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Ponto de Virada: 11/9 e a Guerra ao Terror

"Ponto de Virada: 11/9 e a Guerra ao Terror" é uma excelente série documental da Netflix que coloca na linha do tempo as "causas" e "consequências" do 11 de setembro pelo ponto de vista de várias pessoas que de alguma forma estiveram (e estão) envolvidas com a relação entre os EUA e os grupos terroristas da Al-Qaeda e do Talibã. E aqui cabe uma primeira observação: o documentário é muito cuidadoso em apontar quem são os bandidos e quem são os mocinhos dessa história e ao assistir os cinco episódios, nossa sensação é que os mocinhos simplesmente não existem!

Como é de se imaginar, "Ponto de Virada: 11/9 e a Guerra ao Terror" acompanha os ataques terroristas lançados contra o World Trade Center pela Al-Qaeda em setembro de 2001, explorando desde as origens da organização terrorista na década de 1980, passando pela violenta resposta dos EUA no Oriente Médio depois dos ataques até os dias de hoje e o recente processo de desocupação das foças americanas no Afeganistão. Confira o trailer (em inglês):

Talvez "Ponto de Virada: 11/9 e a Guerra ao Terror" seja o documentário que melhor explica tudo que envolveu os ataques terroristas até hoje. Misturando muitas imagens de arquivo, gravações telefônicas, depoimentos de muitos personagens (uns bastante impactantes, inclusive), fotografias e documentos confidenciais, no fim da jornada é possível ter a exata noção de como o ser humano é um caso perdido! Desculpem a constatação, mas a forma como as peças vão se encaixando e as ações vão sendo discutidas, não raramente mostrando os dois lados da história, é de se perder a fé perante a humanidade - alguns depoimentos são tão sinceros, doloridos, além de editados de uma forma tão sensacional, que fica impossível não se emocionar e, claro, refletir sobre tudo.

O diretor Brian Knappenberger, do ótimo "Nobody Speak: Trials of the Free Press", criou uma dinâmica bastante interessante para contar a história do 11 de setembro. Knappenberger vai e volta no tempo de acordo com as ramificações que cada assunto vai abrindo. Veja, em um único documentários acompanhamos a relação da União Soviética com o Afeganistão, o nascimento da Al-Qaeda, os conflitos entre Bush e Saddam Hussein, os abusos que aconteceram em Guantánamo, o despreparo de alguns oficiais do exército americano para traçar estratégias de combate, os absurdos (e desvios) durante a criação de um novo exército afegão, como se deu a caçada a Osama Bin Laden, entre várias outras passagens marcantes da "Guerra contra o Terror" mesmo antes dela existir.

O bacana "Ponto de Virada: 11/9 e a Guerra ao Terror"é que todos os assuntos abordados, embora sem tanta profundidade, são extremamente bem pontuados e explicados de uma forma didática até, porém muito fácil de acompanhar - cada assunto faz sentido no todo e isso nos causa uma agradável sensação de conhecimento de causa. Vale dizer que os cinco episódios podem ser destrinchados se buscarmos outros títulos para termos uma visão mais completa sobre os temas - "9/11: Inside the President's War Room" mostra os ataques pelos olhos do presidente Bush e de seu staff; "Vice"conta a história Dick Cheney, vice-presidente dos EUA e responsável pela invasão do Iraque, tendo como desculpa os ataques de 11 de setembro; "Segredos Oficiais" acompanha uma funcionária inglesa que recebeu ordens para que buscasse informações sobre membros do Conselho de Segurança da ONU que pudessem ser utilizados para chantagear seis países a votarem a favor da Guerra do Iraque; e assim por diante.

Como disse, são muitos filmes e séries sobre vários sub-temas que se conectam ao documentário "Ponto de Virada: 11/9 e a Guerra ao Terror" - então a partir desse competente overview vai ficar mais fácil decidir qual caminho seguir daqui para frente para se aprofundar nessas histórias que marcaram a humanidade.

Vale muito a pena, mesmo!!!

Assista Agora

"Ponto de Virada: 11/9 e a Guerra ao Terror" é uma excelente série documental da Netflix que coloca na linha do tempo as "causas" e "consequências" do 11 de setembro pelo ponto de vista de várias pessoas que de alguma forma estiveram (e estão) envolvidas com a relação entre os EUA e os grupos terroristas da Al-Qaeda e do Talibã. E aqui cabe uma primeira observação: o documentário é muito cuidadoso em apontar quem são os bandidos e quem são os mocinhos dessa história e ao assistir os cinco episódios, nossa sensação é que os mocinhos simplesmente não existem!

Como é de se imaginar, "Ponto de Virada: 11/9 e a Guerra ao Terror" acompanha os ataques terroristas lançados contra o World Trade Center pela Al-Qaeda em setembro de 2001, explorando desde as origens da organização terrorista na década de 1980, passando pela violenta resposta dos EUA no Oriente Médio depois dos ataques até os dias de hoje e o recente processo de desocupação das foças americanas no Afeganistão. Confira o trailer (em inglês):

Talvez "Ponto de Virada: 11/9 e a Guerra ao Terror" seja o documentário que melhor explica tudo que envolveu os ataques terroristas até hoje. Misturando muitas imagens de arquivo, gravações telefônicas, depoimentos de muitos personagens (uns bastante impactantes, inclusive), fotografias e documentos confidenciais, no fim da jornada é possível ter a exata noção de como o ser humano é um caso perdido! Desculpem a constatação, mas a forma como as peças vão se encaixando e as ações vão sendo discutidas, não raramente mostrando os dois lados da história, é de se perder a fé perante a humanidade - alguns depoimentos são tão sinceros, doloridos, além de editados de uma forma tão sensacional, que fica impossível não se emocionar e, claro, refletir sobre tudo.

O diretor Brian Knappenberger, do ótimo "Nobody Speak: Trials of the Free Press", criou uma dinâmica bastante interessante para contar a história do 11 de setembro. Knappenberger vai e volta no tempo de acordo com as ramificações que cada assunto vai abrindo. Veja, em um único documentários acompanhamos a relação da União Soviética com o Afeganistão, o nascimento da Al-Qaeda, os conflitos entre Bush e Saddam Hussein, os abusos que aconteceram em Guantánamo, o despreparo de alguns oficiais do exército americano para traçar estratégias de combate, os absurdos (e desvios) durante a criação de um novo exército afegão, como se deu a caçada a Osama Bin Laden, entre várias outras passagens marcantes da "Guerra contra o Terror" mesmo antes dela existir.

O bacana "Ponto de Virada: 11/9 e a Guerra ao Terror"é que todos os assuntos abordados, embora sem tanta profundidade, são extremamente bem pontuados e explicados de uma forma didática até, porém muito fácil de acompanhar - cada assunto faz sentido no todo e isso nos causa uma agradável sensação de conhecimento de causa. Vale dizer que os cinco episódios podem ser destrinchados se buscarmos outros títulos para termos uma visão mais completa sobre os temas - "9/11: Inside the President's War Room" mostra os ataques pelos olhos do presidente Bush e de seu staff; "Vice"conta a história Dick Cheney, vice-presidente dos EUA e responsável pela invasão do Iraque, tendo como desculpa os ataques de 11 de setembro; "Segredos Oficiais" acompanha uma funcionária inglesa que recebeu ordens para que buscasse informações sobre membros do Conselho de Segurança da ONU que pudessem ser utilizados para chantagear seis países a votarem a favor da Guerra do Iraque; e assim por diante.

Como disse, são muitos filmes e séries sobre vários sub-temas que se conectam ao documentário "Ponto de Virada: 11/9 e a Guerra ao Terror" - então a partir desse competente overview vai ficar mais fácil decidir qual caminho seguir daqui para frente para se aprofundar nessas histórias que marcaram a humanidade.

Vale muito a pena, mesmo!!!

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11/9 - A Vida sob Ataque

"11/9 - A Vida sob Ataque" é um documentário muito humano, sensível e ao mesmo tempo impactante, já que seu foco é exclusivamente contar a história do 11 de setembro pelos olhos de alguns novaiorquinos que de alguma forma presenciaram os ataques as Torres Gêmeas. 

É de fato um relato único, comovente e vívido do dia que mudou o mundo moderno. "9/11 Life Under Attack" (no original) é um filme de 90 minutos da ITV que conta histórias nunca antes reveladas, criadas por meio de uma montagem de vários vídeos e áudios inéditos. Confira o trailer (em inglês):

Veja, o que você vai encontrar é o mais próximo do que uma pessoa conseguiu assistir durante os ataques em NY. O diretor Nigel Levy (o mesmo por trás de "Formula 1: Dirigir para Viver") reuniu dezenas de vídeos caseiros e construiu uma narrativa "minuto a minuto" dos atentados. Sem nenhum depoimento, apenas apresentando os personagens com legendas, áudios das rádios locais, dos controladores de voo, de telefonemas vindos das Torres e dos aviões, Levy ilustra toda a tensão e incredulidade que as testemunhas viveram naquela manhã.

Claro que muitas daquelas imagens nós já conhecemos, mas as histórias não - são tão pessoais quanto desesperadoras! É conjunto de narrativas em primeira pessoa (na maioria das vezes) que nos impacta de uma forma muito sentimental, pois não faz parte de uma reinterpretação dos fatos, de uma lembrança distante ou de uma visão confortável do que acontecia - tudo que vemos em "real time" talvez seja a melhor definição do caos e isso é impressionante!

Para quem gostou de "11/9: Dentro da Sala de Guerra do Presidente" e "Ponto de Virada: 11/9 e a Guerra ao Terror" esse é mais um documentário imperdível - pela originalidade e pelo testemunho cruel! Vale muito a pena, mesmo!

Assista Agora

"11/9 - A Vida sob Ataque" é um documentário muito humano, sensível e ao mesmo tempo impactante, já que seu foco é exclusivamente contar a história do 11 de setembro pelos olhos de alguns novaiorquinos que de alguma forma presenciaram os ataques as Torres Gêmeas. 

É de fato um relato único, comovente e vívido do dia que mudou o mundo moderno. "9/11 Life Under Attack" (no original) é um filme de 90 minutos da ITV que conta histórias nunca antes reveladas, criadas por meio de uma montagem de vários vídeos e áudios inéditos. Confira o trailer (em inglês):

Veja, o que você vai encontrar é o mais próximo do que uma pessoa conseguiu assistir durante os ataques em NY. O diretor Nigel Levy (o mesmo por trás de "Formula 1: Dirigir para Viver") reuniu dezenas de vídeos caseiros e construiu uma narrativa "minuto a minuto" dos atentados. Sem nenhum depoimento, apenas apresentando os personagens com legendas, áudios das rádios locais, dos controladores de voo, de telefonemas vindos das Torres e dos aviões, Levy ilustra toda a tensão e incredulidade que as testemunhas viveram naquela manhã.

Claro que muitas daquelas imagens nós já conhecemos, mas as histórias não - são tão pessoais quanto desesperadoras! É conjunto de narrativas em primeira pessoa (na maioria das vezes) que nos impacta de uma forma muito sentimental, pois não faz parte de uma reinterpretação dos fatos, de uma lembrança distante ou de uma visão confortável do que acontecia - tudo que vemos em "real time" talvez seja a melhor definição do caos e isso é impressionante!

Para quem gostou de "11/9: Dentro da Sala de Guerra do Presidente" e "Ponto de Virada: 11/9 e a Guerra ao Terror" esse é mais um documentário imperdível - pela originalidade e pelo testemunho cruel! Vale muito a pena, mesmo!

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11/9: Dentro da Sala de Guerra do Presidente

"9/11: Inside the President's War Room" (no original), documentário da BBC Films em parceria com a Apple, é simplesmente imperdível - pelas imagens dramáticas, pelos depoimentos de quem esteve ao lado do presidente Bush naquele dia e, principalmente, pela forma como a linha do tempo foi construída. Eu diria que esse documentário da AppleTV+ é um dos melhores do ano e certamente vai te colocar naquela atmosfera tão marcante de 20 anos atrás.

Em pouco mais de 90 minutos experimentamos os eventos de 11 de setembro de 2001 através dos olhos do presidente Bush e de seus assessores mais próximos, enquanto eles detalham pessoalmente alguns momentos cruciais e as principais decisões daquele dia histórico. O documentário cobre as primeiras 12 horas de terror e desinformação de uma forma avassaladora. Confira o trailer (em inglês):

O diferencial desse documentário com relação aos vários outros que já assisti, sem dúvida, diz respeito aos personagens que dão depoimentos: são entrevistas exclusivas com o presidente George W. Bush, com o vice Dick Cheney, com a conselheira de segurança nacional Condoleezza Rice, com o secretário de Estado Colin Powell, ente outros - inclusive profissionais da imprensa que cobriam a agenda do presidente na Flórida e que, indiretamente, viveram aquele dia histórico ao lado dele.

É muito interessante a proposta do diretor Adam Wishart em nos posicionar na linha do tempo em relação as (des)informações do staff do presidente em paralelo aos acontecimentos de Nova York e Washington, em tempo real. A forma como os personagens se dividem nas ações em resposta aos relatórios iniciais, primeiro descartando um acidente com um avião de pequeno porte e depois quando os ataques foram confirmados como uma atividade terrorista - as reações, a tensão, tudo está ali. É muito curioso como cada personagem assume uma posição hierárquica perante o caos e como algumas deficiências tecnológicas da época impactaram nas tomadas de decisões - a ordem para abater o United 93 é um ótimo exemplo e sem dúvida um dos momentos que mais embrulha o estômago. 

"9/11: Inside the President's War Room" é uma aula de narrativa que equilibra perfeitamente entrevistas, cenas de arquivo e imagens inéditas dos ataques, incluindo uma quantidade enorme de fotos de dentro da própria "sala de guerra" do presidente (e de seu vice) que passou o dia entre o Air Force One e vários Bunkers, até chegar na Casa Branca para um pronunciamento emocionante e histórico.

Em tempo, se você gosta do assunto eu sugiro que você assista dois títulos antes de chegar no documentário (nessa ordem): "The Looming Tower" com Jeff Daniels (que inclusive é o narrador de "9/11: Inside the President's War Room") e depois "O Relatório"com Adam Driver - tenha certeza que a experiência será incrível pelo encaixe das narrativas e visões dos seus personagens.

Imperdível!

Assista Agora

 

"9/11: Inside the President's War Room" (no original), documentário da BBC Films em parceria com a Apple, é simplesmente imperdível - pelas imagens dramáticas, pelos depoimentos de quem esteve ao lado do presidente Bush naquele dia e, principalmente, pela forma como a linha do tempo foi construída. Eu diria que esse documentário da AppleTV+ é um dos melhores do ano e certamente vai te colocar naquela atmosfera tão marcante de 20 anos atrás.

Em pouco mais de 90 minutos experimentamos os eventos de 11 de setembro de 2001 através dos olhos do presidente Bush e de seus assessores mais próximos, enquanto eles detalham pessoalmente alguns momentos cruciais e as principais decisões daquele dia histórico. O documentário cobre as primeiras 12 horas de terror e desinformação de uma forma avassaladora. Confira o trailer (em inglês):

O diferencial desse documentário com relação aos vários outros que já assisti, sem dúvida, diz respeito aos personagens que dão depoimentos: são entrevistas exclusivas com o presidente George W. Bush, com o vice Dick Cheney, com a conselheira de segurança nacional Condoleezza Rice, com o secretário de Estado Colin Powell, ente outros - inclusive profissionais da imprensa que cobriam a agenda do presidente na Flórida e que, indiretamente, viveram aquele dia histórico ao lado dele.

É muito interessante a proposta do diretor Adam Wishart em nos posicionar na linha do tempo em relação as (des)informações do staff do presidente em paralelo aos acontecimentos de Nova York e Washington, em tempo real. A forma como os personagens se dividem nas ações em resposta aos relatórios iniciais, primeiro descartando um acidente com um avião de pequeno porte e depois quando os ataques foram confirmados como uma atividade terrorista - as reações, a tensão, tudo está ali. É muito curioso como cada personagem assume uma posição hierárquica perante o caos e como algumas deficiências tecnológicas da época impactaram nas tomadas de decisões - a ordem para abater o United 93 é um ótimo exemplo e sem dúvida um dos momentos que mais embrulha o estômago. 

"9/11: Inside the President's War Room" é uma aula de narrativa que equilibra perfeitamente entrevistas, cenas de arquivo e imagens inéditas dos ataques, incluindo uma quantidade enorme de fotos de dentro da própria "sala de guerra" do presidente (e de seu vice) que passou o dia entre o Air Force One e vários Bunkers, até chegar na Casa Branca para um pronunciamento emocionante e histórico.

Em tempo, se você gosta do assunto eu sugiro que você assista dois títulos antes de chegar no documentário (nessa ordem): "The Looming Tower" com Jeff Daniels (que inclusive é o narrador de "9/11: Inside the President's War Room") e depois "O Relatório"com Adam Driver - tenha certeza que a experiência será incrível pelo encaixe das narrativas e visões dos seus personagens.

Imperdível!

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127 horas

"127 horas" é a uma espécie de "versão moderninha" (o que não é demérito algum) do excelente "Into the Wild", dirigido pelo do Sean Penn. Aqui, o também competente Danny Boyle (de "Steve Jobs") nos leva para uma jornada intensa e inspiradora de uma forma muito sensorial - reparem como ele nos provoca a cada dificuldade do protagonista, tornando praticamente impossível assistir todo o filme sem ter que pausar para, acreditem, tomar um copo de água (você vai entender ao assistir). Mesmo pautado na angústia do protagonista, "127 Horas" não é apenas um filme sobre sobrevivência, mas sim uma história que discute a força do espírito humano, eu diria até que é uma história de autodescoberta, de coragem e de superação, que merecia ser contada.

Baseado na história real de como alpinista Aron Ralston lutou para salvar a própria vida após um acidente. Em maio de 2003, Aron (James Franco) fazia mais uma escalada nas montanhas de Utah, Estados Unidos, quando acabou ficando com seu braço preso em uma fenda. Sua luta pela sobrevivência durante mais de cinco dias (sua agonia durou 127 horas) foi marcada por memórias e momentos de muita tensão e reflexão. Confira o trailer:

O roteiro, escrito pelo próprio Boyle ao lado de Simon Beaufoy, é excepcional, pois ele é capaz de capturar toda a essência da história de Ralston. A narrativa nos transporta para o deserto inóspito de Utah, onde somos imersos na angústia e no desespero de um homem que precisa lutar por sua sobrevivência. A habilidade do diretor em criar tensão é impressionante - sua escolha por uma narrativa visualmente impactante, usando vários formatos para captar as imagens dentro do Canyon, é tão arrojada quanto eficaz. Os planos que detalham aquela paisagem áridas através de uma fotografia vibrante do Anthony Dod Mantle (de "Quem quer ser um Milionário?") e do Enrique Chediak (de "Buena Vista Social Club") criam uma atmosfera visceral que nos transporta para o coração da história - reparem como os flashbacks e alucinações nos ajuda a mergulhar ainda mais na mente de Ralston.

A performance de James Franco é simplesmente extraordinária (tanto que lhe rendeu uma indicação ao Oscar por esse personagem). Ele personifica com maestria a jornada emocional de Aron Ralston, passando por uma ampla gama de emoções, desde a alegria inicial do aventureiro sem responsabilidades até o desespero e a dor intensa após o acidente. Franco consegue transmitir toda essa vulnerabilidade ao mesmo tempo uma determinação impressionante -  ele é tão convincente que fica impossível não se conectar com sua luta. Outro aspecto marcante do filme é sem dúvida a trilha sonora composta por A.R. Rahman - ela desempenha um papel fundamental para intensificar as emoções e criar um profundo mood de suspense. 

"127 Horas" nos desafia a refletir sobre nossas próprias limitações e sobre o valor de cada momento de nossa vida. Com uma atuação brilhante de Franco, que praticamente carrega o filme sozinho por mais de 90 minutos, uma direção das mais competentes (e inovadoras) de Danny Boyle e uma trama densa e envolvente, fica fácil atestar o impacto que o filme tem como experiência cinematográfica. Então prepare-se, pois essa história real de coragem e sobrevivência ficará gravada na sua memória por muito tempo. 

Vale seu play!

Up-date: "127 horas" foi indicado em 6 categorias no Oscar 2011, inclusive como "Melhor Filme".

Assista Agora

"127 horas" é a uma espécie de "versão moderninha" (o que não é demérito algum) do excelente "Into the Wild", dirigido pelo do Sean Penn. Aqui, o também competente Danny Boyle (de "Steve Jobs") nos leva para uma jornada intensa e inspiradora de uma forma muito sensorial - reparem como ele nos provoca a cada dificuldade do protagonista, tornando praticamente impossível assistir todo o filme sem ter que pausar para, acreditem, tomar um copo de água (você vai entender ao assistir). Mesmo pautado na angústia do protagonista, "127 Horas" não é apenas um filme sobre sobrevivência, mas sim uma história que discute a força do espírito humano, eu diria até que é uma história de autodescoberta, de coragem e de superação, que merecia ser contada.

Baseado na história real de como alpinista Aron Ralston lutou para salvar a própria vida após um acidente. Em maio de 2003, Aron (James Franco) fazia mais uma escalada nas montanhas de Utah, Estados Unidos, quando acabou ficando com seu braço preso em uma fenda. Sua luta pela sobrevivência durante mais de cinco dias (sua agonia durou 127 horas) foi marcada por memórias e momentos de muita tensão e reflexão. Confira o trailer:

O roteiro, escrito pelo próprio Boyle ao lado de Simon Beaufoy, é excepcional, pois ele é capaz de capturar toda a essência da história de Ralston. A narrativa nos transporta para o deserto inóspito de Utah, onde somos imersos na angústia e no desespero de um homem que precisa lutar por sua sobrevivência. A habilidade do diretor em criar tensão é impressionante - sua escolha por uma narrativa visualmente impactante, usando vários formatos para captar as imagens dentro do Canyon, é tão arrojada quanto eficaz. Os planos que detalham aquela paisagem áridas através de uma fotografia vibrante do Anthony Dod Mantle (de "Quem quer ser um Milionário?") e do Enrique Chediak (de "Buena Vista Social Club") criam uma atmosfera visceral que nos transporta para o coração da história - reparem como os flashbacks e alucinações nos ajuda a mergulhar ainda mais na mente de Ralston.

A performance de James Franco é simplesmente extraordinária (tanto que lhe rendeu uma indicação ao Oscar por esse personagem). Ele personifica com maestria a jornada emocional de Aron Ralston, passando por uma ampla gama de emoções, desde a alegria inicial do aventureiro sem responsabilidades até o desespero e a dor intensa após o acidente. Franco consegue transmitir toda essa vulnerabilidade ao mesmo tempo uma determinação impressionante -  ele é tão convincente que fica impossível não se conectar com sua luta. Outro aspecto marcante do filme é sem dúvida a trilha sonora composta por A.R. Rahman - ela desempenha um papel fundamental para intensificar as emoções e criar um profundo mood de suspense. 

"127 Horas" nos desafia a refletir sobre nossas próprias limitações e sobre o valor de cada momento de nossa vida. Com uma atuação brilhante de Franco, que praticamente carrega o filme sozinho por mais de 90 minutos, uma direção das mais competentes (e inovadoras) de Danny Boyle e uma trama densa e envolvente, fica fácil atestar o impacto que o filme tem como experiência cinematográfica. Então prepare-se, pois essa história real de coragem e sobrevivência ficará gravada na sua memória por muito tempo. 

Vale seu play!

Up-date: "127 horas" foi indicado em 6 categorias no Oscar 2011, inclusive como "Melhor Filme".

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13 de Novembro: Terror em Paris

13 de Novembro: Terror em Paris

Por mais dolorido que possa parecer, a série documental da Netflix é um retrato da capacidade humana de se reinventar, seja nos momentos mais extremos, seja pela forma como ela reage ao evento que transformou sua vida!

São 3 episódios de quase 1 hora, mostrando minuto a minuto, tudo o que aconteceu naquela noite em Paris quando as primeiras explosões chamaram a atenção de todos que acompanhavam o amistoso França e Alemanha no Stade de France em Saint-Denis. As 80 mil pessoas que ali estavam, não tinham a menor noção do se transformaria aquela noite quando, poucos minutos depois, restaurantes e bares começaram a ser atacados por terroristas, culminando no massacre da boate Bataclan.

Pelo olhar e a lembrança de quem estava lá, em cada um desses lugares, ou pelos depoimentos de quem socorreu as vítimas naquela noite, e até pelas constatações dos políticos e policiais que precisaram tomar decisões difíceis durante os ataques, "13 de Novembro: Terror em Paris", talvez seja o documentário mais humano sobre um ataque terrorista que eu já assisti. É impressionante, marcante, mas, principalmente, necessário, pois só assim vamos entender o quanto a humanidade está machucada, mas ainda luta para continuar caminhando com a cabeça erguida!

A série mistura depoimentos com imagens de arquivos, vídeos feitos por celulares e até gravações da própria polícia, para ilustrar, em detalhes, o inferno de quem viveu e sobreviveu aos atentados. Muito interessante é a dinâmica que os diretores Gédéon Naudet e Jules Naudet, que já ganharam um Emmy pelo também excelente "9/11" de 2002, usaram para contar cada uma das histórias do ataque. Em nenhum momento sentimos um viés político, muito pelo contrário - nem o Estado Islâmico é citado durante os episódios. O foco é realmente o lado humano dos atentados e é aí que o drama pega forte. Fica fácil de visualizar aqueles momentos tão particulares que são contados pelos sobreviventes e isso dói. Os relatos são impressionantes, sinceros, sem nenhum tipo de máscara ou receio. É forte!!!!

Um dos artifícios usados pelos irmãos Naudet foi a inserção de elementos gráficos que serviram para pontuar o trajeto que os terroristas fizeram até chegar na Bataclan. Enquanto o primeiro episódio da série se dedica aos ataques nos restaurantes e bares, o segundo e o terceiro mergulham no interior da boate - o bacana é que, mesmo complexos, os fatos são facilmente explicados e localizados por uma  animação que ilustra perfeitamente onde estavam os personagens, os terroristas e, finalmente, os policiais. Fica tudo muito simples, fluido, o que, sem dúvida, nos coloca dentro da história sem a menor piedade. É belo como obra, como técnica de storytelling, mas difícil de digerir como ser humano!

"13 de Novembro: Terror em Paris" é uma bela surpresa escondida dentro do catálogo da Netflix. É preciso estar disposto para encarar uma história como essa, mas a experiência é extremamente imersiva e provocadora. É impossível não se colocar no lugar daquelas pessoas quando relatam o silêncio após os disparos, o cheiro de sangue misturado com pólvora, os clarões das explosões e até o barulho ensurdecedor dos celulares das vítimas tocando depois do massacre.  Embora esse seja o melhor elogio que um documentário pode receber, estar ali dentro, mesmo que pelos olhos dos outros, não é uma tarefa fácil!!!

Eu indico tranquilamente, mas assista sabendo que o assunto vai machucar e que o resultado da obra é um relato emocionante, cheio de detalhes, de uma noite que nunca mais será esquecida!!!!

Assista Agora 

Por mais dolorido que possa parecer, a série documental da Netflix é um retrato da capacidade humana de se reinventar, seja nos momentos mais extremos, seja pela forma como ela reage ao evento que transformou sua vida!

São 3 episódios de quase 1 hora, mostrando minuto a minuto, tudo o que aconteceu naquela noite em Paris quando as primeiras explosões chamaram a atenção de todos que acompanhavam o amistoso França e Alemanha no Stade de France em Saint-Denis. As 80 mil pessoas que ali estavam, não tinham a menor noção do se transformaria aquela noite quando, poucos minutos depois, restaurantes e bares começaram a ser atacados por terroristas, culminando no massacre da boate Bataclan.

Pelo olhar e a lembrança de quem estava lá, em cada um desses lugares, ou pelos depoimentos de quem socorreu as vítimas naquela noite, e até pelas constatações dos políticos e policiais que precisaram tomar decisões difíceis durante os ataques, "13 de Novembro: Terror em Paris", talvez seja o documentário mais humano sobre um ataque terrorista que eu já assisti. É impressionante, marcante, mas, principalmente, necessário, pois só assim vamos entender o quanto a humanidade está machucada, mas ainda luta para continuar caminhando com a cabeça erguida!

A série mistura depoimentos com imagens de arquivos, vídeos feitos por celulares e até gravações da própria polícia, para ilustrar, em detalhes, o inferno de quem viveu e sobreviveu aos atentados. Muito interessante é a dinâmica que os diretores Gédéon Naudet e Jules Naudet, que já ganharam um Emmy pelo também excelente "9/11" de 2002, usaram para contar cada uma das histórias do ataque. Em nenhum momento sentimos um viés político, muito pelo contrário - nem o Estado Islâmico é citado durante os episódios. O foco é realmente o lado humano dos atentados e é aí que o drama pega forte. Fica fácil de visualizar aqueles momentos tão particulares que são contados pelos sobreviventes e isso dói. Os relatos são impressionantes, sinceros, sem nenhum tipo de máscara ou receio. É forte!!!!

Um dos artifícios usados pelos irmãos Naudet foi a inserção de elementos gráficos que serviram para pontuar o trajeto que os terroristas fizeram até chegar na Bataclan. Enquanto o primeiro episódio da série se dedica aos ataques nos restaurantes e bares, o segundo e o terceiro mergulham no interior da boate - o bacana é que, mesmo complexos, os fatos são facilmente explicados e localizados por uma  animação que ilustra perfeitamente onde estavam os personagens, os terroristas e, finalmente, os policiais. Fica tudo muito simples, fluido, o que, sem dúvida, nos coloca dentro da história sem a menor piedade. É belo como obra, como técnica de storytelling, mas difícil de digerir como ser humano!

"13 de Novembro: Terror em Paris" é uma bela surpresa escondida dentro do catálogo da Netflix. É preciso estar disposto para encarar uma história como essa, mas a experiência é extremamente imersiva e provocadora. É impossível não se colocar no lugar daquelas pessoas quando relatam o silêncio após os disparos, o cheiro de sangue misturado com pólvora, os clarões das explosões e até o barulho ensurdecedor dos celulares das vítimas tocando depois do massacre.  Embora esse seja o melhor elogio que um documentário pode receber, estar ali dentro, mesmo que pelos olhos dos outros, não é uma tarefa fácil!!!

Eu indico tranquilamente, mas assista sabendo que o assunto vai machucar e que o resultado da obra é um relato emocionante, cheio de detalhes, de uma noite que nunca mais será esquecida!!!!

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150 Miligramas

Quando os interesses econômicos se sobressaem ao que realmente impacta na sociedade, independente do universo em que essa "mentira" (para não dizer hipocrisia) esteja inserida, encontramos uma ótima premissa para o desenvolvimento de uma jornada que, de fato, vai prender a atenção da audiência - primeiro por nos provocar, de imediato, indignação e depois por gerar uma enorme empatia pela protagonista que luta contra tudo e contra todos para provar que o "sistema" não está preocupado com o ser humano e sim com o seu lucro. Indicado ao César Awards (o Oscar Francês) em 2017, "150 Miligramas" é uma surpreendente adaptação do livro da pneumologista Irène Frachon que segue justamente essa linha narrativa - o filme retrata o que foi considerado por muitos, uma das mais impactantes denúncias que a indústria farmacêutica já sofreu em todos os tempos.

"La Fille de Brest" (no original) recria a luta travada pela Dra. Franchon (Sidse Babett Knudsen), entre 2009 e 2011, quando ela colocou a própria profissão em risco ao desafiar a indústria farmacêutica e estabelecer uma ligação direta entre mortes suspeitas e o consumo de Mediator, um medicamento para controle da obesidade em diabéticos que apresentava graves efeitos colaterais, mesmo já no mercado há mais 30 anos. Confira o trailer:

Contextualizando, a ótima diretora Emmanuelle Bercot já havia se destacado ao priorizar personagens femininas fortes - seus dois trabalhos anteriores teve "só" Catherine Deneuve como protagonista ("Ela Vai" de 2013 e "De Cabeça Erguida" de 2015), então já era de se esperar que a talentosa Sidse Babett Knudsen fosse capaz de entregar uma Irène Frachon incrível - e é o que acontece! Knudsen foi capaz de traduzir a expectativa de Bercot, criando uma protagonista que oscila emocionalmente de acordo com a situação em que ela se encontra. Essa capacidade da atriz humaniza sua personagem de uma forma que, por muitos momentos, temos a impressão de estarmos assistindo ao mesmo tempo um documentário investigativo e um filme caseiro de sua família. E aqui cabe um comentário: Knudsen concorreu ao prêmio de Melhor Atriz no César Awards daquele ano por essa performance.

Por se tratar de uma adaptação, a linha acaba ficando muito tênue entre o genial e o superficial, principalmente pelo pouco tempo para expor os sentimentos mais honestos e profundos dos personagens e é justamente por isso que destaco um dos grandes acertos do roteiro de Séverine Bosschem ao lado de Bercot: existe um equilíbrio entre poesia e drama - as cenas da protagonista no mar, ilustrando de forma metafórica sua incessante luta contra o laboratório Servier, nadando contra a maré, quase perdendo o fôlego e ainda tentando sobreviver em meio a tanta pressão, é simplesmente incrível! Impossível também não destacar o trabalho do fotógrafo indicado ao Oscar em 2012 pelo "O Artista", Guillaume Schiffman.

Como em "Minamata" ou no mais recente "O Preço da Verdade", existe uma proposital sensação de exaustão depois de duas horas de filme para ilustrar o peso da jornada de Irène Frachon, rodeada de estafa física e psicológica, mas lindamente decodificada pela diretora que não se limitou em construir "uma salvadora da pátria" e sim retratar os seus medos, suas falhas e inseguranças - e como dito em uma das melhores passagens do filme: "não há luta sem medo e ele atinge todos os rebeldes".

Vale muito a pena!

Assista Agora

Quando os interesses econômicos se sobressaem ao que realmente impacta na sociedade, independente do universo em que essa "mentira" (para não dizer hipocrisia) esteja inserida, encontramos uma ótima premissa para o desenvolvimento de uma jornada que, de fato, vai prender a atenção da audiência - primeiro por nos provocar, de imediato, indignação e depois por gerar uma enorme empatia pela protagonista que luta contra tudo e contra todos para provar que o "sistema" não está preocupado com o ser humano e sim com o seu lucro. Indicado ao César Awards (o Oscar Francês) em 2017, "150 Miligramas" é uma surpreendente adaptação do livro da pneumologista Irène Frachon que segue justamente essa linha narrativa - o filme retrata o que foi considerado por muitos, uma das mais impactantes denúncias que a indústria farmacêutica já sofreu em todos os tempos.

"La Fille de Brest" (no original) recria a luta travada pela Dra. Franchon (Sidse Babett Knudsen), entre 2009 e 2011, quando ela colocou a própria profissão em risco ao desafiar a indústria farmacêutica e estabelecer uma ligação direta entre mortes suspeitas e o consumo de Mediator, um medicamento para controle da obesidade em diabéticos que apresentava graves efeitos colaterais, mesmo já no mercado há mais 30 anos. Confira o trailer:

Contextualizando, a ótima diretora Emmanuelle Bercot já havia se destacado ao priorizar personagens femininas fortes - seus dois trabalhos anteriores teve "só" Catherine Deneuve como protagonista ("Ela Vai" de 2013 e "De Cabeça Erguida" de 2015), então já era de se esperar que a talentosa Sidse Babett Knudsen fosse capaz de entregar uma Irène Frachon incrível - e é o que acontece! Knudsen foi capaz de traduzir a expectativa de Bercot, criando uma protagonista que oscila emocionalmente de acordo com a situação em que ela se encontra. Essa capacidade da atriz humaniza sua personagem de uma forma que, por muitos momentos, temos a impressão de estarmos assistindo ao mesmo tempo um documentário investigativo e um filme caseiro de sua família. E aqui cabe um comentário: Knudsen concorreu ao prêmio de Melhor Atriz no César Awards daquele ano por essa performance.

Por se tratar de uma adaptação, a linha acaba ficando muito tênue entre o genial e o superficial, principalmente pelo pouco tempo para expor os sentimentos mais honestos e profundos dos personagens e é justamente por isso que destaco um dos grandes acertos do roteiro de Séverine Bosschem ao lado de Bercot: existe um equilíbrio entre poesia e drama - as cenas da protagonista no mar, ilustrando de forma metafórica sua incessante luta contra o laboratório Servier, nadando contra a maré, quase perdendo o fôlego e ainda tentando sobreviver em meio a tanta pressão, é simplesmente incrível! Impossível também não destacar o trabalho do fotógrafo indicado ao Oscar em 2012 pelo "O Artista", Guillaume Schiffman.

Como em "Minamata" ou no mais recente "O Preço da Verdade", existe uma proposital sensação de exaustão depois de duas horas de filme para ilustrar o peso da jornada de Irène Frachon, rodeada de estafa física e psicológica, mas lindamente decodificada pela diretora que não se limitou em construir "uma salvadora da pátria" e sim retratar os seus medos, suas falhas e inseguranças - e como dito em uma das melhores passagens do filme: "não há luta sem medo e ele atinge todos os rebeldes".

Vale muito a pena!

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438 Dias

Uma das maravilhas desses tempos de streaming é poder ter acesso à filmes incríveis que certamente não teriam a menor chance no circuito comercial das salas de cinema - esse é o caso de "438 Dias", produção sueca do diretor Jesper Ganslandt ( o mesmo de "Dinheiro Fácil: A Série" da Netflix). Muito bem realizado cinematograficamente, essa é uma história que de fato merecia ser contada - então se você gosta de tramas investigativas ou de denúncias que impactam toda uma sociedade, como "150 Miligramas""Minamata" ou "O Preço da Verdade", sua diversão está garantida!

Em 2011 os jornalistas suecos Martin Schibbye (Gustaf Skarsgård) e Johan Persson (Matias Varela) colocaram tudo em jogo, inclusive suas vidas, ao cruzar ilegalmente a fronteira da Somália para a Etiópia. Depois de meses de pesquisa, planejamento e tentativas fracassadas, eles estavam finalmente no caminho para relatar como a implacável busca por petróleo afetou a comunidade da isolada e conflituosa região de Ogaden. Confira o trailer:

Baseado, obviamente, na história real contada no livro escrito pelos próprios protagonistas de "438 Dias", o roteiro de Peter Birro traz para a narrativa vários elementos dramáticos dos títulos referenciados acima, porém com uma diferença fundamental: ele conta sim a jornada investigativa pela qual os jornalistas Johan Persson e Martin Schibbyeo estavam trabalhando, mas o foco mesmo é o incidente que levou a dupla à prisão na Etiópia e suas consequências.

Se apoiando nos relatos pessoais de ambos, Ganslandt foi muito feliz em criar um clima de tensão permanente durante toda a narrativa - provocando sensações bem particulares, o filme mostra como provas foram forjadas, porquê as autoridades queriam evitar que eles investigassem o envolvimento da Lundin Oil na região de Ogaden e como se deu uma eventual participação do Ministro das Relações Exteriores da Suécia (antes um alto diretor da empresa). Olha, existe um equilíbrio perfeito de temas que vai do jornalismo investigativo, passando ao drama político e que culmina nos momentos de terror que os personagens passaram enquanto esperavam seus julgamentos, presos em condições desumanas - e aqui cabe um comentário: o tom de denúncia do filme é tão forte que a estrutura narrativa soa quase como documental, com o diretor, inclusive, impondo um conceito que mistura as duas linguagens (ficção e documentário) em muitas passagens-chave da história.

Agora, é preciso dizer também que "438 Dias" não é um filme sobre prisão, onde a ação muitas vezes se sobrepõe ao drama real - aqui temos uma narrativa que não se apoia em sensacionalismo, ou seja, o roteiro mais sugere do que mostra, não aumenta os fatos e muito menos exagera em passagens que por si só já são impactantes. Claro que existem gatilhos visuais em situações marcantes que provocam certas emoções, mas nunca além da conta e isso transforma a jornada em algo muito mais introspectiva do que expositiva - mesmo que cadenciada demais para alguns, essa escolha foi um golaço do diretor!

Em dias turbulentos, "438 Dias" é um filme importante, para que governos autoritários ou os interesses de grandes corporações não suprimam o direito básico da "liberdade de expressão". Vale muito seu play!  

Assista Agora

Uma das maravilhas desses tempos de streaming é poder ter acesso à filmes incríveis que certamente não teriam a menor chance no circuito comercial das salas de cinema - esse é o caso de "438 Dias", produção sueca do diretor Jesper Ganslandt ( o mesmo de "Dinheiro Fácil: A Série" da Netflix). Muito bem realizado cinematograficamente, essa é uma história que de fato merecia ser contada - então se você gosta de tramas investigativas ou de denúncias que impactam toda uma sociedade, como "150 Miligramas""Minamata" ou "O Preço da Verdade", sua diversão está garantida!

Em 2011 os jornalistas suecos Martin Schibbye (Gustaf Skarsgård) e Johan Persson (Matias Varela) colocaram tudo em jogo, inclusive suas vidas, ao cruzar ilegalmente a fronteira da Somália para a Etiópia. Depois de meses de pesquisa, planejamento e tentativas fracassadas, eles estavam finalmente no caminho para relatar como a implacável busca por petróleo afetou a comunidade da isolada e conflituosa região de Ogaden. Confira o trailer:

Baseado, obviamente, na história real contada no livro escrito pelos próprios protagonistas de "438 Dias", o roteiro de Peter Birro traz para a narrativa vários elementos dramáticos dos títulos referenciados acima, porém com uma diferença fundamental: ele conta sim a jornada investigativa pela qual os jornalistas Johan Persson e Martin Schibbyeo estavam trabalhando, mas o foco mesmo é o incidente que levou a dupla à prisão na Etiópia e suas consequências.

Se apoiando nos relatos pessoais de ambos, Ganslandt foi muito feliz em criar um clima de tensão permanente durante toda a narrativa - provocando sensações bem particulares, o filme mostra como provas foram forjadas, porquê as autoridades queriam evitar que eles investigassem o envolvimento da Lundin Oil na região de Ogaden e como se deu uma eventual participação do Ministro das Relações Exteriores da Suécia (antes um alto diretor da empresa). Olha, existe um equilíbrio perfeito de temas que vai do jornalismo investigativo, passando ao drama político e que culmina nos momentos de terror que os personagens passaram enquanto esperavam seus julgamentos, presos em condições desumanas - e aqui cabe um comentário: o tom de denúncia do filme é tão forte que a estrutura narrativa soa quase como documental, com o diretor, inclusive, impondo um conceito que mistura as duas linguagens (ficção e documentário) em muitas passagens-chave da história.

Agora, é preciso dizer também que "438 Dias" não é um filme sobre prisão, onde a ação muitas vezes se sobrepõe ao drama real - aqui temos uma narrativa que não se apoia em sensacionalismo, ou seja, o roteiro mais sugere do que mostra, não aumenta os fatos e muito menos exagera em passagens que por si só já são impactantes. Claro que existem gatilhos visuais em situações marcantes que provocam certas emoções, mas nunca além da conta e isso transforma a jornada em algo muito mais introspectiva do que expositiva - mesmo que cadenciada demais para alguns, essa escolha foi um golaço do diretor!

Em dias turbulentos, "438 Dias" é um filme importante, para que governos autoritários ou os interesses de grandes corporações não suprimam o direito básico da "liberdade de expressão". Vale muito seu play!  

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7500

"7500" é mais uma excelente surpresa que você pode encontrar na Prime Vídeo! O filme acompanha a história de um voo entre Alemanha e França que sofre uma tentativa de ataque terrorista comandada por extremistas muçulmanos. O interessante, porém, é que o diretor e roteirista alemão, Patrick Vollrath, acabou criando uma atmosfera de tensão quase insuportável ao decidir nos mostrar um único ponto de vista dessa situação de terror: a do co-piloto Tobias Ellis (Joseph Gordon-Levitt), "preso" em sua cabine de comando! Confira o trailer (em inglês):

Para quem gosta desse estilo de filme, a lembrança do ótimo "Voo United 93", do grande diretor Paul Greengrass, surgirá imediatamente na memória. Pelo estilo da câmera solta, mais nervosa, quase documental, ao conceito narrativo escolhido para contar a história, "7500" bebe da mesma fonte com muita competência e nos coloca dentro do avião sem pedir muita licença. Vollrath não economiza ao mostrar os momentos de desespero do protagonista ao ter que tomar decisões muito difíceis, ao mesmo tempo que apenas sugere o que está acontecendo entre a tripulação, passageiros e terroristas fora da cabine. De fato, pode parecer que a história está incompleta, mas a sensação acaba sendo tão claustrofóbica e profunda que temos a impressão de estarmos assistindo uma transmissão ao vivo de tudo aquilo! Mas aqui cabe um aviso importante: "7500" não é um filme de ação, é um drama quase psicológico, angustiante pela veracidade das situações e muito difícil de digerir. Vale muito a pena, mesmo!

Como curiosidade, o código de emergência em situações de seqüestro de um avião é "7500" e a apropriação dessa importante informação para ser o ponto de partida desse filme se justifica desde as primeiras cenas. Enquanto os créditos iniciais ainda são mostrados, vemos a imagem de monitores de segurança acompanhando (e apresentando) os terroristas - muito parecido com o que vimos exaustivamente durante as investigações do 11 de setembro, inclusive. Enquanto isso o co-piloto Tobias Ellis e o comandante Michael Lutzmann (Carlo Kitzlinger) fazem todo o procedimento de checagem e preparação para o voo -  eles conversam sobre amenidades, mas já se cria uma relação de empatia com quem assiste ao filme que é impressionante. A câmera se move pouco, o ambiente é realmente muito apertado, escuro, mas o trabalho dos atores deixa transparecer que tudo aquilo é muito aconchegante para ambos. Ao mesmo tempo, a tripulação vai recebendo os passageiros que estão embarcando - temos a impressão de estarmos espiando a cena, até que vemos um dos terroristas passando sem gerar nenhuma suspeita - claro que sabemos o que vai acontecer, mas a forma como esse prólogo é construído já nos incomoda demais! A partir daí, entre a decolagem e o inicio do ato terrorista, vemos um show de direção, um domínio impressionante da gramática cinematográfica do suspense, sem ter que mostrar muito, muitas vezes observando situações apenas pelo monitor da cabine, ou somente escutando a crescente tensão entre os terroristas e passageiros fora dali! Reparem, é sensacional!

Patrick Vollrath é comedido, mas também tem uma direção potente, que até Joseph Gordon-Levitt chama atenção pela sua imersão comovente ao viver aquela situação extrema - ele consegue transmitir todo o peso de ser o responsável por tentar manter passageiros e tripulação seguros ao mesmo tempo em que tem que seguir alguns protocolos para evitar uma tragédia ainda maior. É um trabalho complicado, solitário, silencioso muitas vezes, mas Gordon-Levitt entrega todos esses sentimentos com muita habilidade - eu diria até que o filme poderia ter se tornado um fiasco não fosse seu trabalho! Vollrath, indicado ao Oscar com seu curta-metragem "Tudo ficará bem" de 2016, tem ao seu lado Sebastian Thaler como diretor de Fotografia, e ambos praticamente se completam nesse filme. Thaler usa da restrição de movimento (e das escolhas perfeitas das lentes) sua principal arma, com isso, tudo que vemos na tela fica palpável, visceral! 

"7500" nos transporta, em apenas 90 minutos, para o inferno de uma situação improvável com uma verdade perturbadora. Se em alguns momentos o filme pode parecer simplista demais, fica claro que o grande objetivo foi contar uma história pelo ponto de vista de um único personagem que agiu com coragem, cautela, paciência e até desespero, de uma jeito tão humano que acabou transformando o ato de assistir um filme bom em uma ótima experiência! 

Imperdível!

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"7500" é mais uma excelente surpresa que você pode encontrar na Prime Vídeo! O filme acompanha a história de um voo entre Alemanha e França que sofre uma tentativa de ataque terrorista comandada por extremistas muçulmanos. O interessante, porém, é que o diretor e roteirista alemão, Patrick Vollrath, acabou criando uma atmosfera de tensão quase insuportável ao decidir nos mostrar um único ponto de vista dessa situação de terror: a do co-piloto Tobias Ellis (Joseph Gordon-Levitt), "preso" em sua cabine de comando! Confira o trailer (em inglês):

Para quem gosta desse estilo de filme, a lembrança do ótimo "Voo United 93", do grande diretor Paul Greengrass, surgirá imediatamente na memória. Pelo estilo da câmera solta, mais nervosa, quase documental, ao conceito narrativo escolhido para contar a história, "7500" bebe da mesma fonte com muita competência e nos coloca dentro do avião sem pedir muita licença. Vollrath não economiza ao mostrar os momentos de desespero do protagonista ao ter que tomar decisões muito difíceis, ao mesmo tempo que apenas sugere o que está acontecendo entre a tripulação, passageiros e terroristas fora da cabine. De fato, pode parecer que a história está incompleta, mas a sensação acaba sendo tão claustrofóbica e profunda que temos a impressão de estarmos assistindo uma transmissão ao vivo de tudo aquilo! Mas aqui cabe um aviso importante: "7500" não é um filme de ação, é um drama quase psicológico, angustiante pela veracidade das situações e muito difícil de digerir. Vale muito a pena, mesmo!

Como curiosidade, o código de emergência em situações de seqüestro de um avião é "7500" e a apropriação dessa importante informação para ser o ponto de partida desse filme se justifica desde as primeiras cenas. Enquanto os créditos iniciais ainda são mostrados, vemos a imagem de monitores de segurança acompanhando (e apresentando) os terroristas - muito parecido com o que vimos exaustivamente durante as investigações do 11 de setembro, inclusive. Enquanto isso o co-piloto Tobias Ellis e o comandante Michael Lutzmann (Carlo Kitzlinger) fazem todo o procedimento de checagem e preparação para o voo -  eles conversam sobre amenidades, mas já se cria uma relação de empatia com quem assiste ao filme que é impressionante. A câmera se move pouco, o ambiente é realmente muito apertado, escuro, mas o trabalho dos atores deixa transparecer que tudo aquilo é muito aconchegante para ambos. Ao mesmo tempo, a tripulação vai recebendo os passageiros que estão embarcando - temos a impressão de estarmos espiando a cena, até que vemos um dos terroristas passando sem gerar nenhuma suspeita - claro que sabemos o que vai acontecer, mas a forma como esse prólogo é construído já nos incomoda demais! A partir daí, entre a decolagem e o inicio do ato terrorista, vemos um show de direção, um domínio impressionante da gramática cinematográfica do suspense, sem ter que mostrar muito, muitas vezes observando situações apenas pelo monitor da cabine, ou somente escutando a crescente tensão entre os terroristas e passageiros fora dali! Reparem, é sensacional!

Patrick Vollrath é comedido, mas também tem uma direção potente, que até Joseph Gordon-Levitt chama atenção pela sua imersão comovente ao viver aquela situação extrema - ele consegue transmitir todo o peso de ser o responsável por tentar manter passageiros e tripulação seguros ao mesmo tempo em que tem que seguir alguns protocolos para evitar uma tragédia ainda maior. É um trabalho complicado, solitário, silencioso muitas vezes, mas Gordon-Levitt entrega todos esses sentimentos com muita habilidade - eu diria até que o filme poderia ter se tornado um fiasco não fosse seu trabalho! Vollrath, indicado ao Oscar com seu curta-metragem "Tudo ficará bem" de 2016, tem ao seu lado Sebastian Thaler como diretor de Fotografia, e ambos praticamente se completam nesse filme. Thaler usa da restrição de movimento (e das escolhas perfeitas das lentes) sua principal arma, com isso, tudo que vemos na tela fica palpável, visceral! 

"7500" nos transporta, em apenas 90 minutos, para o inferno de uma situação improvável com uma verdade perturbadora. Se em alguns momentos o filme pode parecer simplista demais, fica claro que o grande objetivo foi contar uma história pelo ponto de vista de um único personagem que agiu com coragem, cautela, paciência e até desespero, de uma jeito tão humano que acabou transformando o ato de assistir um filme bom em uma ótima experiência! 

Imperdível!

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A Queda

Muito provavelmente, se você gostou de "127 Horas" ou de  "Vidas à Deriva" você vai gostar de "A Queda", até porquê o filme é meio que uma mistura dessas duas produções - a grande diferença no entanto, e é impossível não pontuar que ela impacta diretamente na sua experiência, é que aqui não estamos diante de uma história real e por isso vai exigir um enorme (mas enorme mesmo) exercício de suspensão da realidade. Por outro lado, o conceito narrativo vai além daquela receita de te deixar "apenas" angustiado, ele vai te dar alguns (bons) sustos - mérito do ótimo trabalho na direção do talentoso Scott Mann (de "Refém do Jogo").

A alpinista Becky (Grace Caroline Currey), emocionalmente abalada após um incidente que a marcou sua vida, decide enfrentar seus fantasmas quando sua amiga, outra alpinista experiente e influenciadora digital, Hunter (Virginia Gardner), a convence de embarcar em um desafio de alto risco - chegar ao topo de uma torre de TV abandonada. Quando a escalada não sai como planejado, as duas precisam reunir coragem e força para elaborar um plano de sobrevivência a 600 metros de altura. Confira o trailer:

Com um pouco mais de 1h30 de duração, "A Queda" tem forças e fraquezas muito bem definidas - ao se dividir em praticamente dois grandes blocos: a escalada e o isolamento, o filme precisa desenvolver conflitos para nos manter conectados ao drama das personagens. Veja, no primeiro momento, Mann é muito inteligente ao estabelecer que a jornada "vai dar m..." - usando diferentes ângulos e cortes, o diretor aposta na montagem cirúrgica do Robert Hall (que traz no currículo o selo de "King's Man: A Origem") para impactar a audiência de uma forma muito natural, alternando planos abertos para mostrar como Becky e Hunter estão entrando em uma fria (ridiculamente alta), enquanto nos planos-detalhes ele dá a exata noção do quão perigoso e abandonado é o lugar em que elas estão arriscando suas vidas - a tensão começa aí, mas não para.

Já no segundo momento, é a angustia que ganha força e o poder dramático da história praticamente se reveza entre os elementos do suspense de sobrevivência e a ação na busca por uma solução para o problema. O interessante é que a construção da tensão que começou um pouco antes não se dissipa, ao contrário, ela alcança o seu ápice quando as protagonistas se dão conta do tamanho da furada em que se meteram - reparem como, sozinhas, a relação com o cenário (praticamente o deserto árido e a imensidão azul do céu) se transforma em um inimigo cruel para as duas. É nessa condição extrema de isolamento que o roteiro derrapa ao trocar o drama profundo (bem explorado em "127 Horas") pela superficialidade juvenil de uma traição completamente expositiva - "se" o tema ficasse restrito a dúvida ou a desconfiança de Becky, pode ter certeza que o filme ganharia uma camada muito mais dramática do que aquela mera discussão sobre "quem tomou a iniciativa?"!  

"A Queda" é um filme vertiginoso - onde a composição feita em CG justifica os elogios que o filme vem recebendo - pessoalmente, eu só encontrei uma cena mal feita nesse quesito (e muito rápida aliás). Essa atmosfera sem dúvida alguma afeta diretamente o nosso senso de sobrevivência, nossa relação entre o risco de morrer e a urgência para sobreviver. Dito isso te garanto: o filme é um ótimo entretenimento, não tão profundo quanto poderia, mas com cenas bem construídas e surpresas narrativas que, se não tão originais, pelo menos muito bem encaixadas dentro de um contexto muito bem desenvolvido!

Vale seu play!

Assista Agora

Muito provavelmente, se você gostou de "127 Horas" ou de  "Vidas à Deriva" você vai gostar de "A Queda", até porquê o filme é meio que uma mistura dessas duas produções - a grande diferença no entanto, e é impossível não pontuar que ela impacta diretamente na sua experiência, é que aqui não estamos diante de uma história real e por isso vai exigir um enorme (mas enorme mesmo) exercício de suspensão da realidade. Por outro lado, o conceito narrativo vai além daquela receita de te deixar "apenas" angustiado, ele vai te dar alguns (bons) sustos - mérito do ótimo trabalho na direção do talentoso Scott Mann (de "Refém do Jogo").

A alpinista Becky (Grace Caroline Currey), emocionalmente abalada após um incidente que a marcou sua vida, decide enfrentar seus fantasmas quando sua amiga, outra alpinista experiente e influenciadora digital, Hunter (Virginia Gardner), a convence de embarcar em um desafio de alto risco - chegar ao topo de uma torre de TV abandonada. Quando a escalada não sai como planejado, as duas precisam reunir coragem e força para elaborar um plano de sobrevivência a 600 metros de altura. Confira o trailer:

Com um pouco mais de 1h30 de duração, "A Queda" tem forças e fraquezas muito bem definidas - ao se dividir em praticamente dois grandes blocos: a escalada e o isolamento, o filme precisa desenvolver conflitos para nos manter conectados ao drama das personagens. Veja, no primeiro momento, Mann é muito inteligente ao estabelecer que a jornada "vai dar m..." - usando diferentes ângulos e cortes, o diretor aposta na montagem cirúrgica do Robert Hall (que traz no currículo o selo de "King's Man: A Origem") para impactar a audiência de uma forma muito natural, alternando planos abertos para mostrar como Becky e Hunter estão entrando em uma fria (ridiculamente alta), enquanto nos planos-detalhes ele dá a exata noção do quão perigoso e abandonado é o lugar em que elas estão arriscando suas vidas - a tensão começa aí, mas não para.

Já no segundo momento, é a angustia que ganha força e o poder dramático da história praticamente se reveza entre os elementos do suspense de sobrevivência e a ação na busca por uma solução para o problema. O interessante é que a construção da tensão que começou um pouco antes não se dissipa, ao contrário, ela alcança o seu ápice quando as protagonistas se dão conta do tamanho da furada em que se meteram - reparem como, sozinhas, a relação com o cenário (praticamente o deserto árido e a imensidão azul do céu) se transforma em um inimigo cruel para as duas. É nessa condição extrema de isolamento que o roteiro derrapa ao trocar o drama profundo (bem explorado em "127 Horas") pela superficialidade juvenil de uma traição completamente expositiva - "se" o tema ficasse restrito a dúvida ou a desconfiança de Becky, pode ter certeza que o filme ganharia uma camada muito mais dramática do que aquela mera discussão sobre "quem tomou a iniciativa?"!  

"A Queda" é um filme vertiginoso - onde a composição feita em CG justifica os elogios que o filme vem recebendo - pessoalmente, eu só encontrei uma cena mal feita nesse quesito (e muito rápida aliás). Essa atmosfera sem dúvida alguma afeta diretamente o nosso senso de sobrevivência, nossa relação entre o risco de morrer e a urgência para sobreviver. Dito isso te garanto: o filme é um ótimo entretenimento, não tão profundo quanto poderia, mas com cenas bem construídas e surpresas narrativas que, se não tão originais, pelo menos muito bem encaixadas dentro de um contexto muito bem desenvolvido!

Vale seu play!

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A Sociedade da Neve

Simplesmente sensacional!

O representante espanhol no Oscar 2024, "A Sociedade da Neve", é incrível em todos os sentidos: visceral, angustiante, emocionante e muito impactante, além de inegavelmente um dos melhores filmes de 2023! Embora a trama foque na busca incansável pela sobrevivência em condições devastadoras, obviamente potencializada por se tratar de uma história real, o filme dirigido pelo Juan Antonio Bayona (de "O Impossível")  é muito feliz em trazer para discussão a importância das relações e a força do espírito humano. Eu sei que pode até parecer piegas, mas é impressionante como, mesmo diante das adversidades mais extremas, o ser humano é capaz de encontrar a esperança e a vontade de viver. Para você ter uma ideia, não será preciso mais do que 45 minutos para você ter a exata noção do inferno que aquelas pessoas viveram e quando você achar que já chegou no seu limite, você ainda terá pelo menos mais 90 minutos de história pela frente. Uma verdadeira pancada!

Para quem não sabe, "A Sociedade da Neve" nos apresenta em detalhes a história do voo 571 da Força Aérea Uruguaia, fretado para levar uma equipe de rugby ao Chile, que caiu em uma geleira no coração dos Andes em 1972. Apenas 29 de seus 45 passageiros sobrevivem ao acidente. Presos em um dos ambientes mais inacessíveis e hostis no planeta, esses sobreviventes são obrigados a recorrer a medidas das mais extremas para se manterem vivos enquanto esperam o resgate. Confira o trailer:

Baseada no livro homônimo de Pablo Vierci, o filme chama muito nossa atenção pela riqueza de detalhes na recriação daquele contexto tão desesperador. Bayona consegue construir uma dinâmica narrativa que é ao mesmo tempo emocionante e perturbadora, tensa e comovente. Visualmente deslumbrante, tanto a sequência  do acidente aéreo quando as cenas que se seguiram nos Andes, tudo é de tirar o fôlego. O trabalho do fotógrafo uruguaio Pedro Luque (de "O Homem nas Trevas 2") é fundamental para a desconfortável sensação de imersão que somos "obrigados" a lidar ao assistir o filme - realmente impecável, Luque captura a beleza e a brutalidade da natureza como poucos.

Outro ponto que merece muito destaque, sem dúvida, é o elenco. Agustín Pardella é particularmente impressionante como Nando Parrado, um dos líderes dos sobreviventes e responsável por um dos momentos mais emocionantes do filme. Reparem como Pardella transmite com perfeição toda a determinação e a força de vontade de Parrado - uma das figuras mais inspiradoras da história e talvez o maior elo de conexão entre a audiência e todo aquele drama. Enzo Vogrincic como Numa Turcatti também merece muitos elogios - sua performance como narrador é sensível, profunda, comovente e filosófica. A trilha sonora composta pelo Michael Giacchino (vencedor do Oscar por "Up: Altas Aventuras") e o desenho de som do Marc Bech (de "O Home Duplicado") são dois outros elementos dignos de muitos prêmios e que ajudam a compor esse clima de suspense e tensão que Bayona se propôs a reproduzir.

Sem cair na glamourização hollywoodiana, "A Sociedade da Neve" tem um requinte (para não dizer "perfeição") técnico e artístico que justifica as 13 indicações ao prêmio Goya de 2024, mas é na sua escolha conceitual que o filme muda mesmo de patamar. Bayona é inteligente ao evitar a exploração gratuita do aspecto mais gráfico ou visual quando temas como o canibalismo, por exemplo, vem à tona. Ao seguir por um caminho mais inteligente, focando no estado psicológico daqueles que são forçados a tomar uma drástica decisão em troca da sobrevivência, o diretor usa do dilema moral para nos provocar uma reflexão dura sobre os limites intransponíveis que perdem o sentido de acordo com a situação que estamos passando - e machuca!

Olha, um golaço da Netflix com cheirinho de Oscar!

Assista Agora

Simplesmente sensacional!

O representante espanhol no Oscar 2024, "A Sociedade da Neve", é incrível em todos os sentidos: visceral, angustiante, emocionante e muito impactante, além de inegavelmente um dos melhores filmes de 2023! Embora a trama foque na busca incansável pela sobrevivência em condições devastadoras, obviamente potencializada por se tratar de uma história real, o filme dirigido pelo Juan Antonio Bayona (de "O Impossível")  é muito feliz em trazer para discussão a importância das relações e a força do espírito humano. Eu sei que pode até parecer piegas, mas é impressionante como, mesmo diante das adversidades mais extremas, o ser humano é capaz de encontrar a esperança e a vontade de viver. Para você ter uma ideia, não será preciso mais do que 45 minutos para você ter a exata noção do inferno que aquelas pessoas viveram e quando você achar que já chegou no seu limite, você ainda terá pelo menos mais 90 minutos de história pela frente. Uma verdadeira pancada!

Para quem não sabe, "A Sociedade da Neve" nos apresenta em detalhes a história do voo 571 da Força Aérea Uruguaia, fretado para levar uma equipe de rugby ao Chile, que caiu em uma geleira no coração dos Andes em 1972. Apenas 29 de seus 45 passageiros sobrevivem ao acidente. Presos em um dos ambientes mais inacessíveis e hostis no planeta, esses sobreviventes são obrigados a recorrer a medidas das mais extremas para se manterem vivos enquanto esperam o resgate. Confira o trailer:

Baseada no livro homônimo de Pablo Vierci, o filme chama muito nossa atenção pela riqueza de detalhes na recriação daquele contexto tão desesperador. Bayona consegue construir uma dinâmica narrativa que é ao mesmo tempo emocionante e perturbadora, tensa e comovente. Visualmente deslumbrante, tanto a sequência  do acidente aéreo quando as cenas que se seguiram nos Andes, tudo é de tirar o fôlego. O trabalho do fotógrafo uruguaio Pedro Luque (de "O Homem nas Trevas 2") é fundamental para a desconfortável sensação de imersão que somos "obrigados" a lidar ao assistir o filme - realmente impecável, Luque captura a beleza e a brutalidade da natureza como poucos.

Outro ponto que merece muito destaque, sem dúvida, é o elenco. Agustín Pardella é particularmente impressionante como Nando Parrado, um dos líderes dos sobreviventes e responsável por um dos momentos mais emocionantes do filme. Reparem como Pardella transmite com perfeição toda a determinação e a força de vontade de Parrado - uma das figuras mais inspiradoras da história e talvez o maior elo de conexão entre a audiência e todo aquele drama. Enzo Vogrincic como Numa Turcatti também merece muitos elogios - sua performance como narrador é sensível, profunda, comovente e filosófica. A trilha sonora composta pelo Michael Giacchino (vencedor do Oscar por "Up: Altas Aventuras") e o desenho de som do Marc Bech (de "O Home Duplicado") são dois outros elementos dignos de muitos prêmios e que ajudam a compor esse clima de suspense e tensão que Bayona se propôs a reproduzir.

Sem cair na glamourização hollywoodiana, "A Sociedade da Neve" tem um requinte (para não dizer "perfeição") técnico e artístico que justifica as 13 indicações ao prêmio Goya de 2024, mas é na sua escolha conceitual que o filme muda mesmo de patamar. Bayona é inteligente ao evitar a exploração gratuita do aspecto mais gráfico ou visual quando temas como o canibalismo, por exemplo, vem à tona. Ao seguir por um caminho mais inteligente, focando no estado psicológico daqueles que são forçados a tomar uma drástica decisão em troca da sobrevivência, o diretor usa do dilema moral para nos provocar uma reflexão dura sobre os limites intransponíveis que perdem o sentido de acordo com a situação que estamos passando - e machuca!

Olha, um golaço da Netflix com cheirinho de Oscar!

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Além da Vida

"Além da Vida" conta a história de três pessoas que são assombradas pela "morte", de diferentes formas. George (Matt Damon) é um trabalhador da construção civil que tem uma ligação especial com a vida além da morte. Marie (Cécile de France), uma jornalista francesa, é uma das vítimas do Tsunami de 2004 que quase a matou. E Marcus (George McLaren e Frankie McLaren), é uma criança londrina, que quando perde o seu irmão gêmeo, procura desesperadamente obter respostas que fogem do seu entendimento. Cada um deles está em busca da sua verdade até que seus caminhos se cruzam e alteram para sempre aquilo em que eles acreditavam existir além da vida. Confira o Trailer:

"Hereafter" (no original) é um filme de 2010 dirigido pelo excelente Clint Eastwood que fala sobre a relação do ser humano com a morte (ou o que não se sabe dela). Por si só o tema já chamaria a atenção, mas somando uma direção precisa e segura de um premiado Eastwood e uma cena simplesmente sensacional do Tsunami (que, inclusive, lhe rendeu uma indicação ao Oscar de Efeitos Visuais em 2011), teríamos um drama dos bons, certo? Certo, mas quando as três histórias dos três personagens distintos se encontram no final (ao melhor estilo Alejandro Gonzalez Inarritu) percebemos que o filme não supera nossas expectativas - seu sentimentalismo, na minha opinião, passou um pouco do ponto. Não chega a atrapalhar a nossa experiência, mas coloca "Além da Vida" em outra prateleira.

Certamente a direção é melhor do filme: as histórias são muito bem construídas, os personagens são intensos com seus dramas particulares e os “eventos” que os fazem pensar sobre a razão de suas próprias existências funcionam muito bem - mas o roteiro oscila, ele acaba alternando momentos grandiosos (e não falo só da cena do Tsunami) com momentos um pouco arrastados, que chega a cansar um pouco.

Claro que o filme vale a pena, existem três momentos específicos que justificam muito as duas horas de duração, mas admito que esperava um pouco mais - talvez até pelo tamanho das minhas expectativas depois de assistir um trailer tão empolgante.

Otimo entretenimento!

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"Além da Vida" conta a história de três pessoas que são assombradas pela "morte", de diferentes formas. George (Matt Damon) é um trabalhador da construção civil que tem uma ligação especial com a vida além da morte. Marie (Cécile de France), uma jornalista francesa, é uma das vítimas do Tsunami de 2004 que quase a matou. E Marcus (George McLaren e Frankie McLaren), é uma criança londrina, que quando perde o seu irmão gêmeo, procura desesperadamente obter respostas que fogem do seu entendimento. Cada um deles está em busca da sua verdade até que seus caminhos se cruzam e alteram para sempre aquilo em que eles acreditavam existir além da vida. Confira o Trailer:

"Hereafter" (no original) é um filme de 2010 dirigido pelo excelente Clint Eastwood que fala sobre a relação do ser humano com a morte (ou o que não se sabe dela). Por si só o tema já chamaria a atenção, mas somando uma direção precisa e segura de um premiado Eastwood e uma cena simplesmente sensacional do Tsunami (que, inclusive, lhe rendeu uma indicação ao Oscar de Efeitos Visuais em 2011), teríamos um drama dos bons, certo? Certo, mas quando as três histórias dos três personagens distintos se encontram no final (ao melhor estilo Alejandro Gonzalez Inarritu) percebemos que o filme não supera nossas expectativas - seu sentimentalismo, na minha opinião, passou um pouco do ponto. Não chega a atrapalhar a nossa experiência, mas coloca "Além da Vida" em outra prateleira.

Certamente a direção é melhor do filme: as histórias são muito bem construídas, os personagens são intensos com seus dramas particulares e os “eventos” que os fazem pensar sobre a razão de suas próprias existências funcionam muito bem - mas o roteiro oscila, ele acaba alternando momentos grandiosos (e não falo só da cena do Tsunami) com momentos um pouco arrastados, que chega a cansar um pouco.

Claro que o filme vale a pena, existem três momentos específicos que justificam muito as duas horas de duração, mas admito que esperava um pouco mais - talvez até pelo tamanho das minhas expectativas depois de assistir um trailer tão empolgante.

Otimo entretenimento!

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Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria

É praticamente impossível você passar inteiro pelos 5 episódios da minissérie documental da Globoplay, "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria"- simplesmente impossível! Embora realizado (e dirigido) por um jornalista, o competente Marcelo Canellas, o que fatalmente impacta na narrativa menos cinematográfica da obra, dando um caráter mais de "reportagem especial"; é de se elogiar a forma como ele vai costurando os fatos e atribuindo em uma linha do tempo dolorosa, o peso exato de cada fase da luta por justiça dos pais e dos sobreviventes da tragédia de 2013. Eu diria que esse material é uma espécie de conteúdo complementar de luxo que basicamente eleva a experiência de ter assistido a versão ficcional da Netflix, "Todo Dia A Mesma Noite", para outro patamar!

Aqui, Canellas (que viveu parte de sua vida em Santa Maria) conta a história da batalha judicial pelo viés dos familiares das vítimas e de alguns sobreviventes, revivendo os detalhes que levaram à tragédia, a partir de imagens de arquivo e entrevistas que chegam a partir o coração. Confira o trailer:

Depois do primeiro impacto visual onde Canellas se apropria de uma boa quantidade de vídeos amadores (quase todos gravados pelo celular de quem conseguiu sobreviver ao incêndio da Boate Kiss) para estabelecer o tamanho da tragédia que aconteceu naquela pequena cidade do Rio Grande do Sul, e de alguns depoimentos de quem esteve no local durante o caos, percebemos que a narrativa subverte o "entretenimento" e se torna mais "informativa" - a própria narração do repórter dá o tom desse conceito e mesmo que alguns assuntos levantados por ele soem desinteressantes em um olhar mais crítico, a conexão que vai se estabelecendo com aquela comunidade faz toda diferença na forma como nos relacionaremos com o que vem a seguir.

É notável a preocupação do documentário em trabalhar apenas com os fatos, evitando ao máximo qualquer especulação que não possa ser provada por A + B - a forma como os alvarás e outras liberações (que a série da Netflix pontua como decisões politicas ou de relacionamento) que um dos donos da Boate, Mauro Hoffmann, teria conseguido, nem citado é. Embora a narrativa até soe investigativa, pouco se traz de novidade. Por outro lado, "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria" se aproveita de uma edição primorosa para deixar um recorte histórico bastante fluido - é inegável que assistir a versão real da história e dos personagens que conhecemos em  "Todo Dia A Mesma Noite", nos impressiona.

A imparcialidade de Canellas também merece elogio: a mesma voz que ele dá aos familiares e sobreviventes, ele também dá aos acusados. Essa postura chega incomodar em alguns momentos, mas enriquece a discussão e provoca o julgamento. Ao revelar as tensões entre sobreviventes, advogados, acusados e sociedade, o documentário ganha um tom midiático que, para mim, seria dispensável, mas sem dúvida alguma fortalece o conflito fortalece e prende nossa atenção. Agora, é muito (mas muito) difícil não sentir um verdadeiro nó na garganta diante do dolorido relato de um dos sobreviventes, Delvani, a respeito daquela noite, no tribunal - essa humanização da tragédia mexe com nossas emoções de uma forma muito peculiar.

O fato é que "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria" funciona como um olhar mais realista, crível e visceral ao material que a jornalista Daniela Arbex emprestou para a ficção - isso, aliás, não diminui o valor da  minissérie da Netflix, pelo contrário, apenas chancela sua importância e dimensiona toda a dor que experienciamos de uma maneira completamente diferente, deixando claro que ainda havia muito a ser contato, tanto de um lado quanto do outro, nos provocando ainda mais indignação e empatia!

Sendo assim, só posso te dizer: vale muito seu play!

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É praticamente impossível você passar inteiro pelos 5 episódios da minissérie documental da Globoplay, "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria"- simplesmente impossível! Embora realizado (e dirigido) por um jornalista, o competente Marcelo Canellas, o que fatalmente impacta na narrativa menos cinematográfica da obra, dando um caráter mais de "reportagem especial"; é de se elogiar a forma como ele vai costurando os fatos e atribuindo em uma linha do tempo dolorosa, o peso exato de cada fase da luta por justiça dos pais e dos sobreviventes da tragédia de 2013. Eu diria que esse material é uma espécie de conteúdo complementar de luxo que basicamente eleva a experiência de ter assistido a versão ficcional da Netflix, "Todo Dia A Mesma Noite", para outro patamar!

Aqui, Canellas (que viveu parte de sua vida em Santa Maria) conta a história da batalha judicial pelo viés dos familiares das vítimas e de alguns sobreviventes, revivendo os detalhes que levaram à tragédia, a partir de imagens de arquivo e entrevistas que chegam a partir o coração. Confira o trailer:

Depois do primeiro impacto visual onde Canellas se apropria de uma boa quantidade de vídeos amadores (quase todos gravados pelo celular de quem conseguiu sobreviver ao incêndio da Boate Kiss) para estabelecer o tamanho da tragédia que aconteceu naquela pequena cidade do Rio Grande do Sul, e de alguns depoimentos de quem esteve no local durante o caos, percebemos que a narrativa subverte o "entretenimento" e se torna mais "informativa" - a própria narração do repórter dá o tom desse conceito e mesmo que alguns assuntos levantados por ele soem desinteressantes em um olhar mais crítico, a conexão que vai se estabelecendo com aquela comunidade faz toda diferença na forma como nos relacionaremos com o que vem a seguir.

É notável a preocupação do documentário em trabalhar apenas com os fatos, evitando ao máximo qualquer especulação que não possa ser provada por A + B - a forma como os alvarás e outras liberações (que a série da Netflix pontua como decisões politicas ou de relacionamento) que um dos donos da Boate, Mauro Hoffmann, teria conseguido, nem citado é. Embora a narrativa até soe investigativa, pouco se traz de novidade. Por outro lado, "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria" se aproveita de uma edição primorosa para deixar um recorte histórico bastante fluido - é inegável que assistir a versão real da história e dos personagens que conhecemos em  "Todo Dia A Mesma Noite", nos impressiona.

A imparcialidade de Canellas também merece elogio: a mesma voz que ele dá aos familiares e sobreviventes, ele também dá aos acusados. Essa postura chega incomodar em alguns momentos, mas enriquece a discussão e provoca o julgamento. Ao revelar as tensões entre sobreviventes, advogados, acusados e sociedade, o documentário ganha um tom midiático que, para mim, seria dispensável, mas sem dúvida alguma fortalece o conflito fortalece e prende nossa atenção. Agora, é muito (mas muito) difícil não sentir um verdadeiro nó na garganta diante do dolorido relato de um dos sobreviventes, Delvani, a respeito daquela noite, no tribunal - essa humanização da tragédia mexe com nossas emoções de uma forma muito peculiar.

O fato é que "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria" funciona como um olhar mais realista, crível e visceral ao material que a jornalista Daniela Arbex emprestou para a ficção - isso, aliás, não diminui o valor da  minissérie da Netflix, pelo contrário, apenas chancela sua importância e dimensiona toda a dor que experienciamos de uma maneira completamente diferente, deixando claro que ainda havia muito a ser contato, tanto de um lado quanto do outro, nos provocando ainda mais indignação e empatia!

Sendo assim, só posso te dizer: vale muito seu play!

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Challenger - Voo Final

Talvez o "acidente" com o Challenger seja um dos três eventos mais marcantes para a sociedade americana moderna, ao lado do assassinato do presidente Kennedy e do 11 de setembro. E, de fato, quem se lembra daquela manhã de 1986 entende o quão impactante foi assistir o ônibus espacial explodir segundos após o lançamento - principalmente pelo que representava o programa espacial da NASA e como ele estava inserido em um contexto político bastante delicado na época.

Produzido pelo J.J. Abrams (Lost) e Glen Zipper (Showbiz Kids), a minissérie documental da Netflix examina tudo o que envolveu a catastrófica missão espacial com o Challenger que, tragicamente, explodiu 73 segundos após o seu lançamento, matando 6 astronautas e uma civil, perante milhões de testemunhas que assistiam, ao vivo, o evento pela TV. Incorporando entrevistas nunca antes vistas e raros arquivos da época, "Challenger - Voo Final" oferece uma perspectiva profunda sobre uma das tripulações com a maior diversidade que a NASA mandaria para o espaço da sua história, incluindo Christa McAuliffe, uma professora que seria a primeira cidadã comum a ir para o espaço. Confira o trailer original:

A minissérie é curta, apenas 4 episódios de 45 minutos, o que nos permite assistir tudo em uma tacada só e posso garantir, é uma experiência incrível! A maneira como a produção reconstrói aquela realidade e a forma como os diretores Daniel Junge (vencedor do Oscar 2012 por "Saving Face") e o novato Steven Leckart conectam os fatos com entrevistas atuais, materiais de imprensa, cenas de arquivo; olha, é impressionante - além de muito, mas muito, comovente (e revoltante)!

No inicio dos anos 80, o Challenger já havia realizado nove missões bem-sucedidas ao espaço, com isso o caro programa da NASA vinha perdendo o apelo popular. Como, até então, nenhum grande problema que pudesse chamar a atenção dos engenheiros ou da tripulação havia sido relatado, o ônibus espacial foi considerado um meio de transporte, vejam só, tão seguro quanto um avião comercial. Com isso, foi sugerido colocar uma civil na próxima missão, no caso uma professora, que daria duas aulas do espaço e mostraria para toda uma nação que uma experiência fora da Terra já não era mais algo tão distante para pessoas sem o rígido treinamento dos astronautas. Claro que essa iniciativa transformou o lançamento do Challenger em um evento especial, escondendo, inclusive, a pressão por mais missões que justificassem o alto orçamento do programa e alguns relatórios que sugeriam uma falha técnica nos foguetes de combustível sólido fabricados pela Thiokol.

Dito isso, fica muito mais fácil entender a importância desse documentário e como, mais uma vez, o ser humano se torna o protagonista de uma tragédia que poderia ser evitada. Se em séries como "The Looming Tower" ou filmes como "O Relatório" entendemos como o ego e a ambição pelo poder não evitaram os ataques de 11 de setembro, em  "Challenger - Voo Final" encontramos algo muito parecido, se não pelos motivos, certamente pela postura de quem tomava as decisões! O interessante é que a dinâmica narrativa da minissérie vai construindo uma linha do tempo de uma forma muito simples e até os assuntos mais técnicos que poderiam dificultar nosso entendimento, são discutidos muito coloquialmente e esse é um dos maiores méritos do projeto: fica verdadeiramente fácil entender onde a coisa começou a complicar e o porquê os reflexos foram praticamente imediatos.

Muito bem produzido, escrito e dirigido, "Challenger - Voo Final" é mais um projeto que chegará muito forte na temporada de premiações de 2021 por carregar no seu texto elementos técnicos e investigativos muito bem expostos e muitos fatores emocionais presentes em quase toda narrativa, sejam pelos engenheiros e líderes que participaram das decisões na época ou pelos próprios familiares da tripulação que, anos depois, foram capazes de olhar em retrospectiva para tentar nos passar um pouco do que representou (ou representa) essa tragédia na vida de uma cada um deles! 

"Challenger - Voo Final" é imperdível!

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Talvez o "acidente" com o Challenger seja um dos três eventos mais marcantes para a sociedade americana moderna, ao lado do assassinato do presidente Kennedy e do 11 de setembro. E, de fato, quem se lembra daquela manhã de 1986 entende o quão impactante foi assistir o ônibus espacial explodir segundos após o lançamento - principalmente pelo que representava o programa espacial da NASA e como ele estava inserido em um contexto político bastante delicado na época.

Produzido pelo J.J. Abrams (Lost) e Glen Zipper (Showbiz Kids), a minissérie documental da Netflix examina tudo o que envolveu a catastrófica missão espacial com o Challenger que, tragicamente, explodiu 73 segundos após o seu lançamento, matando 6 astronautas e uma civil, perante milhões de testemunhas que assistiam, ao vivo, o evento pela TV. Incorporando entrevistas nunca antes vistas e raros arquivos da época, "Challenger - Voo Final" oferece uma perspectiva profunda sobre uma das tripulações com a maior diversidade que a NASA mandaria para o espaço da sua história, incluindo Christa McAuliffe, uma professora que seria a primeira cidadã comum a ir para o espaço. Confira o trailer original:

A minissérie é curta, apenas 4 episódios de 45 minutos, o que nos permite assistir tudo em uma tacada só e posso garantir, é uma experiência incrível! A maneira como a produção reconstrói aquela realidade e a forma como os diretores Daniel Junge (vencedor do Oscar 2012 por "Saving Face") e o novato Steven Leckart conectam os fatos com entrevistas atuais, materiais de imprensa, cenas de arquivo; olha, é impressionante - além de muito, mas muito, comovente (e revoltante)!

No inicio dos anos 80, o Challenger já havia realizado nove missões bem-sucedidas ao espaço, com isso o caro programa da NASA vinha perdendo o apelo popular. Como, até então, nenhum grande problema que pudesse chamar a atenção dos engenheiros ou da tripulação havia sido relatado, o ônibus espacial foi considerado um meio de transporte, vejam só, tão seguro quanto um avião comercial. Com isso, foi sugerido colocar uma civil na próxima missão, no caso uma professora, que daria duas aulas do espaço e mostraria para toda uma nação que uma experiência fora da Terra já não era mais algo tão distante para pessoas sem o rígido treinamento dos astronautas. Claro que essa iniciativa transformou o lançamento do Challenger em um evento especial, escondendo, inclusive, a pressão por mais missões que justificassem o alto orçamento do programa e alguns relatórios que sugeriam uma falha técnica nos foguetes de combustível sólido fabricados pela Thiokol.

Dito isso, fica muito mais fácil entender a importância desse documentário e como, mais uma vez, o ser humano se torna o protagonista de uma tragédia que poderia ser evitada. Se em séries como "The Looming Tower" ou filmes como "O Relatório" entendemos como o ego e a ambição pelo poder não evitaram os ataques de 11 de setembro, em  "Challenger - Voo Final" encontramos algo muito parecido, se não pelos motivos, certamente pela postura de quem tomava as decisões! O interessante é que a dinâmica narrativa da minissérie vai construindo uma linha do tempo de uma forma muito simples e até os assuntos mais técnicos que poderiam dificultar nosso entendimento, são discutidos muito coloquialmente e esse é um dos maiores méritos do projeto: fica verdadeiramente fácil entender onde a coisa começou a complicar e o porquê os reflexos foram praticamente imediatos.

Muito bem produzido, escrito e dirigido, "Challenger - Voo Final" é mais um projeto que chegará muito forte na temporada de premiações de 2021 por carregar no seu texto elementos técnicos e investigativos muito bem expostos e muitos fatores emocionais presentes em quase toda narrativa, sejam pelos engenheiros e líderes que participaram das decisões na época ou pelos próprios familiares da tripulação que, anos depois, foram capazes de olhar em retrospectiva para tentar nos passar um pouco do que representou (ou representa) essa tragédia na vida de uma cada um deles! 

"Challenger - Voo Final" é imperdível!

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Chernobyl

Assisti o primeiro episódio de "Chernobyl" na sexta-feira que antecedeu ao "grande" final de "Game of Thrones". De cara fiquei impressionado com a qualidade da produção e como uma história tão assustadora chegava as telas sem tanto marketing. Parecia que a conta não fechava, pois era tudo tão perfeito que cheguei a duvidar se série manteria a mesma qualidade até o final, pois a HBO pareceu nem ter dado tanta importância para a sua estreia! "Deve ser o efeito GoT", pensei, mas preferi esperar mais alguns episódios antes de fazer esse review.

Três episódios depois posso afirmar com a mais absoluta certeza: "Chernobyl" é daquelas obras que entrarão para um hall que poucos se mantiveram depois de terminada a jornada de seus personagens! Ajuda o fato de ser uma minissérie, com apenas 5 episódios de uma hora, baseado em fatos reais e com aquele cuidado no desenvolvimento que a HBO faz como ninguém. "Chernobyl" é impecável em contar o catastrófico acidente nuclear que aconteceu na Ucrânia, República da então União Soviética, em 1986. Mais genial ainda é a maneira como se constrói a história humanizando três personagens-chaves dentro de uma trama cheia de crueldade e verdades escondidas pelo nebuloso véu político do socialismo da época - diga-se de passagem, muito bem reconstituída pela equipe de Production Design. 

Tudo é bem embasado por muita pesquisa, o que traz um tom de realismo extremamente bem alinhado com tipo de fotografia "vintage" do desconhecido Jakob Ihre - frio, sombrio! A direção impecável é do Johan Renck de Bloodline, Breaking Bad e Vikings. O desenho de som merece um destaque: reparem no medidor de radiação pontuando os momentos de maior tensão da série, criando um tipo sensação apavorante como poucas vezes eu vi (e senti). A maquiagem, embora chocante, é belíssima! É sério, pode separar um lugar bem grande na estante porque "Chernobyl" vai levar muitas estatuetas na próxima temporada de premiação, tanto em categorias técnicas quanto artísticas! pode me cobrar!!!

O fato é que se você queria uma razão para não cancelar sua assinatura da HBOGo depois do final (ops!) de GoT, meu amigo, essa razão se chama "Chernobyl" - uma pena que a HBO menosprezou seu potencial por aqui, mas ao mesmo tempo essa estratégia ajudou a gerar um buzz enorme, pois sem expectativa nenhuma, a minissérie foi conquistando seu publico e reverberando mundialmente. No site IMDb, por exemplo, "Chernobyl" chegou a aparecer em primeiro lugar como a melhor série de todos os tempos, deixando para trás clássicos como "Band of Brothers", "Breaking Bad" e o próprio "Game of Thrones". 

Olha, vale muito o play e um conselho: aproveite cada minuto, pois seu criador, Craig Mazin, já avisou que não existe a menor possibilidade do "Chernobyl" se transformar em série e, eventualmente, ter uma segunda temporada! Ainda bem!!!!!

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Assisti o primeiro episódio de "Chernobyl" na sexta-feira que antecedeu ao "grande" final de "Game of Thrones". De cara fiquei impressionado com a qualidade da produção e como uma história tão assustadora chegava as telas sem tanto marketing. Parecia que a conta não fechava, pois era tudo tão perfeito que cheguei a duvidar se série manteria a mesma qualidade até o final, pois a HBO pareceu nem ter dado tanta importância para a sua estreia! "Deve ser o efeito GoT", pensei, mas preferi esperar mais alguns episódios antes de fazer esse review.

Três episódios depois posso afirmar com a mais absoluta certeza: "Chernobyl" é daquelas obras que entrarão para um hall que poucos se mantiveram depois de terminada a jornada de seus personagens! Ajuda o fato de ser uma minissérie, com apenas 5 episódios de uma hora, baseado em fatos reais e com aquele cuidado no desenvolvimento que a HBO faz como ninguém. "Chernobyl" é impecável em contar o catastrófico acidente nuclear que aconteceu na Ucrânia, República da então União Soviética, em 1986. Mais genial ainda é a maneira como se constrói a história humanizando três personagens-chaves dentro de uma trama cheia de crueldade e verdades escondidas pelo nebuloso véu político do socialismo da época - diga-se de passagem, muito bem reconstituída pela equipe de Production Design. 

Tudo é bem embasado por muita pesquisa, o que traz um tom de realismo extremamente bem alinhado com tipo de fotografia "vintage" do desconhecido Jakob Ihre - frio, sombrio! A direção impecável é do Johan Renck de Bloodline, Breaking Bad e Vikings. O desenho de som merece um destaque: reparem no medidor de radiação pontuando os momentos de maior tensão da série, criando um tipo sensação apavorante como poucas vezes eu vi (e senti). A maquiagem, embora chocante, é belíssima! É sério, pode separar um lugar bem grande na estante porque "Chernobyl" vai levar muitas estatuetas na próxima temporada de premiação, tanto em categorias técnicas quanto artísticas! pode me cobrar!!!

O fato é que se você queria uma razão para não cancelar sua assinatura da HBOGo depois do final (ops!) de GoT, meu amigo, essa razão se chama "Chernobyl" - uma pena que a HBO menosprezou seu potencial por aqui, mas ao mesmo tempo essa estratégia ajudou a gerar um buzz enorme, pois sem expectativa nenhuma, a minissérie foi conquistando seu publico e reverberando mundialmente. No site IMDb, por exemplo, "Chernobyl" chegou a aparecer em primeiro lugar como a melhor série de todos os tempos, deixando para trás clássicos como "Band of Brothers", "Breaking Bad" e o próprio "Game of Thrones". 

Olha, vale muito o play e um conselho: aproveite cada minuto, pois seu criador, Craig Mazin, já avisou que não existe a menor possibilidade do "Chernobyl" se transformar em série e, eventualmente, ter uma segunda temporada! Ainda bem!!!!!

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Departure - 1ª Temporada

Mesmo sendo uma série de 2019, só assista "Departure" se você estiver disposto a fazer uma viagem nostálgica para o final dos anos 90, em uma época pré-streaming, onde a narrativa se permitia criar uma atmosfera de mistério, repleta de reviravoltas, mas completamente distante da realidade. O fato é que essa produção canadense que recebe o selo de original da Peacock (plataforma da NBC ainda inédita no Brasil) é uma espécie de "24 Horas" com "C.S.I" - dinâmica, divertida, interessante, mas claramente feita para a TV aberta.

Após o misterioso desaparecimento do voo 716 no meio do Oceano Atlântico, a investigadora Kendra Malley (Archie Panjabi) é recrutada pelo seu antigo chefe e mentor, Howard Lawson (o saudoso Christopher Plummer em seu último trabalho), para comandar uma equipe de elite e assim tentar descobrir o que de fato aconteceu com aeronave e, quem sabe, localizar possíveis sobreviventes. Confira o trailer (em inglês):

"Departure" segue a cartilha da era de ouro da TV americana, inclusive com um alto nível de produção. Veja, é como se estivéssemos assistindo um episódio de "C.S.I" de 6 horas ou uma temporada de "24 horas" em 6 episódios. O formato de antologia (onde a história se encerra em alguns episódios definidos) se mistura àquela estrutura de procedural (quando o arco principal se encerra em um episódio, mas deixa tramas secundárias para serem desenvolvidas em outros) - e isso é muito importante ressaltar para que as expectativas estejam alinhadas: a trama não tem o menor compromisso em ser 100% realista, o propósito da narrativa é apenas o de te segurar até o último segundo da temporada, mesmo que para isso algumas soluções possam soar absurdas. Os elementos dramáticos desse tipo de formato se repetem em vários títulos, portanto, não se irrite, apenas embarque na proposta e se divirta - muitos de nós fazíamos isso antes de Netflix, Globoplay, Prime Vídeo, etc.

É inegável a qualidade do trabalho de T.J. Scott, um diretor que construiu sua carreira dirigindo episódios de séries (de "Xena: A Princesa Guerreira" à "Star Trek: Discovery") da mesma forma que muitos brasileiros dirigiam novelas antes de buscarem outro caminhos, portanto é natural encontrarmos alguns vícios narrativos de Scott em toda temporada. Praticamente todas as cenas possuem um trilha sonora de fundo para manipular nossas emoções (tensão, drama, mistério, romance, etc), aqueles cortes onde o foco está na reação do personagem depois de uma "grande" descoberta que precedia o intervalo, inúmeras cenas se passam dentro de um mesmo cenário (no caso o QG da equipe - uma espécie de CTU de "24 horas") e até a construção de um arco com o filho adolescente revoltado que só traz problemas para a protagonista que sente dividida entre a família e sua missão profissional.

Além de Panjabi e Plummer, a série ainda conta com um elenco de peso como Kris Holden-Ried (The Umbrella Academy) como Dom, Rebecca Liddiard (Run This Town) como Madelyn, Tamara Duarte (Longmire) como Nadia, Mark Rendall (Versailles) como Theo, Peter Mensah (Midnight, Texas) como Levi e Sasha Roiz (Grimm) como Pavel Bartok; e isso, sem a menor dúvida, ajuda muito no desenvolvimento da história que, acreditem, conquistou a audiência americana, rendendo, inclusive, uma segunda temporada que estreia em 2022 - onde Kendra Malley e sua equipe vão investigar um acidente de trem.

"Departure" é um entretenimento despretensioso, rápido, divertido e até surpreendente, que vai te prender do início ao fim desde que você esteja disposto a acreditar naquela história, sem julgamentos ou preconceitos. Típica série boa para aquele sábado chuvoso onde não queremos nada muito profundo, apenas curtir bons episódios - como fazíamos antigamente com os boxes de DVDs.

Vale o seu play!

Assista Agora

Mesmo sendo uma série de 2019, só assista "Departure" se você estiver disposto a fazer uma viagem nostálgica para o final dos anos 90, em uma época pré-streaming, onde a narrativa se permitia criar uma atmosfera de mistério, repleta de reviravoltas, mas completamente distante da realidade. O fato é que essa produção canadense que recebe o selo de original da Peacock (plataforma da NBC ainda inédita no Brasil) é uma espécie de "24 Horas" com "C.S.I" - dinâmica, divertida, interessante, mas claramente feita para a TV aberta.

Após o misterioso desaparecimento do voo 716 no meio do Oceano Atlântico, a investigadora Kendra Malley (Archie Panjabi) é recrutada pelo seu antigo chefe e mentor, Howard Lawson (o saudoso Christopher Plummer em seu último trabalho), para comandar uma equipe de elite e assim tentar descobrir o que de fato aconteceu com aeronave e, quem sabe, localizar possíveis sobreviventes. Confira o trailer (em inglês):

"Departure" segue a cartilha da era de ouro da TV americana, inclusive com um alto nível de produção. Veja, é como se estivéssemos assistindo um episódio de "C.S.I" de 6 horas ou uma temporada de "24 horas" em 6 episódios. O formato de antologia (onde a história se encerra em alguns episódios definidos) se mistura àquela estrutura de procedural (quando o arco principal se encerra em um episódio, mas deixa tramas secundárias para serem desenvolvidas em outros) - e isso é muito importante ressaltar para que as expectativas estejam alinhadas: a trama não tem o menor compromisso em ser 100% realista, o propósito da narrativa é apenas o de te segurar até o último segundo da temporada, mesmo que para isso algumas soluções possam soar absurdas. Os elementos dramáticos desse tipo de formato se repetem em vários títulos, portanto, não se irrite, apenas embarque na proposta e se divirta - muitos de nós fazíamos isso antes de Netflix, Globoplay, Prime Vídeo, etc.

É inegável a qualidade do trabalho de T.J. Scott, um diretor que construiu sua carreira dirigindo episódios de séries (de "Xena: A Princesa Guerreira" à "Star Trek: Discovery") da mesma forma que muitos brasileiros dirigiam novelas antes de buscarem outro caminhos, portanto é natural encontrarmos alguns vícios narrativos de Scott em toda temporada. Praticamente todas as cenas possuem um trilha sonora de fundo para manipular nossas emoções (tensão, drama, mistério, romance, etc), aqueles cortes onde o foco está na reação do personagem depois de uma "grande" descoberta que precedia o intervalo, inúmeras cenas se passam dentro de um mesmo cenário (no caso o QG da equipe - uma espécie de CTU de "24 horas") e até a construção de um arco com o filho adolescente revoltado que só traz problemas para a protagonista que sente dividida entre a família e sua missão profissional.

Além de Panjabi e Plummer, a série ainda conta com um elenco de peso como Kris Holden-Ried (The Umbrella Academy) como Dom, Rebecca Liddiard (Run This Town) como Madelyn, Tamara Duarte (Longmire) como Nadia, Mark Rendall (Versailles) como Theo, Peter Mensah (Midnight, Texas) como Levi e Sasha Roiz (Grimm) como Pavel Bartok; e isso, sem a menor dúvida, ajuda muito no desenvolvimento da história que, acreditem, conquistou a audiência americana, rendendo, inclusive, uma segunda temporada que estreia em 2022 - onde Kendra Malley e sua equipe vão investigar um acidente de trem.

"Departure" é um entretenimento despretensioso, rápido, divertido e até surpreendente, que vai te prender do início ao fim desde que você esteja disposto a acreditar naquela história, sem julgamentos ou preconceitos. Típica série boa para aquele sábado chuvoso onde não queremos nada muito profundo, apenas curtir bons episódios - como fazíamos antigamente com os boxes de DVDs.

Vale o seu play!

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Destruição Final

Se "O Céu da Meia-Noite" da Netflix trouxe alguns elementos do cinema catástrofe que esteve tão em evidência em 1998, e estamos falando mais especificamente de "Armageddon", "Destruição Final" da Amazon Prime Vídeo segue exatamente a mesma receita, mas buscando referências de outro filme lançado no mesmo ano e igualmente reconhecido: "Impacto Profundo"! Ou seja, se dois desses três filmes significaram um bom entretenimento para você, pode dar o play sem o menor receio porque a diversão está garantida!

"Destruição Final" (que tem "O Último Refúgio"como sub-título) acompanha aquela trama padrão de filmes catástrofe: um cometa está passando pela órbita da Terra e o que inicialmente parecia apenas curiosidade logo se transforma em terror quando o corpo celeste começa a se partir e seus fragmentos passam a causar uma devastação global sem precedentes. Ao longo da história, porém, acompanhamos a jornada da família de John Garrity (Gerard Butler) que, sorteados pelo governo, buscam chegar a um local seguro, uma espécie de bunker construído na Groenlândia. Confira o trailer:

O filme de Ric Roman Waugh (deInvasão ao Serviço Secreto) bebe da fonte de clássicos como o já citado "Impacto Profundo" (de Mimi Leder), mas também trás muitos elementos de "2012" (de Roland Emmerich) e, especialmente, de "Guerra dos Mundos", filme dirigido porSteven Spielberg, que se apega a luta de um homem pela vida de sua família em um momento de reconstrução da relação. Dito isso fica muito fácil afirmar que o roteiro de Chris Sparling segue a receita do gênero, mas peca em um único detalhe: você não vai encontrar uma cena marcante da destruição causada pelo cometa e isso, para mim, é um ponto bem sensível do filme - culpa do orçamento! Não que faça falta, mas estamos falando de entretenimento de gênero, a expectativa sempre vai existir quando escolhemos um filme como esse e aqui o impacto catastrófico é solucionado por reportagens da imprensa ao redor do mundo que misturam planos bem fechado e montagens que usam de pontos turísticos ou construções simbólicas para localizar a destruição, mas com um detalhe muito interessante: essas estruturas construídas pelo homem sobrevivem, já o próprio homem... Reparem!

Com total controle de suas limitações orçamentárias, o diretor Ric Roman Waugh usa e abusa da criatividade para nos entregar ótimos momentos de ação e planos bem impactantes onde o horror nos olhos de quem vê é mais importante do que, de fato, a destruição que ele está testemunhando. A angústia dos personagens em busca de sobrevivência é a principal linha narrativa, o resto é perfumaria - superficial, mas divertida!

"Destruição Final" (ou "Greenland", título original) é uma ótima sessão da tarde, sem pretensões de ser inesquecível, mas que traz para o sofá um entretenimento raiz, sem teorizações e alívios poéticos - é pura, e simplesmente, diversão! Vale o play! 

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Se "O Céu da Meia-Noite" da Netflix trouxe alguns elementos do cinema catástrofe que esteve tão em evidência em 1998, e estamos falando mais especificamente de "Armageddon", "Destruição Final" da Amazon Prime Vídeo segue exatamente a mesma receita, mas buscando referências de outro filme lançado no mesmo ano e igualmente reconhecido: "Impacto Profundo"! Ou seja, se dois desses três filmes significaram um bom entretenimento para você, pode dar o play sem o menor receio porque a diversão está garantida!

"Destruição Final" (que tem "O Último Refúgio"como sub-título) acompanha aquela trama padrão de filmes catástrofe: um cometa está passando pela órbita da Terra e o que inicialmente parecia apenas curiosidade logo se transforma em terror quando o corpo celeste começa a se partir e seus fragmentos passam a causar uma devastação global sem precedentes. Ao longo da história, porém, acompanhamos a jornada da família de John Garrity (Gerard Butler) que, sorteados pelo governo, buscam chegar a um local seguro, uma espécie de bunker construído na Groenlândia. Confira o trailer:

O filme de Ric Roman Waugh (deInvasão ao Serviço Secreto) bebe da fonte de clássicos como o já citado "Impacto Profundo" (de Mimi Leder), mas também trás muitos elementos de "2012" (de Roland Emmerich) e, especialmente, de "Guerra dos Mundos", filme dirigido porSteven Spielberg, que se apega a luta de um homem pela vida de sua família em um momento de reconstrução da relação. Dito isso fica muito fácil afirmar que o roteiro de Chris Sparling segue a receita do gênero, mas peca em um único detalhe: você não vai encontrar uma cena marcante da destruição causada pelo cometa e isso, para mim, é um ponto bem sensível do filme - culpa do orçamento! Não que faça falta, mas estamos falando de entretenimento de gênero, a expectativa sempre vai existir quando escolhemos um filme como esse e aqui o impacto catastrófico é solucionado por reportagens da imprensa ao redor do mundo que misturam planos bem fechado e montagens que usam de pontos turísticos ou construções simbólicas para localizar a destruição, mas com um detalhe muito interessante: essas estruturas construídas pelo homem sobrevivem, já o próprio homem... Reparem!

Com total controle de suas limitações orçamentárias, o diretor Ric Roman Waugh usa e abusa da criatividade para nos entregar ótimos momentos de ação e planos bem impactantes onde o horror nos olhos de quem vê é mais importante do que, de fato, a destruição que ele está testemunhando. A angústia dos personagens em busca de sobrevivência é a principal linha narrativa, o resto é perfumaria - superficial, mas divertida!

"Destruição Final" (ou "Greenland", título original) é uma ótima sessão da tarde, sem pretensões de ser inesquecível, mas que traz para o sofá um entretenimento raiz, sem teorizações e alívios poéticos - é pura, e simplesmente, diversão! Vale o play! 

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Dopesick

Essa minissérie vai mexer com suas emoções!

"Dopesick" é um termo usado para determinar que uma pessoa está "dopada", impossibilitada de continuar a ser quem ela era se não estiver sob efeito de um determinado "remédio" - que nesse caso foi a origem da maior epidemia de opioides que a sociedade americana já enfrentou. Aliás, antes de assistir essa minissérie de ficção do Star+ que é baseada em fatos reais, eu recomendo veemente que você assista um documentário em quatro partes da Netflix chamado "Prescrição Fatal" - ele vai servir como uma profunda e emocional introdução ao problema criado pela farmacêutica Purdue ao colocar o OxyContin nas farmácias, pelo olhar de um pai que perdeu o seu filho para o vício enquanto a família Sackler enriquecia loucamente.

Voltando à "Dopesick", em oito episódios você vai acompanhar o surgimento do OxyContin e como esse opioide analgésico extremamente potente afetou a vida de milhares de pessoas, em diferentes contextos familiares, profissionais e sociais. Desde os bastidores da Purdue Pharma onde as decisões corporativas e politicas ajudaram a disseminar "legalmente" uma droga com potencial de vício comparado ao da heroína, até uma comunidade da Virgínia que foi praticamente devastada pelo uso (e abuso) do remédio, passando pelos corredores do DEA e do sistema jurídico americano que travavam uma luta desleal para impedir que mais mortes acontecessem. Confira o trailer:

Antes de mais nada é preciso que se diga que "Dopesick" é um misto de ficção e realidade, ou seja, o pano de fundo é sim um recorte real, comovente e absurdo, do que aconteceu nos Estados Unidos, porém a grande maioria dos personagens (mesmo que inspirados em pessoais reais) são, de fato, apenas personagens de ficção. Essa escolha, obviamente, tem uma função dramática que precisa ser digerida com o tempo - inicialmente, a verdadeira dinâmica corporativa que assistimos de dentro da Purdue Pharma e os constrangedores embates entre os Sacklers, soam mais interessantes do que os dramas familiares e pessoais dos moradores da região dos Apalaches, na Virginia, onde vivem o Dr. Samuel Finnix (Michael Keaton) e Betsy Mallum (Kaitlyn Dever). Aliás, alguns plots desenvolvidos pelo criador e roteirista Danny Strong são até descartáveis - a relação homossexual de Betsy, embora faça sentido dentro de um determinado contexto, não empolga.

O roteiro, inclusive, consegue equilibrar muito bem um grande desafio que no livro "Dopesick: Dealers, Doctors, and the Drug Company that Addicted America" da autora Beth Macy, soa mais orgânico: a quebra temporal na construção da trama. Ao entender a dinâmica narrativa, onde a história passeia entre o presente, o passado e o futuro, temos a exata sensação sobre a complexidade dos fatos - o curioso (e genial) é que esse "vai e vem" nos permite experimentar emoções completamente distintas, mas que ao se complementarem, fortalece o convite para uma imersão extremamente profunda e empática pela jornada. Mesmo com um número enorme de personagens, nos importamos com muitos deles da mesma forma que execramos alguns outros.

Aliás, o elenco é um dos pontos mais altos de "Dopesick" - entre as categorias envolvendo atores e atrizes no Emmy 2022, foram 6 indicações, com Keaton saindo vencedor), Isso mostra o valor dos personagens secundários para a evolução da história - ainda que alguns tenham sido “sub aproveitados”, ter Rosario Dawson como agente da DEA, Bridget Meyer; Peter Sarsgaard e John Hoogenakker como os procuradores Rick Mountcastle e Randy Ramseyer, respectivamente; é um luxo. Will Poulter, que interpretou o jovem e sonhador vendedor, Billy Cutler, também merece elogios.

Com um visual belíssimo, uma trilha sonora incrível e um time de diretores muito competente, que contou até com Barry Levinson (de "O Mago das Mentiras"), "Dopesick" já pode ser considerada uma das melhores minisséries dos últimos anos, que não à toa recebeu 14 indicações ao Emmy 2002 e mais 40 em outras premiações importantes como do "Screen Actors Guild", "Globo de Ouro" e "Television Critics Association".

“Dopesick” tem tudo que uma minissérie precisa para ser inesquecível: uma produção irretocável, personagens muito bem construídos, um elenco acima da média e, claro, uma história impactante que nos faz refletir e olhar o ser humano de uma forma diferente (não necessariamente boa para todos).

Vale muito o seu play!

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Essa minissérie vai mexer com suas emoções!

"Dopesick" é um termo usado para determinar que uma pessoa está "dopada", impossibilitada de continuar a ser quem ela era se não estiver sob efeito de um determinado "remédio" - que nesse caso foi a origem da maior epidemia de opioides que a sociedade americana já enfrentou. Aliás, antes de assistir essa minissérie de ficção do Star+ que é baseada em fatos reais, eu recomendo veemente que você assista um documentário em quatro partes da Netflix chamado "Prescrição Fatal" - ele vai servir como uma profunda e emocional introdução ao problema criado pela farmacêutica Purdue ao colocar o OxyContin nas farmácias, pelo olhar de um pai que perdeu o seu filho para o vício enquanto a família Sackler enriquecia loucamente.

Voltando à "Dopesick", em oito episódios você vai acompanhar o surgimento do OxyContin e como esse opioide analgésico extremamente potente afetou a vida de milhares de pessoas, em diferentes contextos familiares, profissionais e sociais. Desde os bastidores da Purdue Pharma onde as decisões corporativas e politicas ajudaram a disseminar "legalmente" uma droga com potencial de vício comparado ao da heroína, até uma comunidade da Virgínia que foi praticamente devastada pelo uso (e abuso) do remédio, passando pelos corredores do DEA e do sistema jurídico americano que travavam uma luta desleal para impedir que mais mortes acontecessem. Confira o trailer:

Antes de mais nada é preciso que se diga que "Dopesick" é um misto de ficção e realidade, ou seja, o pano de fundo é sim um recorte real, comovente e absurdo, do que aconteceu nos Estados Unidos, porém a grande maioria dos personagens (mesmo que inspirados em pessoais reais) são, de fato, apenas personagens de ficção. Essa escolha, obviamente, tem uma função dramática que precisa ser digerida com o tempo - inicialmente, a verdadeira dinâmica corporativa que assistimos de dentro da Purdue Pharma e os constrangedores embates entre os Sacklers, soam mais interessantes do que os dramas familiares e pessoais dos moradores da região dos Apalaches, na Virginia, onde vivem o Dr. Samuel Finnix (Michael Keaton) e Betsy Mallum (Kaitlyn Dever). Aliás, alguns plots desenvolvidos pelo criador e roteirista Danny Strong são até descartáveis - a relação homossexual de Betsy, embora faça sentido dentro de um determinado contexto, não empolga.

O roteiro, inclusive, consegue equilibrar muito bem um grande desafio que no livro "Dopesick: Dealers, Doctors, and the Drug Company that Addicted America" da autora Beth Macy, soa mais orgânico: a quebra temporal na construção da trama. Ao entender a dinâmica narrativa, onde a história passeia entre o presente, o passado e o futuro, temos a exata sensação sobre a complexidade dos fatos - o curioso (e genial) é que esse "vai e vem" nos permite experimentar emoções completamente distintas, mas que ao se complementarem, fortalece o convite para uma imersão extremamente profunda e empática pela jornada. Mesmo com um número enorme de personagens, nos importamos com muitos deles da mesma forma que execramos alguns outros.

Aliás, o elenco é um dos pontos mais altos de "Dopesick" - entre as categorias envolvendo atores e atrizes no Emmy 2022, foram 6 indicações, com Keaton saindo vencedor), Isso mostra o valor dos personagens secundários para a evolução da história - ainda que alguns tenham sido “sub aproveitados”, ter Rosario Dawson como agente da DEA, Bridget Meyer; Peter Sarsgaard e John Hoogenakker como os procuradores Rick Mountcastle e Randy Ramseyer, respectivamente; é um luxo. Will Poulter, que interpretou o jovem e sonhador vendedor, Billy Cutler, também merece elogios.

Com um visual belíssimo, uma trilha sonora incrível e um time de diretores muito competente, que contou até com Barry Levinson (de "O Mago das Mentiras"), "Dopesick" já pode ser considerada uma das melhores minisséries dos últimos anos, que não à toa recebeu 14 indicações ao Emmy 2002 e mais 40 em outras premiações importantes como do "Screen Actors Guild", "Globo de Ouro" e "Television Critics Association".

“Dopesick” tem tudo que uma minissérie precisa para ser inesquecível: uma produção irretocável, personagens muito bem construídos, um elenco acima da média e, claro, uma história impactante que nos faz refletir e olhar o ser humano de uma forma diferente (não necessariamente boa para todos).

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Dossiê Chapecó

Depois da ótima minissérie documental da Globoplay, "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria", chegou a vez de revisitarmos outra tragédia que marcou a história recente do nosso país. "Dossiê Chapecó: O Jogo por Trás da Tragédia" surge como uma obra definitiva sobre o terrível acidente que dizimou 71 pessoas naquele 29 de novembro de 2016 quando a Chapecoense viajava para disputar o primeiro jogo da final da Copa Sul-Americana. Imperdível pelo relado sensível e profundo, essa produção da Discovery para a HBO não apenas emociona, mas também instiga reflexões profundas sobre a força do espírito humano diante das adversidades e sobre a capacidade que algumas pessoas tem de colocar dezenas de vidas em risco para ganhar um "trocado"!

"Dossiê Chapecó: O Jogo por Trás da Tragédia" narra em quatro episódios, a trágica queda do voo LaMia 2933, que transportava a equipe de futebol da Chapecoense, jornalistas e tripulação em novembro de 2016. A aeronave caiu nas montanhas da Colômbia, deixando a comunidade do futebol em choque. Esse documentário apresenta a história arrebatadora da equipe, as circunstâncias que levaram ao acidente, a busca por culpados, as vidas perdidas e a incrível jornada do clube e das famílias afetadas para se reerguer. Ao mergulhar na investigação e na experiência das vítimas, o filme traça um paralelo interessante sobre a humanidade em seu estado mais vulnerável e compassivo, e a dificuldade que se tem de fazer justiça nesse país! Confira o trailer:

"Dossiê Chapecó" chega chancelada pela indicação ao Emmy na categoria Melhor Documentário em 2022 e por mergulhar fundo na investigação da tragédia, apresentando uma análise detalhada do acidente e das consequências que abalaram o mundo do futebol. O roteiro constrói uma narrativa extremamente fluida que revela de maneira impactante a busca por respostas, examinando as complexidades de um acidente aéreo, além das responsabilidades e lições a serem aprendidas depois de tantas falhas - muitas delas pautadas na ganância. Com depoimentos exclusivos dos sobreviventes, de familiares das vítimas e jornalistas envolvidos naquela cobertura, a minissérie consegue a proeza de trazer para frente das câmeras peças-chaves da investigação como Ricardo Albacete, fundador da companhia aérea e dono do avião, e Marcos Rocha, ex-piloto e um dos proprietários da empresa, ainda exilado nos EUA - o seu sócio morreu no acidente.

A qualidade da produção é inegável, com uma edição impressionante, capaz de capturar tanto a dor e angústia quanto a revolta e indignação depois da tragédia. E aqui eu cito pelo menos três passagens duras, impactantes: a primeira, sem dúvida, são as imagens inéditas gravadas pelos próprios socorristas colombianos minutos após a queda do 2933 da LaMia - a cena de um dos sobreviventes, funcionário da empresa, Erwin Tumiri, em completo estado de choque tentando entender o que aconteceu após ser resgatado. Olha, vai dilacerar seu coração. O segundo, é a simulação do acidente pela perspectiva de quem estava dentro do avião com a narração do Alan Ruschel e do Neto - um golpe duro, eu diria, sufocante! E finalmente, o terceiro, as inúmeras imagens de arquivo, todas com som original - uma delas narrada pelo próprio Galvão Bueno, na chegada dos corpos em Chapecó. É um mergulho doloroso ao passado que todos vão se lembrar!

Assistir "Dossiê Chapecó: O Jogo por Trás da Tragédia" é mais do que simplesmente dar um play em um documentário qualquer; é vivenciar novamente uma jornada emocional difícil de digerir e que de alguma forma nos tocou a alma em 2016. E embora seja uma lição de humanidade, uma sensível homenagem às vidas perdidas e um tributo à resiliência daqueles que sobreviveram, a minissérie não deixa de lado seu caráter investigativo e seu tom de denúncia em nenhum momento - e aqui é impossível não citar a participação do Senador Romário. Olha, mais uma "pancada" que chega no streaming para apertar, de novo, nosso coração!

Vale muito o seu play!

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Depois da ótima minissérie documental da Globoplay, "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria", chegou a vez de revisitarmos outra tragédia que marcou a história recente do nosso país. "Dossiê Chapecó: O Jogo por Trás da Tragédia" surge como uma obra definitiva sobre o terrível acidente que dizimou 71 pessoas naquele 29 de novembro de 2016 quando a Chapecoense viajava para disputar o primeiro jogo da final da Copa Sul-Americana. Imperdível pelo relado sensível e profundo, essa produção da Discovery para a HBO não apenas emociona, mas também instiga reflexões profundas sobre a força do espírito humano diante das adversidades e sobre a capacidade que algumas pessoas tem de colocar dezenas de vidas em risco para ganhar um "trocado"!

"Dossiê Chapecó: O Jogo por Trás da Tragédia" narra em quatro episódios, a trágica queda do voo LaMia 2933, que transportava a equipe de futebol da Chapecoense, jornalistas e tripulação em novembro de 2016. A aeronave caiu nas montanhas da Colômbia, deixando a comunidade do futebol em choque. Esse documentário apresenta a história arrebatadora da equipe, as circunstâncias que levaram ao acidente, a busca por culpados, as vidas perdidas e a incrível jornada do clube e das famílias afetadas para se reerguer. Ao mergulhar na investigação e na experiência das vítimas, o filme traça um paralelo interessante sobre a humanidade em seu estado mais vulnerável e compassivo, e a dificuldade que se tem de fazer justiça nesse país! Confira o trailer:

"Dossiê Chapecó" chega chancelada pela indicação ao Emmy na categoria Melhor Documentário em 2022 e por mergulhar fundo na investigação da tragédia, apresentando uma análise detalhada do acidente e das consequências que abalaram o mundo do futebol. O roteiro constrói uma narrativa extremamente fluida que revela de maneira impactante a busca por respostas, examinando as complexidades de um acidente aéreo, além das responsabilidades e lições a serem aprendidas depois de tantas falhas - muitas delas pautadas na ganância. Com depoimentos exclusivos dos sobreviventes, de familiares das vítimas e jornalistas envolvidos naquela cobertura, a minissérie consegue a proeza de trazer para frente das câmeras peças-chaves da investigação como Ricardo Albacete, fundador da companhia aérea e dono do avião, e Marcos Rocha, ex-piloto e um dos proprietários da empresa, ainda exilado nos EUA - o seu sócio morreu no acidente.

A qualidade da produção é inegável, com uma edição impressionante, capaz de capturar tanto a dor e angústia quanto a revolta e indignação depois da tragédia. E aqui eu cito pelo menos três passagens duras, impactantes: a primeira, sem dúvida, são as imagens inéditas gravadas pelos próprios socorristas colombianos minutos após a queda do 2933 da LaMia - a cena de um dos sobreviventes, funcionário da empresa, Erwin Tumiri, em completo estado de choque tentando entender o que aconteceu após ser resgatado. Olha, vai dilacerar seu coração. O segundo, é a simulação do acidente pela perspectiva de quem estava dentro do avião com a narração do Alan Ruschel e do Neto - um golpe duro, eu diria, sufocante! E finalmente, o terceiro, as inúmeras imagens de arquivo, todas com som original - uma delas narrada pelo próprio Galvão Bueno, na chegada dos corpos em Chapecó. É um mergulho doloroso ao passado que todos vão se lembrar!

Assistir "Dossiê Chapecó: O Jogo por Trás da Tragédia" é mais do que simplesmente dar um play em um documentário qualquer; é vivenciar novamente uma jornada emocional difícil de digerir e que de alguma forma nos tocou a alma em 2016. E embora seja uma lição de humanidade, uma sensível homenagem às vidas perdidas e um tributo à resiliência daqueles que sobreviveram, a minissérie não deixa de lado seu caráter investigativo e seu tom de denúncia em nenhum momento - e aqui é impossível não citar a participação do Senador Romário. Olha, mais uma "pancada" que chega no streaming para apertar, de novo, nosso coração!

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Gravidade

O cineasta Alfonso Cuarón já havia mostrado seu virtuosismo estético em "Filhos da Esperança" de 2006. Em "Gravidade", ele cria um universo de computação gráfica (!) crível, original e simplesmente deslumbrante.

A premissa é relativamente simples: dois astronautas estão realizando manutenção em uma estação espacial, quando uma chuva de detritos começa a atingi-los. A partir daí, começa uma corrida pela sobrevivência no inóspito ambiente além da atmosfera. Confira o trailer:

A fotografia do ícone Emmanuel Lubezki, é maravilhosa: os enquadramentos são inventivos e o filme retrata fielmente o vácuo de som existente no espaço. A imponente trilha sonora “dubla” as explosões silenciosas e eleva o nível de tensão. Importante dizer que esse primor técnico rendeu ao filme 7 estatuetas do Oscar em 2014: Melhor Direção, Fotografia, Edição, Efeitos Visuais, Trilha Sonora, Edição de Som e Mixagem de Som. 

Sandra Bullock entrega uma grande atuação como a Dra. Ryan, lutando pela sobrevivência no espaço após perder o motivo de viver em terra firme. Através dela, o filme imprime alegorias sobre renascimento e até evolucionismo. George Clooney acumula as funções de alívio cômico e mentor, construindo ótimas interações com a astronauta inexperiente.

O fato é que "Gravidade" é um espetáculo espacial. É claustrofóbico, mesmo na imensidão galáctica. É tenso, mas incrivelmente belo. É um realismo digital, mas altamente imersivo. É uma experiência que deve ser sentida! Vale muito, mas muito, a pena!

Obs: Em sua carreira pelos festivais de cinema, "Gravidade" faturou mais de 230 prêmios além de outras 187 indicações. Impressionante!

Escrito por Ricelli Ribeiro - uma parceria@dicastreaming 

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O cineasta Alfonso Cuarón já havia mostrado seu virtuosismo estético em "Filhos da Esperança" de 2006. Em "Gravidade", ele cria um universo de computação gráfica (!) crível, original e simplesmente deslumbrante.

A premissa é relativamente simples: dois astronautas estão realizando manutenção em uma estação espacial, quando uma chuva de detritos começa a atingi-los. A partir daí, começa uma corrida pela sobrevivência no inóspito ambiente além da atmosfera. Confira o trailer:

A fotografia do ícone Emmanuel Lubezki, é maravilhosa: os enquadramentos são inventivos e o filme retrata fielmente o vácuo de som existente no espaço. A imponente trilha sonora “dubla” as explosões silenciosas e eleva o nível de tensão. Importante dizer que esse primor técnico rendeu ao filme 7 estatuetas do Oscar em 2014: Melhor Direção, Fotografia, Edição, Efeitos Visuais, Trilha Sonora, Edição de Som e Mixagem de Som. 

Sandra Bullock entrega uma grande atuação como a Dra. Ryan, lutando pela sobrevivência no espaço após perder o motivo de viver em terra firme. Através dela, o filme imprime alegorias sobre renascimento e até evolucionismo. George Clooney acumula as funções de alívio cômico e mentor, construindo ótimas interações com a astronauta inexperiente.

O fato é que "Gravidade" é um espetáculo espacial. É claustrofóbico, mesmo na imensidão galáctica. É tenso, mas incrivelmente belo. É um realismo digital, mas altamente imersivo. É uma experiência que deve ser sentida! Vale muito, mas muito, a pena!

Obs: Em sua carreira pelos festivais de cinema, "Gravidade" faturou mais de 230 prêmios além de outras 187 indicações. Impressionante!

Escrito por Ricelli Ribeiro - uma parceria@dicastreaming 

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Império da Dor

A epidemia de opioides é uma das crises de saúde pública mais devastadoras da nossa era e dois livros notáveis, "Pain Killer", de Barry Meier, e "Dopesick", de Beth Macy, mergulharam fundo nesse assunto tão complexo com um propósito claro: apresentar as várias perspectivas do problema - do médico, do representante comercial, do paciente, da polícia, dos viciados e suas relações familiares, e, claro, da lei. A premiada minissérie de ficção do Star+, dirigida pelos talentosos Danny Strong e Barry Levinson, baseada no livro de Macy, sem dúvida alguma já tinha cumprido o seu papel nesse sentido, no entanto a Netflix achou que ainda tinha uma história interessante para contar e assim surgiu "Império da Dor" - baseado na obra de Meier e no artigo "The Family That Built an Empire of Pain", de Patrick Radden Keefe. Obviamente que em um primeiro olhar a trama soa familiar, e de fato é, no entanto a minissérie do diretor Peter Berg (de "Friday Night Lights") deixa um pouco da densidade dramática de "Dopesick" de lado para apresentar o problema de uma forma (arriscada) com um conceito mais acessível e algum senso de humor - não que não tenha drama, mas o tom é infinitamente menos impactante. E te falo, na minha opinião, como entrada no assunto, funciona perfeitamente - mas a obra-prima é a outra!

Aqui, basicamente, acompanhamos todo o drama sobre as causas e consequências da epidemia de opioides nos Estados Unidos pelo olhar critico de Edie Flowers (Uzo Aduba), uma investigadora do Gabinete do Procurador dos EUA em Roanoke, que cuida de fraudes médicas. Ao perceber que o OxyContin passou a ser prescrito de forma generalizada, gerando inúmeros pacientes com dependência e milhares de mortes, Flowers começa uma luta intensa para tirar o medicamento das farmácias e ainda punir os executivos da Purdue que mentiram sobre os reais efeitos do Oxy. Confira o trailer:

Mesmo que a personagem Edie Flowers tenha sido criada pelos roteiristas Micah Fitzerman-Blue e Noah Harpster (ambos de "Transparent" e de "Um Lindo Dia na Vizinhança"com o único propósito de ser a voz que amarra cada um dos eventos de "Império da Dor", é de se elogiar a forma como Uzo Aduba nos apresenta sua jornada de maneira tão humana e visceral - seu sofrimento é, de fato, muito real. Digna de prêmios! É impressionante como ela dá o tom da minissérie e serve de equilíbrio para que os floreios gráficos e narrativos de Berg não diminuam o tamanho do drama que foi essa epidemia. É claro que o impacto dos prólogos de cada um dos seis episódios, onde famílias reais relembram seus dramas, nos diz exatamente onde vamos entrar, mas, sem dúvida alguma, é com a investigadora Flowers que caminhamos pela história!

Em "Império da Dor" os roteiristas transformam informações densas em histórias mais envolventes, nos mantendo cativados ao longo dos episódios - se de um lado a realidade nos embrulha o estômago, é perceptível a escolha pelo entretenimento para aliviar a tensão e evitar o churn. A construção cuidadosa de personagens, bem menos profundos que em "Dopesick", gera conexões ou julgamentos mais imediatos - é o caso do plot da família de Glenn (Taylor Kitsch) ou da trama de Shannon (West Duchovny), ambos mais estereotipados. O que eu quero dizer é que a dinâmica flui bem, intercalando contextos históricos com o dinamismo de um estilo mais pop - sim, isso deixa a narrativa tão coesa quanto acessível, mas não mexe tanto com nossas emoções. Para citar um exemplo, eu nunca odiei o Richard Sackler do Matthew Broderick de  "Império da Dor"como odiei o do Michael Stuhlbarg de "Dopesick".

"Império da Dor" oferece perspectivas vívidas e inquietantes sobre a crise dos opioides, mas sem nos machucar tanto. Através de uma investigação meticulosa, de uma narrativa habilidosa e da exploração das emoções de quem viveu o drama, a minissérie consegue transcender o mero relato de fatos para se tornar um ótimo e fácil entretenimento. A produção da Netflix tem o grande mérito de contribuir para a compreensão do problema, para o entendimento da dinâmica entre os personagens reais e para pontuar o contexto histórico, mas saiba que o mergulho emocional mesmo, aquele mais profundo, bem, esse não está aqui, está na plataforma ao lado.

Aqui vale o play, mas se você gostar do assunto, não pare por aqui!

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A epidemia de opioides é uma das crises de saúde pública mais devastadoras da nossa era e dois livros notáveis, "Pain Killer", de Barry Meier, e "Dopesick", de Beth Macy, mergulharam fundo nesse assunto tão complexo com um propósito claro: apresentar as várias perspectivas do problema - do médico, do representante comercial, do paciente, da polícia, dos viciados e suas relações familiares, e, claro, da lei. A premiada minissérie de ficção do Star+, dirigida pelos talentosos Danny Strong e Barry Levinson, baseada no livro de Macy, sem dúvida alguma já tinha cumprido o seu papel nesse sentido, no entanto a Netflix achou que ainda tinha uma história interessante para contar e assim surgiu "Império da Dor" - baseado na obra de Meier e no artigo "The Family That Built an Empire of Pain", de Patrick Radden Keefe. Obviamente que em um primeiro olhar a trama soa familiar, e de fato é, no entanto a minissérie do diretor Peter Berg (de "Friday Night Lights") deixa um pouco da densidade dramática de "Dopesick" de lado para apresentar o problema de uma forma (arriscada) com um conceito mais acessível e algum senso de humor - não que não tenha drama, mas o tom é infinitamente menos impactante. E te falo, na minha opinião, como entrada no assunto, funciona perfeitamente - mas a obra-prima é a outra!

Aqui, basicamente, acompanhamos todo o drama sobre as causas e consequências da epidemia de opioides nos Estados Unidos pelo olhar critico de Edie Flowers (Uzo Aduba), uma investigadora do Gabinete do Procurador dos EUA em Roanoke, que cuida de fraudes médicas. Ao perceber que o OxyContin passou a ser prescrito de forma generalizada, gerando inúmeros pacientes com dependência e milhares de mortes, Flowers começa uma luta intensa para tirar o medicamento das farmácias e ainda punir os executivos da Purdue que mentiram sobre os reais efeitos do Oxy. Confira o trailer:

Mesmo que a personagem Edie Flowers tenha sido criada pelos roteiristas Micah Fitzerman-Blue e Noah Harpster (ambos de "Transparent" e de "Um Lindo Dia na Vizinhança"com o único propósito de ser a voz que amarra cada um dos eventos de "Império da Dor", é de se elogiar a forma como Uzo Aduba nos apresenta sua jornada de maneira tão humana e visceral - seu sofrimento é, de fato, muito real. Digna de prêmios! É impressionante como ela dá o tom da minissérie e serve de equilíbrio para que os floreios gráficos e narrativos de Berg não diminuam o tamanho do drama que foi essa epidemia. É claro que o impacto dos prólogos de cada um dos seis episódios, onde famílias reais relembram seus dramas, nos diz exatamente onde vamos entrar, mas, sem dúvida alguma, é com a investigadora Flowers que caminhamos pela história!

Em "Império da Dor" os roteiristas transformam informações densas em histórias mais envolventes, nos mantendo cativados ao longo dos episódios - se de um lado a realidade nos embrulha o estômago, é perceptível a escolha pelo entretenimento para aliviar a tensão e evitar o churn. A construção cuidadosa de personagens, bem menos profundos que em "Dopesick", gera conexões ou julgamentos mais imediatos - é o caso do plot da família de Glenn (Taylor Kitsch) ou da trama de Shannon (West Duchovny), ambos mais estereotipados. O que eu quero dizer é que a dinâmica flui bem, intercalando contextos históricos com o dinamismo de um estilo mais pop - sim, isso deixa a narrativa tão coesa quanto acessível, mas não mexe tanto com nossas emoções. Para citar um exemplo, eu nunca odiei o Richard Sackler do Matthew Broderick de  "Império da Dor"como odiei o do Michael Stuhlbarg de "Dopesick".

"Império da Dor" oferece perspectivas vívidas e inquietantes sobre a crise dos opioides, mas sem nos machucar tanto. Através de uma investigação meticulosa, de uma narrativa habilidosa e da exploração das emoções de quem viveu o drama, a minissérie consegue transcender o mero relato de fatos para se tornar um ótimo e fácil entretenimento. A produção da Netflix tem o grande mérito de contribuir para a compreensão do problema, para o entendimento da dinâmica entre os personagens reais e para pontuar o contexto histórico, mas saiba que o mergulho emocional mesmo, aquele mais profundo, bem, esse não está aqui, está na plataforma ao lado.

Aqui vale o play, mas se você gostar do assunto, não pare por aqui!

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