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Nerve

Se estiver com saudades daquele "Black Mirror" raiz, assista esse filme!

"Nerve" acompanha a tímida Vee DeMarco (Emma Roberts), uma garota comum, prestes a sair do ensino médio que sonha em ir para a faculdade. Após uma discussão com sua até então amiga Sydney (Emily Meade), ela resolve provar que tem atitude e decide se inscrever no Nerve, um jogo online onde as pessoas precisam executar tarefas criadas pelos próprios usuários. O Nerve é dividido entre observadores e jogadores, sendo que os primeiros decidem as tarefas a serem realizadas e os demais as executam (ou não). Logo em seu primeiro desafio Vee conhece Ian (Dave Franco), um jogador de passado obscuro e juntos, eles logo caem nas graças dos observadores, que passam a enviar cada vez mais tarefas e sempre aumentando a dificuldade até chegar em níveis inimagináveis. Confira o trailer:

De fato "Nerve" é entretenimento puro, muito divertido e se não fossem os 10 minutos finais poderia, realmente, ser um episódio de Black Mirror tranquilamente! Olha, eu diria que o que vemos na tela é até mais real do que a ficção pode imaginar, e acho que esse é o grande trunfo do roteiro. A maneira como a trama foi filmada pelos diretores Henry Joost e Ariel Schulman (de "Viral" e da já anunciada adaptação de "Megaman") cria uma dinâmica muito interessante para o filme, principalmente com as aplicações gráficas completamente alinhadas com a linguagem tecnologia que os jovens se identificam. A fotografia é outro elemento que merece destaque: ela tem muita personalidade para um gênero que não se apoia nesse tipo de arte, o mérito é do diretor Michael Simmonds (de "Atividade Paranormal 2"). Os atores Emma Roberts e Dave Franco não comprometem e se sustentam na química natural entre eles - funciona bem!

Embora seja um filme notavelmente voltado para o publico jovem, gostei muito do que assisti - um equilíbrio perfeito entre ação e ficção sem soar piegas ao trazer para o universo adolescente, meu único "porém" é para a resolução do terceiro ato: poderia tranquilamente ter terminado antes ou arriscado em um final menos novelesco. Fora isso vale muito pelo ótimo entretenimento!

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Se estiver com saudades daquele "Black Mirror" raiz, assista esse filme!

"Nerve" acompanha a tímida Vee DeMarco (Emma Roberts), uma garota comum, prestes a sair do ensino médio que sonha em ir para a faculdade. Após uma discussão com sua até então amiga Sydney (Emily Meade), ela resolve provar que tem atitude e decide se inscrever no Nerve, um jogo online onde as pessoas precisam executar tarefas criadas pelos próprios usuários. O Nerve é dividido entre observadores e jogadores, sendo que os primeiros decidem as tarefas a serem realizadas e os demais as executam (ou não). Logo em seu primeiro desafio Vee conhece Ian (Dave Franco), um jogador de passado obscuro e juntos, eles logo caem nas graças dos observadores, que passam a enviar cada vez mais tarefas e sempre aumentando a dificuldade até chegar em níveis inimagináveis. Confira o trailer:

De fato "Nerve" é entretenimento puro, muito divertido e se não fossem os 10 minutos finais poderia, realmente, ser um episódio de Black Mirror tranquilamente! Olha, eu diria que o que vemos na tela é até mais real do que a ficção pode imaginar, e acho que esse é o grande trunfo do roteiro. A maneira como a trama foi filmada pelos diretores Henry Joost e Ariel Schulman (de "Viral" e da já anunciada adaptação de "Megaman") cria uma dinâmica muito interessante para o filme, principalmente com as aplicações gráficas completamente alinhadas com a linguagem tecnologia que os jovens se identificam. A fotografia é outro elemento que merece destaque: ela tem muita personalidade para um gênero que não se apoia nesse tipo de arte, o mérito é do diretor Michael Simmonds (de "Atividade Paranormal 2"). Os atores Emma Roberts e Dave Franco não comprometem e se sustentam na química natural entre eles - funciona bem!

Embora seja um filme notavelmente voltado para o publico jovem, gostei muito do que assisti - um equilíbrio perfeito entre ação e ficção sem soar piegas ao trazer para o universo adolescente, meu único "porém" é para a resolução do terceiro ato: poderia tranquilamente ter terminado antes ou arriscado em um final menos novelesco. Fora isso vale muito pelo ótimo entretenimento!

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O Canto do Cisne

"O Canto do Cisne" é um filme sobre a "dor da despedida"! Mesmo fantasiada de ficção científica ao melhor estilo "Black Mirror", essa produção original da Apple é um drama dos mais profundos, onde uma trama aparentemente simples, vai se construindo em um complexo estudo de personagem, tocando em assuntos extremamente sensíveis e provocando discussões que vão da "ética" ao "perdão". Além de muito elegante cinematograficamente, estamos diante de mais uma aula de interpretação de Mahershala Ali!

Ambientado em um futuro próximo, "O Canto do Cisne" conta a história de uma jornada emocionante e poderosa pelo ponto de vista de Cameron (Mahershala Ali), um pai e marido amoroso que acaba de ser diagnosticado com uma doença terminal, mas que recebe de sua médica Dr. Jo Scott (Glenn Close) uma solução alternativapara proteger a família do luto. Enquanto Cam luta para decidir qual será o destino da família, ele aprende mais sobre a vida e o amor do que jamais havia imaginado. Confira o trailer (em inglês):

Existe uma sensibilidade em "O Canto do Cisne" que envolve a audiência sem precisar se apoiar em nenhum tipo de atalho para nos tocar fundo. As relações entre os personagens que o talentoso diretor Benjamin Cleary (vencedor do Oscar com seu curta-metragem "Stutterer" em 2016) vai estabelecendo, dita a cadência exata da narrativa com muita identidade e elegância. Se visualmente o filme chama atenção pela qualidade da fotografia do Masanobu Takayanagi (de "Spotlight: Segredos Revelados" e "O Lado bom da Vida") e pelo desenho de produção futurista da sempre incrível Annie Beauchamp (de "Moulin Rouge" e, claro, "Black Mirror"), é no roteiro do próprio Cleary e na montagem do Nathan Nugent (de "Normal People") que o filme sai do óbvio e brilha.

Lidar com uma decisão tão importante, que é fortemente acompanhada por inúmeras dúvidas existenciais, espirituais e, principalmente, pela difícil tarefa de redefinir a singularidade da essência do ser humano, faz de Cameron um personagem extremamente complexo, além de ser um presente para Mahershala Ali - já que o ator precisa se "duplicar" para servir de contraponto ético com o outro lado da história, a do seu clone Jack. Se a narrativa se apoia na ficção da transferência das memórias ou no aprendizado de uma inteligência artificial para discutir os principais elementos que definem o indivíduo, é no sentimento mais profundo de uma "saudade" que está por vir, que realmente nos conectamos com os dramas emocionais do personagem - e aqui cabe um comentário: mesmo com uma participação bem pontual, Awkwafina (e sua Kate) está perfeita. Ela funciona como uma espécie de catalisadora desse sentimento de vazio. 

O fato é que "O Canto do Cisne" tem uma premissa muito parecida com um dos episódios da série "Solos"da Prime Vídeo, onde o ator Anthony Mackie também se relaciona com um novo produto tecnológico para evitar o sofrimento do "luto", porém aqui ampliamos as discussões trazendo ótimas referências na linha de "Ex-Machina" e "Black Mirror", mas sem esquecer da "alma" de "Tales from the Loop".

Vale muito a pena, mas saiba que estamos falando de um drama, sem nenhuma intenção de criar qualquer cena de ação - o que importa são as relações, com o outro e consigo mesmo!

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"O Canto do Cisne" é um filme sobre a "dor da despedida"! Mesmo fantasiada de ficção científica ao melhor estilo "Black Mirror", essa produção original da Apple é um drama dos mais profundos, onde uma trama aparentemente simples, vai se construindo em um complexo estudo de personagem, tocando em assuntos extremamente sensíveis e provocando discussões que vão da "ética" ao "perdão". Além de muito elegante cinematograficamente, estamos diante de mais uma aula de interpretação de Mahershala Ali!

Ambientado em um futuro próximo, "O Canto do Cisne" conta a história de uma jornada emocionante e poderosa pelo ponto de vista de Cameron (Mahershala Ali), um pai e marido amoroso que acaba de ser diagnosticado com uma doença terminal, mas que recebe de sua médica Dr. Jo Scott (Glenn Close) uma solução alternativapara proteger a família do luto. Enquanto Cam luta para decidir qual será o destino da família, ele aprende mais sobre a vida e o amor do que jamais havia imaginado. Confira o trailer (em inglês):

Existe uma sensibilidade em "O Canto do Cisne" que envolve a audiência sem precisar se apoiar em nenhum tipo de atalho para nos tocar fundo. As relações entre os personagens que o talentoso diretor Benjamin Cleary (vencedor do Oscar com seu curta-metragem "Stutterer" em 2016) vai estabelecendo, dita a cadência exata da narrativa com muita identidade e elegância. Se visualmente o filme chama atenção pela qualidade da fotografia do Masanobu Takayanagi (de "Spotlight: Segredos Revelados" e "O Lado bom da Vida") e pelo desenho de produção futurista da sempre incrível Annie Beauchamp (de "Moulin Rouge" e, claro, "Black Mirror"), é no roteiro do próprio Cleary e na montagem do Nathan Nugent (de "Normal People") que o filme sai do óbvio e brilha.

Lidar com uma decisão tão importante, que é fortemente acompanhada por inúmeras dúvidas existenciais, espirituais e, principalmente, pela difícil tarefa de redefinir a singularidade da essência do ser humano, faz de Cameron um personagem extremamente complexo, além de ser um presente para Mahershala Ali - já que o ator precisa se "duplicar" para servir de contraponto ético com o outro lado da história, a do seu clone Jack. Se a narrativa se apoia na ficção da transferência das memórias ou no aprendizado de uma inteligência artificial para discutir os principais elementos que definem o indivíduo, é no sentimento mais profundo de uma "saudade" que está por vir, que realmente nos conectamos com os dramas emocionais do personagem - e aqui cabe um comentário: mesmo com uma participação bem pontual, Awkwafina (e sua Kate) está perfeita. Ela funciona como uma espécie de catalisadora desse sentimento de vazio. 

O fato é que "O Canto do Cisne" tem uma premissa muito parecida com um dos episódios da série "Solos"da Prime Vídeo, onde o ator Anthony Mackie também se relaciona com um novo produto tecnológico para evitar o sofrimento do "luto", porém aqui ampliamos as discussões trazendo ótimas referências na linha de "Ex-Machina" e "Black Mirror", mas sem esquecer da "alma" de "Tales from the Loop".

Vale muito a pena, mas saiba que estamos falando de um drama, sem nenhuma intenção de criar qualquer cena de ação - o que importa são as relações, com o outro e consigo mesmo!

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O Céu da Meia-Noite

"O Céu da Meia-Noite" é uma difícil adaptação do livro "Good Morning, Midnight " da norte-americana Lily Brooks-Dalton, que trás elementos narrativos similares a filmes como, por exemplo, "Interestelar" (2014), para compor uma história de Ficção Científica, mas que fala mesmo é sobre "solidão" (e, talvez, sobre a necessidade de se perdoar como ser humano e como humanidade) - isso vai ficar muito claro no terceiro ato do filme!

Dirigido e protagonizado pelo George Clooney, o filme acompanha Augustine, um solitário cientista que precisa se comunicar com uma equipe de astronautas que estão em uma missão no espaço e assim impedir que eles retornem para a Terra em meio a uma misteriosa catástrofe ambiental que praticamente dizimou a humanidade. Confira o trailer:

"O Céu da Meia-Noite" é um ótimo entretenimento, mas certamente vai dividir opiniões. Veja, o filme tem cenas de ação que criam aquele senso de urgência, mas também se apoia muito no sentimentalismo e na necessidade de passar uma mensagem de esperança, que, na minha opinião, pareceu sem tanta profundidade e o propósito (até filosófico) de "Interestelar". O que eu quero dizer é que a própria dinâmica narrativa impediu um aprofundamento maior nos dramas de vários personagens (e muitos deles são completamente dispensáveis), já que a história é contada a partir de dois grandes arcos principais: o de Augustine na Terra e o de Sully (Felicity Jones), junto com os astronautas, no espaço - é muita coisa para apenas duas horas de filme! Embora o roteiro use alguns atalhos para minimizar esse problema e nos provocar uma certa empatia com os personagens (alguns vão chamar de "clichês"), faltou tempo de tela para que essa identificação justificasse nossa paixão, nossa torcida.

Tecnicamente o filme tem grandes momentos, conceitos visuais muito bacanas (e outros nem tanto). A ótima trilha sonora ajuda a pontuar nossas emoções que vão nos acompanhar durante todo filme e que, facilmente, nos ajuda encontrar seu ápice no final - o que é ótimo, mas nos dá até a sensação de que o filme é muito melhor do que ele realmente é! Mas é inegável: nos emocionamos sim e ficamos satisfeitos com o filme! É isso que importa!

Vale seu play, mas não espere todas as repostas, o "caos" que acompanhamos é apenas o pano de fundo para refletirmos sobre algumas escolhas e suas consequências!

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"O Céu da Meia-Noite" é uma difícil adaptação do livro "Good Morning, Midnight " da norte-americana Lily Brooks-Dalton, que trás elementos narrativos similares a filmes como, por exemplo, "Interestelar" (2014), para compor uma história de Ficção Científica, mas que fala mesmo é sobre "solidão" (e, talvez, sobre a necessidade de se perdoar como ser humano e como humanidade) - isso vai ficar muito claro no terceiro ato do filme!

Dirigido e protagonizado pelo George Clooney, o filme acompanha Augustine, um solitário cientista que precisa se comunicar com uma equipe de astronautas que estão em uma missão no espaço e assim impedir que eles retornem para a Terra em meio a uma misteriosa catástrofe ambiental que praticamente dizimou a humanidade. Confira o trailer:

"O Céu da Meia-Noite" é um ótimo entretenimento, mas certamente vai dividir opiniões. Veja, o filme tem cenas de ação que criam aquele senso de urgência, mas também se apoia muito no sentimentalismo e na necessidade de passar uma mensagem de esperança, que, na minha opinião, pareceu sem tanta profundidade e o propósito (até filosófico) de "Interestelar". O que eu quero dizer é que a própria dinâmica narrativa impediu um aprofundamento maior nos dramas de vários personagens (e muitos deles são completamente dispensáveis), já que a história é contada a partir de dois grandes arcos principais: o de Augustine na Terra e o de Sully (Felicity Jones), junto com os astronautas, no espaço - é muita coisa para apenas duas horas de filme! Embora o roteiro use alguns atalhos para minimizar esse problema e nos provocar uma certa empatia com os personagens (alguns vão chamar de "clichês"), faltou tempo de tela para que essa identificação justificasse nossa paixão, nossa torcida.

Tecnicamente o filme tem grandes momentos, conceitos visuais muito bacanas (e outros nem tanto). A ótima trilha sonora ajuda a pontuar nossas emoções que vão nos acompanhar durante todo filme e que, facilmente, nos ajuda encontrar seu ápice no final - o que é ótimo, mas nos dá até a sensação de que o filme é muito melhor do que ele realmente é! Mas é inegável: nos emocionamos sim e ficamos satisfeitos com o filme! É isso que importa!

Vale seu play, mas não espere todas as repostas, o "caos" que acompanhamos é apenas o pano de fundo para refletirmos sobre algumas escolhas e suas consequências!

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O código Bill Gates

"O código Bill Gates" é realmente muito bom! Desde o lançamento do trailer oficial, minha expectativa era alta e, depois de assistir todos os episódios em uma única sentada (recomendo), não me decepcionei. A minissérie documental que a Netflix produziu acompanha um Bill Gates "aposentado", dedicado a filantropia, tentando encontrar soluções para os problemas do mundo e investindo muito (mas, muito) dinheiro nisso - é essa linha narrativa, inclusive, que permite fazer paralelos com todos os momentos cruciais da sua vida pública como presidente da Microsoft - construindo um novo personagem e desconstruindo aquele outro.

Baseado em três projetos principais: melhorar o saneamento em países onde grande parte da população vive na miséria, erradicar a pólio no mundo (efetivamente na Nigéria) e remodelar a produção de energia nuclear; o diretor Davis Guggenheim foca nesse trabalho filantrópico da Fundação Bill e Melinda Gates para fazer uma espécie de raio-x do personagem que luta dia a dia para transformar o mundo através da tecnologia sendo um homem cheio de manias, com posturas que podem ser interpretadas como arrogantes ou egoístas, mas que parece simples ao ponto de adorar hambúrguer e diet coke! Funciona! 

A não-linearidade do roteiro criou uma dinâmica muito interessante para o "O código Bill Gates". Partindo do que vemos de melhor em um personagem que se confunde com a história da tecnologia (e por incrível que pareça criando até uma certa empatia com ele), a minissérie é coerente em exaltar os desafios atuais de Gates, mas também de não aliviar em suas polêmicas do passado. Sem dúvida que Guggenheim sofreu muita pressão para encontrar esse equilíbrio até chegar ao corte final - fico imaginando o processo de aprovação de um projeto como esse, ainda mais com um Bill Gates (e milhões de advogados) assinando embaixo. O fato é que a versão que está na Netflix é um recorte da vida profissional de Gates, que humaniza o "visionário" com muitas qualidades, em troca de poder mostrar alguns (apenas alguns) dos seus defeitos. Bill Gates não tem a capacidade de comunicação de Steve Jobs, não tem carisma e não convence quando tenta ser cool - e isso não é um problema - ele é o que é! Ele é um homem extremamente inteligente, viciado em livros, ávido por informação e conhecimento, competitivo e até meio ingênuo (isso fica perceptível em algumas respostas bastante expontâneas que ele dá durante os episódios). Ele é um cara que, por mais que fizesse, ficava sempre na sombra de Jobs e, para mim, esse é o único ponto fraco do documentário - em nenhum momento é explorada essa disputa pessoal e profissional. Em nenhum momento o diretor trás o assunto "apple" para a história e, me desculpe, não se conta a história de um "protagonista" sem citar o "antagonista" - eles são complementares, por mais que se queira exaltar os feitos de um não é preciso diminuir o sucesso do outro!

De fato "O código Bill Gates" acerta em cheio ao contar parte da jornada de construção de um império e tudo que implica ter (incríveis) 96% de market share em um segmento. De fato Bill Gates é um personagem sensacional, com uma história admirável, uma personalidade ímpar e apaixonado pelo seu trabalho. Essa minissérie retrata um pouco disso tudo e sem dúvida tem uma importância histórica - independente de contar só um dos lados (sua briga com Steve Ballmer é um bom exemplo). Não deve ser fácil ser um cara como Bill Gates e levantar essa discussão ajuda muito na experiência de assistir os três episódios. É claro que alguns vão se identificar ou vão valorizar essa jornada mais que outros, mas isso é normal quando uma figura tão icônica é retratada. O que posso dizer com muita tranquilidade é que o projeto ficou lindo artisticamente e tecnicamente. Tem um fotografia muito bonita, inserções gráficas com mapas sistêmicos que ajudam a entender a complexidade dos projetos que Gates está financiando, algumas animações para dramatizar determinadas passagens da vida dele são inseridas de forma bastante orgânica na narrativa e as intervenções tanto do entrevistador quando dos entrevistados estão perfeitas. Gostei muito e, mesmo parecendo um documentário "chapa branca", acho que vale muito a pena assistir. Me surpreendi pela forma como ele é inspirador e por uma mensagem que vale a reflexão: "Se ainda não está dando certo, trabalhe mais!!!"

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"O código Bill Gates" é realmente muito bom! Desde o lançamento do trailer oficial, minha expectativa era alta e, depois de assistir todos os episódios em uma única sentada (recomendo), não me decepcionei. A minissérie documental que a Netflix produziu acompanha um Bill Gates "aposentado", dedicado a filantropia, tentando encontrar soluções para os problemas do mundo e investindo muito (mas, muito) dinheiro nisso - é essa linha narrativa, inclusive, que permite fazer paralelos com todos os momentos cruciais da sua vida pública como presidente da Microsoft - construindo um novo personagem e desconstruindo aquele outro.

Baseado em três projetos principais: melhorar o saneamento em países onde grande parte da população vive na miséria, erradicar a pólio no mundo (efetivamente na Nigéria) e remodelar a produção de energia nuclear; o diretor Davis Guggenheim foca nesse trabalho filantrópico da Fundação Bill e Melinda Gates para fazer uma espécie de raio-x do personagem que luta dia a dia para transformar o mundo através da tecnologia sendo um homem cheio de manias, com posturas que podem ser interpretadas como arrogantes ou egoístas, mas que parece simples ao ponto de adorar hambúrguer e diet coke! Funciona! 

A não-linearidade do roteiro criou uma dinâmica muito interessante para o "O código Bill Gates". Partindo do que vemos de melhor em um personagem que se confunde com a história da tecnologia (e por incrível que pareça criando até uma certa empatia com ele), a minissérie é coerente em exaltar os desafios atuais de Gates, mas também de não aliviar em suas polêmicas do passado. Sem dúvida que Guggenheim sofreu muita pressão para encontrar esse equilíbrio até chegar ao corte final - fico imaginando o processo de aprovação de um projeto como esse, ainda mais com um Bill Gates (e milhões de advogados) assinando embaixo. O fato é que a versão que está na Netflix é um recorte da vida profissional de Gates, que humaniza o "visionário" com muitas qualidades, em troca de poder mostrar alguns (apenas alguns) dos seus defeitos. Bill Gates não tem a capacidade de comunicação de Steve Jobs, não tem carisma e não convence quando tenta ser cool - e isso não é um problema - ele é o que é! Ele é um homem extremamente inteligente, viciado em livros, ávido por informação e conhecimento, competitivo e até meio ingênuo (isso fica perceptível em algumas respostas bastante expontâneas que ele dá durante os episódios). Ele é um cara que, por mais que fizesse, ficava sempre na sombra de Jobs e, para mim, esse é o único ponto fraco do documentário - em nenhum momento é explorada essa disputa pessoal e profissional. Em nenhum momento o diretor trás o assunto "apple" para a história e, me desculpe, não se conta a história de um "protagonista" sem citar o "antagonista" - eles são complementares, por mais que se queira exaltar os feitos de um não é preciso diminuir o sucesso do outro!

De fato "O código Bill Gates" acerta em cheio ao contar parte da jornada de construção de um império e tudo que implica ter (incríveis) 96% de market share em um segmento. De fato Bill Gates é um personagem sensacional, com uma história admirável, uma personalidade ímpar e apaixonado pelo seu trabalho. Essa minissérie retrata um pouco disso tudo e sem dúvida tem uma importância histórica - independente de contar só um dos lados (sua briga com Steve Ballmer é um bom exemplo). Não deve ser fácil ser um cara como Bill Gates e levantar essa discussão ajuda muito na experiência de assistir os três episódios. É claro que alguns vão se identificar ou vão valorizar essa jornada mais que outros, mas isso é normal quando uma figura tão icônica é retratada. O que posso dizer com muita tranquilidade é que o projeto ficou lindo artisticamente e tecnicamente. Tem um fotografia muito bonita, inserções gráficas com mapas sistêmicos que ajudam a entender a complexidade dos projetos que Gates está financiando, algumas animações para dramatizar determinadas passagens da vida dele são inseridas de forma bastante orgânica na narrativa e as intervenções tanto do entrevistador quando dos entrevistados estão perfeitas. Gostei muito e, mesmo parecendo um documentário "chapa branca", acho que vale muito a pena assistir. Me surpreendi pela forma como ele é inspirador e por uma mensagem que vale a reflexão: "Se ainda não está dando certo, trabalhe mais!!!"

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O Consultor

O Consultor

"O Consultor" vai dividir opiniões - principalmente pelas expectativas que ele cria (de uma forma genial) e a entrega que ele faz no final (embora mostre enorme potencial para uma sequência)! Veja, talvez o maior mérito da série, e que de fato chama atenção desde o inicio, no final se transforma em sua maior fraqueza e a razão pela qual vai te fazer questionar sobre a qualidade da história: a série da Prime Vídeo bebe de muitas referências que colocam o sarrafo lá em cima. Não é preciso ir muito fundo para perceber elementos conceituais usados em verdadeiros sucessos, mesmo que em tons diferentes, como "The Office", "Mythic Quest", "Ruptura" e até como "O Advogado do Diabo"- o grande problema é que aqui, propositalmente, o arco principal deixa muito mais um suspense, um mistério, e por isso um certo incômodo, do que se propõe a entregar respostas, por menor que sejam, para que tenhamos uma leve sensação de estarmos no caminho certo.

A questão é: existe um caminho?

Contratado como consultor para resgatar a CompWare da falência após um evento traumático para a startup especializada em games para celular, Regus Patoff (Christopher Waltz) gradualmente começa a colocar seu particular estilo de gestão, mesmo que isso não tenha absolutamente nada a ver com a cultura criada e estabelecida pelo seu fundador, o jovem Sang (Brian Yoon), o que cria uma verdadeira atmosfera de tensão e insegurança perante todos os colaboradores da empresa. Confira o trailer:

Se olharmos por um determinado ponto de vista, "O Consultor" é muito mais uma aula sobre cultura corporativado que propriamente um mero entretenimento, mas calma: é possível se divertir com a série criada pelo Tony Basgallop (de "Servant"). Inspirado no romance homônimo de Bentley Little, de 2015, "O Consultor" é uma espécie de sátira sobre a péssima relação entre umcolaborador e uma nova liderança desalinhada com a cultura da empresa, que acaba questionando o queseríamos capazes de fazer para sobreviverem um ambiente corporativo que da noite para o dia passa a ser tão tóxico quando volátil. 

Christopher Waltz, de fato, constrói um protagonista brilhante, digno de prêmios! Mas a sensação é que, com o passar dos episódios, o "efeito Lost" parece fazer mais uma vitima, ou seja, mesmo com um personagem que nos provoca as mais diversas emoções, os mistérios inseridos no roteiro não entregam sequer uma resposta convincente - é como se todas as (interessantes) maluquices que vemos durante a temporada, simplesmente estão ali por estar. Diferente de "Ruptura" onde tudo parece ter algum sentido (mesmo que exija uma enorme suspensão da realidade), aqui as peças não se encaixam em nenhum momento - mesmo com um final conclusivo que, inclusive, coloca em dúvida a ideia de que uma continuidade para a história possa ter sido planejada. 

"O Consultor" aposta suas fichas na sobriedade claustrofóbica de uma palheta de cores frias que contrasta com os neons que praticamente saltam ao olhos da audiência, como se precisassem pontuar um universo entre o tradicional e o moderno que não sabe muito bem o tamanho de sua importância - esse aspecto mais dúbio, envolvido por uma trilha sonora precisa e equilibrada, dá o tom do que o roteiro sugere, mas falha em validar qualquer que fosse a teoria que naturalmente levantamos desde o inicio da temporada. Entretanto, ainda que como entretenimento exista gaps narrativos imensos, é possível afirmar que algo bom pode estar por vir - a dúvida é se a audiência terá paciência e se o próprio Basgallop terá liberdade criativa para provar que tudo um dia fará sentido. Veremos!

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"O Consultor" vai dividir opiniões - principalmente pelas expectativas que ele cria (de uma forma genial) e a entrega que ele faz no final (embora mostre enorme potencial para uma sequência)! Veja, talvez o maior mérito da série, e que de fato chama atenção desde o inicio, no final se transforma em sua maior fraqueza e a razão pela qual vai te fazer questionar sobre a qualidade da história: a série da Prime Vídeo bebe de muitas referências que colocam o sarrafo lá em cima. Não é preciso ir muito fundo para perceber elementos conceituais usados em verdadeiros sucessos, mesmo que em tons diferentes, como "The Office", "Mythic Quest", "Ruptura" e até como "O Advogado do Diabo"- o grande problema é que aqui, propositalmente, o arco principal deixa muito mais um suspense, um mistério, e por isso um certo incômodo, do que se propõe a entregar respostas, por menor que sejam, para que tenhamos uma leve sensação de estarmos no caminho certo.

A questão é: existe um caminho?

Contratado como consultor para resgatar a CompWare da falência após um evento traumático para a startup especializada em games para celular, Regus Patoff (Christopher Waltz) gradualmente começa a colocar seu particular estilo de gestão, mesmo que isso não tenha absolutamente nada a ver com a cultura criada e estabelecida pelo seu fundador, o jovem Sang (Brian Yoon), o que cria uma verdadeira atmosfera de tensão e insegurança perante todos os colaboradores da empresa. Confira o trailer:

Se olharmos por um determinado ponto de vista, "O Consultor" é muito mais uma aula sobre cultura corporativado que propriamente um mero entretenimento, mas calma: é possível se divertir com a série criada pelo Tony Basgallop (de "Servant"). Inspirado no romance homônimo de Bentley Little, de 2015, "O Consultor" é uma espécie de sátira sobre a péssima relação entre umcolaborador e uma nova liderança desalinhada com a cultura da empresa, que acaba questionando o queseríamos capazes de fazer para sobreviverem um ambiente corporativo que da noite para o dia passa a ser tão tóxico quando volátil. 

Christopher Waltz, de fato, constrói um protagonista brilhante, digno de prêmios! Mas a sensação é que, com o passar dos episódios, o "efeito Lost" parece fazer mais uma vitima, ou seja, mesmo com um personagem que nos provoca as mais diversas emoções, os mistérios inseridos no roteiro não entregam sequer uma resposta convincente - é como se todas as (interessantes) maluquices que vemos durante a temporada, simplesmente estão ali por estar. Diferente de "Ruptura" onde tudo parece ter algum sentido (mesmo que exija uma enorme suspensão da realidade), aqui as peças não se encaixam em nenhum momento - mesmo com um final conclusivo que, inclusive, coloca em dúvida a ideia de que uma continuidade para a história possa ter sido planejada. 

"O Consultor" aposta suas fichas na sobriedade claustrofóbica de uma palheta de cores frias que contrasta com os neons que praticamente saltam ao olhos da audiência, como se precisassem pontuar um universo entre o tradicional e o moderno que não sabe muito bem o tamanho de sua importância - esse aspecto mais dúbio, envolvido por uma trilha sonora precisa e equilibrada, dá o tom do que o roteiro sugere, mas falha em validar qualquer que fosse a teoria que naturalmente levantamos desde o inicio da temporada. Entretanto, ainda que como entretenimento exista gaps narrativos imensos, é possível afirmar que algo bom pode estar por vir - a dúvida é se a audiência terá paciência e se o próprio Basgallop terá liberdade criativa para provar que tudo um dia fará sentido. Veremos!

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O Escândalo da Wirecard

Você já ouviu falar da Wirecard? Pois é, eu também não, porém essa startup alemã era um verdadeiro sucesso ao fornecer meios de pagamento eletrônico no estilo do PayPal e fisico como os bancos tradicionais - sempre, obviamente, com aquele toque moderninho das FinTechs que aprendemos admirar. O interessante porém, é que a história que você vai assistir em "O Escândalo da Wirecard" pode até não parecer tão desconhecida assim, já que foi a partir dela que o diretor Matthias Murmann (de  “Como Vender Drogas Online (Rápido)”) criou a divertida e surpreendente "Rei dos Stonks".

Do mesmo diretor de "Billie" (2019) e "Sachin" (2017), James Erskine, essa produção da Netflix retrata a jornada da Wirecard em sua meteórica escalada para o sucesso até que uma equipe de jornalistas do Financial Times começa a suspeitar das atividades da empresa, realizando assim uma investigação que expõe uma fraude global inimaginável - a maior da Alemanha até hoje.

Com um conceito narrativo bem parecido com o recente "Gaming Wall Street", "Skandal! Bringing Down Wirecard" (no original) funciona basicamente como um compilado de depoimentos dos jornalistas que participaram de toda a investigação que revelou as fraudes que startup cometia. Baseado no livro “Money Men: A Hot Startup, a BillionDollar Fraud”, do jornalista do Financial Times, Dan McCrum, o documentário é muito competente em construir uma linha do tempo dinâmica e de fácil compreensão que descreve, em detalhes, uma série de transações potencialmente duvidosas que eram feitas por várias unidades de negócio além de suas fronteiras, a fim de fazê-las parecer legítimas para os auditores locais.

McCrum que praticamente protagoniza o filme, conta que durante 6 anos foi perseguido por pessoas que tentavam intimidá-lo enquanto sua investigação revelava fraudes de bilhões a partir de sedes fantasmas, envolvimento com pornografia, cassinos, terrorismo, política; sem falar, claro, na absurda pressão que sofreu para não continuar com as matérias que impactavam diretamente no valor das ações da Wirecard - o envolvimento de investidores que apostavam em "vendas a descoberto" também faz parte da história e chama atenção pela conexão com outras fraudes que já vimos em outros títulos por aqui.

Para aqueles que gostam de documentários investigativos que cobrem grandes escândalos e fraudes financeiras, certamente "O Escândalo da Wirecard" é uma excelente pedida. Com um viés um pouco mais jornalístico que outras produções, mas modernizado por uma edição primorosa, o documentário é também uma aula de como a imprensa ainda é importante para trazer à tona assuntos tão relevantes para a sociedade. Como recomendação, assista antes o "Rei dos Stonks" e depois faça o exercício de comparar algumas passagens marcantes da série com o que de fato aconteceu na vida real.

Vale a pena!

Assista Agora

Você já ouviu falar da Wirecard? Pois é, eu também não, porém essa startup alemã era um verdadeiro sucesso ao fornecer meios de pagamento eletrônico no estilo do PayPal e fisico como os bancos tradicionais - sempre, obviamente, com aquele toque moderninho das FinTechs que aprendemos admirar. O interessante porém, é que a história que você vai assistir em "O Escândalo da Wirecard" pode até não parecer tão desconhecida assim, já que foi a partir dela que o diretor Matthias Murmann (de  “Como Vender Drogas Online (Rápido)”) criou a divertida e surpreendente "Rei dos Stonks".

Do mesmo diretor de "Billie" (2019) e "Sachin" (2017), James Erskine, essa produção da Netflix retrata a jornada da Wirecard em sua meteórica escalada para o sucesso até que uma equipe de jornalistas do Financial Times começa a suspeitar das atividades da empresa, realizando assim uma investigação que expõe uma fraude global inimaginável - a maior da Alemanha até hoje.

Com um conceito narrativo bem parecido com o recente "Gaming Wall Street", "Skandal! Bringing Down Wirecard" (no original) funciona basicamente como um compilado de depoimentos dos jornalistas que participaram de toda a investigação que revelou as fraudes que startup cometia. Baseado no livro “Money Men: A Hot Startup, a BillionDollar Fraud”, do jornalista do Financial Times, Dan McCrum, o documentário é muito competente em construir uma linha do tempo dinâmica e de fácil compreensão que descreve, em detalhes, uma série de transações potencialmente duvidosas que eram feitas por várias unidades de negócio além de suas fronteiras, a fim de fazê-las parecer legítimas para os auditores locais.

McCrum que praticamente protagoniza o filme, conta que durante 6 anos foi perseguido por pessoas que tentavam intimidá-lo enquanto sua investigação revelava fraudes de bilhões a partir de sedes fantasmas, envolvimento com pornografia, cassinos, terrorismo, política; sem falar, claro, na absurda pressão que sofreu para não continuar com as matérias que impactavam diretamente no valor das ações da Wirecard - o envolvimento de investidores que apostavam em "vendas a descoberto" também faz parte da história e chama atenção pela conexão com outras fraudes que já vimos em outros títulos por aqui.

Para aqueles que gostam de documentários investigativos que cobrem grandes escândalos e fraudes financeiras, certamente "O Escândalo da Wirecard" é uma excelente pedida. Com um viés um pouco mais jornalístico que outras produções, mas modernizado por uma edição primorosa, o documentário é também uma aula de como a imprensa ainda é importante para trazer à tona assuntos tão relevantes para a sociedade. Como recomendação, assista antes o "Rei dos Stonks" e depois faça o exercício de comparar algumas passagens marcantes da série com o que de fato aconteceu na vida real.

Vale a pena!

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O Mar da Tranquilidade

"O Mar da Tranquilidade" é uma excelente série de ficção científica, mas é preciso que se diga: embora dinâmica, não serão as ótimas cenas de ação que vão fazer a diferença na sua experiência! Aqui, o foco está na construção de uma história potente, na busca por respostas e, principalmente, na relação humana sob diversos olhares - mas uma coisa eu garanto, embora com um certo lirismo, toda essa estrutura narrativa está apoiada em um impactante conceito visual com efeitos muito bacanas. 

Em um planeta Terra do futuro que sofre uma terrível crise hídrica, a série (que tranquilamente poderia ser uma minissérie) acompanha a cientista e astrobióloga, Song Ji-an (Bae Doona de "Sense8"), que decide se juntar a uma importante missão para recuperar misteriosas amostras de uma substância em uma estação espacial na Lua. Porém, algum tempo antes, um trágico acidente aconteceu na estação, matando todos os astronautas que estavam lá, incluindo sua irmã. Agora esse novo grupo precisará descobrir o que aconteceu e talvez enfrentar uma perigosa ameaça. Confira o trailer:

Mar da Tranquilidade é uma região na lua, onde o Módulo Lunar Eagle, da Apollo 11, pousou em 1969 - e é justamente nesse local que se encontra uma enorme Estação de Pesquisa Lunar chamada "Balhae" e onde se desenvolve grande parte da história dessa produção sul coreana surpreendente. Apoiada em uma construção cênica sensacional, que mais parece um labirinto claustrofóbico do que um laboratório de pesquisa, o roteiro da série é muito inteligente em trabalhar, dentro da ficção científica, elementos que misturam suspense e conspiração política.  

É inegável que muitas das cenas, e até pelo clima de tensão construído pelo diretor estreante Choi Hang-Yong, nos fazem lembrar os bons tempos de "Alien, o Oitavo Passageiro" de Ridley Scott. Ao mesmo tempo que a narrativa vai nos entregando as peças de um enorme quebra-cabeça e as relações entre os personagens vão se estabelecendo, existe um certo tom de urgência e de mistério que nos move episódio por episódio - a edição é um primor! Mas não é só isso, Hang-Yong também se apropria das dores mais intimas dos seus personagens e, pouco a pouco, vai justificando suas atitudes a partir das memórias mais marcantes de cada um - e desfecho do  capitão Han (Gong Yoo de "Round 6") é um ótimo exemplo.

Baseado em um curta-metragem homônimo do próprio Choi Hang-Yong, "O Mar da Tranquilidade" sabe trabalhar os símbolos de esperança (ao melhor estilo "Armagedom"), indicando que com inteligência, estudo e amor é possível almejar uma continuidade improvável diante de uma paisagem pós-apocalíptica (como em "O Céu da Meia-Noite") mesmo com muitos seres-humanos, mais uma vez, pensando só em si (como em "Passageiro Acidental").

Se você gosta de uma ficção científica raiz ao melhor estilo "Enigma de Andromeda", com uma história muito boa e uma produção incrível, pode dar o play sem medo!

Assista Agora

"O Mar da Tranquilidade" é uma excelente série de ficção científica, mas é preciso que se diga: embora dinâmica, não serão as ótimas cenas de ação que vão fazer a diferença na sua experiência! Aqui, o foco está na construção de uma história potente, na busca por respostas e, principalmente, na relação humana sob diversos olhares - mas uma coisa eu garanto, embora com um certo lirismo, toda essa estrutura narrativa está apoiada em um impactante conceito visual com efeitos muito bacanas. 

Em um planeta Terra do futuro que sofre uma terrível crise hídrica, a série (que tranquilamente poderia ser uma minissérie) acompanha a cientista e astrobióloga, Song Ji-an (Bae Doona de "Sense8"), que decide se juntar a uma importante missão para recuperar misteriosas amostras de uma substância em uma estação espacial na Lua. Porém, algum tempo antes, um trágico acidente aconteceu na estação, matando todos os astronautas que estavam lá, incluindo sua irmã. Agora esse novo grupo precisará descobrir o que aconteceu e talvez enfrentar uma perigosa ameaça. Confira o trailer:

Mar da Tranquilidade é uma região na lua, onde o Módulo Lunar Eagle, da Apollo 11, pousou em 1969 - e é justamente nesse local que se encontra uma enorme Estação de Pesquisa Lunar chamada "Balhae" e onde se desenvolve grande parte da história dessa produção sul coreana surpreendente. Apoiada em uma construção cênica sensacional, que mais parece um labirinto claustrofóbico do que um laboratório de pesquisa, o roteiro da série é muito inteligente em trabalhar, dentro da ficção científica, elementos que misturam suspense e conspiração política.  

É inegável que muitas das cenas, e até pelo clima de tensão construído pelo diretor estreante Choi Hang-Yong, nos fazem lembrar os bons tempos de "Alien, o Oitavo Passageiro" de Ridley Scott. Ao mesmo tempo que a narrativa vai nos entregando as peças de um enorme quebra-cabeça e as relações entre os personagens vão se estabelecendo, existe um certo tom de urgência e de mistério que nos move episódio por episódio - a edição é um primor! Mas não é só isso, Hang-Yong também se apropria das dores mais intimas dos seus personagens e, pouco a pouco, vai justificando suas atitudes a partir das memórias mais marcantes de cada um - e desfecho do  capitão Han (Gong Yoo de "Round 6") é um ótimo exemplo.

Baseado em um curta-metragem homônimo do próprio Choi Hang-Yong, "O Mar da Tranquilidade" sabe trabalhar os símbolos de esperança (ao melhor estilo "Armagedom"), indicando que com inteligência, estudo e amor é possível almejar uma continuidade improvável diante de uma paisagem pós-apocalíptica (como em "O Céu da Meia-Noite") mesmo com muitos seres-humanos, mais uma vez, pensando só em si (como em "Passageiro Acidental").

Se você gosta de uma ficção científica raiz ao melhor estilo "Enigma de Andromeda", com uma história muito boa e uma produção incrível, pode dar o play sem medo!

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O Mundo depois de nós

"O Mundo depois de nós" é muito bom, principalmente por saber como alimentar nossas expectativas, com uma atmosfera de tensão constante realmente impressionante,  para depois, conscientemente, quebrá-las sem dar todas as explicações. Dito isso, fica fácil atestar que sua maior força pode ser sua maior fraqueza para muitas pessoas - se colocando naquela incomoda prateleira do "8 ou 80" ou do "ame ou odeie" e adianto: para nós, está muito mais para o amor do 80!  Dirigido por Sam Esmail (mente criativa por trás de "Mr. Robot") o filme mistura drama e suspense, quase psicológico, ao melhor estilo, e respeitando suas diferenças de gênero, "The Bar" e "Rua Cloverfield, 10". Aqui, mais uma vez, é o terror perante o desconhecido que nos move como audiência!

O casal Amanda (Julia Roberts) e Clay (Ethan Hawke) vão passar um final de semana em uma mansão afastada da cidade com o simples intuito de descansar com seus filhos. Tudo vai bem até que um apagão traz dois desconhecidos com notícias de que algo muito estranho está acontecendo em todo EUA. E não é só isso, já que G.H. (Mahershala Ali) e Ruth (Myha'la) estão desesperados por abrigo, alegando que a casa é deles e que precisam entrar para se protegerem da grande ameaça invisível que arrisca a vida de todos. Agora, as duas famílias precisam se unir para se salvarem de um possível desastre e que, a cada momento, parece ficar mais assustador e perigoso. Confira o trailer:

O romance de Rumaan Alam que serviu de base para essa produção da Netflix, saiu bem em 2020 em uma época onde, infelizmente, a perspectiva sobre "o fim do mundo" pareceu sair da ficção para fazer parte do nosso cotidiano. Aquela sensação de angustia sobre a imprevisibilidade de uma situação que parecia impossível de acontecer, mas aconteceu, deixava um certo vazio e olha, assistindo essa adaptação posso te garantir que Esmail conseguiu replicar muito bem esse clima de incertezas em uma trama dinâmica, profunda e bem interessante. Saiba que a perspectiva de um "final infeliz" pelo ponto de vista de seis personagens diferentes, com suas prioridades e dores, é tão palpável que até os momentos visualmente mais impactantes (bem ao estilo filme catástrofe) parecem possíveis. 

Produzido por Michelle e Barack Obama, "O Mundo depois de nós" parece ter uma mensagem um tanto óbvia: estamos mais perto desse absurdo do que você pode imaginar! Tecnicamente tudo é construído para confirmar essa premissa - as composições em GC, por exemplo, são ótimas e estão muito bem integradas ao trabalho fotográfico do diretor Tod Campbell de ("Stranger Things") - reparem como aquela mansão, com tudo que ela proporciona de conforto, não serve para absolutamente nada quando o caos está presente do lado de fora. Campbell brinca com nossa percepção se insegurança usando a amplitude focal da mesma forma como Kyung-pyo Hong fez em "Parasita" - os movimentos mostram os pavimentos como uma forma de subversão social ao mesmo tempo que a porta de vidro no fundo da sala serve como uma espécie de moldura que separa o "real" (com uma Amanda tranquila se servindo de uma taça de vinho) do "improvável" (com uma dezena de cervos assustados observando ela entre as sombras e frio) - lindo de ver toda essa simbologia.

Com um elenco afiado, um roteiro bem construído e uma direção acima da média, "Leave the World Behind" (no original) vai além do óbvio e entrega uma experiência cativante e provocativa, especialmente em seus detalhes - seja com diálogos mais críticos ou com nuances visuais que exigem nossa atenção por tamanha sensibilidade. De fato Esmail consegue mesclaro terror do desconhecido com as complexidades das relações humanas na medida certa e isso nos provoca algumas reflexões sobre a fragilidade da sociedade moderna - como, aliás, aconteceu em 2020 (então não se esqueça desse detalhe em nenhum momento que tudo fará ainda mais sentido). 

Vale o seu play, mas não espere um filme com muita ação - a questão aqui é muito mais intima e interpretativa, ok?

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"O Mundo depois de nós" é muito bom, principalmente por saber como alimentar nossas expectativas, com uma atmosfera de tensão constante realmente impressionante,  para depois, conscientemente, quebrá-las sem dar todas as explicações. Dito isso, fica fácil atestar que sua maior força pode ser sua maior fraqueza para muitas pessoas - se colocando naquela incomoda prateleira do "8 ou 80" ou do "ame ou odeie" e adianto: para nós, está muito mais para o amor do 80!  Dirigido por Sam Esmail (mente criativa por trás de "Mr. Robot") o filme mistura drama e suspense, quase psicológico, ao melhor estilo, e respeitando suas diferenças de gênero, "The Bar" e "Rua Cloverfield, 10". Aqui, mais uma vez, é o terror perante o desconhecido que nos move como audiência!

O casal Amanda (Julia Roberts) e Clay (Ethan Hawke) vão passar um final de semana em uma mansão afastada da cidade com o simples intuito de descansar com seus filhos. Tudo vai bem até que um apagão traz dois desconhecidos com notícias de que algo muito estranho está acontecendo em todo EUA. E não é só isso, já que G.H. (Mahershala Ali) e Ruth (Myha'la) estão desesperados por abrigo, alegando que a casa é deles e que precisam entrar para se protegerem da grande ameaça invisível que arrisca a vida de todos. Agora, as duas famílias precisam se unir para se salvarem de um possível desastre e que, a cada momento, parece ficar mais assustador e perigoso. Confira o trailer:

O romance de Rumaan Alam que serviu de base para essa produção da Netflix, saiu bem em 2020 em uma época onde, infelizmente, a perspectiva sobre "o fim do mundo" pareceu sair da ficção para fazer parte do nosso cotidiano. Aquela sensação de angustia sobre a imprevisibilidade de uma situação que parecia impossível de acontecer, mas aconteceu, deixava um certo vazio e olha, assistindo essa adaptação posso te garantir que Esmail conseguiu replicar muito bem esse clima de incertezas em uma trama dinâmica, profunda e bem interessante. Saiba que a perspectiva de um "final infeliz" pelo ponto de vista de seis personagens diferentes, com suas prioridades e dores, é tão palpável que até os momentos visualmente mais impactantes (bem ao estilo filme catástrofe) parecem possíveis. 

Produzido por Michelle e Barack Obama, "O Mundo depois de nós" parece ter uma mensagem um tanto óbvia: estamos mais perto desse absurdo do que você pode imaginar! Tecnicamente tudo é construído para confirmar essa premissa - as composições em GC, por exemplo, são ótimas e estão muito bem integradas ao trabalho fotográfico do diretor Tod Campbell de ("Stranger Things") - reparem como aquela mansão, com tudo que ela proporciona de conforto, não serve para absolutamente nada quando o caos está presente do lado de fora. Campbell brinca com nossa percepção se insegurança usando a amplitude focal da mesma forma como Kyung-pyo Hong fez em "Parasita" - os movimentos mostram os pavimentos como uma forma de subversão social ao mesmo tempo que a porta de vidro no fundo da sala serve como uma espécie de moldura que separa o "real" (com uma Amanda tranquila se servindo de uma taça de vinho) do "improvável" (com uma dezena de cervos assustados observando ela entre as sombras e frio) - lindo de ver toda essa simbologia.

Com um elenco afiado, um roteiro bem construído e uma direção acima da média, "Leave the World Behind" (no original) vai além do óbvio e entrega uma experiência cativante e provocativa, especialmente em seus detalhes - seja com diálogos mais críticos ou com nuances visuais que exigem nossa atenção por tamanha sensibilidade. De fato Esmail consegue mesclaro terror do desconhecido com as complexidades das relações humanas na medida certa e isso nos provoca algumas reflexões sobre a fragilidade da sociedade moderna - como, aliás, aconteceu em 2020 (então não se esqueça desse detalhe em nenhum momento que tudo fará ainda mais sentido). 

Vale o seu play, mas não espere um filme com muita ação - a questão aqui é muito mais intima e interpretativa, ok?

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Osmosis

Quando assisti o trailer de "Osmosis" minha primeira impressão foi que a série poderia, tranquilamente, ser um episódio (ou um spin-off) de "Black Mirror". Porém, quando você vai assistindo os episódios da primeira temporada, ela vai, pouco a pouco, se afastando de "Black Mirror" e se aproximando de "Sense 8" - tanto no seu conceito narrativo (e em muitos momentos até na sua estrutura, o que pode parecer cansativo para aqueles que preferem mais ação e menos reflexão) quanto nas escolhas estéticas da direção e da fotografia: tudo é mais poético, com planos mais fechados, lentos e câmeras um pouco mais soltas do que normalmente vemos em uma ficção científica. O fato é que "Osmosis" vai agradar alguns, mas muitos vão odiar!

A série francesa é mais uma Original da Netflix e parte da premissa, criada pela Audrey Fouché (do sucesso “Les Revenants”), de que uma nova tecnologia é capaz de decodificar algumas informações químicas do nosso corpo, identificando assim quem seria nossa alma gêmea. Para isso, a empresa detentora dessa tecnologia, recruta algumas pessoas para testar esse aplicativo e é aí que o projeto começa desandar, afinal a própria motivação dos irmãos que comandam a empresa são diferentes e conflitantes.  Uma pergunta feita por uma personagem bem interessante, no episódio 3 (se não me engano), define bem as discussões que a série traz e que em muitos momentos derrapa em seu desenvolvimento pela superficialidade: "Seres humanos suportam um estado de felicidade permanente?"

Encontrar sua alma gêmea é ter a certeza de uma vida amorosa feliz, certo? Errado, porque as pessoas se relacionam com os sentimentos de formas completamente diferentes uma das outras! Essa camada é o ponto alto da série, mas, já adianto, é preciso uma boa dose de reflexão e de boa vontade para compreender coisas que o roteiro simplesmente parece ignorar (ou pelo menos aposta que deixar subentendido é o suficiente)! Os personagens são excelentes, mas ficaram na zona de conforto nessa 1ª temporada e nisso "Sense 8" dá de 10 a zero! As subtramas são fracas, especialmente a da protagonista Esther (Agathe Bonitzer) que quer usar a tecnologia que criou para salvar a vida da mãe que está em coma - tudo isso sem uma explicação plausível (pelo menos até agora) de como a finalidade do aplicativo pode servir para outra tão diferente - a série apenas cita o fato dela ter salvado o irmão de uma condição parecida, mas também sem muita coerência de fatos.

Eu pessoalmente gostei da série, mesmo com essas falhas narrativas. Achei a produção excelente, com uma fotografia linda e uma construção de futuro inteligente, pois usa dos detalhes (e um orçamento modesto) para nos ambientar, sem precisar de maiores intervenções de cenários em CG (que normalmente soam tão fakes) como em 3%, por exemplo. A direção também é muito bacana, autoral, delicada, poética! Os atores são mais inconstantes, as vezes internalizam uma situação chave muito bem, outras vezes saem completamente fora tom se apoiando em esteriótipos que escancaram a canastrice!

Bom, se você gostou de "Sense 8" é mais provável que você se identifique com "Osmosis". De "Black Mirror" você só vai encontrar uma lembrança distante "Hang the DJ"!!! Vale dar uma chance...

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Quando assisti o trailer de "Osmosis" minha primeira impressão foi que a série poderia, tranquilamente, ser um episódio (ou um spin-off) de "Black Mirror". Porém, quando você vai assistindo os episódios da primeira temporada, ela vai, pouco a pouco, se afastando de "Black Mirror" e se aproximando de "Sense 8" - tanto no seu conceito narrativo (e em muitos momentos até na sua estrutura, o que pode parecer cansativo para aqueles que preferem mais ação e menos reflexão) quanto nas escolhas estéticas da direção e da fotografia: tudo é mais poético, com planos mais fechados, lentos e câmeras um pouco mais soltas do que normalmente vemos em uma ficção científica. O fato é que "Osmosis" vai agradar alguns, mas muitos vão odiar!

A série francesa é mais uma Original da Netflix e parte da premissa, criada pela Audrey Fouché (do sucesso “Les Revenants”), de que uma nova tecnologia é capaz de decodificar algumas informações químicas do nosso corpo, identificando assim quem seria nossa alma gêmea. Para isso, a empresa detentora dessa tecnologia, recruta algumas pessoas para testar esse aplicativo e é aí que o projeto começa desandar, afinal a própria motivação dos irmãos que comandam a empresa são diferentes e conflitantes.  Uma pergunta feita por uma personagem bem interessante, no episódio 3 (se não me engano), define bem as discussões que a série traz e que em muitos momentos derrapa em seu desenvolvimento pela superficialidade: "Seres humanos suportam um estado de felicidade permanente?"

Encontrar sua alma gêmea é ter a certeza de uma vida amorosa feliz, certo? Errado, porque as pessoas se relacionam com os sentimentos de formas completamente diferentes uma das outras! Essa camada é o ponto alto da série, mas, já adianto, é preciso uma boa dose de reflexão e de boa vontade para compreender coisas que o roteiro simplesmente parece ignorar (ou pelo menos aposta que deixar subentendido é o suficiente)! Os personagens são excelentes, mas ficaram na zona de conforto nessa 1ª temporada e nisso "Sense 8" dá de 10 a zero! As subtramas são fracas, especialmente a da protagonista Esther (Agathe Bonitzer) que quer usar a tecnologia que criou para salvar a vida da mãe que está em coma - tudo isso sem uma explicação plausível (pelo menos até agora) de como a finalidade do aplicativo pode servir para outra tão diferente - a série apenas cita o fato dela ter salvado o irmão de uma condição parecida, mas também sem muita coerência de fatos.

Eu pessoalmente gostei da série, mesmo com essas falhas narrativas. Achei a produção excelente, com uma fotografia linda e uma construção de futuro inteligente, pois usa dos detalhes (e um orçamento modesto) para nos ambientar, sem precisar de maiores intervenções de cenários em CG (que normalmente soam tão fakes) como em 3%, por exemplo. A direção também é muito bacana, autoral, delicada, poética! Os atores são mais inconstantes, as vezes internalizam uma situação chave muito bem, outras vezes saem completamente fora tom se apoiando em esteriótipos que escancaram a canastrice!

Bom, se você gostou de "Sense 8" é mais provável que você se identifique com "Osmosis". De "Black Mirror" você só vai encontrar uma lembrança distante "Hang the DJ"!!! Vale dar uma chance...

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Oxigênio

"Oxigênio" segue o conceito narrativo de "Náufrago", filme lançado em 2000 com Tom Hanks. Mas calma, os ajustes entre gênero e modernidade, na minha opinião, funcionam muito melhor nessa ficção científica francesa da Netflix do diretor Alexandre Aja do que no filme do Robert Zemeckis . Veja, em pouco mais de 90 minutos acompanhamos uma única atriz, em um único cenário, atuando com uma voz sintetizada, ou seja, troque o ótimo trabalho de Tom Hanks pela igualmente competente Mélanie Laurent, uma ilha deserta por uma claustrofóbica câmara criogênica e o Wilson pela inteligência artificial, MILO (com um ótimo trabalho de voz de Mathieu Amalric) - e não acabou, adicione uma ambientação marcante cheia de mistério e incertezas, e a angústia da corrida contra o tempo na busca pela sobrevivência!

"Oxygène" (no original) conta a história de Elisabeth Hansen (Laurent), que acorda envolta de uma espécie de casulo em uma câmara criogênica. Ela retoma a consciência com dificuldade para lembrar o seu passado, sem entender como funciona a cápsula que se encontra trancada e ainda precisa correr contra o tempo para viver, afinal um monitor apresenta um limite de 35% de oxigênio disponível. A sensação de claustrofobia e o desespero a deixam confusa, sem saber o que é realidade e o que é uma memória falsa. No limite da sua sanidade, ela tenta entender o que está acontecendo, mas, principalmente, encontrar uma saída com vida. Confira o trailer:

Obviamente que dois elementos saltam aos olhos de cara: a capacidade de Mélanie Laurent carregar o filme praticamente sozinha sem contracenar com ninguém (nem com uma bola) e o roteiro inteligente e dinâmico da estreante Christie LeBlanc. É impressionante como não sentimos o tempo passar e como todos os melhores recursos de suspense e mistério funcionam em torno da história, conforme Elisabeth vai descobrindo cada novo dispositivo na câmara e como as pistas sobre como ela foi parar ali vão sendo apresentadas - aqui cabem duas ótimas referências: "Calls" e "A Chegada".

O trabalho do diretor Alexandre Aja merece elogios, afinal, mesmo preso em suas próprias limitações cênicas, ele consegue desenvolver uma movimentação de câmera bastante criativa, flutuando pelo espaço reduzido e criando momentos de alívios narrativos - que acaba trazendo uma sensação de "respiro", mas que imediatamente é diluída com a tensão limitadora da falta de oxigênio - aí ele usa e abusa das lentes mais fechadas, focando no rosto da protagonista para demonstrar suas reações perante essa situação. Reparem como a câmera, de fato, está ali para contar a história apoiada apenas em sensações que o diretor quer nos provocar! A fotografia, a base de leds e cirurgicamente azulada, do diretor Maxime Alexandre lembra muito o genial trabalho do Dion Beebe e do Paul Cameron em "Colateral".

“Oxigênio” transita entre o surpreendente e o óbvio, mas é inegável como tantos "pontos de virada" entregam um excelente ritmo ao filme. Veja, ele pode até começar com pegada claramente minimalista, mas não necessariamente terminará assim - na forma e no conteúdo. Minha única crítica diz respeito a última cena: completamente dispensável, mas aqui é uma opinião muito pessoal - sem impacto algum na ótima experiência que é assistir “Oxigênio”.

Embora seja uma ficção científica de qualidade, seus elementos de suspense psicológico só colaboram para que o roteiro e a performance da protagonista brilhem! Vale muito seu play por todos esses motivos e se você gostar do gênero!

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"Oxigênio" segue o conceito narrativo de "Náufrago", filme lançado em 2000 com Tom Hanks. Mas calma, os ajustes entre gênero e modernidade, na minha opinião, funcionam muito melhor nessa ficção científica francesa da Netflix do diretor Alexandre Aja do que no filme do Robert Zemeckis . Veja, em pouco mais de 90 minutos acompanhamos uma única atriz, em um único cenário, atuando com uma voz sintetizada, ou seja, troque o ótimo trabalho de Tom Hanks pela igualmente competente Mélanie Laurent, uma ilha deserta por uma claustrofóbica câmara criogênica e o Wilson pela inteligência artificial, MILO (com um ótimo trabalho de voz de Mathieu Amalric) - e não acabou, adicione uma ambientação marcante cheia de mistério e incertezas, e a angústia da corrida contra o tempo na busca pela sobrevivência!

"Oxygène" (no original) conta a história de Elisabeth Hansen (Laurent), que acorda envolta de uma espécie de casulo em uma câmara criogênica. Ela retoma a consciência com dificuldade para lembrar o seu passado, sem entender como funciona a cápsula que se encontra trancada e ainda precisa correr contra o tempo para viver, afinal um monitor apresenta um limite de 35% de oxigênio disponível. A sensação de claustrofobia e o desespero a deixam confusa, sem saber o que é realidade e o que é uma memória falsa. No limite da sua sanidade, ela tenta entender o que está acontecendo, mas, principalmente, encontrar uma saída com vida. Confira o trailer:

Obviamente que dois elementos saltam aos olhos de cara: a capacidade de Mélanie Laurent carregar o filme praticamente sozinha sem contracenar com ninguém (nem com uma bola) e o roteiro inteligente e dinâmico da estreante Christie LeBlanc. É impressionante como não sentimos o tempo passar e como todos os melhores recursos de suspense e mistério funcionam em torno da história, conforme Elisabeth vai descobrindo cada novo dispositivo na câmara e como as pistas sobre como ela foi parar ali vão sendo apresentadas - aqui cabem duas ótimas referências: "Calls" e "A Chegada".

O trabalho do diretor Alexandre Aja merece elogios, afinal, mesmo preso em suas próprias limitações cênicas, ele consegue desenvolver uma movimentação de câmera bastante criativa, flutuando pelo espaço reduzido e criando momentos de alívios narrativos - que acaba trazendo uma sensação de "respiro", mas que imediatamente é diluída com a tensão limitadora da falta de oxigênio - aí ele usa e abusa das lentes mais fechadas, focando no rosto da protagonista para demonstrar suas reações perante essa situação. Reparem como a câmera, de fato, está ali para contar a história apoiada apenas em sensações que o diretor quer nos provocar! A fotografia, a base de leds e cirurgicamente azulada, do diretor Maxime Alexandre lembra muito o genial trabalho do Dion Beebe e do Paul Cameron em "Colateral".

“Oxigênio” transita entre o surpreendente e o óbvio, mas é inegável como tantos "pontos de virada" entregam um excelente ritmo ao filme. Veja, ele pode até começar com pegada claramente minimalista, mas não necessariamente terminará assim - na forma e no conteúdo. Minha única crítica diz respeito a última cena: completamente dispensável, mas aqui é uma opinião muito pessoal - sem impacto algum na ótima experiência que é assistir “Oxigênio”.

Embora seja uma ficção científica de qualidade, seus elementos de suspense psicológico só colaboram para que o roteiro e a performance da protagonista brilhem! Vale muito seu play por todos esses motivos e se você gostar do gênero!

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Paraíso

"Paraíso" é um filme alemão lançado pela Netflix que chegou quietinho, mas que rapidamente se tornou bastante popular entre os assinantes ao redor do mundo. Combinando elementos de drama, suspense e, principalmente, ficção científica, bem ao estilo "Black Mirror", a série oferece uma visão muito particular sobre uma sociedade onde alguns avanços tecnológicos subvertem a forma como nos relacionamos com a vida finita do ser-humano. Sempre se apoiando em temas complexos que vão desde os problemas de distribuição de renda e os reflexos do capitalismo descontrolado até a questão dos refugiados na Europa, o filme dirigido pelo trio de novatos Boris Kunz, Tomas Jonsgården e Indre Juskute, acerta em cheio ao levar a expressão "tempo é dinheiro" para outro patamar, no entanto, e é preciso que se diga, a ansiedade em tratar tantos temas acaba prejudicando (um pouco) nossa experiência.

Max (Kostja Ullmann) é um executivo de vendas de uma empresa que fez fortuna ao comprar o tempo de pessoas pobres e vender para os muito ricos. Sim, com uma tecnologia revolucionária a AEON explora as pessoas que precisam mais de dinheiro do que do tempo para viver, para lucrar muito. Tudo vai bem entre ele e a esposa, Elena (Marlene Tanczik), até que o apartamento do casal pega fogo misteriosamente e os dois, completamente falidos, precisam ceder 40 anos da vida dela, para acertar as contas com o banco. Como ver sua esposa envelhecer tanto da noite para o dia parece não ser uma opção, Max inicia uma dura jornada para tentar salvá-la. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Sem dúvida que o ponto alto de "Paraíso" está no forma como o roteiro contextualiza esse futuro distópico sem fugir da realidade - pelo menos nas discussões morais que implicam o conceito base da narrativa: o de trocar tempo por dinheiro.  Com toda a frieza do já reconhecido cinema alemão, o trio de diretores nos colocam nessa história com certo requinte de crueldade, já que a conexão com os protagonistas é praticamente imediata - mesmo que alguns diálogos do primeiro ato soem muito mais institucionalizados do que naturais. Se em um primeiro momento os protagonistas parecem dois burgueses que não se importam em explorar os mais pobres em troca de uma condição de vida melhor, rapidamente eles se tornam vítimas do próprio sistema que ajudamalimentar (sim, você terá a sensação de ter assistido algo assim em algum momento).

Veja, o fato do protagonista em conflito não ser um herói de nada, cria camadas que poderiam ser melhor desenvolvidas, mas falta tempo (e desculpem o trocadilho)! Se fosse uma série, "Paraíso" certamente cadenciaria mais a narrativa, exploraria a situação de uma maneira mais intima, onde o protagonista, que até então estava em sua bolha, acomodado, a partir de seu trauma invocaria para si um sentido de heroísmo que poderia transforma-lo mesmo com seu passado condenável. Acontece que os 120 minutos do filme jogam contra, pois é preciso acelerar e entre uma cena e outra se perde o potencial da premissa.

Rodado todo na Lituânia o filme sabe equilibrar perfeitamente um ótimo desenho de produção com locações deslumbrantes - meio "Filhos da Esperança" do Alfonso Cuarón. A fotografia do Christian Stangassinger e a trilha sonora do David Reichelt merecem elogios, já que são essenciais para criar toda uma atmosfera distópica extremamente densa. Assim, é realmente uma pena que a história tenha sofrido com o formato já que poderia render algo muito mais impactante. Ao escolher ser uma aventura rápida e sem maiores pretensões, "Paraíso" sai da prateleira da disrupção narrativa dos primeiros anos de "Black Mirror" e entra na do entretenimento puro de "Osmosis" e "The One". Funciona, diverte, mas não marca!

Assista Agora

"Paraíso" é um filme alemão lançado pela Netflix que chegou quietinho, mas que rapidamente se tornou bastante popular entre os assinantes ao redor do mundo. Combinando elementos de drama, suspense e, principalmente, ficção científica, bem ao estilo "Black Mirror", a série oferece uma visão muito particular sobre uma sociedade onde alguns avanços tecnológicos subvertem a forma como nos relacionamos com a vida finita do ser-humano. Sempre se apoiando em temas complexos que vão desde os problemas de distribuição de renda e os reflexos do capitalismo descontrolado até a questão dos refugiados na Europa, o filme dirigido pelo trio de novatos Boris Kunz, Tomas Jonsgården e Indre Juskute, acerta em cheio ao levar a expressão "tempo é dinheiro" para outro patamar, no entanto, e é preciso que se diga, a ansiedade em tratar tantos temas acaba prejudicando (um pouco) nossa experiência.

Max (Kostja Ullmann) é um executivo de vendas de uma empresa que fez fortuna ao comprar o tempo de pessoas pobres e vender para os muito ricos. Sim, com uma tecnologia revolucionária a AEON explora as pessoas que precisam mais de dinheiro do que do tempo para viver, para lucrar muito. Tudo vai bem entre ele e a esposa, Elena (Marlene Tanczik), até que o apartamento do casal pega fogo misteriosamente e os dois, completamente falidos, precisam ceder 40 anos da vida dela, para acertar as contas com o banco. Como ver sua esposa envelhecer tanto da noite para o dia parece não ser uma opção, Max inicia uma dura jornada para tentar salvá-la. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Sem dúvida que o ponto alto de "Paraíso" está no forma como o roteiro contextualiza esse futuro distópico sem fugir da realidade - pelo menos nas discussões morais que implicam o conceito base da narrativa: o de trocar tempo por dinheiro.  Com toda a frieza do já reconhecido cinema alemão, o trio de diretores nos colocam nessa história com certo requinte de crueldade, já que a conexão com os protagonistas é praticamente imediata - mesmo que alguns diálogos do primeiro ato soem muito mais institucionalizados do que naturais. Se em um primeiro momento os protagonistas parecem dois burgueses que não se importam em explorar os mais pobres em troca de uma condição de vida melhor, rapidamente eles se tornam vítimas do próprio sistema que ajudamalimentar (sim, você terá a sensação de ter assistido algo assim em algum momento).

Veja, o fato do protagonista em conflito não ser um herói de nada, cria camadas que poderiam ser melhor desenvolvidas, mas falta tempo (e desculpem o trocadilho)! Se fosse uma série, "Paraíso" certamente cadenciaria mais a narrativa, exploraria a situação de uma maneira mais intima, onde o protagonista, que até então estava em sua bolha, acomodado, a partir de seu trauma invocaria para si um sentido de heroísmo que poderia transforma-lo mesmo com seu passado condenável. Acontece que os 120 minutos do filme jogam contra, pois é preciso acelerar e entre uma cena e outra se perde o potencial da premissa.

Rodado todo na Lituânia o filme sabe equilibrar perfeitamente um ótimo desenho de produção com locações deslumbrantes - meio "Filhos da Esperança" do Alfonso Cuarón. A fotografia do Christian Stangassinger e a trilha sonora do David Reichelt merecem elogios, já que são essenciais para criar toda uma atmosfera distópica extremamente densa. Assim, é realmente uma pena que a história tenha sofrido com o formato já que poderia render algo muito mais impactante. Ao escolher ser uma aventura rápida e sem maiores pretensões, "Paraíso" sai da prateleira da disrupção narrativa dos primeiros anos de "Black Mirror" e entra na do entretenimento puro de "Osmosis" e "The One". Funciona, diverte, mas não marca!

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Passageiro Acidental

"Passageiro Acidental" é uma excelente surpresa no catálogo da Netflix. Partindo do princípio que o filme chegou sem grandes expectativas e com uma estratégia de marketing bem tímida, fica fácil afirmar que o segundo filme dirigido pelo brasileiro Joe Penna (o primeiro foi o ótimo "Arctic") é um grande acerto da plataforma - o que para uma parcela de seus assinantes vem se tornando cada vez mais raros.

Na história acompanhamos uma talentosa tripulação de três pessoas em uma missão que vai durar dois anos até Marte: a Dra. Zoe Levenson (Anna Kendrick), o cientista David Kim (Daniel Dae Kim) e a comandante Marina Barnett (Toni Collete). No entanto, as coisas ficam complicadas para eles quando um passageiro inesperado, Michael Adams (Shamier Anderson), acidentalmente causa danos irreparáveis à nave. Com os recursos comprometidos e diante de um resultado fatal, a tripulação é obrigada a tomar uma difícil decisão: só existe oxigênio para três pessoas, ou seja, alguém vai ter que perder a vida! Confira o trailer:

Esse é o tipo de filme que vai dividir opiniões, já que sua estrutura narrativa não está linhada com aquele tipo de audiência que chegou ao título pelo gênero e sem saber muito sobre a história. Não será surpresa nenhuma que alguém se decepcione por não se tratar de uma trama cheia de suspense ou até de terror espacial - esquece! "Passageiro Acidental" está mais para "Gravidade" e anos luz de "Alien".

É até compreensível supor que um passageiro misterioso possa ter uma motivação maior para está ali, inclusive, sendo uma ameaça para todos - em muitos momentos do primeiro ato temos a sensação que algo aterrorizante está por vir, porém se lermos atentamente o conceito imposto logo na primeira sequência do filme  (que é ótima por sinal) é de se imaginar que a imersão psicológica de estar em um ambiente sem total controle dos personagens, é o que vai pautar essa jornada. Se Penna não tem a experiência (e o orçamento) de Alfonso Cuarón é de se elogiar sua coerência ao transformar uma premissa simples em um experiência social que nos provoca reflexão e julgamentos a todo momento. Lembre-se: pouco importa qual é a verdadeira razão de um passageiro clandestino estar ali, o grande conflito está na luta pela sobrevivência e nos dilemas morais que isso representa!

Como em "Gravidade", temos um roteiro enxuto e uma edição muito competente para criar uma dinâmica consistente para nos prender por pouco mais de 120 minutos. As sequências são eficientes, envolventes e bem articuladas, mas carecia de um cuidado técnico maior, principalmente na fotografia e na composição entre edição de som e mixagem -  faltou silêncio ao filme, muitos efeitos foram exagerados e a trilha para pontuar a emoção serviu quase como uma bengala. Não é um problema que atrapalhe a experiência, mas precisa ser pontuado.

"Passageiro Acidental" (ou "Stowaway" no original) é um drama no espaço! O drama na concepção da palavra se encaixa perfeitamente às sensações que temos ao assistir o filme e a escolha do roteiro em nos limitar algumas informações, como quando a comandante Barnett se comunica com a Terra, só colabora para transformar uma jornada que parece morna em algo angustiante e misterioso. Se você não gosta de filmes como "Gravidade" ou que testam os limites morais como "127 horas", por exemplo, não dê o play. Agora se você se identifica com os dilemas por trás de cenas bem construídas, vai tranquilo que sua surpresa está garantida.

Excelente entretenimento!

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"Passageiro Acidental" é uma excelente surpresa no catálogo da Netflix. Partindo do princípio que o filme chegou sem grandes expectativas e com uma estratégia de marketing bem tímida, fica fácil afirmar que o segundo filme dirigido pelo brasileiro Joe Penna (o primeiro foi o ótimo "Arctic") é um grande acerto da plataforma - o que para uma parcela de seus assinantes vem se tornando cada vez mais raros.

Na história acompanhamos uma talentosa tripulação de três pessoas em uma missão que vai durar dois anos até Marte: a Dra. Zoe Levenson (Anna Kendrick), o cientista David Kim (Daniel Dae Kim) e a comandante Marina Barnett (Toni Collete). No entanto, as coisas ficam complicadas para eles quando um passageiro inesperado, Michael Adams (Shamier Anderson), acidentalmente causa danos irreparáveis à nave. Com os recursos comprometidos e diante de um resultado fatal, a tripulação é obrigada a tomar uma difícil decisão: só existe oxigênio para três pessoas, ou seja, alguém vai ter que perder a vida! Confira o trailer:

Esse é o tipo de filme que vai dividir opiniões, já que sua estrutura narrativa não está linhada com aquele tipo de audiência que chegou ao título pelo gênero e sem saber muito sobre a história. Não será surpresa nenhuma que alguém se decepcione por não se tratar de uma trama cheia de suspense ou até de terror espacial - esquece! "Passageiro Acidental" está mais para "Gravidade" e anos luz de "Alien".

É até compreensível supor que um passageiro misterioso possa ter uma motivação maior para está ali, inclusive, sendo uma ameaça para todos - em muitos momentos do primeiro ato temos a sensação que algo aterrorizante está por vir, porém se lermos atentamente o conceito imposto logo na primeira sequência do filme  (que é ótima por sinal) é de se imaginar que a imersão psicológica de estar em um ambiente sem total controle dos personagens, é o que vai pautar essa jornada. Se Penna não tem a experiência (e o orçamento) de Alfonso Cuarón é de se elogiar sua coerência ao transformar uma premissa simples em um experiência social que nos provoca reflexão e julgamentos a todo momento. Lembre-se: pouco importa qual é a verdadeira razão de um passageiro clandestino estar ali, o grande conflito está na luta pela sobrevivência e nos dilemas morais que isso representa!

Como em "Gravidade", temos um roteiro enxuto e uma edição muito competente para criar uma dinâmica consistente para nos prender por pouco mais de 120 minutos. As sequências são eficientes, envolventes e bem articuladas, mas carecia de um cuidado técnico maior, principalmente na fotografia e na composição entre edição de som e mixagem -  faltou silêncio ao filme, muitos efeitos foram exagerados e a trilha para pontuar a emoção serviu quase como uma bengala. Não é um problema que atrapalhe a experiência, mas precisa ser pontuado.

"Passageiro Acidental" (ou "Stowaway" no original) é um drama no espaço! O drama na concepção da palavra se encaixa perfeitamente às sensações que temos ao assistir o filme e a escolha do roteiro em nos limitar algumas informações, como quando a comandante Barnett se comunica com a Terra, só colabora para transformar uma jornada que parece morna em algo angustiante e misterioso. Se você não gosta de filmes como "Gravidade" ou que testam os limites morais como "127 horas", por exemplo, não dê o play. Agora se você se identifica com os dilemas por trás de cenas bem construídas, vai tranquilo que sua surpresa está garantida.

Excelente entretenimento!

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Power

Inicialmente o que mais me chamou a atenção em "Power" (ou "Project Power", título original) foi o fato de se tratar de um projeto do diretores Henry Joost e Ariel Schulman, reponsáveis pelo ótimo "Nerve" e pela adaptação (do anunciado) "Megaman". Acontece que essa produção da Netflix, com um orçamento de 85 milhões de dólares, se apega tanto nas cenas de ação que acaba esquecendo de contar a história como deveria.

O filme acompanha um ex-militar, Art (Jamie Foxx) e um policial, Frank (Joseph Gordon-Levitt) que tentam descobrir quem está por trás do tráfico de uma nova droga que dá para seus usuários superpoderes aleatórios e com isso, claro, gerando uma série de problemas na cidade de New Orleans. Confira o trailer:

Embora não seja uma história muito original (basta lembrarmos do que assistimos em "The Boys"), "Power" tem alguns elementos bastante interessantes para um gênero de ação com grife - seu conceito visual e a montagem mais clipada, não são novidades, mas trazem uma certa elegância e uma dinâmica bacana para o filme, porém o roteiro não acompanha essa qualidade. Me deu a impressão de que quiseram criar algo tão complexo, que faltou tempo de tela para desenvolver todos os personagens - o fato de não sabermos exatamente quem é o vilão, é um ótimo exemplo dessa incoerência.

Mattson Tomlin é um roteirista romeno que caiu nas graças de Hollywood depois de escrever e dirigir alguns curtas-metragens. O interessante, porém, é que mesmo sem uma carreira premiada, Tomlin está envolvido com projetos grandes (e caros) como o do novo Batman, por exemplo. Só que seu trabalho em "Power" me deixou com a pulga atrás da orelha. Seu roteiro é irregular, com falhas técnicas, de certa forma, primárias para quem deveria dominar a gramática da ação - como já citamos, a falta de definição do vilão é o que mais me incomodou: em um primeiro momento achamos que seria o Rodrigo Santoro (e o seu estereotipado Biggie), logo depois achamos que o vilão mesmo é o fortão Wallace (Tait Fletcher), quando na verdade quem realmente manda em tudo é a Gardner (Amy Landecker). Outra coisa, o escolher para qual "mocinho" torcer também é um pouco confuso: seria para o Art, para o Frank ou para a adolescente Robin (Dominique Fishback)? Na verdade até não seria um grande problema ter três protagonistas, desde que ficasse estabelecido a importância de cada um dentro do contexto e com suas motivações bem desenvolvidas - não é o caso! O fato de não se aprofundar em nenhum dos temas que aborda, inclusive com algumas criticas sociais bem pontuadas, e nem explicar muito bem todas as motivações dos personagens-chave faz com que até os diálogos cheios de clichês pareçam gratuitos demais. E aqui cabe uma pequena observação: existe uma cultura de que filme de ação não precisa ter um bom roteiro para valer a pena, eu discordo, mas respeito - mas o que não pode, na minha opinião, é abrir mão de uma certa identificação com o protagonista para que venhamos a torcer por ele durante toda a jornada e no caso de "Power" isso acontece - sem falar que não existe grandes dificuldades para vencer os inimigos, nos privando daquela "tensão" pré combate!

A jovem Dominique Fishback talvez seja o destaque do elenco. Santoro tem potencial para mais, mas seu texto e tempo de tela não ajudaram. Jamie Foxx e Joseph Gordon-Levitt fazem o arroz com feijão bem feito e saem no 0 x 0. Amy Landecker e Tait Fletcher quase não aparecem, então não prejudicam. Alguns pontos que merecem destaque mostram a qualidade dos diretores: mesmo com uma edição bastante picotada (e aqui é impossível saber o quanto os produtores influenciaram no trabalho do montador Jeff McEvoy), o filme é bastante inventivo em algumas cenas de ação onde a câmera não está no lugar mais óbvio - isso pode causar uma certa confusão em algum momento, mas nos coloca dentro da cena: a sequência inicial do "Tocha Humana" e a cena no cassino clandestino com a "Mulher de Gelo" foram muito bem executadas. Reparem!

Antes de finalizar uma curiosidade que provavelmente vai passar despercebido para muitos, mas vale a referência: a camisa que Joseph Gordon-Levitt usa durante todo o filme é do time de futebol americano da cidade de New Orleans, o Saints. O nome estampado atrás é de um jogador chamado Steve Gleason - ele é considerado um verdadeiro herói por bloquear um punt do Falcons (de Atlanta) que acabou culminando no primeiro touchdownda equipe no seu retorno ao Estádio, que foi símbolo de uma cidade destruída pelo furacão Katrina. Essa jogada foi eternizada por uma estátua na frente do Superdome, mas a história não acaba por aí: em 2011, já aposentado e ainda muito jovem, Gleason foi diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica (ELA) poucos dias antes de receber a noticia de que seria pai pela primeira vez! Com medo de não ter saúde para conhecer e se relacionar com o filho, Gleason resolve filmar sua rotina para fazer uma espécie de diário para seu filho e toda essa jornada acabou virando um emocionante documentário que leva o seu nome!

Dito isso e voltando ao motivo desse review, posso dizer que os amantes do gênero de ação vão se divertir com "Power", mas é inegável que, se melhor desenvolvida, a história entregaria muito mais que um filme sobre drogas e heróis sem uniforme. Toda aquela ambição pelo poder pincelada em algumas cenas poderiam transformar o filme em uma ótima alegoria sobre o egoísmo e corrupção social, existentes na cultura da violência, tão em alta ultimamente.

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Inicialmente o que mais me chamou a atenção em "Power" (ou "Project Power", título original) foi o fato de se tratar de um projeto do diretores Henry Joost e Ariel Schulman, reponsáveis pelo ótimo "Nerve" e pela adaptação (do anunciado) "Megaman". Acontece que essa produção da Netflix, com um orçamento de 85 milhões de dólares, se apega tanto nas cenas de ação que acaba esquecendo de contar a história como deveria.

O filme acompanha um ex-militar, Art (Jamie Foxx) e um policial, Frank (Joseph Gordon-Levitt) que tentam descobrir quem está por trás do tráfico de uma nova droga que dá para seus usuários superpoderes aleatórios e com isso, claro, gerando uma série de problemas na cidade de New Orleans. Confira o trailer:

Embora não seja uma história muito original (basta lembrarmos do que assistimos em "The Boys"), "Power" tem alguns elementos bastante interessantes para um gênero de ação com grife - seu conceito visual e a montagem mais clipada, não são novidades, mas trazem uma certa elegância e uma dinâmica bacana para o filme, porém o roteiro não acompanha essa qualidade. Me deu a impressão de que quiseram criar algo tão complexo, que faltou tempo de tela para desenvolver todos os personagens - o fato de não sabermos exatamente quem é o vilão, é um ótimo exemplo dessa incoerência.

Mattson Tomlin é um roteirista romeno que caiu nas graças de Hollywood depois de escrever e dirigir alguns curtas-metragens. O interessante, porém, é que mesmo sem uma carreira premiada, Tomlin está envolvido com projetos grandes (e caros) como o do novo Batman, por exemplo. Só que seu trabalho em "Power" me deixou com a pulga atrás da orelha. Seu roteiro é irregular, com falhas técnicas, de certa forma, primárias para quem deveria dominar a gramática da ação - como já citamos, a falta de definição do vilão é o que mais me incomodou: em um primeiro momento achamos que seria o Rodrigo Santoro (e o seu estereotipado Biggie), logo depois achamos que o vilão mesmo é o fortão Wallace (Tait Fletcher), quando na verdade quem realmente manda em tudo é a Gardner (Amy Landecker). Outra coisa, o escolher para qual "mocinho" torcer também é um pouco confuso: seria para o Art, para o Frank ou para a adolescente Robin (Dominique Fishback)? Na verdade até não seria um grande problema ter três protagonistas, desde que ficasse estabelecido a importância de cada um dentro do contexto e com suas motivações bem desenvolvidas - não é o caso! O fato de não se aprofundar em nenhum dos temas que aborda, inclusive com algumas criticas sociais bem pontuadas, e nem explicar muito bem todas as motivações dos personagens-chave faz com que até os diálogos cheios de clichês pareçam gratuitos demais. E aqui cabe uma pequena observação: existe uma cultura de que filme de ação não precisa ter um bom roteiro para valer a pena, eu discordo, mas respeito - mas o que não pode, na minha opinião, é abrir mão de uma certa identificação com o protagonista para que venhamos a torcer por ele durante toda a jornada e no caso de "Power" isso acontece - sem falar que não existe grandes dificuldades para vencer os inimigos, nos privando daquela "tensão" pré combate!

A jovem Dominique Fishback talvez seja o destaque do elenco. Santoro tem potencial para mais, mas seu texto e tempo de tela não ajudaram. Jamie Foxx e Joseph Gordon-Levitt fazem o arroz com feijão bem feito e saem no 0 x 0. Amy Landecker e Tait Fletcher quase não aparecem, então não prejudicam. Alguns pontos que merecem destaque mostram a qualidade dos diretores: mesmo com uma edição bastante picotada (e aqui é impossível saber o quanto os produtores influenciaram no trabalho do montador Jeff McEvoy), o filme é bastante inventivo em algumas cenas de ação onde a câmera não está no lugar mais óbvio - isso pode causar uma certa confusão em algum momento, mas nos coloca dentro da cena: a sequência inicial do "Tocha Humana" e a cena no cassino clandestino com a "Mulher de Gelo" foram muito bem executadas. Reparem!

Antes de finalizar uma curiosidade que provavelmente vai passar despercebido para muitos, mas vale a referência: a camisa que Joseph Gordon-Levitt usa durante todo o filme é do time de futebol americano da cidade de New Orleans, o Saints. O nome estampado atrás é de um jogador chamado Steve Gleason - ele é considerado um verdadeiro herói por bloquear um punt do Falcons (de Atlanta) que acabou culminando no primeiro touchdownda equipe no seu retorno ao Estádio, que foi símbolo de uma cidade destruída pelo furacão Katrina. Essa jogada foi eternizada por uma estátua na frente do Superdome, mas a história não acaba por aí: em 2011, já aposentado e ainda muito jovem, Gleason foi diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica (ELA) poucos dias antes de receber a noticia de que seria pai pela primeira vez! Com medo de não ter saúde para conhecer e se relacionar com o filho, Gleason resolve filmar sua rotina para fazer uma espécie de diário para seu filho e toda essa jornada acabou virando um emocionante documentário que leva o seu nome!

Dito isso e voltando ao motivo desse review, posso dizer que os amantes do gênero de ação vão se divertir com "Power", mas é inegável que, se melhor desenvolvida, a história entregaria muito mais que um filme sobre drogas e heróis sem uniforme. Toda aquela ambição pelo poder pincelada em algumas cenas poderiam transformar o filme em uma ótima alegoria sobre o egoísmo e corrupção social, existentes na cultura da violência, tão em alta ultimamente.

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Preso na Escuridão

"Vanilla Sky" está, sem dúvida, entre meus filmes preferidos! Muito bem conduzido pelo Cameron Crowe, "Vanilla Sky", produção de 2001, foi o primeiro filme que lembro ter me desafiado intelectualmente. Pois bem, após assistir a versão original "Preso na Escuridão" (ou "Abre Los Ojos" no original), tenho que admitir: ela é ainda melhor! O filme é infinitamente mais humano que seu remake americano, seu roteiro é ainda mais sensível e aquele conceito visual mais independente do genial diretor chileno, Alejandro Amenábar (de "Os Outros"), é muito mais bonito. Olha, esse filme é uma obra-prima por si só - ele apresenta uma narrativa complexa, com performances verdadeiramente cativantes, além de uma exploração profunda do valor da identidade de uma forma muito sensorial, eu diria, inclusive, única! Que experiência que o streaming nos proporciona! Assista! 

A história acompanha a vida de César (Eduardo Noriega), um jovem carismático que tem tudo: beleza, riqueza e sucesso. No entanto, sua vida muda drasticamente após um acidente de carro, que o deixa desfigurado e com cicatrizes graves. À medida que ele tenta lidar com sua nova aparência e reconstruir sua vida, César mergulha em um mundo de sonhos e pesadelos interconectados, onde a linha entre a realidade e a fantasia se torna cada vez mais obscura.

É impressionante como "Preso na Escuridão" nos entrega uma atmosfera intensamente envolvente, provocadora e, claro, perturbadora. Amenábar, ao lado de seu fotógrafo Hans Burmann (de "Amnésia"), trabalha o conceito estético do filme de uma forma meticulosa, aproveitando de uma trilha sonora arrebatadora para transmitir a sensação de paranoia que permeia a mente do protagonista. Reparem nas sequências de sonhos e alucinações - elas são especialmente marcantes, com imagens surreais que desafiam nossas expectativas e nos levam a questionar o que é real e o que é fruto da imaginação.

O desempenho de Eduardo Noriega é brilhante e complexo - ele é capaz de capturar perfeitamente a transformação de um homem confiante e sedutor em um ser atormentado e desesperado - e aqui sem os trejeitos de uma figura já consagrada como Tom Cruise. A química entre Noriega e Penélope Cruz, que interpreta a enigmática Sofia, traz uma camada adicional de profundidade emocional à trama que chega a ser desconfortável. Veja, não será uma única que vez que você vai ser colocar no lugar de César e também de Sofia. O roteiro do próprio Amenábar trabalha essas sensações com reviravoltas surpreendentes - mas surpreendentes mesmo!

"Preso na Escuridão" é inteligente, criativo e potente, capaz de explorar questões filosóficas profundas, como a natureza da identidade, a influência da percepção na construção da realidade e os limites da nossa compreensão sobre mundo, sobre o amor e sobre nossa capacidade de se redimir, com a mesma competência com que nos provoca simples reflexões. De uma forma intrigante, o filme nos desafiado a cada cena,  exigindo o máximo da nossa atenção e concentração - como um convite intelectualmente estimulante. 

Pode acreditar "Preso na Escuridão" certamente merece um lugar na sua lista de filmes imperdíveis.

PS: O filme recebeu 10 indicações ao prêmio Goya de 1999, além de vencer 

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"Vanilla Sky" está, sem dúvida, entre meus filmes preferidos! Muito bem conduzido pelo Cameron Crowe, "Vanilla Sky", produção de 2001, foi o primeiro filme que lembro ter me desafiado intelectualmente. Pois bem, após assistir a versão original "Preso na Escuridão" (ou "Abre Los Ojos" no original), tenho que admitir: ela é ainda melhor! O filme é infinitamente mais humano que seu remake americano, seu roteiro é ainda mais sensível e aquele conceito visual mais independente do genial diretor chileno, Alejandro Amenábar (de "Os Outros"), é muito mais bonito. Olha, esse filme é uma obra-prima por si só - ele apresenta uma narrativa complexa, com performances verdadeiramente cativantes, além de uma exploração profunda do valor da identidade de uma forma muito sensorial, eu diria, inclusive, única! Que experiência que o streaming nos proporciona! Assista! 

A história acompanha a vida de César (Eduardo Noriega), um jovem carismático que tem tudo: beleza, riqueza e sucesso. No entanto, sua vida muda drasticamente após um acidente de carro, que o deixa desfigurado e com cicatrizes graves. À medida que ele tenta lidar com sua nova aparência e reconstruir sua vida, César mergulha em um mundo de sonhos e pesadelos interconectados, onde a linha entre a realidade e a fantasia se torna cada vez mais obscura.

É impressionante como "Preso na Escuridão" nos entrega uma atmosfera intensamente envolvente, provocadora e, claro, perturbadora. Amenábar, ao lado de seu fotógrafo Hans Burmann (de "Amnésia"), trabalha o conceito estético do filme de uma forma meticulosa, aproveitando de uma trilha sonora arrebatadora para transmitir a sensação de paranoia que permeia a mente do protagonista. Reparem nas sequências de sonhos e alucinações - elas são especialmente marcantes, com imagens surreais que desafiam nossas expectativas e nos levam a questionar o que é real e o que é fruto da imaginação.

O desempenho de Eduardo Noriega é brilhante e complexo - ele é capaz de capturar perfeitamente a transformação de um homem confiante e sedutor em um ser atormentado e desesperado - e aqui sem os trejeitos de uma figura já consagrada como Tom Cruise. A química entre Noriega e Penélope Cruz, que interpreta a enigmática Sofia, traz uma camada adicional de profundidade emocional à trama que chega a ser desconfortável. Veja, não será uma única que vez que você vai ser colocar no lugar de César e também de Sofia. O roteiro do próprio Amenábar trabalha essas sensações com reviravoltas surpreendentes - mas surpreendentes mesmo!

"Preso na Escuridão" é inteligente, criativo e potente, capaz de explorar questões filosóficas profundas, como a natureza da identidade, a influência da percepção na construção da realidade e os limites da nossa compreensão sobre mundo, sobre o amor e sobre nossa capacidade de se redimir, com a mesma competência com que nos provoca simples reflexões. De uma forma intrigante, o filme nos desafiado a cada cena,  exigindo o máximo da nossa atenção e concentração - como um convite intelectualmente estimulante. 

Pode acreditar "Preso na Escuridão" certamente merece um lugar na sua lista de filmes imperdíveis.

PS: O filme recebeu 10 indicações ao prêmio Goya de 1999, além de vencer 

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Print the Legend

"Print the Legend" é para você que é empreendedor ou para quem está prestes a tirar sua ideia do papel! Esse documentário produzido pela Netflix não romantiza a difícil jornada do empreendedor e tem o mérito de ampliar a nossa percepção sobre o universo de uma startup em um momento crucial para o seu sucesso (ou fracasso): o momento de crescer. Se eu pudesse definir "Print the Legend", eu diria que é um documentário sobre "as dores do crescimento" de uma startup, de seus fundadores e de como essas mudanças refletem nos relacionamentos e na cultura da empresa!

A partir da história de duas promissoras startups: a MarketBot e a FormLabs, entendemos como as impressoras 3D tem mudado a vida de muita gente, seja na impressão de armas de fogo, bijuterias ou até de órgãos humanos, e também como essa tecnologia pode prejudicar muitas indústrias, já que permite a fabricação de inúmeros itens com um custo baixo e de forma caseira. Entre os que produzem essa impressora, há empresas pequenas e grandes, e o documentário mostra muitos dos desafios envolvidos durante a corrida para disponibilizar o device para o público em geral. Confira o trailer (em inglês):

Muito bem escrito por Steven Klein (de "Out of Omaha") e pelo diretores Luis Lopez e Clay Tweel (de "Make Believe"), "Print the Legend" é mais um estudo de caso, quase um MBA de empreendedorismo que está escondido no catálogo de um serviço de streaming. O roteiro é muito feliz em retratar a rotina de pessoas que sonham em tornar a impressão 3D algo acessível para toda a sociedade. Com uma linha do tempo muito bem construída, a história mostra a evolução do mercado, desde as máquinas da 3DSystems e da Stratasys até o conceito open-source da MarketBot e low-costda FormLabs.

Embora o documentário tenha o mercado de impressão 3D como foco, os ensinamentos baseado nas experiências da MarketBot e da FormLabs, e de seu fundadores, são facilmente adaptáveis à realidade de qualquer empreendedor - todas as dificuldades que a startup enfrenta no seu processo de growth são discutidos por quem viveu essa dor. Da adaptação na forma de liderar uma equipe que já não está mais na garagem de casa à pressão de conseguir milhões em investimentos, ou até quando a startup começa incomodar uma gigante do setor e um processo de M&A passa a ser uma realidade tão presente quando um de quebra de patente.

Um ponto interessante que vale a pena reparar é como o co-founder da MarketBot, Bre Pattis, vai mudando com o passar do tempo - como sua postura vai influenciando na cultura da empresa, de acessível e aberta, para outra cada vez mais fechada e burocrática, ao ponto de tomar decisões polêmicas que vão contra os seus valores e propósito, ao comentário que a empresa passou a ser odiada pelos seus próprios funcionários.

Mesmo que o documentário dê holofote para um idiota como Cody Wilson, o cara que usou uma impressora 3D para criar armas de fogo e disponibilizou o projeto para qualquer um imprimir a sua, eu diria que "Print the Legend" é uma agradável surpresa. Além de um overview muito interessante sobre inovação e disrupção de mercado, os pontos levantados sobre o universo empreendedor são incríveis e provocam ótimas reflexões, principalmente aquela onde é preciso virar a chave e entender que o "sonho" agora é um "negócio" e que decisões difíceis e impopulares precisam ser tomadas.

Vale muito o seu play!

Assista Agora

"Print the Legend" é para você que é empreendedor ou para quem está prestes a tirar sua ideia do papel! Esse documentário produzido pela Netflix não romantiza a difícil jornada do empreendedor e tem o mérito de ampliar a nossa percepção sobre o universo de uma startup em um momento crucial para o seu sucesso (ou fracasso): o momento de crescer. Se eu pudesse definir "Print the Legend", eu diria que é um documentário sobre "as dores do crescimento" de uma startup, de seus fundadores e de como essas mudanças refletem nos relacionamentos e na cultura da empresa!

A partir da história de duas promissoras startups: a MarketBot e a FormLabs, entendemos como as impressoras 3D tem mudado a vida de muita gente, seja na impressão de armas de fogo, bijuterias ou até de órgãos humanos, e também como essa tecnologia pode prejudicar muitas indústrias, já que permite a fabricação de inúmeros itens com um custo baixo e de forma caseira. Entre os que produzem essa impressora, há empresas pequenas e grandes, e o documentário mostra muitos dos desafios envolvidos durante a corrida para disponibilizar o device para o público em geral. Confira o trailer (em inglês):

Muito bem escrito por Steven Klein (de "Out of Omaha") e pelo diretores Luis Lopez e Clay Tweel (de "Make Believe"), "Print the Legend" é mais um estudo de caso, quase um MBA de empreendedorismo que está escondido no catálogo de um serviço de streaming. O roteiro é muito feliz em retratar a rotina de pessoas que sonham em tornar a impressão 3D algo acessível para toda a sociedade. Com uma linha do tempo muito bem construída, a história mostra a evolução do mercado, desde as máquinas da 3DSystems e da Stratasys até o conceito open-source da MarketBot e low-costda FormLabs.

Embora o documentário tenha o mercado de impressão 3D como foco, os ensinamentos baseado nas experiências da MarketBot e da FormLabs, e de seu fundadores, são facilmente adaptáveis à realidade de qualquer empreendedor - todas as dificuldades que a startup enfrenta no seu processo de growth são discutidos por quem viveu essa dor. Da adaptação na forma de liderar uma equipe que já não está mais na garagem de casa à pressão de conseguir milhões em investimentos, ou até quando a startup começa incomodar uma gigante do setor e um processo de M&A passa a ser uma realidade tão presente quando um de quebra de patente.

Um ponto interessante que vale a pena reparar é como o co-founder da MarketBot, Bre Pattis, vai mudando com o passar do tempo - como sua postura vai influenciando na cultura da empresa, de acessível e aberta, para outra cada vez mais fechada e burocrática, ao ponto de tomar decisões polêmicas que vão contra os seus valores e propósito, ao comentário que a empresa passou a ser odiada pelos seus próprios funcionários.

Mesmo que o documentário dê holofote para um idiota como Cody Wilson, o cara que usou uma impressora 3D para criar armas de fogo e disponibilizou o projeto para qualquer um imprimir a sua, eu diria que "Print the Legend" é uma agradável surpresa. Além de um overview muito interessante sobre inovação e disrupção de mercado, os pontos levantados sobre o universo empreendedor são incríveis e provocam ótimas reflexões, principalmente aquela onde é preciso virar a chave e entender que o "sonho" agora é um "negócio" e que decisões difíceis e impopulares precisam ser tomadas.

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Privacidade Hackeada

O que as eleições da Argentina em 2015, Trindade e Tobago em 2009, Índia em 2010, Malásia em 2013, Itália em 2012, Quênia em 2013 e Colômbia 2011 tem em comum? Por mais surpreendente que possa parecer a resposta, o seu complemento é ainda mais assustador: "análise de dados"... "roubados". A responsável por isso interferiu em dois recentes momentos históricos da politica mundial: a improvável eleição de Trump e o plebicito do Brexit. "Privacidade Hackeada", documentário original da Netflix, mostra como esses dados roubados ajudaram na manipulação de eleitores indecisos nesses dois eventos políticos e quais foram as consequências no processo de fragilização da democracia. Tendo como vilões dois personagens-chave: o Facebook e a Cambridge Analytica, o documentário analisa cada um dos movimentos estratégicos que renderam milhões de dólares para a empresa inglesa e uma grande dor de cabeça para o Mark Zuckerberg. É preciso dizer que o volume de informações prejudica a experiência de quem assiste e não conhece do assunto - por isso sugiro que, antes do documentário, você assista o filme da HBO "Brexit", pois nele fica mais fácil perceber como esses dados roubados foram, na prática, fundamentais na estratégia de campanha do "Leave.EU". O documentário vale muito a pena, mas claramente tem o objetivo de demonizar a tecnologia e o tamanho da nossa exposição que ela gera quando clicamos no quadradinho "aceito" de vários aplicativos e sites!

Assista Agora ou

O que as eleições da Argentina em 2015, Trindade e Tobago em 2009, Índia em 2010, Malásia em 2013, Itália em 2012, Quênia em 2013 e Colômbia 2011 tem em comum? Por mais surpreendente que possa parecer a resposta, o seu complemento é ainda mais assustador: "análise de dados"... "roubados". A responsável por isso interferiu em dois recentes momentos históricos da politica mundial: a improvável eleição de Trump e o plebicito do Brexit. "Privacidade Hackeada", documentário original da Netflix, mostra como esses dados roubados ajudaram na manipulação de eleitores indecisos nesses dois eventos políticos e quais foram as consequências no processo de fragilização da democracia. Tendo como vilões dois personagens-chave: o Facebook e a Cambridge Analytica, o documentário analisa cada um dos movimentos estratégicos que renderam milhões de dólares para a empresa inglesa e uma grande dor de cabeça para o Mark Zuckerberg. É preciso dizer que o volume de informações prejudica a experiência de quem assiste e não conhece do assunto - por isso sugiro que, antes do documentário, você assista o filme da HBO "Brexit", pois nele fica mais fácil perceber como esses dados roubados foram, na prática, fundamentais na estratégia de campanha do "Leave.EU". O documentário vale muito a pena, mas claramente tem o objetivo de demonizar a tecnologia e o tamanho da nossa exposição que ela gera quando clicamos no quadradinho "aceito" de vários aplicativos e sites!

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Projeto Gemini

"Projeto Gemini" é um filme divertido, do tipo que merece ser visto em uma tela bem grande e comendo um balde enorme de pipoca; mas não espere um graaaande filme - ele é o que é: entretenimento puro! Talvez por isso o marketing em cima do projeto tenha sido muito mais pela tecnologia de captação (3D+ em HFR) que o Diretor Ang Lee (Tigre e o Dragão) usou nas filmagens do que propriamente pela história em si - mas isso nós vamos falar um pouco mais para frente.

Ter Will Smith protagonizando um filme de ação já é garantia de uma boa bilheteria e os Estúdios sabem muito bem que essa receita permite pesar um pouco na mão pela forma e não se preocupar tanto com o conteúdo - mais ou menos como acontece em alguns games do gênero: é preciso ser divertido e não tão profundo ou complicado; e essa comparação não é por acaso. O filme conta história de um assassino de elite prestes a se aposentar chamado Henry Brogan.  Após sua última missão, ele recebe uma informação que colocam os motivos dessa missão em cheque, expondo uma enorme rede de mentiras do Governo dos EUA. Até aí aí nada de novo para um filme de ação, até que se descobre que o tal jovem agente é uma versão 30 anos mais nova de Brogan. Dá só uma olhada no trailer:

Agora vamos falar da tecnologia "inovadora" por trás dessa história:

Quando em 2012, Peter Jackson gravou "Hobbit" em 48 quadros por segundo (o normal seria 24) ele justificou sua escolha como "uma oportunidade de colocar a audiência mais próxima dos personagens", já que, como o dobro de quadros, ganharíamos em qualidade e profundidade ao mesmo tempo que os movimentos pareceriam mais próximos da realidade - isso de fato acontece, mas o estranhamento foi tanto que muita gente achou que o filme estivesse com problemas (o que fez a Warner preparar um informativo explicando porque o filme estaria diferente) - o fato é que o tiro saiu pela culatra, primeiro pela quantidade de cinemas que tinham a capacidade de exibir o filme usando essa tecnologia nativa e depois pelas centenas de salas que tinham cópias convertidas e que, na opinião de muita gente, fez o filme parecer uma novela. Aqui cabe um comentário: antigamente uma novela era gravada (em vídeo) à 30 quadros por segundo, enquanto os filmes eram feitos (em película) à 24 - por isso tínhamos uma sensação mais poética ao ver um filme, enquanto a novela parecia mais com as nossas gravações caseiras. Por favor, é óbvio que existiam muitas outras diferenças, mas o ponto que quero exemplificar para todos entenderem é que essa velocidade de captação de imagem influenciava na forma como enxergávamos os filmes! Aliás, era por esse mesmo motivo que achávamos a séries americanas melhores, "parecendo filme" - pois elas também eram captadas em 24 quadros (e em película).

Dito isso, o "Projeto Gemini" foi vendido como uma nova era na captação imagens, pois o filme foi rodado em 120 quadros por segundo - uma taxa muito maior que o normal, ou seja, a qualidade da imagem seria melhor percebida devido a quantidade de quadros. Acontece que, como na época de "Hobbit", poucos cinemas estão preparados para exibir um filme nessa velocidade nativa - é preciso fazer uma conversão para, no mínimo, 60 quadros (o que já seria lindo), mas nossas salas só conseguem exibir em 24 ou 30 quadros na sua maioria. Ok, então porque resolveram filmar assim? Simples, existe um conceito visual em cima do filme muito claro e esse mérito não dá pra passar batido: aproximar o público da ação como se ele estive jogando um video-game e aí a experiência me pareceu funciona! Nas cenas de ação, a velocidade, sem a menor dúvida, interfere positivamente no resultado - tem um plano específico, feito em primeira pessoa, que realmente nos remete a um "jogo de tiro"! Qual o problema para mim (que conhece câmera que o Ang Lee usou): quando o plano está muito fechado (em Close) para cenas de diálogo (sem muito movimento) temos a sensação que os atores estão em um estúdio com "fundo verde", pois existe tanta informação visível em profundidade (pelo dobro de quadros) que parece que a paisagem é uma pintura aplicada - não fica nada natural e isso acontece muito no filme! Enquanto os planos abertos (gerais) ficam lindos, os fechados sofrem com essa percepção (ainda mais em 3D que o primeiro plano tende a "saltar" na tela).

De fato as cenas de ação funcionam muito bem - fica clara a capacidade inventiva do Ang Lee como diretor (o que muitas vezes exige uma boa dose de suspensão de realidade para embarcarmos na dinâmica do filme) para criar uma movimentação muito próxima dos games - o filme vale por esse aspecto técnico e artístico. Já o roteiro é terrível de ruim, sem a menor coerência narrativa que justifique a importância de alguns personagens na trama, fica parecendo que depois que cada um fez sua cena, basta eliminação-los e está tudo resolvido! O próprio final é super previsível e nenhum ator se sobressai à tecnologia - isso, para mim, é sempre um problema! Como eu disse, vale pelo entretenimento, se você gosta de muita ação, perseguição, tiroteiro e uma pitada de ficção científica; caso contrário não perca seu tempo. Assistir o filme para conhecer a nova tecnologia e se impressionar (ou não) por ela, também é um bom motivo, mas não espere mais do que uma boa experiência de entretenimento!

Só como curiosidade, o personagem do Will Smith mais novo não é maquiagem ou rejuvenescimento digital, é um rosto construído 100% do zero por computador e ficou bem interessante mesmo! Vale reparar! ;)

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"Projeto Gemini" é um filme divertido, do tipo que merece ser visto em uma tela bem grande e comendo um balde enorme de pipoca; mas não espere um graaaande filme - ele é o que é: entretenimento puro! Talvez por isso o marketing em cima do projeto tenha sido muito mais pela tecnologia de captação (3D+ em HFR) que o Diretor Ang Lee (Tigre e o Dragão) usou nas filmagens do que propriamente pela história em si - mas isso nós vamos falar um pouco mais para frente.

Ter Will Smith protagonizando um filme de ação já é garantia de uma boa bilheteria e os Estúdios sabem muito bem que essa receita permite pesar um pouco na mão pela forma e não se preocupar tanto com o conteúdo - mais ou menos como acontece em alguns games do gênero: é preciso ser divertido e não tão profundo ou complicado; e essa comparação não é por acaso. O filme conta história de um assassino de elite prestes a se aposentar chamado Henry Brogan.  Após sua última missão, ele recebe uma informação que colocam os motivos dessa missão em cheque, expondo uma enorme rede de mentiras do Governo dos EUA. Até aí aí nada de novo para um filme de ação, até que se descobre que o tal jovem agente é uma versão 30 anos mais nova de Brogan. Dá só uma olhada no trailer:

Agora vamos falar da tecnologia "inovadora" por trás dessa história:

Quando em 2012, Peter Jackson gravou "Hobbit" em 48 quadros por segundo (o normal seria 24) ele justificou sua escolha como "uma oportunidade de colocar a audiência mais próxima dos personagens", já que, como o dobro de quadros, ganharíamos em qualidade e profundidade ao mesmo tempo que os movimentos pareceriam mais próximos da realidade - isso de fato acontece, mas o estranhamento foi tanto que muita gente achou que o filme estivesse com problemas (o que fez a Warner preparar um informativo explicando porque o filme estaria diferente) - o fato é que o tiro saiu pela culatra, primeiro pela quantidade de cinemas que tinham a capacidade de exibir o filme usando essa tecnologia nativa e depois pelas centenas de salas que tinham cópias convertidas e que, na opinião de muita gente, fez o filme parecer uma novela. Aqui cabe um comentário: antigamente uma novela era gravada (em vídeo) à 30 quadros por segundo, enquanto os filmes eram feitos (em película) à 24 - por isso tínhamos uma sensação mais poética ao ver um filme, enquanto a novela parecia mais com as nossas gravações caseiras. Por favor, é óbvio que existiam muitas outras diferenças, mas o ponto que quero exemplificar para todos entenderem é que essa velocidade de captação de imagem influenciava na forma como enxergávamos os filmes! Aliás, era por esse mesmo motivo que achávamos a séries americanas melhores, "parecendo filme" - pois elas também eram captadas em 24 quadros (e em película).

Dito isso, o "Projeto Gemini" foi vendido como uma nova era na captação imagens, pois o filme foi rodado em 120 quadros por segundo - uma taxa muito maior que o normal, ou seja, a qualidade da imagem seria melhor percebida devido a quantidade de quadros. Acontece que, como na época de "Hobbit", poucos cinemas estão preparados para exibir um filme nessa velocidade nativa - é preciso fazer uma conversão para, no mínimo, 60 quadros (o que já seria lindo), mas nossas salas só conseguem exibir em 24 ou 30 quadros na sua maioria. Ok, então porque resolveram filmar assim? Simples, existe um conceito visual em cima do filme muito claro e esse mérito não dá pra passar batido: aproximar o público da ação como se ele estive jogando um video-game e aí a experiência me pareceu funciona! Nas cenas de ação, a velocidade, sem a menor dúvida, interfere positivamente no resultado - tem um plano específico, feito em primeira pessoa, que realmente nos remete a um "jogo de tiro"! Qual o problema para mim (que conhece câmera que o Ang Lee usou): quando o plano está muito fechado (em Close) para cenas de diálogo (sem muito movimento) temos a sensação que os atores estão em um estúdio com "fundo verde", pois existe tanta informação visível em profundidade (pelo dobro de quadros) que parece que a paisagem é uma pintura aplicada - não fica nada natural e isso acontece muito no filme! Enquanto os planos abertos (gerais) ficam lindos, os fechados sofrem com essa percepção (ainda mais em 3D que o primeiro plano tende a "saltar" na tela).

De fato as cenas de ação funcionam muito bem - fica clara a capacidade inventiva do Ang Lee como diretor (o que muitas vezes exige uma boa dose de suspensão de realidade para embarcarmos na dinâmica do filme) para criar uma movimentação muito próxima dos games - o filme vale por esse aspecto técnico e artístico. Já o roteiro é terrível de ruim, sem a menor coerência narrativa que justifique a importância de alguns personagens na trama, fica parecendo que depois que cada um fez sua cena, basta eliminação-los e está tudo resolvido! O próprio final é super previsível e nenhum ator se sobressai à tecnologia - isso, para mim, é sempre um problema! Como eu disse, vale pelo entretenimento, se você gosta de muita ação, perseguição, tiroteiro e uma pitada de ficção científica; caso contrário não perca seu tempo. Assistir o filme para conhecer a nova tecnologia e se impressionar (ou não) por ela, também é um bom motivo, mas não espere mais do que uma boa experiência de entretenimento!

Só como curiosidade, o personagem do Will Smith mais novo não é maquiagem ou rejuvenescimento digital, é um rosto construído 100% do zero por computador e ficou bem interessante mesmo! Vale reparar! ;)

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Rei dos Stonks

Se você gostou de "WeCrashed""The Dropout", "Super Pumped: A Batalha Pela Uber" e da também alemã, "Batalha Bilionária: O Caso Google Earth", pode ter certeza que você vai se divertir (e muito) com a sátira inteligente e muito bem equilibrada de "Rei dos Stonks". Essa é mais uma série sobre startups, CEOs excêntricos e, claro, fraudes; porém o seu diferencial, além de ser "baseado em fatos reais mas sem citar nomes", é o tom - se em todas as outras referências sobre o assunto, o drama pautava a narrativa, aqui é a dramédia, o que, diga-se de passagem, se encaixa perfeitamente ao tema. ;)

A trama gira em torno de Felix Armand (Thomas Schubert) um co-founder pouco reconhecido que quer chegar ao topo de sua Startup. Ele é o cérebro por trás da Fintech mais bem sucedida de todos os tempos da Alemanha - uma espécie de PayPal, que recebeu o sugestivo nome de CableCash. Pois bem, tudo começa a complicar após o IPO, onde é descoberto algumas movimentações suspeitas, investidores enganados, relações institucionais com mafiosos e sites de conteúdo impróprio, etc. Porém Felix acredita que tudo pode melhorar e como um "bom" empreendedor, luta com unhas e dentes para salvar sua empresa do desastre ao mesmo tempo em que tem que lidar com um CEO sem noção, Dr. Magnus Cramer (Matthias Brandt). Confira o trailer (em alemão):

Com uma narrativa mais despojada, divertida e leve como vimos em "Batalha Bilionária: O Caso Google Earth" e até em "Clark" (para citar produções fora dos EUA, mas que fizeram sucesso na Netflix), "Rei dos Stonks" tem claras influências de “O Lobo de Wall Street” de Martin Scorsese e do igualmente excelente “A Grande Jogada” de Adam McKay, com isso em mente fica fácil lembrar de uma das séries mais bacanas disponíveis no catálogo da Netflix atualmente: “Como Vender Drogas Online (Rápido)” - e claro que nada disso é por acaso, afinal Matthias Murmann (criador) e o time de produtores são os mesmos.

O ponto alto, sem a menor dúvida, é a forma como os roteiristas traçam paralelos entre o absurdo e o real - até porquê sabemos que muitas coisas que vemos em Startups nem são tão absurdas assim, basta lembrar das estripulias de Adam Neumann (da WeWork) e de Travis Kalanick (do UBER). O CEO da CableCash, Dr. Magnus Cramer, é a soma estereotipada de todos eles que sonha em ser reconhecido e respeitado como Jeff Bezos, Steve Jobs e, claro, Elon Musk (seu ídolo) - as citações são frequentes. Só por isso já teríamos uma série divertida, mas o fator "crescimento a qualquer custo" entra com força na história e tudo parece fazer ainda mais sentido - ver as jogadas de Felix para tentar salvar a empresa, é impagável.

Embora "Rei dos Stonks" seja um sátira, não vemos uma mão tão pesada no conceito narrativo quanto em "Silicon Valley" da HBO, mas diverte igual. A dinâmica dos episódios, como não poderia deixar de ser sabendo dos nomes envolvidos, é empolgante; porém as tramas mais profundas podem se tornar confusas para quem não está ambientado com o universo startupeiro e empreendedor - além de muitos personagens, os assuntos exigem um raciocínio lógico e um conhecimento sobre as artimanhas de investimento e relações corporativas (muito até é explicado, mas de forma rápida). Dito isso, a série vai agradar mais um nicho que parece estar crescendo dado o número de produções que vem explorando o tema - e essa é mais uma das boas!

Obs: A CableCash da vida real se chama Wirecard, mas muito do que se vê em tela realmente ocorreu. A empresa inicialmente se envolvia com traficantes de drogas, prostituição e pornografia on line, ou seja, clientes que queriam discrição em seus negócios. A série mostra bem essa relação conflituosa e também é eficaz em tentar explicar a dificuldade de legitimar a empresa e leva-la para outro patamar, no caso, o de capital aberto.

Vale seu play!

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Se você gostou de "WeCrashed""The Dropout", "Super Pumped: A Batalha Pela Uber" e da também alemã, "Batalha Bilionária: O Caso Google Earth", pode ter certeza que você vai se divertir (e muito) com a sátira inteligente e muito bem equilibrada de "Rei dos Stonks". Essa é mais uma série sobre startups, CEOs excêntricos e, claro, fraudes; porém o seu diferencial, além de ser "baseado em fatos reais mas sem citar nomes", é o tom - se em todas as outras referências sobre o assunto, o drama pautava a narrativa, aqui é a dramédia, o que, diga-se de passagem, se encaixa perfeitamente ao tema. ;)

A trama gira em torno de Felix Armand (Thomas Schubert) um co-founder pouco reconhecido que quer chegar ao topo de sua Startup. Ele é o cérebro por trás da Fintech mais bem sucedida de todos os tempos da Alemanha - uma espécie de PayPal, que recebeu o sugestivo nome de CableCash. Pois bem, tudo começa a complicar após o IPO, onde é descoberto algumas movimentações suspeitas, investidores enganados, relações institucionais com mafiosos e sites de conteúdo impróprio, etc. Porém Felix acredita que tudo pode melhorar e como um "bom" empreendedor, luta com unhas e dentes para salvar sua empresa do desastre ao mesmo tempo em que tem que lidar com um CEO sem noção, Dr. Magnus Cramer (Matthias Brandt). Confira o trailer (em alemão):

Com uma narrativa mais despojada, divertida e leve como vimos em "Batalha Bilionária: O Caso Google Earth" e até em "Clark" (para citar produções fora dos EUA, mas que fizeram sucesso na Netflix), "Rei dos Stonks" tem claras influências de “O Lobo de Wall Street” de Martin Scorsese e do igualmente excelente “A Grande Jogada” de Adam McKay, com isso em mente fica fácil lembrar de uma das séries mais bacanas disponíveis no catálogo da Netflix atualmente: “Como Vender Drogas Online (Rápido)” - e claro que nada disso é por acaso, afinal Matthias Murmann (criador) e o time de produtores são os mesmos.

O ponto alto, sem a menor dúvida, é a forma como os roteiristas traçam paralelos entre o absurdo e o real - até porquê sabemos que muitas coisas que vemos em Startups nem são tão absurdas assim, basta lembrar das estripulias de Adam Neumann (da WeWork) e de Travis Kalanick (do UBER). O CEO da CableCash, Dr. Magnus Cramer, é a soma estereotipada de todos eles que sonha em ser reconhecido e respeitado como Jeff Bezos, Steve Jobs e, claro, Elon Musk (seu ídolo) - as citações são frequentes. Só por isso já teríamos uma série divertida, mas o fator "crescimento a qualquer custo" entra com força na história e tudo parece fazer ainda mais sentido - ver as jogadas de Felix para tentar salvar a empresa, é impagável.

Embora "Rei dos Stonks" seja um sátira, não vemos uma mão tão pesada no conceito narrativo quanto em "Silicon Valley" da HBO, mas diverte igual. A dinâmica dos episódios, como não poderia deixar de ser sabendo dos nomes envolvidos, é empolgante; porém as tramas mais profundas podem se tornar confusas para quem não está ambientado com o universo startupeiro e empreendedor - além de muitos personagens, os assuntos exigem um raciocínio lógico e um conhecimento sobre as artimanhas de investimento e relações corporativas (muito até é explicado, mas de forma rápida). Dito isso, a série vai agradar mais um nicho que parece estar crescendo dado o número de produções que vem explorando o tema - e essa é mais uma das boas!

Obs: A CableCash da vida real se chama Wirecard, mas muito do que se vê em tela realmente ocorreu. A empresa inicialmente se envolvia com traficantes de drogas, prostituição e pornografia on line, ou seja, clientes que queriam discrição em seus negócios. A série mostra bem essa relação conflituosa e também é eficaz em tentar explicar a dificuldade de legitimar a empresa e leva-la para outro patamar, no caso, o de capital aberto.

Vale seu play!

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Resistência

Uma ficção científica com alma! Não existe outra maneira de definir uma das maiores e melhores surpresas de 2023 -  o filme "Resistência". O novo projeto de Gareth Edwards (de "Rogue One: Uma História Star Wars" e "Godzilla") chegou quietinho, mas logo de cara se mostrou uma experiência cinematográfica imperdível, equilibrando perfeitamente a ação com a reflexão em um futuro distópico. Ao explorar as consequências da guerra entre humanos e a tecnologia, especialmente a tão comentada inteligência artificial, o filme traz uma mensagem poderosa sobre a nossa humanidade e o valor das relações, algo como vimos em "I am Mother" e em "Devs" - só para citar duas obras imperdíveis disponíveis no streaming.

"Resistência" conta a história de Joshua (John David Washington), um ex-agente das forças especiais dos EUA que é recrutado para uma missão perigosa: caçar e eliminar o Criador, o arquiteto por trás de uma inteligência artificial avançada que desenvolveu uma arma misteriosa capaz de acabar com a soberania bélica americana em uma guerra contra o Oriente que pode custar a extinção de toda a humanidade. Confira o trailer:

Embora a sinopse possa parecer algo simples e talvez até um pouco batido, você não vai precisar mais do que quinze minutos para entender que o filme é muito mais profundo e interessante do que uma trama onde o "bem" luta contra o "mal" em pró da salvação do planeta e de sua raça. Edwards, com todo o seu talento para estabelecer universos bastante caóticos e visualmente requintados, cria uma narrativa complexa e envolvente, que explora temas como a natureza da inteligência artificial, o papel da humanidade no futuro e a importância da empatia, misturando a gramática da ação de filmes como "Distrito 9" e a poesia cheia de simbolismos, como encontramos em "Contos do Loop", por exemplo.

O roteiro, escrito por Edwards e Chris Weitz (também de "Rogue One") é bem planejado para explorar temas mais espinhosos sem ser expositivo demais - a passagem sobre a bomba atômica que dizimou Los Angeles sendo contata por quem foi acusado de começar uma guerra é simplesmente genial. Provocativo na medida certa sem esquecer do entretenimento do gênero, "Resistência" pontua o valor politico daquela relação entre humanos e máquinas enquanto seu subtexto discute o conceito de livre arbítrio e da natureza predadora da guerra. Com cenas de ação eletrizantes, Edwards também sabe da importância de imprimir um tom reflexivo à obra pra colocar sua narrativa e conceito estético em outro patamar - e consegue!

A fotografia de Greig Fraser (de "Duna" e "The Madalorian") é deslumbrante, enquanto a trilha sonora do mestre Hans Zimmer (de "A Origem") é proporcionalmente emocionante. As atuações de John David Washington como Joshua e da jovem Madeleine Yuna Voyles como Alphie, completam a receita do que há de melhor em ficção cientifica com o bônus de um desenho de produção e um CGI realmente impressionantes. Dito isso fica fácil perceber que estamos falando de um filme digno de Oscar, daqueles que ficam na nossa cabeça por muito tempo, testam a nossa humanidade e nos faz refletir sobre o futuro que nos espera.

"The Creator" (no original) é realmente imperdível!

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Uma ficção científica com alma! Não existe outra maneira de definir uma das maiores e melhores surpresas de 2023 -  o filme "Resistência". O novo projeto de Gareth Edwards (de "Rogue One: Uma História Star Wars" e "Godzilla") chegou quietinho, mas logo de cara se mostrou uma experiência cinematográfica imperdível, equilibrando perfeitamente a ação com a reflexão em um futuro distópico. Ao explorar as consequências da guerra entre humanos e a tecnologia, especialmente a tão comentada inteligência artificial, o filme traz uma mensagem poderosa sobre a nossa humanidade e o valor das relações, algo como vimos em "I am Mother" e em "Devs" - só para citar duas obras imperdíveis disponíveis no streaming.

"Resistência" conta a história de Joshua (John David Washington), um ex-agente das forças especiais dos EUA que é recrutado para uma missão perigosa: caçar e eliminar o Criador, o arquiteto por trás de uma inteligência artificial avançada que desenvolveu uma arma misteriosa capaz de acabar com a soberania bélica americana em uma guerra contra o Oriente que pode custar a extinção de toda a humanidade. Confira o trailer:

Embora a sinopse possa parecer algo simples e talvez até um pouco batido, você não vai precisar mais do que quinze minutos para entender que o filme é muito mais profundo e interessante do que uma trama onde o "bem" luta contra o "mal" em pró da salvação do planeta e de sua raça. Edwards, com todo o seu talento para estabelecer universos bastante caóticos e visualmente requintados, cria uma narrativa complexa e envolvente, que explora temas como a natureza da inteligência artificial, o papel da humanidade no futuro e a importância da empatia, misturando a gramática da ação de filmes como "Distrito 9" e a poesia cheia de simbolismos, como encontramos em "Contos do Loop", por exemplo.

O roteiro, escrito por Edwards e Chris Weitz (também de "Rogue One") é bem planejado para explorar temas mais espinhosos sem ser expositivo demais - a passagem sobre a bomba atômica que dizimou Los Angeles sendo contata por quem foi acusado de começar uma guerra é simplesmente genial. Provocativo na medida certa sem esquecer do entretenimento do gênero, "Resistência" pontua o valor politico daquela relação entre humanos e máquinas enquanto seu subtexto discute o conceito de livre arbítrio e da natureza predadora da guerra. Com cenas de ação eletrizantes, Edwards também sabe da importância de imprimir um tom reflexivo à obra pra colocar sua narrativa e conceito estético em outro patamar - e consegue!

A fotografia de Greig Fraser (de "Duna" e "The Madalorian") é deslumbrante, enquanto a trilha sonora do mestre Hans Zimmer (de "A Origem") é proporcionalmente emocionante. As atuações de John David Washington como Joshua e da jovem Madeleine Yuna Voyles como Alphie, completam a receita do que há de melhor em ficção cientifica com o bônus de um desenho de produção e um CGI realmente impressionantes. Dito isso fica fácil perceber que estamos falando de um filme digno de Oscar, daqueles que ficam na nossa cabeça por muito tempo, testam a nossa humanidade e nos faz refletir sobre o futuro que nos espera.

"The Creator" (no original) é realmente imperdível!

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Ruptura

Sabe aquele episódio de "Black Mirror" que daria uma excelente série se fosse desenvolvido com mais calma, com ótimos personagens e ainda um arco cheio de mistério para "Iniciativa Dharma" alguma colocar defeito? Pois é, temos! "Ruptura", nova série da AppleTV+, é uma jóia para quem gosta de um drama bem construído, com elementos de ficção cientifica (com alma!) ao melhor estilo "Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças", cheio de camadas e muito bem dirigido pela talentosa Aoife McArdle e pelo, acreditem, Ben Stiller - tudo isso baseado na criação de um estreante, o surpreendente Dan Erickson (guardem esse nome)!

Na trama conhecemos a história de alguns funcionários de uma empresa de tecnologia chamada Lumon. Sem muitas explicações, eles aceitam fazer um procedimento chamado de Severance, ou seja, eles separam suas personalidades em duas: uma que representa um funcionário exclusivo da Lumon e outra que é a pessoa que eles realmente são na vida real. O intrigante é que uma versão não sabe da outra, fazendo com que a mesma pessoa, viva em duas realidades distintas. Confira o trailer:

Em tempos pós-pandemia "Ruptura" tem um texto muito inteligente, cheio de críticas à tecnologia e, principalmente, perante nossas dinâmicas através dela. Claramente cheia de alegorias, muito bem colocadas e sempre cercada de muita ironia, o roteiro transforma o cotidiano dos personagens em uma espécie de prisão corporativista, explorando uma rotina exaustiva e completamente alienada que serve como fuga para o "eu" real - curioso como conhecemos muitas pessoas assim, não?

Mark (Adam Scott) resolveu fazer a ruptura para esquecer por 8 horas que sua mulher morreu em um acidente de carro, porém o mistério acompanha todos os outros personagens: seja a chefona durona totalmente non-sense, Harmony (Patricia Arquette), até o funcionário modelo Irving (John Turturro), ou o excêntrico Dylan (Zach Cherry) e a rebelde nova funcionária Holly (Britt Lower) - o elenco é tão incrível que eu já separaria muitos prêmios no próximo Emmy. Isso porque eu nem citei o impagável segurança Milchick (Tramell Tillman).

Outro ponto que merece sua atenção diz respeito ao desenho de produção: o ambiente criado pelo Jeremy Hindle ("A hora mais escura") é genial - uma verdadeira folha em branco, cheia de corredores e totalmente desprovido de vida - o movimento de câmera acompanhando os atores pelos longos corredores dá a exata impressão de que todos são ratos de laboratório num labirinto interminável. Chega a ser claustrofóbico! Aliás a sensação de vazio que o cenário nos passa é impressionante - eu diria que essa configuração visual é tão impactante e importante que pode ser considerado um personagem.

Antes de finalizar, é preciso dizer que "Ruptura" tem uma narrativa bastante cadenciada, o que pode dar a impressão que a história não está indo para lugar algum - esquece, pois tudo (eu disse "tudo") tem uma razão de estar em cena. Todo diálogo é importante. E toda pergunta parece ter uma resposta - os dois últimos episódios dão uma boa ideia de como essa série pode entrar para a história. Sem exageros, "Ruptura" é uma das melhores coisas que assisti em muitos anos - desde o cuidado técnico para nos mergulhar em inúmeras alegorias e mistérios até os subtextos críticos e filosóficos em torno de temas profundamente realistas e atuais.

Vale muito seu play!

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Sabe aquele episódio de "Black Mirror" que daria uma excelente série se fosse desenvolvido com mais calma, com ótimos personagens e ainda um arco cheio de mistério para "Iniciativa Dharma" alguma colocar defeito? Pois é, temos! "Ruptura", nova série da AppleTV+, é uma jóia para quem gosta de um drama bem construído, com elementos de ficção cientifica (com alma!) ao melhor estilo "Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças", cheio de camadas e muito bem dirigido pela talentosa Aoife McArdle e pelo, acreditem, Ben Stiller - tudo isso baseado na criação de um estreante, o surpreendente Dan Erickson (guardem esse nome)!

Na trama conhecemos a história de alguns funcionários de uma empresa de tecnologia chamada Lumon. Sem muitas explicações, eles aceitam fazer um procedimento chamado de Severance, ou seja, eles separam suas personalidades em duas: uma que representa um funcionário exclusivo da Lumon e outra que é a pessoa que eles realmente são na vida real. O intrigante é que uma versão não sabe da outra, fazendo com que a mesma pessoa, viva em duas realidades distintas. Confira o trailer:

Em tempos pós-pandemia "Ruptura" tem um texto muito inteligente, cheio de críticas à tecnologia e, principalmente, perante nossas dinâmicas através dela. Claramente cheia de alegorias, muito bem colocadas e sempre cercada de muita ironia, o roteiro transforma o cotidiano dos personagens em uma espécie de prisão corporativista, explorando uma rotina exaustiva e completamente alienada que serve como fuga para o "eu" real - curioso como conhecemos muitas pessoas assim, não?

Mark (Adam Scott) resolveu fazer a ruptura para esquecer por 8 horas que sua mulher morreu em um acidente de carro, porém o mistério acompanha todos os outros personagens: seja a chefona durona totalmente non-sense, Harmony (Patricia Arquette), até o funcionário modelo Irving (John Turturro), ou o excêntrico Dylan (Zach Cherry) e a rebelde nova funcionária Holly (Britt Lower) - o elenco é tão incrível que eu já separaria muitos prêmios no próximo Emmy. Isso porque eu nem citei o impagável segurança Milchick (Tramell Tillman).

Outro ponto que merece sua atenção diz respeito ao desenho de produção: o ambiente criado pelo Jeremy Hindle ("A hora mais escura") é genial - uma verdadeira folha em branco, cheia de corredores e totalmente desprovido de vida - o movimento de câmera acompanhando os atores pelos longos corredores dá a exata impressão de que todos são ratos de laboratório num labirinto interminável. Chega a ser claustrofóbico! Aliás a sensação de vazio que o cenário nos passa é impressionante - eu diria que essa configuração visual é tão impactante e importante que pode ser considerado um personagem.

Antes de finalizar, é preciso dizer que "Ruptura" tem uma narrativa bastante cadenciada, o que pode dar a impressão que a história não está indo para lugar algum - esquece, pois tudo (eu disse "tudo") tem uma razão de estar em cena. Todo diálogo é importante. E toda pergunta parece ter uma resposta - os dois últimos episódios dão uma boa ideia de como essa série pode entrar para a história. Sem exageros, "Ruptura" é uma das melhores coisas que assisti em muitos anos - desde o cuidado técnico para nos mergulhar em inúmeras alegorias e mistérios até os subtextos críticos e filosóficos em torno de temas profundamente realistas e atuais.

Vale muito seu play!

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