ex-funcionário do badalado Fontainebleau Hotel em Miami Beach, que compartilha detalhes íntimos sobre seu relacionamento de 7 anos com uma mulher 20 anos mais velha, Becki Falwell, e seu influente marido, Jerry Falwell Jr. Confira o trailer (em inglês):

Com uma pegada que mistura "Jeffrey Epstein: Poder e Perversão" (da Netflix) com "The Vow" (da HBO), "Proibido por Deus" é muito mais do que um olhar ingênuo sobre fantasias e desejos como pode parecer em seu primeiro ato, já que o roteiro não se limita em contar apenas as aventuras sexuais de um complicado e sórdido relacionamento de Granda com o casal de evangélicos, mas em uma camada mais profunda, ele discute a enorme influência que a rica cúpula evangélica americana tem sobre a política dos Estados Unidos e sobre a perigosa ascensão do ultra-nacionalismo cristão. Veja, é muito interessante como Corben vai contextualizando os acontecimentos envolvendo Granda e os Fallwell, e criando pontos de conexão com uma herança histórica, social e politica vergonhosa.

Através de uma narrativa extremamente envolvente e dinâmica que mostra, aí sim, os reflexos da falta de maturidade de um jovem ambicioso, o filme acaba provocando discussões significativas ao levantar questões importantes sobre as lideranças religiosas, sobre os valores mais conservadores, sobre a ética pessoal e, principalmente, sobre moralidade - talvez por isso, esse caso tenha ganhado uma repercussão tão importante ao mostrar a capacidade que os escândalos tem em influenciar a percepção pública e a reputação dos envolvidos em tempos de redes sociais, mesmo que isso vá mudando enquanto as verdades vão aparecendo.

Se apropriando de um tom de denúncia, "Proibido por Deus" funciona muito bem como entretenimento, no entanto não deixa de tocar em pontos sensíveis à condição humana que nos tiram de uma zona de conforto como audiência, e, claro, nos convida ao julgamento - esse conceito funciona tão bem que nem vemos o tempo passar, mesmo quando a história parece não caminhar para uma conclusão. Dito isso, tenho certeza que vale pela diversão então fica impossível não recomendar o play!

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Quanto Vale?

Quanto vale uma vida que se foi? Talvez essa seja a pergunta mais difícil de responder independente do motivo pelo qual ela está sendo feita. Em "Worth" (título original) temos a exata noção do quão dolorido é lidar com algum tipo de acordo ou compensação pela vida de alguém que amamos. Ao explorar um lado muito interessante, sensível e difícil do pós 11 de setembro, a jovem e talentosa diretora Sara Colangelo entrega um filme muito mais profundo que seu roteiro e talvez por isso não agrade a todos, mas que sem dúvida merece muito ser visto - mais ou menos como aconteceu com "Oslo".

Após os ataques de 2001 ao World Trade Center e ao Pentágono, o Congresso Americano nomeou o advogado e renomado mediador Kenneth Feinberg (Michael Keaton) para liderar o Fundo de Compensação às Vítimas do 11 de setembro. Encarregados de destinar recursos financeiros para as vítimas da tragédia, Feinberg e sua sócia Camille Biros (Amy Ryan), enfrentam a impossível tarefa de determinar o valor de uma vida, que servirá de auxílio para as famílias que sofreram perdas no atentado. Quando Feinberg conhece Charles Wolf (Stanley Tucci), um organizador comunitário que perdeu sua esposa naquele fatídico dia, ele entende que as coisas não são tão simples e práticas como uma fórmula matemática, e agora precisa encontrar uma maneira de conseguir se aproximar destas famílias que permanecem em luto para cumprir a missão pela qual foi designado. Confira o trailer:

Max Borenstein (Kong: A Ilha da Caveira) teve a difícil tarefa de construir uma linha narrativa interessante e convincente em cima de uma história real que, digamos, não tem uma dinâmica tão claras muito menos empolgante. A relação entre advogado e cliente, no cinema, funciona perfeitamente quando o conflito extrapola a lógica e a busca pela verdade a qualquer preço passa a ser o principal objetivo para alcançar o cálice sagrado da jornada do herói - por isso o fascínio por tantos filmes de tribunal que se tornaram inesquecíveis. Acontece que aqui, o roteiro não consegue seguir essa regra, pois o elemento marcante da história está na busca pelo respeito, pela dor e pelo luto de uma tragédia - e o protagonista não quer isso em nenhum momento.

Veja, o que nos toca em "Quanto vale?" são as histórias que ouvimos dos familiares das vítimas e não o processo de transformação de um personagem prático (como todo advogado) em um ser emocional capaz de se adaptar as circunstâncias para encontrar um solução mais humana e assim ter sucesso na sua missão. Embora Michael Keaton esteja sensacional (mais uma vez), em nenhum momento torcemos por Kenneth Feinberg ou por sua redenção - isso não nos move; por outro lado entender o que sentem as pessoas que tiveram que se relacionar com a perda ou precisam lidar com as marcas do 11 de setembro, isso sim nos toca, mas acaba sendo pouco explorado.

Baseado no livro escrito pelo próprio Feinberg, o protagonista de Keaton passa por uma difícil jornada e sem dúvida transformadora, mas no filme soa atropelada, desequilibrada. Quando Sara Colangelo traz para narrativa a força dos depoimentos doas vítimas, entendemos como a dor verdadeira é muito mais valiosa que os bastidores burocráticos que parece ser o assunto central - o objetivo de proteger a economia americana em um momento de crise para não deixar que companhias aéreas caíssem em longos e custosos processos judiciais. No filme, como "o" filme, quando se trata de uma tragédia como a de 11 de setembro, o burocrático por si só é frágil - o olhar humano vale muito mais do que os diálogos rebuscados que nos afastam da humanidade.

Dito isso, "Quanto vale?" mostra um ponto de vista diferente, curioso e doloroso; é muito bom, mas que não será inesquecível. Vale a pena pela história, pela verdade dos relatos e não pelo luta do protagonista. O play passa a ser essencial por ser mais uma peça importante desse enorme quebra-cabeça, cheio de variáveis que ainda estamos aprendendo a digerir com o passar dor anos. 

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Quanto vale uma vida que se foi? Talvez essa seja a pergunta mais difícil de responder independente do motivo pelo qual ela está sendo feita. Em "Worth" (título original) temos a exata noção do quão dolorido é lidar com algum tipo de acordo ou compensação pela vida de alguém que amamos. Ao explorar um lado muito interessante, sensível e difícil do pós 11 de setembro, a jovem e talentosa diretora Sara Colangelo entrega um filme muito mais profundo que seu roteiro e talvez por isso não agrade a todos, mas que sem dúvida merece muito ser visto - mais ou menos como aconteceu com "Oslo".

Após os ataques de 2001 ao World Trade Center e ao Pentágono, o Congresso Americano nomeou o advogado e renomado mediador Kenneth Feinberg (Michael Keaton) para liderar o Fundo de Compensação às Vítimas do 11 de setembro. Encarregados de destinar recursos financeiros para as vítimas da tragédia, Feinberg e sua sócia Camille Biros (Amy Ryan), enfrentam a impossível tarefa de determinar o valor de uma vida, que servirá de auxílio para as famílias que sofreram perdas no atentado. Quando Feinberg conhece Charles Wolf (Stanley Tucci), um organizador comunitário que perdeu sua esposa naquele fatídico dia, ele entende que as coisas não são tão simples e práticas como uma fórmula matemática, e agora precisa encontrar uma maneira de conseguir se aproximar destas famílias que permanecem em luto para cumprir a missão pela qual foi designado. Confira o trailer:

Max Borenstein (Kong: A Ilha da Caveira) teve a difícil tarefa de construir uma linha narrativa interessante e convincente em cima de uma história real que, digamos, não tem uma dinâmica tão claras muito menos empolgante. A relação entre advogado e cliente, no cinema, funciona perfeitamente quando o conflito extrapola a lógica e a busca pela verdade a qualquer preço passa a ser o principal objetivo para alcançar o cálice sagrado da jornada do herói - por isso o fascínio por tantos filmes de tribunal que se tornaram inesquecíveis. Acontece que aqui, o roteiro não consegue seguir essa regra, pois o elemento marcante da história está na busca pelo respeito, pela dor e pelo luto de uma tragédia - e o protagonista não quer isso em nenhum momento.

Veja, o que nos toca em "Quanto vale?" são as histórias que ouvimos dos familiares das vítimas e não o processo de transformação de um personagem prático (como todo advogado) em um ser emocional capaz de se adaptar as circunstâncias para encontrar um solução mais humana e assim ter sucesso na sua missão. Embora Michael Keaton esteja sensacional (mais uma vez), em nenhum momento torcemos por Kenneth Feinberg ou por sua redenção - isso não nos move; por outro lado entender o que sentem as pessoas que tiveram que se relacionar com a perda ou precisam lidar com as marcas do 11 de setembro, isso sim nos toca, mas acaba sendo pouco explorado.

Baseado no livro escrito pelo próprio Feinberg, o protagonista de Keaton passa por uma difícil jornada e sem dúvida transformadora, mas no filme soa atropelada, desequilibrada. Quando Sara Colangelo traz para narrativa a força dos depoimentos doas vítimas, entendemos como a dor verdadeira é muito mais valiosa que os bastidores burocráticos que parece ser o assunto central - o objetivo de proteger a economia americana em um momento de crise para não deixar que companhias aéreas caíssem em longos e custosos processos judiciais. No filme, como "o" filme, quando se trata de uma tragédia como a de 11 de setembro, o burocrático por si só é frágil - o olhar humano vale muito mais do que os diálogos rebuscados que nos afastam da humanidade.

Dito isso, "Quanto vale?" mostra um ponto de vista diferente, curioso e doloroso; é muito bom, mas que não será inesquecível. Vale a pena pela história, pela verdade dos relatos e não pelo luta do protagonista. O play passa a ser essencial por ser mais uma peça importante desse enorme quebra-cabeça, cheio de variáveis que ainda estamos aprendendo a digerir com o passar dor anos. 

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Quarto 2806

De cara, “Quarto 2806: A Acusação” chama muito a atenção pela qualidade visual do documentário, e que só se fortalece pelos conceitos narrativos muito mais próximos da ficção do que normalmente estamos acostumados a encontrar em uma série como essa. Por outro lado, a história em si é muito indigesta, mas o diretor Jalil Lespert foi muito inteligente ao equilibrar "fatos" com "suposições" a todo momento, o que, naturalmente, nos provoca algumas emoções bem particulares - nem todas tão agradáveis. Veja, é como se estivéssemos assistindo um episódio de "House of Cards", mas da vida real e com consequências muito mais sérias!

A história acompanha as investigações a partir das acusações de assédio sexual de uma camareira (Nafissatou Diallo) de um hotel de luxo em Nova York, contra o ex-diretor do FMI e na época postulante a presidente da França, o político Dominique Strauss-Kahn. Confira o trailer:

Além de nos conduzir por uma narrativa de fácil entendimento, “Quarto 2806: A Acusação” nos mostra tanto a ascensão profissional de Strauss-Kahn, quanto uma verdadeira compulsão sexual que resultou na sua queda. Se a construção de sua carreira se mostrava sólida, suas atitudes pessoais, das mais íntimas às mais descaradas, iam minando seu enorme carisma perante o povo francês e se tornando um prato cheio para seus inimigos - entre eles, seu adversário político, Nicolas Sarkozy. O paralelo entre a maneira como a mídia internacional, particularmente a francesa, e as investigações nos EUA discutem sobre as questõesrelacionadas a DSK (como era conhecido) é apenas um reflexo de como o diretor vai nos colocando na posição de julgamento em todo momento, sem nem mesmo nos apresentar todas as peças do quebra-cabeça e isso é genial!

A acusação de Diallo inicialmente parece forte, consistente, mas depois se mostra insuficiente para batermos o martelo sobre a culpa de DSK, não pela falta de coerência do seu depoimento, mas pela dúvida que o caso vai levantando a cada nova descoberta, o que inclui algumas atitudes da própria vítima - e aqui não estamos nos colocando na posição de senhores da verdade, apenas levantando as versões que o próprio documentário nos apresenta e que a narrativa nos provoca com tanta maestria, como se fizéssemos parte do júri. Reparem como essa isenção de um pré julgamento só vai criando incertezas (mesmo que moralmente pendendo para um dos lados sempre) - a maneira como Anne Sinclair, mulher de Strauss-Kahn e herdeira de uma das maiores fortunas da França, lida com a situação é um grande exemplo dessa dualidade do documentário.

O fato é que “Quarto 2806: A Acusação” não mostra muitas respostas, mas apresenta opiniões e como uma boa conversa entre amigos, vai provocar a discussão e interpretações diferentes! Eu diria que a série de 4 episódios, vale muito a pena pela história, mas talvez tenha ainda mais valor pela forma como ela contada e por tudo que ela nos provoca! 

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De cara, “Quarto 2806: A Acusação” chama muito a atenção pela qualidade visual do documentário, e que só se fortalece pelos conceitos narrativos muito mais próximos da ficção do que normalmente estamos acostumados a encontrar em uma série como essa. Por outro lado, a história em si é muito indigesta, mas o diretor Jalil Lespert foi muito inteligente ao equilibrar "fatos" com "suposições" a todo momento, o que, naturalmente, nos provoca algumas emoções bem particulares - nem todas tão agradáveis. Veja, é como se estivéssemos assistindo um episódio de "House of Cards", mas da vida real e com consequências muito mais sérias!

A história acompanha as investigações a partir das acusações de assédio sexual de uma camareira (Nafissatou Diallo) de um hotel de luxo em Nova York, contra o ex-diretor do FMI e na época postulante a presidente da França, o político Dominique Strauss-Kahn. Confira o trailer:

Além de nos conduzir por uma narrativa de fácil entendimento, “Quarto 2806: A Acusação” nos mostra tanto a ascensão profissional de Strauss-Kahn, quanto uma verdadeira compulsão sexual que resultou na sua queda. Se a construção de sua carreira se mostrava sólida, suas atitudes pessoais, das mais íntimas às mais descaradas, iam minando seu enorme carisma perante o povo francês e se tornando um prato cheio para seus inimigos - entre eles, seu adversário político, Nicolas Sarkozy. O paralelo entre a maneira como a mídia internacional, particularmente a francesa, e as investigações nos EUA discutem sobre as questõesrelacionadas a DSK (como era conhecido) é apenas um reflexo de como o diretor vai nos colocando na posição de julgamento em todo momento, sem nem mesmo nos apresentar todas as peças do quebra-cabeça e isso é genial!

A acusação de Diallo inicialmente parece forte, consistente, mas depois se mostra insuficiente para batermos o martelo sobre a culpa de DSK, não pela falta de coerência do seu depoimento, mas pela dúvida que o caso vai levantando a cada nova descoberta, o que inclui algumas atitudes da própria vítima - e aqui não estamos nos colocando na posição de senhores da verdade, apenas levantando as versões que o próprio documentário nos apresenta e que a narrativa nos provoca com tanta maestria, como se fizéssemos parte do júri. Reparem como essa isenção de um pré julgamento só vai criando incertezas (mesmo que moralmente pendendo para um dos lados sempre) - a maneira como Anne Sinclair, mulher de Strauss-Kahn e herdeira de uma das maiores fortunas da França, lida com a situação é um grande exemplo dessa dualidade do documentário.

O fato é que “Quarto 2806: A Acusação” não mostra muitas respostas, mas apresenta opiniões e como uma boa conversa entre amigos, vai provocar a discussão e interpretações diferentes! Eu diria que a série de 4 episódios, vale muito a pena pela história, mas talvez tenha ainda mais valor pela forma como ela contada e por tudo que ela nos provoca! 

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Reacher

"Reacher" é muito divertida - e para os mais velhos, uma referência narrativa certamente vai emergir da nossa lembrança: "Prison Break". Baseada no aclamado romance "Dinheiro Sujo" de Lee Child, essa produção da Amazon é uma jornada eletrizante através do mundo sombrio e implacável do famoso personagem Jack Reacher - que no cinema foi interpretado por Tom Cruise. Sob o olhar habilidoso de Nick Santora (produtor executivo de "Prison Break" e de "Fubar"), a série é um verdadeiro convite ao entretenimento leve com uma trama cheia de reviravoltas e ação (leia-se pancadaria), que foi capaz capturar a essência de um personagem icônico da literatura com muita maestria, mas sem a pretensão de entregar um estudo complexo da psique humana. Com uma narrativa de fato envolvente e performances cativantes do trio de atores Alan Ritchson, Malcolm Goodwin e Willa Fitzgerald, "Reacher" é a escolha certa para aquele final de semana maratonando algo interessante e divertido com um toque investigativo anos 80.

Após abandonar o Exército dos Estados Unidos, o veterano Jack Reacher (Ritchson) chega em uma pequena cidade chamada Margrave, onde várias mortes começam a ocorrer e ele acaba se tornando o principal suspeito. Depois de provar sua inocência (claro), o xerife local decide pedir sua ajuda para resolver a série de brutais homicídios. Mesmo contrariado, Reacher decide usar suas habilidades para desvendar quem está por trás dos crimes e suas motivações. Para isso, ele não medirá esforços e usará todos os recursos disponíveis, inclusive burlando algumas leis quando necessário. Confira o trailer:

Cheia de piadinhas duvidosas, mas inegavelmente charmosas, "Reacher" sabe exatamente da sua capacidade de equilibrar bons momentos de ação com um desenvolvimento narrativo, no mínimo, perspicaz. Tudo é muito fluído, fácil, e parte disso se dá pela superficialidade fantasiada de complexidade do protagonista - Jack Reacher é uma espécie de super herói, um detetive que transita entre a capacidade de Sherlock Holmes deduzir o impossível e da habilidade de Batman em unir ironia com alguns socos e ponta-pés para alcançar seus objetivos. Embora a série até procure evitar, ela é um apanhado delicioso de clichês do gênero de investigação que opta por explorar temas como corrupção, moralidade e redenção de maneira divertida e muito envolvente.

Veja, comparando "Reacher" com uma outra série de ação da Prime Vídeo que se apoia em um personagem que segue a mesma cartilha narrativa, talvez sem tantos músculos é preciso ressaltar, como Jack Ryan, é possível afirmar que aqui temos uma versão "lite" criada essencialmente para os dias chuvosos - e isso não é um problema, é um enorme trunfo que faz com que a série possa perdurar por inúmeras temporadas. Se levarmos em consideração que a primeira temporada foi baseada no primeiro livro da obra de Child enquanto a segunda encontrou inspiração em "Azar e Contratempo" que é o 11º livro do autor, dá para se ter uma ideia de onde Nick Santora pode nos levar.

Muito bem produzida e dirigida, mas sem muitas inovações narrativas (sejam elas conceituais ou visuais), "Reacher" é um baita de um acerto da Prime Vídeo pela perspectiva da construção de franquia de gênero que a própria Netflix penou para estabelecer até encontrar seu "Resgate". Dito isso, você está prestes a encontrar uma espécie de versão plus size daqueles filmes meio "brucutus" dos anos 80 que tando fizeram sucesso e que trouxeram Steven Seagal, Sylvester Stallone e Bruce Willis para os holofotes, mas claro que com uma certa sensibilidade e requinte das produções atuais. Funciona e muito!

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"Reacher" é muito divertida - e para os mais velhos, uma referência narrativa certamente vai emergir da nossa lembrança: "Prison Break". Baseada no aclamado romance "Dinheiro Sujo" de Lee Child, essa produção da Amazon é uma jornada eletrizante através do mundo sombrio e implacável do famoso personagem Jack Reacher - que no cinema foi interpretado por Tom Cruise. Sob o olhar habilidoso de Nick Santora (produtor executivo de "Prison Break" e de "Fubar"), a série é um verdadeiro convite ao entretenimento leve com uma trama cheia de reviravoltas e ação (leia-se pancadaria), que foi capaz capturar a essência de um personagem icônico da literatura com muita maestria, mas sem a pretensão de entregar um estudo complexo da psique humana. Com uma narrativa de fato envolvente e performances cativantes do trio de atores Alan Ritchson, Malcolm Goodwin e Willa Fitzgerald, "Reacher" é a escolha certa para aquele final de semana maratonando algo interessante e divertido com um toque investigativo anos 80.

Após abandonar o Exército dos Estados Unidos, o veterano Jack Reacher (Ritchson) chega em uma pequena cidade chamada Margrave, onde várias mortes começam a ocorrer e ele acaba se tornando o principal suspeito. Depois de provar sua inocência (claro), o xerife local decide pedir sua ajuda para resolver a série de brutais homicídios. Mesmo contrariado, Reacher decide usar suas habilidades para desvendar quem está por trás dos crimes e suas motivações. Para isso, ele não medirá esforços e usará todos os recursos disponíveis, inclusive burlando algumas leis quando necessário. Confira o trailer:

Cheia de piadinhas duvidosas, mas inegavelmente charmosas, "Reacher" sabe exatamente da sua capacidade de equilibrar bons momentos de ação com um desenvolvimento narrativo, no mínimo, perspicaz. Tudo é muito fluído, fácil, e parte disso se dá pela superficialidade fantasiada de complexidade do protagonista - Jack Reacher é uma espécie de super herói, um detetive que transita entre a capacidade de Sherlock Holmes deduzir o impossível e da habilidade de Batman em unir ironia com alguns socos e ponta-pés para alcançar seus objetivos. Embora a série até procure evitar, ela é um apanhado delicioso de clichês do gênero de investigação que opta por explorar temas como corrupção, moralidade e redenção de maneira divertida e muito envolvente.

Veja, comparando "Reacher" com uma outra série de ação da Prime Vídeo que se apoia em um personagem que segue a mesma cartilha narrativa, talvez sem tantos músculos é preciso ressaltar, como Jack Ryan, é possível afirmar que aqui temos uma versão "lite" criada essencialmente para os dias chuvosos - e isso não é um problema, é um enorme trunfo que faz com que a série possa perdurar por inúmeras temporadas. Se levarmos em consideração que a primeira temporada foi baseada no primeiro livro da obra de Child enquanto a segunda encontrou inspiração em "Azar e Contratempo" que é o 11º livro do autor, dá para se ter uma ideia de onde Nick Santora pode nos levar.

Muito bem produzida e dirigida, mas sem muitas inovações narrativas (sejam elas conceituais ou visuais), "Reacher" é um baita de um acerto da Prime Vídeo pela perspectiva da construção de franquia de gênero que a própria Netflix penou para estabelecer até encontrar seu "Resgate". Dito isso, você está prestes a encontrar uma espécie de versão plus size daqueles filmes meio "brucutus" dos anos 80 que tando fizeram sucesso e que trouxeram Steven Seagal, Sylvester Stallone e Bruce Willis para os holofotes, mas claro que com uma certa sensibilidade e requinte das produções atuais. Funciona e muito!

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