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A Vida em Si

Quando "A Vida em Si" estreou no Brasil, em dezembro de 2018, o filme chegou cheio de expectativas, afinal o seu diretor e roteirista era o Dan Fogelman - nada menos do que a mente criativa por trás do sucesso "This is Us" (e se você ainda não assistiu essa série, não perca tempo, clique no link e seja muito feliz!). Acontece que essa alta expectativa acabou interferindo diretamente na percepção da crítica que, após a première, caiu matando em cima do trabalho de Fogelman! É inegável que o filme tem muitos problemas, mas nem de longe é um filme ruim - eu diria, inclusive, que o filme é bom. Dê uma olhada no trailer antes de continuarmos:

No filme, acompanhamos a história de Abby (Olivia Wilde) e Will (Oscar Isaac), um casal de nova-iorquinos apaixonados e que está prestes a ter um bebê. Contudo, um evento inesperado muda completamente o rumo do casal e de muitos personagens que, de alguma forma, vivenciaram aquela situação. Dividido em 4 atos, o roteiro tenta criar um ponto de intersecção entre Irwin (Mandy Patinkin), Dylan (Olivia Cooke), Saccione (Antonio Banderas), Javier (Sergio Peris-Mencheta), Isabel (Laia Costa) e Rodrigo (Àlex Monner) expondo os reflexos do passado nas consequências do presente - um conceito narrativo, mais ou menos, como "Amores Perros", "Babel", "Crash" e outros inúmeros exemplos, porém, nesse caso, de uma forma mais romantizada, carregada de drama e de, infelizmente, uma falta de identidade - mas isso falaremos mais abaixo!

"A Vida em Si" deve ser assistido com a menor pretensão possível, pois assim a experiência de cada uma das descobertas será essencial para o seu julgamento no final do filme. Embora com um roteiro um pouco desequilibrado, a narrativa tem ótimos momentos e, de fato, sua conclusão é bastante satisfatória. Fica a impressão que Dan Fogelman quis colocar tantos elementos (narrativos e visuais) que ele acabou se perdendo no meio de suas próprias escolhas e referências em algo que poderia ser mais profundo, mesmo que ainda manipulador! Se você gosta do estilo de "This is Us" é bem possível que você vá se identificar e gostar de "A Vida em Si". Por essa similaridade, eu recomendo!

Assista Agora ou

Quando "A Vida em Si" estreou no Brasil, em dezembro de 2018, o filme chegou cheio de expectativas, afinal o seu diretor e roteirista era o Dan Fogelman - nada menos do que a mente criativa por trás do sucesso "This is Us" (e se você ainda não assistiu essa série, não perca tempo, clique no link e seja muito feliz!). Acontece que essa alta expectativa acabou interferindo diretamente na percepção da crítica que, após a première, caiu matando em cima do trabalho de Fogelman! É inegável que o filme tem muitos problemas, mas nem de longe é um filme ruim - eu diria, inclusive, que o filme é bom. Dê uma olhada no trailer antes de continuarmos:

No filme, acompanhamos a história de Abby (Olivia Wilde) e Will (Oscar Isaac), um casal de nova-iorquinos apaixonados e que está prestes a ter um bebê. Contudo, um evento inesperado muda completamente o rumo do casal e de muitos personagens que, de alguma forma, vivenciaram aquela situação. Dividido em 4 atos, o roteiro tenta criar um ponto de intersecção entre Irwin (Mandy Patinkin), Dylan (Olivia Cooke), Saccione (Antonio Banderas), Javier (Sergio Peris-Mencheta), Isabel (Laia Costa) e Rodrigo (Àlex Monner) expondo os reflexos do passado nas consequências do presente - um conceito narrativo, mais ou menos, como "Amores Perros", "Babel", "Crash" e outros inúmeros exemplos, porém, nesse caso, de uma forma mais romantizada, carregada de drama e de, infelizmente, uma falta de identidade - mas isso falaremos mais abaixo!

"A Vida em Si" deve ser assistido com a menor pretensão possível, pois assim a experiência de cada uma das descobertas será essencial para o seu julgamento no final do filme. Embora com um roteiro um pouco desequilibrado, a narrativa tem ótimos momentos e, de fato, sua conclusão é bastante satisfatória. Fica a impressão que Dan Fogelman quis colocar tantos elementos (narrativos e visuais) que ele acabou se perdendo no meio de suas próprias escolhas e referências em algo que poderia ser mais profundo, mesmo que ainda manipulador! Se você gosta do estilo de "This is Us" é bem possível que você vá se identificar e gostar de "A Vida em Si". Por essa similaridade, eu recomendo!

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A Voz Suprema do Blues

Se você gostou de "Uma noite em Miami..." certamente você vai gostar de "A Voz Suprema do Blues" já que ambos os filmes possuem elementos narrativos muito similares, embora com abordagens diferentes, um mais politico e o outro mais musical, as tramas giram em torno de diálogos muito bem construídos e de personagens cheios de camadas que interagem entre sim, em poucas locações, para que as discussões não se dissipem e ganhem o valor exato do seu propósito!

Também baseada na peça de teatro, dessa vez do premiado dramaturgo August Wilson, cujos textos são conhecidos por representarem os aspectos cômicos e trágicos da experiência dos africanos-americanos no século XX, "A Voz Suprema do Blues" se passa em Chicago de 1927 e volta sua atenção para dentro de um antigo estúdio de gravação da cidade. Lá, Ma Rainey (Viola Davis) e sua banda estão prontos para gravar mais um disco. Só que no estúdio o clima começa a esquentar quando a tensão aumenta entre a cantora, seu ambicioso trompista Levee (Chadwick Boseman) e a gerência branca determinada a controlar uma incontrolável “Mãe do Blues”. Confira o trailer:

Todo filme que possui bons personagens, a matéria prima para o ator bilhar, cria uma perspectiva de muito reconhecimento e, pode apostar, ele virá! Esse foi o último filme de Chadwick Boseman e sua performance está simplesmente magnífica, perfeita, no tom exato, com um range de interpretação impressionante, digno de Oscar! Visivelmente debilitado, sua postura praticamente transforma um problema em diferencial - tudo se encaixa tão perfeitamente que é triste condicionar esse reconhecimento em respeito por sua carreira: não é e não deveria ser o caso! Viola Davis é outra força da natureza, que nos tira o equilíbrio e explode na tela! Coberta de uma pesada maquiagem, roupas extravagantes e uma postura imponente, carregada de suor e arrogância, a atriz entrega um Ma Rainey digna de sua importância na música!

Com uma direção muito competente do George C. Wolfe (de Noites de Tormenta) e uma belíssima fotografia do Tobias Schliessler (de A Grande Mentira), o filme cria uma atmosfera desconfortável, angustiante, como se estivéssemos assistindo uma bomba prestes a explodir! O texto chega a nos provocar certa aflição e é muito inteligente ao pontuar os problemas sociais da época como racismo estrutural e todo o descaso com o negro de forma mais orgânica que ideológica.

“A Voz Suprema do Blues” é um daqueles filmes surpreendentes que usa de longos monólogos para evidenciar a força do seu texto e que transforma o ator em uma espécie de mensageiro e de ações muito mais internas do que impactantes - e o final é a maior prova disso! Filme para quem gosta do profundo, ao som de uma bela trilha sonora e daquela atmosfera nostálgica e sexy do blues bem tocado e interpretado com alma!

Assista Agora

Se você gostou de "Uma noite em Miami..." certamente você vai gostar de "A Voz Suprema do Blues" já que ambos os filmes possuem elementos narrativos muito similares, embora com abordagens diferentes, um mais politico e o outro mais musical, as tramas giram em torno de diálogos muito bem construídos e de personagens cheios de camadas que interagem entre sim, em poucas locações, para que as discussões não se dissipem e ganhem o valor exato do seu propósito!

Também baseada na peça de teatro, dessa vez do premiado dramaturgo August Wilson, cujos textos são conhecidos por representarem os aspectos cômicos e trágicos da experiência dos africanos-americanos no século XX, "A Voz Suprema do Blues" se passa em Chicago de 1927 e volta sua atenção para dentro de um antigo estúdio de gravação da cidade. Lá, Ma Rainey (Viola Davis) e sua banda estão prontos para gravar mais um disco. Só que no estúdio o clima começa a esquentar quando a tensão aumenta entre a cantora, seu ambicioso trompista Levee (Chadwick Boseman) e a gerência branca determinada a controlar uma incontrolável “Mãe do Blues”. Confira o trailer:

Todo filme que possui bons personagens, a matéria prima para o ator bilhar, cria uma perspectiva de muito reconhecimento e, pode apostar, ele virá! Esse foi o último filme de Chadwick Boseman e sua performance está simplesmente magnífica, perfeita, no tom exato, com um range de interpretação impressionante, digno de Oscar! Visivelmente debilitado, sua postura praticamente transforma um problema em diferencial - tudo se encaixa tão perfeitamente que é triste condicionar esse reconhecimento em respeito por sua carreira: não é e não deveria ser o caso! Viola Davis é outra força da natureza, que nos tira o equilíbrio e explode na tela! Coberta de uma pesada maquiagem, roupas extravagantes e uma postura imponente, carregada de suor e arrogância, a atriz entrega um Ma Rainey digna de sua importância na música!

Com uma direção muito competente do George C. Wolfe (de Noites de Tormenta) e uma belíssima fotografia do Tobias Schliessler (de A Grande Mentira), o filme cria uma atmosfera desconfortável, angustiante, como se estivéssemos assistindo uma bomba prestes a explodir! O texto chega a nos provocar certa aflição e é muito inteligente ao pontuar os problemas sociais da época como racismo estrutural e todo o descaso com o negro de forma mais orgânica que ideológica.

“A Voz Suprema do Blues” é um daqueles filmes surpreendentes que usa de longos monólogos para evidenciar a força do seu texto e que transforma o ator em uma espécie de mensageiro e de ações muito mais internas do que impactantes - e o final é a maior prova disso! Filme para quem gosta do profundo, ao som de uma bela trilha sonora e daquela atmosfera nostálgica e sexy do blues bem tocado e interpretado com alma!

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Acima das Nuvens

"Acima das Nuvens" fala sobre o dolorido processo de envelhecer pelos olhos de uma atriz completamente dependente de um personagem que não representa há muitos anos e que, por uma rasteira do destino, terá que encarar de frente, interpretado por uma jovem e talentosa atriz marcada por atitudes, digamos, pouco convencionais - e aí é que está a genialidade do filme e de sua narrativa metalinguística: Juliette Binoche é essa atriz que precisa encarar o que ela mesmo foi, porém em uma peça de teatro.

Há 20 anos, Maria Enders (Binoche) ficou famosa por uma atuação memorável nos palcos pelas mãos do renomado dramaturgo e cineasta Wilhelm Melchior. Anos depois, ela tem que enfrentar o fato de que terá que dividir cena com uma jovem estrela de Hollywood que irá interpretar o mesmo papel em uma remontagem do espetáculo que a consagrou. Sua nova personagem, porém, é a antítese da jovialidade e irresponsabilidade que Maria representou um dia, agora ela fará o papel de uma empresária de meia-idade, insegura e apaixonada pela assistente 20 anos mais jovem. Para se preparar para o espetáculo, Enders parte com sua bela, jovem e dedicada assistente Vallentine (Kristen Stewart) para a região montanhosa suíça de Engadin, onde é obrigada a enfrentar o presente, o revisitar seu passado e , principalmente, encarar seus desejos mais ocultos e solitários. Confira o trailer:

Reparem no contexto: Maria Enders está tentando recomeçar sua vida depois de um divórcio pouco amigável, carrega o fato de ter sido ignorada por um amor platônico da juventude e com quem dividiu cena em vários trabalhos do seu mentor Wilhelm Melchior que, inclusive, acaba de abandona-la depois de se suicidar, justamente no momento em que ela iria fazer uma homenagem por sua história e obra. Sim, são três situações razoavelmente independentes, mas que carregam as marcas que Maria insiste em esconder e isso se torna um presente inimaginável na construção de uma personagem tão cheia de camadas que ela resolve interpretar  - e que para Binoche a regra é serve da mesma forma!

A passagem do tempo, simbolizada pelas nuvens sinuosas de Sils Maria, nos Alpes suíços, é o primeiro de muitos símbolos que o talentoso diretor Olivier Assayas propõe para "Acima das Nuvens". O filme é uma espécie de jornada de auto-conhecimento ou até um drama de redenção fantasiado de conflito geracional, cheio de comentários e críticas sobre arte, cinema, relacionamentos, irresponsabilidades e sobre cultura de celebridades. Ao acompanharmos a relação de Maria Enders e Vallentine percebemos a dualidade entre os textos da peça sendo ensaiada com divagações pessoais que impactam no relacionamento das duas, com muita sensibilidade e provocando muitas desconfianças em quem assiste - será que a vida está imitando a arte? 

"Acima das Nuvens" não é um filme fácil, seu simbolismo é frequente e mergulhar nele é quase condicional para se apaixonar pelo filme - embora o diretor equilibre muito bem o jogo do "duplo sentido", ele não faz questão nenhuma de entregar suas convicções. Assayas não se esquece do universo em que esta inserido e muito menos do passado de Binoche ou de Kristen Stewart para citar os "valores" do cinema moderno americano frente ao clássico e artísticos cinema europeu ou até sobre o abismo temporal que se abre e vai sugando as oportunidades de uma atriz experiente em detrimento ao novo estilo de vida marginal de outras atrizes que são notícia - é cruel, mas real! 

Veja, "Acima das Nuvens" concorreu em Cannes em 2014 e levou mais de 20 prêmios em sua carreira nos festivais - seu conceito narrativo é muito autoral e extremamente independente, ou seja, vai agradar quem gosta do estilo e quem está disposto a olhar para os detalhes muito além do que vemos nas telas!

É lindo, mas não será para todos!

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"Acima das Nuvens" fala sobre o dolorido processo de envelhecer pelos olhos de uma atriz completamente dependente de um personagem que não representa há muitos anos e que, por uma rasteira do destino, terá que encarar de frente, interpretado por uma jovem e talentosa atriz marcada por atitudes, digamos, pouco convencionais - e aí é que está a genialidade do filme e de sua narrativa metalinguística: Juliette Binoche é essa atriz que precisa encarar o que ela mesmo foi, porém em uma peça de teatro.

Há 20 anos, Maria Enders (Binoche) ficou famosa por uma atuação memorável nos palcos pelas mãos do renomado dramaturgo e cineasta Wilhelm Melchior. Anos depois, ela tem que enfrentar o fato de que terá que dividir cena com uma jovem estrela de Hollywood que irá interpretar o mesmo papel em uma remontagem do espetáculo que a consagrou. Sua nova personagem, porém, é a antítese da jovialidade e irresponsabilidade que Maria representou um dia, agora ela fará o papel de uma empresária de meia-idade, insegura e apaixonada pela assistente 20 anos mais jovem. Para se preparar para o espetáculo, Enders parte com sua bela, jovem e dedicada assistente Vallentine (Kristen Stewart) para a região montanhosa suíça de Engadin, onde é obrigada a enfrentar o presente, o revisitar seu passado e , principalmente, encarar seus desejos mais ocultos e solitários. Confira o trailer:

Reparem no contexto: Maria Enders está tentando recomeçar sua vida depois de um divórcio pouco amigável, carrega o fato de ter sido ignorada por um amor platônico da juventude e com quem dividiu cena em vários trabalhos do seu mentor Wilhelm Melchior que, inclusive, acaba de abandona-la depois de se suicidar, justamente no momento em que ela iria fazer uma homenagem por sua história e obra. Sim, são três situações razoavelmente independentes, mas que carregam as marcas que Maria insiste em esconder e isso se torna um presente inimaginável na construção de uma personagem tão cheia de camadas que ela resolve interpretar  - e que para Binoche a regra é serve da mesma forma!

A passagem do tempo, simbolizada pelas nuvens sinuosas de Sils Maria, nos Alpes suíços, é o primeiro de muitos símbolos que o talentoso diretor Olivier Assayas propõe para "Acima das Nuvens". O filme é uma espécie de jornada de auto-conhecimento ou até um drama de redenção fantasiado de conflito geracional, cheio de comentários e críticas sobre arte, cinema, relacionamentos, irresponsabilidades e sobre cultura de celebridades. Ao acompanharmos a relação de Maria Enders e Vallentine percebemos a dualidade entre os textos da peça sendo ensaiada com divagações pessoais que impactam no relacionamento das duas, com muita sensibilidade e provocando muitas desconfianças em quem assiste - será que a vida está imitando a arte? 

"Acima das Nuvens" não é um filme fácil, seu simbolismo é frequente e mergulhar nele é quase condicional para se apaixonar pelo filme - embora o diretor equilibre muito bem o jogo do "duplo sentido", ele não faz questão nenhuma de entregar suas convicções. Assayas não se esquece do universo em que esta inserido e muito menos do passado de Binoche ou de Kristen Stewart para citar os "valores" do cinema moderno americano frente ao clássico e artísticos cinema europeu ou até sobre o abismo temporal que se abre e vai sugando as oportunidades de uma atriz experiente em detrimento ao novo estilo de vida marginal de outras atrizes que são notícia - é cruel, mas real! 

Veja, "Acima das Nuvens" concorreu em Cannes em 2014 e levou mais de 20 prêmios em sua carreira nos festivais - seu conceito narrativo é muito autoral e extremamente independente, ou seja, vai agradar quem gosta do estilo e quem está disposto a olhar para os detalhes muito além do que vemos nas telas!

É lindo, mas não será para todos!

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Adoráveis Mulheres

"Adoráveis Mulheres", novo projeto da diretora de "Lady Bird", Greta Gerwig, é uma graça! O filme é mais uma adaptação do livro homônimo de Louisa May Alcott e conta a história das irmãs March, quatro jovens americanas de personalidades completamente diferentes e que vivem em uma família cheia de valores e união. 

O processo de amadurecimento de cada uma delas, sem a presença do pai que luta na Guerra Civil, é o fio narrativo dessa história que fala sobre a essência da vida e como a felicidade pode estar nos pequenos gestos, na simplicidade do dia a dia, na ingenuidade dos sonhos adolescentes e na esperança de uma plenitude eterna - e é isso que nos toca e até nos machuca, pois sabemos que a vida não é bem assim

Transitando do passado para o presente com muita delicadeza e inteligência, Gerwig entrega um filme com alma, que mexe com a gente, mas com muito respeito (como deve ser). Uma aula de sensibilidade para falar sobre saudade, que merece ser aplaudida. Prestem atenção nesse filme - tenho certeza que ele estará no Oscar 2020, inclusive na disputa de melhor filme (ou no mínimo de melhor roteiro adaptado).

"Adoráveis Mulheres" é um destes textos clássicos várias vezes adaptados para o cinema - a mais famosa, contou com Winona Ryder, Susan Sarandon, Christian Bale e Kirsten Dusnt e foi produzida em 1994. Essa versão, dirigida pela australiana Gillian Armstrong, foi indicada para o Oscar em três categorias: melhor atriz (Winona Ryder), figurino e música. Pelo que vimos, o filme de Greta Gerwig tem tudo para se tornar a versão mais premiada da obra, começando pelas atuações marcantes de Saoirse Ronan como Jo March e mais um excelente trabalho de Laura Dern como Marmee March - lembrando que Dern deve ser indicada como coadjuvante por "Cenas de um Casamento". Emma Watson, Florence Pugh e Eliza Scanlen também merecem destaque - foram interpretações honestíssimas, principalmente de Pugh! Timothée Chalamet (Me chame pelo seu nome) é outro que entrega um grande personagem! Tenho a impressão que Saoirse Ronan receberá sua quinta indicação e que Greta Gerwig representará as mulheres em duas categorias: melhor direção e roteiro adaptado!

A fotografia do francés Yorick Le Saux é maravilhosa e pontuada com um tons mais quentes (amarelados) no passado, transbordando alegria e com tons mais frios (azulados) no presente, o que trás uma sensação mais real, da dificuldade da vida, do amadurecimento forçado - aliás, é basicamente na troca de cor e de temperatura que entendemos essa dinâmica de "vai e vem" na linha do tempo - é muito delicado, demora algumas cenas para percebermos, mas depois flui tão naturalmente que fica fácil de acompanhar! A montagem também ajuda nessa organicidade, claro, e, para mim, mereceria uma indicação ao Oscar junto com Desenho de Produção e Figurino. Até entendo se isso não acontecer em todas as categorias, mas é importante deixar registrado que potencial para várias indicações teria! Todos esses elementos técnicos só colaboram na entrega de um filme belíssimo, bem dirigido, bem interpretado e lindo visualmente. A capacidade de Gerwig em nos transportar para a vida dessas quatro mulheres, estabelece uma relação de cumplicidade e empatia que dificilmente vemos nos filmes de hoje com tanta sensibilidade. De fato não é um filme complexo ou com reviravoltas surpreendentes, mas as mais de duas horas de história servem como convite à revisitar nosso passado, nossos laços e lembranças - e a linda trilha sonora só colabora nessa imersão - reparem!

"Adoráveis Mulheres" é um filme leve ao mesmo tempo em que é denso, otimista ao mesmo tempo em que é saudoso, lindo ao mesmo tempo em que é difícil de digerir! "Adoráveis Mulheres" é um grande filme, técnico e artístico, e tranquilamente merece sua audiência!

Up-date: "Adoráveis Mulheres" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor Figurino!

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"Adoráveis Mulheres", novo projeto da diretora de "Lady Bird", Greta Gerwig, é uma graça! O filme é mais uma adaptação do livro homônimo de Louisa May Alcott e conta a história das irmãs March, quatro jovens americanas de personalidades completamente diferentes e que vivem em uma família cheia de valores e união. 

O processo de amadurecimento de cada uma delas, sem a presença do pai que luta na Guerra Civil, é o fio narrativo dessa história que fala sobre a essência da vida e como a felicidade pode estar nos pequenos gestos, na simplicidade do dia a dia, na ingenuidade dos sonhos adolescentes e na esperança de uma plenitude eterna - e é isso que nos toca e até nos machuca, pois sabemos que a vida não é bem assim

Transitando do passado para o presente com muita delicadeza e inteligência, Gerwig entrega um filme com alma, que mexe com a gente, mas com muito respeito (como deve ser). Uma aula de sensibilidade para falar sobre saudade, que merece ser aplaudida. Prestem atenção nesse filme - tenho certeza que ele estará no Oscar 2020, inclusive na disputa de melhor filme (ou no mínimo de melhor roteiro adaptado).

"Adoráveis Mulheres" é um destes textos clássicos várias vezes adaptados para o cinema - a mais famosa, contou com Winona Ryder, Susan Sarandon, Christian Bale e Kirsten Dusnt e foi produzida em 1994. Essa versão, dirigida pela australiana Gillian Armstrong, foi indicada para o Oscar em três categorias: melhor atriz (Winona Ryder), figurino e música. Pelo que vimos, o filme de Greta Gerwig tem tudo para se tornar a versão mais premiada da obra, começando pelas atuações marcantes de Saoirse Ronan como Jo March e mais um excelente trabalho de Laura Dern como Marmee March - lembrando que Dern deve ser indicada como coadjuvante por "Cenas de um Casamento". Emma Watson, Florence Pugh e Eliza Scanlen também merecem destaque - foram interpretações honestíssimas, principalmente de Pugh! Timothée Chalamet (Me chame pelo seu nome) é outro que entrega um grande personagem! Tenho a impressão que Saoirse Ronan receberá sua quinta indicação e que Greta Gerwig representará as mulheres em duas categorias: melhor direção e roteiro adaptado!

A fotografia do francés Yorick Le Saux é maravilhosa e pontuada com um tons mais quentes (amarelados) no passado, transbordando alegria e com tons mais frios (azulados) no presente, o que trás uma sensação mais real, da dificuldade da vida, do amadurecimento forçado - aliás, é basicamente na troca de cor e de temperatura que entendemos essa dinâmica de "vai e vem" na linha do tempo - é muito delicado, demora algumas cenas para percebermos, mas depois flui tão naturalmente que fica fácil de acompanhar! A montagem também ajuda nessa organicidade, claro, e, para mim, mereceria uma indicação ao Oscar junto com Desenho de Produção e Figurino. Até entendo se isso não acontecer em todas as categorias, mas é importante deixar registrado que potencial para várias indicações teria! Todos esses elementos técnicos só colaboram na entrega de um filme belíssimo, bem dirigido, bem interpretado e lindo visualmente. A capacidade de Gerwig em nos transportar para a vida dessas quatro mulheres, estabelece uma relação de cumplicidade e empatia que dificilmente vemos nos filmes de hoje com tanta sensibilidade. De fato não é um filme complexo ou com reviravoltas surpreendentes, mas as mais de duas horas de história servem como convite à revisitar nosso passado, nossos laços e lembranças - e a linda trilha sonora só colabora nessa imersão - reparem!

"Adoráveis Mulheres" é um filme leve ao mesmo tempo em que é denso, otimista ao mesmo tempo em que é saudoso, lindo ao mesmo tempo em que é difícil de digerir! "Adoráveis Mulheres" é um grande filme, técnico e artístico, e tranquilamente merece sua audiência!

Up-date: "Adoráveis Mulheres" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor Figurino!

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After Life

After Life

Embora pareça se tratar de mais uma comédia de relações que tem sua narrativa construída à partir de um drama potente e que, ao subverter o gênero, encontra um tom mais leve para, aí sim, seguirmos a jornada de transformação com um pouco mais graça, aqui não é muito bem o caso - pelo menos não em sua totalidade. A excelente "After Life", eu diria, pega muito mais na dor, no caso, do luto que teima em não passar, do que na piada fácil para minimizar o peso da realidade. É claro que existe uma beleza, um ar de esperança e de empatia no texto da série escrita e dirigida por Ricky Gervais, algo como "O Pior Vizinho do Mundo", mas é fato que essa jornada é muito mais daquelas que aperta o coração do que qualquer outra coisa.

"After Life" estreou em 2019 e conta com três excelente temporadas para retratar a história de Tony Johnson (Gervais), um homem que está lidando com a perda de sua esposa Lisa (Kerry Godliman) para o câncer. Tony, que costumava ser um homem otimista e amável, agora se tornou amargo, irônico, cínico; desprezando a sociedade, as pessoas que o rodeiam e que invariavelmente sempre considera o suicídio. Confira o trailer:

Uma das coisas mais notáveis sobre "After Life" é a forma como a série aborda temas sensíveis como a morte, o luto e a depressão sem tentar ser engraçada, mas sempre com uma perspectiva otimista. O roteiro é muito inteligente, seguindo a boa cartilha sarcástica do humor inglês, ao mergulhar profundamente na dor emocional do protagonista e explorar como ele lida com a vida após sua perda. Reparem como Ricky Gervais consegue equilibrar perfeitamente o tom sombrio da trama com o humor, criando momentos de riso fácil, quase constrangedor, em meio à tristeza que o cerca.

A história procura expor uma visão mais realista e sincera sobre o luto, mostrando como as pessoas passam por diferentes estágios emocionais, desde a raiva até a aceitação, e como a empatia, a solidariedade e a amizade são importantes nesse momento. Como em "O Pior Vizinho do Mundo", Tony começa a encontrar consolo e propósito em ajudar as pessoas, mesmo que de uma maneira sarcástica, no entanto sua atitude é capaz de nos provocar uma reflexão de como as conexões humanas podem, de fato, ser fundamentais para superarmos a dor.

"After Life" é o tipo da série que pode ser emocionalmente intensa e desafiadora para algumas pessoas - isso é um elogio, mas fique atento para alguns gatilhos. Existe sim o humor ácido, mesmo que misturado em um tom sombrio e isso pode não agradar a todos os gostos, especialmente aqueles que preferem narrativas menos densas, mas, no geral, é possível afirmar que série consegue equilibrar muito bem o humor e o drama de uma forma simpática. Ela apresenta uma história poderosa sobre o luto, mas essencialmente seu objetivo é nos levar por uma caminhada de redescoberta do significado da vida - sempre com muita sensibilidade e respeito.

Olha, vale muito o seu play!

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Embora pareça se tratar de mais uma comédia de relações que tem sua narrativa construída à partir de um drama potente e que, ao subverter o gênero, encontra um tom mais leve para, aí sim, seguirmos a jornada de transformação com um pouco mais graça, aqui não é muito bem o caso - pelo menos não em sua totalidade. A excelente "After Life", eu diria, pega muito mais na dor, no caso, do luto que teima em não passar, do que na piada fácil para minimizar o peso da realidade. É claro que existe uma beleza, um ar de esperança e de empatia no texto da série escrita e dirigida por Ricky Gervais, algo como "O Pior Vizinho do Mundo", mas é fato que essa jornada é muito mais daquelas que aperta o coração do que qualquer outra coisa.

"After Life" estreou em 2019 e conta com três excelente temporadas para retratar a história de Tony Johnson (Gervais), um homem que está lidando com a perda de sua esposa Lisa (Kerry Godliman) para o câncer. Tony, que costumava ser um homem otimista e amável, agora se tornou amargo, irônico, cínico; desprezando a sociedade, as pessoas que o rodeiam e que invariavelmente sempre considera o suicídio. Confira o trailer:

Uma das coisas mais notáveis sobre "After Life" é a forma como a série aborda temas sensíveis como a morte, o luto e a depressão sem tentar ser engraçada, mas sempre com uma perspectiva otimista. O roteiro é muito inteligente, seguindo a boa cartilha sarcástica do humor inglês, ao mergulhar profundamente na dor emocional do protagonista e explorar como ele lida com a vida após sua perda. Reparem como Ricky Gervais consegue equilibrar perfeitamente o tom sombrio da trama com o humor, criando momentos de riso fácil, quase constrangedor, em meio à tristeza que o cerca.

A história procura expor uma visão mais realista e sincera sobre o luto, mostrando como as pessoas passam por diferentes estágios emocionais, desde a raiva até a aceitação, e como a empatia, a solidariedade e a amizade são importantes nesse momento. Como em "O Pior Vizinho do Mundo", Tony começa a encontrar consolo e propósito em ajudar as pessoas, mesmo que de uma maneira sarcástica, no entanto sua atitude é capaz de nos provocar uma reflexão de como as conexões humanas podem, de fato, ser fundamentais para superarmos a dor.

"After Life" é o tipo da série que pode ser emocionalmente intensa e desafiadora para algumas pessoas - isso é um elogio, mas fique atento para alguns gatilhos. Existe sim o humor ácido, mesmo que misturado em um tom sombrio e isso pode não agradar a todos os gostos, especialmente aqueles que preferem narrativas menos densas, mas, no geral, é possível afirmar que série consegue equilibrar muito bem o humor e o drama de uma forma simpática. Ela apresenta uma história poderosa sobre o luto, mas essencialmente seu objetivo é nos levar por uma caminhada de redescoberta do significado da vida - sempre com muita sensibilidade e respeito.

Olha, vale muito o seu play!

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Aftersun

Quanto menos você souber sobre "Aftersun", melhor será a sua experiência! No entanto, e isso é preciso que se diga, não será uma jornada das mais tranquilas e nem todos vão se conectar com a proposta intimista, reflexiva e cheia de sensibilidade que a diretora estreante Charlotte Wells propõe. Talvez o primeiro ponto a se levantar seja justamente a forma como Wells retrata sensações e sentimentos bastante particulares quando evocamos algo tão preciso em nossa vida: as memórias de um ente querido ou de um tempo que, infelizmente, não voltará. Aqui, a diretora, com habilidade, pesa na mão ao discutir as relações familiares pela perspectiva de uma garota de 11 anos em uma viagem de férias com seu pai - como em "Um Lugar Qualquer" existe um desconforto entre a nostalgia e a melancolia que, de fato, nos corrói por dentro. Mas atenção, embora "Aftersun" brinque com uma sensação de que algo impactante pode acontecer a qualquer momento, eu alinho sua expectativa: o filme não é sobre um fato e sim sobre o contexto que aqueles personagens viveram (já que o filme é basicamente uma página de um livro de memórias).

Sophie (Celia Rowlson-Hall na versão adulta) reflete sobre a alegria e a melancolia das férias que ela (Frankie Corio, na versão pré-adolescente) passou com seu pai Calum (Paul Mescal) na Turquia, 20 anos antes. Em um jogo de memórias reais ou simplesmente imaginárias, Sophie tenta preencher as lacunas entre o pai amoroso e cuidadoso que conheceu, com o homem cheio de marcas e dores que ela acreditava nem existir. Confira o trailer:

"Aftersun" é o tipo do filme que não deve ser definido assim que os créditos sobem - ele exige um certo tempo para digestão, para alguma reflexão e, quem sabe até, para um olhar mais íntimo sobre nossa própria relação com a "saudade". Com uma linguagem quase experimental, uma identidade marcante e um conceito independente bem latente, o filme é tocante na sua essência e emocionante na sua simplicidade - o que traz certo frescor narrativo e até alguma provocação já que o roteiro tem uma trama direta e clara ao apresentar apenas uma passagem da vida de dois personagens. O segredo, no entanto, está na maneira como a protagonista revisita essa viagem a partir das suas lembranças e de gravações em VHS feitas na época - é como se ela montasse um quebra-cabeça, agora mais madura, com peças que jamais teve contato.

A performance de Paul Mescal (indicado ao Oscar 2023 por esse personagem) é um dos pontos fortes do filme - o ator captura com maestria a complexidade de Calum, um homem que luta contra seus próprios demônios enquanto tenta ser um bom pai para Sophie. Reparem como Mescal mantém, ou pelo menos tenta manter, a filha propositalmente (e com certa dor de quem quer apenas proteger seu grande amor) afastada de certos aspectos de sua vida - as perguntas da filha sobre o relacionamento dele com a mãe, com outras namoradas, com o dinheiro; enfim, tudo toca na alma de quem assiste e te falo: nem é preciso diálogos rebuscados ou cenas de embate, é tudo no olhar, no silêncio, na sensibilidade de Wells em insinuar e não escancarar o óbvio. Frankie Corio, como não poderia deixar de ser, também brilha, transmitindo a inocência e a confusão da juventude com muita propriedade - olho nessa atriz!

"Aftersun" tem na fotografia de Gregory Oke (de "Raf") uma contribuição importante para a construção dessa atmosfera melancólica do filme, com cores desbotadas e imagens granuladas que evocam a nostalgia das férias em família. A montagem impressionista de Blair McClendon (a mesma de "A Assistente") também merece elogios: tudo acontece no seu tempo, independente de onde esteja na cronologia dos fatos - é muito bom! Mesmo que definido pela própria Charlotte Wells como uma história autobiográfica, "Aftersun" sabe exatamente como escapar do egocentrismo com poesia e simbolismo, e assim entregar uma jornada autêntica, generosa e profundamente verdadeira sobre o que há de mais particular, e por isso inquestionável, na experiência humana quando o amor está acima de tudo.

Dói, mas vale seu play!

Assista Agora

Quanto menos você souber sobre "Aftersun", melhor será a sua experiência! No entanto, e isso é preciso que se diga, não será uma jornada das mais tranquilas e nem todos vão se conectar com a proposta intimista, reflexiva e cheia de sensibilidade que a diretora estreante Charlotte Wells propõe. Talvez o primeiro ponto a se levantar seja justamente a forma como Wells retrata sensações e sentimentos bastante particulares quando evocamos algo tão preciso em nossa vida: as memórias de um ente querido ou de um tempo que, infelizmente, não voltará. Aqui, a diretora, com habilidade, pesa na mão ao discutir as relações familiares pela perspectiva de uma garota de 11 anos em uma viagem de férias com seu pai - como em "Um Lugar Qualquer" existe um desconforto entre a nostalgia e a melancolia que, de fato, nos corrói por dentro. Mas atenção, embora "Aftersun" brinque com uma sensação de que algo impactante pode acontecer a qualquer momento, eu alinho sua expectativa: o filme não é sobre um fato e sim sobre o contexto que aqueles personagens viveram (já que o filme é basicamente uma página de um livro de memórias).

Sophie (Celia Rowlson-Hall na versão adulta) reflete sobre a alegria e a melancolia das férias que ela (Frankie Corio, na versão pré-adolescente) passou com seu pai Calum (Paul Mescal) na Turquia, 20 anos antes. Em um jogo de memórias reais ou simplesmente imaginárias, Sophie tenta preencher as lacunas entre o pai amoroso e cuidadoso que conheceu, com o homem cheio de marcas e dores que ela acreditava nem existir. Confira o trailer:

"Aftersun" é o tipo do filme que não deve ser definido assim que os créditos sobem - ele exige um certo tempo para digestão, para alguma reflexão e, quem sabe até, para um olhar mais íntimo sobre nossa própria relação com a "saudade". Com uma linguagem quase experimental, uma identidade marcante e um conceito independente bem latente, o filme é tocante na sua essência e emocionante na sua simplicidade - o que traz certo frescor narrativo e até alguma provocação já que o roteiro tem uma trama direta e clara ao apresentar apenas uma passagem da vida de dois personagens. O segredo, no entanto, está na maneira como a protagonista revisita essa viagem a partir das suas lembranças e de gravações em VHS feitas na época - é como se ela montasse um quebra-cabeça, agora mais madura, com peças que jamais teve contato.

A performance de Paul Mescal (indicado ao Oscar 2023 por esse personagem) é um dos pontos fortes do filme - o ator captura com maestria a complexidade de Calum, um homem que luta contra seus próprios demônios enquanto tenta ser um bom pai para Sophie. Reparem como Mescal mantém, ou pelo menos tenta manter, a filha propositalmente (e com certa dor de quem quer apenas proteger seu grande amor) afastada de certos aspectos de sua vida - as perguntas da filha sobre o relacionamento dele com a mãe, com outras namoradas, com o dinheiro; enfim, tudo toca na alma de quem assiste e te falo: nem é preciso diálogos rebuscados ou cenas de embate, é tudo no olhar, no silêncio, na sensibilidade de Wells em insinuar e não escancarar o óbvio. Frankie Corio, como não poderia deixar de ser, também brilha, transmitindo a inocência e a confusão da juventude com muita propriedade - olho nessa atriz!

"Aftersun" tem na fotografia de Gregory Oke (de "Raf") uma contribuição importante para a construção dessa atmosfera melancólica do filme, com cores desbotadas e imagens granuladas que evocam a nostalgia das férias em família. A montagem impressionista de Blair McClendon (a mesma de "A Assistente") também merece elogios: tudo acontece no seu tempo, independente de onde esteja na cronologia dos fatos - é muito bom! Mesmo que definido pela própria Charlotte Wells como uma história autobiográfica, "Aftersun" sabe exatamente como escapar do egocentrismo com poesia e simbolismo, e assim entregar uma jornada autêntica, generosa e profundamente verdadeira sobre o que há de mais particular, e por isso inquestionável, na experiência humana quando o amor está acima de tudo.

Dói, mas vale seu play!

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AIR: A história por trás do logo

Se você gosta de uma história bem construída que além de curiosa, é muito divertida, você vai adorar "AIR: A história por trás do logo"! Se você é empreendedor e adora estudos de caso, você também vai amar esse filme e, muito provavelmente, não vai assistir apenas uma vez! Agora, se você precisa vender uma ideia, então eu sugiro que você estude (e muito) o roteiro desse filme, afinal o diretor Ben Affleck, em sua quinta empreitada na função, contextualiza tão bem a jornada de convencimento pela qual o executivo de marketing Sonny Vaccaro (que cuidava da divisão de basquete da Nike) passou, que não vou me surpreender se começar a ver cenas do filme em inúmeras palestras sobre o tema daqui para frente (contém ironia). É sério: Vaccaro (Matt Damon), além inovar em sua proposta, ainda foi capaz de convencer o "todo poderoso" Phil Knight (Ben Affleck) de que era possível investir em apenas um jogador (e não em três como de costume), ter muito lucro e ainda transformar o mercado de calçados esportivos mesmo sendo, na época, a terceira empresa em market share nos EUA - bem longe da primeira que, inclusive, foi adquirida pela Nike anos mais tarde.

O filme tem uma premissa das mais simples, mas nem por isso menos empolgante: revelar a inacreditável história sobre uma parceria improvável (que se tornou revolucionária) entre o então desconhecido Michael Jordan e a incipiente divisão de basquete da Nike, que revolucionou o mundo dos esportes e da cultura contemporânea com a marca "Air Jordan". Confira o trailer:

Como "A Rede Social" foi capaz de nos surpreender em 2010 ao contar a história de criação do Facebook, tenho a impressão que  "AIR" (que definitivamente não precisava desse subtítulo) vai pelo mesmo caminho. De fato a história nem é tão desconhecida assim, mas o interessante do roteiro escrito pelo estreante Alex Convery, está justamente na forma como o recorte histórico é retratado, alternando curiosidades dos bastidores com a dinâmica corporativa (e de inovação) do inicio dos anos 80, e sempre criando paralelos com elementos que fazem parte da cultura da Nike até hoje - como nas várias vezes em que os valores da empresa são citados para justificar uma ação (ou postura) de Vaccaro durante sua cruzada de convencimento. Esse conceito narrativo funciona muito bem, afinal, como sabemos onde essa história vai dar, algumas passagens soam, de fato, muito engraçadas ao analisarmos os fatos em retrospectiva.

Embora a edição do craque William Goldenberg (vencedor do Oscar por "Argo", também de Affleck) pontue muito bem os cirúrgicos enquadramentos de outro craque, o diretor de fotografia Robert Richardson (vencedor de 3 Oscars e indicados para outros 7), criando uma atmosfera quase mística sobre acreditar em uma ideia e ir até as últimas consequências para provar que ela vai realmente funcionar, é muito provável que nada disso funcionasse não fosse o trabalho impecável do elenco: de Matt Damon ao Jason Bateman (como o diretor de marketing da Nike, Rob Strasser); passando pelos impagáveis Chris Tucker (como Howard White - hoje VP da Marca "Air Jordan") e Matthew Maher (como Peter Moore, designer icônico do "Air Jordan 1"); sem falar nas performances de Chris Messina, que interpreta o agente de MJ que trava duelos hilários com Vaccaro; e a sempre competente Viola Davis como a mãe de Jordan.

"AIR: A história por trás do logo" é o tipo do filme que tem cheiro de Oscar - pelo seu equilíbrio perfeito entre o contexto histórico dos mais relevantes e sua narrativa heróica tipicamente americana (no bom sentido), cheia de alívios cômicos inteligentes e lições empreendedoras pertinentes, envolvidas, claro, ao som de uma trilha sonora nostálgica que dá o exato tom de leveza que Affleck impõe à trama. Olha, é incrível como o filme está redondinho e como funciona bem como entretenimento - eu diria que segue a linha de "Lakers: Hora de Vencer" da HBO, mas sem a necessidade de ter que mostrar uma única cena em quadra!

Imperdível!

Assista Agora

Se você gosta de uma história bem construída que além de curiosa, é muito divertida, você vai adorar "AIR: A história por trás do logo"! Se você é empreendedor e adora estudos de caso, você também vai amar esse filme e, muito provavelmente, não vai assistir apenas uma vez! Agora, se você precisa vender uma ideia, então eu sugiro que você estude (e muito) o roteiro desse filme, afinal o diretor Ben Affleck, em sua quinta empreitada na função, contextualiza tão bem a jornada de convencimento pela qual o executivo de marketing Sonny Vaccaro (que cuidava da divisão de basquete da Nike) passou, que não vou me surpreender se começar a ver cenas do filme em inúmeras palestras sobre o tema daqui para frente (contém ironia). É sério: Vaccaro (Matt Damon), além inovar em sua proposta, ainda foi capaz de convencer o "todo poderoso" Phil Knight (Ben Affleck) de que era possível investir em apenas um jogador (e não em três como de costume), ter muito lucro e ainda transformar o mercado de calçados esportivos mesmo sendo, na época, a terceira empresa em market share nos EUA - bem longe da primeira que, inclusive, foi adquirida pela Nike anos mais tarde.

O filme tem uma premissa das mais simples, mas nem por isso menos empolgante: revelar a inacreditável história sobre uma parceria improvável (que se tornou revolucionária) entre o então desconhecido Michael Jordan e a incipiente divisão de basquete da Nike, que revolucionou o mundo dos esportes e da cultura contemporânea com a marca "Air Jordan". Confira o trailer:

Como "A Rede Social" foi capaz de nos surpreender em 2010 ao contar a história de criação do Facebook, tenho a impressão que  "AIR" (que definitivamente não precisava desse subtítulo) vai pelo mesmo caminho. De fato a história nem é tão desconhecida assim, mas o interessante do roteiro escrito pelo estreante Alex Convery, está justamente na forma como o recorte histórico é retratado, alternando curiosidades dos bastidores com a dinâmica corporativa (e de inovação) do inicio dos anos 80, e sempre criando paralelos com elementos que fazem parte da cultura da Nike até hoje - como nas várias vezes em que os valores da empresa são citados para justificar uma ação (ou postura) de Vaccaro durante sua cruzada de convencimento. Esse conceito narrativo funciona muito bem, afinal, como sabemos onde essa história vai dar, algumas passagens soam, de fato, muito engraçadas ao analisarmos os fatos em retrospectiva.

Embora a edição do craque William Goldenberg (vencedor do Oscar por "Argo", também de Affleck) pontue muito bem os cirúrgicos enquadramentos de outro craque, o diretor de fotografia Robert Richardson (vencedor de 3 Oscars e indicados para outros 7), criando uma atmosfera quase mística sobre acreditar em uma ideia e ir até as últimas consequências para provar que ela vai realmente funcionar, é muito provável que nada disso funcionasse não fosse o trabalho impecável do elenco: de Matt Damon ao Jason Bateman (como o diretor de marketing da Nike, Rob Strasser); passando pelos impagáveis Chris Tucker (como Howard White - hoje VP da Marca "Air Jordan") e Matthew Maher (como Peter Moore, designer icônico do "Air Jordan 1"); sem falar nas performances de Chris Messina, que interpreta o agente de MJ que trava duelos hilários com Vaccaro; e a sempre competente Viola Davis como a mãe de Jordan.

"AIR: A história por trás do logo" é o tipo do filme que tem cheiro de Oscar - pelo seu equilíbrio perfeito entre o contexto histórico dos mais relevantes e sua narrativa heróica tipicamente americana (no bom sentido), cheia de alívios cômicos inteligentes e lições empreendedoras pertinentes, envolvidas, claro, ao som de uma trilha sonora nostálgica que dá o exato tom de leveza que Affleck impõe à trama. Olha, é incrível como o filme está redondinho e como funciona bem como entretenimento - eu diria que segue a linha de "Lakers: Hora de Vencer" da HBO, mas sem a necessidade de ter que mostrar uma única cena em quadra!

Imperdível!

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Alabama Monroe

Eu não precisei mais do que quatro minutos para ter meu coração completamente destruído por esse filme! É sério, "Alabama Monroe" é um excelente filme, mas também implacável, duro, intenso e muito profundo. Uma aula de roteiro, de direção e de montagem - não por acaso foi um dos filmes mais premiados no circuito de festivais entre os anos de 2013 e 2015, inclusive representou a Bélgica no Oscar de 2014 como "Melhor Filme Internacional".

Elise (Veerle Baetens) e Didier (Johan Heldenbergh) se apaixonam à primeira vista, apesar das diferenças entre eles: ela toda tatuada, realista religiosa e cosmopolita; ele um músico, ateu romântico e do campo. Quando a filha do casal fica muito doente, o amor dos dois é levado a julgamento pela dor, mas principalmente pela maneira como cada um enxerga o mundo. Confira o trailer:

Eu poderia iniciar esse review dizendo que "Alabama Monroe" é um filme sobre as dificuldades que a vida nos impõe sem pedir licença. Mas não, essa belíssima produção belga é, na verdade, uma verdadeira história de amor - mas não dessas onde as peças se encaixam perfeitamente. Aliás, é na diferença "de ser e de viver" que Elise e Didier se conectam, mesmo que o preço passe a ser muito alto quando os conflitos de ideias começam a pautar a relação. Embora tocante, principalmente se você já tiver uma família formada, o roteiro usa e abusa da música para estabelecer o mais profundo elo entre o casal e é assim, desde o inicio, que essa linda história é construída (e destruída).

Dirigida pelo talentoso Felix van Groeningen (de "Querido Menino"), "Alabama Monroe" teve o roteiro escrito pelo próprio diretor ao lado de Carl Joos Johan, adaptando de uma peça teatral de Johan Heldenbergh, o que cria uma atmosfera profunda de identificação entre o autor e o ator - fossem os tempos da Academia, Heldenbergh teria enormes chances de receber uma indicação como "Melhor Ator" no Oscar. Sua performance atém de visceral, é realista e tão cheia de camadas que temos a impressão de estarmos assistindo um documentário e não uma ficção. A cena em que ele expõe toda sua dor para a platéia durante um show da sua banda, já no terceiro ato do filme, é digna de se aplaudir de pé! Reparem. Veerle Baetens não fica muito atrás, ela é uma espécie de camaleão, capaz de entregar uma doçura em uma cena e imediatamente depois o que vemos é uma pessoa completamente diferente, selvagem, impulsiva. Essa quebra de expectativa é lindamente orquestrada por uma montagem que passei por várias linhas do tempo com muita sabedoria, criando um clima de incerteza e tensão impressionantes - Nico Leunen (de "Ad Astra") matou a pau!

Veja, inicialmente o filme parece querer nos levar para uma certa emotividade barata a partir de uma história que traz, em seu centro, uma linda criança com câncer - e de fato somos tocados por essa circunstância. Mas Groeningen é genial ao nos surpreender, ele entende o peso da sua narrativa e ao lado de Leunen, nos afasta desse sentimentalismo fácil, dispensando, por exemplo, uma trilha sonora nesses momentos de maior sofrimento. Por outro lado, ele usa a música para nos reconectar com o casal, com o amor, com a relação, na esperança de que tudo pode dar certo para eles, porém, como na vida, algumas marcas não são esquecidas assim!

Embora "Alabama Monroe" também faça sentido como título, talvez o original "The Broken Circle Breakdown" tenha muito mais a dizer sobre o filme!

Vale muito o seu play!

Assista Agora

Eu não precisei mais do que quatro minutos para ter meu coração completamente destruído por esse filme! É sério, "Alabama Monroe" é um excelente filme, mas também implacável, duro, intenso e muito profundo. Uma aula de roteiro, de direção e de montagem - não por acaso foi um dos filmes mais premiados no circuito de festivais entre os anos de 2013 e 2015, inclusive representou a Bélgica no Oscar de 2014 como "Melhor Filme Internacional".

Elise (Veerle Baetens) e Didier (Johan Heldenbergh) se apaixonam à primeira vista, apesar das diferenças entre eles: ela toda tatuada, realista religiosa e cosmopolita; ele um músico, ateu romântico e do campo. Quando a filha do casal fica muito doente, o amor dos dois é levado a julgamento pela dor, mas principalmente pela maneira como cada um enxerga o mundo. Confira o trailer:

Eu poderia iniciar esse review dizendo que "Alabama Monroe" é um filme sobre as dificuldades que a vida nos impõe sem pedir licença. Mas não, essa belíssima produção belga é, na verdade, uma verdadeira história de amor - mas não dessas onde as peças se encaixam perfeitamente. Aliás, é na diferença "de ser e de viver" que Elise e Didier se conectam, mesmo que o preço passe a ser muito alto quando os conflitos de ideias começam a pautar a relação. Embora tocante, principalmente se você já tiver uma família formada, o roteiro usa e abusa da música para estabelecer o mais profundo elo entre o casal e é assim, desde o inicio, que essa linda história é construída (e destruída).

Dirigida pelo talentoso Felix van Groeningen (de "Querido Menino"), "Alabama Monroe" teve o roteiro escrito pelo próprio diretor ao lado de Carl Joos Johan, adaptando de uma peça teatral de Johan Heldenbergh, o que cria uma atmosfera profunda de identificação entre o autor e o ator - fossem os tempos da Academia, Heldenbergh teria enormes chances de receber uma indicação como "Melhor Ator" no Oscar. Sua performance atém de visceral, é realista e tão cheia de camadas que temos a impressão de estarmos assistindo um documentário e não uma ficção. A cena em que ele expõe toda sua dor para a platéia durante um show da sua banda, já no terceiro ato do filme, é digna de se aplaudir de pé! Reparem. Veerle Baetens não fica muito atrás, ela é uma espécie de camaleão, capaz de entregar uma doçura em uma cena e imediatamente depois o que vemos é uma pessoa completamente diferente, selvagem, impulsiva. Essa quebra de expectativa é lindamente orquestrada por uma montagem que passei por várias linhas do tempo com muita sabedoria, criando um clima de incerteza e tensão impressionantes - Nico Leunen (de "Ad Astra") matou a pau!

Veja, inicialmente o filme parece querer nos levar para uma certa emotividade barata a partir de uma história que traz, em seu centro, uma linda criança com câncer - e de fato somos tocados por essa circunstância. Mas Groeningen é genial ao nos surpreender, ele entende o peso da sua narrativa e ao lado de Leunen, nos afasta desse sentimentalismo fácil, dispensando, por exemplo, uma trilha sonora nesses momentos de maior sofrimento. Por outro lado, ele usa a música para nos reconectar com o casal, com o amor, com a relação, na esperança de que tudo pode dar certo para eles, porém, como na vida, algumas marcas não são esquecidas assim!

Embora "Alabama Monroe" também faça sentido como título, talvez o original "The Broken Circle Breakdown" tenha muito mais a dizer sobre o filme!

Vale muito o seu play!

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Além da Vida

"Além da Vida" conta a história de três pessoas que são assombradas pela "morte", de diferentes formas. George (Matt Damon) é um trabalhador da construção civil que tem uma ligação especial com a vida além da morte. Marie (Cécile de France), uma jornalista francesa, é uma das vítimas do Tsunami de 2004 que quase a matou. E Marcus (George McLaren e Frankie McLaren), é uma criança londrina, que quando perde o seu irmão gêmeo, procura desesperadamente obter respostas que fogem do seu entendimento. Cada um deles está em busca da sua verdade até que seus caminhos se cruzam e alteram para sempre aquilo em que eles acreditavam existir além da vida. Confira o Trailer:

"Hereafter" (no original) é um filme de 2010 dirigido pelo excelente Clint Eastwood que fala sobre a relação do ser humano com a morte (ou o que não se sabe dela). Por si só o tema já chamaria a atenção, mas somando uma direção precisa e segura de um premiado Eastwood e uma cena simplesmente sensacional do Tsunami (que, inclusive, lhe rendeu uma indicação ao Oscar de Efeitos Visuais em 2011), teríamos um drama dos bons, certo? Certo, mas quando as três histórias dos três personagens distintos se encontram no final (ao melhor estilo Alejandro Gonzalez Inarritu) percebemos que o filme não supera nossas expectativas - seu sentimentalismo, na minha opinião, passou um pouco do ponto. Não chega a atrapalhar a nossa experiência, mas coloca "Além da Vida" em outra prateleira.

Certamente a direção é melhor do filme: as histórias são muito bem construídas, os personagens são intensos com seus dramas particulares e os “eventos” que os fazem pensar sobre a razão de suas próprias existências funcionam muito bem - mas o roteiro oscila, ele acaba alternando momentos grandiosos (e não falo só da cena do Tsunami) com momentos um pouco arrastados, que chega a cansar um pouco.

Claro que o filme vale a pena, existem três momentos específicos que justificam muito as duas horas de duração, mas admito que esperava um pouco mais - talvez até pelo tamanho das minhas expectativas depois de assistir um trailer tão empolgante.

Otimo entretenimento!

Assista Agora

"Além da Vida" conta a história de três pessoas que são assombradas pela "morte", de diferentes formas. George (Matt Damon) é um trabalhador da construção civil que tem uma ligação especial com a vida além da morte. Marie (Cécile de France), uma jornalista francesa, é uma das vítimas do Tsunami de 2004 que quase a matou. E Marcus (George McLaren e Frankie McLaren), é uma criança londrina, que quando perde o seu irmão gêmeo, procura desesperadamente obter respostas que fogem do seu entendimento. Cada um deles está em busca da sua verdade até que seus caminhos se cruzam e alteram para sempre aquilo em que eles acreditavam existir além da vida. Confira o Trailer:

"Hereafter" (no original) é um filme de 2010 dirigido pelo excelente Clint Eastwood que fala sobre a relação do ser humano com a morte (ou o que não se sabe dela). Por si só o tema já chamaria a atenção, mas somando uma direção precisa e segura de um premiado Eastwood e uma cena simplesmente sensacional do Tsunami (que, inclusive, lhe rendeu uma indicação ao Oscar de Efeitos Visuais em 2011), teríamos um drama dos bons, certo? Certo, mas quando as três histórias dos três personagens distintos se encontram no final (ao melhor estilo Alejandro Gonzalez Inarritu) percebemos que o filme não supera nossas expectativas - seu sentimentalismo, na minha opinião, passou um pouco do ponto. Não chega a atrapalhar a nossa experiência, mas coloca "Além da Vida" em outra prateleira.

Certamente a direção é melhor do filme: as histórias são muito bem construídas, os personagens são intensos com seus dramas particulares e os “eventos” que os fazem pensar sobre a razão de suas próprias existências funcionam muito bem - mas o roteiro oscila, ele acaba alternando momentos grandiosos (e não falo só da cena do Tsunami) com momentos um pouco arrastados, que chega a cansar um pouco.

Claro que o filme vale a pena, existem três momentos específicos que justificam muito as duas horas de duração, mas admito que esperava um pouco mais - talvez até pelo tamanho das minhas expectativas depois de assistir um trailer tão empolgante.

Otimo entretenimento!

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Amar

Gostei do Filme! Um pouco diferente do cinema espanhol que venho acompanhando ultimamente, mas não deixa de ser uma ótima surpresa.

"Amar" acompanha a história de amor que Laura (María Pedraza) e Carlos (Pol Monen) vivenciam: desde sua intensidade até a natural fragilidade do primeiro amor e como eles enxergam a realidade quando se sentem abalados pelas dificuldades naturais de uma relação e sentem que todo romantismo que idealizaram não passou de uma fase! Confira o trailer (em espanhol):

Antes de mais nada é preciso dizer que "Amar" é muito bem dirigido pelo Esteban Crespo, embora seja seu primeiro longa-metragem. O filme dialoga com alguns dramas adolescentes como sexualidade, descobertas, inseguranças, sonhos e decepções; mas sem se fazer piegas. Não é um grande roteiro, mas a forma como o diretor levou a narrativa, provocando os atores, trabalhando com as lentes mais fechadas nos momentos mais introspectivos, mas enquadrando a cidade ora em segundo plano como um pano de fundo completamente desfocado e colorido, ora como um personagem com uso das grandes angulares, para estabelecer todo aquele universo underground europeu - o resultado desse apuro estético é um filme, para mim, bastante maduro e merecedor de todos os elogios que recebeu - além de uma indicação para o Goya (Oscar Espanhol) para Pol Monen.

Um filme de relações adolescentes muito bem realizado. Vale o play como entretenimento, mas com uma pegada de cinema independente!

Assista Agora

Gostei do Filme! Um pouco diferente do cinema espanhol que venho acompanhando ultimamente, mas não deixa de ser uma ótima surpresa.

"Amar" acompanha a história de amor que Laura (María Pedraza) e Carlos (Pol Monen) vivenciam: desde sua intensidade até a natural fragilidade do primeiro amor e como eles enxergam a realidade quando se sentem abalados pelas dificuldades naturais de uma relação e sentem que todo romantismo que idealizaram não passou de uma fase! Confira o trailer (em espanhol):

Antes de mais nada é preciso dizer que "Amar" é muito bem dirigido pelo Esteban Crespo, embora seja seu primeiro longa-metragem. O filme dialoga com alguns dramas adolescentes como sexualidade, descobertas, inseguranças, sonhos e decepções; mas sem se fazer piegas. Não é um grande roteiro, mas a forma como o diretor levou a narrativa, provocando os atores, trabalhando com as lentes mais fechadas nos momentos mais introspectivos, mas enquadrando a cidade ora em segundo plano como um pano de fundo completamente desfocado e colorido, ora como um personagem com uso das grandes angulares, para estabelecer todo aquele universo underground europeu - o resultado desse apuro estético é um filme, para mim, bastante maduro e merecedor de todos os elogios que recebeu - além de uma indicação para o Goya (Oscar Espanhol) para Pol Monen.

Um filme de relações adolescentes muito bem realizado. Vale o play como entretenimento, mas com uma pegada de cinema independente!

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American Son

Antes de mais nada, uma informação importante sobre "American Son": essa produção original da Netflix é uma adaptação de uma peça da Broadway, escrita por Christopher Demos-Brown que acompanha o drama de um ex-casal, em uma interminável noite de espera na delegacia, em busca de informações sobre o desaparecimento do seu filho. A história ganha ainda mais força por trazer para pauta um assunto delicado, o racismo em suas diversas formas de expressão e opressão, porém, é preciso que se diga: o filme não vai agradar a todos, não pelo conteúdo e sim pela forma. "American Son" se passa em um mesmo cenário 98% do tempo, com 4 atores se revezando entre diálogos longos, muitas vezes didáticos, sem um sentido cronológico e, muitas vezes, com atuações acima do tom - certamente funciona no palco, mas no cinema a dinâmica é outra (e o diretor Kenny Leon deveria saber disso). Só dê o play se você estiver consciente que se trata de uma oportunidade de assistir uma peça de teatro da Broadway (não é um musical) no seu serviço de streaming., com um texto forte, difícil de digerir e que expõe uma enorme discussão cheia dor, de ressentimento e de verdade!

Jamal, um jovem de 18 anos, negro, está desaparecido. Kendra, sua mãe, negra, está em uma delegacia esperando por notícias do filho. Um jovem policial, branco, faz o atendimento. O clima é tenso, é possível ver o desespero de uma mãe nessa situação. Os diálogos parecem traiçoeiros entre quem diz e quem escuta - tudo nos leva para discussões sobre diferenças raciais ou sobre a forma como isso interfere naquela investigação, em algum incidente que poderia ter corrido ou até no tratamento institucional entre o policial e a mãe. Quando o pai de Jamal, ex-marido de Kendra, Scott, um agente do FBI, branco, chega, as discussões ganham novos elementos como: postura perante o problema, machismo, ressentimentos entre homem e mulher, diferenças de ponto de vista sobre um mesmo tema, paternidade, maternidade, educação, escolhas de vida, etc; mas tudo isso tendo o racismo como reflexo de causa. É fato que o roteiro trás plots muito bem elaborados, consistentes e importantes para se discutir. Ele levanta temas que provavelmente passariam batidos por uns, mas que tem enorme importância para outros e aí vem o elemento dramático que mais merece destaque no filme: a necessidade de nos colocarmos no lugar do outro, de praticarmos a empatia! Eu diria que é esse sentimento que nos segura até o final (um ótimo final, inclusive). 

Como disse anteriormente, o problema não está no "conteúdo" e sim na "forma". Adaptar uma peça de teatro em filme exige entender a gramática cinematográfica e ter a consciência que muita coisa vai precisar mudar, não tem jeito! Mesmo com a escolha de um único cenário (o que não seria problema nenhum, basta lembrar de "Nada a Esconder" ou "7 años") o roteiro poderia ser mais dinâmico, mas não, ele é teatral, respeita as entradas e saídas do atores usando os corredores da delegacia como coxias e isso é um grande equívoco, porque os tempos são diferentes. As atuações sofrem do mesmo problema - o atores da peça são exatamente os mesmos do filme e, claro, eles carregam o tom do teatro para a câmera e, em muitos momentos, ficar] over demais! Kerry Washington (Scandal) faz tantas caras e bocas que deixa as ótimas passagens do texto, superficiais demais - ela não mergulha no sofrimento, ela expões o sofrimento, e essa diferença é fatal (embora algumas pessoas tendem a gostar desse tipo de trabalho)! Talvez o único do elenco que tenha equilibrado (ou se adaptado melhor) a atuação foi o delegado John Stokes (Eugene Lee) - pontual e contido, na medida e no tempo certo!

Bom, mas você só criticou, por que eu devo assistir? A resposta é simples: a história é boa, o texto é bom (embora o roteiro nem tanto) e o assunto é importante, nos faz refletir em vários momentos, principalmente quando os pontos de vista são colocados na mesa sem medo de julgamentos. Eu, tranquilamente, assistiria essa peça e provavelmente sairia satisfeito, porém como obra cinematográfica, fica impossível elogiar. Uma pena!

Assista Agora 

Antes de mais nada, uma informação importante sobre "American Son": essa produção original da Netflix é uma adaptação de uma peça da Broadway, escrita por Christopher Demos-Brown que acompanha o drama de um ex-casal, em uma interminável noite de espera na delegacia, em busca de informações sobre o desaparecimento do seu filho. A história ganha ainda mais força por trazer para pauta um assunto delicado, o racismo em suas diversas formas de expressão e opressão, porém, é preciso que se diga: o filme não vai agradar a todos, não pelo conteúdo e sim pela forma. "American Son" se passa em um mesmo cenário 98% do tempo, com 4 atores se revezando entre diálogos longos, muitas vezes didáticos, sem um sentido cronológico e, muitas vezes, com atuações acima do tom - certamente funciona no palco, mas no cinema a dinâmica é outra (e o diretor Kenny Leon deveria saber disso). Só dê o play se você estiver consciente que se trata de uma oportunidade de assistir uma peça de teatro da Broadway (não é um musical) no seu serviço de streaming., com um texto forte, difícil de digerir e que expõe uma enorme discussão cheia dor, de ressentimento e de verdade!

Jamal, um jovem de 18 anos, negro, está desaparecido. Kendra, sua mãe, negra, está em uma delegacia esperando por notícias do filho. Um jovem policial, branco, faz o atendimento. O clima é tenso, é possível ver o desespero de uma mãe nessa situação. Os diálogos parecem traiçoeiros entre quem diz e quem escuta - tudo nos leva para discussões sobre diferenças raciais ou sobre a forma como isso interfere naquela investigação, em algum incidente que poderia ter corrido ou até no tratamento institucional entre o policial e a mãe. Quando o pai de Jamal, ex-marido de Kendra, Scott, um agente do FBI, branco, chega, as discussões ganham novos elementos como: postura perante o problema, machismo, ressentimentos entre homem e mulher, diferenças de ponto de vista sobre um mesmo tema, paternidade, maternidade, educação, escolhas de vida, etc; mas tudo isso tendo o racismo como reflexo de causa. É fato que o roteiro trás plots muito bem elaborados, consistentes e importantes para se discutir. Ele levanta temas que provavelmente passariam batidos por uns, mas que tem enorme importância para outros e aí vem o elemento dramático que mais merece destaque no filme: a necessidade de nos colocarmos no lugar do outro, de praticarmos a empatia! Eu diria que é esse sentimento que nos segura até o final (um ótimo final, inclusive). 

Como disse anteriormente, o problema não está no "conteúdo" e sim na "forma". Adaptar uma peça de teatro em filme exige entender a gramática cinematográfica e ter a consciência que muita coisa vai precisar mudar, não tem jeito! Mesmo com a escolha de um único cenário (o que não seria problema nenhum, basta lembrar de "Nada a Esconder" ou "7 años") o roteiro poderia ser mais dinâmico, mas não, ele é teatral, respeita as entradas e saídas do atores usando os corredores da delegacia como coxias e isso é um grande equívoco, porque os tempos são diferentes. As atuações sofrem do mesmo problema - o atores da peça são exatamente os mesmos do filme e, claro, eles carregam o tom do teatro para a câmera e, em muitos momentos, ficar] over demais! Kerry Washington (Scandal) faz tantas caras e bocas que deixa as ótimas passagens do texto, superficiais demais - ela não mergulha no sofrimento, ela expões o sofrimento, e essa diferença é fatal (embora algumas pessoas tendem a gostar desse tipo de trabalho)! Talvez o único do elenco que tenha equilibrado (ou se adaptado melhor) a atuação foi o delegado John Stokes (Eugene Lee) - pontual e contido, na medida e no tempo certo!

Bom, mas você só criticou, por que eu devo assistir? A resposta é simples: a história é boa, o texto é bom (embora o roteiro nem tanto) e o assunto é importante, nos faz refletir em vários momentos, principalmente quando os pontos de vista são colocados na mesa sem medo de julgamentos. Eu, tranquilamente, assistiria essa peça e provavelmente sairia satisfeito, porém como obra cinematográfica, fica impossível elogiar. Uma pena!

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Amigos para a Vida

"Amigos para a Vida" é muito melhor do que pode parecer em um primeiro olhar, especialmente se você gostou de séries como "This is Us" ou  "A Million Little Things". O filme dirigido pelo Jesse Zwick (da série "Nashville: No Ritmo da Fama") mescla com muita sabedoria um certo humor carregado de ironias com um drama cheio de camadas que vai ganhando corpo conforme a trama se desenrola, deixando uma aparente superficialidade para trás até chegar ao ponto de explorar com seriedade temas como amizade, amor, perda e a busca pela felicidade. Talvez quem tenha assistido a excelente produção francesa "Les petits mouchoirs" (que aqui no Brasil surgiu como "Até a Eternidade") ache "Amigos para a Vida" mais do mesmo, mas eu posso te garantir que além de um ótimo e leve entretenimento, esse filme vai tocar o seu coração.

A história, basicamente, gira em torno de Alex (Jason Ritter), um jovem que tenta lidar com a depressão. Quando seus amigos de faculdade descobrem sua tentativa de suicídio, decidem se reunir para um fim de semana juntos, na esperança de animá-lo. A partir desse encontro, antigos segredos são revelados, velhas feridas são reabertas e novos laços são formados. Confira o trailer (em inglês):

O tweet de Alex antes de sua tentativa de suicídio dizia: "Pergunte por mim amanhã e você encontrará um homem morto" - essa é uma frase dita por Mercutio antes de sua morte em "Romeu e Julieta" de William Shakespeare e não por acaso o ponto de partida para uma jornada de reencontro que discute a cada momento a importância de estar "hoje" ao lado de quem você realmente estima. "For Alex" (no original) se apropria de uma situação dramática para fazer um retrato honesto e comovente da vida, com seus altos e baixos, alegrias e tristezas. Quando o roteiro do próprio Zwick encontra seu verdadeiro caminho (e isso demora pelo menos um ato), percebemos que o desenvolvimento da trama vai além de uma premissa batida sobre a importância da amizade, do amor e da esperança; e a leveza como tudo isso é personificado pelo elenco cria uma fácil (e nostálgica) conexão que te fará rir, chorar e refletir sobre a vida.

O elenco, de fato, é um dos pontos fortes de "Amigos para a Vida" - basta dizer que esse foi um dos primeiros trabalhos de Jane Levy (a Zoey de "Zoey e a Sua Fantástica Playlist") e de Aubrey Plaza (a Harper Spiller de "The White Lotus"). Basicamente formado por 7 atores, o elenco mostra uma química invejável para esse tipo de texto - a forma como o roteiro vai envolvendo os personagens e seus dramas do passado, embora previsíveis, nos coloca dentro daquela dinâmica tão particular. Jason Ritter entrega uma performance interessante como Alex, transmitindo uma dor e uma fragilidade que vai além do estereótipo. Nate Parker e Max Greenfield também estão ótimos - seus personagens são multidimensionais e cheios de nuances, trazendo uma veracidade para a história que vale a pena ressaltar.

A direção de Jesse Zwick é competente, mas pouco criativa. Embora sensível e perspicaz, ele prefere se apoiar no equilíbrio entre o humor e o drama, sem cair em pieguices ou clichês, do que provocar seus atores e assim leva-los para um lugar desconhecido que traria ainda mais profundidade para as discussões - e é aqui que a fotografia do Andre Lascaris (de "Playdates") potencializa o trabalho do elenco, já que ele é capaz de capturar as nuances de cada relação sem expor seu real significado. "Amigos para a Vida" é isso, um filme que mostra como os amigos podem ser a nossa maior fonte de apoio nos momentos mais difíceis da vida, mesmo que essa relação seja carregada de marcas que precisam ser discutidas!

Vale seu play!

Assista Agora

"Amigos para a Vida" é muito melhor do que pode parecer em um primeiro olhar, especialmente se você gostou de séries como "This is Us" ou  "A Million Little Things". O filme dirigido pelo Jesse Zwick (da série "Nashville: No Ritmo da Fama") mescla com muita sabedoria um certo humor carregado de ironias com um drama cheio de camadas que vai ganhando corpo conforme a trama se desenrola, deixando uma aparente superficialidade para trás até chegar ao ponto de explorar com seriedade temas como amizade, amor, perda e a busca pela felicidade. Talvez quem tenha assistido a excelente produção francesa "Les petits mouchoirs" (que aqui no Brasil surgiu como "Até a Eternidade") ache "Amigos para a Vida" mais do mesmo, mas eu posso te garantir que além de um ótimo e leve entretenimento, esse filme vai tocar o seu coração.

A história, basicamente, gira em torno de Alex (Jason Ritter), um jovem que tenta lidar com a depressão. Quando seus amigos de faculdade descobrem sua tentativa de suicídio, decidem se reunir para um fim de semana juntos, na esperança de animá-lo. A partir desse encontro, antigos segredos são revelados, velhas feridas são reabertas e novos laços são formados. Confira o trailer (em inglês):

O tweet de Alex antes de sua tentativa de suicídio dizia: "Pergunte por mim amanhã e você encontrará um homem morto" - essa é uma frase dita por Mercutio antes de sua morte em "Romeu e Julieta" de William Shakespeare e não por acaso o ponto de partida para uma jornada de reencontro que discute a cada momento a importância de estar "hoje" ao lado de quem você realmente estima. "For Alex" (no original) se apropria de uma situação dramática para fazer um retrato honesto e comovente da vida, com seus altos e baixos, alegrias e tristezas. Quando o roteiro do próprio Zwick encontra seu verdadeiro caminho (e isso demora pelo menos um ato), percebemos que o desenvolvimento da trama vai além de uma premissa batida sobre a importância da amizade, do amor e da esperança; e a leveza como tudo isso é personificado pelo elenco cria uma fácil (e nostálgica) conexão que te fará rir, chorar e refletir sobre a vida.

O elenco, de fato, é um dos pontos fortes de "Amigos para a Vida" - basta dizer que esse foi um dos primeiros trabalhos de Jane Levy (a Zoey de "Zoey e a Sua Fantástica Playlist") e de Aubrey Plaza (a Harper Spiller de "The White Lotus"). Basicamente formado por 7 atores, o elenco mostra uma química invejável para esse tipo de texto - a forma como o roteiro vai envolvendo os personagens e seus dramas do passado, embora previsíveis, nos coloca dentro daquela dinâmica tão particular. Jason Ritter entrega uma performance interessante como Alex, transmitindo uma dor e uma fragilidade que vai além do estereótipo. Nate Parker e Max Greenfield também estão ótimos - seus personagens são multidimensionais e cheios de nuances, trazendo uma veracidade para a história que vale a pena ressaltar.

A direção de Jesse Zwick é competente, mas pouco criativa. Embora sensível e perspicaz, ele prefere se apoiar no equilíbrio entre o humor e o drama, sem cair em pieguices ou clichês, do que provocar seus atores e assim leva-los para um lugar desconhecido que traria ainda mais profundidade para as discussões - e é aqui que a fotografia do Andre Lascaris (de "Playdates") potencializa o trabalho do elenco, já que ele é capaz de capturar as nuances de cada relação sem expor seu real significado. "Amigos para a Vida" é isso, um filme que mostra como os amigos podem ser a nossa maior fonte de apoio nos momentos mais difíceis da vida, mesmo que essa relação seja carregada de marcas que precisam ser discutidas!

Vale seu play!

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Amor e Monstros

Verdade seja dita: não é fácil encontrar bons "blockbusters". Histórias batidas, atores no piloto automático e CGI caro/ruim são a receita de dezenas de títulos lançados ano após ano. Felizmente, "Amor e Monstros" é diferente. Em poucos minutos, o filme estabelece o contexto daquele mundo pós-apocalíptico: a humanidade perdeu o topo da cadeia alimentar e a soberania da superfície terrestre. Os poucos que sobraram foram relegados a (sobre)viver em bunkers e abrigos subterrâneos.

Após 7 anos, o medroso Joel (Dylan O’Brien) encarna o Thomas de Maze Runner para correr até a sua amada Aimee (Jessica Henwick). No caminho, encontra alguns aliados e vários monstros. A premissa simples parece uma mistura de Zumbilândia com Sessão da Tarde, mas eu garanto: a execução é impecável! Confira o trailer:

Conhecemos um mundo selvagem, verde, pitoresco e ameaçador. Desde Aniquilação (2018) a natureza anômala não era retratada de forma tão estupenda. Os efeitos visuais, reconhecidos pela academia do Oscar com uma indicação na categoria, são incríveis: da computação gráfica que cria os monstros aos efeitos práticos empregados nas cenas de ação. A facilidade do filme em transitar por vários gêneros chama atenção. Além do "terrir" (terror + comédia), vemos uma aventura cheia de ação e suspense, com um tempero de ficção científica - mérito do diretorMichael Matthews. Destaque para o bom elenco coadjuvante, especialmente Michael Rooker como Clyde e a sagaz Minnow de Ariana Greenblatt, sem falar no "Melhor Cachorro de 2021" - Boy é ótimo!

"Love and Monsters" (título original) pode ainda deixar reflexões sobre a importância da comunicação e do enfrentamento dos medos. Mas antes disso, deve ser encarado como um entretenimento ótimo e empolgante, capaz de assustar e divertir na mesma proporção.

A verdade é que o filme poderia ser uma premiada animação da Pixar - o contexto narrativo da jornada do herói e do auto-conhecimento está todo ali, porém é um "Cinema Pipoca" acima da média, acredite!

Escrito por Ricelli Ribeiro - uma parceria @dicastreaming 

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Verdade seja dita: não é fácil encontrar bons "blockbusters". Histórias batidas, atores no piloto automático e CGI caro/ruim são a receita de dezenas de títulos lançados ano após ano. Felizmente, "Amor e Monstros" é diferente. Em poucos minutos, o filme estabelece o contexto daquele mundo pós-apocalíptico: a humanidade perdeu o topo da cadeia alimentar e a soberania da superfície terrestre. Os poucos que sobraram foram relegados a (sobre)viver em bunkers e abrigos subterrâneos.

Após 7 anos, o medroso Joel (Dylan O’Brien) encarna o Thomas de Maze Runner para correr até a sua amada Aimee (Jessica Henwick). No caminho, encontra alguns aliados e vários monstros. A premissa simples parece uma mistura de Zumbilândia com Sessão da Tarde, mas eu garanto: a execução é impecável! Confira o trailer:

Conhecemos um mundo selvagem, verde, pitoresco e ameaçador. Desde Aniquilação (2018) a natureza anômala não era retratada de forma tão estupenda. Os efeitos visuais, reconhecidos pela academia do Oscar com uma indicação na categoria, são incríveis: da computação gráfica que cria os monstros aos efeitos práticos empregados nas cenas de ação. A facilidade do filme em transitar por vários gêneros chama atenção. Além do "terrir" (terror + comédia), vemos uma aventura cheia de ação e suspense, com um tempero de ficção científica - mérito do diretorMichael Matthews. Destaque para o bom elenco coadjuvante, especialmente Michael Rooker como Clyde e a sagaz Minnow de Ariana Greenblatt, sem falar no "Melhor Cachorro de 2021" - Boy é ótimo!

"Love and Monsters" (título original) pode ainda deixar reflexões sobre a importância da comunicação e do enfrentamento dos medos. Mas antes disso, deve ser encarado como um entretenimento ótimo e empolgante, capaz de assustar e divertir na mesma proporção.

A verdade é que o filme poderia ser uma premiada animação da Pixar - o contexto narrativo da jornada do herói e do auto-conhecimento está todo ali, porém é um "Cinema Pipoca" acima da média, acredite!

Escrito por Ricelli Ribeiro - uma parceria @dicastreaming 

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Amor e outras Drogas

“Amor e Outras Drogas” é uma ótima comédia romântica para ver, dar muitas risadas e até se emocionar! Eu diria até que o filme poderia ser, tranquilamente, um longo episódio de “Modern Love” da Prime Video - até a personagem Maggie de Hathaway, lembra o papel que a atriz interpretou na série, aquela que transitava de mulher radiante de felicidade para uma pessoa deprimida.

Aqui, Jamie Randall (Jake Gyllenhaal) é um "pegador" do tipo que perde a conta do número de mulheres com quem já transou. Após ser demitido do cargo de vendedor em uma loja de eletrodomésticos por ter seduzido uma das funcionárias, ele passa a trabalhar num grande laboratório da indústria farmacêutica. Como representante comercial, sua função é abordar médicos e convencê-los a prescrever os produtos da empresa para seus pacientes. Em uma dessas visitas, ele conhece Maggie Murdock (Anne Hathaway), uma jovem de 26 anos que sofre de mal de Parkinson. Inicialmente, Jamie fica atraído pela beleza física e por ter sido dispensado por ela, mas aos poucos descobre que existe algo mais forte. Maggie, por sua vez, também sente o mesmo, mas não quer levar o caso adiante por causa de sua condição. Confira o trailer (em inglês):

Um dos pontos altos do filme, sem dúvida, é o elenco. O ator Jake Gyllenhaal está perfeito, com seu charme e desenvoltura. - é impressionante a química que ele tem em cena ao lado de Anne Hathaway, que também está ótima. O filme se passa nos anos 90, então pode esperar inúmeras cenas com os dois embalados por uma trilha sonora cheia de músicas viciantes.

A direção de Edward Zwick (“Diamante de Sangue”) é competente ao mesclar comédia, romance e drama de forma fluída e leve. A fotografia de Steven Fierberg (de "Emily em Paris") também impressiona pela sensibilidade - algo pouco comum em filmes do gênero. Fierberg transida perfeitamente entre os planos mais abertos para estabelecer a dinâmica quase caótica do relacionamento dos personagens com o close-ups das passagens mais introspectivas e sentimentais que seguem - sua lente é capaz de captar perfeitamente o sentimento que o diretor provoca em seus atores e que, inegavelmente, nos toca de uma forma impressionante.

Escrita por Charles Randolph, Edward Zwick e Marshall Herskovitz e baseado no livro de Jamie Reidy, “Amor e Outras Drogas” tem um início cheio de momentos cômicos e muito romance, mas também vai te fazer refletir sobre alguns temas bem relevantes. E prepare-se para se comover com essa história que vai muito além de uma trama água com açúcar que possa parecer.

Vale muito a pena!

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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“Amor e Outras Drogas” é uma ótima comédia romântica para ver, dar muitas risadas e até se emocionar! Eu diria até que o filme poderia ser, tranquilamente, um longo episódio de “Modern Love” da Prime Video - até a personagem Maggie de Hathaway, lembra o papel que a atriz interpretou na série, aquela que transitava de mulher radiante de felicidade para uma pessoa deprimida.

Aqui, Jamie Randall (Jake Gyllenhaal) é um "pegador" do tipo que perde a conta do número de mulheres com quem já transou. Após ser demitido do cargo de vendedor em uma loja de eletrodomésticos por ter seduzido uma das funcionárias, ele passa a trabalhar num grande laboratório da indústria farmacêutica. Como representante comercial, sua função é abordar médicos e convencê-los a prescrever os produtos da empresa para seus pacientes. Em uma dessas visitas, ele conhece Maggie Murdock (Anne Hathaway), uma jovem de 26 anos que sofre de mal de Parkinson. Inicialmente, Jamie fica atraído pela beleza física e por ter sido dispensado por ela, mas aos poucos descobre que existe algo mais forte. Maggie, por sua vez, também sente o mesmo, mas não quer levar o caso adiante por causa de sua condição. Confira o trailer (em inglês):

Um dos pontos altos do filme, sem dúvida, é o elenco. O ator Jake Gyllenhaal está perfeito, com seu charme e desenvoltura. - é impressionante a química que ele tem em cena ao lado de Anne Hathaway, que também está ótima. O filme se passa nos anos 90, então pode esperar inúmeras cenas com os dois embalados por uma trilha sonora cheia de músicas viciantes.

A direção de Edward Zwick (“Diamante de Sangue”) é competente ao mesclar comédia, romance e drama de forma fluída e leve. A fotografia de Steven Fierberg (de "Emily em Paris") também impressiona pela sensibilidade - algo pouco comum em filmes do gênero. Fierberg transida perfeitamente entre os planos mais abertos para estabelecer a dinâmica quase caótica do relacionamento dos personagens com o close-ups das passagens mais introspectivas e sentimentais que seguem - sua lente é capaz de captar perfeitamente o sentimento que o diretor provoca em seus atores e que, inegavelmente, nos toca de uma forma impressionante.

Escrita por Charles Randolph, Edward Zwick e Marshall Herskovitz e baseado no livro de Jamie Reidy, “Amor e Outras Drogas” tem um início cheio de momentos cômicos e muito romance, mas também vai te fazer refletir sobre alguns temas bem relevantes. E prepare-se para se comover com essa história que vai muito além de uma trama água com açúcar que possa parecer.

Vale muito a pena!

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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Amor ou Consequência

“Amor ou Consequência” é daqueles filmes  que passam bem rápido, mas que a gente gostaria que não tivesse fim!

“Jeux d'enfants” (título original) é uma produção fraco-suiça de 2003, que aproveita de seu roteiro primoroso e uma narrativa fantástica (no sentido estético da palavra), para contar um ingênua história de amor através do tempo: já adultos, os melhores amigos Julien Janvier (Guillaume Canet) e Sophie Kowalsky (Marion Cotillard) continuam um estranho jogo que começaram quando ainda eram crianças - uma espécie de competição onde, para superar o outro, é preciso aceitar desafios bem ousados que os colocam em situações bastante, digamos, constrangedoras! Veja o trailer: 

Seguindo o conceito estético de "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain",  “Amor ou Consequência” tem o mérito de unir fotografia, trilha, interpretação e construir uma unidade narrativa impressionante - tudo é muito bem planejado pelo diretor Yann Samuel (de "Ironias do Amor"). É incrível como ele faz com que a gente tenha a estranha sensação de não parar de sorrir durante o filme inteiro, tão belo é o seu trabalho.

Eu diria que “Amor ou Consequência” não se trata de uma comédia romântica normal ou uma história água com açúcar tipo "Sessão da tarde", mas sim de um filme inteligente, criativo, muito bem realizado, tecnicamente perfeito - leve, reflexivo e, além de tudo, muito gostoso de assistir!

Recomendadíssimo!!!!! 

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“Amor ou Consequência” é daqueles filmes  que passam bem rápido, mas que a gente gostaria que não tivesse fim!

“Jeux d'enfants” (título original) é uma produção fraco-suiça de 2003, que aproveita de seu roteiro primoroso e uma narrativa fantástica (no sentido estético da palavra), para contar um ingênua história de amor através do tempo: já adultos, os melhores amigos Julien Janvier (Guillaume Canet) e Sophie Kowalsky (Marion Cotillard) continuam um estranho jogo que começaram quando ainda eram crianças - uma espécie de competição onde, para superar o outro, é preciso aceitar desafios bem ousados que os colocam em situações bastante, digamos, constrangedoras! Veja o trailer: 

Seguindo o conceito estético de "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain",  “Amor ou Consequência” tem o mérito de unir fotografia, trilha, interpretação e construir uma unidade narrativa impressionante - tudo é muito bem planejado pelo diretor Yann Samuel (de "Ironias do Amor"). É incrível como ele faz com que a gente tenha a estranha sensação de não parar de sorrir durante o filme inteiro, tão belo é o seu trabalho.

Eu diria que “Amor ou Consequência” não se trata de uma comédia romântica normal ou uma história água com açúcar tipo "Sessão da tarde", mas sim de um filme inteligente, criativo, muito bem realizado, tecnicamente perfeito - leve, reflexivo e, além de tudo, muito gostoso de assistir!

Recomendadíssimo!!!!! 

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Amor Platônico

"Amor Platônico" vai te surpreender - especialmente se você gostou de séries como "Easy" ou "Love", ambas da Netflix. Eu diria, inclusive, que a série criada pela Francesca Delbanco (de "Amigos da Faculdade") e pelo Nicholas Stoller (de "Mais que Amigos") é a junção do que existe de melhor dessas duas referências. A produção original da AppleTV+ com a Sony nos conquista pela inteligência e sensibilidade com que equilibra o humor ácido com o drama real, trazendo para a história personagens cheios de camadas, que carregam suas inúmeras falhas, mas que nem por isso deixam de ser cativantes; além de uma abordagem extremamente honesta e complexa das relações interpessoais, especialmente entre homem e mulher, mas pela perspectiva (dúbia) da amizade.

"Platonic" (no original), basicamente, gira em torno de Will (Seth Rogen) e Sylvia (Rose Byrne), amigos de longa data que se reencontram após o divórcio de Will. Apesar do respeito mútuo, existe uma química inegável entre eles, o que transforma essa afetuosa relação em algo mais desafiador do que todos podiam imaginar, confrontando-os com seus próprios medos, inseguranças e expectativas de uma vida adulta que teima em complicar as coisas. Confira o trailer (em inglês):

Em um primeiro olhar fica claro que "Amor Platônico" se destaca pela forma com que o roteiro tece sua narrativa - existe uma dinâmica carregada de humor non senseque nos envolve. Veja, o humor ácido e perspicaz que encontramos no texto muito bem desenvolvido por Delbanco e Stoller funciona perfeitamente ao abordar os momentos de profunda sensibilidade que seus personagens estão vivendo - mesmo as situações soando absurdas, existe um toque de realismo que nos provoca alguma identificação e empatia. Ao explorar as nuances das relações humanas com essa leveza, a série sobe de patamar - ela não se contenta com soluções fáceis ou clichês, quebrando nossas expectativas ao mesmo tempo que nos convida para refletir sobre as diversas formas de amor e sobre a natureza de certa forma complexa da amizade entre o homem e a mulher.

Assuntos como: problemas no trabalho, desconfianças nos relacionamentos, o próximo passo dentro de um casamento de longa data, as idas e vindas conflituosas por problemas que surgem aos montes na vida adulta, o ciúmes fantasiado de segurança, enfim, vários pontos tão próximos de nós que aqui são uma espécie de plano de fundo para situações pela qual Will e Sylvia precisam passar - o interessante é que o fato dos personagens estarem na meia idade só potencializa tais discussões. Tanto Delbanco quanto Stoller também se dividem na direção dos episódios, deixando com que Seth Rogen e Rose Byrne entreguem o que têm de melhor. A química entre os dois atores é invejável e essencial para que nos apaixonemos pela proposta da série - mesmo que inicialmente pareça bobinha demais. A trilha sonora também merece destaque: as músicas da abertura dão o exato tom do que vem pela frente nos dez episódios da temporada.

"Amor Platônico" tem uma atmosfera positiva e acolhedora - é uma delicia de assistir. Seu conceito narrativo não busca grandiosidade, mas tenta (e quase sempre consegue) se aprofundar na dinâmica natural entre os personagens em pouco mais de trinta minutos por episódio - não será raro você se pegar refletindo sobre uma passagem que acabou de assistir ou de fazer algum paralelo com suas próprias histórias mais íntimas. Aqui realmente temos uma série inteligente, divertida e até emocionante; um retrato honesto sobre relacionamentos modernos que merece demais sua atenção!

Imperdível!

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"Amor Platônico" vai te surpreender - especialmente se você gostou de séries como "Easy" ou "Love", ambas da Netflix. Eu diria, inclusive, que a série criada pela Francesca Delbanco (de "Amigos da Faculdade") e pelo Nicholas Stoller (de "Mais que Amigos") é a junção do que existe de melhor dessas duas referências. A produção original da AppleTV+ com a Sony nos conquista pela inteligência e sensibilidade com que equilibra o humor ácido com o drama real, trazendo para a história personagens cheios de camadas, que carregam suas inúmeras falhas, mas que nem por isso deixam de ser cativantes; além de uma abordagem extremamente honesta e complexa das relações interpessoais, especialmente entre homem e mulher, mas pela perspectiva (dúbia) da amizade.

"Platonic" (no original), basicamente, gira em torno de Will (Seth Rogen) e Sylvia (Rose Byrne), amigos de longa data que se reencontram após o divórcio de Will. Apesar do respeito mútuo, existe uma química inegável entre eles, o que transforma essa afetuosa relação em algo mais desafiador do que todos podiam imaginar, confrontando-os com seus próprios medos, inseguranças e expectativas de uma vida adulta que teima em complicar as coisas. Confira o trailer (em inglês):

Em um primeiro olhar fica claro que "Amor Platônico" se destaca pela forma com que o roteiro tece sua narrativa - existe uma dinâmica carregada de humor non senseque nos envolve. Veja, o humor ácido e perspicaz que encontramos no texto muito bem desenvolvido por Delbanco e Stoller funciona perfeitamente ao abordar os momentos de profunda sensibilidade que seus personagens estão vivendo - mesmo as situações soando absurdas, existe um toque de realismo que nos provoca alguma identificação e empatia. Ao explorar as nuances das relações humanas com essa leveza, a série sobe de patamar - ela não se contenta com soluções fáceis ou clichês, quebrando nossas expectativas ao mesmo tempo que nos convida para refletir sobre as diversas formas de amor e sobre a natureza de certa forma complexa da amizade entre o homem e a mulher.

Assuntos como: problemas no trabalho, desconfianças nos relacionamentos, o próximo passo dentro de um casamento de longa data, as idas e vindas conflituosas por problemas que surgem aos montes na vida adulta, o ciúmes fantasiado de segurança, enfim, vários pontos tão próximos de nós que aqui são uma espécie de plano de fundo para situações pela qual Will e Sylvia precisam passar - o interessante é que o fato dos personagens estarem na meia idade só potencializa tais discussões. Tanto Delbanco quanto Stoller também se dividem na direção dos episódios, deixando com que Seth Rogen e Rose Byrne entreguem o que têm de melhor. A química entre os dois atores é invejável e essencial para que nos apaixonemos pela proposta da série - mesmo que inicialmente pareça bobinha demais. A trilha sonora também merece destaque: as músicas da abertura dão o exato tom do que vem pela frente nos dez episódios da temporada.

"Amor Platônico" tem uma atmosfera positiva e acolhedora - é uma delicia de assistir. Seu conceito narrativo não busca grandiosidade, mas tenta (e quase sempre consegue) se aprofundar na dinâmica natural entre os personagens em pouco mais de trinta minutos por episódio - não será raro você se pegar refletindo sobre uma passagem que acabou de assistir ou de fazer algum paralelo com suas próprias histórias mais íntimas. Aqui realmente temos uma série inteligente, divertida e até emocionante; um retrato honesto sobre relacionamentos modernos que merece demais sua atenção!

Imperdível!

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Amor, Drogas e Nova York

"Amor, Drogas e Nova York" é um soco no estômago! Esse drama é tão intenso e visceral quanto "Eu, Christiane F." sem a menor dúvida - o que justifica meu aviso: só assista o filme se estiver preparado para enfrentar uma realidade quase documental de tão perturbadora! O filme dirigido pelos irmãos Safdie (Jóias Brutas) acompanha a relação doentia entre Harley (Arielle Holmes) e Ilya (Caleb Landry Jones), dois jovens "sem teto" que vivem em Nova York perambulando de um lado para o outro em busca de alguns trocados para poder comprar e consumir heroína.

Pesado? Então saiba que "Amor, Drogas e Nova York" é baseado no livro autobiográfico (Mad Love in New York Cityde Arielle Holmes - isso mesmo, a atriz que interpreta a protagonista, revive em cena os eventos mais marcantes de uma época da sua vida em que flertava com a morte a cada instante! Isso pode até explicar o trabalho sensacional de Holmes, mas, sinceramente, os irmãos Safdie dão uma aula de direção ao nos colocar ao lado dos personagens como poucas vezes vemos - vou analisar mais a fundo esse trabalho abaixo, mas adianto: é impressionante! Se você, como eu, gostou de "Euphoria" da HBO, não deixe de dar o play, mas saiba que estamos falando uma obra alguns degraus acima, não apenas na forma, mas também no conteúdo!

O roteiro de "Amor, Drogas e Nova York" trás a dor de uma personagem perdida, dependente e, principalmente, solitária. Embora a relação com a heroína seja o ponto mais marcante ou até impactante para quem assiste, o filme tem um mood de solidão que incomoda na alma. Ter Nova York como cenário só potencializa essa sensação e a forma como algumas situações são enquadradas trazem um realismo absurdo - não raro, os personagens discutem, gritam, se agridem no meio da rua, completamente alterados pela droga, e as pessoas ao redor se relacionam com aquela cena de uma forma muito natural (ou pelo menos tentando ser muito natural). Reparem! O sofrimento dos personagens (de todos) é outro ponto crucial no filme: ele está estampado em olhos completamente perdidos e os diretores fazem questão de amplificar essa percepção com lentes bem fechadas, 85mm, em closes belíssimos, mas muito cruéis! A câmera mais solta, ajuda na sensação de desordem, de caos, e a fotografia do americano Sean Price Williams, vencedor no Tribeca Film Festival de 2016 com "Contemporary Color", tem o mérito dessa organicidade. 

Ver a forma como Harley está inserida no meio do tráfico, em um universo de mendicância, de pequenos furtos, de pouco dinheiro e de nomadismo, impressiona até aquele que parece estar mais preparado - chega a ser cruel (e vemos isso todos os dias e nem nos damos conta no que está por trás daquela condição). Nesse cenário desolador ainda tem o "amor" entre os protagonistas, pautado no abuso psicológico e fisico, e isso, meu amigo, é só a ponta do iceberg para completar a escolha de não romantizar aquela situação e muito menos as escolhas absurdas que eles próprios fazem, em todo momento! O mérito de tanto impacto visual imposto pelos irmãos Safdie só tem sentido pelo sensacional trabalho do elenco e aí eu tenho que reforçar: todos os atores, sejam eles os mais desconhecidos, estão impecáveis. Além de Arielle Holmes e Caleb Landry Jones, eu ainda destaco, Buddy Duress (Mike) e Necro (Skully).

"Amor, Drogas e Nova York" venceu o prêmio da crítica no Festival de Veneza em 2014 e, mesmo cruel, teve o mérito de trazer um assunto delicado, mas sem maquiagem, que choca ao mesmo tempo em que emociona. Como se não existisse a necessidade de explicar a razão pela qual tudo aquilo está acontecendo, a verdade é que aquilo é a verdade e por isso incomoda tanto. É um belíssimo filme, embora não seja para todos, eu diria que é imperdível se você gostar de uma pegada mais independente, com um nível técnico e artístico acima da média!

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"Amor, Drogas e Nova York" é um soco no estômago! Esse drama é tão intenso e visceral quanto "Eu, Christiane F." sem a menor dúvida - o que justifica meu aviso: só assista o filme se estiver preparado para enfrentar uma realidade quase documental de tão perturbadora! O filme dirigido pelos irmãos Safdie (Jóias Brutas) acompanha a relação doentia entre Harley (Arielle Holmes) e Ilya (Caleb Landry Jones), dois jovens "sem teto" que vivem em Nova York perambulando de um lado para o outro em busca de alguns trocados para poder comprar e consumir heroína.

Pesado? Então saiba que "Amor, Drogas e Nova York" é baseado no livro autobiográfico (Mad Love in New York Cityde Arielle Holmes - isso mesmo, a atriz que interpreta a protagonista, revive em cena os eventos mais marcantes de uma época da sua vida em que flertava com a morte a cada instante! Isso pode até explicar o trabalho sensacional de Holmes, mas, sinceramente, os irmãos Safdie dão uma aula de direção ao nos colocar ao lado dos personagens como poucas vezes vemos - vou analisar mais a fundo esse trabalho abaixo, mas adianto: é impressionante! Se você, como eu, gostou de "Euphoria" da HBO, não deixe de dar o play, mas saiba que estamos falando uma obra alguns degraus acima, não apenas na forma, mas também no conteúdo!

O roteiro de "Amor, Drogas e Nova York" trás a dor de uma personagem perdida, dependente e, principalmente, solitária. Embora a relação com a heroína seja o ponto mais marcante ou até impactante para quem assiste, o filme tem um mood de solidão que incomoda na alma. Ter Nova York como cenário só potencializa essa sensação e a forma como algumas situações são enquadradas trazem um realismo absurdo - não raro, os personagens discutem, gritam, se agridem no meio da rua, completamente alterados pela droga, e as pessoas ao redor se relacionam com aquela cena de uma forma muito natural (ou pelo menos tentando ser muito natural). Reparem! O sofrimento dos personagens (de todos) é outro ponto crucial no filme: ele está estampado em olhos completamente perdidos e os diretores fazem questão de amplificar essa percepção com lentes bem fechadas, 85mm, em closes belíssimos, mas muito cruéis! A câmera mais solta, ajuda na sensação de desordem, de caos, e a fotografia do americano Sean Price Williams, vencedor no Tribeca Film Festival de 2016 com "Contemporary Color", tem o mérito dessa organicidade. 

Ver a forma como Harley está inserida no meio do tráfico, em um universo de mendicância, de pequenos furtos, de pouco dinheiro e de nomadismo, impressiona até aquele que parece estar mais preparado - chega a ser cruel (e vemos isso todos os dias e nem nos damos conta no que está por trás daquela condição). Nesse cenário desolador ainda tem o "amor" entre os protagonistas, pautado no abuso psicológico e fisico, e isso, meu amigo, é só a ponta do iceberg para completar a escolha de não romantizar aquela situação e muito menos as escolhas absurdas que eles próprios fazem, em todo momento! O mérito de tanto impacto visual imposto pelos irmãos Safdie só tem sentido pelo sensacional trabalho do elenco e aí eu tenho que reforçar: todos os atores, sejam eles os mais desconhecidos, estão impecáveis. Além de Arielle Holmes e Caleb Landry Jones, eu ainda destaco, Buddy Duress (Mike) e Necro (Skully).

"Amor, Drogas e Nova York" venceu o prêmio da crítica no Festival de Veneza em 2014 e, mesmo cruel, teve o mérito de trazer um assunto delicado, mas sem maquiagem, que choca ao mesmo tempo em que emociona. Como se não existisse a necessidade de explicar a razão pela qual tudo aquilo está acontecendo, a verdade é que aquilo é a verdade e por isso incomoda tanto. É um belíssimo filme, embora não seja para todos, eu diria que é imperdível se você gostar de uma pegada mais independente, com um nível técnico e artístico acima da média!

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Amor, Sublime Amor

"Amor, Sublime Amor" é uma verdadeira declaração de amor de um dos maiores diretores de todos os tempos, Steven Spielberg, ao clássico "West Side Story" e ao cinema cantado dos anos 50. Definido pelo próprio diretor como “um sonho de criança”, o filme é uma adaptação do musical de Arthur Laurents, Leonard Bernstein e Stephen Sondheim e um remake da premiada produção de 1961 comandada por Robert Wise e Jerome Robbins. Perceba como essa trágica história de amor se confunde com as artes, ao melhor estilo "Romeu & Julieta", tirando o diretor de sua zona de conforto e o colocando para se divertir - e é isso que o filme representa: uma divertida e emocionante versão de Spielberg para um clássico musical que recebeu 7 indicações para o Oscar 2022!

Na trama acompanhamos uma história de amor à primeira vista, que acontece quando o jovem Tony (Ansel Elgort) vê Maria (Rachel Zegler) em um baile do ensino médio em 1957, na cidade de Nova York. Seu romance florescente ajuda a alimentar o fogo entre duas gangues adolescentes rivais que disputam o controle das ruas do Upper West Side: os Jets (formada por americanos brancos de terceira geração de imigrantes europeus) e os Sharks (de imigrantes porto-riquenhos de primeira geração). Confira o trailer:

Desde a divulgação do primeiro teaser do filme já dava para se ter a exata noção do espetáculo visual que seria "Amor, Sublime Amor"! O que Spielberg faz ao lado do seu parceiro, o diretor de fotografia, Janusz Kaminski, é uma aula de cinematografia - um verdadeiro baile que mistura movimentos de câmera tradicionais com outros extremamente criativos (e inventivos) em uma verdadeira festa de cores e texturas em um cenário que remete ao palco de um teatro com a amplitude de um estúdio de cinema, com muita luz, fumaça e poesia - puxa, como tem poesia em casa sequência desse filme!

Com base no roteiro de Tony Kushner (de "Munique" e "Lincoln") o diretor moderniza a narrativa ao dar um contexto ainda mais realista da rivalidade entre as gangues dos anos 50, apresentando elas como vítimas de um sistema que os quer longe de uma Manhattan que se moderniza. A sensibilidade crítica do diretor é completamente perceptível já no primeiro plano sequência do filme, que passeia pelo silêncio do caos até ganhar vida com a música envolvente de Leonard Bernstein. Aliás, o elenco é um show a parte - e quando escrevo "show" não é um exagero, já que as performances musicais são de cair o queixo. Destaque para a incrível Rita Moreno, queno novo filme faz as vezes do personagem Doc do original, e que interpreta Valentina, uma senhora que por essência está entre as duas gangues, por ser porto-riquenha, mas ter casado com um americano - ouvi-la cantando “Somewhere”, cheia de emoção, vale o filme! Ariana DeBose (a Anita), indicada ao Oscar de coadjuvante, também merece todos os elogios!

O fato é que "Amor, Sublime Amor" é um espetáculo - no significado mais contundente da palavra. O filme tem uma qualidade técnica e artística que, sem dúvida, o coloca em outro patamar. Para quem gosta dos musicais da Broadway, a produção é o equilíbrio perfeito entre cinema e o teatro, respeitando suas peculiaridades como manifestação artística, mas também não esquecendo das suas virtudes únicas - mais ou menos como fez Tom Hooper com "Les Miserables". Com seus 75 anos, Spielberg mostra que tem muita lenha para queimar, e que é capaz de transformar aquele seu toque mágico (que marcou sua carreira) em uma ferramenta essencial quando o assunto é visitar um clássico que parecia intocável, mas que na verdade, na opinião de muitos, acabou superando o original!

Vale muito seu play!

Up-date: "Amor, Sublime Amor" ganhou em uma categoria no Oscar 2022: Melhor Atriz Coadjuvante!

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"Amor, Sublime Amor" é uma verdadeira declaração de amor de um dos maiores diretores de todos os tempos, Steven Spielberg, ao clássico "West Side Story" e ao cinema cantado dos anos 50. Definido pelo próprio diretor como “um sonho de criança”, o filme é uma adaptação do musical de Arthur Laurents, Leonard Bernstein e Stephen Sondheim e um remake da premiada produção de 1961 comandada por Robert Wise e Jerome Robbins. Perceba como essa trágica história de amor se confunde com as artes, ao melhor estilo "Romeu & Julieta", tirando o diretor de sua zona de conforto e o colocando para se divertir - e é isso que o filme representa: uma divertida e emocionante versão de Spielberg para um clássico musical que recebeu 7 indicações para o Oscar 2022!

Na trama acompanhamos uma história de amor à primeira vista, que acontece quando o jovem Tony (Ansel Elgort) vê Maria (Rachel Zegler) em um baile do ensino médio em 1957, na cidade de Nova York. Seu romance florescente ajuda a alimentar o fogo entre duas gangues adolescentes rivais que disputam o controle das ruas do Upper West Side: os Jets (formada por americanos brancos de terceira geração de imigrantes europeus) e os Sharks (de imigrantes porto-riquenhos de primeira geração). Confira o trailer:

Desde a divulgação do primeiro teaser do filme já dava para se ter a exata noção do espetáculo visual que seria "Amor, Sublime Amor"! O que Spielberg faz ao lado do seu parceiro, o diretor de fotografia, Janusz Kaminski, é uma aula de cinematografia - um verdadeiro baile que mistura movimentos de câmera tradicionais com outros extremamente criativos (e inventivos) em uma verdadeira festa de cores e texturas em um cenário que remete ao palco de um teatro com a amplitude de um estúdio de cinema, com muita luz, fumaça e poesia - puxa, como tem poesia em casa sequência desse filme!

Com base no roteiro de Tony Kushner (de "Munique" e "Lincoln") o diretor moderniza a narrativa ao dar um contexto ainda mais realista da rivalidade entre as gangues dos anos 50, apresentando elas como vítimas de um sistema que os quer longe de uma Manhattan que se moderniza. A sensibilidade crítica do diretor é completamente perceptível já no primeiro plano sequência do filme, que passeia pelo silêncio do caos até ganhar vida com a música envolvente de Leonard Bernstein. Aliás, o elenco é um show a parte - e quando escrevo "show" não é um exagero, já que as performances musicais são de cair o queixo. Destaque para a incrível Rita Moreno, queno novo filme faz as vezes do personagem Doc do original, e que interpreta Valentina, uma senhora que por essência está entre as duas gangues, por ser porto-riquenha, mas ter casado com um americano - ouvi-la cantando “Somewhere”, cheia de emoção, vale o filme! Ariana DeBose (a Anita), indicada ao Oscar de coadjuvante, também merece todos os elogios!

O fato é que "Amor, Sublime Amor" é um espetáculo - no significado mais contundente da palavra. O filme tem uma qualidade técnica e artística que, sem dúvida, o coloca em outro patamar. Para quem gosta dos musicais da Broadway, a produção é o equilíbrio perfeito entre cinema e o teatro, respeitando suas peculiaridades como manifestação artística, mas também não esquecendo das suas virtudes únicas - mais ou menos como fez Tom Hooper com "Les Miserables". Com seus 75 anos, Spielberg mostra que tem muita lenha para queimar, e que é capaz de transformar aquele seu toque mágico (que marcou sua carreira) em uma ferramenta essencial quando o assunto é visitar um clássico que parecia intocável, mas que na verdade, na opinião de muitos, acabou superando o original!

Vale muito seu play!

Up-date: "Amor, Sublime Amor" ganhou em uma categoria no Oscar 2022: Melhor Atriz Coadjuvante!

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Amores Brutos

Se você é um leitor que nos acompanha há algum tempo, você sabe quanto apreciamos um cinema que valoriza obras que transcendem a tela, que de fato deixam uma marca e que nos permite horas e horas de conversa assim que os créditos sobem. Pensando nisso, é impossível deixar passar o primeiro filme do vencedor de 4 Oscars, Alejandro G. Iñárritu,  "Amores Brutos"! O filme é simplesmente imperdível, daqueles para ver e rever - e que se por acaso você deixou passar, acredite, deve estar no topo da sua lista de prioridades. Um verdadeiro tour de force cinematográfico, repleto de elementos técnicos e artísticos que o colocam como uma verdadeira obra-prima do cinema contemporâneo - para você ter uma ideia, mais de vinte anos do seu lançamento, ele ainda é considerado um dos melhores filmes de todos tempos. "Amores Brutos" não apenas recebeu reconhecimento da crítica e do público, mas também abriu caminho para uma nova era do cinema latino-americano, estabelecendo Iñárritu como um diretor visionário capaz de nos oferecer experiências intensas e inesquecíveis - e aqui não é diferente!

Aqui temos uma narrativa poderosa e visceral que entrelaça a vida de três personagens diferentes na Cidade do México. Octavio (Gael García Bernal), é um jovem apaixonado que se envolve em lutas ilegais de cães para ganhar dinheiro e fugir com a mulher que ama, sua cunhada Susana (Vanessa Bauche). Ao mesmo tempo, Daniel, um homem de meia-idade vivido por Álvaro Guerrero, enfrenta uma tragédia familiar que o coloca em rota de colisão com Octavio. Já a terceira história gira em torno de El Chivo, um ex-guerrilheiro interpretado por Emilio Echevarría, que encontra um vínculo inesperado com os outros personagens enquanto tenta voltar para sua família. Confira o trailer (em espanhol):

É inegável a qualidade do roteiro do Guillermo Arriaga (de "Babel") em construir tão bem três histórias entrelaçadas que se desenrolam de forma tão inteligente quanto complexa e emocionante. Ao imprimir um conceito extremamente autoral com aquela atmosfera do cinema independente envolvente que se apoia no talento e na criatividade para criar uma narrativa única, Iñárritu se conecta com Arriaga para nos provocar a todo momento, revelando uma certa beleza crua da vida nas ruas da Cidade do México que se mistura com os dramas mais íntimos de cada um dos personagens - olha, é lindo de ver!

Dito isso, fica fácil afirmar que a fotografia do Rodrigo Prieto (de "O Irlandês") é realmente uma verdadeira poesia visual. A maneira como ele captura a realidade da cidade e a beleza oculta das paisagens urbanas, digamos, mais underground, é impressionante. Esse contexto impacta diretamente na performance do elenco - aliás, é de tirar o fôlego como Gael García Bernal entrega uma atuação carregada de paixão e vulnerabilidade. Emilio Echevarría também brilha - seu personagem é profundamente humano na agonia de sua condição e na "moralidade" de suas decisões. A direção de Iñárritu é virtuosa também nesse sentida, já que ele usa de uma narrativa não linear para costurar as histórias desses personagens de maneira que tudo faça sentido em esferas diferentes, mas complementares.

A trilha sonora é outro elemento essencial na experiência da audiência - as músicas evocam uma sensação de melancolia e esperança que complementa perfeitamente o conceito narrativo que o diretor imprime em todo o filme. A montagem do Luis Carballar com o Fernando Pérez Unda e com o próprio Iñárritu, dá o tom dinâmico para esse quebra-cabeça visual - é ela que mantém o ritmo pulsante da narrativa, nos mantendo imersos nas três  histórias com a mesma competência.

"Amores Perros" (no original) aborda temas profundos, como o destino, a redenção e a violência que permeia a vida urbana no inicio dos anos 2000. A maneira como o filme examina as relações humanas em um ambiente tão brutal e caótico oferece uma perspectiva muito particular sobre a complexidade da vida em diversos níveis sociais. "Amores Brutos" é um filme que transcende as barreiras do tempo e da cultura, mantendo sua relevância e impacto mesmo anos após seu lançamento. É uma obra-prima de verdade - que cativa com sua intensidade emocional. Se você busca um filme que desafia, emociona e deixa uma marca duradoura, não esqueça de dar o play. Eu diria que é uma experiência que vai provocar suas emoções e fazer você refletir sobre a beleza e a brutalidade que pode ser a vida.

PS: Essa versão que está na Netflix foi restaurada a partir das cópias originais em 35 mm e passadas para 4k com ajustes de cor e som - tudo aprovado pelo grande Alejandro G. Iñárritu.

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Se você é um leitor que nos acompanha há algum tempo, você sabe quanto apreciamos um cinema que valoriza obras que transcendem a tela, que de fato deixam uma marca e que nos permite horas e horas de conversa assim que os créditos sobem. Pensando nisso, é impossível deixar passar o primeiro filme do vencedor de 4 Oscars, Alejandro G. Iñárritu,  "Amores Brutos"! O filme é simplesmente imperdível, daqueles para ver e rever - e que se por acaso você deixou passar, acredite, deve estar no topo da sua lista de prioridades. Um verdadeiro tour de force cinematográfico, repleto de elementos técnicos e artísticos que o colocam como uma verdadeira obra-prima do cinema contemporâneo - para você ter uma ideia, mais de vinte anos do seu lançamento, ele ainda é considerado um dos melhores filmes de todos tempos. "Amores Brutos" não apenas recebeu reconhecimento da crítica e do público, mas também abriu caminho para uma nova era do cinema latino-americano, estabelecendo Iñárritu como um diretor visionário capaz de nos oferecer experiências intensas e inesquecíveis - e aqui não é diferente!

Aqui temos uma narrativa poderosa e visceral que entrelaça a vida de três personagens diferentes na Cidade do México. Octavio (Gael García Bernal), é um jovem apaixonado que se envolve em lutas ilegais de cães para ganhar dinheiro e fugir com a mulher que ama, sua cunhada Susana (Vanessa Bauche). Ao mesmo tempo, Daniel, um homem de meia-idade vivido por Álvaro Guerrero, enfrenta uma tragédia familiar que o coloca em rota de colisão com Octavio. Já a terceira história gira em torno de El Chivo, um ex-guerrilheiro interpretado por Emilio Echevarría, que encontra um vínculo inesperado com os outros personagens enquanto tenta voltar para sua família. Confira o trailer (em espanhol):

É inegável a qualidade do roteiro do Guillermo Arriaga (de "Babel") em construir tão bem três histórias entrelaçadas que se desenrolam de forma tão inteligente quanto complexa e emocionante. Ao imprimir um conceito extremamente autoral com aquela atmosfera do cinema independente envolvente que se apoia no talento e na criatividade para criar uma narrativa única, Iñárritu se conecta com Arriaga para nos provocar a todo momento, revelando uma certa beleza crua da vida nas ruas da Cidade do México que se mistura com os dramas mais íntimos de cada um dos personagens - olha, é lindo de ver!

Dito isso, fica fácil afirmar que a fotografia do Rodrigo Prieto (de "O Irlandês") é realmente uma verdadeira poesia visual. A maneira como ele captura a realidade da cidade e a beleza oculta das paisagens urbanas, digamos, mais underground, é impressionante. Esse contexto impacta diretamente na performance do elenco - aliás, é de tirar o fôlego como Gael García Bernal entrega uma atuação carregada de paixão e vulnerabilidade. Emilio Echevarría também brilha - seu personagem é profundamente humano na agonia de sua condição e na "moralidade" de suas decisões. A direção de Iñárritu é virtuosa também nesse sentida, já que ele usa de uma narrativa não linear para costurar as histórias desses personagens de maneira que tudo faça sentido em esferas diferentes, mas complementares.

A trilha sonora é outro elemento essencial na experiência da audiência - as músicas evocam uma sensação de melancolia e esperança que complementa perfeitamente o conceito narrativo que o diretor imprime em todo o filme. A montagem do Luis Carballar com o Fernando Pérez Unda e com o próprio Iñárritu, dá o tom dinâmico para esse quebra-cabeça visual - é ela que mantém o ritmo pulsante da narrativa, nos mantendo imersos nas três  histórias com a mesma competência.

"Amores Perros" (no original) aborda temas profundos, como o destino, a redenção e a violência que permeia a vida urbana no inicio dos anos 2000. A maneira como o filme examina as relações humanas em um ambiente tão brutal e caótico oferece uma perspectiva muito particular sobre a complexidade da vida em diversos níveis sociais. "Amores Brutos" é um filme que transcende as barreiras do tempo e da cultura, mantendo sua relevância e impacto mesmo anos após seu lançamento. É uma obra-prima de verdade - que cativa com sua intensidade emocional. Se você busca um filme que desafia, emociona e deixa uma marca duradoura, não esqueça de dar o play. Eu diria que é uma experiência que vai provocar suas emoções e fazer você refletir sobre a beleza e a brutalidade que pode ser a vida.

PS: Essa versão que está na Netflix foi restaurada a partir das cópias originais em 35 mm e passadas para 4k com ajustes de cor e som - tudo aprovado pelo grande Alejandro G. Iñárritu.

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Amsterdam

Do mesmo diretor de "Joy: O Nome do Sucesso"e "Trapaça", o premiadíssimo David O. Russell, "Amsterdam" fatalmente vai entrar naquela prateleira do "ame ou odeie" - a própria bilheteria do filme provou essa tese. Bem na linha de Wes Anderson (de "O Grande Hotel Budapeste" e "A Crônica Francesa") com um leve toque de "Entre Facas e Segredos" a história tranquilamente poderia ter sido tirada da obra de Agatha Christie ou de um conto de Sherlock Holmes, porém (e aí que está a divisão do público) com uma narração mais cadenciada, muitas vezes até cansativa, onde os detalhes estéticos se sobrepõem à trama (que curiosamente foi baseada em fatos reais) - é como se estivéssemos lendo um livro do Jô Soares (O Xangô de Baker Street ) que era cheio de descrições contextuais, mas ainda assim com uma história com certa criatividade.

"Amsterdam" acompanha a jornada de três amigos que se conheceram durante a Primeira Guerra Mundial. Eles são Burt Berendsen (Christian Bale), um médico que perdeu o olho em combate; seu amigo advogado Harold Woodman (John David Washington); e uma excêntrica artista/enfermeira Valerie Voze (Margot Robbie). Após retornarem do campo de batalha, o trio passa um período se divertindo em Amsterdam, mas acabam se separando, apenas para se reunirem muitos anos depois no meio de um assassinato em plena década de 30, em que Burt e Harold são suspeitos. Os amigos, então, se unem para limpar seus nomes, enquanto tentam desvendar uma conspiração gigantesca. Confira o trailer:

Inegavelmente que o que mais chama atenção inicialmente é a qualidade da produção no que diz respeito ao departamento de arte - do desenho de produção, passando pelo figurino e maquiagem, "Amsterdam" brilha no quesito técnico e artístico extremamente alinhado com a fotografia do (sempre ele) Emmanuel Lubezki (vencedor de três Oscars, sendo o último deles por "O Regresso"). Logo depois, no entanto, o que vemos brilhar é o elenco - e aqui cabe uma observação importante: os protagonistas e os coadjuvantes são tão importantes quanto todo elenco de apoio que é recheado de convidados que vão de Taylor Swift até Robert De Niro.

O que teria tudo para fazer o filme brilhar, na verdade acaba escondendo um roteiro que soa um pouco confuso e uma edição (de Jay Cassidy) com soluções que várias vezes mais atrapalham do que nos conecta com a história - os flashbacks contextualizam, mas ao mesmo tempo quebram o ritmo. Além disso, o conceito narrativo que O. Russell propõe causa um certo estranhamento - demora para entendermos sua intenção (muitas delas, inclusive, criadas para funcionar como alivio cômico onde não precisava). É preciso dizer, no entanto, que a sensação de "caos" existe e ao embarcarmos na jornada, atentos a proposta, vemos que tudo isso faz sentido.

Após duas horas de filme, temos a exata noção que "Amsterdam" aproveita da sua excentricidade para discutir elementos políticos de uma época onde o fascismo começava a imperar. Mesmo que com essa caricatura visual na sua forma, é de se perceber o propósito politico de O. Russell no seu conteúdo até quando soa dispensável - o personagem de Chris Rock é um bom exemplo: ele aparece, faz um comentário sobre racismo e/ou supremacia branca e depois desaparece na mesma velocidade. O fato é que o filme transita entre a conspiração e a espionagem, mas com sua base enraizada na sátira política, quase pastelão, com aquele leve toque de drama de relação mais emocional. Confuso? Sim, mas como entretenimento é inegável o seu charme!

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Do mesmo diretor de "Joy: O Nome do Sucesso"e "Trapaça", o premiadíssimo David O. Russell, "Amsterdam" fatalmente vai entrar naquela prateleira do "ame ou odeie" - a própria bilheteria do filme provou essa tese. Bem na linha de Wes Anderson (de "O Grande Hotel Budapeste" e "A Crônica Francesa") com um leve toque de "Entre Facas e Segredos" a história tranquilamente poderia ter sido tirada da obra de Agatha Christie ou de um conto de Sherlock Holmes, porém (e aí que está a divisão do público) com uma narração mais cadenciada, muitas vezes até cansativa, onde os detalhes estéticos se sobrepõem à trama (que curiosamente foi baseada em fatos reais) - é como se estivéssemos lendo um livro do Jô Soares (O Xangô de Baker Street ) que era cheio de descrições contextuais, mas ainda assim com uma história com certa criatividade.

"Amsterdam" acompanha a jornada de três amigos que se conheceram durante a Primeira Guerra Mundial. Eles são Burt Berendsen (Christian Bale), um médico que perdeu o olho em combate; seu amigo advogado Harold Woodman (John David Washington); e uma excêntrica artista/enfermeira Valerie Voze (Margot Robbie). Após retornarem do campo de batalha, o trio passa um período se divertindo em Amsterdam, mas acabam se separando, apenas para se reunirem muitos anos depois no meio de um assassinato em plena década de 30, em que Burt e Harold são suspeitos. Os amigos, então, se unem para limpar seus nomes, enquanto tentam desvendar uma conspiração gigantesca. Confira o trailer:

Inegavelmente que o que mais chama atenção inicialmente é a qualidade da produção no que diz respeito ao departamento de arte - do desenho de produção, passando pelo figurino e maquiagem, "Amsterdam" brilha no quesito técnico e artístico extremamente alinhado com a fotografia do (sempre ele) Emmanuel Lubezki (vencedor de três Oscars, sendo o último deles por "O Regresso"). Logo depois, no entanto, o que vemos brilhar é o elenco - e aqui cabe uma observação importante: os protagonistas e os coadjuvantes são tão importantes quanto todo elenco de apoio que é recheado de convidados que vão de Taylor Swift até Robert De Niro.

O que teria tudo para fazer o filme brilhar, na verdade acaba escondendo um roteiro que soa um pouco confuso e uma edição (de Jay Cassidy) com soluções que várias vezes mais atrapalham do que nos conecta com a história - os flashbacks contextualizam, mas ao mesmo tempo quebram o ritmo. Além disso, o conceito narrativo que O. Russell propõe causa um certo estranhamento - demora para entendermos sua intenção (muitas delas, inclusive, criadas para funcionar como alivio cômico onde não precisava). É preciso dizer, no entanto, que a sensação de "caos" existe e ao embarcarmos na jornada, atentos a proposta, vemos que tudo isso faz sentido.

Após duas horas de filme, temos a exata noção que "Amsterdam" aproveita da sua excentricidade para discutir elementos políticos de uma época onde o fascismo começava a imperar. Mesmo que com essa caricatura visual na sua forma, é de se perceber o propósito politico de O. Russell no seu conteúdo até quando soa dispensável - o personagem de Chris Rock é um bom exemplo: ele aparece, faz um comentário sobre racismo e/ou supremacia branca e depois desaparece na mesma velocidade. O fato é que o filme transita entre a conspiração e a espionagem, mas com sua base enraizada na sátira política, quase pastelão, com aquele leve toque de drama de relação mais emocional. Confuso? Sim, mas como entretenimento é inegável o seu charme!

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