Existe uma linha muito tênue entre uma comédia "non-sense" e um "pastelão"! "Wrong", filme do diretor francês Quentin Dupieux, transita por esses dois estilos com muita facilidade, mas o que poderia ser um grande problema, na verdade é traço marcante da identidade do cineasta - basta lembrar que seu filme anterior, "Rubber", contava a história de um pneu assassino! Dito isso, fica mais fácil entender o que você vai encontrar ao dar o play e justamente por essa razão só aconselho fazê-lo se você gostar muito do que um filme "pastelão" pode te entregar e não se importar com os vários elementos "non-sense" que o roteiro trás (de maneira nada aleatório, diga-se de passagem) e que, para mim, representam os melhores momentos do filme! É sério, se você gosta de uma comédia mais realista, pautada nos diálogos inteligentes e no naturalismo das interpretações, fuja de "Wrong"!
O filme conta a história de Dolph (o ótimo Jack Plotnick) que, ao acordar pela manhã em mais um dia comum, percebe que perdeu o grande amor de sua vida: seu cachorro Paul. Começa aí uma interessante jornada para entender o que realmente aconteceu com Paul e assim poder recuperar seu animal de estimação o quanto antes. Confira o trailer:
Esse não é o estilo de comédia que mais me agrada, mas mesmo assim, entendo que "Wrong" tem uma história interessante, com bons personagens (alguns exageradamente estereotipados) e um certo humor agradável de assistir que se baseia em situações inusitadas e que acabam nos instigando a chegar no final - mesmo que fique um sentimento de que esse final poderia ser bem mais surpreendente! Dê o play por conta e risco!
Quando vemos um despertador que marca 7:59 da manhã, em um plano que deixa claro que o alarme vai tocar às 8:00, já somos imediatamente surpreendidos e também entendemos que há algo de surreal e estranho com "Wrong" quando o relógio pula para 7:60 (ao melhor estilo "Turma do Bozo") - esse detalhe é só o início de uma série de eventos que tem como objetivo ironizar um certo desvio de comportamento de uma vida moderna onde o amor pelo animal de estimação é muitas vezes maior que o amor por si mesmo!
Tudo caminha bem, com alegorias quase Kaufmanianas (em referência ao Charlie Kaufman de "Estou pensando em acabar com tudo") como nas cenas na agência de turismo que só chove dentro do escritório ou o próprio jardineiro que fala como mexicano, mas que na verdade é francês. Ao inverter o sentido de tudo que acontece dentro daquele universo de Dolph, temos a impressão que o filme vai nos provocar uma reflexão existencialista bastante interessante, porém no segundo ato, tudo que tínhamos de profundo seca e a superficialidade da comédia pastelão entra em cena - mesmo que em alguns momentos ainda nos faça rir: como na cena em que o detetive particular, Ronnie (Steve Little), se conecta com as fezes de Paul, codificando em imagens, o caminho da dita, desde o intestino até a grama, para podermos enxergar quem o sequestrou!
Com a direção sentimos essa mesma quebra de conceito - no inicio temos a leve impressão que se trata de uma dinâmica visual parecida com a de Vince Gilligan, mas que logo é transformada em uma condução sem tanto brilho, competente, mas sem a criatividade do primeiro ato. No elenco, além de Plotnick, destaco o ótimo trabalho de Alexis Dziena como Emma e de Eric Judor como Victor, enquanto, mais uma vez, William Fichtner decepciona - deixando muitas saudades do seu Alex Mahone de Prison Break.
"Wrong" é uma história surreal sobre um pacato protagonista infeliz, inseguro, solitário, que perde seu único elo com a vida, quando seu cachorro some! A partir daí o que vemos de surreal não atrapalha, pois consegue transmitir, além da sensação de estranheza, um incomodo natural do desconhecido - afinal não somos e nem queremos ser aquele personagem. O problema é que essa linha principal não se sustenta e ao inserir subtramas pouco inspiradas, o estereótipo e o exagero tomam conta das relações e tudo que poderia ser apenas sugerido, vira um emaranhado de piadas prontas e bengalas narrativas para nos forçar o riso - uma pena para quem gosta do "subtendido" e um deleite para quem gosta do "escancarado"!
Existe uma linha muito tênue entre uma comédia "non-sense" e um "pastelão"! "Wrong", filme do diretor francês Quentin Dupieux, transita por esses dois estilos com muita facilidade, mas o que poderia ser um grande problema, na verdade é traço marcante da identidade do cineasta - basta lembrar que seu filme anterior, "Rubber", contava a história de um pneu assassino! Dito isso, fica mais fácil entender o que você vai encontrar ao dar o play e justamente por essa razão só aconselho fazê-lo se você gostar muito do que um filme "pastelão" pode te entregar e não se importar com os vários elementos "non-sense" que o roteiro trás (de maneira nada aleatório, diga-se de passagem) e que, para mim, representam os melhores momentos do filme! É sério, se você gosta de uma comédia mais realista, pautada nos diálogos inteligentes e no naturalismo das interpretações, fuja de "Wrong"!
O filme conta a história de Dolph (o ótimo Jack Plotnick) que, ao acordar pela manhã em mais um dia comum, percebe que perdeu o grande amor de sua vida: seu cachorro Paul. Começa aí uma interessante jornada para entender o que realmente aconteceu com Paul e assim poder recuperar seu animal de estimação o quanto antes. Confira o trailer:
Esse não é o estilo de comédia que mais me agrada, mas mesmo assim, entendo que "Wrong" tem uma história interessante, com bons personagens (alguns exageradamente estereotipados) e um certo humor agradável de assistir que se baseia em situações inusitadas e que acabam nos instigando a chegar no final - mesmo que fique um sentimento de que esse final poderia ser bem mais surpreendente! Dê o play por conta e risco!
Quando vemos um despertador que marca 7:59 da manhã, em um plano que deixa claro que o alarme vai tocar às 8:00, já somos imediatamente surpreendidos e também entendemos que há algo de surreal e estranho com "Wrong" quando o relógio pula para 7:60 (ao melhor estilo "Turma do Bozo") - esse detalhe é só o início de uma série de eventos que tem como objetivo ironizar um certo desvio de comportamento de uma vida moderna onde o amor pelo animal de estimação é muitas vezes maior que o amor por si mesmo!
Tudo caminha bem, com alegorias quase Kaufmanianas (em referência ao Charlie Kaufman de "Estou pensando em acabar com tudo") como nas cenas na agência de turismo que só chove dentro do escritório ou o próprio jardineiro que fala como mexicano, mas que na verdade é francês. Ao inverter o sentido de tudo que acontece dentro daquele universo de Dolph, temos a impressão que o filme vai nos provocar uma reflexão existencialista bastante interessante, porém no segundo ato, tudo que tínhamos de profundo seca e a superficialidade da comédia pastelão entra em cena - mesmo que em alguns momentos ainda nos faça rir: como na cena em que o detetive particular, Ronnie (Steve Little), se conecta com as fezes de Paul, codificando em imagens, o caminho da dita, desde o intestino até a grama, para podermos enxergar quem o sequestrou!
Com a direção sentimos essa mesma quebra de conceito - no inicio temos a leve impressão que se trata de uma dinâmica visual parecida com a de Vince Gilligan, mas que logo é transformada em uma condução sem tanto brilho, competente, mas sem a criatividade do primeiro ato. No elenco, além de Plotnick, destaco o ótimo trabalho de Alexis Dziena como Emma e de Eric Judor como Victor, enquanto, mais uma vez, William Fichtner decepciona - deixando muitas saudades do seu Alex Mahone de Prison Break.
"Wrong" é uma história surreal sobre um pacato protagonista infeliz, inseguro, solitário, que perde seu único elo com a vida, quando seu cachorro some! A partir daí o que vemos de surreal não atrapalha, pois consegue transmitir, além da sensação de estranheza, um incomodo natural do desconhecido - afinal não somos e nem queremos ser aquele personagem. O problema é que essa linha principal não se sustenta e ao inserir subtramas pouco inspiradas, o estereótipo e o exagero tomam conta das relações e tudo que poderia ser apenas sugerido, vira um emaranhado de piadas prontas e bengalas narrativas para nos forçar o riso - uma pena para quem gosta do "subtendido" e um deleite para quem gosta do "escancarado"!