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Desaparecida

Se você gosta do estilo "Buscando..." de drama policial, pode dar o play tranquilamente em "Desaparecida" que seu entretenimento está garantido. Essa produção dirigida pelos novatos Nicholas D. Johnson e Will Merrick, ambos montadores de "Buscando...", não decepciona em nada, pelo contrário, é até mais dinâmico que seu antecessor. No entanto, também é preciso que se diga, que aqui percebemos uma dificuldade maior em criar aquela sensação claustrofobia que o diretor russo Timur Bekmambetov impôs com maestria na produção de 2018 - afinal é inegável que o estilo found footage tinha mais fôlego na época, mas nem por isso "Missing" (no original) deixa de ser bem criativo. 

Quando sua mãe Grace (Nia Long) desaparece enquanto estava de férias na Colômbia com seu novo namorado, a busca de June (Storm Reid) por respostas é prejudicada pela burocracia internacional. Embora os agentes Park (Daniel Henney) e Heather (Amy Landecker) assegurem à filha preocupada que estão fazendo tudo ao seu alcance, o tempo acaba jogando contra. Presa a milhares de quilômetros de distância em Los Angeles, June usa todas as tecnologias à sua disposição para tentar encontrar sua mãe antes que seja tarde demais. Conforme ela se aprofunda, suas investigações levantam mais perguntas do que respostas. Não apenas a informação sobre o novo namorado de sua mãe, Kevin (Ken Leung), é mais do que preocupante, como  também os mistérios envolvendo sua mãe, transformam essa jornada em algo surpreendente e angustiante. Confira o trailer:

Nesse tipo de produção a "forma" se sobrepõe ao "conteúdo" em um primeiro olhar, claro. É até muito bacana como os roteiros vão se adaptando à toda essa evolução tecnológica, e a cada nova incursão ao estilo, sempre percebemos um sopro de inovação e criatividade - a própria Sony usou desse conceito para vender "Desaparecida" como uma espécie de antologia que começou com "Buscando..." e que certamente deve ter outras histórias pela frente. 

Pensando na narrativa em si, o que encontramos em "Desaparecida" é uma linha temporal habilmente estruturada, alternando entre diferentes modos de enxergar uma situação, respeitando os limites das telas, o que contribui e muito para a construção da tensão em torno do mistério envolvendo Grace e Kevin. Reparem como a fórmula, mesmo repetida, funciona perfeitamente, nos dando a impressão de que, a medida que a investigação avança, somos levados a questionar todos os personagens e a formular nossas próprias teorias sobre o que realmente aconteceu. Talvez esteja aí o grande valor desse estilo gameficado do screen life!

Johnson e Merrick, de fato, criam uma atmosfera palpável de angústia e insegurança, trabalhando as cores e a estética a partir de uma paleta de cores mais sombria, onde o desenho de som e o silêncio em cena transformam toda aquela ambientação em algo muito mais melancólico - e Storm Reid também cumpre muito bem essa missão como protagonista. Veja, cada cena é cuidadosamente enquadrada pelo fotógrafo Steven Holleran (que esteve na segunda unidade de "Creed II") para transmitir a sensação de isolamento e desorientação que June enfrenta, intensificando ainda mais esse mood de suspense.

"Desaparecida" não deixa de nos provocar reflexões sobre nossas responsabilidades e pontuais culpas. O filme não se prende em explorar as repercussões que um evento traumático na vida de uma criança pode causar, mas também não deixa de questionar suas ações adolescente e como elas podem afetar aqueles ao seu redor. Dito isso, temos aqui mais um filme interessante e divertido que combina uma narrativa intrigante, com ótimas atuações e uma atmosfera intensa que nos leva em uma jornada das mais envolventes. 

Vale o seu play!

Assista Agora

Se você gosta do estilo "Buscando..." de drama policial, pode dar o play tranquilamente em "Desaparecida" que seu entretenimento está garantido. Essa produção dirigida pelos novatos Nicholas D. Johnson e Will Merrick, ambos montadores de "Buscando...", não decepciona em nada, pelo contrário, é até mais dinâmico que seu antecessor. No entanto, também é preciso que se diga, que aqui percebemos uma dificuldade maior em criar aquela sensação claustrofobia que o diretor russo Timur Bekmambetov impôs com maestria na produção de 2018 - afinal é inegável que o estilo found footage tinha mais fôlego na época, mas nem por isso "Missing" (no original) deixa de ser bem criativo. 

Quando sua mãe Grace (Nia Long) desaparece enquanto estava de férias na Colômbia com seu novo namorado, a busca de June (Storm Reid) por respostas é prejudicada pela burocracia internacional. Embora os agentes Park (Daniel Henney) e Heather (Amy Landecker) assegurem à filha preocupada que estão fazendo tudo ao seu alcance, o tempo acaba jogando contra. Presa a milhares de quilômetros de distância em Los Angeles, June usa todas as tecnologias à sua disposição para tentar encontrar sua mãe antes que seja tarde demais. Conforme ela se aprofunda, suas investigações levantam mais perguntas do que respostas. Não apenas a informação sobre o novo namorado de sua mãe, Kevin (Ken Leung), é mais do que preocupante, como  também os mistérios envolvendo sua mãe, transformam essa jornada em algo surpreendente e angustiante. Confira o trailer:

Nesse tipo de produção a "forma" se sobrepõe ao "conteúdo" em um primeiro olhar, claro. É até muito bacana como os roteiros vão se adaptando à toda essa evolução tecnológica, e a cada nova incursão ao estilo, sempre percebemos um sopro de inovação e criatividade - a própria Sony usou desse conceito para vender "Desaparecida" como uma espécie de antologia que começou com "Buscando..." e que certamente deve ter outras histórias pela frente. 

Pensando na narrativa em si, o que encontramos em "Desaparecida" é uma linha temporal habilmente estruturada, alternando entre diferentes modos de enxergar uma situação, respeitando os limites das telas, o que contribui e muito para a construção da tensão em torno do mistério envolvendo Grace e Kevin. Reparem como a fórmula, mesmo repetida, funciona perfeitamente, nos dando a impressão de que, a medida que a investigação avança, somos levados a questionar todos os personagens e a formular nossas próprias teorias sobre o que realmente aconteceu. Talvez esteja aí o grande valor desse estilo gameficado do screen life!

Johnson e Merrick, de fato, criam uma atmosfera palpável de angústia e insegurança, trabalhando as cores e a estética a partir de uma paleta de cores mais sombria, onde o desenho de som e o silêncio em cena transformam toda aquela ambientação em algo muito mais melancólico - e Storm Reid também cumpre muito bem essa missão como protagonista. Veja, cada cena é cuidadosamente enquadrada pelo fotógrafo Steven Holleran (que esteve na segunda unidade de "Creed II") para transmitir a sensação de isolamento e desorientação que June enfrenta, intensificando ainda mais esse mood de suspense.

"Desaparecida" não deixa de nos provocar reflexões sobre nossas responsabilidades e pontuais culpas. O filme não se prende em explorar as repercussões que um evento traumático na vida de uma criança pode causar, mas também não deixa de questionar suas ações adolescente e como elas podem afetar aqueles ao seu redor. Dito isso, temos aqui mais um filme interessante e divertido que combina uma narrativa intrigante, com ótimas atuações e uma atmosfera intensa que nos leva em uma jornada das mais envolventes. 

Vale o seu play!

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Devs

Se você considera "Ex-Machina"e "Ruptura" uma espécie de binômio cultural capaz de colocar o que existe de melhor na ficção cientifica, na sua forma e no seu conteúdo, em outro patamar; você vai me agradecer depois de maratonar os 8 episódios de "Devs" - ou, como eu, se perguntar porquê raios não assistiu essa obra-prima antes! É sério! Essa minissérie de 2020 é uma verdadeira jornada cinematográfica imperdível, criada e dirigida pelo visionário Alex Garland (de "Ex-Machina"), que mistura com muita inteligência elementos narrativos que vão da ciência, passando pela filosofia e religião, até chegar naquele estilo de ficção raiz que deixaria Stanley Kubrick orgulhoso!

Lily (Sonoya Mizuno) é uma brilhante engenheira de computação de uma gigante do Vale do Silício, chamada Amaya, que por uma circunstância muito particular começa a investigar uma divisão ultra-secreta de desenvolvimento da empresa. Determinada a descobrir a verdade sobre o desaparecimento de seu namorado, Sergei (Karl Glusman), Lily passa a confrontar seu passado e sua própria condição mental para descobrir o que de fato há por trás dos Devs e de seu CEO, Forest (Nick Offerman), que lidera descobertas cada vez mais impactantes. Confira o trailer:

A genialidade de "Devs" vai além de uma trama intrigante, mesmo que isso custe a fluidez de sua narrativa que em muitos momentos se cadencia ao ponto de exigir muita atenção. A partir de uma exploração profunda sobre a natureza da realidade como entendemos, da liberdade (ou do livre-arbítrio, como preferir) e da predestinação pelo olhar do determinismo, Garland é capaz de criar (mais uma vez)  uma atmosfera única que nos envolve e nos provoca a cada nova "explicação" - algo que "Matrix" soube fazer com muita competência em 1999.

A fotografia do Rob Hardy, com sua paleta de cores e contrastes, evoca sensações impressionantes - criando um mundo que parece familiar, mas ao mesmo tempo, inquietante. Ao conectar visualmente essa fotografia com o Desenho de Produção do Mark Digby e a trilha sonora do Geoff Barrow e do Ben Salisbury, a narrativa eleva a tensão a níveis quase insuportáveis, em um ambiente onde cada detalhe é carregado de significado e de simbologias. Veja, o fato de todos esses profissionais acompanharem Garland desde "Ex-Machina", dá para se ter uma ideia da potência conceitual da obra - nossa, uma aula para quem se apega aos detalhes mais sensíveis que um sci-fi pode ter.

O elenco mesmo que possa parecer estereotipado demais em alguns momentos, se aproveita das inúmeras camadas de seus personagens (imperfeitos) para brilhar. Sonoya Mizuno e Nick Offerman entregam performances memoráveis, explorando a complexidade de suas jornadas íntimas de maneira sublime, proporcionando uma rara introspecção nas motivações e dilemas morais que os conduzem que me lembrou muito "Interestelar" na sua essência.

Talvez, o verdadeiro trunfo de "Devs" seja justamente a sua habilidade de desafiar a audiência ao longo de cada episódio, quando somos confrontados com questões filosóficas e científicas profundas, que vão além do "quem matou quem" ou "o que aconteceu com esse ou aquele personagem" - isso não tem lá muita importância quando olhamos pela perspectiva de repensar nossa compreensão do mundo ou de nossas prioridades como seres humanos. Mesmo que essa minissérie questione o verdadeiro poder das empresas do Vale do Silício e de seus brilhantes CEOs, até mesmo ao nível político, eu diria que aqui o foco não é apenas o entretenimento; mas sim um convite que nos força a confrontar nossas próprias crenças.

Sim, "Devs" pede um pouco de paciência, mas acreditem, ela nos recompensa com uma história fascinante e visualmente arrebatadora que vale muito o seu play!

Assista Agora

Se você considera "Ex-Machina"e "Ruptura" uma espécie de binômio cultural capaz de colocar o que existe de melhor na ficção cientifica, na sua forma e no seu conteúdo, em outro patamar; você vai me agradecer depois de maratonar os 8 episódios de "Devs" - ou, como eu, se perguntar porquê raios não assistiu essa obra-prima antes! É sério! Essa minissérie de 2020 é uma verdadeira jornada cinematográfica imperdível, criada e dirigida pelo visionário Alex Garland (de "Ex-Machina"), que mistura com muita inteligência elementos narrativos que vão da ciência, passando pela filosofia e religião, até chegar naquele estilo de ficção raiz que deixaria Stanley Kubrick orgulhoso!

Lily (Sonoya Mizuno) é uma brilhante engenheira de computação de uma gigante do Vale do Silício, chamada Amaya, que por uma circunstância muito particular começa a investigar uma divisão ultra-secreta de desenvolvimento da empresa. Determinada a descobrir a verdade sobre o desaparecimento de seu namorado, Sergei (Karl Glusman), Lily passa a confrontar seu passado e sua própria condição mental para descobrir o que de fato há por trás dos Devs e de seu CEO, Forest (Nick Offerman), que lidera descobertas cada vez mais impactantes. Confira o trailer:

A genialidade de "Devs" vai além de uma trama intrigante, mesmo que isso custe a fluidez de sua narrativa que em muitos momentos se cadencia ao ponto de exigir muita atenção. A partir de uma exploração profunda sobre a natureza da realidade como entendemos, da liberdade (ou do livre-arbítrio, como preferir) e da predestinação pelo olhar do determinismo, Garland é capaz de criar (mais uma vez)  uma atmosfera única que nos envolve e nos provoca a cada nova "explicação" - algo que "Matrix" soube fazer com muita competência em 1999.

A fotografia do Rob Hardy, com sua paleta de cores e contrastes, evoca sensações impressionantes - criando um mundo que parece familiar, mas ao mesmo tempo, inquietante. Ao conectar visualmente essa fotografia com o Desenho de Produção do Mark Digby e a trilha sonora do Geoff Barrow e do Ben Salisbury, a narrativa eleva a tensão a níveis quase insuportáveis, em um ambiente onde cada detalhe é carregado de significado e de simbologias. Veja, o fato de todos esses profissionais acompanharem Garland desde "Ex-Machina", dá para se ter uma ideia da potência conceitual da obra - nossa, uma aula para quem se apega aos detalhes mais sensíveis que um sci-fi pode ter.

O elenco mesmo que possa parecer estereotipado demais em alguns momentos, se aproveita das inúmeras camadas de seus personagens (imperfeitos) para brilhar. Sonoya Mizuno e Nick Offerman entregam performances memoráveis, explorando a complexidade de suas jornadas íntimas de maneira sublime, proporcionando uma rara introspecção nas motivações e dilemas morais que os conduzem que me lembrou muito "Interestelar" na sua essência.

Talvez, o verdadeiro trunfo de "Devs" seja justamente a sua habilidade de desafiar a audiência ao longo de cada episódio, quando somos confrontados com questões filosóficas e científicas profundas, que vão além do "quem matou quem" ou "o que aconteceu com esse ou aquele personagem" - isso não tem lá muita importância quando olhamos pela perspectiva de repensar nossa compreensão do mundo ou de nossas prioridades como seres humanos. Mesmo que essa minissérie questione o verdadeiro poder das empresas do Vale do Silício e de seus brilhantes CEOs, até mesmo ao nível político, eu diria que aqui o foco não é apenas o entretenimento; mas sim um convite que nos força a confrontar nossas próprias crenças.

Sim, "Devs" pede um pouco de paciência, mas acreditem, ela nos recompensa com uma história fascinante e visualmente arrebatadora que vale muito o seu play!

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Durante a Tormenta

"Durante a Tormenta" é mais um daqueles filmes escondidos no catálogo da Netflix que nos perguntamos: "Por que não assisti antes?"

Esse filme espanhol de 2018 é do mesmo roteirista e diretor do excelente "Um Contratempo" - o que de cara já nos gera algum interesse. Mas, claro, os pré-requisitos para um bom filme não param por aí: ao dar o play, já percebemos que, além de muito bem produzido, muito bem dirigido; a história é muito envolvente (e surpreendente) desde o inicio, e ainda trás elementos narrativos que nos remetem à "Dark", uma das melhores séries da história da Netflix!

Ao encontrar algumas fitas VHS velhas em sua nova casa, Vera (Adriana Ugarte) conhece Nico (Julio Bohigas), um garoto que morava com sua mãe na mesma residência há 25 anos atrás. Curiosa, ela faz uma pesquisa na internet sobre o jovem e descobre que ele morreu em um acidente, em uma noite repleta de acontecimentos misteriosos na região. Por conta de um raro evento que quebra a relação "espaço/tempo", os dois conseguem se comunicar rapidamente por meio de uma filmadora ligada na televisão. Sabendo sobre o acidente, Vera aproveita para avisar Nico e assim evitar a sua morte. Acontece que, ao fazer isso, Vera altera vários acontecimentos a partir dali e agora precisa lidar com sua nova realidade enquanto busca uma forma de colocar a história no caminho que, para ela, parecia ser o correto. Confira o trailer:

Antes de mais nada temos que deixar uma coisa bem claro: trata-se de uma ficção cientifica e por isso, embarcar na história vai te exigir uma certa suspensão da realidade! Por mais que algumas soluções narrativas possam parecer frágeis, eu te garanto: trata-se de um roteiro muito bem construído, daquele tipo que não podemos tirar o olho da tela para não se perder nada da história - e isso é entretenimento de primeira! 

Oriol Paulo é um diretor talentoso e que já comprovou isso em todos os trabalhos que realizou até aqui - ele domina a gramática cinematográfica do mistério e sabe perfeitamente onde nos levar em suas histórias. Em "Durante a Tormenta" não é diferente, ele joga as peças do quebra-cabeça e nos provoca a montar junto com ele, com isso somos fisgados pela história e a sensação de estarmos diante de algo inteligente e surpreendente é incrível! 

Pode dar o play sem receio, sua diversão estará garantida!

Assista Agora 

"Durante a Tormenta" é mais um daqueles filmes escondidos no catálogo da Netflix que nos perguntamos: "Por que não assisti antes?"

Esse filme espanhol de 2018 é do mesmo roteirista e diretor do excelente "Um Contratempo" - o que de cara já nos gera algum interesse. Mas, claro, os pré-requisitos para um bom filme não param por aí: ao dar o play, já percebemos que, além de muito bem produzido, muito bem dirigido; a história é muito envolvente (e surpreendente) desde o inicio, e ainda trás elementos narrativos que nos remetem à "Dark", uma das melhores séries da história da Netflix!

Ao encontrar algumas fitas VHS velhas em sua nova casa, Vera (Adriana Ugarte) conhece Nico (Julio Bohigas), um garoto que morava com sua mãe na mesma residência há 25 anos atrás. Curiosa, ela faz uma pesquisa na internet sobre o jovem e descobre que ele morreu em um acidente, em uma noite repleta de acontecimentos misteriosos na região. Por conta de um raro evento que quebra a relação "espaço/tempo", os dois conseguem se comunicar rapidamente por meio de uma filmadora ligada na televisão. Sabendo sobre o acidente, Vera aproveita para avisar Nico e assim evitar a sua morte. Acontece que, ao fazer isso, Vera altera vários acontecimentos a partir dali e agora precisa lidar com sua nova realidade enquanto busca uma forma de colocar a história no caminho que, para ela, parecia ser o correto. Confira o trailer:

Antes de mais nada temos que deixar uma coisa bem claro: trata-se de uma ficção cientifica e por isso, embarcar na história vai te exigir uma certa suspensão da realidade! Por mais que algumas soluções narrativas possam parecer frágeis, eu te garanto: trata-se de um roteiro muito bem construído, daquele tipo que não podemos tirar o olho da tela para não se perder nada da história - e isso é entretenimento de primeira! 

Oriol Paulo é um diretor talentoso e que já comprovou isso em todos os trabalhos que realizou até aqui - ele domina a gramática cinematográfica do mistério e sabe perfeitamente onde nos levar em suas histórias. Em "Durante a Tormenta" não é diferente, ele joga as peças do quebra-cabeça e nos provoca a montar junto com ele, com isso somos fisgados pela história e a sensação de estarmos diante de algo inteligente e surpreendente é incrível! 

Pode dar o play sem receio, sua diversão estará garantida!

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Emergência

O racismo estrutural existe - isso é um fato! Infelizmente esse mal está incutido em toda a sociedade, e é algo que todos nós cometemos, em maior ou menor grau, quer a gente aceite ou não. São tantos episódios que basta parar e observar, para entender prontamente que o racismo precisa ser combatido, sempre! O filme “Emergência”, disponível no catálogo da Prime Vídeo, trata exatamente disso - apresentando o racismo estrutural de forma visceral e, ao mesmo tempo, didática. O interessante é que o enredo não dá brecha para questionamentos, ele mostra exatamente como o problema continua enraizado e como é difícil ser extirpado para sempre da nossa realidade.

A trama mostra três estudantes universitários, Kunle (Donald Elise Watkins), Sean (RJ Cyler) e Carlos (Sebastian Chacon), dois negros e um latino, que antes de sair para uma balada, encontram uma garota desconhecida desacordada no chão da casa onde residem. A partir daí, eles vivem um impasse: chamar a emergência e correr o risco de serem acusados de algum crime, ou abandonar a menina, sem sofrer maiores consequências. Confira o trailer:

A premissa é muito inteligente em levantar questões bastante delicadas, mas pelos olhos de quem realmente sofre preconceito - e o roteiro da K.D. Dávila foi muito feliz em desenvolver um plot que explora a dificuldade de tomar uma decisão mais coerente pelos protagonistas, já que a garota desmaiada é branca, loira e menor de idade. Se chamarem a polícia ou a ambulância, será que vão acreditar na história deles? O receio e o medo que eles sentem é legítimo e verdadeiro, mas ao mesmo tempo escancara como o racismo estrutural pode moldar as atitudes das pessoas. Essa dualidade, ou desconforto, de comportamento exige uma sensibilidade enorme de condução para que as muitas camadas dos personagens possam ser aproveitadas, e o diretor Carey Williams (nomeado um dos novos diretores mais promissores de 2018 pela Filmmaker Magazine) foi muito seguro nesse desenvolvimento. 

“Emergência” é baseado em um curta-metragem e Williams, premiadíssimo em 2018 (vencedor do SXSW  e de Sundance no mesmo ano), que transita magistralmente por diversos gêneros: como a comédia, o drama e o suspense. Obviamente que esse é um daqueles filmes necessários, que todo mundo deveria ver e rever! É também provocativo, reflexivo e extremamente desconfortável! E é, antes de tudo, um aviso para que pessoas brancas como eu e você. tenham consciência que ainda precisamos evoluir muito, para um dia, finalmente, dizermos que vivemos em mundo mais justo e sem preconceitos.

Vale muito seu play, Vale muito sua reflexão!

Escrito por Lucio Tannure - uma parceria @dicas_pra_maratonar

Assista Agora

O racismo estrutural existe - isso é um fato! Infelizmente esse mal está incutido em toda a sociedade, e é algo que todos nós cometemos, em maior ou menor grau, quer a gente aceite ou não. São tantos episódios que basta parar e observar, para entender prontamente que o racismo precisa ser combatido, sempre! O filme “Emergência”, disponível no catálogo da Prime Vídeo, trata exatamente disso - apresentando o racismo estrutural de forma visceral e, ao mesmo tempo, didática. O interessante é que o enredo não dá brecha para questionamentos, ele mostra exatamente como o problema continua enraizado e como é difícil ser extirpado para sempre da nossa realidade.

A trama mostra três estudantes universitários, Kunle (Donald Elise Watkins), Sean (RJ Cyler) e Carlos (Sebastian Chacon), dois negros e um latino, que antes de sair para uma balada, encontram uma garota desconhecida desacordada no chão da casa onde residem. A partir daí, eles vivem um impasse: chamar a emergência e correr o risco de serem acusados de algum crime, ou abandonar a menina, sem sofrer maiores consequências. Confira o trailer:

A premissa é muito inteligente em levantar questões bastante delicadas, mas pelos olhos de quem realmente sofre preconceito - e o roteiro da K.D. Dávila foi muito feliz em desenvolver um plot que explora a dificuldade de tomar uma decisão mais coerente pelos protagonistas, já que a garota desmaiada é branca, loira e menor de idade. Se chamarem a polícia ou a ambulância, será que vão acreditar na história deles? O receio e o medo que eles sentem é legítimo e verdadeiro, mas ao mesmo tempo escancara como o racismo estrutural pode moldar as atitudes das pessoas. Essa dualidade, ou desconforto, de comportamento exige uma sensibilidade enorme de condução para que as muitas camadas dos personagens possam ser aproveitadas, e o diretor Carey Williams (nomeado um dos novos diretores mais promissores de 2018 pela Filmmaker Magazine) foi muito seguro nesse desenvolvimento. 

“Emergência” é baseado em um curta-metragem e Williams, premiadíssimo em 2018 (vencedor do SXSW  e de Sundance no mesmo ano), que transita magistralmente por diversos gêneros: como a comédia, o drama e o suspense. Obviamente que esse é um daqueles filmes necessários, que todo mundo deveria ver e rever! É também provocativo, reflexivo e extremamente desconfortável! E é, antes de tudo, um aviso para que pessoas brancas como eu e você. tenham consciência que ainda precisamos evoluir muito, para um dia, finalmente, dizermos que vivemos em mundo mais justo e sem preconceitos.

Vale muito seu play, Vale muito sua reflexão!

Escrito por Lucio Tannure - uma parceria @dicas_pra_maratonar

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Encounter

Encounter

"Encounter" é um filme difícil de definir como gênero ao dar o play. Ele tem elementos de ficção cientifica, de suspense, de road movie, de drama e acreditem: tudo muito bem arquitetado para que a gente não tire os olhos da tela até entendermos como as peças vão se encaixando até entregar um final dos mais interessantes e satisfatórios - além, é claro, de ter no elenco um dos atores que mais vem se destacando nos últimos anos: Riz Ahmed (de "O Som do Silêncio" e "The Night Of", só para citar dois sucessos recentes do ator).

Aqui, Ahmed é um fuzileiro naval condecorado chamado Malik Khan. Certo dia ele aparece na casa da ex-mulher e simplesmente pega seus dois filhos, Jay (Lucian River-Chauhan) e Bobby (Aditya Geddada) no que ele considera ser uma missão de resgate para salva-los de uma ameaça não humana. Conforme a jornada os leva em direção ao perigo, os meninos precisam deixar a infância para trás e entender qual é a verdadeira ameaça que eles precisam enfrentar. Confira o trailer:

Apenas para alinharmos a expectativa: "Encounter" não é um filme de ação como "A Guerra do Amanhã". Embora o prólogo do filme mostre uma incrível (e quase poética) sequência onde microorganismos alienígenas penetram em uma versão reimaginada do corpo humano como se iniciasse ali uma conquista silenciosa para destruição da humanidade que se daria pelas próprias fraquezas do seu hospedeiro, o talentoso diretor Michael Pearce (de "Beast") não só impõe um tom narrativo dos mais sofisticados, como nos prepara para um drama cheio de tensão e angústia - onde a força das cenas está muito mais no psicológico do que no impacto visual.

A premissa nos levava a crer que se tratava de um filme próximo de "Invasion"  e o desenrolar da história nos coloca em contato com uma versão até mais dark e complexa que a série da AppleTV+. A forma como Pearce estabelece as relações de Malik Khan com seus filhos, consigo e com aquela atmosfera "apocalíptica", é sensacional - mesmo que em alguns momentos a narrativa se torne mais cadenciada do que estamos esperando. Os planos fechados do diretor, com o desenho de som de Paul Davies, uma trilha sonora que mistura desde os ruídos mais bruscos com agudos extremamente irritantes, tudo criado porJed Kurzel ("Alien: Covenant"), e uma fotografia linda de Benjamin Kracun ("The Third Day"), faz o filme brincar, o tempo todo, com a nossa perspectiva - mesmo parecendo óbvio, somos surpreendidos em muitos momentos.

Riz Ahmed é um grande ator - ele leva o filme nas costas com uma habilidade única. Suas cenas não precisam de diálogos, sua entrega está no olhar, no movimento pontuado, na forma como ele se aproxima ou se relaciona com a ação sem ao menos precisar expor isso ao público que assiste. Sua capacidade de se transformar de acordo com as demandas do roteiro impressiona e, tanto Lucian River-Chauhan quanto Aditya Geddada, seus filhos, acompanham. Octavia Spencer faz uma pequena participação, mas sem dúvida traz humanidade para narrativa e merece destaque.

O fato é que a união do talento com o primor técnico e artístico fazem de "Encounter"  uma agradável surpresa que pode colher frutos, mesmo sendo azarão (como inclusive foi "O Som do Silêncio"), na próxima temporada de premiações. O filme é muito bom, profundo, provocador, incômodo, mas não vai agradar a todos justamente por sua identidade quase independente. Por outro lado, fica aqui a recomendação de um bom drama de relações que vai além do óbvio, mesmo quando se torna óbvio.

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"Encounter" é um filme difícil de definir como gênero ao dar o play. Ele tem elementos de ficção cientifica, de suspense, de road movie, de drama e acreditem: tudo muito bem arquitetado para que a gente não tire os olhos da tela até entendermos como as peças vão se encaixando até entregar um final dos mais interessantes e satisfatórios - além, é claro, de ter no elenco um dos atores que mais vem se destacando nos últimos anos: Riz Ahmed (de "O Som do Silêncio" e "The Night Of", só para citar dois sucessos recentes do ator).

Aqui, Ahmed é um fuzileiro naval condecorado chamado Malik Khan. Certo dia ele aparece na casa da ex-mulher e simplesmente pega seus dois filhos, Jay (Lucian River-Chauhan) e Bobby (Aditya Geddada) no que ele considera ser uma missão de resgate para salva-los de uma ameaça não humana. Conforme a jornada os leva em direção ao perigo, os meninos precisam deixar a infância para trás e entender qual é a verdadeira ameaça que eles precisam enfrentar. Confira o trailer:

Apenas para alinharmos a expectativa: "Encounter" não é um filme de ação como "A Guerra do Amanhã". Embora o prólogo do filme mostre uma incrível (e quase poética) sequência onde microorganismos alienígenas penetram em uma versão reimaginada do corpo humano como se iniciasse ali uma conquista silenciosa para destruição da humanidade que se daria pelas próprias fraquezas do seu hospedeiro, o talentoso diretor Michael Pearce (de "Beast") não só impõe um tom narrativo dos mais sofisticados, como nos prepara para um drama cheio de tensão e angústia - onde a força das cenas está muito mais no psicológico do que no impacto visual.

A premissa nos levava a crer que se tratava de um filme próximo de "Invasion"  e o desenrolar da história nos coloca em contato com uma versão até mais dark e complexa que a série da AppleTV+. A forma como Pearce estabelece as relações de Malik Khan com seus filhos, consigo e com aquela atmosfera "apocalíptica", é sensacional - mesmo que em alguns momentos a narrativa se torne mais cadenciada do que estamos esperando. Os planos fechados do diretor, com o desenho de som de Paul Davies, uma trilha sonora que mistura desde os ruídos mais bruscos com agudos extremamente irritantes, tudo criado porJed Kurzel ("Alien: Covenant"), e uma fotografia linda de Benjamin Kracun ("The Third Day"), faz o filme brincar, o tempo todo, com a nossa perspectiva - mesmo parecendo óbvio, somos surpreendidos em muitos momentos.

Riz Ahmed é um grande ator - ele leva o filme nas costas com uma habilidade única. Suas cenas não precisam de diálogos, sua entrega está no olhar, no movimento pontuado, na forma como ele se aproxima ou se relaciona com a ação sem ao menos precisar expor isso ao público que assiste. Sua capacidade de se transformar de acordo com as demandas do roteiro impressiona e, tanto Lucian River-Chauhan quanto Aditya Geddada, seus filhos, acompanham. Octavia Spencer faz uma pequena participação, mas sem dúvida traz humanidade para narrativa e merece destaque.

O fato é que a união do talento com o primor técnico e artístico fazem de "Encounter"  uma agradável surpresa que pode colher frutos, mesmo sendo azarão (como inclusive foi "O Som do Silêncio"), na próxima temporada de premiações. O filme é muito bom, profundo, provocador, incômodo, mas não vai agradar a todos justamente por sua identidade quase independente. Por outro lado, fica aqui a recomendação de um bom drama de relações que vai além do óbvio, mesmo quando se torna óbvio.

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Equinox

"Equinox" é um ótima série, mesmo se apoiando em alguns esteriótipos para se estabelecer no gênero, eu diria que já é possível defini-la como a primeira grande surpresa do ano de 2021 no catálogo da Netflix (mesmo tendo chegado no finalzinho de 2020). Agora não espere uma jornada fácil, essa série dinamarquesa é cheia de simbolismos e informações que não necessariamente se encontram nos seis primeiros episódios da primeira temporada - mais ou menos como "Hereditário"ou "Midsommar".

A série acompanha a jornada de Astrid (Danica Curcic), uma jovem que, em 1999, viu sua irmã mais velha e quase todos os colegas de classe desaparecerem de uma forma completamente misteriosa e sem deixar qualquer vestígio, na noite de formatura. Desde então ela ficou traumatizada, crescendo cercada por visões terríveis e pesadelos envolvendo sua irmã e os outros desaparecidos. 21 anos depois, Astrid volta a ser assombrada e depois de receber uma ligação de um dos sobreviventes, ela se propõe a investigar o que realmente aconteceu na época e buscar a verdade sobre o paradeiro de sua irmã Ida (Karoline Hamm). Confira o trailer:

Se você é daqueles que precisam de todas as respostas para chancelar a qualidade de uma série ou de um filme, "Equinox" não é para você - pelo menos não por enquanto. A primeira temporada tem um história bastante consistente, envolvente e bem desenvolvida, mas difícil. As peças vão se encaixando com a mesma velocidade que outras pontas vão se abrindo, porém a sensação que nos dá é que tudo parece fazer parte de um planejamento (o que é um alívio). Mesmo que algumas soluções, ainda assim, possam incomodar pela superficialidade, existe um contraste narrativo muito interessante entre o palpável e o interpretativo, que é capaz de sustentar o mistério até o final. O próprio produtor da série, Piv Bernth (de "The Killing"- o original) definiu: “Equinox é uma história muito única sobre a diferença entre realidade e imaginação, e a relação entre livre arbítrio e destino – tudo isso em uma família dinamarquesa normal”.

"Equinox" foi competente ao misturar (possíveis) elementos sobrenaturais com problemas reais, típicos da adolescência, sem ser piegas, com isso o roteiro estabeleceu um drama sólido de como as pessoas vulneráveis podem ser levadas a acreditar em crenças surreais, seja por fragilidade ou até por distúrbios psicológicos - e aqui vale ressaltar que a primeira temporada foi baseada em um podcast de muito sucesso na Dinamarca chamado "Equinox 1985", mas não se sabe ao certo como seria uma segunda temporada, embora o gancho do final (que ainda pode dividir opiniões) nos provoque a torcer para que ela aconteça. 

Tendo em vista todas as observações que pontuamos acima, recomendamos "Equinox" com tranquilidade e mesmo se tratando de lendas e folclores locais, fica a dica: tudo tem uma explicação, mesmo que, nesse caso, ela não venha como estamos acostumados!

Assista Agora

"Equinox" é um ótima série, mesmo se apoiando em alguns esteriótipos para se estabelecer no gênero, eu diria que já é possível defini-la como a primeira grande surpresa do ano de 2021 no catálogo da Netflix (mesmo tendo chegado no finalzinho de 2020). Agora não espere uma jornada fácil, essa série dinamarquesa é cheia de simbolismos e informações que não necessariamente se encontram nos seis primeiros episódios da primeira temporada - mais ou menos como "Hereditário"ou "Midsommar".

A série acompanha a jornada de Astrid (Danica Curcic), uma jovem que, em 1999, viu sua irmã mais velha e quase todos os colegas de classe desaparecerem de uma forma completamente misteriosa e sem deixar qualquer vestígio, na noite de formatura. Desde então ela ficou traumatizada, crescendo cercada por visões terríveis e pesadelos envolvendo sua irmã e os outros desaparecidos. 21 anos depois, Astrid volta a ser assombrada e depois de receber uma ligação de um dos sobreviventes, ela se propõe a investigar o que realmente aconteceu na época e buscar a verdade sobre o paradeiro de sua irmã Ida (Karoline Hamm). Confira o trailer:

Se você é daqueles que precisam de todas as respostas para chancelar a qualidade de uma série ou de um filme, "Equinox" não é para você - pelo menos não por enquanto. A primeira temporada tem um história bastante consistente, envolvente e bem desenvolvida, mas difícil. As peças vão se encaixando com a mesma velocidade que outras pontas vão se abrindo, porém a sensação que nos dá é que tudo parece fazer parte de um planejamento (o que é um alívio). Mesmo que algumas soluções, ainda assim, possam incomodar pela superficialidade, existe um contraste narrativo muito interessante entre o palpável e o interpretativo, que é capaz de sustentar o mistério até o final. O próprio produtor da série, Piv Bernth (de "The Killing"- o original) definiu: “Equinox é uma história muito única sobre a diferença entre realidade e imaginação, e a relação entre livre arbítrio e destino – tudo isso em uma família dinamarquesa normal”.

"Equinox" foi competente ao misturar (possíveis) elementos sobrenaturais com problemas reais, típicos da adolescência, sem ser piegas, com isso o roteiro estabeleceu um drama sólido de como as pessoas vulneráveis podem ser levadas a acreditar em crenças surreais, seja por fragilidade ou até por distúrbios psicológicos - e aqui vale ressaltar que a primeira temporada foi baseada em um podcast de muito sucesso na Dinamarca chamado "Equinox 1985", mas não se sabe ao certo como seria uma segunda temporada, embora o gancho do final (que ainda pode dividir opiniões) nos provoque a torcer para que ela aconteça. 

Tendo em vista todas as observações que pontuamos acima, recomendamos "Equinox" com tranquilidade e mesmo se tratando de lendas e folclores locais, fica a dica: tudo tem uma explicação, mesmo que, nesse caso, ela não venha como estamos acostumados!

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Era uma vez um Gênio

"Era uma vez um Gênio" é um grande filme, mas não deve agradar a todos e é muito simples explicar a razão: seu roteiro é cheio de simbolismo, que demanda um aprofundamento que vai além do diálogo ou do que vemos na tela, sua trama exige uma certa reflexão, uma busca pela conexão dos pontos e que em hipótese nenhuma é (ou será) explicada. O filme dirigido pelo grande George Miller (de "Mad Max: Estrada da Fúria") se afasta do entretenimento superficial e ultrapassa o óbvio para discutir como algumas decisões que tomamos cobram seu preço ao mesmo tempo em que também entrega uma série de coisas boas que tem seu valor. Olha, "Era uma vez um Gênio" é uma espécie de "Fonte da Vida" com "Mãe!" (ambos do Darren Aronofsky) com um leve toque de "Entrevista com o Vampiro".

A Dra. Alithea Binnie (Tilda Swinton) é uma académica respeitada, referência como historiadora, satisfeita com seu estilo de vida e uma pessoa extremamente racional. Durante uma visita a Istambul para participar de uma conferência, ela acaba experienciando uma situação fantástica quando encontra um Génio (Idris Elba) que lhe oferece três desejos em troca da sua liberdade. Porém, o que parecia uma simples fábula, na verdade se torna uma fantástica discussão sobre o amor e a solidão. Confira o trailer:

O roteiro do próprio Miller nos convida para uma reflexão antes mesmo de nos darmos conta de tudo que vamos encontrar em duas horas de história - é a partir daí que, propositalmente, as provocações se tornam excelentes reflexões. Veja, conhecer o valor de uma história é entender o papel social que ela desempenha como troca de experiências, capaz de explicar algo que ainda, digamos, não pode ser bem definida racionalmente - foi assim que surgiram diferentes mitologias (nórdica, grega, egípcia, etc) que pautaram a evolução humana. O que dizer, por exemplo, quando algumas questões mais complexas da vida passam a ter explicações realistas com base "apenas" na ciência, as histórias então perdem sentido? Passaram a funcionar apenas como metáforas? 

Em "Era uma vez um Gênio" tudo é uma grande metáfora, porém inserida dentro de um embate dos mais inteligentes: se de um lado temos o a força academia de Binnie, do outro temos as histórias vividas por, acreditem, um Gênio. Envolvido por uma atmosfera brilhante, Miller Miller cria uma verdadeira viagem para os olhos e para os ouvidos, começando pela fotografia maravilhosa do John Seale (vencedor do Oscar por "O Paciente Inglês") extremamente alinhada a um desenho de produção riquíssimo deRoger Ford (de "Babe"), uma trilha cirúrgica de Tom Holkenborg ("Mad Max: Estrada da Fúria"), além, é claro, de figurinos de cair o queixo de Kym Barret (de "Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis") - aliás, é surpreendente o fato do filme não ter sido indicado em nenhuma categoria no Oscars 2023.

Como uma verdadeira experiência sensorial, "3000 Years of Longing" (no original) é surpreendente em sua intensidade mesmo dentro de sua proposta mais cadenciada - natural em uma conversa entre dois personagens ou em uma narrativa em off que serve para emoldurar o visual menos realista dos acontecimentos históricos. Para ficar mais fácil de entender, é como se estivéssemos lendo um livro e imaginando cada cena sem se preocupar exatamente com a riqueza de detalhes exata de uma época, mesmo tendo todas as referências para isso - é lindo!Em um jogo brilhante onde suas muitas histórias vão se conectando (espiritualmente até), ou na forma como Tilda Swinton e Idris Elba se provocam (fisicamente e emocionalmente) e até na escolha conceitual de George Miller ao retratar o vazio existencial usando a semiótica como base, posso garantir que esse filme é um presente para quem estiver disposto a embarcar nessa jornada com o coração aberto (mesmo que no final ele fique apertado)!

Vale muito o seu play (mas só se você gostou de "Fonte da Vida" ou de "Mãe!")!

Assista Agora

"Era uma vez um Gênio" é um grande filme, mas não deve agradar a todos e é muito simples explicar a razão: seu roteiro é cheio de simbolismo, que demanda um aprofundamento que vai além do diálogo ou do que vemos na tela, sua trama exige uma certa reflexão, uma busca pela conexão dos pontos e que em hipótese nenhuma é (ou será) explicada. O filme dirigido pelo grande George Miller (de "Mad Max: Estrada da Fúria") se afasta do entretenimento superficial e ultrapassa o óbvio para discutir como algumas decisões que tomamos cobram seu preço ao mesmo tempo em que também entrega uma série de coisas boas que tem seu valor. Olha, "Era uma vez um Gênio" é uma espécie de "Fonte da Vida" com "Mãe!" (ambos do Darren Aronofsky) com um leve toque de "Entrevista com o Vampiro".

A Dra. Alithea Binnie (Tilda Swinton) é uma académica respeitada, referência como historiadora, satisfeita com seu estilo de vida e uma pessoa extremamente racional. Durante uma visita a Istambul para participar de uma conferência, ela acaba experienciando uma situação fantástica quando encontra um Génio (Idris Elba) que lhe oferece três desejos em troca da sua liberdade. Porém, o que parecia uma simples fábula, na verdade se torna uma fantástica discussão sobre o amor e a solidão. Confira o trailer:

O roteiro do próprio Miller nos convida para uma reflexão antes mesmo de nos darmos conta de tudo que vamos encontrar em duas horas de história - é a partir daí que, propositalmente, as provocações se tornam excelentes reflexões. Veja, conhecer o valor de uma história é entender o papel social que ela desempenha como troca de experiências, capaz de explicar algo que ainda, digamos, não pode ser bem definida racionalmente - foi assim que surgiram diferentes mitologias (nórdica, grega, egípcia, etc) que pautaram a evolução humana. O que dizer, por exemplo, quando algumas questões mais complexas da vida passam a ter explicações realistas com base "apenas" na ciência, as histórias então perdem sentido? Passaram a funcionar apenas como metáforas? 

Em "Era uma vez um Gênio" tudo é uma grande metáfora, porém inserida dentro de um embate dos mais inteligentes: se de um lado temos o a força academia de Binnie, do outro temos as histórias vividas por, acreditem, um Gênio. Envolvido por uma atmosfera brilhante, Miller Miller cria uma verdadeira viagem para os olhos e para os ouvidos, começando pela fotografia maravilhosa do John Seale (vencedor do Oscar por "O Paciente Inglês") extremamente alinhada a um desenho de produção riquíssimo deRoger Ford (de "Babe"), uma trilha cirúrgica de Tom Holkenborg ("Mad Max: Estrada da Fúria"), além, é claro, de figurinos de cair o queixo de Kym Barret (de "Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis") - aliás, é surpreendente o fato do filme não ter sido indicado em nenhuma categoria no Oscars 2023.

Como uma verdadeira experiência sensorial, "3000 Years of Longing" (no original) é surpreendente em sua intensidade mesmo dentro de sua proposta mais cadenciada - natural em uma conversa entre dois personagens ou em uma narrativa em off que serve para emoldurar o visual menos realista dos acontecimentos históricos. Para ficar mais fácil de entender, é como se estivéssemos lendo um livro e imaginando cada cena sem se preocupar exatamente com a riqueza de detalhes exata de uma época, mesmo tendo todas as referências para isso - é lindo!Em um jogo brilhante onde suas muitas histórias vão se conectando (espiritualmente até), ou na forma como Tilda Swinton e Idris Elba se provocam (fisicamente e emocionalmente) e até na escolha conceitual de George Miller ao retratar o vazio existencial usando a semiótica como base, posso garantir que esse filme é um presente para quem estiver disposto a embarcar nessa jornada com o coração aberto (mesmo que no final ele fique apertado)!

Vale muito o seu play (mas só se você gostou de "Fonte da Vida" ou de "Mãe!")!

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Estou pensando em acabar com tudo

"Estou pensando em acabar com tudo" é um filmaço, daqueles que dão nó na nossa cabeça, com a mesma força que nos provocam a refletir em cada cena, em cada diálogo e, principalmente, em cada construção alegórica que nos faz viajar aos momentos mais íntimos que guardamos nos cantos mais profundos da nossa alma! Sim, pode parecer poético demais, mas, de fato, esse filme é semiótica pura - e aqui cabe uma observação: "Estou pensando em acabar com tudo" é o novo filme do Charlie Kaufman, o cara por trás de roteiros pouco convencionais como "Quero Ser John Malkovich"  de 1999, "Adaptação" de 2002 e do inesquecível "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" de 2004, ou seja, se você não se apaixonou por nenhum deles, nem dê o play, pois certamente você vai querer me matar depois de duas horas de filme!

O filme adapta o romance de estreia do canadense Iain Reid, e conta a história de uma jovem (cujo personagem nem nome tem, ou melhor, cada hora a chamam por um nome, reparem; e é incrivelmente bem interpretado pela Jessie Buckley) que depois de seis ou sete semanas de relação com Jake (Jesse Plemons) já cogita seriamente terminar o namoro, mas ainda assim aceita viajar no meio de uma tempestade de neve para conhecer a fazenda dos sogros. O curioso é que a todo momento, a jovem frisa que precisa retornar no dia seguinte e isso diz muito sobre o filme como vamos explicar adiante, mas antes confira essa maravilha de trailer:

Já é possível imaginar que "Estou pensando em acabar com tudo" vai dividir opiniões, mais ou menos como aconteceu com "Mother!" do Aronofsky, e que se não for devidamente avisado, a reclamação sobre a perda de tempo será enorme; porém, o que posso adiantar, sem prejudicar a ótima experiência que é assistir o filme, é que essa não linearidade do tempo que vimos no trailer e como Lucy (vamos assumir esse nome para a protagonista) se comporta ao se sentir presa nele, vai ditar o entendimento de um complexo e cuidadoso roteiro! As idiossincrasias da personagem ao se relacionar com o tempo e como ela percebe sua passagem, com as decisões ruins que tomou ou com relacionamentos nocivos que teve na vida, são sensacionais! Olha, a partir do segundo ato, se você estiver imerso na história, tenho certeza que, muitas vezes, você vai se pegar pensando em algumas passagens marcantes da sua vida e se isso acontecer, o filme cumpriu o seu papel! Pode dar o "play" sem medo de errar!

Assista Agora ou

"Estou pensando em acabar com tudo" é um filmaço, daqueles que dão nó na nossa cabeça, com a mesma força que nos provocam a refletir em cada cena, em cada diálogo e, principalmente, em cada construção alegórica que nos faz viajar aos momentos mais íntimos que guardamos nos cantos mais profundos da nossa alma! Sim, pode parecer poético demais, mas, de fato, esse filme é semiótica pura - e aqui cabe uma observação: "Estou pensando em acabar com tudo" é o novo filme do Charlie Kaufman, o cara por trás de roteiros pouco convencionais como "Quero Ser John Malkovich"  de 1999, "Adaptação" de 2002 e do inesquecível "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" de 2004, ou seja, se você não se apaixonou por nenhum deles, nem dê o play, pois certamente você vai querer me matar depois de duas horas de filme!

O filme adapta o romance de estreia do canadense Iain Reid, e conta a história de uma jovem (cujo personagem nem nome tem, ou melhor, cada hora a chamam por um nome, reparem; e é incrivelmente bem interpretado pela Jessie Buckley) que depois de seis ou sete semanas de relação com Jake (Jesse Plemons) já cogita seriamente terminar o namoro, mas ainda assim aceita viajar no meio de uma tempestade de neve para conhecer a fazenda dos sogros. O curioso é que a todo momento, a jovem frisa que precisa retornar no dia seguinte e isso diz muito sobre o filme como vamos explicar adiante, mas antes confira essa maravilha de trailer:

Já é possível imaginar que "Estou pensando em acabar com tudo" vai dividir opiniões, mais ou menos como aconteceu com "Mother!" do Aronofsky, e que se não for devidamente avisado, a reclamação sobre a perda de tempo será enorme; porém, o que posso adiantar, sem prejudicar a ótima experiência que é assistir o filme, é que essa não linearidade do tempo que vimos no trailer e como Lucy (vamos assumir esse nome para a protagonista) se comporta ao se sentir presa nele, vai ditar o entendimento de um complexo e cuidadoso roteiro! As idiossincrasias da personagem ao se relacionar com o tempo e como ela percebe sua passagem, com as decisões ruins que tomou ou com relacionamentos nocivos que teve na vida, são sensacionais! Olha, a partir do segundo ato, se você estiver imerso na história, tenho certeza que, muitas vezes, você vai se pegar pensando em algumas passagens marcantes da sua vida e se isso acontecer, o filme cumpriu o seu papel! Pode dar o "play" sem medo de errar!

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Every Breath You Take

Assistir "Every Breath You Take" é como olhar para os dramas psicológicos, daqueles com fortes elementos de suspense do passado, como "Mulher Solteira Procura" ou "A Mão que Balança o Berço", porém com uma nova perspectiva de tentar focar no desenvolvimento de personagens mais complexos - funciona, mas até certo ponto. De fato o filme dirigido pelo Vaughn Stein (de "A Vingança Perfeita") entrega uma narrativa tensa e envolvente, mesmo com algumas passagens mais cadenciadas, explorando com inteligência as complexidades da mente humana. No entanto, o roteiro do novato David Murray acaba tropeçando na falta de originalidade de sua trama e na simplicidade de suas conclusões - isso acaba colocando um filme com muito potencial naquela prateleira de "apenas um excelente entretenimento para um sábado chuvoso". Eu diria que aqui temos um filme bom, fácil e bastante divertido, mas não inesquecível!

Após a trágica morte de Daphne (Emily Alyn Lind), uma de suas pacientes e com quem estabeleceu um forte vinculo emocional, o renomado psicólogo Philip (Casey Affleck) se vê envolvido em uma teia de segredos e obsessão. Ele passa a ser perseguido por James (Sam Claflin), o irmão perturbado de Daphne, que acredita ter motivos suficientes para aterrorizar Philip e toda sua família. Confira o trailer (em inglês):

Um dos pontos positivos de "Every Breath You Take" é o desempenho do elenco. Casey Affleck traz uma intensidade sutil ao seu papel, transmitindo a confusão e a angústia de seu personagem de maneira convincente - ele sabe trabalhar o silêncio e a dor mais íntima, criando uma atmosfera de melancolia impressionante. Reparem como ele se relaciona com sua mulher, Grace (Michelle Monaghan), e como essa relação vai ganhando força e desconstruindo toda uma expectativa de "volta por cima" para essa família. Já Sam Claflin, de certa forma, também se destaca como o antagonista - em alguns momentos ele pode até parecer mais estereotipado, mas é inegável sua capacidade de transmitir um tom de ameaça constante e perturbadora sem precisar se apoiar nos diálogos.

A direção de Vaughn Stein é competente, apresentando uma estética pesada que chama atenção. Ao lado do fotógrafo Michael Merriman (responsável pela segunda unidade de "Green Book"), Stein se aproveita de um conceito visualmente desconfortável, valorizando uma palheta mais fria e um cenário gélido - isso aproxima o drama do suspense com a gramática correta. Ao criar essa atmosfera de tensão permanente, ele nos conquista pela forma e não necessariamente pelo conteúdo - no terceiro ato, mesmo com uma reviravolta interessante (e talvez óbvia), essa afirmação fica ainda mais clara.

"Every Breath You Take" é um filme que se propõe a examinar as consequências devastadoras da psicopatia, explorando os limites da moralidade de uma maneira mais clássica. Com performances intensas e uma direção habilidosa, o filme nos leva por um caminho sinuoso, onde nada pode ser descartado quando o assunto é a dor íntima, a depressão. Ao mergulhar em uma história naturalmente envolvente, nos permitimos entender as fraquezas do roteiro como parte da imaturidade de seu roteirista, mas que nem por isso deixa de entregar uma trama divertida.

Pela pipoca, pelo cobertor e pelo entretenimento despretensioso, vá para o play!

Assista Agora

Assistir "Every Breath You Take" é como olhar para os dramas psicológicos, daqueles com fortes elementos de suspense do passado, como "Mulher Solteira Procura" ou "A Mão que Balança o Berço", porém com uma nova perspectiva de tentar focar no desenvolvimento de personagens mais complexos - funciona, mas até certo ponto. De fato o filme dirigido pelo Vaughn Stein (de "A Vingança Perfeita") entrega uma narrativa tensa e envolvente, mesmo com algumas passagens mais cadenciadas, explorando com inteligência as complexidades da mente humana. No entanto, o roteiro do novato David Murray acaba tropeçando na falta de originalidade de sua trama e na simplicidade de suas conclusões - isso acaba colocando um filme com muito potencial naquela prateleira de "apenas um excelente entretenimento para um sábado chuvoso". Eu diria que aqui temos um filme bom, fácil e bastante divertido, mas não inesquecível!

Após a trágica morte de Daphne (Emily Alyn Lind), uma de suas pacientes e com quem estabeleceu um forte vinculo emocional, o renomado psicólogo Philip (Casey Affleck) se vê envolvido em uma teia de segredos e obsessão. Ele passa a ser perseguido por James (Sam Claflin), o irmão perturbado de Daphne, que acredita ter motivos suficientes para aterrorizar Philip e toda sua família. Confira o trailer (em inglês):

Um dos pontos positivos de "Every Breath You Take" é o desempenho do elenco. Casey Affleck traz uma intensidade sutil ao seu papel, transmitindo a confusão e a angústia de seu personagem de maneira convincente - ele sabe trabalhar o silêncio e a dor mais íntima, criando uma atmosfera de melancolia impressionante. Reparem como ele se relaciona com sua mulher, Grace (Michelle Monaghan), e como essa relação vai ganhando força e desconstruindo toda uma expectativa de "volta por cima" para essa família. Já Sam Claflin, de certa forma, também se destaca como o antagonista - em alguns momentos ele pode até parecer mais estereotipado, mas é inegável sua capacidade de transmitir um tom de ameaça constante e perturbadora sem precisar se apoiar nos diálogos.

A direção de Vaughn Stein é competente, apresentando uma estética pesada que chama atenção. Ao lado do fotógrafo Michael Merriman (responsável pela segunda unidade de "Green Book"), Stein se aproveita de um conceito visualmente desconfortável, valorizando uma palheta mais fria e um cenário gélido - isso aproxima o drama do suspense com a gramática correta. Ao criar essa atmosfera de tensão permanente, ele nos conquista pela forma e não necessariamente pelo conteúdo - no terceiro ato, mesmo com uma reviravolta interessante (e talvez óbvia), essa afirmação fica ainda mais clara.

"Every Breath You Take" é um filme que se propõe a examinar as consequências devastadoras da psicopatia, explorando os limites da moralidade de uma maneira mais clássica. Com performances intensas e uma direção habilidosa, o filme nos leva por um caminho sinuoso, onde nada pode ser descartado quando o assunto é a dor íntima, a depressão. Ao mergulhar em uma história naturalmente envolvente, nos permitimos entender as fraquezas do roteiro como parte da imaturidade de seu roteirista, mas que nem por isso deixa de entregar uma trama divertida.

Pela pipoca, pelo cobertor e pelo entretenimento despretensioso, vá para o play!

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Ex-Machina

Se vc gosta de "Black Mirror" e ainda não assistiu "Ex-Machina", você não tem noção do que está perdendo! O filme bebe da mesma fonte (e com muita competência) dos melhores anos da série, na época em que ainda era produzida na Inglaterra.

O filme acompanha o programador Caleb (Domhnall Gleeson) desde o momento em que é selecionado para trabalhar num projeto especial de sua empresa. Movido para a reclusa e luxuosa moradia do CEO Nathan (Oscar Isaac), uma espécie de Steve Jobs da ficção, Caleb descobre que seu chefe criou uma avançada forma de inteligência artificial: a andróide Eva (Alicia Vikander). Ali, o jovem precisa testar a capacidade da máquina em se passar por um humano até que se vê em um perigoso jogo de duplas intenções. Confira o trailer:

"Ex-Machina", com muita justiça, mesmo sendo um filme quase independente, concorreu em duas categorias para o Oscar de 2016: Roteiro Original e Efeitos Visuais; mas vale dizer que antes disso ele já havia levado mais de 50 prêmios em uma carreira impressionante em vários festivais pelo mundo. O fato é que o filme acabou ganhando o Oscar de Efeitos Visuais, que são incríveis mesmo e chamam muito atenção, mas aqui cabe um comentário importante que merece sua atenção: a atriz Alicia Vikander, concorreu ao Oscar no mesmo ano por outro filme: "Garota Dinamarquesa"; mas seu trabalho em "Ex-Machina", certamente chancelou a vitória em "Efeitos Visuais" - foi o raro caso onde os efeitos fizeram a diferença ao se misturar com o talento de uma atuação primorosa e que acabou criando uma espécie de simbiose entre o espiritual e o tecnológico. Lindo de ver - reparem nas sessões entre Caleb e Eva como são fascinantes. A habilidade de Eva ao demonstrar ideias e pensamentos tão complexos para uma máquina, e vê-la subvertendo os papéis com o programador humano é uma aula de roteiro, de interpretação e de pós-produção!

O roteiro é até um pouco previsível, mas é inegável o seu valor, e a capacidade do roteirista e diretor Alex Garland de unir tantos elementos técnicos e artísticos para construir uma história tão sólida e instigante - é de se aplaudir de pé! Dito isso, "Ex-Machina" é um thriller psicológico com toques de ficção científica da melhor qualidade. Imperdível! Vale muito seu play!

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Se vc gosta de "Black Mirror" e ainda não assistiu "Ex-Machina", você não tem noção do que está perdendo! O filme bebe da mesma fonte (e com muita competência) dos melhores anos da série, na época em que ainda era produzida na Inglaterra.

O filme acompanha o programador Caleb (Domhnall Gleeson) desde o momento em que é selecionado para trabalhar num projeto especial de sua empresa. Movido para a reclusa e luxuosa moradia do CEO Nathan (Oscar Isaac), uma espécie de Steve Jobs da ficção, Caleb descobre que seu chefe criou uma avançada forma de inteligência artificial: a andróide Eva (Alicia Vikander). Ali, o jovem precisa testar a capacidade da máquina em se passar por um humano até que se vê em um perigoso jogo de duplas intenções. Confira o trailer:

"Ex-Machina", com muita justiça, mesmo sendo um filme quase independente, concorreu em duas categorias para o Oscar de 2016: Roteiro Original e Efeitos Visuais; mas vale dizer que antes disso ele já havia levado mais de 50 prêmios em uma carreira impressionante em vários festivais pelo mundo. O fato é que o filme acabou ganhando o Oscar de Efeitos Visuais, que são incríveis mesmo e chamam muito atenção, mas aqui cabe um comentário importante que merece sua atenção: a atriz Alicia Vikander, concorreu ao Oscar no mesmo ano por outro filme: "Garota Dinamarquesa"; mas seu trabalho em "Ex-Machina", certamente chancelou a vitória em "Efeitos Visuais" - foi o raro caso onde os efeitos fizeram a diferença ao se misturar com o talento de uma atuação primorosa e que acabou criando uma espécie de simbiose entre o espiritual e o tecnológico. Lindo de ver - reparem nas sessões entre Caleb e Eva como são fascinantes. A habilidade de Eva ao demonstrar ideias e pensamentos tão complexos para uma máquina, e vê-la subvertendo os papéis com o programador humano é uma aula de roteiro, de interpretação e de pós-produção!

O roteiro é até um pouco previsível, mas é inegável o seu valor, e a capacidade do roteirista e diretor Alex Garland de unir tantos elementos técnicos e artísticos para construir uma história tão sólida e instigante - é de se aplaudir de pé! Dito isso, "Ex-Machina" é um thriller psicológico com toques de ficção científica da melhor qualidade. Imperdível! Vale muito seu play!

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Fale Comigo

Uma pancada! E você não vai precisar mais do que o prólogo para entender onde está se enfiando. Impactante e muito bem desenvolvido como obra cinematográfica, "Fale Comigo" é uma verdadeira viagem pelo gênero do suspense que sabe brincar com imaginário coletivo e provocar aquela sensação de "o que eu faria numa situação dessas (com 16 anos de idade, claro)". Essa produção australiana dirigida pela jovem e talentosa dupla Danny e Michael Philippou, não apenas desafia as fronteiras do convencional, como também mergulha, cheia de simbolismos, em um mundo onde a adrenalina se mistura com o sobrenatural da maneira mais inesperada e criativa possível. A narrativa simples, intriga, e a execução magistral fazem desse filme uma das surpresas de 2023 e que não deve ser ignorada se você gosta de uns sustos. Com uma abordagem sem rodeios, mas cheia de referências que vão de Jordan Peele a  M. Night Shyamalan, passando por William Friedkin e James Wan, "Fale Comigo" conquistou o destaque merecido em Festivais de Cinema pelo mundo não apenas por sua trama envolvente, mas também por sua originalidade dentro do gênero. Em um cenário saturado de clichês eu diria que aqui temos  a essência mainstream de "Invocação do Mal" e o tom mais autoral de "Hereditário" ou de "Verônica", equilibrando suas potencialidades, mas trilhando seu próprio caminho.

Mia (Sophie Wilde) e seus amigos embarcam em uma jornada sobrenatural ao descobrir um ritual único de se conectar com os mortos: basta dizer "fale comigo" segurando uma espécie de mão embalsamada que dizem ser de uma médium. Essas experiências, além de curiosas, acabam viciando o grupo pela adrenalina e a sensação de desafiar os limites do perigo, no entanto, um deles acaba indo longe demais, liberando forças espirituais aterrorizantes e que acabam marcando suas vidas para sempre. Confira o trailer (em inglês):

Com uma trama repleta de momentos de impacto visual e uma atmosfera permanente de suspense que deixa claro que tanto roteiro quanto direção sabem respeitar a gramática cinematográfica do gênero com muita habilidade, "Fale Comigo" marca um golaço ao representar os jovens personagens de maneira autêntica e com a sensibilidade de quem sabe o que está falando - da brincadeira, quase bullying, entre dois grandes amigos ao relacionamento entre pais e filhos que prezam pela confiança, mas vacilam ao não levar em conta o ambiente em que estão inseridos. Veja, embora não seja essa a proposta essencial do roteiro, o filme sabe muito bem onde tocar nas feridas de uma geração pautada pelo espetáculo e aceitação social.

Os Philippou sabem como criar uma atmosfera densa e envolvente. A fotografia do Aaron McLisky (de "Jogo Perfeito") nos conduz por um universo de tons sombrios e contrastes bem calibrados, que contribuem para uma ambientação, de fato, marcante. A direção sabe da importância dessa personalidade visual, de como a expectativa do susto pode nos angustiar, de como o drama pessoal é importante para acreditarmos nos personagens e de como tudo isso precisa estar alinhado para que o uso inteligente do suspense intensifique a nossa experiência. A montagem habilidosa do Geoff Lamb e a trilha sonora do Cornel Wilczek, claro, mantém o clima pesado e o ritmo eletrizante, mas eu diria que é a maquiagem bem executada que contribui para a autenticidade sobrenatural, sem cair em exageros.

A dualidade entre o vício na adrenalina e as forças aterrorizantes desencadeadas por uma "brincadeira inocente" fornece, de fato, uma camada palpável e até intrigante para a trama, e talvez seja isso que faz com que "Fale Comigo" supere as expectativas. Cada detalhe, desde a atuação de um elenco afinado até o ótimo desenho de som, enfim, tudo contribui para criar um filme que deixa uma marca interessante para quem gosta desse tipo de suspense. Então, se você procura por uma jornada que desafie convenções do gênero, esse filme é mais do que imperdível e vai valer muito o seu play!

Assista Agora

Uma pancada! E você não vai precisar mais do que o prólogo para entender onde está se enfiando. Impactante e muito bem desenvolvido como obra cinematográfica, "Fale Comigo" é uma verdadeira viagem pelo gênero do suspense que sabe brincar com imaginário coletivo e provocar aquela sensação de "o que eu faria numa situação dessas (com 16 anos de idade, claro)". Essa produção australiana dirigida pela jovem e talentosa dupla Danny e Michael Philippou, não apenas desafia as fronteiras do convencional, como também mergulha, cheia de simbolismos, em um mundo onde a adrenalina se mistura com o sobrenatural da maneira mais inesperada e criativa possível. A narrativa simples, intriga, e a execução magistral fazem desse filme uma das surpresas de 2023 e que não deve ser ignorada se você gosta de uns sustos. Com uma abordagem sem rodeios, mas cheia de referências que vão de Jordan Peele a  M. Night Shyamalan, passando por William Friedkin e James Wan, "Fale Comigo" conquistou o destaque merecido em Festivais de Cinema pelo mundo não apenas por sua trama envolvente, mas também por sua originalidade dentro do gênero. Em um cenário saturado de clichês eu diria que aqui temos  a essência mainstream de "Invocação do Mal" e o tom mais autoral de "Hereditário" ou de "Verônica", equilibrando suas potencialidades, mas trilhando seu próprio caminho.

Mia (Sophie Wilde) e seus amigos embarcam em uma jornada sobrenatural ao descobrir um ritual único de se conectar com os mortos: basta dizer "fale comigo" segurando uma espécie de mão embalsamada que dizem ser de uma médium. Essas experiências, além de curiosas, acabam viciando o grupo pela adrenalina e a sensação de desafiar os limites do perigo, no entanto, um deles acaba indo longe demais, liberando forças espirituais aterrorizantes e que acabam marcando suas vidas para sempre. Confira o trailer (em inglês):

Com uma trama repleta de momentos de impacto visual e uma atmosfera permanente de suspense que deixa claro que tanto roteiro quanto direção sabem respeitar a gramática cinematográfica do gênero com muita habilidade, "Fale Comigo" marca um golaço ao representar os jovens personagens de maneira autêntica e com a sensibilidade de quem sabe o que está falando - da brincadeira, quase bullying, entre dois grandes amigos ao relacionamento entre pais e filhos que prezam pela confiança, mas vacilam ao não levar em conta o ambiente em que estão inseridos. Veja, embora não seja essa a proposta essencial do roteiro, o filme sabe muito bem onde tocar nas feridas de uma geração pautada pelo espetáculo e aceitação social.

Os Philippou sabem como criar uma atmosfera densa e envolvente. A fotografia do Aaron McLisky (de "Jogo Perfeito") nos conduz por um universo de tons sombrios e contrastes bem calibrados, que contribuem para uma ambientação, de fato, marcante. A direção sabe da importância dessa personalidade visual, de como a expectativa do susto pode nos angustiar, de como o drama pessoal é importante para acreditarmos nos personagens e de como tudo isso precisa estar alinhado para que o uso inteligente do suspense intensifique a nossa experiência. A montagem habilidosa do Geoff Lamb e a trilha sonora do Cornel Wilczek, claro, mantém o clima pesado e o ritmo eletrizante, mas eu diria que é a maquiagem bem executada que contribui para a autenticidade sobrenatural, sem cair em exageros.

A dualidade entre o vício na adrenalina e as forças aterrorizantes desencadeadas por uma "brincadeira inocente" fornece, de fato, uma camada palpável e até intrigante para a trama, e talvez seja isso que faz com que "Fale Comigo" supere as expectativas. Cada detalhe, desde a atuação de um elenco afinado até o ótimo desenho de som, enfim, tudo contribui para criar um filme que deixa uma marca interessante para quem gosta desse tipo de suspense. Então, se você procura por uma jornada que desafie convenções do gênero, esse filme é mais do que imperdível e vai valer muito o seu play!

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Fome de Sucesso

A maravilha do universo do streaming é poder apresentar um filme tailandês para o grande público e permitir que ele se apaixone por uma escola cinematográfica completamente nova que antes se limitava apenas aos festivais de cinema. Esse é o sentimento ao subirem os créditos de "Fome de Sucesso" do diretor Sitisiri Mongkolsiri (guarde esse nome, ou pelo menos tente). Surfando na onda de "O Menu", mas sem esquecer de referências narrativas e visuais de "Pegando Fogo", "Chef's Table" e até de "Parasita" e "Whiplash", o filme equilibra perfeitamente uma forte critica social pautada em seus extremos e desigualdades, com toda aquela atmosfera envolvente do mundo da gastronomia e dos grandes (e excêntricos) chef's.

A história acompanha uma jovem chamada Aoy (Chutimon Chuengcharoensukying) - ela é a responsável por um pequeno restaurante familiar até que um dia recebe um inesperado convite para se juntar à equipe "Hunger" (título original do filme), formada apenas por talentosos chef's de luxo da Tailândia e liderada pelo famoso (e infame) Chef Paul (Nopachai Chaiyanam). O desagradável líder do grupo é conhecido por ser tão genial quanto insuportável, com isso se inicia um profundo jogo psicológico para ver quem será capaz de sobreviver aos mandos e desmandos de Paul e com isso se estabelecer na carreira. Confira o trailer (em inglês):

É inegável que embora tenhamos uma direção das mais competentes e atores em excelentes performances, é o roteiro que brilha - mas não naquilo que é mais palpável ou perceptível, como seus diálogos simples, diretos e bem estruturados. O que chama atenção mesmo é a maneira como o subtexto é inserido na trama sem precisar ser didático demais, já que é a crítica social que vai construindo uma discussão importante e relevante para a audiência, mas que em nenhum momento se esquece do fator "entretenimento" do filme. Veja, assim como em "O Menu", o roteirista Kongdej Jaturanrasamee faz questão de pontuar que são aquelas pessoas que não precisam se preocupar com dinheiro e com a fome, que também não se importam necessariamente com o que estão comendo, e é isso que reforça uma mensagem de superioridade diante das classes menos favorecidas - são muitas passagens que seguem esse conceito e que chocam como em "O Poço", por exemplo.

O interessante, e talvez por isso seja tão genial, é que "Fome de Sucesso" humaniza toda a sua jornada a partir de uma desconstrução profunda de Aoy que se vê em constantes dilemas internos para tentar sobreviver ao exigente universo da gastronomia e assim atingir os seus objetivos profissionais - quem nunca passou por isso? Em um determinado momento, até conceitos mais específicos, como a importância cultural do comfort food, são discutidos. Reparem como desde a busca do corte perfeito ou do controle ideal do fogo até as experiências mais absurdas de jovens milionários (e nem por isso menos mimados), o filme não se perde nos detalhes e se aproveita de questões como assédio moral e busca de identidade para discutir a importância dos valores, mais precisamente, como eles foram se perdendo ao longo dos anos de transformação da Tailândia.

"Fome de Sucesso" é uma jóia que merece sua atenção! Tecnicamente perfeito, embora com aquele estilo "Chef's Table" que pode soar um pouco batido, o filme é mais complexo do que parece, pois ele é capaz de cobrir o luxo e o lixo com a mesma veracidade e inquietude - o que vai incomodar muita gente. A sensibilidade da fotografia em destacar as mansões luxuosas e as pequenas ruas sujas do bairro de Ayo é tão intrigante quanto o recorte de estar em um vilarejo de pescadores buscando o que há de melhor para oferecer como produto e que curiosamente também serve como única alternativa de sobrevivência para aquela comunidade. Dolorido, mas genial!

Vale muito o seu play!

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A maravilha do universo do streaming é poder apresentar um filme tailandês para o grande público e permitir que ele se apaixone por uma escola cinematográfica completamente nova que antes se limitava apenas aos festivais de cinema. Esse é o sentimento ao subirem os créditos de "Fome de Sucesso" do diretor Sitisiri Mongkolsiri (guarde esse nome, ou pelo menos tente). Surfando na onda de "O Menu", mas sem esquecer de referências narrativas e visuais de "Pegando Fogo", "Chef's Table" e até de "Parasita" e "Whiplash", o filme equilibra perfeitamente uma forte critica social pautada em seus extremos e desigualdades, com toda aquela atmosfera envolvente do mundo da gastronomia e dos grandes (e excêntricos) chef's.

A história acompanha uma jovem chamada Aoy (Chutimon Chuengcharoensukying) - ela é a responsável por um pequeno restaurante familiar até que um dia recebe um inesperado convite para se juntar à equipe "Hunger" (título original do filme), formada apenas por talentosos chef's de luxo da Tailândia e liderada pelo famoso (e infame) Chef Paul (Nopachai Chaiyanam). O desagradável líder do grupo é conhecido por ser tão genial quanto insuportável, com isso se inicia um profundo jogo psicológico para ver quem será capaz de sobreviver aos mandos e desmandos de Paul e com isso se estabelecer na carreira. Confira o trailer (em inglês):

É inegável que embora tenhamos uma direção das mais competentes e atores em excelentes performances, é o roteiro que brilha - mas não naquilo que é mais palpável ou perceptível, como seus diálogos simples, diretos e bem estruturados. O que chama atenção mesmo é a maneira como o subtexto é inserido na trama sem precisar ser didático demais, já que é a crítica social que vai construindo uma discussão importante e relevante para a audiência, mas que em nenhum momento se esquece do fator "entretenimento" do filme. Veja, assim como em "O Menu", o roteirista Kongdej Jaturanrasamee faz questão de pontuar que são aquelas pessoas que não precisam se preocupar com dinheiro e com a fome, que também não se importam necessariamente com o que estão comendo, e é isso que reforça uma mensagem de superioridade diante das classes menos favorecidas - são muitas passagens que seguem esse conceito e que chocam como em "O Poço", por exemplo.

O interessante, e talvez por isso seja tão genial, é que "Fome de Sucesso" humaniza toda a sua jornada a partir de uma desconstrução profunda de Aoy que se vê em constantes dilemas internos para tentar sobreviver ao exigente universo da gastronomia e assim atingir os seus objetivos profissionais - quem nunca passou por isso? Em um determinado momento, até conceitos mais específicos, como a importância cultural do comfort food, são discutidos. Reparem como desde a busca do corte perfeito ou do controle ideal do fogo até as experiências mais absurdas de jovens milionários (e nem por isso menos mimados), o filme não se perde nos detalhes e se aproveita de questões como assédio moral e busca de identidade para discutir a importância dos valores, mais precisamente, como eles foram se perdendo ao longo dos anos de transformação da Tailândia.

"Fome de Sucesso" é uma jóia que merece sua atenção! Tecnicamente perfeito, embora com aquele estilo "Chef's Table" que pode soar um pouco batido, o filme é mais complexo do que parece, pois ele é capaz de cobrir o luxo e o lixo com a mesma veracidade e inquietude - o que vai incomodar muita gente. A sensibilidade da fotografia em destacar as mansões luxuosas e as pequenas ruas sujas do bairro de Ayo é tão intrigante quanto o recorte de estar em um vilarejo de pescadores buscando o que há de melhor para oferecer como produto e que curiosamente também serve como única alternativa de sobrevivência para aquela comunidade. Dolorido, mas genial!

Vale muito o seu play!

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Fragmentado

Eu já disse uma vez e não canso de repetir: um dos melhores elogios que um diretor pode receber é quando o publico vê em seu filme o reflexo do seu estilo, do seu trabalho técnico, e isso é muito fácil de encontrar nos filmes do Shyamalan - quando ele acerta e quando ele erra. Ele é criativo demais, ele coloca a câmera sempre em lugares inusitados, os movimentos contam a história sem a necessidade de muitos cortes, ele brinca com os eixos como ninguém e quando o gênero é suspense, o cara domina a gramática como poucos!!! Sou fã do Shyamalan, sempre fui e acho ele um excelente diretor!!!

Pois bem, em "Fragmentado" ele parece ter retomado o que sabe fazer de melhor: nos envolver em uma trama misteriosa onde as respostas vão surgindo conforme a história se desenrola e muitas vezes, nos surpreendendo. Dennis (McAvoy) sequestra três estudantes aparentemente sem motivo algum e ao mantê-las em cativeiro ele vai desenvolvendo uma relação extremamente complexa com as meninas a ponto de duvidarmos da sua consciência. Claro que o filme foca nas multi-personalidades do protagonista, mas na forma com é conduzida. a história passa a ser muito mais interessante do que propriamente pelo seu conteúdo. Confira o trailer:

É um fato que "Fragmentado" funciona como entretenimento com um toque de suspense!!! Como mencionei, o filme é interessante, mas está longe de ser uma obra prima... e ainda bem!!!! Sem dúvida é o melhor filme dele depois da "Vila", mas, olha a crueldade: ainda é um filme inferior à "Sinais", "Corpo Fechado" e, claro, "Sexto Sentido". 

O engraçado é que todo mundo, por muito tempo, assistiu os filmes do Shyamalan esperando a mesma fórmula de sucesso do Sexto Sentido, um plot twist matador no último ato, algo incrivelmente surpreendente que mudasse completamente nosso entendimento e fizesse nossa cabeça explodir! O problema é que ele acabou caindo no erro de querer defender essa expectativa em todo filme e foi decepcionando gradativamente o seu público até cair no ostracismo! Por que estou falando isso? Em  "Fragmentado" ele foge dessa fórmula, mas não abre mão de sua aposta no diálogo bem construído, equilibrando o drama psicológico com uma narrativa estereotipada de gênero que funciona perfeitamente!

"Fragmentado" se torna, no mínimo, um filme divertido, mas no finalzinho que ele vacila ao querer agradar demais seus fãs para um futuro cross-over - ok, tem o propósito de provocar a audiência, claro, mas será que se sustenta, será que faz sentido? Eu admito que curti, mas prefiro esperar pra ver se vai funcionar mesmo! Por enquanto, aperto o play porque você vai se divertir!

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Eu já disse uma vez e não canso de repetir: um dos melhores elogios que um diretor pode receber é quando o publico vê em seu filme o reflexo do seu estilo, do seu trabalho técnico, e isso é muito fácil de encontrar nos filmes do Shyamalan - quando ele acerta e quando ele erra. Ele é criativo demais, ele coloca a câmera sempre em lugares inusitados, os movimentos contam a história sem a necessidade de muitos cortes, ele brinca com os eixos como ninguém e quando o gênero é suspense, o cara domina a gramática como poucos!!! Sou fã do Shyamalan, sempre fui e acho ele um excelente diretor!!!

Pois bem, em "Fragmentado" ele parece ter retomado o que sabe fazer de melhor: nos envolver em uma trama misteriosa onde as respostas vão surgindo conforme a história se desenrola e muitas vezes, nos surpreendendo. Dennis (McAvoy) sequestra três estudantes aparentemente sem motivo algum e ao mantê-las em cativeiro ele vai desenvolvendo uma relação extremamente complexa com as meninas a ponto de duvidarmos da sua consciência. Claro que o filme foca nas multi-personalidades do protagonista, mas na forma com é conduzida. a história passa a ser muito mais interessante do que propriamente pelo seu conteúdo. Confira o trailer:

É um fato que "Fragmentado" funciona como entretenimento com um toque de suspense!!! Como mencionei, o filme é interessante, mas está longe de ser uma obra prima... e ainda bem!!!! Sem dúvida é o melhor filme dele depois da "Vila", mas, olha a crueldade: ainda é um filme inferior à "Sinais", "Corpo Fechado" e, claro, "Sexto Sentido". 

O engraçado é que todo mundo, por muito tempo, assistiu os filmes do Shyamalan esperando a mesma fórmula de sucesso do Sexto Sentido, um plot twist matador no último ato, algo incrivelmente surpreendente que mudasse completamente nosso entendimento e fizesse nossa cabeça explodir! O problema é que ele acabou caindo no erro de querer defender essa expectativa em todo filme e foi decepcionando gradativamente o seu público até cair no ostracismo! Por que estou falando isso? Em  "Fragmentado" ele foge dessa fórmula, mas não abre mão de sua aposta no diálogo bem construído, equilibrando o drama psicológico com uma narrativa estereotipada de gênero que funciona perfeitamente!

"Fragmentado" se torna, no mínimo, um filme divertido, mas no finalzinho que ele vacila ao querer agradar demais seus fãs para um futuro cross-over - ok, tem o propósito de provocar a audiência, claro, mas será que se sustenta, será que faz sentido? Eu admito que curti, mas prefiro esperar pra ver se vai funcionar mesmo! Por enquanto, aperto o play porque você vai se divertir!

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Fresh

"Fresh" é para você que gosta dos filmes do Jordan Peele, como "Corra!" e "Nós" - e olha, a similaridade não está no conteúdo e sim na forma quase non-sense de contar uma história de suspense com muitos elementos de terror e sangue, muito sangue. Então esteja preparado para uma experiência sensorial que vai do nojo ao humor indelicado, surpreendente, contagiante, mas com um gosto muito particular de gênero.

Em "Fresh" conhecemos a  jovem e solteira Noa (Daisy Edgar-Jones), que inesperadamente encontra o sedutor Steve (Sebastian Stan) em um supermercado e, devido à frustração das recentes experiências com aplicativos de namoro, resolve arriscar e dar o seu número para o rapaz. Após um primeiro encontro romântico e envolvente, Noa aceita o convite de Steve para passar um final de semana juntos, porém o que parecia a chance de um grande amor acaba se tornando um pesadelo cheio de gostos e sabores. Confira o trailer:

Embora seja o primeiro trabalho da diretora Mimi Cave é notável seu domínio narrativo de uma gramática cinematográfica que nem sempre se encaixa com a proposta conceitual de um roteiro como esse - aliás, essa poderia ser uma história aterrorizante se fosse levada a sério, mas Cave parece ser uma diretora que não teme correr riscos e referenciada por nomes como o já citado Jordan Peele, Quentin Tarantino e até Bong Joon-Ho, entrega um filme que abusa do over-acting e se aproxima do kitsch para criar uma dinâmica tão absurda quanto divertida.

Unir todos esses pontos me pareceu ser o maior mérito de "Fresh" - é um fato que estamos sempre com os nervos a flor da pele esperando uma catástrofe que está anunciada desde o final de um bem desenvolvido primeiro ato. A montagem do Martin Pensa (de "Clube de Compras Dallas") brinca com nossa percepção ao traçar paralelos entre o arco principal e as subtramas - a verdade é que nunca sabemos o que vamos encontrar já que os cortes secos e dinâmicos criam uma atmosfera de insegurança absurda: seja na hora em que Steve está cozinhando, seja no sincronismo das ações em ambientes distintos.

É claro que "Fresh" não tem a profundidade e muito mesmo a força crítica de "Parasita" (embora tente), mas também é inegável a intenção da diretora, e da roteirista Lauryn Kahn, em dar voz ao feminismo, empoderando as protagonistas e ridicularizando qualquer figura masculina do filme. A própria importância do cenário (e de todo desenho de produção) nesse contexto, ajuda na construção de um clima claustrofóbico, ao mesmo tempo requintado, onde Steve reina e que, mais uma vez, nos remete ao filme de Bong Joon-Ho. Talvez até o final siga o mesmo caminho, mas aí já com um toque de "Silêncio dos Inocentes", mas o fato é que o nível de catarse é incrível e a sensação de originalidade soa maior ainda e, mesmo que essa não a realidade, toda essa mistura funciona muito bem.

Vale o play!

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"Fresh" é para você que gosta dos filmes do Jordan Peele, como "Corra!" e "Nós" - e olha, a similaridade não está no conteúdo e sim na forma quase non-sense de contar uma história de suspense com muitos elementos de terror e sangue, muito sangue. Então esteja preparado para uma experiência sensorial que vai do nojo ao humor indelicado, surpreendente, contagiante, mas com um gosto muito particular de gênero.

Em "Fresh" conhecemos a  jovem e solteira Noa (Daisy Edgar-Jones), que inesperadamente encontra o sedutor Steve (Sebastian Stan) em um supermercado e, devido à frustração das recentes experiências com aplicativos de namoro, resolve arriscar e dar o seu número para o rapaz. Após um primeiro encontro romântico e envolvente, Noa aceita o convite de Steve para passar um final de semana juntos, porém o que parecia a chance de um grande amor acaba se tornando um pesadelo cheio de gostos e sabores. Confira o trailer:

Embora seja o primeiro trabalho da diretora Mimi Cave é notável seu domínio narrativo de uma gramática cinematográfica que nem sempre se encaixa com a proposta conceitual de um roteiro como esse - aliás, essa poderia ser uma história aterrorizante se fosse levada a sério, mas Cave parece ser uma diretora que não teme correr riscos e referenciada por nomes como o já citado Jordan Peele, Quentin Tarantino e até Bong Joon-Ho, entrega um filme que abusa do over-acting e se aproxima do kitsch para criar uma dinâmica tão absurda quanto divertida.

Unir todos esses pontos me pareceu ser o maior mérito de "Fresh" - é um fato que estamos sempre com os nervos a flor da pele esperando uma catástrofe que está anunciada desde o final de um bem desenvolvido primeiro ato. A montagem do Martin Pensa (de "Clube de Compras Dallas") brinca com nossa percepção ao traçar paralelos entre o arco principal e as subtramas - a verdade é que nunca sabemos o que vamos encontrar já que os cortes secos e dinâmicos criam uma atmosfera de insegurança absurda: seja na hora em que Steve está cozinhando, seja no sincronismo das ações em ambientes distintos.

É claro que "Fresh" não tem a profundidade e muito mesmo a força crítica de "Parasita" (embora tente), mas também é inegável a intenção da diretora, e da roteirista Lauryn Kahn, em dar voz ao feminismo, empoderando as protagonistas e ridicularizando qualquer figura masculina do filme. A própria importância do cenário (e de todo desenho de produção) nesse contexto, ajuda na construção de um clima claustrofóbico, ao mesmo tempo requintado, onde Steve reina e que, mais uma vez, nos remete ao filme de Bong Joon-Ho. Talvez até o final siga o mesmo caminho, mas aí já com um toque de "Silêncio dos Inocentes", mas o fato é que o nível de catarse é incrível e a sensação de originalidade soa maior ainda e, mesmo que essa não a realidade, toda essa mistura funciona muito bem.

Vale o play!

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Fuja

"Fuja" é a boa opção de entretenimento da Netflix. Um drama familiar recheado de momentos de tensão e ótimas atuações. O diretor Aneesh Chaganty já deu mostras da sua criatividade e objetividade no disruptivo "Buscando..." (2018). Aqui, ele traz mais uma história urgente e ágil; porém, adota uma estética tradicional para compor sua narrativa.

Na trama, temos uma adolescente, Chloe (Kiera Allen), que nasceu com várias doenças físicas, exigindo adaptações na sua casa e na sua alimentação. Apesar disso, logo percebemos que a rotina dela é excessivamente controlada pela mãe (Sarah Paulson): de homeschooling (substituição da escola por estudos em casa) à restrição total de celular. Após presenciar alguns acontecimentos estranhos, desconfiada, Chloe inicia uma espécie de investigação que a leva a descobertas surpreendentes. Confira o trailer:

A superação física e a inteligência de Chloe faz com que tenhamos empatia imediata por ela. Isso é fundamental para que a narrativa funcione, pois é através do ponto de vista dela que enxergamos a história. Ponto para a atriz Kiera Allen, que ainda possui poucos trabalhos no currículo. E o que falar de Sarah Paulson? A queridinha do universo das séries honra sua fama de "força da natureza", dando vida (e morbidade) a uma mãe dúbia, controladora e misteriosa. É interessante notar que, apesar de não ser a protagonista, ela é vendida como tal na divulgação do filme, tamanho o prestígio que sua imagem tem.

O roteiro acha soluções criativas para os obstáculos enfrentados pela jovem. Além disso, é competente em criar tensão e preciso na duração das cenas. Entretanto, sofre com a estrutura convencional e relativamente previsível, perdendo forças no ato final – principalmente se você conhece histórias recentes como "Objetos Cortantes" e "The Act". Com um desfecho controverso (ou seria apenas subversivo?), "Run" (título original) é um thriller competente e bem executado. Para além do entretenimento, a reflexão causada não é das mais profundas. E menos ainda otimistas!

Vale seu play desde que acompanhado com muita pipoca!

Escrito por Ricelli Ribeiro - uma parceria @dicastreaming 

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"Fuja" é a boa opção de entretenimento da Netflix. Um drama familiar recheado de momentos de tensão e ótimas atuações. O diretor Aneesh Chaganty já deu mostras da sua criatividade e objetividade no disruptivo "Buscando..." (2018). Aqui, ele traz mais uma história urgente e ágil; porém, adota uma estética tradicional para compor sua narrativa.

Na trama, temos uma adolescente, Chloe (Kiera Allen), que nasceu com várias doenças físicas, exigindo adaptações na sua casa e na sua alimentação. Apesar disso, logo percebemos que a rotina dela é excessivamente controlada pela mãe (Sarah Paulson): de homeschooling (substituição da escola por estudos em casa) à restrição total de celular. Após presenciar alguns acontecimentos estranhos, desconfiada, Chloe inicia uma espécie de investigação que a leva a descobertas surpreendentes. Confira o trailer:

A superação física e a inteligência de Chloe faz com que tenhamos empatia imediata por ela. Isso é fundamental para que a narrativa funcione, pois é através do ponto de vista dela que enxergamos a história. Ponto para a atriz Kiera Allen, que ainda possui poucos trabalhos no currículo. E o que falar de Sarah Paulson? A queridinha do universo das séries honra sua fama de "força da natureza", dando vida (e morbidade) a uma mãe dúbia, controladora e misteriosa. É interessante notar que, apesar de não ser a protagonista, ela é vendida como tal na divulgação do filme, tamanho o prestígio que sua imagem tem.

O roteiro acha soluções criativas para os obstáculos enfrentados pela jovem. Além disso, é competente em criar tensão e preciso na duração das cenas. Entretanto, sofre com a estrutura convencional e relativamente previsível, perdendo forças no ato final – principalmente se você conhece histórias recentes como "Objetos Cortantes" e "The Act". Com um desfecho controverso (ou seria apenas subversivo?), "Run" (título original) é um thriller competente e bem executado. Para além do entretenimento, a reflexão causada não é das mais profundas. E menos ainda otimistas!

Vale seu play desde que acompanhado com muita pipoca!

Escrito por Ricelli Ribeiro - uma parceria @dicastreaming 

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Gêmeas: Mórbida Semelhança

Olha, assistir "Gêmeas: Mórbida Semelhança", minissérie em 6 episódios da Prime Vídeo, não é uma das tarefas das mais fáceis. No entanto, e é preciso que se diga, essa reinterpretação do filme dirigido pelo David Cronenberg, lançado em 1988 e estrelado pelo Jeremy Irons, é muito (mas, muito) boa. Seguindo (e respeitando) o estilo visceral de Cronenberg, a criadora Alice Birch (de "Normal People") foi capaz de repetir toda aquela atmosfera de suspense e horror do material original, na sua "forma" e no seu "conteúdo", e ainda desenvolver camadas mais profundas para as protagonistas Beverly e Elliot Mantle, brilhantemente interpretadas por Rachel Weisz. Inclusive, Birch chega a se apropriar do subgênero criado pelo diretor, chamado body horror, para impactar de uma maneira que chega a embrulhar o estômago - ou seja, se você tem medo de sangue, bisturi e afins, não dê o play!

Beverly e Elliot Mantle são renomadas cirurgiãs que compartilham tudo: desde a profissão até seus amantes e as drogas que consomem. Na missão de romper as barreiras do patriarcado na medicina e revolucionar os métodos de parto e da saúde feminina, elas desenvolvem um novo método de cirurgia ginecológica e obstetrícia, e até de pesquisas pouco convencionais. Altamente investidas na empreitada, elas testam os limites da ética médica e acabam se envolvendo em tensões que podem custar até a relação entre elas. Confira o trailer:

Existe uma violência perturbadora nessa minissérie que me faz classificar sua trama como algo bastante pesado - isso, claro, porque é o corpo humano seu principal instrumento de impacto. Veja, logo no começo do primeiro episódio, a direção estabelece seu tom quando somos apresentados ao dia a dia das Mantle com uma sequência de imagens de partos normais, de cesarianas, de incisões de Pfannenstiel e de sangue, muito sangue. A repulsa que essa brilhante edição causa é devastadora, principalmente por se tratar de registros extremamente realísticos - e aqui faço mais dois elogios: para o montador e para o departamento de efeitos e maquiagem.

Saindo da "forma" e indo um pouco para o "conteúdo", a trama constrói, sem a menor pressa de entregar os pontos, uma a dinâmica doentia entre as protagonistas. Tanto Beverly quanto Elliot são "fora da caixa" (para parecer educado e não chama-las de loucas), porém completamente diferentes entre si. Beverly, a gêmea de "cabelo preso" é séria e mais discreta, tem o sonho de criar uma clínica onde as mulheres possam ter um tratamento mais respeitoso e digno, porém é insegura perante suas relações e extremamente frágil - como se vivesse na sobra da irmã. Já Elliot, a gêmea “de cabelo solto”, é seu oposto, desbocada, abusa das drogas e do sexo casual para mostrar poder - é ela que quer expandir sua pesquisa (ilegal) sobre fertilidade e reprodução humana custe o que custar. Reparem como a relação entre elas cria uma forte sensação de claustrofobia, um sentimento de isolamento e, principalmente, de intensa alienação.

Como muitos dos filmes de David Cronenberg, essa nova versão de "Dead Ringers" (no original) explora de uma maneira muito inteligente, mas nada usual, temas sombrios como a obsessão, a deterioração mental, a solidão, a dependência e a falta de identidade, mergulhando nos recessos mais profundos da psique humana sem pedir licença para nos provocar. Uma aula de direção, com uma trilha sonora nostálgica e um desenho de produção incrível, sem falar, claro, de um desenho de som genial e de um roteiro bem construído e instigante, cheio de nuances e ironias que vão do mais sensível ao estereótipo sem sair do conceito proposto por Birch. Sensacional!

Se você estiver disposto a enfrentar a jornada, dê o play porque vai valer muito a pena!

Assista Agora

Olha, assistir "Gêmeas: Mórbida Semelhança", minissérie em 6 episódios da Prime Vídeo, não é uma das tarefas das mais fáceis. No entanto, e é preciso que se diga, essa reinterpretação do filme dirigido pelo David Cronenberg, lançado em 1988 e estrelado pelo Jeremy Irons, é muito (mas, muito) boa. Seguindo (e respeitando) o estilo visceral de Cronenberg, a criadora Alice Birch (de "Normal People") foi capaz de repetir toda aquela atmosfera de suspense e horror do material original, na sua "forma" e no seu "conteúdo", e ainda desenvolver camadas mais profundas para as protagonistas Beverly e Elliot Mantle, brilhantemente interpretadas por Rachel Weisz. Inclusive, Birch chega a se apropriar do subgênero criado pelo diretor, chamado body horror, para impactar de uma maneira que chega a embrulhar o estômago - ou seja, se você tem medo de sangue, bisturi e afins, não dê o play!

Beverly e Elliot Mantle são renomadas cirurgiãs que compartilham tudo: desde a profissão até seus amantes e as drogas que consomem. Na missão de romper as barreiras do patriarcado na medicina e revolucionar os métodos de parto e da saúde feminina, elas desenvolvem um novo método de cirurgia ginecológica e obstetrícia, e até de pesquisas pouco convencionais. Altamente investidas na empreitada, elas testam os limites da ética médica e acabam se envolvendo em tensões que podem custar até a relação entre elas. Confira o trailer:

Existe uma violência perturbadora nessa minissérie que me faz classificar sua trama como algo bastante pesado - isso, claro, porque é o corpo humano seu principal instrumento de impacto. Veja, logo no começo do primeiro episódio, a direção estabelece seu tom quando somos apresentados ao dia a dia das Mantle com uma sequência de imagens de partos normais, de cesarianas, de incisões de Pfannenstiel e de sangue, muito sangue. A repulsa que essa brilhante edição causa é devastadora, principalmente por se tratar de registros extremamente realísticos - e aqui faço mais dois elogios: para o montador e para o departamento de efeitos e maquiagem.

Saindo da "forma" e indo um pouco para o "conteúdo", a trama constrói, sem a menor pressa de entregar os pontos, uma a dinâmica doentia entre as protagonistas. Tanto Beverly quanto Elliot são "fora da caixa" (para parecer educado e não chama-las de loucas), porém completamente diferentes entre si. Beverly, a gêmea de "cabelo preso" é séria e mais discreta, tem o sonho de criar uma clínica onde as mulheres possam ter um tratamento mais respeitoso e digno, porém é insegura perante suas relações e extremamente frágil - como se vivesse na sobra da irmã. Já Elliot, a gêmea “de cabelo solto”, é seu oposto, desbocada, abusa das drogas e do sexo casual para mostrar poder - é ela que quer expandir sua pesquisa (ilegal) sobre fertilidade e reprodução humana custe o que custar. Reparem como a relação entre elas cria uma forte sensação de claustrofobia, um sentimento de isolamento e, principalmente, de intensa alienação.

Como muitos dos filmes de David Cronenberg, essa nova versão de "Dead Ringers" (no original) explora de uma maneira muito inteligente, mas nada usual, temas sombrios como a obsessão, a deterioração mental, a solidão, a dependência e a falta de identidade, mergulhando nos recessos mais profundos da psique humana sem pedir licença para nos provocar. Uma aula de direção, com uma trilha sonora nostálgica e um desenho de produção incrível, sem falar, claro, de um desenho de som genial e de um roteiro bem construído e instigante, cheio de nuances e ironias que vão do mais sensível ao estereótipo sem sair do conceito proposto por Birch. Sensacional!

Se você estiver disposto a enfrentar a jornada, dê o play porque vai valer muito a pena!

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Gotas Divinas

Se você é um amante da boa gastronomia, mais especificamente tem alguma ligação afetiva com o prazer de tomar algumas taças de vinho, pode parar tudo que está assistindo e dê o play nessa pérola escondida na AppleTV+. "Gotas Divinas" (ou "Drops of God") é de uma elegância cinematográfica e de uma profundidade narrativa que certamente vai te deixar com "água na boca" - e aqui, por favor, me desculpe o trocadilho, mas não existe maneira mais eficaz de traduzir o que vemos na tela sem estabelecer uma conexão, de fato, sensorial com a história de Camille Léger e de Issei Tomine.

Em oito episódios acompanhamos a jornada de Camille (Fleur Geffrier), uma jovem francesa e filha do especialista em vinhos Alexandre Léger (Stanley Weber), que acaba de falecer. Depois de ver seu pai pela última vez quando tinha ainda nove anos, Camille é levada para o Japão para a leitura de seu testamento. Lá, ela descobre que pode herdar a mais valiosa coleção de vinhos do mundo, avaliada em quase 150 milhões de dólares. No entanto, ela será submetida a três testes de enologia para finalmente receber sua herança, acontece que ela precisa passar por dois obstáculos: Issei Tomine (Tomohisa Yamashita), o talentoso pupilo de Léger, e o fato de que ela nunca antes ter provado uma gota de vinho sequer. Confira o trailer (em inglês):

Essa incrível co-produção França, EUA e Japão é baseado em um mangá de enorme sucesso, criado por Tadashi Agi e Shu Okimoto, e que foi lançado em 2004 no Japão. Adaptado pelo Quoc Dang Tran (do excelente "Dix Pour Cent"), "Gotas Divinas" é um verdadeiro mergulho na cultura e na história do vinho. A cada episódio somos apresentados a uma variedade de vinhos, regiões vinícolas e técnicas de degustação, nos proporcionando uma experiência tão divertida quanto educativa. Olha, a série é um convite para entender a diversidade e as sutilezas dessa bebida tão venerada no mundo inteiro.

Obviamente que como entretenimento, "Gotas Divinas" não se sustentaria apenas pela atmosfera onde a história está inserida - o drama, claramente focado em personagens complexos e muito cativantes, também expõe questões emocionais delicadas, colocando Camille em uma jornada de autodescoberta enquanto Issei busca se estabelecer como uma autoridade em enologia, mesmo indo contra as vontades de sua família tradicional japonesa. À medida que ambos vão encontrando seus propósitos com muita sensibilidade narrativa, vamos desvendando os segredos do mundo dos vinhos e nos conectando com os desafios de cada um deles. Talvez aí, inclusive, esteja o grande valor do roteiro escrito pelo próprio Tran ao lado de Clémence Madeleine-Perdrillat (da versão francesa de "Sessão de Terapia") e de Alice Vial (do inédito no Brasil, "La fille au coeur de cochon"): saber equilibrar os dramas dos protagonistas enquanto cria pontos em comum entre eles.

Com uma fotografia maravilhosa do Rotem Yaron (de "Losing Alice"), que enquadra com perfeição tanto as belas paisagens das vinícolas pelo mundo quanto as emoções mais profundas da personagem de Geffrier e de Yamashita; e uma trilha sonora sutil e elegante do (multi-plataforma) Kenma Shindo, "Gotas Divinas" chega até a brincar com aquela sensação de imersão nessa atmosfera tão particular e envolvente. Eu diria até que a série mereceria muito mais atenção do que recebeu aqui no Brasil, então não deixe essa oportunidade passar.

Para aqueles que têm interesse na cultura do vinho e apreciam uma abordagem mais contemplativa e profunda do ser humano, a série oferece uma experiência única! Vale muito o seu play! 

Assista Agora

Se você é um amante da boa gastronomia, mais especificamente tem alguma ligação afetiva com o prazer de tomar algumas taças de vinho, pode parar tudo que está assistindo e dê o play nessa pérola escondida na AppleTV+. "Gotas Divinas" (ou "Drops of God") é de uma elegância cinematográfica e de uma profundidade narrativa que certamente vai te deixar com "água na boca" - e aqui, por favor, me desculpe o trocadilho, mas não existe maneira mais eficaz de traduzir o que vemos na tela sem estabelecer uma conexão, de fato, sensorial com a história de Camille Léger e de Issei Tomine.

Em oito episódios acompanhamos a jornada de Camille (Fleur Geffrier), uma jovem francesa e filha do especialista em vinhos Alexandre Léger (Stanley Weber), que acaba de falecer. Depois de ver seu pai pela última vez quando tinha ainda nove anos, Camille é levada para o Japão para a leitura de seu testamento. Lá, ela descobre que pode herdar a mais valiosa coleção de vinhos do mundo, avaliada em quase 150 milhões de dólares. No entanto, ela será submetida a três testes de enologia para finalmente receber sua herança, acontece que ela precisa passar por dois obstáculos: Issei Tomine (Tomohisa Yamashita), o talentoso pupilo de Léger, e o fato de que ela nunca antes ter provado uma gota de vinho sequer. Confira o trailer (em inglês):

Essa incrível co-produção França, EUA e Japão é baseado em um mangá de enorme sucesso, criado por Tadashi Agi e Shu Okimoto, e que foi lançado em 2004 no Japão. Adaptado pelo Quoc Dang Tran (do excelente "Dix Pour Cent"), "Gotas Divinas" é um verdadeiro mergulho na cultura e na história do vinho. A cada episódio somos apresentados a uma variedade de vinhos, regiões vinícolas e técnicas de degustação, nos proporcionando uma experiência tão divertida quanto educativa. Olha, a série é um convite para entender a diversidade e as sutilezas dessa bebida tão venerada no mundo inteiro.

Obviamente que como entretenimento, "Gotas Divinas" não se sustentaria apenas pela atmosfera onde a história está inserida - o drama, claramente focado em personagens complexos e muito cativantes, também expõe questões emocionais delicadas, colocando Camille em uma jornada de autodescoberta enquanto Issei busca se estabelecer como uma autoridade em enologia, mesmo indo contra as vontades de sua família tradicional japonesa. À medida que ambos vão encontrando seus propósitos com muita sensibilidade narrativa, vamos desvendando os segredos do mundo dos vinhos e nos conectando com os desafios de cada um deles. Talvez aí, inclusive, esteja o grande valor do roteiro escrito pelo próprio Tran ao lado de Clémence Madeleine-Perdrillat (da versão francesa de "Sessão de Terapia") e de Alice Vial (do inédito no Brasil, "La fille au coeur de cochon"): saber equilibrar os dramas dos protagonistas enquanto cria pontos em comum entre eles.

Com uma fotografia maravilhosa do Rotem Yaron (de "Losing Alice"), que enquadra com perfeição tanto as belas paisagens das vinícolas pelo mundo quanto as emoções mais profundas da personagem de Geffrier e de Yamashita; e uma trilha sonora sutil e elegante do (multi-plataforma) Kenma Shindo, "Gotas Divinas" chega até a brincar com aquela sensação de imersão nessa atmosfera tão particular e envolvente. Eu diria até que a série mereceria muito mais atenção do que recebeu aqui no Brasil, então não deixe essa oportunidade passar.

Para aqueles que têm interesse na cultura do vinho e apreciam uma abordagem mais contemplativa e profunda do ser humano, a série oferece uma experiência única! Vale muito o seu play! 

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Hereditário

"Hereditário" é um suspense sobrenatural clássico na sua narrativa, mas inovador na forma como ela é articulada pelo roteirista e diretor Ari Aster - e justamente por isso vai causar o efeito: ame ou odeie! Se você gostou de "Midsommar", outro filme do mesmo diretor, é bem provável que "Hereditário" te conquiste ainda mais, porém se você achou "Midsommar" sem pé nem cabeça, pare de ler esse review agora e parta para a próxima recomendação - sem ressentimentos! É isso, praticamente impossível existir um "meio-termo" para definir a qualidade desse filme, como explicarei no texto abaixo.

"Hereditário" conta, de forma perturbadora, a história de uma família classe média americana que está em luto pela perda de sua matriarca Ellen (Kathleen Chalfant), mãe de Annie (Toni Collette) e avó de Peter (Alex Wolff) e Charlie (Milly Shapiro). Após o funeral, fenômenos estranhos começam a acontecer na casa onde a família reside, o que acaba culminando em novas desgraças e trazendo à tona um incrível mistério sobre as circunstâncias que envolveram a morte de Ellen e seu passado. Confira o trailer:

Pois bem, "Hereditário" é considerado por muitos o melhor filme de suspense de 2018, o que para mim soa como um certo exagero, mas é compreensível essa adoração que o filme do então novato, Ari Aster, gerou na audiência. Foram mais de 100 indicações em festivais do mundo inteiro e 45 prêmios, inclusive foi finalista no "Academy of Science Fiction, Fantasy & Horror Films"em 2019, um dos prêmios mais respeitados do gênero - Aster acabou ganhando o Saturn Awards nesse mesmo ano! Mesmo com todo esse cartão de visitas, nem todos vão gostar, pois o filme, de fato, não segue um contexto tão convencional, onde tudo é explicado e o maior mérito fica para a quantidade de sustos que o filme provoca! "Hereditário" definitivamente não é isso; ele é um suspense sobrenatural sim, mas com elementos de drama psicológico que enriquecem o roteiro, mesmo com alguns esteriótipos de gênero. É o típico filme que você assiste, se envolve e assim que termina corre para a internet em busca de explicações que estão escondidas em pequenos detalhes ou em diálogos que podem parecer despretensiosos, mas que funcionam como estrutura vital para que a história faça algum sentido. É por isso que gostei mais do roteiro do que do filme - comparando com "Midsommar", por exemplo, achei que faltou algo que me causasse uma certa angústia; em todo caso, acho que vale muito a pena o play! 

Ari Aster é um diretor extremamente criativo e seu trabalho merece muitos elogios: já na primeira sequência do filme entendemos que se trata de um diretor diferenciado, elegante na sua maneira de enquadrar e de dar dinâmica para a história. O fato dele ter escrito o filme ajuda nesse alinhamento conceitual entre o que está no roteiro e o que vai para a tela e é aqui que temos o ponto alto do filme: cheio de surpresas, "Hereditário" é um filme para ser interpretado, ele tem várias camadas e muitos (muitos) detalhes que impactam diretamente em como nos relacionamos com ele - um ótimo exemplo é o fato de que tudo leva a crer que a filha mais nova, Charlie, será a protagonista, porém já no final do primeiro ato o diretor nos mostra que nem tudo "é", aquilo que "parece"! Reparem também que o simbolismo está em todos os lugares e será ele o guia dessa jornada - mas, aviso: será preciso ficar muito atento, pois Aster alterna o "explícito" e o "sugestionável" com a mesma eficiência - reparem (sem spoiler) no colar que Ellen está usando no seu velório e onde mais aquele mesmo símbolo vai aparecer, e muita coisa fará sentido!

Outro elemento do roteiro que me chamou atenção é a mitologia que Aster usa para invocar o sobrenatural: ele escolhe "Paimon" em vez do "Demônio" e com isso amplia a curiosidade sobre a história, já que nos provoca a pesquisar as razões que levaram os personagens a agir de determinadas formas - eu acho isso genial, uma pequena troca e tudo ganha um sentido muito mais amplo! Dica: se após o filme você quiser ir mais profundamente na história por trás das decisões criativas do diretor, eu sugiro esse ótimo texto escrito pela Boo Mesquita para o site "Farofa Geek".

A produtora americana "A24", responsável por "Hereditário", já possui inúmeros sucessos que surpreenderam por agradar tanto a crítica como o público: é o caso de “A Bruxa” (2016) e “Ex Machina" (2015), além de todos os prêmios que conquistou com “Moonlight” (2017) e “O Quarto de Jack” (2016), e ainda inúmeras indicações com “Lady Bird" (2018) e “Projeto Flórida” (2018), com isso é de se esperar que a qualidade técnica esteja a altura da artística e é o que acontece. A produção, mesmo com um baixo orçamento - apenas 10 milhões de dólares - é um primor de detalhes! Basicamente faz uma releitura da "Casa mal-assombrada", ao melhor estilo "O Exorcista", que funciona de gatilho para gerar uma tensão permanente durante as duas horas de filme. A fotografia do Pawel Pogorzelski lembra muito o trabalho que vemos, alguns anos depois, em "Servant" da AppleTv+. O elenco é excelente também - Toni Collette (Sexto Sentido) merecia ter sido lembrada nas premiações por esse trabalho, ela está incrível como uma mãe completamente perturbada que transita com muita sensibilidade entre o "real" e o "paranóico". Mesmo muito contido, Gabriel Byrne também merece elogios e, claro, Alex Wolff é o grande destaque do filme. Apenas a jovem Milly Shapiro não me agradou - muito caricata para o meu gosto.

É bem possível que "Hereditário" vá te assustar, mas é o aspecto oculto que vai mexer com você. A riqueza da história está em uma camada mais profunda e se você não estiver disposto a acessá-la, provavelmente, você vai se decepcionar. Agora, se você quiser ir além do que a tela está sugerindo, certamente você vai encontrar um material vasto que serve como ferramenta na construção de um quebra-cabeça muito bem pensado. Visto o lucro nas bilheterias, mais de 80 milhões de dólares, "Hereditário" conseguiu alcançar o seu público e ainda fortalecer essa nova geração de diretores que estão transformando as histórias de suspense/terror no cinema!

Indico! 

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"Hereditário" é um suspense sobrenatural clássico na sua narrativa, mas inovador na forma como ela é articulada pelo roteirista e diretor Ari Aster - e justamente por isso vai causar o efeito: ame ou odeie! Se você gostou de "Midsommar", outro filme do mesmo diretor, é bem provável que "Hereditário" te conquiste ainda mais, porém se você achou "Midsommar" sem pé nem cabeça, pare de ler esse review agora e parta para a próxima recomendação - sem ressentimentos! É isso, praticamente impossível existir um "meio-termo" para definir a qualidade desse filme, como explicarei no texto abaixo.

"Hereditário" conta, de forma perturbadora, a história de uma família classe média americana que está em luto pela perda de sua matriarca Ellen (Kathleen Chalfant), mãe de Annie (Toni Collette) e avó de Peter (Alex Wolff) e Charlie (Milly Shapiro). Após o funeral, fenômenos estranhos começam a acontecer na casa onde a família reside, o que acaba culminando em novas desgraças e trazendo à tona um incrível mistério sobre as circunstâncias que envolveram a morte de Ellen e seu passado. Confira o trailer:

Pois bem, "Hereditário" é considerado por muitos o melhor filme de suspense de 2018, o que para mim soa como um certo exagero, mas é compreensível essa adoração que o filme do então novato, Ari Aster, gerou na audiência. Foram mais de 100 indicações em festivais do mundo inteiro e 45 prêmios, inclusive foi finalista no "Academy of Science Fiction, Fantasy & Horror Films"em 2019, um dos prêmios mais respeitados do gênero - Aster acabou ganhando o Saturn Awards nesse mesmo ano! Mesmo com todo esse cartão de visitas, nem todos vão gostar, pois o filme, de fato, não segue um contexto tão convencional, onde tudo é explicado e o maior mérito fica para a quantidade de sustos que o filme provoca! "Hereditário" definitivamente não é isso; ele é um suspense sobrenatural sim, mas com elementos de drama psicológico que enriquecem o roteiro, mesmo com alguns esteriótipos de gênero. É o típico filme que você assiste, se envolve e assim que termina corre para a internet em busca de explicações que estão escondidas em pequenos detalhes ou em diálogos que podem parecer despretensiosos, mas que funcionam como estrutura vital para que a história faça algum sentido. É por isso que gostei mais do roteiro do que do filme - comparando com "Midsommar", por exemplo, achei que faltou algo que me causasse uma certa angústia; em todo caso, acho que vale muito a pena o play! 

Ari Aster é um diretor extremamente criativo e seu trabalho merece muitos elogios: já na primeira sequência do filme entendemos que se trata de um diretor diferenciado, elegante na sua maneira de enquadrar e de dar dinâmica para a história. O fato dele ter escrito o filme ajuda nesse alinhamento conceitual entre o que está no roteiro e o que vai para a tela e é aqui que temos o ponto alto do filme: cheio de surpresas, "Hereditário" é um filme para ser interpretado, ele tem várias camadas e muitos (muitos) detalhes que impactam diretamente em como nos relacionamos com ele - um ótimo exemplo é o fato de que tudo leva a crer que a filha mais nova, Charlie, será a protagonista, porém já no final do primeiro ato o diretor nos mostra que nem tudo "é", aquilo que "parece"! Reparem também que o simbolismo está em todos os lugares e será ele o guia dessa jornada - mas, aviso: será preciso ficar muito atento, pois Aster alterna o "explícito" e o "sugestionável" com a mesma eficiência - reparem (sem spoiler) no colar que Ellen está usando no seu velório e onde mais aquele mesmo símbolo vai aparecer, e muita coisa fará sentido!

Outro elemento do roteiro que me chamou atenção é a mitologia que Aster usa para invocar o sobrenatural: ele escolhe "Paimon" em vez do "Demônio" e com isso amplia a curiosidade sobre a história, já que nos provoca a pesquisar as razões que levaram os personagens a agir de determinadas formas - eu acho isso genial, uma pequena troca e tudo ganha um sentido muito mais amplo! Dica: se após o filme você quiser ir mais profundamente na história por trás das decisões criativas do diretor, eu sugiro esse ótimo texto escrito pela Boo Mesquita para o site "Farofa Geek".

A produtora americana "A24", responsável por "Hereditário", já possui inúmeros sucessos que surpreenderam por agradar tanto a crítica como o público: é o caso de “A Bruxa” (2016) e “Ex Machina" (2015), além de todos os prêmios que conquistou com “Moonlight” (2017) e “O Quarto de Jack” (2016), e ainda inúmeras indicações com “Lady Bird" (2018) e “Projeto Flórida” (2018), com isso é de se esperar que a qualidade técnica esteja a altura da artística e é o que acontece. A produção, mesmo com um baixo orçamento - apenas 10 milhões de dólares - é um primor de detalhes! Basicamente faz uma releitura da "Casa mal-assombrada", ao melhor estilo "O Exorcista", que funciona de gatilho para gerar uma tensão permanente durante as duas horas de filme. A fotografia do Pawel Pogorzelski lembra muito o trabalho que vemos, alguns anos depois, em "Servant" da AppleTv+. O elenco é excelente também - Toni Collette (Sexto Sentido) merecia ter sido lembrada nas premiações por esse trabalho, ela está incrível como uma mãe completamente perturbada que transita com muita sensibilidade entre o "real" e o "paranóico". Mesmo muito contido, Gabriel Byrne também merece elogios e, claro, Alex Wolff é o grande destaque do filme. Apenas a jovem Milly Shapiro não me agradou - muito caricata para o meu gosto.

É bem possível que "Hereditário" vá te assustar, mas é o aspecto oculto que vai mexer com você. A riqueza da história está em uma camada mais profunda e se você não estiver disposto a acessá-la, provavelmente, você vai se decepcionar. Agora, se você quiser ir além do que a tela está sugerindo, certamente você vai encontrar um material vasto que serve como ferramenta na construção de um quebra-cabeça muito bem pensado. Visto o lucro nas bilheterias, mais de 80 milhões de dólares, "Hereditário" conseguiu alcançar o seu público e ainda fortalecer essa nova geração de diretores que estão transformando as histórias de suspense/terror no cinema!

Indico! 

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Homecoming

Intrigante! Uma atmosfera que nos remete ao excelente "Devs", mas que não nos deixa esquecer de "Ruptura" - só que com o mérito de ter sido lançada bem antes dessas duas pérolas do streaming. O fato é que "Homecoming" é muito mais que uma minissérie de suspense psicológico, ela é um verdadeiro quebra-cabeça narrativo que nos provoca e nos surpreende a cada nova peça apresentada. Criada por Sam Esmail (a mente criativa por trás de "Mr. Robot") essa recomendação é um prato cheio para quem aprecia um bom thriller com fortes elementos de mistério e algumas camadas de drama. Vale lembrar, inclusive, que "Homecoming" venceu o Satellite Awards como Melhor Série Dramática em 2019, além de ter recebido indicações importantes no Globo de Ouro e no Emmy do mesmo ano. 

Boas intenções. Chefes inconstantes. Paranoia crescente. Consequências imprevistas saindo de controle. Heidi (Julia Roberts) trabalha em Homecoming, uma unidade que ajuda soldados no processo de transição para a vida civil. Anos após ela começar uma nova vida, o Departamento de Defesa do EUA passa a questionar Heidi para entender os reais motivos de sua saída do misterioso programa e é justamente a partir daí que ela entende que há uma outra história por trás daquela que ela acreditava ser a verdadeira. Confira o trailer (em inglês):

Nem o amável sorriso de Heidi consegue disfarçar que há algo de errado em "Homecoming" - desde o primeiro episódio somos fisgados pelo clima de tensão e mistério que vai tomando conta dos corredores deste que se anuncia como um projeto revolucionário, mas que claramente esconde nos seus benefícios, interesses maliciosos. Explorando a fragilidade da mente humana e os efeitos psicológicos do trauma, Esmail sabe exatamente como criar uma complexa e bem elaborada trama, com personagens realmente intrigantes e uma atmosfera que nos faz questionar, a cada episódio, tudo o que sabemos, ou pelo menos, tudo o que nos vai sendo contado.

Com duas linhas temporais distintas, que inicialmente não se completam, "Homecoming" dá um show como proposta narrativa e conceito estético - mais do que uma mudança sutil no visual da protagonista, os períodos são filmados de modos muito diferentes. Enquanto o passado ocupa toda a tela da TV e valoriza as cores do arborizado e moderno centro de recuperação, o presente é apresentado no formato 4:3, aquele mais quadrado, com tons opacos e acinzentados - tudo isso para criar um sentimento de angustia e melancolia que se misturam e que acaba se justificando pela perspectiva de uma inteligente metáfora que vai surgindo com o final da temporada. O fato é que, em "Homecoming", nada é por acaso.

Com atuações impecáveis de Julia Roberts e Stephan James (que interpreta o soldado Walter Cruz que Heidi monitora) o que vemos na tela é a potencialização da complexidade emocional do ser humano se sobrepondo perante sua própria fragilidade. Sim, a sentença pode até soar redundante, mas ao mergulharmos na proposta de Esmail entendemos perfeitamente sua estratégia de criar esse senso de desorientação permanente, nos provocando e instigando nossa curiosidade como poucas vezes experienciamos. No entanto, antes do play, saiba que "Homecoming" não é uma jornada simples, sua narrativa é mais cadenciada e seu propósito como obra é naturalmente pouco expositivo. Dito isso, se prepare para uma jornada viciante (ainda mais sabendo que cada episódio tem apenas 30 minutos) onde os perigos do poder e da manipulação serão ótimos assuntos para uma discussão - pós-créditos, claro.

Imperdível!

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Intrigante! Uma atmosfera que nos remete ao excelente "Devs", mas que não nos deixa esquecer de "Ruptura" - só que com o mérito de ter sido lançada bem antes dessas duas pérolas do streaming. O fato é que "Homecoming" é muito mais que uma minissérie de suspense psicológico, ela é um verdadeiro quebra-cabeça narrativo que nos provoca e nos surpreende a cada nova peça apresentada. Criada por Sam Esmail (a mente criativa por trás de "Mr. Robot") essa recomendação é um prato cheio para quem aprecia um bom thriller com fortes elementos de mistério e algumas camadas de drama. Vale lembrar, inclusive, que "Homecoming" venceu o Satellite Awards como Melhor Série Dramática em 2019, além de ter recebido indicações importantes no Globo de Ouro e no Emmy do mesmo ano. 

Boas intenções. Chefes inconstantes. Paranoia crescente. Consequências imprevistas saindo de controle. Heidi (Julia Roberts) trabalha em Homecoming, uma unidade que ajuda soldados no processo de transição para a vida civil. Anos após ela começar uma nova vida, o Departamento de Defesa do EUA passa a questionar Heidi para entender os reais motivos de sua saída do misterioso programa e é justamente a partir daí que ela entende que há uma outra história por trás daquela que ela acreditava ser a verdadeira. Confira o trailer (em inglês):

Nem o amável sorriso de Heidi consegue disfarçar que há algo de errado em "Homecoming" - desde o primeiro episódio somos fisgados pelo clima de tensão e mistério que vai tomando conta dos corredores deste que se anuncia como um projeto revolucionário, mas que claramente esconde nos seus benefícios, interesses maliciosos. Explorando a fragilidade da mente humana e os efeitos psicológicos do trauma, Esmail sabe exatamente como criar uma complexa e bem elaborada trama, com personagens realmente intrigantes e uma atmosfera que nos faz questionar, a cada episódio, tudo o que sabemos, ou pelo menos, tudo o que nos vai sendo contado.

Com duas linhas temporais distintas, que inicialmente não se completam, "Homecoming" dá um show como proposta narrativa e conceito estético - mais do que uma mudança sutil no visual da protagonista, os períodos são filmados de modos muito diferentes. Enquanto o passado ocupa toda a tela da TV e valoriza as cores do arborizado e moderno centro de recuperação, o presente é apresentado no formato 4:3, aquele mais quadrado, com tons opacos e acinzentados - tudo isso para criar um sentimento de angustia e melancolia que se misturam e que acaba se justificando pela perspectiva de uma inteligente metáfora que vai surgindo com o final da temporada. O fato é que, em "Homecoming", nada é por acaso.

Com atuações impecáveis de Julia Roberts e Stephan James (que interpreta o soldado Walter Cruz que Heidi monitora) o que vemos na tela é a potencialização da complexidade emocional do ser humano se sobrepondo perante sua própria fragilidade. Sim, a sentença pode até soar redundante, mas ao mergulharmos na proposta de Esmail entendemos perfeitamente sua estratégia de criar esse senso de desorientação permanente, nos provocando e instigando nossa curiosidade como poucas vezes experienciamos. No entanto, antes do play, saiba que "Homecoming" não é uma jornada simples, sua narrativa é mais cadenciada e seu propósito como obra é naturalmente pouco expositivo. Dito isso, se prepare para uma jornada viciante (ainda mais sabendo que cada episódio tem apenas 30 minutos) onde os perigos do poder e da manipulação serão ótimos assuntos para uma discussão - pós-créditos, claro.

Imperdível!

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I am Mother

"I am Mother" é um filme australiano, distribuído pela Netflix, que foi lançado na plataforma no começo de junho de 2019 e, olha, vou te dizer, ficção científica com alma! Grande filme, inteligente, profundo e um excelente entretenimento além de tudo! Tipo do filme que te faz refletir, na linha de "Mother!" do Aronofsky ou "Ex-Machina" do Alex Garland ou até de "Rua Cloverfild, 10" do Dan Trachtenberg.

O filme conta a história de uma adolescente, interpretada pela ótima Clara Rugaard (mas poderia ter sido a Jennifer Lawrence tranquilamente), que é criada em uma espécie de bunker após a extinção total da raça humana. Um robô auto-denominado "Mãe", projetado para ajudar na reconstrução da Terra, é a responsável por preparar sua "Filha" para expandir essa missão, elevando a capacidade humana de existir baseado em valores éticos e morais. Porém, toda essa realidade começa a ser colocada em dúvida com a chegada inesperada de uma suposta sobrevivente, papel da Hilary Swank. Confira o trailer:

Eu diria que "I am Mother" poderia ter sido dirigido pelo Nolan ou até pelo mestre Stanley Kubrick, dada a sua complexidade visual e elegância narrativa - no entanto, é visível a limitação de orçamento em vários elementos artísticos do filme: desde seu desenho de produção até na própria composição de pós em algumas cenas! Mas isso não atrapalha em absolutamente nada a experiência do filme, pois o roteiro é muito bem amarrado e fosse uma super produção, certamente estaria fazendo um enorme barulho!

Esse é o primeiro filme do diretor Grant Sputore - marquem esse nome, porque o cara é muito talentoso - e sua condução encontrou o equilíbrio perfeito entre o drama e a ficção, sempre pontuada por uma série de alegorias muito referenciadas em filmes como "Mother!", por exemplo. Aliás, vale uma pesquisa "pós-filme" para entender ou confirmar algumas interpretações e teorias que vamos encontrando durante toda jornada. Outro ponto que me chamou a atenção é a beleza da fotografia, grande trabalho do também novato Steve Annis - ele está nos créditos de impressionantes 58 curtas-metargem antes de assinar seu primeiro longa, ou seja, preparado ele está!

"I am Mother" é uma agradável surpresa que vale muito a pena e posso garantir: quanto menos souber do filme, melhor. Por isso tomei esse cuidado para não prejudicar a sua experiência, mas se posso dar uma única dica: preste muita atenção nos letterings no início do filme, eles farão toda a diferença lá no final!

Vale muito o play!!!!

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"I am Mother" é um filme australiano, distribuído pela Netflix, que foi lançado na plataforma no começo de junho de 2019 e, olha, vou te dizer, ficção científica com alma! Grande filme, inteligente, profundo e um excelente entretenimento além de tudo! Tipo do filme que te faz refletir, na linha de "Mother!" do Aronofsky ou "Ex-Machina" do Alex Garland ou até de "Rua Cloverfild, 10" do Dan Trachtenberg.

O filme conta a história de uma adolescente, interpretada pela ótima Clara Rugaard (mas poderia ter sido a Jennifer Lawrence tranquilamente), que é criada em uma espécie de bunker após a extinção total da raça humana. Um robô auto-denominado "Mãe", projetado para ajudar na reconstrução da Terra, é a responsável por preparar sua "Filha" para expandir essa missão, elevando a capacidade humana de existir baseado em valores éticos e morais. Porém, toda essa realidade começa a ser colocada em dúvida com a chegada inesperada de uma suposta sobrevivente, papel da Hilary Swank. Confira o trailer:

Eu diria que "I am Mother" poderia ter sido dirigido pelo Nolan ou até pelo mestre Stanley Kubrick, dada a sua complexidade visual e elegância narrativa - no entanto, é visível a limitação de orçamento em vários elementos artísticos do filme: desde seu desenho de produção até na própria composição de pós em algumas cenas! Mas isso não atrapalha em absolutamente nada a experiência do filme, pois o roteiro é muito bem amarrado e fosse uma super produção, certamente estaria fazendo um enorme barulho!

Esse é o primeiro filme do diretor Grant Sputore - marquem esse nome, porque o cara é muito talentoso - e sua condução encontrou o equilíbrio perfeito entre o drama e a ficção, sempre pontuada por uma série de alegorias muito referenciadas em filmes como "Mother!", por exemplo. Aliás, vale uma pesquisa "pós-filme" para entender ou confirmar algumas interpretações e teorias que vamos encontrando durante toda jornada. Outro ponto que me chamou a atenção é a beleza da fotografia, grande trabalho do também novato Steve Annis - ele está nos créditos de impressionantes 58 curtas-metargem antes de assinar seu primeiro longa, ou seja, preparado ele está!

"I am Mother" é uma agradável surpresa que vale muito a pena e posso garantir: quanto menos souber do filme, melhor. Por isso tomei esse cuidado para não prejudicar a sua experiência, mas se posso dar uma única dica: preste muita atenção nos letterings no início do filme, eles farão toda a diferença lá no final!

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