indika.tv - Comédia

Como Vender Drogas Online

Se "Good Girls" foi definida como a versão de "Breaking Bad" com protagonistas femininos, naturalmente vamos relacionar "Como Vender Drogas Online (Rápido)" como a versão adolescente da série de Vince Gilligan. O que poderia soar com uma certa desconfiança, afinal a Netflix vem enchendo seu catálogo de projetos bem duvidosos com temática adolescente desde 2019, tem um elemento que acaba colocando essa série em um outro patamar: "Como Vender Drogas Online (Rápido)" é uma produção alemã! Repare na sinopse: Moritz (Maximilian Mundt) é um nerd que, após terminar um relacionamento de muitos anos e ver sua ex-namorada, Lisa (Lena Klenke), começar a se relacionar com o "traficante", popular e esportista da escola, resolve abrir seu próprio negócio para ganhar muito dinheiro, respeito, poder e assim reconquistá-la - o problema é "como" ele quer conseguir tudo isso, claro! Confira o trailer:

Vender drogas online pela Deep Web foi uma escolha tão natural para dois Nerds com o mindset empreendedor, como produzir metanfetamina de qualidade foi para um químico como Walter White. Se a motivação de White era ganhar a maior quantidade de dinheiro possível para deixar sua família tranquila após descobrir que o câncer no pulmão acabaria com sua vida, a de Moritz soa exatamente igual - mas dentro daquele universo que ele pertence! O que achei interessante em "Como Vender Drogas Online (Rápido)"é que não existe uma banalização do drama do protagonista por ele ser um adolescente cheio de inseguranças - sua dor e preocupação são tão legitimos quanto o câncer de White. Mesmo se apoiando em assuntos que estamos cansados de assistir, a série usa de um conceito narrativo menos denso, o que transforma temas bastante delicados em alegorias de fácil entendimento. O fato da série ser relativamente curta, cada episódio com cerca de 30 minutos e cada temporada com apenas seis episódios, ajuda muito nessa dinâmica e vai proporcionar um ótimo entretenimento sem tomar muito seu tempo, porém, talvez deixe a sensação que os personagens mereceriam um desenvolvimento mais cuidadoso. De cara, eu posso afirmar tranquilamente que vale a pena - sinceramente, acho que essa série pode te surpreender e, muito em breve, se tornar uma das queridinhas dos assinantes da Netflix se for inteligente o suficiente para não cair no óbvio!

Ao lado da Espanha, a Alemanha talvez seja o país europeu que mais ganhou os holofotes recentemente e que vem entregando ótimos conteúdos - deixando, inclusive, França e Reino Unido para trás. Dito isso, é de se esperar que depois de "Dark" e "Nós somos a Onda", o país trouxesse para um universo um pouco mais lúdico, a seriedade com que desenvolve suas histórias. Essa percepção executiva e criativa vem fazendo muita diferença. Um dos pontos que nos provocava em Breaking Bad e que encontramos em  "Como Vender Drogas Online (Rápido)" diz respeito a construção de um mito (mesmo que na forma de anti-herói). O interessante é que para contextualizar essa jornada, os criadores Philipp Käßbohrer e Matthias Murmann, a todo momento, fazem paralelos com empreendedores de sucesso da vida real, deixando claro que existe um padrão para alcançar o sucesso e que se repetido, a chance de funcionar aumenta consideravelmente, mesmo com um produto ilegal. Não é raro, aliás, nomes como Steve Jobs, Elon Musk e Jeff Bezos serem citados para validar uma ou outra atitude dos protagonistas - essas referências trazem uma agradável lembrança de "Silicon Valley" da HBO, inclusive!

Peço licença para repetir a mesma premissa que destaquei em "Good Girls": "Como Vender Drogas Online (Rápido)" é daquele tipo de série onde o protagonista bonzinho  vai tomando decisões cada vez mais questionáveis ao longo da sua jornada, cada vez mais distante dos seus valores e aspectos morais, mas vai gostando da nova vida, da sensação de poder e de pertencimento viciante até que, de repente, está em uma enorme bola de neve de onde não consegue mais sair!" - Dito isso, é possível afirmar que as tramas e sub-tramas vão soar familiares! Acontece que a série apresenta tantos elementos interessantes para serem desenvolvidos que eu chego a duvidar se a escolha por episódios menores foi realmente a melhor - acho que não!

Comandado pelo diretor Arne Feldhusen, a série tem um conceito estético maravilhoso que nos insere no universo da Geração Z com muita elegância. As inserções gráficas para explicar como a tecnologia faz parte do cotidiano dessa geração e como ela interfere na formação social desses jovens, é simplesmente genial - embora auto-explicativo, ter Moritz como narrador e protagonista só facilita o entendimento, além de render ótimas tiradas. Outro elemento visual muito bacana mostra como a droga impacta a vida de um ser humano normal - em uma sequência de cenas excepcionalmente bem editadas (totalmente clipadas), vemos uma pessoa no seu dia a dia que, rapidamente, sofre uma transformação assim que coloca um comprimido da boca. Usando tanto fashfowards quanto flashbacks, além de visualmente interessante, essas cenas ajudam a explicar os efeitos e consequências das drogas que estão sendo vendidas por Moritz e pelo seu sócio Lenny (Danilo Kamber).

Outro ponto que merece ser destacado antes de finalizarmos o review é justamente a qualidade do elenco: tanto Moritz (Maximilian Mundt) quanto Lenny (Danilo Kamber) fogem completamente do estereótipo que costumamos encontrar em séries adolescentes (e aqui estou sendo bastante taxativo). Com excelentes performances, a dupla de protagonistas convencem, cada um apoiado no seu drama particular, sem soar superficial e isso não é nada fácil!

Agora, é claro que beber na fonte de "Breaking Bad" tem seus prós e contras -  são inúmeras referências (quase adaptações): como ter um policial dentro de família ou o corte de cabelo do protagonista, mas que funcionam tão bem que soa até original, embora sabemos que não é! "Como Vender Drogas Online (Rápido)" é uma ótima escolha, pela dinâmica da série e pela forma como a história é contada - ela exige da nossa imaginação e até de uma certa abstração da realidade, ao mesmo tempo em que é extremamente real e paupável dentro daquele cenário! Vale muito a pena pela dicotomia inteligente da narrativa e pela diversão que ela nos proporciona!

Assista Agora

Se "Good Girls" foi definida como a versão de "Breaking Bad" com protagonistas femininos, naturalmente vamos relacionar "Como Vender Drogas Online (Rápido)" como a versão adolescente da série de Vince Gilligan. O que poderia soar com uma certa desconfiança, afinal a Netflix vem enchendo seu catálogo de projetos bem duvidosos com temática adolescente desde 2019, tem um elemento que acaba colocando essa série em um outro patamar: "Como Vender Drogas Online (Rápido)" é uma produção alemã! Repare na sinopse: Moritz (Maximilian Mundt) é um nerd que, após terminar um relacionamento de muitos anos e ver sua ex-namorada, Lisa (Lena Klenke), começar a se relacionar com o "traficante", popular e esportista da escola, resolve abrir seu próprio negócio para ganhar muito dinheiro, respeito, poder e assim reconquistá-la - o problema é "como" ele quer conseguir tudo isso, claro! Confira o trailer:

Vender drogas online pela Deep Web foi uma escolha tão natural para dois Nerds com o mindset empreendedor, como produzir metanfetamina de qualidade foi para um químico como Walter White. Se a motivação de White era ganhar a maior quantidade de dinheiro possível para deixar sua família tranquila após descobrir que o câncer no pulmão acabaria com sua vida, a de Moritz soa exatamente igual - mas dentro daquele universo que ele pertence! O que achei interessante em "Como Vender Drogas Online (Rápido)"é que não existe uma banalização do drama do protagonista por ele ser um adolescente cheio de inseguranças - sua dor e preocupação são tão legitimos quanto o câncer de White. Mesmo se apoiando em assuntos que estamos cansados de assistir, a série usa de um conceito narrativo menos denso, o que transforma temas bastante delicados em alegorias de fácil entendimento. O fato da série ser relativamente curta, cada episódio com cerca de 30 minutos e cada temporada com apenas seis episódios, ajuda muito nessa dinâmica e vai proporcionar um ótimo entretenimento sem tomar muito seu tempo, porém, talvez deixe a sensação que os personagens mereceriam um desenvolvimento mais cuidadoso. De cara, eu posso afirmar tranquilamente que vale a pena - sinceramente, acho que essa série pode te surpreender e, muito em breve, se tornar uma das queridinhas dos assinantes da Netflix se for inteligente o suficiente para não cair no óbvio!

Ao lado da Espanha, a Alemanha talvez seja o país europeu que mais ganhou os holofotes recentemente e que vem entregando ótimos conteúdos - deixando, inclusive, França e Reino Unido para trás. Dito isso, é de se esperar que depois de "Dark" e "Nós somos a Onda", o país trouxesse para um universo um pouco mais lúdico, a seriedade com que desenvolve suas histórias. Essa percepção executiva e criativa vem fazendo muita diferença. Um dos pontos que nos provocava em Breaking Bad e que encontramos em  "Como Vender Drogas Online (Rápido)" diz respeito a construção de um mito (mesmo que na forma de anti-herói). O interessante é que para contextualizar essa jornada, os criadores Philipp Käßbohrer e Matthias Murmann, a todo momento, fazem paralelos com empreendedores de sucesso da vida real, deixando claro que existe um padrão para alcançar o sucesso e que se repetido, a chance de funcionar aumenta consideravelmente, mesmo com um produto ilegal. Não é raro, aliás, nomes como Steve Jobs, Elon Musk e Jeff Bezos serem citados para validar uma ou outra atitude dos protagonistas - essas referências trazem uma agradável lembrança de "Silicon Valley" da HBO, inclusive!

Peço licença para repetir a mesma premissa que destaquei em "Good Girls": "Como Vender Drogas Online (Rápido)" é daquele tipo de série onde o protagonista bonzinho  vai tomando decisões cada vez mais questionáveis ao longo da sua jornada, cada vez mais distante dos seus valores e aspectos morais, mas vai gostando da nova vida, da sensação de poder e de pertencimento viciante até que, de repente, está em uma enorme bola de neve de onde não consegue mais sair!" - Dito isso, é possível afirmar que as tramas e sub-tramas vão soar familiares! Acontece que a série apresenta tantos elementos interessantes para serem desenvolvidos que eu chego a duvidar se a escolha por episódios menores foi realmente a melhor - acho que não!

Comandado pelo diretor Arne Feldhusen, a série tem um conceito estético maravilhoso que nos insere no universo da Geração Z com muita elegância. As inserções gráficas para explicar como a tecnologia faz parte do cotidiano dessa geração e como ela interfere na formação social desses jovens, é simplesmente genial - embora auto-explicativo, ter Moritz como narrador e protagonista só facilita o entendimento, além de render ótimas tiradas. Outro elemento visual muito bacana mostra como a droga impacta a vida de um ser humano normal - em uma sequência de cenas excepcionalmente bem editadas (totalmente clipadas), vemos uma pessoa no seu dia a dia que, rapidamente, sofre uma transformação assim que coloca um comprimido da boca. Usando tanto fashfowards quanto flashbacks, além de visualmente interessante, essas cenas ajudam a explicar os efeitos e consequências das drogas que estão sendo vendidas por Moritz e pelo seu sócio Lenny (Danilo Kamber).

Outro ponto que merece ser destacado antes de finalizarmos o review é justamente a qualidade do elenco: tanto Moritz (Maximilian Mundt) quanto Lenny (Danilo Kamber) fogem completamente do estereótipo que costumamos encontrar em séries adolescentes (e aqui estou sendo bastante taxativo). Com excelentes performances, a dupla de protagonistas convencem, cada um apoiado no seu drama particular, sem soar superficial e isso não é nada fácil!

Agora, é claro que beber na fonte de "Breaking Bad" tem seus prós e contras -  são inúmeras referências (quase adaptações): como ter um policial dentro de família ou o corte de cabelo do protagonista, mas que funcionam tão bem que soa até original, embora sabemos que não é! "Como Vender Drogas Online (Rápido)" é uma ótima escolha, pela dinâmica da série e pela forma como a história é contada - ela exige da nossa imaginação e até de uma certa abstração da realidade, ao mesmo tempo em que é extremamente real e paupável dentro daquele cenário! Vale muito a pena pela dicotomia inteligente da narrativa e pela diversão que ela nos proporciona!

Assista Agora

Concorrência Oficial

Mariano Cohn e Gastón Duprat é dupla responsável por "O Cidadão Ilustre" e por "Minha Obra-Prima" - não por acaso você vai encontrar o mesmo humor ácido, inteligente, irônico e as vezes até estereotipado em "Concorrência Oficial". Dito isso, eu sugiro que você conheça o trabalho da dupla de diretores antes do play, pois dos três filmes, certamente esse é o mais autoral na sua essência - mas nem por isso menos divertido.

Aqui, conhecemos Humberto Suárez (José Luis Gómez) um bilionário de 80 anos que, com medo de perder sua significância, decide fazer um filme para deixar sua marca. Ele contrata os melhores para a missão: Lola Cuevas (Penélope Cruz) é uma cineasta famosa, premiada, mas excêntrica em seu método de trabalho. Para protagonistas, dois atores incrivelmente talentosos, mas com egos enormes, Félix Rivero (Antonio Banderas) e Iván Torres (Oscar Martínez). Um é famoso em Hollywood e o outro, um ator radical com fortes bases teatrais. Durante o processo de ensaio, eles não só terão que se aturar enquanto contracenam, mas também terão que decidir qual legado querem deixar depois do último "corta". Confira o trailer:

"Concorrência Oficial" é muito divertido, mas claramente vai dialogar com aquela audiência que já esteve envolvida com os bastidores da Arte, seja no cinema ou no teatro - existe uma forte crítica sobre um olhar elitizado a respeito da própria cultura, como se a teoria suplantasse a prática ou o aprofundamento técnico à inspiração e o talento. Essa dissociação não é saudável, provoca a polarização radical de ideias sobre um mesmo assunto e o roteiro (que conta com a mão certeira do irmão de Gastón, Andrés Duprat) aproveita demais os gatilhos dessa discussão (sem fim). Isso cria uma dinâmica narrativa muito agradável, leve e engraçada, onde os atores (na maioria das cenas apenas três) dão um verdadeiro show.

Para aqueles que buscam o bom entretenimento de uma comédia divertida, essa co-produção Argentiona/Espanha pode parecer nichada demais, incompreensiva até, já que muito que está na tela tem uma gramática particular do teatro, dos métodos de interpretação e de criação, onde mesmo com a intenção de fazer graça, pode parecer o contrário. Veja, "Concorrência Oficial" não tem o humor escrachado de "O Peso do Talento", muito menos o drama profundo de "Dor e Glória", mas tem um equilíbrio, cheio de camadas e ótimas sacadas dos dois. Alias, são tantas referências ao Almodóvar que Penélope Cruz praticamente se declara para o diretor espanhol (e amigo) - a cena em que sua personagem discute com a diretora de arte sobre o cenário que será a casa de um dos protagonistas parece ter sido tirada, justamente, de algum causo contado por Cruz.

Dois pontos que precisam ser comentados: "Concorrência Oficial" parece ser uma resposta mais íntima ao polêmico "The Square" do sueco Ruben Östlund - embora, para mim, ambos convergem nas suas intenções de formas diferentes, um mais leve e irônico, enquanto o outro de uma forma mais incômoda e provocativa. O segundo detalhe que merece sua atenção é o excelente trabalho de design de som do Aitor Berenguer (profissional indicado ao Emmy em 2016 por "The Night Manager") - é incrível como a construção usando esse elemento cria uma sensação de instabilidade nas relações entre os personagens (a cena do beijo, com os microfones ligados e o som saindo apenas nos fones de ouvido, é genial!).

"Competencia Oficial" (no original) se apropria do talento dos envolvidos, com uma projeção artística e técnica elogiável, um texto inteligente e performances dignas de prêmios. Não por acaso o filme esteve em festivais renomados como San Sebastián e Veneza, o que justifica seu caráter autoral, mas sem perder a elegância tão particular da cinematografia de Mariano Cohn e Gastón Duprat.

Vale muito a pena!

Assista Agora

Mariano Cohn e Gastón Duprat é dupla responsável por "O Cidadão Ilustre" e por "Minha Obra-Prima" - não por acaso você vai encontrar o mesmo humor ácido, inteligente, irônico e as vezes até estereotipado em "Concorrência Oficial". Dito isso, eu sugiro que você conheça o trabalho da dupla de diretores antes do play, pois dos três filmes, certamente esse é o mais autoral na sua essência - mas nem por isso menos divertido.

Aqui, conhecemos Humberto Suárez (José Luis Gómez) um bilionário de 80 anos que, com medo de perder sua significância, decide fazer um filme para deixar sua marca. Ele contrata os melhores para a missão: Lola Cuevas (Penélope Cruz) é uma cineasta famosa, premiada, mas excêntrica em seu método de trabalho. Para protagonistas, dois atores incrivelmente talentosos, mas com egos enormes, Félix Rivero (Antonio Banderas) e Iván Torres (Oscar Martínez). Um é famoso em Hollywood e o outro, um ator radical com fortes bases teatrais. Durante o processo de ensaio, eles não só terão que se aturar enquanto contracenam, mas também terão que decidir qual legado querem deixar depois do último "corta". Confira o trailer:

"Concorrência Oficial" é muito divertido, mas claramente vai dialogar com aquela audiência que já esteve envolvida com os bastidores da Arte, seja no cinema ou no teatro - existe uma forte crítica sobre um olhar elitizado a respeito da própria cultura, como se a teoria suplantasse a prática ou o aprofundamento técnico à inspiração e o talento. Essa dissociação não é saudável, provoca a polarização radical de ideias sobre um mesmo assunto e o roteiro (que conta com a mão certeira do irmão de Gastón, Andrés Duprat) aproveita demais os gatilhos dessa discussão (sem fim). Isso cria uma dinâmica narrativa muito agradável, leve e engraçada, onde os atores (na maioria das cenas apenas três) dão um verdadeiro show.

Para aqueles que buscam o bom entretenimento de uma comédia divertida, essa co-produção Argentiona/Espanha pode parecer nichada demais, incompreensiva até, já que muito que está na tela tem uma gramática particular do teatro, dos métodos de interpretação e de criação, onde mesmo com a intenção de fazer graça, pode parecer o contrário. Veja, "Concorrência Oficial" não tem o humor escrachado de "O Peso do Talento", muito menos o drama profundo de "Dor e Glória", mas tem um equilíbrio, cheio de camadas e ótimas sacadas dos dois. Alias, são tantas referências ao Almodóvar que Penélope Cruz praticamente se declara para o diretor espanhol (e amigo) - a cena em que sua personagem discute com a diretora de arte sobre o cenário que será a casa de um dos protagonistas parece ter sido tirada, justamente, de algum causo contado por Cruz.

Dois pontos que precisam ser comentados: "Concorrência Oficial" parece ser uma resposta mais íntima ao polêmico "The Square" do sueco Ruben Östlund - embora, para mim, ambos convergem nas suas intenções de formas diferentes, um mais leve e irônico, enquanto o outro de uma forma mais incômoda e provocativa. O segundo detalhe que merece sua atenção é o excelente trabalho de design de som do Aitor Berenguer (profissional indicado ao Emmy em 2016 por "The Night Manager") - é incrível como a construção usando esse elemento cria uma sensação de instabilidade nas relações entre os personagens (a cena do beijo, com os microfones ligados e o som saindo apenas nos fones de ouvido, é genial!).

"Competencia Oficial" (no original) se apropria do talento dos envolvidos, com uma projeção artística e técnica elogiável, um texto inteligente e performances dignas de prêmios. Não por acaso o filme esteve em festivais renomados como San Sebastián e Veneza, o que justifica seu caráter autoral, mas sem perder a elegância tão particular da cinematografia de Mariano Cohn e Gastón Duprat.

Vale muito a pena!

Assista Agora

Crimes em Hollywood

Na linha tênue de "Entre Facas e Segredos" e de "Magnatas do Crime", o diretor Tim Kirkby (de "Fleabag") até entrega um filme divertido e dinâmico, mas longe de ser genial. "Crimes em Hollywood" pode surpreender com sua narrativa, com ótimas performances de um elenco de peso e até pelo seu toque de mistério, mas não será lembrado como nada além de um bom entretenimento! Mesmo que a jornada do protagonista seja repleta de surpresas, fazendo com que algumas reviravoltas nos envolvam ainda mais com a trama, dá a impressão que falta um pouco de charme na proposta de Kirkby em transformar um filme "ok" em uma espécie de "noir moderninho" como na série "Knives Out", por exemplo.

"Last Looks" (no original) nos conduz por uma intrigante história de assassinato pelo olhar de Charlie Waldo (Charlie Hunnam), um detetive particular que se afastou de todos após um trágico (e mal explicado) incidente. Ele é arrastado de volta para o mundo da investigação quando uma antiga amiga, Lorena (Morena Baccarin), pede sua ajuda para resolver um crime onde o principal suspeito é um famoso astro da TV americana, o ator Alastair Pinch (Mel Gibson). Confira o trailer:

"Crimes em Hollywood" tem o mérito de construir uma história intrigante, sem cair no erro de se tornar um drama denso ou complexo demais. Longe disso, aqui o que encontramos é mais uma narrativa que se apoia na dramédia, com seus esteriótipos de gênero, que se propõe a entreter ao mesmo tempo em que habilmente captura a essência de uma investigação criminal que nos leva de volta aos clássicos repaginados de Agatha Christie. Kirkby, embora não arrisque como Rian Johnson ou Guy Ritchie, demonstra competência ao criar essa atmosfera inquietante dentro de um caos de tramas e sub-tramas que o roteiro propõe - e isso precisa ser ressaltado.

Já o roteiro de Howard Michael Gould (de "O Rei do Jogo") parece ser o calcanhar de Aquiles do filme. Muitas vezes ele se perde na necessidade de jogar várias peças no tabuleiro para nos afastar do que realmente importa: descobrir quem matou a mulher de Alastair Pinch. Essa escolha conceitual pode funcionar melhor em um livro, mas na adaptação me parece ser um erro, no entanto, e isso eu posso te garantir, não prejudica nossa experiência como audiência. Talvez, e aqui só o tempo dirá, a ideia seja mesmo deixar algo nas entrelinhas para justificar outros filmes e por assim dizer, iniciar uma franquia a partir de sua versão literária. Nesse sentido, surge outro problema: Charlie Hunnam sofre com a falta de carisma, principalmente quando está em cena com Mel Gibson. Gibson faz jus ao estereótipo de seu personagem com sua habilidade excepcional de ser caricato e humano ao mesmo tempo, enquanto Hunnam parece completamente dispensável como detetive - é como se esperássemos uma cartada genial de seu personagem e mesmo quando ela surge, não tem força para nos roubar um sorriso (ou um suspiro).

"Crimes em Hollywood" é bom, divertido e merece uma chance de ser descoberto pelo que oferece - mesmo com todos esses "poréns". Como história, o filme realmente cativa mais pelo seu inicio, do que pela conclusão do mistério, mas também não deixa aquela sensação de decepção, sabe? Como produção, a barra sobe mais um pouco e não deixa nada a desejar para outras produções do mesmo estilo. Como proposta para uma franquia, com um ou outro ajuste, podemos até seguir acreditando que mais histórias de crimes com essa atmosfera menos densa de narrativa vai continuar entregando ótimos momentos de diversão e entretenimento - mas não dá para esperar mais que isso, ok?

Assista Agora

Na linha tênue de "Entre Facas e Segredos" e de "Magnatas do Crime", o diretor Tim Kirkby (de "Fleabag") até entrega um filme divertido e dinâmico, mas longe de ser genial. "Crimes em Hollywood" pode surpreender com sua narrativa, com ótimas performances de um elenco de peso e até pelo seu toque de mistério, mas não será lembrado como nada além de um bom entretenimento! Mesmo que a jornada do protagonista seja repleta de surpresas, fazendo com que algumas reviravoltas nos envolvam ainda mais com a trama, dá a impressão que falta um pouco de charme na proposta de Kirkby em transformar um filme "ok" em uma espécie de "noir moderninho" como na série "Knives Out", por exemplo.

"Last Looks" (no original) nos conduz por uma intrigante história de assassinato pelo olhar de Charlie Waldo (Charlie Hunnam), um detetive particular que se afastou de todos após um trágico (e mal explicado) incidente. Ele é arrastado de volta para o mundo da investigação quando uma antiga amiga, Lorena (Morena Baccarin), pede sua ajuda para resolver um crime onde o principal suspeito é um famoso astro da TV americana, o ator Alastair Pinch (Mel Gibson). Confira o trailer:

"Crimes em Hollywood" tem o mérito de construir uma história intrigante, sem cair no erro de se tornar um drama denso ou complexo demais. Longe disso, aqui o que encontramos é mais uma narrativa que se apoia na dramédia, com seus esteriótipos de gênero, que se propõe a entreter ao mesmo tempo em que habilmente captura a essência de uma investigação criminal que nos leva de volta aos clássicos repaginados de Agatha Christie. Kirkby, embora não arrisque como Rian Johnson ou Guy Ritchie, demonstra competência ao criar essa atmosfera inquietante dentro de um caos de tramas e sub-tramas que o roteiro propõe - e isso precisa ser ressaltado.

Já o roteiro de Howard Michael Gould (de "O Rei do Jogo") parece ser o calcanhar de Aquiles do filme. Muitas vezes ele se perde na necessidade de jogar várias peças no tabuleiro para nos afastar do que realmente importa: descobrir quem matou a mulher de Alastair Pinch. Essa escolha conceitual pode funcionar melhor em um livro, mas na adaptação me parece ser um erro, no entanto, e isso eu posso te garantir, não prejudica nossa experiência como audiência. Talvez, e aqui só o tempo dirá, a ideia seja mesmo deixar algo nas entrelinhas para justificar outros filmes e por assim dizer, iniciar uma franquia a partir de sua versão literária. Nesse sentido, surge outro problema: Charlie Hunnam sofre com a falta de carisma, principalmente quando está em cena com Mel Gibson. Gibson faz jus ao estereótipo de seu personagem com sua habilidade excepcional de ser caricato e humano ao mesmo tempo, enquanto Hunnam parece completamente dispensável como detetive - é como se esperássemos uma cartada genial de seu personagem e mesmo quando ela surge, não tem força para nos roubar um sorriso (ou um suspiro).

"Crimes em Hollywood" é bom, divertido e merece uma chance de ser descoberto pelo que oferece - mesmo com todos esses "poréns". Como história, o filme realmente cativa mais pelo seu inicio, do que pela conclusão do mistério, mas também não deixa aquela sensação de decepção, sabe? Como produção, a barra sobe mais um pouco e não deixa nada a desejar para outras produções do mesmo estilo. Como proposta para uma franquia, com um ou outro ajuste, podemos até seguir acreditando que mais histórias de crimes com essa atmosfera menos densa de narrativa vai continuar entregando ótimos momentos de diversão e entretenimento - mas não dá para esperar mais que isso, ok?

Assista Agora

David contra os Bancos

Essa é mais uma comédia inglesa, daquelas gostosas de assistir, bem ao estilo de "Um Lugar Chamado Notting Hill" ou "Yesterday" - o diferencial aqui, é que a história de "David contra os Bancos" é baseada em fatos "quase" reais. No filme dirigido pelo Chris Foggin (de "Um Natal Improvável") entendemos a importância histórica de retratar a jornada de resiliência de um homem comum em face de desafios extraordinários, no caso o sistema econômico britânico, mas sem esquecer daquilo que nos mantém sorrindo durante os momentos de dificuldade: o amor! Sim, a receita "Notting Hill" está em cada detalhe do roteiro e mesmo supondo como será o final, fica impossível não se envolver com aqueles personagens!

O filme, basicamente, narra a trajetória do empresário idealista Dave Fishwick (Rory Kinnear), proprietário de uma empresa de vans na pequena cidade de Burnley na Inglaterra, que decide lutar contra um sistema financeiro secular para conseguir uma licença e assim abrir seu próprio banco com o intuito de ajudar sua comunidade, sem cobrar taxas abusivas, em um período pós-recessão. Para isso ele conta como a ajuda do jovem advogado de Londres, Huch (Joel Fry), que acredita estar perdendo seu tempo até que se vê envolvido com a sobrinha de Dave, Alexandra (Phoebe Dynevor). Confira o trailer:

Se em "O Próprio Enterro" acompanhamos uma complexa batalha “David x Golias corporativo" com um toque de "Erin Brockovich", aqui temos o mesmo principio, porém em um tom infinitamente mais leve.Veja, as críticas contra o sistema econômico e a política elitista dos bancos britânicos estão lá. O desafio pela busca de prosperidade em pequenas comunidades que se organizam independente das dificuldades geográficas ou de segregação também. Mas talvez o fato que mais nos conecta com a história é o de sabermos que existe um homem (podemos dizer, milionário) que quer criar um banco para simplesmente fomentar o progresso de sua comunidade sem pedir absolutamente nada em troca! Essa foi a escolha mais sábia de Foggin e de seu roteirista Piers Ashworth (de "Fisherman's Friends: One and All"): realizar um filme positivo e simples em todos os sentidos, que não busca grandes coisas além de uma história feliz que agrade todos os públicos. 

Quando o enredo resolve acompanhar a vida desse visionário empreendedor, imediatamente criamos empatia por Dave e pela sua causa - praticamente partimos para a luta contra as barreiras confortáveis do Sistema em uma jornada emocional e cativante repleta de aprendizado e superação. Se o alívio emocional vem da relação "(im)provável" de seu advogado com sua sobrinha, pode ter certeza que é pela seu envolvimento com a música que encontramos o combustível para seguir em clima de "juntos vamos conseguir". Pelas mãos do produtor e compositor Christian Henson partimos de um pub/karaokê onde parte da comunidade se reune todas as noites até seu ápice narrativo do terceiro ato com um grande espetáculo ao som da banda "Def Leppard" que, inexplicavelmente, multiplica toda aaquela noção de comunidade que o filme construiu nos seus primeiros atos - mas tudo bem, faz parte do estilo "Notting Hill" de mover a história que, no final das contas, se amarra de forma coerente, mesmo que sobrem passagens sem muito sentido e que só ocorrem para nos levar ao ponto que Foggin deslumbrou - e até que funciona com certa competência!

O fato é que "Bank of Dave" (no original) traz o ingênuo e o inofensivo para sua narrativa maniqueísta, buscando puramente o entretenimento e a sensação de que, com resiliência e muita vontade, tudo é possível. Mesmo sabendo que a política, em suas diversas formas e ideologias, está sempre presente nos diálogos e em vários momentos da trama, posso te garantir que a experiência está longe de ser profunda ou crítica demais, deixando apenas nas entrelinhas um material interessante para discussão que, mal colocado, poderia ter acabado com o que o filme tem de melhor: sua leveza chancelada pelo fato de ser uma história real e que merecia ser contada. 

Vale muito o seu play!

Assista Agora

Essa é mais uma comédia inglesa, daquelas gostosas de assistir, bem ao estilo de "Um Lugar Chamado Notting Hill" ou "Yesterday" - o diferencial aqui, é que a história de "David contra os Bancos" é baseada em fatos "quase" reais. No filme dirigido pelo Chris Foggin (de "Um Natal Improvável") entendemos a importância histórica de retratar a jornada de resiliência de um homem comum em face de desafios extraordinários, no caso o sistema econômico britânico, mas sem esquecer daquilo que nos mantém sorrindo durante os momentos de dificuldade: o amor! Sim, a receita "Notting Hill" está em cada detalhe do roteiro e mesmo supondo como será o final, fica impossível não se envolver com aqueles personagens!

O filme, basicamente, narra a trajetória do empresário idealista Dave Fishwick (Rory Kinnear), proprietário de uma empresa de vans na pequena cidade de Burnley na Inglaterra, que decide lutar contra um sistema financeiro secular para conseguir uma licença e assim abrir seu próprio banco com o intuito de ajudar sua comunidade, sem cobrar taxas abusivas, em um período pós-recessão. Para isso ele conta como a ajuda do jovem advogado de Londres, Huch (Joel Fry), que acredita estar perdendo seu tempo até que se vê envolvido com a sobrinha de Dave, Alexandra (Phoebe Dynevor). Confira o trailer:

Se em "O Próprio Enterro" acompanhamos uma complexa batalha “David x Golias corporativo" com um toque de "Erin Brockovich", aqui temos o mesmo principio, porém em um tom infinitamente mais leve.Veja, as críticas contra o sistema econômico e a política elitista dos bancos britânicos estão lá. O desafio pela busca de prosperidade em pequenas comunidades que se organizam independente das dificuldades geográficas ou de segregação também. Mas talvez o fato que mais nos conecta com a história é o de sabermos que existe um homem (podemos dizer, milionário) que quer criar um banco para simplesmente fomentar o progresso de sua comunidade sem pedir absolutamente nada em troca! Essa foi a escolha mais sábia de Foggin e de seu roteirista Piers Ashworth (de "Fisherman's Friends: One and All"): realizar um filme positivo e simples em todos os sentidos, que não busca grandes coisas além de uma história feliz que agrade todos os públicos. 

Quando o enredo resolve acompanhar a vida desse visionário empreendedor, imediatamente criamos empatia por Dave e pela sua causa - praticamente partimos para a luta contra as barreiras confortáveis do Sistema em uma jornada emocional e cativante repleta de aprendizado e superação. Se o alívio emocional vem da relação "(im)provável" de seu advogado com sua sobrinha, pode ter certeza que é pela seu envolvimento com a música que encontramos o combustível para seguir em clima de "juntos vamos conseguir". Pelas mãos do produtor e compositor Christian Henson partimos de um pub/karaokê onde parte da comunidade se reune todas as noites até seu ápice narrativo do terceiro ato com um grande espetáculo ao som da banda "Def Leppard" que, inexplicavelmente, multiplica toda aaquela noção de comunidade que o filme construiu nos seus primeiros atos - mas tudo bem, faz parte do estilo "Notting Hill" de mover a história que, no final das contas, se amarra de forma coerente, mesmo que sobrem passagens sem muito sentido e que só ocorrem para nos levar ao ponto que Foggin deslumbrou - e até que funciona com certa competência!

O fato é que "Bank of Dave" (no original) traz o ingênuo e o inofensivo para sua narrativa maniqueísta, buscando puramente o entretenimento e a sensação de que, com resiliência e muita vontade, tudo é possível. Mesmo sabendo que a política, em suas diversas formas e ideologias, está sempre presente nos diálogos e em vários momentos da trama, posso te garantir que a experiência está longe de ser profunda ou crítica demais, deixando apenas nas entrelinhas um material interessante para discussão que, mal colocado, poderia ter acabado com o que o filme tem de melhor: sua leveza chancelada pelo fato de ser uma história real e que merecia ser contada. 

Vale muito o seu play!

Assista Agora

Depois da Festa

Depois da Festa

"Depois da Festa", produção original da Apple, é muito divertida e, sem a menor dúvida, veio para beber na mesma fonte de "Only Murders in the Building"- na sua forma e no seu conteúdo. Embora sejam histórias completamente diferentes, a série parte do mesmo principio: um assassinato onde todos são suspeitos (conteúdo). Misturando comédia com investigação (forma), "Depois da Festa" usa um conceito narrativo muito interessante: cada um dos interrogados conta sua versão da história respeitando as características de um determinado gênero de TV ou do cinema, criando uma dinâmica surpreendentemente criativa que vai do suspense à animação.

Na história acompanhamos a detetive Danner (Tiffany Haddish) que é chamada para investigar o assassinato do astro pop, Xavier (Dave Franco), morto em sua mansão durante uma festa entre amigos realizada após um evento de reencontro de 15 anos da sua turma do colégio. Confira o trailer:

Criada por Chris Miller, mente por trás do sucesso "Homem-Aranha no Aranhaverso"(2018), "Depois da Festa" agrada logo de cara, com sacadas muito bem inseridas no roteiro e com uma proposta narrativa das mais interessantes. O sucesso foi tão grande que mesmo antes do aguardado final da primeira temporada, a Apple já havia dado o sinal verde para uma segunda e confirmado o retorno de Haddish como detetive Danner para tentar desvendar o mistério de outro caso.

Veja, em um primeiro momento você pode até estranhar a forma como a história está sendo contada, com alguns erros de continuidade grosseiros e um certo descompasso entre os personagens e a trama que movimenta a história, porém logo percebemos que tudo isso faz parte da proposta - afinal as histórias são contadas pelo ponto de vista de quem viveu aquilo tudo e isso lhe dá o direito de construir a sua versão dos fatos, mesmo que soe fantasioso demais. A mudança de gênero que cada personagem escolhe para contar essa sua versão colabora para uma experiência única: o de tentar encontrar o assassino com as peças que nos são mostradas - e não se engane, essa peças são mostradas em todo momento, então preste muita atenção - o último episódio, inclusive, faz uso de uma montagem sensacional para nos provar que "quase" tudo foi realmente mostrado antes.

"The AfterParty" (no original) tem o mistério, ao melhor estilo "quem matou?", na sua essência, mas é durante a jornada que a série brilha (e brilha muito). Até o sétimo episódio, o mais fraco na minha opinião e que conta a história da detetive Danner, tem conexão com o arco central e se justifica logo no episódio seguinte. Esse cuidado em amarrar todas as pontas é uma aula de planejamento narrativo e faz de toda série imperdível - é impossível não ficar ansioso para conhecer as próximas pistas e assim construir a sua própria versão para o caso! Olha, se comentei no review de "Only Murders in the Building" que ao lado de "Ted Lasso" e "O Método Kominsky", aquela tinha sido a série que mais trouxe um frescor narrativo nos últimos anos, fico muito a vontade em adicionar mais um título nessa prateleira: "Depois da Festa"!

Vale muito o seu play!

Assista Agora

"Depois da Festa", produção original da Apple, é muito divertida e, sem a menor dúvida, veio para beber na mesma fonte de "Only Murders in the Building"- na sua forma e no seu conteúdo. Embora sejam histórias completamente diferentes, a série parte do mesmo principio: um assassinato onde todos são suspeitos (conteúdo). Misturando comédia com investigação (forma), "Depois da Festa" usa um conceito narrativo muito interessante: cada um dos interrogados conta sua versão da história respeitando as características de um determinado gênero de TV ou do cinema, criando uma dinâmica surpreendentemente criativa que vai do suspense à animação.

Na história acompanhamos a detetive Danner (Tiffany Haddish) que é chamada para investigar o assassinato do astro pop, Xavier (Dave Franco), morto em sua mansão durante uma festa entre amigos realizada após um evento de reencontro de 15 anos da sua turma do colégio. Confira o trailer:

Criada por Chris Miller, mente por trás do sucesso "Homem-Aranha no Aranhaverso"(2018), "Depois da Festa" agrada logo de cara, com sacadas muito bem inseridas no roteiro e com uma proposta narrativa das mais interessantes. O sucesso foi tão grande que mesmo antes do aguardado final da primeira temporada, a Apple já havia dado o sinal verde para uma segunda e confirmado o retorno de Haddish como detetive Danner para tentar desvendar o mistério de outro caso.

Veja, em um primeiro momento você pode até estranhar a forma como a história está sendo contada, com alguns erros de continuidade grosseiros e um certo descompasso entre os personagens e a trama que movimenta a história, porém logo percebemos que tudo isso faz parte da proposta - afinal as histórias são contadas pelo ponto de vista de quem viveu aquilo tudo e isso lhe dá o direito de construir a sua versão dos fatos, mesmo que soe fantasioso demais. A mudança de gênero que cada personagem escolhe para contar essa sua versão colabora para uma experiência única: o de tentar encontrar o assassino com as peças que nos são mostradas - e não se engane, essa peças são mostradas em todo momento, então preste muita atenção - o último episódio, inclusive, faz uso de uma montagem sensacional para nos provar que "quase" tudo foi realmente mostrado antes.

"The AfterParty" (no original) tem o mistério, ao melhor estilo "quem matou?", na sua essência, mas é durante a jornada que a série brilha (e brilha muito). Até o sétimo episódio, o mais fraco na minha opinião e que conta a história da detetive Danner, tem conexão com o arco central e se justifica logo no episódio seguinte. Esse cuidado em amarrar todas as pontas é uma aula de planejamento narrativo e faz de toda série imperdível - é impossível não ficar ansioso para conhecer as próximas pistas e assim construir a sua própria versão para o caso! Olha, se comentei no review de "Only Murders in the Building" que ao lado de "Ted Lasso" e "O Método Kominsky", aquela tinha sido a série que mais trouxe um frescor narrativo nos últimos anos, fico muito a vontade em adicionar mais um título nessa prateleira: "Depois da Festa"!

Vale muito o seu play!

Assista Agora

Dix pour Cent

Talvez o maior mérito de "Dix pour Cent" seja o fato de ser muito despretensiosa. A série francesa, distribuída pela Netflix, é muito divertida e realmente não se preocupa com os próprios escorregões (literalmente) até encontrar o tom de cada episódio. "Dix pour Cent" é uma série da TV aberta francesa, um procedural (episódios com começo, meio e fim, além de um arco maior que abrange todos os personagens e suas relações), muito parecida com "House of Lies" em sua estrutura narrativa. Enquanto a série da HBO acompanha uma equipe de consultores, "Dix pour Cent" segue quatro agentes de talentos em Paris. Ambas usam a comédia para aliviar o peso dos seus dramas pessoais e cotidianos, às vezes até abusando um pouco do over-acting, mas ok, porque cabe perfeitamente nas situações que os personagens enfrentam na série. Digamos que tudo combina tão bem que nos fisga facilmente!

Assista Agora ou

Talvez o maior mérito de "Dix pour Cent" seja o fato de ser muito despretensiosa. A série francesa, distribuída pela Netflix, é muito divertida e realmente não se preocupa com os próprios escorregões (literalmente) até encontrar o tom de cada episódio. "Dix pour Cent" é uma série da TV aberta francesa, um procedural (episódios com começo, meio e fim, além de um arco maior que abrange todos os personagens e suas relações), muito parecida com "House of Lies" em sua estrutura narrativa. Enquanto a série da HBO acompanha uma equipe de consultores, "Dix pour Cent" segue quatro agentes de talentos em Paris. Ambas usam a comédia para aliviar o peso dos seus dramas pessoais e cotidianos, às vezes até abusando um pouco do over-acting, mas ok, porque cabe perfeitamente nas situações que os personagens enfrentam na série. Digamos que tudo combina tão bem que nos fisga facilmente!

Assista Agora ou

Entre Facas e Segredos

"Entre Facas e Segredos" poderia ser mais uma adaptação de um livro de Agatha Christie ou de um conto de Sherlock Holmes, tantas são as referências (ou homenagens como o próprio diretor Rian Johnson já admitiu) aos clássicos de investigação. O interessante, porém, é que o filme assume uma identidade muito particular ao não guiar o público pelos olhos de quem investiga e sim pelos de quem é investigado, mesmo repetindo um conceito narrativo já bastante explorado nesse tipo história: a não-linearidade dos fatos, os vários pontos de vista para uma mesma situação e ainda aquele equilíbrio cirúrgico entre o drama, a comédia e o mistério policial.

Basicamente, o filme acompanha uma investigação após a morte do famoso romancista, Harlan Thrombey (Christopher Plummer), que na manhã seguinte ao seu 85º aniversário, é encontrado morto em seu quarto. Embora a polícia local tenha admitido se tratar de um suicídio, um famoso detetive particular, Benoit Blanc (Daniel Craig), é contratado para investigar algumas suspeitas de que, na verdade, houve um assassinado. Confira o trailer:

"Entre Facas e Segredos" é daqueles filmes divertidos sobre investigação ao melhor estilo "quem matou?". Isso ganhar ainda mais força por se tratar de um universo que nos lembra o tabuleiro do jogo "Detetive" - como um dos policiais responsáveis pelo caso confidencia, inclusive. Talvez, essa seja a melhor definição para o filme escrito e dirigido pelo Rian Johnson: assistir "Entre Facas e Segredos" é como jogar "Detetive" e em pouco mais de 120 minutos temos todas as respostas, encaixadas perfeitamente, sem atalhos ou surpresas - mérito de um excelente roteiro que concorreu ao Oscar 2020.

Você pode até descobrir todas as respostas antes delas serem reveladas, afinal as pistas estão ali, basta prestar atenção; mas pode ter certeza, a diversão já vai ter valido muito a pena!

Mesmo classificada como uma comédia, nós preferimos catalogar "Entre Facas e Segredos" como "policial" e vamos explicar a razão: o filme trás algumas características que precisam ser observadas para que as pessoas não se decepcionem. A história não é necessariamente curta (característica importante das comédias), mas tenha certeza que cada minuto é necessário para encaixar as peças desse quebra-cabeça. O que ajuda muito na dinâmica narrativa é a montagem do Bob Ducsay - responsável em dar fluidez em vários filmes de ação de sucesso. Sem dúvida que essa característica do montador ajudou a equilibrar momentos mais monótonos, como os depoimentos dos personagens (que também servem como apresentação dos mesmos), com cenas muito interessantes como a construção da linha temporal que antecedeu o crime e uma perseguição bem coreografada que dá ares de "policia contra ladrão". O roteiro foi inteligente ao usar personagens estereotipados, mas com um humor nada escrachado - existe um certo ar de sarcasmo nos diálogos, com comentários carregados de cinismo, pontuados por críticas pessoais, sociais e até sobre assuntos políticos relevantes e super atuais, que não são de fácil percepção ou não tem a leveza que um comédia sugere.

A direção de Rian Johnson é muito criativa e ao lado do fotógrafo pouco badalado, Steve Yedlin, entregam uma atmosfera quase claustrofóbica. A forma como os cômodos da Mansão são mostradas, as estátuas, a decoração, tudo muito bem pensado pela direção de arte para servir, se não como pistas do crime, pelo menos como elementos que ajudam a compor aquele mistério. O elenco também está ótimo, destaque para Ana de Armas como Marta Cabrera e Toni Collette como Joni Thrombey, além dos já citados Christopher Plummer e Daniel Craig - vale ressaltar que o roteiro expõe características muito exageradas de cada personagem como "o filho ressentido e desprezado", o outro "charmoso vagabundo" ou um genro "pragmático e desprezível"; com isso temos uma composição que nos remete ao teatro, à commedia dell'arte, mas que, de forma alguma, se distancia de uma atmosfera realista, fria e constrangedora, de onde todos estão inseridos.

"Entre Facas e Segredos" é tecnicamente muito bem realizado e nos entrega um ótimo entretenimento, que nem de longe será um filme inesquecível, mas certamente vai render duas horas de diversão de alto nível - me surpreende apenas "Roteiro Original" ter sido indicado ao Oscar, certamente caberia uma indicação de "Desenho de Produção" e quem sabe até de "Montagem".

Vale muito o play!

Assista Agora

"Entre Facas e Segredos" poderia ser mais uma adaptação de um livro de Agatha Christie ou de um conto de Sherlock Holmes, tantas são as referências (ou homenagens como o próprio diretor Rian Johnson já admitiu) aos clássicos de investigação. O interessante, porém, é que o filme assume uma identidade muito particular ao não guiar o público pelos olhos de quem investiga e sim pelos de quem é investigado, mesmo repetindo um conceito narrativo já bastante explorado nesse tipo história: a não-linearidade dos fatos, os vários pontos de vista para uma mesma situação e ainda aquele equilíbrio cirúrgico entre o drama, a comédia e o mistério policial.

Basicamente, o filme acompanha uma investigação após a morte do famoso romancista, Harlan Thrombey (Christopher Plummer), que na manhã seguinte ao seu 85º aniversário, é encontrado morto em seu quarto. Embora a polícia local tenha admitido se tratar de um suicídio, um famoso detetive particular, Benoit Blanc (Daniel Craig), é contratado para investigar algumas suspeitas de que, na verdade, houve um assassinado. Confira o trailer:

"Entre Facas e Segredos" é daqueles filmes divertidos sobre investigação ao melhor estilo "quem matou?". Isso ganhar ainda mais força por se tratar de um universo que nos lembra o tabuleiro do jogo "Detetive" - como um dos policiais responsáveis pelo caso confidencia, inclusive. Talvez, essa seja a melhor definição para o filme escrito e dirigido pelo Rian Johnson: assistir "Entre Facas e Segredos" é como jogar "Detetive" e em pouco mais de 120 minutos temos todas as respostas, encaixadas perfeitamente, sem atalhos ou surpresas - mérito de um excelente roteiro que concorreu ao Oscar 2020.

Você pode até descobrir todas as respostas antes delas serem reveladas, afinal as pistas estão ali, basta prestar atenção; mas pode ter certeza, a diversão já vai ter valido muito a pena!

Mesmo classificada como uma comédia, nós preferimos catalogar "Entre Facas e Segredos" como "policial" e vamos explicar a razão: o filme trás algumas características que precisam ser observadas para que as pessoas não se decepcionem. A história não é necessariamente curta (característica importante das comédias), mas tenha certeza que cada minuto é necessário para encaixar as peças desse quebra-cabeça. O que ajuda muito na dinâmica narrativa é a montagem do Bob Ducsay - responsável em dar fluidez em vários filmes de ação de sucesso. Sem dúvida que essa característica do montador ajudou a equilibrar momentos mais monótonos, como os depoimentos dos personagens (que também servem como apresentação dos mesmos), com cenas muito interessantes como a construção da linha temporal que antecedeu o crime e uma perseguição bem coreografada que dá ares de "policia contra ladrão". O roteiro foi inteligente ao usar personagens estereotipados, mas com um humor nada escrachado - existe um certo ar de sarcasmo nos diálogos, com comentários carregados de cinismo, pontuados por críticas pessoais, sociais e até sobre assuntos políticos relevantes e super atuais, que não são de fácil percepção ou não tem a leveza que um comédia sugere.

A direção de Rian Johnson é muito criativa e ao lado do fotógrafo pouco badalado, Steve Yedlin, entregam uma atmosfera quase claustrofóbica. A forma como os cômodos da Mansão são mostradas, as estátuas, a decoração, tudo muito bem pensado pela direção de arte para servir, se não como pistas do crime, pelo menos como elementos que ajudam a compor aquele mistério. O elenco também está ótimo, destaque para Ana de Armas como Marta Cabrera e Toni Collette como Joni Thrombey, além dos já citados Christopher Plummer e Daniel Craig - vale ressaltar que o roteiro expõe características muito exageradas de cada personagem como "o filho ressentido e desprezado", o outro "charmoso vagabundo" ou um genro "pragmático e desprezível"; com isso temos uma composição que nos remete ao teatro, à commedia dell'arte, mas que, de forma alguma, se distancia de uma atmosfera realista, fria e constrangedora, de onde todos estão inseridos.

"Entre Facas e Segredos" é tecnicamente muito bem realizado e nos entrega um ótimo entretenimento, que nem de longe será um filme inesquecível, mas certamente vai render duas horas de diversão de alto nível - me surpreende apenas "Roteiro Original" ter sido indicado ao Oscar, certamente caberia uma indicação de "Desenho de Produção" e quem sabe até de "Montagem".

Vale muito o play!

Assista Agora

Falando a Real

Pode até parecer um pouco confuso isso que vou dizer, mas "Falando a Real" é uma mistura extremamente bem equilibrada de "Ted Lasso" com "O Método Kominsky".Aliás, isso não acontece por acaso, já que a série é uma co-criação de Bill Lawrence (também criador de "Ted Lasso"), Brett Goldstein (o inesquecível Roy Kent) e Jason Segel (sim, o Marshall de "How I Met Your Mother"). O comparativo entre as séries não para por aí, já que Lawrence repete exatamente a mesma estrutura narrativa, só que dessa vez pontuando a vida de um terapeuta (pouco ortodoxo como Lasso) que tenta passar pelo luto da perda repentina de sua esposa (lembram do Norman?). De uma forma extremamente sensível, a série discute temas como o luto, a depressão, o relacionamento distante entre pai e filha e também, conforme a temporada vai se desenvolvendo, traz para os holofotes o drama diante do diagnóstico do Mal de Parkinson - com um Harrison Ford no melhor de sua forma.

Jimmy (Segel) é um terapeuta em luto que decide burlar todas as regras de sua profissão para dizer aos seus pacientes exatamente o que pensa. Deixando a ética profissional um pouco de lado, ele consegue transformar a vida de muitas pessoas a partir dessa nova abordagem, incluindo a sua. Jimmy é um dos protegidos do Dr. Phil Rodes (Ford), um psicólogo pé no chão, afiado e genial na área de terapia cognitivo-comportamental que acaba de ser diagnosticado com Mal de Parkinson. A relação entre eles ganha uma nova camada quando Phil passa a aconselhar a filha do amigo (e pupilo) na tentativa de uni-los após a tragédia familiar que ambos não conseguiram resolver juntos. Confira o trailer (em inglês):

Além de um texto dos mais inteligentes, irônico e divertido, é inegável que a força do elenco acaba colocando a série em outro patamar - o Jimmy de Segel é tão envolvente quanto humano, na forma como passa a tratar seus pacientes, quando diz sempre a "real", em um contraponto enorme ao tentar se relacionar com a filha, Alice (Lukita Maxwell), com quem tem enorme dificuldade de se comunicar, e assim quebrar todas as barreiras construídas pela maneira como cada um enfrentou o luto. A dobradinha Segel e Ford também entrega performances brilhantes, trazendo uma mistura de humor e emoção para seus personagens - mais ou menos como Douglas e Arkin em "Kominsky". A química entre os dois é palpável, e sua amizade, além da admiração profissional, rende diálogos afiados e situações cômicas ao mesmo tempo em que pontua temas mais sérios de uma maneira acessível, mantendo um equilíbrio entre o riso, a reflexão e a emoção.

Outro ponto muito interessante de "Falando a Real", sem dúvida, está nas camadas que o roteiro pincela com muita habilidade para construir momentos que exploram alguns sentimentos sem soar pragmático demais. Veja, é natural Jimmy sofrer pela perda da esposa, no entanto, Phil também precisa lidar com as suas sem ao menos se expor perante quem, na visão dele, precisa de ajuda naquele momento - a cena em que ele conta se permitir sofrer 15 minutos por dia, dada sua condição de saúde, e depois retomar a vida como se nada tivesse acontecido, dá o exato tom da profundidade das relações estabelecidas na série. Reparem que existe muito arrependimento, situações familiares e de amizade mal resolvidas nas entrelinhas e isso, meu amigo, mexe demais com a gente.

"Shrinking" (no original) é mais uma daquelas séries que consegue equilibrar habilmente momentos mais sérios com um humor inteligente, garantindo uma jornada cheia de nuances e, principalmente, emocionante. Encantadora na sua essência e bem executada na sua forma, a série da Apple sabe ser autêntica, espontânea e comovente com a mesma habilidade com que se posiciona após uma ou outra cena claramente estereotipada. Com performances excelentes, diálogos afiados e uma mistura equilibrada de comédia e drama, a série vai te conquistar - pode apostar!

Assista Agora

Pode até parecer um pouco confuso isso que vou dizer, mas "Falando a Real" é uma mistura extremamente bem equilibrada de "Ted Lasso" com "O Método Kominsky".Aliás, isso não acontece por acaso, já que a série é uma co-criação de Bill Lawrence (também criador de "Ted Lasso"), Brett Goldstein (o inesquecível Roy Kent) e Jason Segel (sim, o Marshall de "How I Met Your Mother"). O comparativo entre as séries não para por aí, já que Lawrence repete exatamente a mesma estrutura narrativa, só que dessa vez pontuando a vida de um terapeuta (pouco ortodoxo como Lasso) que tenta passar pelo luto da perda repentina de sua esposa (lembram do Norman?). De uma forma extremamente sensível, a série discute temas como o luto, a depressão, o relacionamento distante entre pai e filha e também, conforme a temporada vai se desenvolvendo, traz para os holofotes o drama diante do diagnóstico do Mal de Parkinson - com um Harrison Ford no melhor de sua forma.

Jimmy (Segel) é um terapeuta em luto que decide burlar todas as regras de sua profissão para dizer aos seus pacientes exatamente o que pensa. Deixando a ética profissional um pouco de lado, ele consegue transformar a vida de muitas pessoas a partir dessa nova abordagem, incluindo a sua. Jimmy é um dos protegidos do Dr. Phil Rodes (Ford), um psicólogo pé no chão, afiado e genial na área de terapia cognitivo-comportamental que acaba de ser diagnosticado com Mal de Parkinson. A relação entre eles ganha uma nova camada quando Phil passa a aconselhar a filha do amigo (e pupilo) na tentativa de uni-los após a tragédia familiar que ambos não conseguiram resolver juntos. Confira o trailer (em inglês):

Além de um texto dos mais inteligentes, irônico e divertido, é inegável que a força do elenco acaba colocando a série em outro patamar - o Jimmy de Segel é tão envolvente quanto humano, na forma como passa a tratar seus pacientes, quando diz sempre a "real", em um contraponto enorme ao tentar se relacionar com a filha, Alice (Lukita Maxwell), com quem tem enorme dificuldade de se comunicar, e assim quebrar todas as barreiras construídas pela maneira como cada um enfrentou o luto. A dobradinha Segel e Ford também entrega performances brilhantes, trazendo uma mistura de humor e emoção para seus personagens - mais ou menos como Douglas e Arkin em "Kominsky". A química entre os dois é palpável, e sua amizade, além da admiração profissional, rende diálogos afiados e situações cômicas ao mesmo tempo em que pontua temas mais sérios de uma maneira acessível, mantendo um equilíbrio entre o riso, a reflexão e a emoção.

Outro ponto muito interessante de "Falando a Real", sem dúvida, está nas camadas que o roteiro pincela com muita habilidade para construir momentos que exploram alguns sentimentos sem soar pragmático demais. Veja, é natural Jimmy sofrer pela perda da esposa, no entanto, Phil também precisa lidar com as suas sem ao menos se expor perante quem, na visão dele, precisa de ajuda naquele momento - a cena em que ele conta se permitir sofrer 15 minutos por dia, dada sua condição de saúde, e depois retomar a vida como se nada tivesse acontecido, dá o exato tom da profundidade das relações estabelecidas na série. Reparem que existe muito arrependimento, situações familiares e de amizade mal resolvidas nas entrelinhas e isso, meu amigo, mexe demais com a gente.

"Shrinking" (no original) é mais uma daquelas séries que consegue equilibrar habilmente momentos mais sérios com um humor inteligente, garantindo uma jornada cheia de nuances e, principalmente, emocionante. Encantadora na sua essência e bem executada na sua forma, a série da Apple sabe ser autêntica, espontânea e comovente com a mesma habilidade com que se posiciona após uma ou outra cena claramente estereotipada. Com performances excelentes, diálogos afiados e uma mistura equilibrada de comédia e drama, a série vai te conquistar - pode apostar!

Assista Agora

Famoso na França

Se você gostou de "Episodes", série inglesa de 2011 que contou com 5 temporadas e com um Matt LeBlanc (o Joey de Friends) ressurgindo das cinzas, provavelmente você vai gostar de "Famoso na França". A série, mais uma Original Netflix, bebe de uma mesma fonte: enquanto "Episodes" discutia o choque de cultura entre ingleses e americanos dentro de uma emissora de tv, "Famoso na França" faz a mesma coisa, ou pelo menos bem parecido, só que com um comediante francês como protagonista. Para falar a verdade, acho que posso até ir um pouco além: a série da Netflix tem muito do que fazia de "Episodes" uma série com humor requintado e inteligente, mas também carrega várias de suas fraquezas. Tem um roteiro muito interessante, mas também erra ao pegar o atalho do estereótipo (ou do over acting) para tentar ser engraçadona demais - e definitivamente não seria necessário essa muleta, mas como estilo, admito que funciona e se você não se incomoda com esse distanciamento da realidade na interpretação, "Famoso na França" vai valer pela diversão despretenciosa!

Na série, Gad Elmaleh (que interpreta uma versão dele mesmo) é o comediante mais famoso do seu pais, conhecido, inclusive, como o Seinfeld da França. Porém, uma crise existencial faz com que Gad repense sua carreira e suas prioridades. É quando ele decide dar um tempo em suas apresentações e embarcar para os EUA para tentar reconquistar o amor do seu filho Luke, porém em território americano ninguém conhece seu trabalho e muito menos seu sucesso e isso rende ótimas situações - constrangedoras, mas divertidas. Até sua capacidade como comediante é colocada à prova, pois nos EUA ninguém ri das suas piadas e o próprio Gad Elmaleh não se conforma como os americanos podem achar engraçados os comediantes locais. O fato é que, quando o choque de cultura vem à tona, a série pega no detalhe e na delicadeza para criticar as diferenças: desde a dificuldade com um idioma ou o entendimento das expressões mais coloquiais até a maneira como os próprios americanos se comportam perante os estrangeiros no seu dia a dia - a cena inicial no aeroporto é impagável!

Sem dúvida o grande valor da série é mesmo a qualidade do seu roteiro e a maneira inteligente como ele mostra o enorme desequilíbrio cultural entre os dois países. Outro ponto importante são as inúmeras referências de cultura pop, entretenimento, gastronomia, além de participações especiais de algumas celebridades dos EUA e da França interpretando eles mesmos (com um tom acima). Muito bem produzida, com a direção respeitando os times da comédia e uma fotografia muito interessante (principalmente nas cenas em Paris), "Famoso na França" me surpreendeu - até porque eu não sou um grande apreciador de comédias. Agora, é preciso dizer que a série usa a comédia apenas como máscara para discutir ou criticar vários tipos de relações, e mesmo não assumindo uma linguagem mais dramática, fica claro a importância dos conflitos (e fantasmas) pessoais na trama -  e isso tem que ser respeitado!

"Famoso na França" tem uma temporada já disponível, com 8 episódios de 30 minutos, é fácil de assistir, tem uma dinâmica bastante interessante e diverte. Vale o play!

Assista Agora 

Se você gostou de "Episodes", série inglesa de 2011 que contou com 5 temporadas e com um Matt LeBlanc (o Joey de Friends) ressurgindo das cinzas, provavelmente você vai gostar de "Famoso na França". A série, mais uma Original Netflix, bebe de uma mesma fonte: enquanto "Episodes" discutia o choque de cultura entre ingleses e americanos dentro de uma emissora de tv, "Famoso na França" faz a mesma coisa, ou pelo menos bem parecido, só que com um comediante francês como protagonista. Para falar a verdade, acho que posso até ir um pouco além: a série da Netflix tem muito do que fazia de "Episodes" uma série com humor requintado e inteligente, mas também carrega várias de suas fraquezas. Tem um roteiro muito interessante, mas também erra ao pegar o atalho do estereótipo (ou do over acting) para tentar ser engraçadona demais - e definitivamente não seria necessário essa muleta, mas como estilo, admito que funciona e se você não se incomoda com esse distanciamento da realidade na interpretação, "Famoso na França" vai valer pela diversão despretenciosa!

Na série, Gad Elmaleh (que interpreta uma versão dele mesmo) é o comediante mais famoso do seu pais, conhecido, inclusive, como o Seinfeld da França. Porém, uma crise existencial faz com que Gad repense sua carreira e suas prioridades. É quando ele decide dar um tempo em suas apresentações e embarcar para os EUA para tentar reconquistar o amor do seu filho Luke, porém em território americano ninguém conhece seu trabalho e muito menos seu sucesso e isso rende ótimas situações - constrangedoras, mas divertidas. Até sua capacidade como comediante é colocada à prova, pois nos EUA ninguém ri das suas piadas e o próprio Gad Elmaleh não se conforma como os americanos podem achar engraçados os comediantes locais. O fato é que, quando o choque de cultura vem à tona, a série pega no detalhe e na delicadeza para criticar as diferenças: desde a dificuldade com um idioma ou o entendimento das expressões mais coloquiais até a maneira como os próprios americanos se comportam perante os estrangeiros no seu dia a dia - a cena inicial no aeroporto é impagável!

Sem dúvida o grande valor da série é mesmo a qualidade do seu roteiro e a maneira inteligente como ele mostra o enorme desequilíbrio cultural entre os dois países. Outro ponto importante são as inúmeras referências de cultura pop, entretenimento, gastronomia, além de participações especiais de algumas celebridades dos EUA e da França interpretando eles mesmos (com um tom acima). Muito bem produzida, com a direção respeitando os times da comédia e uma fotografia muito interessante (principalmente nas cenas em Paris), "Famoso na França" me surpreendeu - até porque eu não sou um grande apreciador de comédias. Agora, é preciso dizer que a série usa a comédia apenas como máscara para discutir ou criticar vários tipos de relações, e mesmo não assumindo uma linguagem mais dramática, fica claro a importância dos conflitos (e fantasmas) pessoais na trama -  e isso tem que ser respeitado!

"Famoso na França" tem uma temporada já disponível, com 8 episódios de 30 minutos, é fácil de assistir, tem uma dinâmica bastante interessante e diverte. Vale o play!

Assista Agora 

Flora e Filho

"Flora e Filho" que no Brasil ganhou o "inspirado" subtítulo de "Música em Família" é uma graça, daqueles que assistimos com um leve sorriso no rosto e que no final deixa nosso coração quentinho, sabe? E tudo isso não é por acaso, já que o diretor John Carney é o mesmo do imperdível "Apenas Uma Vez" e do excelente "Mesmo Se Nada Der Certo", e ainda traz uma premissa narrativa bem parecida com seus filmes anteriores, ou seja, contar uma história sobre um relacionamento difícil, dessa vez entre mãe e filho, que encontra um propósito em comum por meio da música. O filme distribuído pela Apple foi exibido noFestival de Toronto 2023 e acabou recebendo muitos elogios, tanto dos críticos quanto do público.

Flora (Eve Hewson) é uma mãe solteira que simplesmente não sabe mais o que fazer para se conectar com Max (Orén Kinlan), seu filho adolescente e, claro, rebelde. Quando a polícia sugere que Flora encontre um hobby para Max, ela entrega um antigo violão reformado para ele. O que ela imaginava que transformaria a vida do seu filho, acaba transformando a dela quando ela passa a ter aulas de violão pela internet com um músico fracassado de Los Angeles, Jeff (Joseph Gordon-Levitt). A partir daí, Flora e Max descobrem o poder que a música pode ter em uma relação que parecia impossível de funcionar. Confira o trailer (em inglês):

"Flora e Filho" é um filme que, de fato, transcende as barreiras do sub-gênero musical com aquele leve toque de comédia romântica. Como já faz parte da sua identidade, a direção de John Carney, se aproveita do drama familiar, ou da desconstrução dele, para discutir o real poder da conexão humana e a importância do perdão para que as coisas possam voltar a funcionar. E aqui não estamos falando do perdão entre mãe e filho, e sim sobre o "se perdoar". Obviamente que Carney não pesa na mão em nenhum momento, ou seja, não espere nada muito profundo ou desenvolvido demais, a ideia é mesmo contar uma história que nos faça lembrar que, mesmo nos momentos mais difíceis, a música pode iluminar nosso caminho e nos unir de maneiras inesperadas. Sim, eu sei que pode parecer poético demais e até soar um pouco "auto-ajuda", mas é por aí mesmo que encontramos a beleza do filme como um entretenimento despretensioso, mas muito acolhedor. 

O roteiro do próprio Carney é bom, mas tem um certo desequilíbrio estrutural: os dois primeiros atos parecem mais cadenciados que sua conclusão, que soa apressada demais. É certo que o filme merecia pelo menos mais dez minutos de história - foi uma escolha conceitual do diretor e roteirista que funciona, mas também deixa uma sensação de que cabia mais. A fotografia cativante do experiente John Conroy (de "Westworld") ajuda a quebrar uma atmosfera de solidão com movimentos e soluções criativas que aproximam os personagens mesmo estando distantes - seja geograficamente ou emocionalmente. Reparem como de repente conexões são criadas e tudo parece fazer sentido. As poucas cenas de performances musicais funcionam como a "cereja do bolo" capturando a magia do processo criativo, proporcionando para audiência uma imersão emotiva na história. É aqui que, curiosamente, Eve Hewson mais se destaca - é impressionante como ela usa bem o seu olhar mais íntimo, criando um contra-ponto com ótimas e engraçadas passagens em que seu jeito "desbocado" de se expressar nos diverte.

Se a trilha sonora de "Flora e Filho" não tem a potência tão característica da filmografia de Carney (que já lhe rendeu dezenas de prêmios e uma indicação ao Oscar), saiba que a música original “High Life” vai sim te pegar! Agora um aviso: esteja preparado para um jornada que se recusa a romantizar a experiência da maternidade e que consegue incluir diálogos inquietantes quanto “às vezes eu gostaria que ele sumisse” sem fazer com que percamos a simpatia por uma mão que busca a todo custo se conectar com seu filho - o olhar para si, aqui, nunca é tratado como egoísmo e sim como autodescoberta; fica a reflexão!

Ps: Antes de finalizar, é impossível não citar a propaganda descarada do GarageBand. Embora o filme tenha sido adquirido pela Apple já basicamente pronto, o “papel” do software na trama não me parece apenas uma coincidência. Novos tempos, meu amigo!

Assista Agora

"Flora e Filho" que no Brasil ganhou o "inspirado" subtítulo de "Música em Família" é uma graça, daqueles que assistimos com um leve sorriso no rosto e que no final deixa nosso coração quentinho, sabe? E tudo isso não é por acaso, já que o diretor John Carney é o mesmo do imperdível "Apenas Uma Vez" e do excelente "Mesmo Se Nada Der Certo", e ainda traz uma premissa narrativa bem parecida com seus filmes anteriores, ou seja, contar uma história sobre um relacionamento difícil, dessa vez entre mãe e filho, que encontra um propósito em comum por meio da música. O filme distribuído pela Apple foi exibido noFestival de Toronto 2023 e acabou recebendo muitos elogios, tanto dos críticos quanto do público.

Flora (Eve Hewson) é uma mãe solteira que simplesmente não sabe mais o que fazer para se conectar com Max (Orén Kinlan), seu filho adolescente e, claro, rebelde. Quando a polícia sugere que Flora encontre um hobby para Max, ela entrega um antigo violão reformado para ele. O que ela imaginava que transformaria a vida do seu filho, acaba transformando a dela quando ela passa a ter aulas de violão pela internet com um músico fracassado de Los Angeles, Jeff (Joseph Gordon-Levitt). A partir daí, Flora e Max descobrem o poder que a música pode ter em uma relação que parecia impossível de funcionar. Confira o trailer (em inglês):

"Flora e Filho" é um filme que, de fato, transcende as barreiras do sub-gênero musical com aquele leve toque de comédia romântica. Como já faz parte da sua identidade, a direção de John Carney, se aproveita do drama familiar, ou da desconstrução dele, para discutir o real poder da conexão humana e a importância do perdão para que as coisas possam voltar a funcionar. E aqui não estamos falando do perdão entre mãe e filho, e sim sobre o "se perdoar". Obviamente que Carney não pesa na mão em nenhum momento, ou seja, não espere nada muito profundo ou desenvolvido demais, a ideia é mesmo contar uma história que nos faça lembrar que, mesmo nos momentos mais difíceis, a música pode iluminar nosso caminho e nos unir de maneiras inesperadas. Sim, eu sei que pode parecer poético demais e até soar um pouco "auto-ajuda", mas é por aí mesmo que encontramos a beleza do filme como um entretenimento despretensioso, mas muito acolhedor. 

O roteiro do próprio Carney é bom, mas tem um certo desequilíbrio estrutural: os dois primeiros atos parecem mais cadenciados que sua conclusão, que soa apressada demais. É certo que o filme merecia pelo menos mais dez minutos de história - foi uma escolha conceitual do diretor e roteirista que funciona, mas também deixa uma sensação de que cabia mais. A fotografia cativante do experiente John Conroy (de "Westworld") ajuda a quebrar uma atmosfera de solidão com movimentos e soluções criativas que aproximam os personagens mesmo estando distantes - seja geograficamente ou emocionalmente. Reparem como de repente conexões são criadas e tudo parece fazer sentido. As poucas cenas de performances musicais funcionam como a "cereja do bolo" capturando a magia do processo criativo, proporcionando para audiência uma imersão emotiva na história. É aqui que, curiosamente, Eve Hewson mais se destaca - é impressionante como ela usa bem o seu olhar mais íntimo, criando um contra-ponto com ótimas e engraçadas passagens em que seu jeito "desbocado" de se expressar nos diverte.

Se a trilha sonora de "Flora e Filho" não tem a potência tão característica da filmografia de Carney (que já lhe rendeu dezenas de prêmios e uma indicação ao Oscar), saiba que a música original “High Life” vai sim te pegar! Agora um aviso: esteja preparado para um jornada que se recusa a romantizar a experiência da maternidade e que consegue incluir diálogos inquietantes quanto “às vezes eu gostaria que ele sumisse” sem fazer com que percamos a simpatia por uma mão que busca a todo custo se conectar com seu filho - o olhar para si, aqui, nunca é tratado como egoísmo e sim como autodescoberta; fica a reflexão!

Ps: Antes de finalizar, é impossível não citar a propaganda descarada do GarageBand. Embora o filme tenha sido adquirido pela Apple já basicamente pronto, o “papel” do software na trama não me parece apenas uma coincidência. Novos tempos, meu amigo!

Assista Agora

Girls5Eva

"Girls5Eva" é um estilo de comédia que, sem dúvida, funciona melhor na sua língua nativa e dentro da cultura americana, do que para nós, uma audiência que não vai entender muito das piadas escritas no roteiro - mais ou menos como acontece no Oscar, onde achamos sem graça pelo simples fato de não pertencermos àquele universo crítico. Mal e porcamente comparando, é como se colocássemos um americano que mal fala português para assistir a "TV Pirata" ou "Tá no Ar" (para ser menos nostálgico). Isso é um problema? Não e vou te explicar a razão...

A série é uma produção da NBC para o seu Peacock, tem 8 episódios de 30 minutos e conta a história do reencontro das integrantes de um grupo musical de sucesso efêmero dos anos 1990. Tempos depois do sucesso, cada personagem passou a levar uma vida longe dos holofotes. “Girls5Eva” foi uma banda famosa por apenas um único hit, esquecido pouco depois do lançamento. Porém, quase que milagrosamente, um rapper em ascensão se depara com o hit do passado e decide usar a batida em sua nova criação. O gesto, aparentemente inocente, reacende o desejo das quatro cantoras em retornar ao mundo artístico. O quarteto culpa o antigo agente pela rápida derrocada naquela época. Então essa é a oportunidade perfeita para o grupo, após anos de amadurecimento, trilhar uma carreira mais autêntica e honesta. Confira o trailer, em inglês:

Escrita e criada por Meredith Scardino, roteirista de “Unbreakble Kimmy Schmidt” (Netflix), e com produção executiva de Tina Fey, “Girls5Eva” tem um humor bastante peculiar - uma marca registrada de Fey que transforma críticas pontuais em ações que beiram o absurdo estético, desequilibrando a narrativa propositalmente para que o tom seja estereotipado, mesmo que soe realista para as personagens. Scardino, inclusive, é uma das aprendizes de Tina Fey e ainda carrega consigo a experiência de mais de 6 anos com Stephen Colbert do "The Colbert Report", com isso é natural que a sátira esteja fortemente embutida na série, bem non-sense, mas que causa uma certa quebra de expectativa e abusa de referências culturais do momento para divertir.

Protagonizada por Sara Bareilles (Dawn), Renée Elise Goldsberry (Wickie), Paula Pell (Gloria) e Busy Philipps (Summer) a série soa despretensiosa e mesmo perdendo muito do que o roteiro sugere em inglês, nos divertimos. Eu diria, inclusive, que as personagens ajudam muito nessa dinâmica e mesmo com um over-acting claro, nos importamos com elas já que suas dores nos tocam - você pode até achar que não, mas preste atenção porque se depois do último episódio você sentir aquela vontade de assistir a segunda temporada imediatamente, me desculpe: “Girls5Eva” te fisgou.

É verdade que a série leva um tempo até encontrar o seu ritmo e o seu equilíbrio cômico: seja percebendo qual personagem se desenvolve melhor, entendendo seu conceito narrativo mais "pastelão" ou até descobrindo a razão e os alvos de cada uma das sátiras. Mais uma vez o elenco ajuda muito e destaco Renée Elise Goldsberry (Wickie) - guardem esse nome, pois ela pode surpreender nas premiações de 2022.

Se você não gosta do trabalho de Tina Fey, “Girls5Eva” não é para você; caso contrário se prepare para se divertir, se emocionar e até se empolgar com um roteiro preciso e muito inteligente. Vale o play!

Assista Agora

"Girls5Eva" é um estilo de comédia que, sem dúvida, funciona melhor na sua língua nativa e dentro da cultura americana, do que para nós, uma audiência que não vai entender muito das piadas escritas no roteiro - mais ou menos como acontece no Oscar, onde achamos sem graça pelo simples fato de não pertencermos àquele universo crítico. Mal e porcamente comparando, é como se colocássemos um americano que mal fala português para assistir a "TV Pirata" ou "Tá no Ar" (para ser menos nostálgico). Isso é um problema? Não e vou te explicar a razão...

A série é uma produção da NBC para o seu Peacock, tem 8 episódios de 30 minutos e conta a história do reencontro das integrantes de um grupo musical de sucesso efêmero dos anos 1990. Tempos depois do sucesso, cada personagem passou a levar uma vida longe dos holofotes. “Girls5Eva” foi uma banda famosa por apenas um único hit, esquecido pouco depois do lançamento. Porém, quase que milagrosamente, um rapper em ascensão se depara com o hit do passado e decide usar a batida em sua nova criação. O gesto, aparentemente inocente, reacende o desejo das quatro cantoras em retornar ao mundo artístico. O quarteto culpa o antigo agente pela rápida derrocada naquela época. Então essa é a oportunidade perfeita para o grupo, após anos de amadurecimento, trilhar uma carreira mais autêntica e honesta. Confira o trailer, em inglês:

Escrita e criada por Meredith Scardino, roteirista de “Unbreakble Kimmy Schmidt” (Netflix), e com produção executiva de Tina Fey, “Girls5Eva” tem um humor bastante peculiar - uma marca registrada de Fey que transforma críticas pontuais em ações que beiram o absurdo estético, desequilibrando a narrativa propositalmente para que o tom seja estereotipado, mesmo que soe realista para as personagens. Scardino, inclusive, é uma das aprendizes de Tina Fey e ainda carrega consigo a experiência de mais de 6 anos com Stephen Colbert do "The Colbert Report", com isso é natural que a sátira esteja fortemente embutida na série, bem non-sense, mas que causa uma certa quebra de expectativa e abusa de referências culturais do momento para divertir.

Protagonizada por Sara Bareilles (Dawn), Renée Elise Goldsberry (Wickie), Paula Pell (Gloria) e Busy Philipps (Summer) a série soa despretensiosa e mesmo perdendo muito do que o roteiro sugere em inglês, nos divertimos. Eu diria, inclusive, que as personagens ajudam muito nessa dinâmica e mesmo com um over-acting claro, nos importamos com elas já que suas dores nos tocam - você pode até achar que não, mas preste atenção porque se depois do último episódio você sentir aquela vontade de assistir a segunda temporada imediatamente, me desculpe: “Girls5Eva” te fisgou.

É verdade que a série leva um tempo até encontrar o seu ritmo e o seu equilíbrio cômico: seja percebendo qual personagem se desenvolve melhor, entendendo seu conceito narrativo mais "pastelão" ou até descobrindo a razão e os alvos de cada uma das sátiras. Mais uma vez o elenco ajuda muito e destaco Renée Elise Goldsberry (Wickie) - guardem esse nome, pois ela pode surpreender nas premiações de 2022.

Se você não gosta do trabalho de Tina Fey, “Girls5Eva” não é para você; caso contrário se prepare para se divertir, se emocionar e até se empolgar com um roteiro preciso e muito inteligente. Vale o play!

Assista Agora

Glass Onion

"Glass Onion" já começa com a chancela de um subtítulo que nem o diretor Rian Johnson aprovou, mas que inegavelmente contextualiza a jornada que está prestes a começar. "Um Mistério Knives Out" deixa claro que "Entre Facas e Segredos"(o "Knives Out" em versão tupiniquim) vai se estabelecer como uma franquia de mistério com leves elementos de humor e que seu protagonista Benoit Blanc (Daniel Craig) já pode ser considerado uma espécie de Sherlock Holmes moderno!

Nesse segundo capítulo da franquia, Benoit se encontra em uma luxuosa propriedade privada em uma ilha grega onde conhece um grupo de amigos que foram reunidos a convite do bilionário Miles Bron (Edward Norton) para um jogo onde seu "suposto" assassinato aconteceria - claro que os convidados seriam os detetives. O interessante é que cada um dos convidados, de fato, teriam motivos suficientes para matar Miles de verdade, porém quando um deles aparece morto, todos passam a ser suspeitos e é aí que Benoit entra em cena para descobrir como uma rede de segredos, mentiras e motivações se transformaram em um crime real. Confira o trailer:

"Glass Onion: Um Mistério Knives Out" pode até não repetir aquela sensação de novidade narrativa do primeiro filme, mas certamente se apoia de novo naquilo que levou a produção ao titulo de uma das melhores surpresas daquele ano: seu elenco. Agora, com um orçamento bem maior que os 40 milhões de "Entre Facas e Segredos", Edward Norton,Janelle Monáe,Kathryn Hahn,Kate Hudson eDave Bautista se juntam ao Daniel Craig em uma dinâmica que repete a mesma estrutura que funcionou há 3 anos atrás (em 2019) e que mais uma vez nos remete aos deliciosos clássicos de Agatha Christie.

É interessante perceber como Johnson empacotou o novo filme sem perder as referências do antecessor - em sua forma e em seu conteúdo. Se antes a história acontecia entre os cômodos de uma mansão decadente, agora o cenário é uma ilha paradisíaca com tudo de excêntrico que um CEO de uma empresa de tecnologia poderia sonhar em ter - mais uma vez o diretor usa de alegorias para atacar a elite econômica (e pseudo-intelectual) dos EUA e a maneira como ela trabalha pela manutenção do seu status quo. Talvez a única fraqueza do roteiro, mesmo brincando com a quebra de linearidade com muita inteligência, seja o mistério em si - é um fato que ele é mais óbvio que o anterior, por outro lado as camadas construídas até a revelação, nesse caso, parecem mais consistentes e lógicas.

Muito bem realizado, com uma montagem frenética e um desenho de som espetacular, "Glass Onion: Um Mistério Knives Out" está longe de ser um filme perfeito, mas muito próximo de ser um dos filmes mais divertidos de 2022 - é entretenimento puro, do começo ao fim!

Vale muito a pena!

Assista Agora

"Glass Onion" já começa com a chancela de um subtítulo que nem o diretor Rian Johnson aprovou, mas que inegavelmente contextualiza a jornada que está prestes a começar. "Um Mistério Knives Out" deixa claro que "Entre Facas e Segredos"(o "Knives Out" em versão tupiniquim) vai se estabelecer como uma franquia de mistério com leves elementos de humor e que seu protagonista Benoit Blanc (Daniel Craig) já pode ser considerado uma espécie de Sherlock Holmes moderno!

Nesse segundo capítulo da franquia, Benoit se encontra em uma luxuosa propriedade privada em uma ilha grega onde conhece um grupo de amigos que foram reunidos a convite do bilionário Miles Bron (Edward Norton) para um jogo onde seu "suposto" assassinato aconteceria - claro que os convidados seriam os detetives. O interessante é que cada um dos convidados, de fato, teriam motivos suficientes para matar Miles de verdade, porém quando um deles aparece morto, todos passam a ser suspeitos e é aí que Benoit entra em cena para descobrir como uma rede de segredos, mentiras e motivações se transformaram em um crime real. Confira o trailer:

"Glass Onion: Um Mistério Knives Out" pode até não repetir aquela sensação de novidade narrativa do primeiro filme, mas certamente se apoia de novo naquilo que levou a produção ao titulo de uma das melhores surpresas daquele ano: seu elenco. Agora, com um orçamento bem maior que os 40 milhões de "Entre Facas e Segredos", Edward Norton,Janelle Monáe,Kathryn Hahn,Kate Hudson eDave Bautista se juntam ao Daniel Craig em uma dinâmica que repete a mesma estrutura que funcionou há 3 anos atrás (em 2019) e que mais uma vez nos remete aos deliciosos clássicos de Agatha Christie.

É interessante perceber como Johnson empacotou o novo filme sem perder as referências do antecessor - em sua forma e em seu conteúdo. Se antes a história acontecia entre os cômodos de uma mansão decadente, agora o cenário é uma ilha paradisíaca com tudo de excêntrico que um CEO de uma empresa de tecnologia poderia sonhar em ter - mais uma vez o diretor usa de alegorias para atacar a elite econômica (e pseudo-intelectual) dos EUA e a maneira como ela trabalha pela manutenção do seu status quo. Talvez a única fraqueza do roteiro, mesmo brincando com a quebra de linearidade com muita inteligência, seja o mistério em si - é um fato que ele é mais óbvio que o anterior, por outro lado as camadas construídas até a revelação, nesse caso, parecem mais consistentes e lógicas.

Muito bem realizado, com uma montagem frenética e um desenho de som espetacular, "Glass Onion: Um Mistério Knives Out" está longe de ser um filme perfeito, mas muito próximo de ser um dos filmes mais divertidos de 2022 - é entretenimento puro, do começo ao fim!

Vale muito a pena!

Assista Agora

Homens à Beira de um Ataque de Nervos

Em um primeiro olhar, "Homens à Beira de um Ataque de Nervos" pode parecer aquele tipo de comédia pastelão, já que se apoia em esteriótipos muito bem definidos para contar uma história que soa superficial, mas é muito mais profunda do que aquilo que vemos na tela. A jovem diretora Audrey Dana (de "O que as mulheres querem") sabe muito bem disso e é aí que, de uma forma muito inteligente, ela usa da leveza e do sorriso fácil para nos manter engajados com a história e assim, pouco a pouco, vai no conectando com os dramas dos personagem sem pesar muito a mão. Eu diria que o filme é daqueles entretenimentos gostosos de assistir e que no final deixa uma mensagem bacana. Todos vão gostar? Não, definitivamente não. Começando pelo fato de ser uma produção francesa que traz no seu DNA uma ironia que permite o excesso sem soar idiota para quem embarca na narrativa e isso, sem dúvida, não agrada muita gente.Uma boa referência é "Normandia Nua" - se você gostou desse filme, provavelmente você vai se divertir aqui, caso contrário, melhor partir para o próximo.

Em "Homens à Beira de um Ataque de Nervos" acompanhamos um grupo de homens de diferentes idades que, em crise, se inscrevem para um retiro terapêutico em meio à natureza. O que eles não imaginavam era que essa peculiar jornada de auto-descoberta seria comandada por uma excêntrica mentora chamada Ômega (Marina Hands). Confira o trailer:

O roteiro escrito pela Claire Barré (do premiado "Un monde plus grand") ao lado da própria Dana, embora seja construído com uma base humorística em sua essência, aborda temas profundos e relevantes, oferecendo uma perspectiva sobre a masculinidade contemporânea e os desafios que os homens enfrentam em suas vidas no dia a dia. Dana, com muita sensibilidade, consegue equilibrar com maestria os momentos mais escrachados com passagens mais sensíveis que, mesmo engraçadas, deixam fagulhas que bem trabalhadas entregam uma experiência cinematográfica reflexiva. Um bom exemplo é a discussão sobre a homossexualidade de um dos personagens que ao ser confrontado por um jovem que sofre da "síndrome de Fabry", onde um adulto tem a aparência física de um adolescente, dá uma aula sobre auto-aceitação e preconceito.

Olhando por uma perspectiva mais técnica até, Dana sabe que alternando momentos de humor com introspecção emocional, a audiência tende a se sentir mais tocada. A fotografia do Pierre Aïm (de "Inocência Roubada") merece certa atenção nesse sentido já que ela cria uma atmosfera visualmente envolvente nos planos mais abertos, aproveitando a natureza, mas sempre colocando um personagem em segundo plano, enquanto a ação em si acontece em primeiro plano - o interessante é que essa distância entre os quadros vai diminuindo com o decorrer do filme e no final, todos os personagens estão alinhados no mesmo ponto focal. É como se, visualmente, ficasse claro que embora diferentes em suas dores, no final, todos são iguais. Outro ponto que merece sua atenção, é a trilha sonora - ela é peça fundamental para pontuar as emoções e aqui eu destaco a performance de François-Xavier Demaison (o Antoine) bem no final do filme - muito bonito!

"Homens à Beira de um Ataque de Nervos" usa da qualidade dos seus atores, especialmente de Thierry Lhermitte (Hippolyte) e de Ramzy Bedia (Romain), para nos divertir com algumas das "histerias" mais "normais" do sexo masculino - aliás, essa é uma linha condutora bastante pertinente e proposital que nos remete à antológica comédia espanhola "Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos" de Pedro Almodóvar. No final, o que cada personagem busca, mesmo que de forma inconsciente, é o amor, a alegria e um sentido para continuar vivendo, e a partir do momento em que cada um deles começa a enfrentar seus traumas e rir de suas próprias frustrações, o tão desejado resultado chega - para eles e, essencialmente, para nós.

Vale seu play!

Assista Agora

Em um primeiro olhar, "Homens à Beira de um Ataque de Nervos" pode parecer aquele tipo de comédia pastelão, já que se apoia em esteriótipos muito bem definidos para contar uma história que soa superficial, mas é muito mais profunda do que aquilo que vemos na tela. A jovem diretora Audrey Dana (de "O que as mulheres querem") sabe muito bem disso e é aí que, de uma forma muito inteligente, ela usa da leveza e do sorriso fácil para nos manter engajados com a história e assim, pouco a pouco, vai no conectando com os dramas dos personagem sem pesar muito a mão. Eu diria que o filme é daqueles entretenimentos gostosos de assistir e que no final deixa uma mensagem bacana. Todos vão gostar? Não, definitivamente não. Começando pelo fato de ser uma produção francesa que traz no seu DNA uma ironia que permite o excesso sem soar idiota para quem embarca na narrativa e isso, sem dúvida, não agrada muita gente.Uma boa referência é "Normandia Nua" - se você gostou desse filme, provavelmente você vai se divertir aqui, caso contrário, melhor partir para o próximo.

Em "Homens à Beira de um Ataque de Nervos" acompanhamos um grupo de homens de diferentes idades que, em crise, se inscrevem para um retiro terapêutico em meio à natureza. O que eles não imaginavam era que essa peculiar jornada de auto-descoberta seria comandada por uma excêntrica mentora chamada Ômega (Marina Hands). Confira o trailer:

O roteiro escrito pela Claire Barré (do premiado "Un monde plus grand") ao lado da própria Dana, embora seja construído com uma base humorística em sua essência, aborda temas profundos e relevantes, oferecendo uma perspectiva sobre a masculinidade contemporânea e os desafios que os homens enfrentam em suas vidas no dia a dia. Dana, com muita sensibilidade, consegue equilibrar com maestria os momentos mais escrachados com passagens mais sensíveis que, mesmo engraçadas, deixam fagulhas que bem trabalhadas entregam uma experiência cinematográfica reflexiva. Um bom exemplo é a discussão sobre a homossexualidade de um dos personagens que ao ser confrontado por um jovem que sofre da "síndrome de Fabry", onde um adulto tem a aparência física de um adolescente, dá uma aula sobre auto-aceitação e preconceito.

Olhando por uma perspectiva mais técnica até, Dana sabe que alternando momentos de humor com introspecção emocional, a audiência tende a se sentir mais tocada. A fotografia do Pierre Aïm (de "Inocência Roubada") merece certa atenção nesse sentido já que ela cria uma atmosfera visualmente envolvente nos planos mais abertos, aproveitando a natureza, mas sempre colocando um personagem em segundo plano, enquanto a ação em si acontece em primeiro plano - o interessante é que essa distância entre os quadros vai diminuindo com o decorrer do filme e no final, todos os personagens estão alinhados no mesmo ponto focal. É como se, visualmente, ficasse claro que embora diferentes em suas dores, no final, todos são iguais. Outro ponto que merece sua atenção, é a trilha sonora - ela é peça fundamental para pontuar as emoções e aqui eu destaco a performance de François-Xavier Demaison (o Antoine) bem no final do filme - muito bonito!

"Homens à Beira de um Ataque de Nervos" usa da qualidade dos seus atores, especialmente de Thierry Lhermitte (Hippolyte) e de Ramzy Bedia (Romain), para nos divertir com algumas das "histerias" mais "normais" do sexo masculino - aliás, essa é uma linha condutora bastante pertinente e proposital que nos remete à antológica comédia espanhola "Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos" de Pedro Almodóvar. No final, o que cada personagem busca, mesmo que de forma inconsciente, é o amor, a alegria e um sentido para continuar vivendo, e a partir do momento em que cada um deles começa a enfrentar seus traumas e rir de suas próprias frustrações, o tão desejado resultado chega - para eles e, essencialmente, para nós.

Vale seu play!

Assista Agora

Jojo Rabbit

"Jojo Rabbit" é um filme sensacional - eu diria que é uma mistura de "A Vida é Bela" com "Amélie Poulain", no melhor que os dois têm para "oferecer"! E justamente por isso, aqui surge a primeira dificuldade: definir o gênero do filme! Claro que toda comunicação segue o conceito visual e narrativo que o diretor Taika Waititi (Thor: Ragnarok) imprimiu, nos sugerindo uma comédia non-sense e, sim, talvez seja isso - mesmo sabendo que o assunto não é nada engraçado: a Segunda Guerra Mundial, o nazismo e o antissemitismo. Porém Waititi foi capaz de deslocar as idéias mais absurdas (e de fato, reais) da realidade, criando uma espécie de alivio cômico de algumas situações a partir de um texto excelente e de um roteiro muito (mas muito) bem adaptado - o que, inclusive, lhe rendeu o Oscar da categoria em 2020!

Jojo é um garoto de 10 anos (Roman Griffin Davis), defensor ferrenho do nazismo e que tem Hitler como amigo imaginário ("carinhosamente" chamado de Adolph). Em uma cidade tipicamente alemã e que vive as sombras da Segunda Guerra Mundial, com direito a cartazes com a suástica espalhados por todos os cantos, o jovem precisa lidar com a idéia de ter uma garota judia (Thomasin McKenzie) escondida em sua casa. Confira esse belíssimo trailer:

É natural o estranhamento tendo um assunto tão delicado como fio condutor de uma história que tem o claro propósito de nos mostrar o quão absurdos eram os ideais nazistas e a forma como Hitler "entrava na cabeça" dos alemães usando a força do seu discurso. Dito isso, existe uma linha muito tênue entre uma piada e a falta de respeito, e tenho a impressão que "Jojo Rabbit" caminhou muito bem sobre ela e entregou um filme agradável de assistir, mesmo com momentos difíceis de embarcar no conceito. Talvez (e por favor não me entendam mal) o filme funcione melhor para aqueles que não levem as coisas tão a sério, no sentido de aceitar a narrativa exagerada como uma alegoria que merece a reflexão em retrospectiva! O que eu posso adiantar, é que se trata de um grande filme, um dos melhores de 2019!

A sequência inicial montada com cenas que nos remetem a histeria pop de estar próximo de um "rock star" ao som de "I Want to Hold Your Hand" dos Beatles, só que em alemão, já define exatamente o que vamos encontrar pela frente: muita criatividade para lidar com as bizarrices de uma época cruel! Ao tocar em temas espinhosos com velado tom de crítica, "Jojo Rabbit" é absolvido com a inocência do seu protagonista e com a sensibilidade de sua mãe Rosie (Scarlett Johansson) bem ao estilo de Guido e de seu filho Giosué em "A Vida é Bela". Por outro lado existe muito drama envolvido no roteiro escrito pelo próprio Taika Waititi, baseado no livro "O céu que nos oprime" de Christine Leunens - reparem como Waititi dá uma importância para os sapatos e botas durante o filme. O enquadramento trás muito do conceito do desenho Snoopy ou do Filme "E.T." onde os adultos são basicamente "pernas" do ponto de vista lúdico de uma criança! Essa escolha conceitual tem um desfecho impressionante - tão simbólico quanto o vestido vermelho de "A Lista de Schindler".

Além de uma trilha sonora muito inspirada, o departamento de arte está simplesmente fabuloso: o que trás o tom "Amélie Poulain" para a narrativa! Foram duas indicações ao Oscar: Figurino e Desenho de Produção. Tudo é impecável e ajuda a construir aquela suspensão da realidade com uma certa poesia ou com uma crítica inteligente e cito duas, reparem: o pijama de Rosie tem a mesma estampa do pijama de Jojo, o que deixa claro os laços entre os dois, sem precisar nos dizer com palavras sobre a importância que isso terá na história. Outra passagem magnífica é quando Jojo comenta com seu melhor amigo, York (Archie Yates), que sua roupa de soldado é feita de papel e ele responde se tratar de uma tecnologia desenvolvida pelo incríveis cientistas alemães! Aliás, o elenco é algo para se aplaudir de pé! Destaco Scarlett Johansson como Rosie, Sam Rockwell como o nazista gay Klenzendorf, Archie Yates e, claro, Roman Griffin Davis - é imperdoável esse moleque não ter sido indicado ao Oscar! Thomasin McKenzie também está incrível, tipo da atriz que fala com os olhos - atenção ao trabalho dela que muito em breve será reconhecido merecidamente!

"Jojo Rabbit" tem um conteúdo dramático, mas foi dirigido ao olhar da semiótica, leve; e é por isso que que aquela estranheza inicial praticamente desaparece durante o filme e nos choca mais pelo que é sugerido do que pelo que é mostrado e esse é o mérito que levou "Jojo" à disputa de Melhor Filme do Ano! Todos os seus mais de 30 prêmios, 150 indicações, em Festivais do mundo inteiro são merecidíssimos - como obra cinematográfica que alinha perfeitamente a técnica, a arte e a crítica sem parecer didático ou impositor!

Vale o seu play!

Up-date: "Jojo Rabbit" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor roteiro adaptado, mas levou outras cinco indicações:  Melhor Filme, Melhor Atriz, Melhor Edição, Melhor Figurino e Melhor Desenho de Produção!

Assista Agora

"Jojo Rabbit" é um filme sensacional - eu diria que é uma mistura de "A Vida é Bela" com "Amélie Poulain", no melhor que os dois têm para "oferecer"! E justamente por isso, aqui surge a primeira dificuldade: definir o gênero do filme! Claro que toda comunicação segue o conceito visual e narrativo que o diretor Taika Waititi (Thor: Ragnarok) imprimiu, nos sugerindo uma comédia non-sense e, sim, talvez seja isso - mesmo sabendo que o assunto não é nada engraçado: a Segunda Guerra Mundial, o nazismo e o antissemitismo. Porém Waititi foi capaz de deslocar as idéias mais absurdas (e de fato, reais) da realidade, criando uma espécie de alivio cômico de algumas situações a partir de um texto excelente e de um roteiro muito (mas muito) bem adaptado - o que, inclusive, lhe rendeu o Oscar da categoria em 2020!

Jojo é um garoto de 10 anos (Roman Griffin Davis), defensor ferrenho do nazismo e que tem Hitler como amigo imaginário ("carinhosamente" chamado de Adolph). Em uma cidade tipicamente alemã e que vive as sombras da Segunda Guerra Mundial, com direito a cartazes com a suástica espalhados por todos os cantos, o jovem precisa lidar com a idéia de ter uma garota judia (Thomasin McKenzie) escondida em sua casa. Confira esse belíssimo trailer:

É natural o estranhamento tendo um assunto tão delicado como fio condutor de uma história que tem o claro propósito de nos mostrar o quão absurdos eram os ideais nazistas e a forma como Hitler "entrava na cabeça" dos alemães usando a força do seu discurso. Dito isso, existe uma linha muito tênue entre uma piada e a falta de respeito, e tenho a impressão que "Jojo Rabbit" caminhou muito bem sobre ela e entregou um filme agradável de assistir, mesmo com momentos difíceis de embarcar no conceito. Talvez (e por favor não me entendam mal) o filme funcione melhor para aqueles que não levem as coisas tão a sério, no sentido de aceitar a narrativa exagerada como uma alegoria que merece a reflexão em retrospectiva! O que eu posso adiantar, é que se trata de um grande filme, um dos melhores de 2019!

A sequência inicial montada com cenas que nos remetem a histeria pop de estar próximo de um "rock star" ao som de "I Want to Hold Your Hand" dos Beatles, só que em alemão, já define exatamente o que vamos encontrar pela frente: muita criatividade para lidar com as bizarrices de uma época cruel! Ao tocar em temas espinhosos com velado tom de crítica, "Jojo Rabbit" é absolvido com a inocência do seu protagonista e com a sensibilidade de sua mãe Rosie (Scarlett Johansson) bem ao estilo de Guido e de seu filho Giosué em "A Vida é Bela". Por outro lado existe muito drama envolvido no roteiro escrito pelo próprio Taika Waititi, baseado no livro "O céu que nos oprime" de Christine Leunens - reparem como Waititi dá uma importância para os sapatos e botas durante o filme. O enquadramento trás muito do conceito do desenho Snoopy ou do Filme "E.T." onde os adultos são basicamente "pernas" do ponto de vista lúdico de uma criança! Essa escolha conceitual tem um desfecho impressionante - tão simbólico quanto o vestido vermelho de "A Lista de Schindler".

Além de uma trilha sonora muito inspirada, o departamento de arte está simplesmente fabuloso: o que trás o tom "Amélie Poulain" para a narrativa! Foram duas indicações ao Oscar: Figurino e Desenho de Produção. Tudo é impecável e ajuda a construir aquela suspensão da realidade com uma certa poesia ou com uma crítica inteligente e cito duas, reparem: o pijama de Rosie tem a mesma estampa do pijama de Jojo, o que deixa claro os laços entre os dois, sem precisar nos dizer com palavras sobre a importância que isso terá na história. Outra passagem magnífica é quando Jojo comenta com seu melhor amigo, York (Archie Yates), que sua roupa de soldado é feita de papel e ele responde se tratar de uma tecnologia desenvolvida pelo incríveis cientistas alemães! Aliás, o elenco é algo para se aplaudir de pé! Destaco Scarlett Johansson como Rosie, Sam Rockwell como o nazista gay Klenzendorf, Archie Yates e, claro, Roman Griffin Davis - é imperdoável esse moleque não ter sido indicado ao Oscar! Thomasin McKenzie também está incrível, tipo da atriz que fala com os olhos - atenção ao trabalho dela que muito em breve será reconhecido merecidamente!

"Jojo Rabbit" tem um conteúdo dramático, mas foi dirigido ao olhar da semiótica, leve; e é por isso que que aquela estranheza inicial praticamente desaparece durante o filme e nos choca mais pelo que é sugerido do que pelo que é mostrado e esse é o mérito que levou "Jojo" à disputa de Melhor Filme do Ano! Todos os seus mais de 30 prêmios, 150 indicações, em Festivais do mundo inteiro são merecidíssimos - como obra cinematográfica que alinha perfeitamente a técnica, a arte e a crítica sem parecer didático ou impositor!

Vale o seu play!

Up-date: "Jojo Rabbit" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor roteiro adaptado, mas levou outras cinco indicações:  Melhor Filme, Melhor Atriz, Melhor Edição, Melhor Figurino e Melhor Desenho de Produção!

Assista Agora

Jovens Adultos

Esse filme pode até parecer uma comédia inofensiva em um primeiro olhar, mas não se engane, embora divertida, "Jovens Adultos" vai tocar em algumas feridas que, no mínimo, vão te fazer olhar para o passado e refletir sobre a importância de algumas passagens de sua vida como processo de amadurecimento como ser humano. Dirigido pelo talentoso Jason Reitman (dos imperdíveis "Tully"e "Juno"), esse filme de 2011 é um retrato cru e realista da vida adulta que explora os relacionamentos pela perspectiva nostálgica de um retorno às origens - e olha, embutida nessa jornada existe uma atmosfera de melancolia que chega a corroer nossa alma. Aclamado pela crítica e pelo público, o filme recebeu indicações ao "Golden Globe" e "Critics Choice", além de reconhecimento em diversos festivais importantes do cinema como o de Toronto e o de Chicago, solidificando seu lugar de destaque como obra que equilibra perfeitamente uma narrativa bem estruturada com fortes elementos do cinema independente, mas que nunca deixa de lado sua proposta como entretenimento. Para aqueles que apreciam filmes que exploram as nuances da psique humana, "Jovens Adultos" é uma escolha certeira!

Na trama, somos apresentados a Mavis Gary (Charlize Theron), uma escritora de ficção de trinta e poucos anos que retorna à sua cidade natal em busca de inspiração para seu próximo livro. Determinada a reconquistar seu antigo namorado, Buddy Slade (Patrick Wilson), Mavis ignora o fato de que ele agora é casado e tem uma filha recém-nascida. O que se segue é uma jornada emocionalmente complexa, onde Mavis é confrontada com a realidade de suas escolhas passadas e forçada a confrontar seu próprio senso de identidade e propósito. Confira o trailer:

O que torna "Young Adult" (no original) verdadeiramente envolvente é a impressionante sensação de "uma hora vai dar M...". Essa sensação angustiante nos acompanha durante os 90 minutas de filme e o mérito disso está na dobradinha Charlize Theron e Jason Reitman. Começando pelo segundo, é importante notar como Reitman, mais uma vez, mostra o tamanho de sua capacidade em mergulhar nas profundezas das relações humanas, revelando as inúmeras camadas emocionais e complexas de seus personagens. A direção de Jason Reitman é magistral, capturando de forma sensível e crua as nuances do comportamento pautado na emoção - sim, existe uma dificuldade em retratar a vida adulta sem cair em clichês e Reitman nunca se deixa levar, ele é muito competente em pontuar as fraquezas mais intimas de seus personagens em função, única e exclusivamente, de sua narrativa. Aqui, tudo é muito palpável - talvez por isso nossa identificação imediata.

É nesse contexto que agora precisamos falar de Charlize Theron. Além de linda, caraterística que eleva sua personagem à níveis insuportáveis de arrogância com o único intuito de escondersua insegurança, Theron ainda entrega uma performance corajosa e multifacetada, trabalhando seu range com a propriedade de quem sabe das forças e fraquezas de sua personagem. Simplesmente magnética, ela entende a jornada de descoberta de Mavis Gary e apoiada no desequilíbrio entre a realidade e a nostalgia, a atriz é capaz de nos manter cativados do início ao fim. A fotografia do Eric Steelberg (parceiro inseparável de Reitman) trabalha com muito esmero os enquadramentos para que os personagens, apenas com o olhar, sejam capazes de transmitir todo sentimento que envolve aquelas situações, digamos, constrangedoras. Enquanto a trilha sonora evoca uma sensação de nostalgia e desilusão, o roteiro afiado de Diablo Cody, pontua o caos emocional da protagonista com diálogos inteligentes que nos tiram da zona de conforto.

É impossível não ser impactado pela sua honestidade brutal e pela sua capacidade de nos fazer questionar nossas próprias escolhas e arrependimentos ao assistir "Jovens Adultos". Um filme que sabe misturar o drama com a comédia sem cair no comum - e claro, estamos diante uma história atemporal sobre o amor, a autodescoberta e as dificuldades de lidar com vida adulta quando saímos daquele lugar onde sempre tivemos tudo sob controle. Esse é um filme que mostra que o mundo é muito maior e que a felicidade não está no que passou, mas no que está por vir, mesmo que chegue acompanhada de muita dor!

Vale muito o seu play

Assista Agora

Esse filme pode até parecer uma comédia inofensiva em um primeiro olhar, mas não se engane, embora divertida, "Jovens Adultos" vai tocar em algumas feridas que, no mínimo, vão te fazer olhar para o passado e refletir sobre a importância de algumas passagens de sua vida como processo de amadurecimento como ser humano. Dirigido pelo talentoso Jason Reitman (dos imperdíveis "Tully"e "Juno"), esse filme de 2011 é um retrato cru e realista da vida adulta que explora os relacionamentos pela perspectiva nostálgica de um retorno às origens - e olha, embutida nessa jornada existe uma atmosfera de melancolia que chega a corroer nossa alma. Aclamado pela crítica e pelo público, o filme recebeu indicações ao "Golden Globe" e "Critics Choice", além de reconhecimento em diversos festivais importantes do cinema como o de Toronto e o de Chicago, solidificando seu lugar de destaque como obra que equilibra perfeitamente uma narrativa bem estruturada com fortes elementos do cinema independente, mas que nunca deixa de lado sua proposta como entretenimento. Para aqueles que apreciam filmes que exploram as nuances da psique humana, "Jovens Adultos" é uma escolha certeira!

Na trama, somos apresentados a Mavis Gary (Charlize Theron), uma escritora de ficção de trinta e poucos anos que retorna à sua cidade natal em busca de inspiração para seu próximo livro. Determinada a reconquistar seu antigo namorado, Buddy Slade (Patrick Wilson), Mavis ignora o fato de que ele agora é casado e tem uma filha recém-nascida. O que se segue é uma jornada emocionalmente complexa, onde Mavis é confrontada com a realidade de suas escolhas passadas e forçada a confrontar seu próprio senso de identidade e propósito. Confira o trailer:

O que torna "Young Adult" (no original) verdadeiramente envolvente é a impressionante sensação de "uma hora vai dar M...". Essa sensação angustiante nos acompanha durante os 90 minutas de filme e o mérito disso está na dobradinha Charlize Theron e Jason Reitman. Começando pelo segundo, é importante notar como Reitman, mais uma vez, mostra o tamanho de sua capacidade em mergulhar nas profundezas das relações humanas, revelando as inúmeras camadas emocionais e complexas de seus personagens. A direção de Jason Reitman é magistral, capturando de forma sensível e crua as nuances do comportamento pautado na emoção - sim, existe uma dificuldade em retratar a vida adulta sem cair em clichês e Reitman nunca se deixa levar, ele é muito competente em pontuar as fraquezas mais intimas de seus personagens em função, única e exclusivamente, de sua narrativa. Aqui, tudo é muito palpável - talvez por isso nossa identificação imediata.

É nesse contexto que agora precisamos falar de Charlize Theron. Além de linda, caraterística que eleva sua personagem à níveis insuportáveis de arrogância com o único intuito de escondersua insegurança, Theron ainda entrega uma performance corajosa e multifacetada, trabalhando seu range com a propriedade de quem sabe das forças e fraquezas de sua personagem. Simplesmente magnética, ela entende a jornada de descoberta de Mavis Gary e apoiada no desequilíbrio entre a realidade e a nostalgia, a atriz é capaz de nos manter cativados do início ao fim. A fotografia do Eric Steelberg (parceiro inseparável de Reitman) trabalha com muito esmero os enquadramentos para que os personagens, apenas com o olhar, sejam capazes de transmitir todo sentimento que envolve aquelas situações, digamos, constrangedoras. Enquanto a trilha sonora evoca uma sensação de nostalgia e desilusão, o roteiro afiado de Diablo Cody, pontua o caos emocional da protagonista com diálogos inteligentes que nos tiram da zona de conforto.

É impossível não ser impactado pela sua honestidade brutal e pela sua capacidade de nos fazer questionar nossas próprias escolhas e arrependimentos ao assistir "Jovens Adultos". Um filme que sabe misturar o drama com a comédia sem cair no comum - e claro, estamos diante uma história atemporal sobre o amor, a autodescoberta e as dificuldades de lidar com vida adulta quando saímos daquele lugar onde sempre tivemos tudo sob controle. Esse é um filme que mostra que o mundo é muito maior e que a felicidade não está no que passou, mas no que está por vir, mesmo que chegue acompanhada de muita dor!

Vale muito o seu play

Assista Agora

Juliet, Nua e Crua

Um filme que tem o propósito de conectar a importância da música como obra que impacta a vida das pessoas com uma narrativa cativante e uma leve pitada de comédia romântica - assim é o pouco comentado "Juliet, Nua e Crua". Dirigido pelo Jesse Peretz (o mesmo de "Alta Fidelidade" e "Orange is the New Black"), esse filme de 2018 é muito sagaz em trazer personagens recheados de problemas existenciais que impactam diretamente em seus relacionamentos, se apropriando de uma certa imaturidade para justificar a busca por uma condição de vida mais, digamos, independente. Em uma obra que mistura o drama com a comédia e o romance, eu diria que aqui nos colocamos em uma boa, mas cinzenta, posição de fãs que amaram desde "Once: Apenas Uma Vez" até "Um Lugar Chamado Notting Hill". 

"Juliet, Nua e Crua" nos apresenta Annie Platt (Rose Byrne), uma mulher que vive em uma pequena cidade da Inglaterra e que se sente presa em seu relacionamento desgastado e monótono com Duncan Thomson (Chris O'Dowd), um professor de cinema que é obcecado por Tucker Crowe (Ethan Hawke), um cantor aposentado, sucesso de "um hit só", que há muito tempo vive recluso em algum lugar dos EUA. Quando uma versão "nua e crua" do álbum de Tucker Crowe, "Juliet", é finalmente encontrada, Annie critica a obra no blog de seu marido para provocá-lo, porém é justamente esse texto que a leva para uma inesperada conexão com o próprio Crowe, desencadeando uma jornada de autodescoberta que impacta sua vida para sempre. Confira o trailer:

Reconhecida mundialmente por ser de alto teor intelectual, a comédia sobre relações britânica é realmente cativante pela maneira como explora as complexidades dos encontros e desencontros na vida de uma pessoa. Em "Juliet, Nua e Crua", mais uma história criada pelo Nick Hornby (indicado para dois Oscars por "Educação" e "Brooklyn"), o que vemos é um filme que engana pela simplicidade e traz em seu subtexto uma série de provocações sobre atitudes e suas consequências ao longo da vida. É aqui que a fotografia do também indicado ao Oscar, Remi Adefarasin (de "Elizabeth") brilha - ele habilmente captura a atmosfera melancólica de uma cidade costeira, pela perspectiva de quem sofre com aquela "mesmice".

Ao adicionarmos dois nomes talentosos nesse contexto, entendemos exatamente onde o diretor Jesse Peretz quer nos levar. São eles Rose Byrne e Ethan Hawke. Começando por Byrne, temos uma performance profunda e contida (raro para o gênero) que nos toca de verdade - as lutas e transformações de sua personagem são convincentes pela dor, pela esperança e pela disponibilidade de encontrar a felicidade depois de tanto tempo. O reencontro de Annie e Duncan já no final do terceiro ato diz muito sobre o tom dessa descoberta. Já Ethan Hawke, um homem de meia idade que tenta desesperadamente consertar seu passado e se reconectar com a vida através do amor pelo seu filho mais novo, olha, é de aplaudir de pé. Não se enganem pelas situações absurdas que Tucker se envolve, sua jornada tem muito mais camadas que os diálogos seriam capazes de entregar.  

Peretz alcança o equilíbrio inteligente entre a comédia e o drama. A trilha sonora, centrada nas músicas fictícias de Tucker Crowe, também adiciona uma dimensão única para o filme. Mas sugiro que você repare mesmo é em como as letras e melodias refletem exatamente as emoções dos personagens e evocam uma conexão genuína com quem assiste - isso é brilhante. Aliás, “Juliet Naked” (no original), mesmo sendo uma jornada emocionante, autêntica e que pode ressoar em qualquer pessoa que já tenha se sentido presa em sua própria vida, não será uma unanimidade. Digo isso, pois essa celebração da música e dos encontros inesperados que podem transformar nossas vidas, depende muito do humor como você as recebe, então saiba que mesmo parecendo um "água com açúcar", o filme pode te surpreender indo muito além no seu íntimo!

Essa é uma história para rir, se emocionar e se apaixonar pela sinceridade e charme, por isso vale seu play!

Assista Agora

Um filme que tem o propósito de conectar a importância da música como obra que impacta a vida das pessoas com uma narrativa cativante e uma leve pitada de comédia romântica - assim é o pouco comentado "Juliet, Nua e Crua". Dirigido pelo Jesse Peretz (o mesmo de "Alta Fidelidade" e "Orange is the New Black"), esse filme de 2018 é muito sagaz em trazer personagens recheados de problemas existenciais que impactam diretamente em seus relacionamentos, se apropriando de uma certa imaturidade para justificar a busca por uma condição de vida mais, digamos, independente. Em uma obra que mistura o drama com a comédia e o romance, eu diria que aqui nos colocamos em uma boa, mas cinzenta, posição de fãs que amaram desde "Once: Apenas Uma Vez" até "Um Lugar Chamado Notting Hill". 

"Juliet, Nua e Crua" nos apresenta Annie Platt (Rose Byrne), uma mulher que vive em uma pequena cidade da Inglaterra e que se sente presa em seu relacionamento desgastado e monótono com Duncan Thomson (Chris O'Dowd), um professor de cinema que é obcecado por Tucker Crowe (Ethan Hawke), um cantor aposentado, sucesso de "um hit só", que há muito tempo vive recluso em algum lugar dos EUA. Quando uma versão "nua e crua" do álbum de Tucker Crowe, "Juliet", é finalmente encontrada, Annie critica a obra no blog de seu marido para provocá-lo, porém é justamente esse texto que a leva para uma inesperada conexão com o próprio Crowe, desencadeando uma jornada de autodescoberta que impacta sua vida para sempre. Confira o trailer:

Reconhecida mundialmente por ser de alto teor intelectual, a comédia sobre relações britânica é realmente cativante pela maneira como explora as complexidades dos encontros e desencontros na vida de uma pessoa. Em "Juliet, Nua e Crua", mais uma história criada pelo Nick Hornby (indicado para dois Oscars por "Educação" e "Brooklyn"), o que vemos é um filme que engana pela simplicidade e traz em seu subtexto uma série de provocações sobre atitudes e suas consequências ao longo da vida. É aqui que a fotografia do também indicado ao Oscar, Remi Adefarasin (de "Elizabeth") brilha - ele habilmente captura a atmosfera melancólica de uma cidade costeira, pela perspectiva de quem sofre com aquela "mesmice".

Ao adicionarmos dois nomes talentosos nesse contexto, entendemos exatamente onde o diretor Jesse Peretz quer nos levar. São eles Rose Byrne e Ethan Hawke. Começando por Byrne, temos uma performance profunda e contida (raro para o gênero) que nos toca de verdade - as lutas e transformações de sua personagem são convincentes pela dor, pela esperança e pela disponibilidade de encontrar a felicidade depois de tanto tempo. O reencontro de Annie e Duncan já no final do terceiro ato diz muito sobre o tom dessa descoberta. Já Ethan Hawke, um homem de meia idade que tenta desesperadamente consertar seu passado e se reconectar com a vida através do amor pelo seu filho mais novo, olha, é de aplaudir de pé. Não se enganem pelas situações absurdas que Tucker se envolve, sua jornada tem muito mais camadas que os diálogos seriam capazes de entregar.  

Peretz alcança o equilíbrio inteligente entre a comédia e o drama. A trilha sonora, centrada nas músicas fictícias de Tucker Crowe, também adiciona uma dimensão única para o filme. Mas sugiro que você repare mesmo é em como as letras e melodias refletem exatamente as emoções dos personagens e evocam uma conexão genuína com quem assiste - isso é brilhante. Aliás, “Juliet Naked” (no original), mesmo sendo uma jornada emocionante, autêntica e que pode ressoar em qualquer pessoa que já tenha se sentido presa em sua própria vida, não será uma unanimidade. Digo isso, pois essa celebração da música e dos encontros inesperados que podem transformar nossas vidas, depende muito do humor como você as recebe, então saiba que mesmo parecendo um "água com açúcar", o filme pode te surpreender indo muito além no seu íntimo!

Essa é uma história para rir, se emocionar e se apaixonar pela sinceridade e charme, por isso vale seu play!

Assista Agora

Juno

"Juno" levou o Oscar de melhor roteiro adaptado em 2008, teve uma carreira premiadíssima nos Festivais pelo mundo e de fato merece ser assistido! Se você só passou por ele, volte e dê uma chance: ele é uma graça, leve, sensível, muito bem dirigido pelo Jason Reitman (Amor sem Escalas) e com uma interpretação maravilhosa da Ellen Page (também indicada ao Oscar de melhor atriz por esse filme).

Juno (Page) é uma estudante de 16 anos que descobre estar grávida do amigo Bleek (Michael Cera). Ao contrário do que sua personalidade parece mostrar, Juno sabe que não possui responsabilidade suficiente para cuidar de uma criança, e opta pelo aborto. Mas logo muda de ideia, e resolve dar o bebê para a adoção, a fim de que a criança possa ter uma família que a cuide e crie com carinho. Com a ajuda de sua amiga Leah (Olivia Thirlby), Juno conta a novidade para o pai (J.K. Simmons) e sua madrasta (Allison Janey), e após um tempo, se depara com o casal Vanessa (Jennifer Garner) e Mark Loring (Jason Bateman), que desejam adotar um bebê devido a impossibilidade de Vanessa em engravidar. Querendo apenas fugir da real importância de sua situação, Juno decide doar seu bebê para o casal, mas a realidade ainda em formação de Juno se choca com a convivência conflituosa do casamento entre Mark e Vanessa, o que acarreta algumas situações e aproximações improváveis. Confira o trailer:

Obviamente que o roteiro é o ponto alto do filme e aí é preciso que se diga que "Juno" é, essencialmente, um filme de personagens. A história pode até não ter grandes oscilações dramáticas tão comuns em produções onde os elementos "adolescente" e "gravidez" caminham juntos, mas é de se elogiar os diálogos construídos pela roteirista americana Diablo Cody (Paraíso: Em Busca da Felicidade) para a protagonista: são inteligentes, ácidos, irônicos e ao mesmo tempo inocentes - tudo no tom exato para fazer Page brilhar. Aliás, todo o elenco é para se aplaudir de pé: J.K. Simmons, Allison Janney, Michael Cera, Jennifer Garner e Jason Bateman; todos estão afinadíssimos com o texto de Cody. Reparem na Olivia Thirlby, que interpreta Leah, a melhor amiga de Juno - as melhores sacadas do filme são dela!

A trilha sonora é outro show:  "All I Want Is You", "A Well Respected Man", "So Nice So Smart", "Sea of Love" e a emocionante "Anyone Else But You" que ganha uma sequência maravilhosa no final do filme com Page e Cera, são as cerejas do bolo. "Juno" é daqueles raros filmes que assistimos com um leve sorriso no rosto e com o coração cheio de amor - se não é um filme inesquecível, embora tenha elementos para isso, certamente é um entretenimento que vai fazer seu dia melhor!

Vale muito a pena!

Up-date: "Juno" disputou na categoria "Melhor Filme" a ainda recebeu mais três indicações no Oscar 2020: além da vitória em "Roteiro Adaptado", Page disputou como "Melhor Atriz" e Jason Reitman como "Melhor Diretor".

Assista Agora

"Juno" levou o Oscar de melhor roteiro adaptado em 2008, teve uma carreira premiadíssima nos Festivais pelo mundo e de fato merece ser assistido! Se você só passou por ele, volte e dê uma chance: ele é uma graça, leve, sensível, muito bem dirigido pelo Jason Reitman (Amor sem Escalas) e com uma interpretação maravilhosa da Ellen Page (também indicada ao Oscar de melhor atriz por esse filme).

Juno (Page) é uma estudante de 16 anos que descobre estar grávida do amigo Bleek (Michael Cera). Ao contrário do que sua personalidade parece mostrar, Juno sabe que não possui responsabilidade suficiente para cuidar de uma criança, e opta pelo aborto. Mas logo muda de ideia, e resolve dar o bebê para a adoção, a fim de que a criança possa ter uma família que a cuide e crie com carinho. Com a ajuda de sua amiga Leah (Olivia Thirlby), Juno conta a novidade para o pai (J.K. Simmons) e sua madrasta (Allison Janey), e após um tempo, se depara com o casal Vanessa (Jennifer Garner) e Mark Loring (Jason Bateman), que desejam adotar um bebê devido a impossibilidade de Vanessa em engravidar. Querendo apenas fugir da real importância de sua situação, Juno decide doar seu bebê para o casal, mas a realidade ainda em formação de Juno se choca com a convivência conflituosa do casamento entre Mark e Vanessa, o que acarreta algumas situações e aproximações improváveis. Confira o trailer:

Obviamente que o roteiro é o ponto alto do filme e aí é preciso que se diga que "Juno" é, essencialmente, um filme de personagens. A história pode até não ter grandes oscilações dramáticas tão comuns em produções onde os elementos "adolescente" e "gravidez" caminham juntos, mas é de se elogiar os diálogos construídos pela roteirista americana Diablo Cody (Paraíso: Em Busca da Felicidade) para a protagonista: são inteligentes, ácidos, irônicos e ao mesmo tempo inocentes - tudo no tom exato para fazer Page brilhar. Aliás, todo o elenco é para se aplaudir de pé: J.K. Simmons, Allison Janney, Michael Cera, Jennifer Garner e Jason Bateman; todos estão afinadíssimos com o texto de Cody. Reparem na Olivia Thirlby, que interpreta Leah, a melhor amiga de Juno - as melhores sacadas do filme são dela!

A trilha sonora é outro show:  "All I Want Is You", "A Well Respected Man", "So Nice So Smart", "Sea of Love" e a emocionante "Anyone Else But You" que ganha uma sequência maravilhosa no final do filme com Page e Cera, são as cerejas do bolo. "Juno" é daqueles raros filmes que assistimos com um leve sorriso no rosto e com o coração cheio de amor - se não é um filme inesquecível, embora tenha elementos para isso, certamente é um entretenimento que vai fazer seu dia melhor!

Vale muito a pena!

Up-date: "Juno" disputou na categoria "Melhor Filme" a ainda recebeu mais três indicações no Oscar 2020: além da vitória em "Roteiro Adaptado", Page disputou como "Melhor Atriz" e Jason Reitman como "Melhor Diretor".

Assista Agora

Jury Duty

"Jury Duty" é uma daquelas séries que se destaca muito mais pela sua originalidade do que propriamente pelo seu roteiro bem amarradinho, no entanto, posso te garantir que se você gosta do estilo "The Office" de narrativa, certamente você vai se apaixonar por esse projeto experimental criado pelo Lee Eisenberg (de "WeCrashed") e pelo Gene Stupnitsky (de "Hello Ladies"), ambos de "The Office", que surpreendeu os críticos (e o público) ao receber 4 indicações no Emmy de 2023, inclusive o de "Melhor Série de Comédia". Após 6 episódios de cerca de 30 minutos cada, o que eu posso adiantar sem prejudicar sua experiência, é que aqui temos um olhar divertido que vai muito além das curiosidades do sistema judicial americano durante um julgamento - na verdade encontramos mesmo é um ótimo recorte do comportamento humano sob a perspectiva de quem acredita que pode fazer a diferença para a sociedade e, principalmente, para o seu semelhante.

"Na Mira do Júri" (título que recebeu por aqui) acompanha o desenrolar de um julgamento nos Estados Unidos pela perspectiva de Ronald Gladden, um jovem que acredita estar participando de um documentário sobre os bastidores do caso enquanto atua como júri. No entanto, o que ele realmente não sabe é que todo esse julgamento é, na verdade, falso e encenado só por atores. Confira o teaser e sinta o clima:

A grande verdade é que "Jury Duty" não passa de uma grande e hilária pegadinha com o "coitado" do Ronald, no entanto o seu diferencial está na forma como a montagem contextualiza e conta essa história - e é aí que entra o estilo "The Office" que comentei acima. Extremamente fragmentada, toda essa complexa dinâmica narrativa é mostrada seguindo uma estrutura ficcional de tal maneira a nos prender tanto pela trama quanto pelo experimento que o próprio roteiro deixa claro existir a cada inicio de episódio. Se o julgamento soa propositalmente surreal demais, é de se elogiar como o diretor Jake Szymanski (de "Brooklyn Nine-Nine") conduz a série para normalizar isso - reparem como ele usa e abusa dos close-ups das reações de Ronald a cada absurdo que acontece no tribunal ou nas situações envolvendo seus companheiros de júri.

Outro ponto que nos ajuda a acreditar que de fato Ronald não percebe que tudo é falso é a forma inteligente com que Szymanski insere o fator documental na série - ter uma equipe de filmagem próxima aos atores, colhendo os depoimentos dos personagens como se fosse reais, se alinha perfeitamente com a proposta de criar uma sensação de intimidade e veracidade que justifica tantos microfones e câmeras pelo ambiente. Agora, o fator essencial, e que realmente merece o Emmy, sem qualquer receio de cravar a vitória, diz respeito ao trabalho da produtora de elenco Susie Farris (de "Mr. Robot"). O sucesso de  "Jury Duty" está na capacidade do elenco em acreditar que mesmo dentro daquela atmosfera surreal, tudo não passa de uma extensão estereotipada do jeito com que cada um se relaciona com aquela história e isso é muito difícil de conseguir - então, palmas para Farris! Como diz a própria atriz Cassandra Blair que interpreta a desconfiada e sem paciência Vanessa Jenkins: "90% somos nós, 10% nossos personagens".

Com inúmeras câmeras escondidas, habilmente reveladas pela produção no último episódio (um gran finale belíssimo) que serve para atestar que o planejamento realmente se sobrepôs às possíveis dúvidas sobre a veracidade do resultado da experiência, eu diria que "Jury Duty", definitivamente, não é sobre o fato de Ronald estar sendo enganado ou eventualmente parecer fazer papel de bobo, é sim sobre a absurdidade dos eventos e como, presenciando tudo aquilo, uma pessoa comum reagiria a eles - e aqui cabe um comentário: a presença do ator James Marsden (de "X-Men"), como ele mesmo, e a relação dele com Ronald são as cerejas do bolo dessa maluquice toda. Olha, um golaço da Amazon!

Vale muito o seu play!

Assista Agora

"Jury Duty" é uma daquelas séries que se destaca muito mais pela sua originalidade do que propriamente pelo seu roteiro bem amarradinho, no entanto, posso te garantir que se você gosta do estilo "The Office" de narrativa, certamente você vai se apaixonar por esse projeto experimental criado pelo Lee Eisenberg (de "WeCrashed") e pelo Gene Stupnitsky (de "Hello Ladies"), ambos de "The Office", que surpreendeu os críticos (e o público) ao receber 4 indicações no Emmy de 2023, inclusive o de "Melhor Série de Comédia". Após 6 episódios de cerca de 30 minutos cada, o que eu posso adiantar sem prejudicar sua experiência, é que aqui temos um olhar divertido que vai muito além das curiosidades do sistema judicial americano durante um julgamento - na verdade encontramos mesmo é um ótimo recorte do comportamento humano sob a perspectiva de quem acredita que pode fazer a diferença para a sociedade e, principalmente, para o seu semelhante.

"Na Mira do Júri" (título que recebeu por aqui) acompanha o desenrolar de um julgamento nos Estados Unidos pela perspectiva de Ronald Gladden, um jovem que acredita estar participando de um documentário sobre os bastidores do caso enquanto atua como júri. No entanto, o que ele realmente não sabe é que todo esse julgamento é, na verdade, falso e encenado só por atores. Confira o teaser e sinta o clima:

A grande verdade é que "Jury Duty" não passa de uma grande e hilária pegadinha com o "coitado" do Ronald, no entanto o seu diferencial está na forma como a montagem contextualiza e conta essa história - e é aí que entra o estilo "The Office" que comentei acima. Extremamente fragmentada, toda essa complexa dinâmica narrativa é mostrada seguindo uma estrutura ficcional de tal maneira a nos prender tanto pela trama quanto pelo experimento que o próprio roteiro deixa claro existir a cada inicio de episódio. Se o julgamento soa propositalmente surreal demais, é de se elogiar como o diretor Jake Szymanski (de "Brooklyn Nine-Nine") conduz a série para normalizar isso - reparem como ele usa e abusa dos close-ups das reações de Ronald a cada absurdo que acontece no tribunal ou nas situações envolvendo seus companheiros de júri.

Outro ponto que nos ajuda a acreditar que de fato Ronald não percebe que tudo é falso é a forma inteligente com que Szymanski insere o fator documental na série - ter uma equipe de filmagem próxima aos atores, colhendo os depoimentos dos personagens como se fosse reais, se alinha perfeitamente com a proposta de criar uma sensação de intimidade e veracidade que justifica tantos microfones e câmeras pelo ambiente. Agora, o fator essencial, e que realmente merece o Emmy, sem qualquer receio de cravar a vitória, diz respeito ao trabalho da produtora de elenco Susie Farris (de "Mr. Robot"). O sucesso de  "Jury Duty" está na capacidade do elenco em acreditar que mesmo dentro daquela atmosfera surreal, tudo não passa de uma extensão estereotipada do jeito com que cada um se relaciona com aquela história e isso é muito difícil de conseguir - então, palmas para Farris! Como diz a própria atriz Cassandra Blair que interpreta a desconfiada e sem paciência Vanessa Jenkins: "90% somos nós, 10% nossos personagens".

Com inúmeras câmeras escondidas, habilmente reveladas pela produção no último episódio (um gran finale belíssimo) que serve para atestar que o planejamento realmente se sobrepôs às possíveis dúvidas sobre a veracidade do resultado da experiência, eu diria que "Jury Duty", definitivamente, não é sobre o fato de Ronald estar sendo enganado ou eventualmente parecer fazer papel de bobo, é sim sobre a absurdidade dos eventos e como, presenciando tudo aquilo, uma pessoa comum reagiria a eles - e aqui cabe um comentário: a presença do ator James Marsden (de "X-Men"), como ele mesmo, e a relação dele com Ronald são as cerejas do bolo dessa maluquice toda. Olha, um golaço da Amazon!

Vale muito o seu play!

Assista Agora

Kiki

"Kiki: Os Segredos do Desejo" acompanha cinco história de amor e sexo que se desenrolam ao longo de uma temporada de verão em Madrid, quando os personagens descobrem fontes de prazer bem estranhas e extremamente incomuns com nomes impronunciáveis como: Dacrifilia, Hifefilia, Somnofilia, Harpaxofilia…  vemos tabus sendo quebrados, um a um, conforme esses casais se envolvem em uma emocionante libertação onde nenhum prazer é negado, seja qual for a sua forma.

Antes de mais nada é preciso dizer que para se divertir assistindo "Kiki: Os Segredos do Desejo" é preciso estar acostumado com o humor "ácido" do cinema espanhol. Seu roteiro é um ótimo exemplo do equilíbrio entre comédia e drama que uma nova geração de diretores espanhóis vem produzindo - nesse caso temos um filme sobre relações, sobre sexo, sobre traços do comportamento humano que nem imaginaríamos que pudesse ser real ou verdadeiro. Embora muito bem feito, muito bem dirigido pelo também ator Paco León e com um roteiro excelente (embora constrangedor no melhor e engraçado sentido da palavra, se isso é possível), "Kiki" ganha ainda mais força com o elenco - é uma interpretação melhor que a outra!

Olha, dos recentes filmes espanhóis que já analisei, "El bar"ainda é melhor (para o meu gosto pessoal), mas Kiki: Os Segredos do Desejo" também é divertidíssimo e se você tiver afim de ser provocado, com uma narrativa menos convencional, eu indico tranquilamente!

Assista Agora

"Kiki: Os Segredos do Desejo" acompanha cinco história de amor e sexo que se desenrolam ao longo de uma temporada de verão em Madrid, quando os personagens descobrem fontes de prazer bem estranhas e extremamente incomuns com nomes impronunciáveis como: Dacrifilia, Hifefilia, Somnofilia, Harpaxofilia…  vemos tabus sendo quebrados, um a um, conforme esses casais se envolvem em uma emocionante libertação onde nenhum prazer é negado, seja qual for a sua forma.

Antes de mais nada é preciso dizer que para se divertir assistindo "Kiki: Os Segredos do Desejo" é preciso estar acostumado com o humor "ácido" do cinema espanhol. Seu roteiro é um ótimo exemplo do equilíbrio entre comédia e drama que uma nova geração de diretores espanhóis vem produzindo - nesse caso temos um filme sobre relações, sobre sexo, sobre traços do comportamento humano que nem imaginaríamos que pudesse ser real ou verdadeiro. Embora muito bem feito, muito bem dirigido pelo também ator Paco León e com um roteiro excelente (embora constrangedor no melhor e engraçado sentido da palavra, se isso é possível), "Kiki" ganha ainda mais força com o elenco - é uma interpretação melhor que a outra!

Olha, dos recentes filmes espanhóis que já analisei, "El bar"ainda é melhor (para o meu gosto pessoal), mas Kiki: Os Segredos do Desejo" também é divertidíssimo e se você tiver afim de ser provocado, com uma narrativa menos convencional, eu indico tranquilamente!

Assista Agora

Love

Se você ainda não assistiu, saiba que você vai rir, mas provavelmente também vai ficar constrangido com algumas situações (bem absurdas) que Mickey e Gus vão passar em três ótimas temporadas de "Love". Essa produção original da Netflix que estreou em 2016, na época sem muito barulho, trouxe para a plataforma o talento de Judd Apatow, roteirista que virou referência em um tipo de narrativa que, muitas vezes escrachado ou dramático demais, esconde no seu subtexto um humor inteligente e bastante reflexivo - não por acaso multi-premiado, ele tem em seu currículo sucessos que vão de "Girls" até "Os Simpsons". Dito isso, fica fácil entender a razão pela qual "Love" recebeu tantos elogios da crítica e ainda conquistou o público ao longo de 34 episódios, provando ser um verdadeiro achado no vasto catálogo da Netflix - reparem como a série captura a essência de um relacionamento moderno com uma leveza, expondo a vulnerabilidade, os tropeços e a autenticidade que muitas vezes ignoramos no nosso dia a dia.

Estrelada pelos talentosos Gillian Jacobs e Paul Rust, "Love" segue a vida de Mickey Dobbs (Jacobs), uma jovem debochada e viciada em sexo, e Gus Cruikshank (Rust), um nerd que acabou de ser traído pela namorada. Quando essas duas almas completamente imperfeitas se encontram, começa uma jornada tão caótica quanto envolvente que explora com muita inteligência os altos e baixos de um relacionamento moderno. Confira o trailer:

Nesse universo bem representado de séries sobre relacionamentos, "Love", na minha opinião, sempre se destacou por sua abordagem sincera sobre o tema, mas sem se levar muito a sério. Ao mergulhar fundo nas complexidades da conexão humana, deixando de lado as idealizações comuns das comédias românticas, o roteiro de Apatow foi muito sagaz em potencializar a química absurda entre Gillian Jacobs e Paul Rust - é impossível não torcer por eles, mesmo que muitas vezes tenhamos a exata sensação de que tudo aquilo nunca vai funcionar. Essa nossa relação com o drama dos personagens fica tão palpável com o passar dos episódios que até a forma como eles retratam toda essa vulnerabilidade chega a incomodar (no bom sentido da experiência como audiência, claro).

A direção da série traz nomes como Dean Holland (de "The Office") e Lynn Shelton (de "The Morning Show") - o que dá o tom e o equilíbrio que o texto pede. É habilidosa a forma como os diretores capturam a essência de Los Angeles e a transformam em um personagem relevante para a história. Esse contexto deixa claro que existe uma complexidade geográfica que distancia pessoas de grupos tão diferentes e que só o acaso seria capaz de juntar um nerd introvertido com seus amigos esquisitos e a garota bonita e descolada, mas com seus sérios problemas de auto-estima. Veja, mesmo que soe estereotipado demais (e muitas vezes é) existe um cuidado absurdo ao retratar essa carga de manias que eles carregam com humanidade.

Ao abordar temas profundos, como vícios, comprometimento e autodescoberta, "Love" acrescenta camadas emocionais interessantes à trama, mas sem esquecer de uma certa simplicidade que se tornou uma marca e sua maior força. Digo isso pois a série não precisa de truques mirabolantes ou reviravoltas impressionantes para prender nossa atenção, por outro lado, talvez sua condução pessimista com um humor mais destrutivo seja demais e por isso pode não agradar a todos. As situações e referências batem muito com uma geração que iniciou sua era de consumo moldada por valores impulsionados pela internet e redes sociais e isso reflete na forma como lidamos com a história (sim, chega a dar raiva por algumas atitudes deles...rs). Agora, é um fato que muito daquilo tudo nos encanta com diálogos bem construídos e personagens que, de fato, se sentem e por isso parecem reais.

Prepare-se para se apaixonar e para se identificar com os altos e baixos de Mickey e Gus em uma jornada cheia de imperfeições que vale muito a pena acompanhar!

Assista Agora

Se você ainda não assistiu, saiba que você vai rir, mas provavelmente também vai ficar constrangido com algumas situações (bem absurdas) que Mickey e Gus vão passar em três ótimas temporadas de "Love". Essa produção original da Netflix que estreou em 2016, na época sem muito barulho, trouxe para a plataforma o talento de Judd Apatow, roteirista que virou referência em um tipo de narrativa que, muitas vezes escrachado ou dramático demais, esconde no seu subtexto um humor inteligente e bastante reflexivo - não por acaso multi-premiado, ele tem em seu currículo sucessos que vão de "Girls" até "Os Simpsons". Dito isso, fica fácil entender a razão pela qual "Love" recebeu tantos elogios da crítica e ainda conquistou o público ao longo de 34 episódios, provando ser um verdadeiro achado no vasto catálogo da Netflix - reparem como a série captura a essência de um relacionamento moderno com uma leveza, expondo a vulnerabilidade, os tropeços e a autenticidade que muitas vezes ignoramos no nosso dia a dia.

Estrelada pelos talentosos Gillian Jacobs e Paul Rust, "Love" segue a vida de Mickey Dobbs (Jacobs), uma jovem debochada e viciada em sexo, e Gus Cruikshank (Rust), um nerd que acabou de ser traído pela namorada. Quando essas duas almas completamente imperfeitas se encontram, começa uma jornada tão caótica quanto envolvente que explora com muita inteligência os altos e baixos de um relacionamento moderno. Confira o trailer:

Nesse universo bem representado de séries sobre relacionamentos, "Love", na minha opinião, sempre se destacou por sua abordagem sincera sobre o tema, mas sem se levar muito a sério. Ao mergulhar fundo nas complexidades da conexão humana, deixando de lado as idealizações comuns das comédias românticas, o roteiro de Apatow foi muito sagaz em potencializar a química absurda entre Gillian Jacobs e Paul Rust - é impossível não torcer por eles, mesmo que muitas vezes tenhamos a exata sensação de que tudo aquilo nunca vai funcionar. Essa nossa relação com o drama dos personagens fica tão palpável com o passar dos episódios que até a forma como eles retratam toda essa vulnerabilidade chega a incomodar (no bom sentido da experiência como audiência, claro).

A direção da série traz nomes como Dean Holland (de "The Office") e Lynn Shelton (de "The Morning Show") - o que dá o tom e o equilíbrio que o texto pede. É habilidosa a forma como os diretores capturam a essência de Los Angeles e a transformam em um personagem relevante para a história. Esse contexto deixa claro que existe uma complexidade geográfica que distancia pessoas de grupos tão diferentes e que só o acaso seria capaz de juntar um nerd introvertido com seus amigos esquisitos e a garota bonita e descolada, mas com seus sérios problemas de auto-estima. Veja, mesmo que soe estereotipado demais (e muitas vezes é) existe um cuidado absurdo ao retratar essa carga de manias que eles carregam com humanidade.

Ao abordar temas profundos, como vícios, comprometimento e autodescoberta, "Love" acrescenta camadas emocionais interessantes à trama, mas sem esquecer de uma certa simplicidade que se tornou uma marca e sua maior força. Digo isso pois a série não precisa de truques mirabolantes ou reviravoltas impressionantes para prender nossa atenção, por outro lado, talvez sua condução pessimista com um humor mais destrutivo seja demais e por isso pode não agradar a todos. As situações e referências batem muito com uma geração que iniciou sua era de consumo moldada por valores impulsionados pela internet e redes sociais e isso reflete na forma como lidamos com a história (sim, chega a dar raiva por algumas atitudes deles...rs). Agora, é um fato que muito daquilo tudo nos encanta com diálogos bem construídos e personagens que, de fato, se sentem e por isso parecem reais.

Prepare-se para se apaixonar e para se identificar com os altos e baixos de Mickey e Gus em uma jornada cheia de imperfeições que vale muito a pena acompanhar!

Assista Agora