"The Old Guard" é claramente a tentativa da Netflix de emplacar uma franquia de herói consistente com seu selo "Originals" e de quebra ainda fidelizar um público que pode migrar de plataforma com a chegada do Disney+. Dito isso, é preciso analisar o filme sob dois aspectos: o primeiro, mercadológico - baseado na HQ daImage Comics, escrita pelo Greg Rucka e desenhada pelo Leandro Fernández, "The Old Guard" caiu como uma luva dentro da estratégia da Netflix desde o momento em que ela trás para o time criativo o próprio Rucka para escrever o roteiro. Outro golaço foi escolher Charlize Theron como protagonista, já acostumada com a dinâmica de heroína em filmes de ação/ficção como em "Prometheus", "Mad Max: Estrada da Fúria" e até mesmo em "Atômica". O segundo aspecto relevante, sem dúvida, diz respeito à história escolhida - ao trazer a memória afetiva de "Highlander – O Guerreiro Imortal", o filme usa e abusa de uma narrativa atual (bem no estilo Marvel) ao mesmo tempo em que tenta construir uma mitologia própria (em flashbacks) que possibilita inúmeras ramificações dramáticas que podem resultar em várias sequências - a "cena pós crédito" (que na verdade nem é pós crédito, mas serve como uma espécie de "gancho") é um exemplo descarado desse planejamento. Bom, vamos ao trailer e depois voltamos para a discussão:
"The Old Guard" acompanha Andrômaca ou Andy (Charlize Theron) uma espécie de guerreira imortal que lidera uma equipe com outros três imortais, Booker (Matthias Schoenaerts), Joe (Marwan Kenzari) e Nicki (Luca Marinelli), que se encontraram ao longo dos séculos para lutar, como o próprio Booker diz, "por aquilo que eles acreditam ser o certo". Porém eles passam a ser perseguidos por um bilionário, Merrick (Harry Melling), CEO de uma gigante da industria farmacêutica, que pretende captura-los e assim descobrir os segredos dessa longevidade. É aí que entra Nile Freeman (KiKi Layne), uma soldada americana que depois de muitos séculos surge como uma nova imortal e precisa do auxílio de Andy para entender essa nova condição até se tornar mais um membro da equipe.
De fato, "The Old Guard" tem potencial para ser uma franquia de sucesso. Nesse primeiro filme encontramos a ação que o gênero sugere, a discussão filosófica e íntima que os personagens precisam e ainda uma série elementos fantásticos que nos acompanham e nos instigam até o final. Se tem algo que não funciona, certamente é o vilão de Harry Melling - sua motivação é fraca e a performance completamente estereotipada, mas sobre isso falaremos mais adiante. No geral achei o filme divertido, dinâmico (nem sentimos as duas horas de duração) e interessante por tudo que é contado, mas mais ainda por um background que ainda vai ser explorado. Se você gosta de filme de herói, com uma pegada bem de fantasia, pode dar o play sem medo!
Embora seja um filme de herói, a força de "The Old Guard", definitivamente, não está na luta para vencer um vilão e sim na jornada da protagonista para encontrar a paz, mesmo que para isso ela tenha que vencer seu inimigo que, como já citamos, não tem elementos suficientes para nos causar alguma dúvida de que não será facilmente derrotado - não existe uma forte motivação que mova esse vilão na busca de redenção, por exemplo. O próprio Copley (Chiwetel Ejiofor), ex-agente da CIA que já havia trabalhado em uma missão com a equipe de Andy e que perdeu a esposa recentemente devido a uma doença degenerativa, "ELA", teria um papel muito mais relevante se fosse um vilão de verdade do que o Merrick.
Quando Greg Rucka adapta sua história, ele não só se mantém muito fiel à HQ, como ele acrescenta elementos que tornam a jornada de Andrômacaainda mais complexa e profunda - a sua dor ao encarar o seu dom como uma terrível maldição durante séculos (mais uma vez evocando a música "Who wants to live forever!") e a relação que ela estabelece com seus pares, inclusive com sua parceira Quynh (Van Veronica Ngo), é sensacional! Mas aqui cabe uma pequena crítica: tenho a impressão que a produção das cenas em flashback poderia ter sido melhor trabalhada - achei tudo muito flat, fake até,; sem a menor identidade! A fotografia não ajudou em nada e a forma como a diretora Gina Prince-Bythewood (do aclamado "Além dos Limites") comandou a construção da mitologia não me agradou - faltou uma Patty Jenkins de "Mulher Maravilha". Por outro lado, nas cenas de ação e pancadaria, Prince-Bythewood soube se equilibrar e em nenhum momento usou de piruetas ou explosões para roubar no jogo ou entregar algo que já não tivesse sugerido.
No fima das contas, "The Old Guard" tem qualidade! Nasceu bom: com um roteiro que soube trabalhar o drama e a ação sem cansar quem assiste e ao mesmo tempo apresentar uma história que ainda tem muito para contar. Charlize Theron ajudou a levantar o filme, mas não deve seguir por muito tempo na franquia, sabendo disso, achei muito inteligente a forma como Greg Rucka já nos oferece as opções de continuação - e pode ter certeza: ela virá!
Vale pelo entretenimento, com certeza!
"The Old Guard" é claramente a tentativa da Netflix de emplacar uma franquia de herói consistente com seu selo "Originals" e de quebra ainda fidelizar um público que pode migrar de plataforma com a chegada do Disney+. Dito isso, é preciso analisar o filme sob dois aspectos: o primeiro, mercadológico - baseado na HQ daImage Comics, escrita pelo Greg Rucka e desenhada pelo Leandro Fernández, "The Old Guard" caiu como uma luva dentro da estratégia da Netflix desde o momento em que ela trás para o time criativo o próprio Rucka para escrever o roteiro. Outro golaço foi escolher Charlize Theron como protagonista, já acostumada com a dinâmica de heroína em filmes de ação/ficção como em "Prometheus", "Mad Max: Estrada da Fúria" e até mesmo em "Atômica". O segundo aspecto relevante, sem dúvida, diz respeito à história escolhida - ao trazer a memória afetiva de "Highlander – O Guerreiro Imortal", o filme usa e abusa de uma narrativa atual (bem no estilo Marvel) ao mesmo tempo em que tenta construir uma mitologia própria (em flashbacks) que possibilita inúmeras ramificações dramáticas que podem resultar em várias sequências - a "cena pós crédito" (que na verdade nem é pós crédito, mas serve como uma espécie de "gancho") é um exemplo descarado desse planejamento. Bom, vamos ao trailer e depois voltamos para a discussão:
"The Old Guard" acompanha Andrômaca ou Andy (Charlize Theron) uma espécie de guerreira imortal que lidera uma equipe com outros três imortais, Booker (Matthias Schoenaerts), Joe (Marwan Kenzari) e Nicki (Luca Marinelli), que se encontraram ao longo dos séculos para lutar, como o próprio Booker diz, "por aquilo que eles acreditam ser o certo". Porém eles passam a ser perseguidos por um bilionário, Merrick (Harry Melling), CEO de uma gigante da industria farmacêutica, que pretende captura-los e assim descobrir os segredos dessa longevidade. É aí que entra Nile Freeman (KiKi Layne), uma soldada americana que depois de muitos séculos surge como uma nova imortal e precisa do auxílio de Andy para entender essa nova condição até se tornar mais um membro da equipe.
De fato, "The Old Guard" tem potencial para ser uma franquia de sucesso. Nesse primeiro filme encontramos a ação que o gênero sugere, a discussão filosófica e íntima que os personagens precisam e ainda uma série elementos fantásticos que nos acompanham e nos instigam até o final. Se tem algo que não funciona, certamente é o vilão de Harry Melling - sua motivação é fraca e a performance completamente estereotipada, mas sobre isso falaremos mais adiante. No geral achei o filme divertido, dinâmico (nem sentimos as duas horas de duração) e interessante por tudo que é contado, mas mais ainda por um background que ainda vai ser explorado. Se você gosta de filme de herói, com uma pegada bem de fantasia, pode dar o play sem medo!
Embora seja um filme de herói, a força de "The Old Guard", definitivamente, não está na luta para vencer um vilão e sim na jornada da protagonista para encontrar a paz, mesmo que para isso ela tenha que vencer seu inimigo que, como já citamos, não tem elementos suficientes para nos causar alguma dúvida de que não será facilmente derrotado - não existe uma forte motivação que mova esse vilão na busca de redenção, por exemplo. O próprio Copley (Chiwetel Ejiofor), ex-agente da CIA que já havia trabalhado em uma missão com a equipe de Andy e que perdeu a esposa recentemente devido a uma doença degenerativa, "ELA", teria um papel muito mais relevante se fosse um vilão de verdade do que o Merrick.
Quando Greg Rucka adapta sua história, ele não só se mantém muito fiel à HQ, como ele acrescenta elementos que tornam a jornada de Andrômacaainda mais complexa e profunda - a sua dor ao encarar o seu dom como uma terrível maldição durante séculos (mais uma vez evocando a música "Who wants to live forever!") e a relação que ela estabelece com seus pares, inclusive com sua parceira Quynh (Van Veronica Ngo), é sensacional! Mas aqui cabe uma pequena crítica: tenho a impressão que a produção das cenas em flashback poderia ter sido melhor trabalhada - achei tudo muito flat, fake até,; sem a menor identidade! A fotografia não ajudou em nada e a forma como a diretora Gina Prince-Bythewood (do aclamado "Além dos Limites") comandou a construção da mitologia não me agradou - faltou uma Patty Jenkins de "Mulher Maravilha". Por outro lado, nas cenas de ação e pancadaria, Prince-Bythewood soube se equilibrar e em nenhum momento usou de piruetas ou explosões para roubar no jogo ou entregar algo que já não tivesse sugerido.
No fima das contas, "The Old Guard" tem qualidade! Nasceu bom: com um roteiro que soube trabalhar o drama e a ação sem cansar quem assiste e ao mesmo tempo apresentar uma história que ainda tem muito para contar. Charlize Theron ajudou a levantar o filme, mas não deve seguir por muito tempo na franquia, sabendo disso, achei muito inteligente a forma como Greg Rucka já nos oferece as opções de continuação - e pode ter certeza: ela virá!
Vale pelo entretenimento, com certeza!