indika.tv - ml-hóquei

Sobre Milagres e Homens

O esporte é incrível em construir narrativas simplesmente sensacionais, mas quase sempre o contexto é tão importante quanto o arco principal e talvez por isso que nos impacte tanto e deixem tantas lições. "Sobre Milagres e Homens", documentário produzido pela ESPN, é mais um filme disposto a contar a façanha do time de hóquei no gelo dos Estados Unidos durante as Olimpíadas de Inverno de 1980, porém com um diferencial fundamental para colocar essa obra naquela prateleira de "Imperdível" - pela primeira vez, essa história é contada pelo ponto de vista de quem perdeu aquele jogo, ou seja, os jogadores da ex-URSS.

Numa sexta-feira à noite, em Lake Placid, Nova York, um grupo de universitários norte-americanos surpreendeu a quase imbatível equipe nacional soviética, na competição de hóquei nas Olimpíadas de 1980. Os americanos começaram a acreditar em milagres naquela noite, já que algumas semanas antes, em um amistoso, os soviéticos haviam humilhado os americanos com um sonoro 10 a 3. Quando os membros da equipe americana conquistaram a medalha de ouro, eles se tornaram um time histórico, mas outro lado nunca havia sido escutado... até aqui.

"Of Miracles and Men" (no original) é muito mais importante do que o simples recorte daquela façanha esportiva que acabou virando filme em 2004 pelas mãos do diretor Gavin O'Connor e com Kurt Russell no papel do lendário treinador Herb Brook. Em "Miracle" (por aqui "Desafio no Gelo") os EUA são os mocinhos e os soviéticos os bandidos, uma escolha narrativa muito diferente do que o diretor Jonathan Hock escolheu para seu documentário. 

A produção da ESPN que venceu o "Sports Emmy Awards" em 2015 é cirúrgica em retratar um lado pouco romântico para os americanos, trazendo para o protagonismo os jogadores soviéticos que estiveram no rinque. Digo pouco romântico, pois estávamos no auge da Guerra Fria, em um ano que os americanos boicotaram as Olimpíadas de Moscou e que usavam do esporte como uma forma de orientar seus cidadãos na promoção de tensão politica onde não existiam "santos" - para se ter uma ideia, o time de hóquei soviético ficou em uma prisão que serviu de vila olímpica durante a competição.

Momentos marcantes para a história estão nesse documentário: a criação de uma cultura vencedora na URSS a partir da chegada do hóquei canadense foi o inicio de uma jornada interessante que teve Anatoly Tarasov como responsável pela formação de um dos maiores times de esporte coletivo já visto. O time de hóquei soviético se tornou uma espécie de Drean Team (sem exageros, como aquele do basquete que encantou em 92). Liderado por Slava Fetisov (o primeiro atleta russo a jogar na NHL em plena Guerra Fria), o quinteto soviético ficou 12 anos sem perder um único jogo olímpico, criou um estilo de jogo que privilegiava o grupo em detrimento do individual e ainda se sobressaia até quando enfrentava os "All Stars" da liga profissional.

Mas como tudo que é revolucionário também é romântico, e depois se torna fanático até se transformar em cínico, o modelo soviético de preparação para eventos esportivos deixou Tarasov em segundo plano para ascender Tikhonov que, como o regime politico do seu país, pautava seu treinamento no controle absoluto e em um playbook com processos rigorosamente definidos. É aí que Slava Fetisov ganha protagonismo no documentário expondo sua relação conturbada com seu técnico e começa a se tornar a referência entre os "Homens" do título que estiveram naquela final olímpica e que precisaram lidar com aquela derrota.

"Sobre Milagres e Homens" fala muito sobre os valores do esporte, mas também sobre politica, sobre hipocrisia, sobre transformação, sobre aprendizados nas derrotas, sobre os perigos do excesso de confiança que vem com as vitórias e, finalmente, fala sobre pessoas. São histórias incríveis contatadas por quem viveu esse período de uma forma muito humana: são jogadores, jornalistas, treinadores e até familiares. Eu diria que o filme é um presente da ESPN, que está disponível no Star+ e te garanto: você não precisa saber nada de hóquei no gelo para se apaixonar por essa obra!

Vale muito o seu play!

Assista Agora

O esporte é incrível em construir narrativas simplesmente sensacionais, mas quase sempre o contexto é tão importante quanto o arco principal e talvez por isso que nos impacte tanto e deixem tantas lições. "Sobre Milagres e Homens", documentário produzido pela ESPN, é mais um filme disposto a contar a façanha do time de hóquei no gelo dos Estados Unidos durante as Olimpíadas de Inverno de 1980, porém com um diferencial fundamental para colocar essa obra naquela prateleira de "Imperdível" - pela primeira vez, essa história é contada pelo ponto de vista de quem perdeu aquele jogo, ou seja, os jogadores da ex-URSS.

Numa sexta-feira à noite, em Lake Placid, Nova York, um grupo de universitários norte-americanos surpreendeu a quase imbatível equipe nacional soviética, na competição de hóquei nas Olimpíadas de 1980. Os americanos começaram a acreditar em milagres naquela noite, já que algumas semanas antes, em um amistoso, os soviéticos haviam humilhado os americanos com um sonoro 10 a 3. Quando os membros da equipe americana conquistaram a medalha de ouro, eles se tornaram um time histórico, mas outro lado nunca havia sido escutado... até aqui.

"Of Miracles and Men" (no original) é muito mais importante do que o simples recorte daquela façanha esportiva que acabou virando filme em 2004 pelas mãos do diretor Gavin O'Connor e com Kurt Russell no papel do lendário treinador Herb Brook. Em "Miracle" (por aqui "Desafio no Gelo") os EUA são os mocinhos e os soviéticos os bandidos, uma escolha narrativa muito diferente do que o diretor Jonathan Hock escolheu para seu documentário. 

A produção da ESPN que venceu o "Sports Emmy Awards" em 2015 é cirúrgica em retratar um lado pouco romântico para os americanos, trazendo para o protagonismo os jogadores soviéticos que estiveram no rinque. Digo pouco romântico, pois estávamos no auge da Guerra Fria, em um ano que os americanos boicotaram as Olimpíadas de Moscou e que usavam do esporte como uma forma de orientar seus cidadãos na promoção de tensão politica onde não existiam "santos" - para se ter uma ideia, o time de hóquei soviético ficou em uma prisão que serviu de vila olímpica durante a competição.

Momentos marcantes para a história estão nesse documentário: a criação de uma cultura vencedora na URSS a partir da chegada do hóquei canadense foi o inicio de uma jornada interessante que teve Anatoly Tarasov como responsável pela formação de um dos maiores times de esporte coletivo já visto. O time de hóquei soviético se tornou uma espécie de Drean Team (sem exageros, como aquele do basquete que encantou em 92). Liderado por Slava Fetisov (o primeiro atleta russo a jogar na NHL em plena Guerra Fria), o quinteto soviético ficou 12 anos sem perder um único jogo olímpico, criou um estilo de jogo que privilegiava o grupo em detrimento do individual e ainda se sobressaia até quando enfrentava os "All Stars" da liga profissional.

Mas como tudo que é revolucionário também é romântico, e depois se torna fanático até se transformar em cínico, o modelo soviético de preparação para eventos esportivos deixou Tarasov em segundo plano para ascender Tikhonov que, como o regime politico do seu país, pautava seu treinamento no controle absoluto e em um playbook com processos rigorosamente definidos. É aí que Slava Fetisov ganha protagonismo no documentário expondo sua relação conturbada com seu técnico e começa a se tornar a referência entre os "Homens" do título que estiveram naquela final olímpica e que precisaram lidar com aquela derrota.

"Sobre Milagres e Homens" fala muito sobre os valores do esporte, mas também sobre politica, sobre hipocrisia, sobre transformação, sobre aprendizados nas derrotas, sobre os perigos do excesso de confiança que vem com as vitórias e, finalmente, fala sobre pessoas. São histórias incríveis contatadas por quem viveu esse período de uma forma muito humana: são jogadores, jornalistas, treinadores e até familiares. Eu diria que o filme é um presente da ESPN, que está disponível no Star+ e te garanto: você não precisa saber nada de hóquei no gelo para se apaixonar por essa obra!

Vale muito o seu play!

Assista Agora

Untold: Crime e Infrações

Uma história completamente surreal! Talvez seja essa a melhor definição para "Crime e Infrações", mais um episódio do selo "Untold" para a Netflix. Como todos o outros capítulos analisados até aqui, o esporte emerge de uma situação atípica, porém, dessa vez, não parece tão preocupado em entender as diversas camadas dos seus protagonistas como em "Federer x Fish"ou "Briga na NBA", para justificar uma passagem, uma atitude ou uma decisão; muito pelo contrário, o tom investigativo cria um paralelo até mais próximo de "A Bad Boy Billionaires"ou "Mito e Magnata: John Delorean".

Imagine que um time de hóquei, do que seria para nós uma espécie de "segunda divisão", é comprado por um homem multimilionário, com fortes ligações com a máfia, e que passa a ser liderado por seu filho de 17 anos, que carrega a marca da rebeldia em sua postura, e por isso resolve priorizar jogadores tão violentos quanto talentosos, subvertendo o propósito do esporte e transformando a nova franquia em um grande sucesso de marketing, mesmo que pautado em um posicionamento, digamos, duvidoso: o de "bad boys". Confira o trailer (em inglês):

Mais uma vez dirigido pela dupla Chapman e Maclain Way, "Untold: Crime e Infrações" foi muito feliz em criar uma narrativa que mistura o esporte com uma investigação policial para decupar a história do Danbury Trashers. Danbury, para quem não sabe, é uma cidadezinha localizada no estado americano de Connecticut, no Condado de Fairfield, onde um empresario do setor de coleta de lixo, James Galante, construiu um verdadeiro império. A grande questão (e por isso a comparação com "A Bad Boy Billionaires") é entender por quais meios que essa ascensão financeira e social se estabeleceu. Por outro lado, imaginem para os moradores de Danbury o que representou ter um time de hóquei profissional na cidade. Será que eles estava preocupados em entender a origem do dinheiro de Galante? - uma comparação com o Bangu de Castor de Andrade, nem soa tão absurda assim.

Como já se tornou costume, a linha narrativa da série "Untold" se apropria de inúmeras imagens de arquivo e entrevistas com quem realmente esteve envolvido na história, provocando uma viagem ao passado para, de certa forma, reinterpretar algo que, nesse caso, nem pareceu tão absurdo assim. Esse é o charme do episódio e é incrível como a relação entre os personagens, toda uma comunidade e até pela forma como a cobertura esportiva foi feita, parecem não entender o impacto que escolhas de um jovem de 17 anos, A.J. Galante, poderiam ter em curtíssimo prazo - é tão surreal a jornada de sucesso dos Trashers, que temos a exata sensação de que aquele recorte da sociedade americana não tem a menor chance de dar certo.

Esse episódio não traz nomes relevantes do esporte, mas nem por isso deixa de ser um retrato de como o poder e o dinheiro podem impactar as pessoas, toda uma comunidade e até destruir a reputação de uma instituição (no caso esportiva) mesmo quando o resultado (como negócio) parece positivo - aliás, só parece! Outro ponto que merece ser observado é a forma como as pessoas enxergavam James Galante - com um ar de "Pablo Escobar" e uma premissa de que os "meios", sim, justificam os fins! O fato é que "Untold: Crime e Infrações" impressiona muito mais pela história por trás do esporte do que em outros episódios da série, mas continua valendo muito a pena!

Assista Agora

Uma história completamente surreal! Talvez seja essa a melhor definição para "Crime e Infrações", mais um episódio do selo "Untold" para a Netflix. Como todos o outros capítulos analisados até aqui, o esporte emerge de uma situação atípica, porém, dessa vez, não parece tão preocupado em entender as diversas camadas dos seus protagonistas como em "Federer x Fish"ou "Briga na NBA", para justificar uma passagem, uma atitude ou uma decisão; muito pelo contrário, o tom investigativo cria um paralelo até mais próximo de "A Bad Boy Billionaires"ou "Mito e Magnata: John Delorean".

Imagine que um time de hóquei, do que seria para nós uma espécie de "segunda divisão", é comprado por um homem multimilionário, com fortes ligações com a máfia, e que passa a ser liderado por seu filho de 17 anos, que carrega a marca da rebeldia em sua postura, e por isso resolve priorizar jogadores tão violentos quanto talentosos, subvertendo o propósito do esporte e transformando a nova franquia em um grande sucesso de marketing, mesmo que pautado em um posicionamento, digamos, duvidoso: o de "bad boys". Confira o trailer (em inglês):

Mais uma vez dirigido pela dupla Chapman e Maclain Way, "Untold: Crime e Infrações" foi muito feliz em criar uma narrativa que mistura o esporte com uma investigação policial para decupar a história do Danbury Trashers. Danbury, para quem não sabe, é uma cidadezinha localizada no estado americano de Connecticut, no Condado de Fairfield, onde um empresario do setor de coleta de lixo, James Galante, construiu um verdadeiro império. A grande questão (e por isso a comparação com "A Bad Boy Billionaires") é entender por quais meios que essa ascensão financeira e social se estabeleceu. Por outro lado, imaginem para os moradores de Danbury o que representou ter um time de hóquei profissional na cidade. Será que eles estava preocupados em entender a origem do dinheiro de Galante? - uma comparação com o Bangu de Castor de Andrade, nem soa tão absurda assim.

Como já se tornou costume, a linha narrativa da série "Untold" se apropria de inúmeras imagens de arquivo e entrevistas com quem realmente esteve envolvido na história, provocando uma viagem ao passado para, de certa forma, reinterpretar algo que, nesse caso, nem pareceu tão absurdo assim. Esse é o charme do episódio e é incrível como a relação entre os personagens, toda uma comunidade e até pela forma como a cobertura esportiva foi feita, parecem não entender o impacto que escolhas de um jovem de 17 anos, A.J. Galante, poderiam ter em curtíssimo prazo - é tão surreal a jornada de sucesso dos Trashers, que temos a exata sensação de que aquele recorte da sociedade americana não tem a menor chance de dar certo.

Esse episódio não traz nomes relevantes do esporte, mas nem por isso deixa de ser um retrato de como o poder e o dinheiro podem impactar as pessoas, toda uma comunidade e até destruir a reputação de uma instituição (no caso esportiva) mesmo quando o resultado (como negócio) parece positivo - aliás, só parece! Outro ponto que merece ser observado é a forma como as pessoas enxergavam James Galante - com um ar de "Pablo Escobar" e uma premissa de que os "meios", sim, justificam os fins! O fato é que "Untold: Crime e Infrações" impressiona muito mais pela história por trás do esporte do que em outros episódios da série, mas continua valendo muito a pena!

Assista Agora