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The Idol

Depois de todas as polêmicas que envolveram a produção de "The Idol", é natural que a série, de fato, chame a atenção da audiência - e aqui, também é inegável, que a forma como a trama foi embalada (sim, estou falando das inúmeras cenas de sexo e nudez), ainda potencialize esse interesse. Passado os cinco episódios da primeira temporada, essa expectativa criada em cima da produção da HBO acabou fazendo com que a conta ficasse alta demais - principalmente para aqueles que já não estavam dispostos a embarcar no conceito escolhido por Sam Levinson e pelo Abel ‘The Weeknd’ Tesfaye para retratar uma "realidade" tão distante para meros mortais como nós. É notável a tentativa de seus criadores em tentar mostrar os bastidores da indústria da música e seus excessos como forma de liberdade criativa, no entanto, me parece, que faltou um pouco mais de cuidado e, principalmente, de planejamento para as peças se encaixarem. Ok, mas isso faz da série algo horrível? Para alguns sim, mas esse não é o nosso caso - pelo menos não em sua totalidade!

Na história, a jovem mega-estrela pop Jocelyn (Lily-Rose Depp) está disposta a tudo para alcançar um patamar nunca antes visto em uma celebridade. Após sofrer um colapso nervoso em sua última turnê graças a morte prematura de sua mãe, ela conhece Tedros (The Weeknd), o dono de uma boate da moda de L.A., que se torna seu guru e uma espécie de diretor criativo. Seguindo um caminho conturbado que envolve fama, dinheiro, sexo e segredos, a cantora passa a se relacionar mais intensamente com o empresário, cruzando todos os limites do bom senso, onde o preço a ser pago pode ser crucial para sua carreira. Confira o trailer:

Embora "The Idol" ensaie priorizar o valor da fama pela perspectiva de uma estrela em estado de vulnerabilidade como em "Um Lugar Qualquer" ou até como em "Nasce uma Estrela", o que realmente encontramos na tela é um recorte surreal de um roteiro sem a menor profundidade. Talvez se esses cinco episódios fizessem parte de uma primeira temporada com 12 episódios, nossa análise pudesse ser menos rígida, afinal, como prólogo, essa breve jornada poderia até servir para algo maior. Acontece que esse algo maior não chega em nenhum momento e por mais que visualmente a série tenha um certo requinte estético, seu recheio deixa um pouco a desejar - sobrevivendo por lapsos de criatividade que só nos provoca alguma curiosidade.

Veja, classificar "The Idol" como horrorosa me parece um pouco exagerado demais e vou usar uma referência para tentar estabelecer um padrão entre critica e falso moralismo: quando entendemos que o Hank Moody (David Duchovny) de "Californication", mesmo sendo um escritor famoso, tinha sua personalidade completamente autodestrutiva, que precisava lidar com sua "insegurança" através dos vícios e de seus relacionamentos passageiros, criando, inclusive, sérios problemas de bloqueio criativo; estávamos frente a frente com um drama (em tom cômico, é verdade) construído a partir de escolhas onde o protagonista perdia mais do que ganhava. Isso gerou criticas na época? Sim, mas que se dissiparam pela proposta do Tom Kapinos que passou a fazer sentido narrativamente com o passar dos episódios. Aqui, a Jocelyn de Levinson parece nunca perder, mesmo quando apenas o prazer parece motiva-la. Mas é óbvio que existem camadas extremamente ricas para o roteiro explorar a partir dessa relação entre o prazer imediato e as consequências dessa sua postura - o potencial da cruzada de Jocelyn é tão rica quanto de Moody e embora o tom seja completamente diferente, existe uma luz no fim do túnel. Só que parece não ter dado tempo dessa luz aparecer - resta saber se isso não é resultado de falta de competência.

Lily-Rose Depp briga por sua Jocelyn com garras e dentes. Ela mantém a mesma atmosfera de vulnerabilidade até quando precisa ser sexy e segura perante sua posição como estrela do showbiz - e isso merece elogios, mesmo tento muito que provar como atriz (e ter contracenado tanto com ‘The Weeknd’ também não ajudou, vamos combinar). Algumas críticas também apontaram que "The Idol" retrata as mulheres de forma objetificada e que o estilo de vida autodestrutivo da protagonista é explorado de maneira glamorizada, e eu até concordo em partes, mas se olharmos essas circunstâncias como gatilhos para conflitos dramáticos que podem ser melhor explorados, faz até sentido; o problema é que não sabemos se a série terá chance de provar que tudo fazia parte de algo maior.

Dê seu play por conta e risco, mas se você leu até aqui, existe uma boa chance de você gostar. 

Assista Agora

Depois de todas as polêmicas que envolveram a produção de "The Idol", é natural que a série, de fato, chame a atenção da audiência - e aqui, também é inegável, que a forma como a trama foi embalada (sim, estou falando das inúmeras cenas de sexo e nudez), ainda potencialize esse interesse. Passado os cinco episódios da primeira temporada, essa expectativa criada em cima da produção da HBO acabou fazendo com que a conta ficasse alta demais - principalmente para aqueles que já não estavam dispostos a embarcar no conceito escolhido por Sam Levinson e pelo Abel ‘The Weeknd’ Tesfaye para retratar uma "realidade" tão distante para meros mortais como nós. É notável a tentativa de seus criadores em tentar mostrar os bastidores da indústria da música e seus excessos como forma de liberdade criativa, no entanto, me parece, que faltou um pouco mais de cuidado e, principalmente, de planejamento para as peças se encaixarem. Ok, mas isso faz da série algo horrível? Para alguns sim, mas esse não é o nosso caso - pelo menos não em sua totalidade!

Na história, a jovem mega-estrela pop Jocelyn (Lily-Rose Depp) está disposta a tudo para alcançar um patamar nunca antes visto em uma celebridade. Após sofrer um colapso nervoso em sua última turnê graças a morte prematura de sua mãe, ela conhece Tedros (The Weeknd), o dono de uma boate da moda de L.A., que se torna seu guru e uma espécie de diretor criativo. Seguindo um caminho conturbado que envolve fama, dinheiro, sexo e segredos, a cantora passa a se relacionar mais intensamente com o empresário, cruzando todos os limites do bom senso, onde o preço a ser pago pode ser crucial para sua carreira. Confira o trailer:

Embora "The Idol" ensaie priorizar o valor da fama pela perspectiva de uma estrela em estado de vulnerabilidade como em "Um Lugar Qualquer" ou até como em "Nasce uma Estrela", o que realmente encontramos na tela é um recorte surreal de um roteiro sem a menor profundidade. Talvez se esses cinco episódios fizessem parte de uma primeira temporada com 12 episódios, nossa análise pudesse ser menos rígida, afinal, como prólogo, essa breve jornada poderia até servir para algo maior. Acontece que esse algo maior não chega em nenhum momento e por mais que visualmente a série tenha um certo requinte estético, seu recheio deixa um pouco a desejar - sobrevivendo por lapsos de criatividade que só nos provoca alguma curiosidade.

Veja, classificar "The Idol" como horrorosa me parece um pouco exagerado demais e vou usar uma referência para tentar estabelecer um padrão entre critica e falso moralismo: quando entendemos que o Hank Moody (David Duchovny) de "Californication", mesmo sendo um escritor famoso, tinha sua personalidade completamente autodestrutiva, que precisava lidar com sua "insegurança" através dos vícios e de seus relacionamentos passageiros, criando, inclusive, sérios problemas de bloqueio criativo; estávamos frente a frente com um drama (em tom cômico, é verdade) construído a partir de escolhas onde o protagonista perdia mais do que ganhava. Isso gerou criticas na época? Sim, mas que se dissiparam pela proposta do Tom Kapinos que passou a fazer sentido narrativamente com o passar dos episódios. Aqui, a Jocelyn de Levinson parece nunca perder, mesmo quando apenas o prazer parece motiva-la. Mas é óbvio que existem camadas extremamente ricas para o roteiro explorar a partir dessa relação entre o prazer imediato e as consequências dessa sua postura - o potencial da cruzada de Jocelyn é tão rica quanto de Moody e embora o tom seja completamente diferente, existe uma luz no fim do túnel. Só que parece não ter dado tempo dessa luz aparecer - resta saber se isso não é resultado de falta de competência.

Lily-Rose Depp briga por sua Jocelyn com garras e dentes. Ela mantém a mesma atmosfera de vulnerabilidade até quando precisa ser sexy e segura perante sua posição como estrela do showbiz - e isso merece elogios, mesmo tento muito que provar como atriz (e ter contracenado tanto com ‘The Weeknd’ também não ajudou, vamos combinar). Algumas críticas também apontaram que "The Idol" retrata as mulheres de forma objetificada e que o estilo de vida autodestrutivo da protagonista é explorado de maneira glamorizada, e eu até concordo em partes, mas se olharmos essas circunstâncias como gatilhos para conflitos dramáticos que podem ser melhor explorados, faz até sentido; o problema é que não sabemos se a série terá chance de provar que tudo fazia parte de algo maior.

Dê seu play por conta e risco, mas se você leu até aqui, existe uma boa chance de você gostar. 

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The Royal Hotel

Um barril de pólvora prestes a explodir - é essa a sensação que vai te acompanhar durante os 90 minutos de "The Royal Hotel". Como não poderia deixar de ser, o filme dirigido pela talentosa cineasta australiana Kitty Green, dividiu opiniões ao brincar com a percepção de perigo de forma homeopática. Green se apropria do mesmo conceito narrativo de seu filme anterior, "A Assistente", para provar novamente que muitas vezes o que fica subentendido tem muito mais força dramática do que se explorado visualmente - é impressionante como o domínio dessa gramática é capaz de gerar ansiedade, angustia e até medo, já que as situações que assistimos na tela, infelizmente, são mais "normais" do que podemos imaginar. Perturbador na sua essência, "The Royal Hotel" é na verdade um drama psicológico cheio de nuances sobre a que ponto a hostilidade masculina pode chegar e como o machismo tóxico em um ambiente inóspito e decadente pode ser perigoso.

Na trama acompanhamos duas mochileiras canadenses, Hanna (Julia Garnere) e Liv (Jessica Henwick), que aceitam um emprego no remoto pub Royal Hotel para ganhar um dinheiro extra e depois seguirem em uma viagem de intercâmbio pela Austrália. Quando o comportamento dos habitantes locais, em sua maioria formado por mineradores alcoólatras e violentos, começa a ultrapassar os limites, as meninas ficam presas em uma situação que rapidamente foge de seu controle. Confira o trailer (em inglês):

No roteiro escrito pela própria Green ao lado do novato Oscar Redding, a princípio, o The Royal Hotel parece ser apenas mais um bar decadente no interior árido de qualquer país. Obviamente que à medida que a noite avança, Hanna e Liv se veem cada vez mais cercada pelo perigo - que se estivéssemos falando de "Um Drink no Inverno" seriam vampiros sedentos por sangue, mas aqui não! Aqui é pior! O que as protagonistas precisam enfrentar amedronta pela proximidade com a realidade, o horror está nos olhares lascivos, nos comentários maldosos e no comportamento abusivo por parte dos homens que frequentam o local. Green sabe como o tema é sensível e com muita inteligência ela eleva o clima de tensão gradativamente, transformando o que poderia ser uma simples passagem em um pesadelo realmente claustrofóbico e sufocante.

Como um recorte visceral da cultura do machismo e da violência, Green tenta não levantar bandeiras, mas deixa claro que existe uma situação normalizada pela sociedade (e aqui incluo as próprias mulheres) que tende a ser cada vez mais perigosa. Utilizando enquadramentos belíssimos para criar uma atmosfera sufocante, a fotografia do Michael Latham (de "Pelé'") transforma os tons desérticos da natureza australiana em uma extensão decadente com uma temperatura infernal que pontua o comportamento dentro do pub. Eu diria que o trabalho de Latham é tão bem realizado que é possível sentir o calor, o cheiro do álcool e a textura dos móveis empoeirados que compõem aquele cenário. Outro ponto que merece sua atenção diz respeito ao trabalho de desenho de som e mixagem - é impressionante como tudo contribui para potencializar essa sensação constante de desconforto.

Tanto Julia Garner quanto Jessica Henwick estão impecáveis - elas conseguem transmitir com maestria o medo e a vulnerabilidade de suas personagens apenas com o olhar, com as pausas, com a respiração. Daniel Henshall (como Dolly) e Ursula Yovich (como Carol) também entregam performances sólidas e críveis - o primeiro captura a essência da brutalidade masculina e da misoginia enraizada na cultura local e a segunda, a desesperança, a introspecção e um estado de negação dos mais incômodos.

"The Royal Hotel" não é apenas um excelente drama psicológico, é também um estudo contundente da cultura do machismo e da violência contra a mulher. Kitty Green não se furta em mostrar a crueza da realidade enfrentada por muitas mulheres, especialmente em locais remotos e patriarcais - o que nos provoca boas reflexões sobre a objetificação do corpo feminino e os perigos da cultura do estupro. Desconfortável, o filme escolhe não impactar visualmente, no entanto tudo é tão bem construído tecnicamente e soa tão palpável que a urgência que encontramos na narrativa, de fato, vai dialogar com todos - não apenas aqueles(as) mais sensíveis ao tema.

Vale muito o seu play!

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Um barril de pólvora prestes a explodir - é essa a sensação que vai te acompanhar durante os 90 minutos de "The Royal Hotel". Como não poderia deixar de ser, o filme dirigido pela talentosa cineasta australiana Kitty Green, dividiu opiniões ao brincar com a percepção de perigo de forma homeopática. Green se apropria do mesmo conceito narrativo de seu filme anterior, "A Assistente", para provar novamente que muitas vezes o que fica subentendido tem muito mais força dramática do que se explorado visualmente - é impressionante como o domínio dessa gramática é capaz de gerar ansiedade, angustia e até medo, já que as situações que assistimos na tela, infelizmente, são mais "normais" do que podemos imaginar. Perturbador na sua essência, "The Royal Hotel" é na verdade um drama psicológico cheio de nuances sobre a que ponto a hostilidade masculina pode chegar e como o machismo tóxico em um ambiente inóspito e decadente pode ser perigoso.

Na trama acompanhamos duas mochileiras canadenses, Hanna (Julia Garnere) e Liv (Jessica Henwick), que aceitam um emprego no remoto pub Royal Hotel para ganhar um dinheiro extra e depois seguirem em uma viagem de intercâmbio pela Austrália. Quando o comportamento dos habitantes locais, em sua maioria formado por mineradores alcoólatras e violentos, começa a ultrapassar os limites, as meninas ficam presas em uma situação que rapidamente foge de seu controle. Confira o trailer (em inglês):

No roteiro escrito pela própria Green ao lado do novato Oscar Redding, a princípio, o The Royal Hotel parece ser apenas mais um bar decadente no interior árido de qualquer país. Obviamente que à medida que a noite avança, Hanna e Liv se veem cada vez mais cercada pelo perigo - que se estivéssemos falando de "Um Drink no Inverno" seriam vampiros sedentos por sangue, mas aqui não! Aqui é pior! O que as protagonistas precisam enfrentar amedronta pela proximidade com a realidade, o horror está nos olhares lascivos, nos comentários maldosos e no comportamento abusivo por parte dos homens que frequentam o local. Green sabe como o tema é sensível e com muita inteligência ela eleva o clima de tensão gradativamente, transformando o que poderia ser uma simples passagem em um pesadelo realmente claustrofóbico e sufocante.

Como um recorte visceral da cultura do machismo e da violência, Green tenta não levantar bandeiras, mas deixa claro que existe uma situação normalizada pela sociedade (e aqui incluo as próprias mulheres) que tende a ser cada vez mais perigosa. Utilizando enquadramentos belíssimos para criar uma atmosfera sufocante, a fotografia do Michael Latham (de "Pelé'") transforma os tons desérticos da natureza australiana em uma extensão decadente com uma temperatura infernal que pontua o comportamento dentro do pub. Eu diria que o trabalho de Latham é tão bem realizado que é possível sentir o calor, o cheiro do álcool e a textura dos móveis empoeirados que compõem aquele cenário. Outro ponto que merece sua atenção diz respeito ao trabalho de desenho de som e mixagem - é impressionante como tudo contribui para potencializar essa sensação constante de desconforto.

Tanto Julia Garner quanto Jessica Henwick estão impecáveis - elas conseguem transmitir com maestria o medo e a vulnerabilidade de suas personagens apenas com o olhar, com as pausas, com a respiração. Daniel Henshall (como Dolly) e Ursula Yovich (como Carol) também entregam performances sólidas e críveis - o primeiro captura a essência da brutalidade masculina e da misoginia enraizada na cultura local e a segunda, a desesperança, a introspecção e um estado de negação dos mais incômodos.

"The Royal Hotel" não é apenas um excelente drama psicológico, é também um estudo contundente da cultura do machismo e da violência contra a mulher. Kitty Green não se furta em mostrar a crueza da realidade enfrentada por muitas mulheres, especialmente em locais remotos e patriarcais - o que nos provoca boas reflexões sobre a objetificação do corpo feminino e os perigos da cultura do estupro. Desconfortável, o filme escolhe não impactar visualmente, no entanto tudo é tão bem construído tecnicamente e soa tão palpável que a urgência que encontramos na narrativa, de fato, vai dialogar com todos - não apenas aqueles(as) mais sensíveis ao tema.

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The Vow

Se você assistiu algum dos dois (razoavelmente) recentes documentários, "A Inventora: À Procura de Sangue no Vale do Silício" (HBO) e "Fyre" (Netflix), você já entendeu como a força de uma comunicação e do poder do convencimento podem influenciar uma pessoa (ou muitas), independente da capacidade de realização que o interlocutor possa ter. Em diferentes níveis, foi isso que Elizabeth Holmes da Theranos fez com seus investidores e Billy McFarland fez com todos que estavam envolvidos em seu Festival megalomaníaco! Pois bem, em "The Vow" surge um personagem raro, que consegue unir, com a mesma competência, a capacidade de comunicação com a de realização e ainda chancelado por um QI de 240 pontos: esse é o fundador da NXIVM, Keith Raniere.

"The Vow", documentário divido em 9 partes de 50 minutos, conta mais do que a história de Keith Raniere, criador de uma empresa de marketing multi-nível, que cresceu absurdamente nos Estados Unidos até ser fechada por sérios problemas trabalhistas. Aproveitando do seu comprovado discurso de convencimento, Keith criou a ESP (Executive Success Programs) um Programa de Sucesso Executivo focado no desenvolvimento pessoal. Seguindo o mesmo conceito de pirâmide, ele foi, pouco a pouco, transformando seus professores em aliciadores e seus alunos em uma espécie de seguidores de uma seita com atuações bastante questionáveis e que, posteriormente, acabou se transformando no principal motivo para uma dura jornada pessoal de ex-membros da organização para desmascarar seu fundador, que se auto-denominava "Vanguarda", e suas reais intenções com tudo isso! Confira o trailer:

A história por trás de "The Vow" chamou atenção da mídia internacional pelo fato da atriz Allison Mack, a Chloe Sullivan em "Smallville", ser uma das aliciadoras mais próxima de Keith Raniere, porém o comentário é muito feliz em dissecar a instituição pelos olhos de quem esteve lá, mas saiu por vontade própria ao perceber que algo estava muito errado. A jornada de três personagens bastante importantes na desconstrução dessa organização criminosa que se tornou a NXIVM, é o ponto de partida para uma história realmente impressionante. Sarah Edmonson, Bonnie Piesse e Mark Vicente, e um pouco mais a frente, Catherine Oxenberg, são acompanhados pela produção durante todos os episódios, contando suas histórias e tentando reverter uma situação que eles mesmos ajudaram a provocar, cada um em seu nível. Ao mesmo tempo vemos inúmeras imagens de arquivos, depoimentos, cenas do treinamento, entrevistas do próprio Keith e sua equipe, e até um encontro bastante impactante com o Dalai-lama.

O que mais me chamou a atenção foram os discursos de Keith: completamente coerentes, bem estruturados e de uma capacidade intelectual e de manipulação que em muitos momentos me fizeram questionar se, em algum momento da vida, eu também não seria uma potencial vítima - tenho certeza que você fará esse mesmo questionamento e talvez por isso, esse sentimento gere tanta vergonha e arrependimento nos protagonistas.

Dê o play sem o menor receio!

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Se você assistiu algum dos dois (razoavelmente) recentes documentários, "A Inventora: À Procura de Sangue no Vale do Silício" (HBO) e "Fyre" (Netflix), você já entendeu como a força de uma comunicação e do poder do convencimento podem influenciar uma pessoa (ou muitas), independente da capacidade de realização que o interlocutor possa ter. Em diferentes níveis, foi isso que Elizabeth Holmes da Theranos fez com seus investidores e Billy McFarland fez com todos que estavam envolvidos em seu Festival megalomaníaco! Pois bem, em "The Vow" surge um personagem raro, que consegue unir, com a mesma competência, a capacidade de comunicação com a de realização e ainda chancelado por um QI de 240 pontos: esse é o fundador da NXIVM, Keith Raniere.

"The Vow", documentário divido em 9 partes de 50 minutos, conta mais do que a história de Keith Raniere, criador de uma empresa de marketing multi-nível, que cresceu absurdamente nos Estados Unidos até ser fechada por sérios problemas trabalhistas. Aproveitando do seu comprovado discurso de convencimento, Keith criou a ESP (Executive Success Programs) um Programa de Sucesso Executivo focado no desenvolvimento pessoal. Seguindo o mesmo conceito de pirâmide, ele foi, pouco a pouco, transformando seus professores em aliciadores e seus alunos em uma espécie de seguidores de uma seita com atuações bastante questionáveis e que, posteriormente, acabou se transformando no principal motivo para uma dura jornada pessoal de ex-membros da organização para desmascarar seu fundador, que se auto-denominava "Vanguarda", e suas reais intenções com tudo isso! Confira o trailer:

A história por trás de "The Vow" chamou atenção da mídia internacional pelo fato da atriz Allison Mack, a Chloe Sullivan em "Smallville", ser uma das aliciadoras mais próxima de Keith Raniere, porém o comentário é muito feliz em dissecar a instituição pelos olhos de quem esteve lá, mas saiu por vontade própria ao perceber que algo estava muito errado. A jornada de três personagens bastante importantes na desconstrução dessa organização criminosa que se tornou a NXIVM, é o ponto de partida para uma história realmente impressionante. Sarah Edmonson, Bonnie Piesse e Mark Vicente, e um pouco mais a frente, Catherine Oxenberg, são acompanhados pela produção durante todos os episódios, contando suas histórias e tentando reverter uma situação que eles mesmos ajudaram a provocar, cada um em seu nível. Ao mesmo tempo vemos inúmeras imagens de arquivos, depoimentos, cenas do treinamento, entrevistas do próprio Keith e sua equipe, e até um encontro bastante impactante com o Dalai-lama.

O que mais me chamou a atenção foram os discursos de Keith: completamente coerentes, bem estruturados e de uma capacidade intelectual e de manipulação que em muitos momentos me fizeram questionar se, em algum momento da vida, eu também não seria uma potencial vítima - tenho certeza que você fará esse mesmo questionamento e talvez por isso, esse sentimento gere tanta vergonha e arrependimento nos protagonistas.

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Top Model

"Top Model" (ou "The Model") é um filme dinamarquês de 2016 pouco original, mas não digo isso com demérito e sim com certa preocupação. É mais uma história sobre o universo predatório da moda que serve de aviso para milhões de adolescentes que sonham em sair de uma cidade pequena e estampar as mais cobiçadas capas de revistas e desfilar para as mais importantes grifes - o diferencial aqui, é justamente a forma realista e provocadora como o diretor Mads Matthiesen (de "Equinox") retrata essa atmosfera tentadora e pouco ficcional.

Emma (Maria Palm) é uma modelo emergente no meio artístico que está lutando para conseguir um espaço no cenário da moda parisiense depois de sair de uma pequena cidade do interior da Dinamarca. Em meio a sua batalha por espaço, ela desenvolve uma certa obsessão por um famoso fotógrafo de moda, Shane White (Ed Skrein), depois que uma rápida relação se estabelece entre os dois. Confira o trailer:

Talvez o ponto a ser observado de imediato, são os sinais de uma jornada que parece tão comum à tantas modelos em inicio de carreira. Obviamente sem generalizar e respeitando inúmeros profissionais que transitam nesse universo, é mais uma história que se encaixa na receita de um estereótipo criado depois de inúmeras repetições: a rotina de uma jovem, no caso dinamarquesa, que se aventura em Paris, sob a desconfiança da sua família pouco presente e da crença de um namorado de colégio, a quem promete amor eterno.  Porém, o amor é frágil demais diante da possibilidade de tantas realizações de uma profissão tão glamorosa - e Matthiesen equilibra perfeitamente o perrengue do dia a dia com as oportunidades sociais que a profissão facilmente impõe.

O contraste entre a Dinamarca, e a história construída por lá e que fica para trás rapidamente, e a Paris que surge iluminada como a oportunidade de uma vida, fazem com que os enquadramentos retratem exatamente essa dicotomia - reparem como o filme trabalha a beleza do silêncio em planos da cidade como se estivessem nos preparando para o caos que o dia vai se tornar, se estendendo até a altas horas da noite, afinal estamos falando da "metrópole da moda". Esse e outros detalhes que podem passar despercebidos, criam inúmeras camadas na personagem Emma - aliás, a atriz que interpreta a protagonista, Maria Palm, é modelo profissional e se aproveita perfeitamente da familiaridade com o universo da profissão para representar algum encantamento dentro do competitivo, mas deslumbrante, mundo da moda pelos olhos de quem sonhou mais do que viveu. Ela merece nosso elogio, pela neutralidade e ao mesmo tempo pela profundidade com que interioriza tantos sentimentos, tão comuns para a idade (ela tem 16 anos na história).

"Top Model" é mais provocador do que surpreendente. Tudo é muito claro e vai se encaixando quase que automaticamente sem a menor intenção de criar um plot twist matador (desculpem o trocadilho). Sua dinâmica é bem construída e nos leva para dentro de uma jovem em transformação e sem a menor capacidade intelectual de sobreviver a tantos predadores - sucesso, homens, oportunidades, mulheres, dinheiro, competição! Filme vencedor Göteborg Film Festival em 2016, com uma levada conceitual bem independente, mas fácil de acompanhar e de se entreter! 

Pode te surpreender!

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"Top Model" (ou "The Model") é um filme dinamarquês de 2016 pouco original, mas não digo isso com demérito e sim com certa preocupação. É mais uma história sobre o universo predatório da moda que serve de aviso para milhões de adolescentes que sonham em sair de uma cidade pequena e estampar as mais cobiçadas capas de revistas e desfilar para as mais importantes grifes - o diferencial aqui, é justamente a forma realista e provocadora como o diretor Mads Matthiesen (de "Equinox") retrata essa atmosfera tentadora e pouco ficcional.

Emma (Maria Palm) é uma modelo emergente no meio artístico que está lutando para conseguir um espaço no cenário da moda parisiense depois de sair de uma pequena cidade do interior da Dinamarca. Em meio a sua batalha por espaço, ela desenvolve uma certa obsessão por um famoso fotógrafo de moda, Shane White (Ed Skrein), depois que uma rápida relação se estabelece entre os dois. Confira o trailer:

Talvez o ponto a ser observado de imediato, são os sinais de uma jornada que parece tão comum à tantas modelos em inicio de carreira. Obviamente sem generalizar e respeitando inúmeros profissionais que transitam nesse universo, é mais uma história que se encaixa na receita de um estereótipo criado depois de inúmeras repetições: a rotina de uma jovem, no caso dinamarquesa, que se aventura em Paris, sob a desconfiança da sua família pouco presente e da crença de um namorado de colégio, a quem promete amor eterno.  Porém, o amor é frágil demais diante da possibilidade de tantas realizações de uma profissão tão glamorosa - e Matthiesen equilibra perfeitamente o perrengue do dia a dia com as oportunidades sociais que a profissão facilmente impõe.

O contraste entre a Dinamarca, e a história construída por lá e que fica para trás rapidamente, e a Paris que surge iluminada como a oportunidade de uma vida, fazem com que os enquadramentos retratem exatamente essa dicotomia - reparem como o filme trabalha a beleza do silêncio em planos da cidade como se estivessem nos preparando para o caos que o dia vai se tornar, se estendendo até a altas horas da noite, afinal estamos falando da "metrópole da moda". Esse e outros detalhes que podem passar despercebidos, criam inúmeras camadas na personagem Emma - aliás, a atriz que interpreta a protagonista, Maria Palm, é modelo profissional e se aproveita perfeitamente da familiaridade com o universo da profissão para representar algum encantamento dentro do competitivo, mas deslumbrante, mundo da moda pelos olhos de quem sonhou mais do que viveu. Ela merece nosso elogio, pela neutralidade e ao mesmo tempo pela profundidade com que interioriza tantos sentimentos, tão comuns para a idade (ela tem 16 anos na história).

"Top Model" é mais provocador do que surpreendente. Tudo é muito claro e vai se encaixando quase que automaticamente sem a menor intenção de criar um plot twist matador (desculpem o trocadilho). Sua dinâmica é bem construída e nos leva para dentro de uma jovem em transformação e sem a menor capacidade intelectual de sobreviver a tantos predadores - sucesso, homens, oportunidades, mulheres, dinheiro, competição! Filme vencedor Göteborg Film Festival em 2016, com uma levada conceitual bem independente, mas fácil de acompanhar e de se entreter! 

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Um Instante de Amor

Um Instante de Amor

"Um Instante de Amor" é um filmaço, mas atenção: ele é um típico drama independente francês, ou seja, sua cadência narrativa é bastante complexa, existe uma certa poesia nos movimentos de câmera e uma tridimensionalidade absurda no desenvolvimento dos personagens. Resumindo, ele é um filme para quem gosta de fugir do óbvio e para quem se permite embarcar em uma imersão emocional mais elaborada e sensível. O filme dirigido pela talentosa Nicole Garcia (quatro vezes indicada à Palme d'Or em Cannes - a última com esse filme) é uma delicada exploração da alma humana, embalada por performances envolventes e por uma abordagem sensível sobre as complexidades da paixão, dos anseios reprimidos e dos desafios psicológicos na Europa dos anos 50.

Gabrielle (Marion Cotillard) é uma mulher bela e solitária que não sabe lidar muito bem com seus impulsos sexuais. Preocupada com a sanidade mental da filha, cada vez mais perturbada, sua mãe arma um casamento com o pedreiro José (Alex Brendemühl). Após sofrer um aborto e descobrir que tem problemas renais, Gabrielle vai se tratar durante algumas semanas em uma clínica particular, onde encontra a paixão, que jamais teve pelo marido, em um tenente à beira da morte (Louis Garrel). Confira o trailer:

Baseado na obra da italiana Milena Agus, "Um Instante de Amor" seria um presente para qualquer atriz. No caso, a essência da obra cobra do filme uma performance arrebatadora - que Marion Cotillard supre com muita competência. Sua entrega emocional é notável, nos permitindo compartilhar suas angústias e paixões de uma maneira extremamente visceral. É impressionante como Cotillard mergulha na complexidade da personagem, capturando os altos e baixos de seus sentimentos de uma forma, ao mesmo tempo, crua e delicada. Sua presença magnética em cena dá o tom do roteiro escrito pelo Jacques Fieschi (de "Ilusões Perdidas" e "La Californie") a partir de um texto cheio de metáforas e referências clínicas - a doença renal de Gabrielle, por exemplo, parte do seu desejo encarcerado dentro de um conceito muito bem definido pela medicina grega onde órgãos específicos adoeciam como causa e consequência de determinadas emoções em desequilíbrio. 

Nicole Garcia, que também colaborou no roteiro ao lado de Natalie Carter (de "Um Segredo Em Família"), demonstra uma enorme capacidade técnica ao construir um universo visual que enriquece a narrativa através de gatilhos emocionais. Inclusive, a fotografia do Christophe Beaucarne (de "Coco antes de Chanel") exerce um papel crucial aqui, já que ela captura toda a atmosfera da França/Suíça do pós-guerra de maneira autêntica, com cenários rurais pitorescos e paisagens campestres belíssimas. O uso habilidoso de tons e texturas realça ainda mais as transformações íntimas da protagonista, enquanto a trilha sonora pontua cada momento crucial, aprofundando a conexão emocional com a história.

Veja, "Um Instante de Amor" não apenas nos envolve em uma história de amor, mas também mergulha na exploração da sexualidade e da autodescoberta. A diretora explora com sensibilidade a jornada de Gabrielle para compreender seus próprios desejos e identidade, rompendo com as expectativas sociais e as amarras da época. Essa abordagem corajosa adiciona camadas de profundidade à narrativa que ganham um valor inestimável no terceiro ato com uma resolução tão surpreendente quanto transformadora. Eu diria que Garcia foi capaz de criar, com invejável sabedoria, uma experiência única que merece todos os elogios!

Vale muito!

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"Um Instante de Amor" é um filmaço, mas atenção: ele é um típico drama independente francês, ou seja, sua cadência narrativa é bastante complexa, existe uma certa poesia nos movimentos de câmera e uma tridimensionalidade absurda no desenvolvimento dos personagens. Resumindo, ele é um filme para quem gosta de fugir do óbvio e para quem se permite embarcar em uma imersão emocional mais elaborada e sensível. O filme dirigido pela talentosa Nicole Garcia (quatro vezes indicada à Palme d'Or em Cannes - a última com esse filme) é uma delicada exploração da alma humana, embalada por performances envolventes e por uma abordagem sensível sobre as complexidades da paixão, dos anseios reprimidos e dos desafios psicológicos na Europa dos anos 50.

Gabrielle (Marion Cotillard) é uma mulher bela e solitária que não sabe lidar muito bem com seus impulsos sexuais. Preocupada com a sanidade mental da filha, cada vez mais perturbada, sua mãe arma um casamento com o pedreiro José (Alex Brendemühl). Após sofrer um aborto e descobrir que tem problemas renais, Gabrielle vai se tratar durante algumas semanas em uma clínica particular, onde encontra a paixão, que jamais teve pelo marido, em um tenente à beira da morte (Louis Garrel). Confira o trailer:

Baseado na obra da italiana Milena Agus, "Um Instante de Amor" seria um presente para qualquer atriz. No caso, a essência da obra cobra do filme uma performance arrebatadora - que Marion Cotillard supre com muita competência. Sua entrega emocional é notável, nos permitindo compartilhar suas angústias e paixões de uma maneira extremamente visceral. É impressionante como Cotillard mergulha na complexidade da personagem, capturando os altos e baixos de seus sentimentos de uma forma, ao mesmo tempo, crua e delicada. Sua presença magnética em cena dá o tom do roteiro escrito pelo Jacques Fieschi (de "Ilusões Perdidas" e "La Californie") a partir de um texto cheio de metáforas e referências clínicas - a doença renal de Gabrielle, por exemplo, parte do seu desejo encarcerado dentro de um conceito muito bem definido pela medicina grega onde órgãos específicos adoeciam como causa e consequência de determinadas emoções em desequilíbrio. 

Nicole Garcia, que também colaborou no roteiro ao lado de Natalie Carter (de "Um Segredo Em Família"), demonstra uma enorme capacidade técnica ao construir um universo visual que enriquece a narrativa através de gatilhos emocionais. Inclusive, a fotografia do Christophe Beaucarne (de "Coco antes de Chanel") exerce um papel crucial aqui, já que ela captura toda a atmosfera da França/Suíça do pós-guerra de maneira autêntica, com cenários rurais pitorescos e paisagens campestres belíssimas. O uso habilidoso de tons e texturas realça ainda mais as transformações íntimas da protagonista, enquanto a trilha sonora pontua cada momento crucial, aprofundando a conexão emocional com a história.

Veja, "Um Instante de Amor" não apenas nos envolve em uma história de amor, mas também mergulha na exploração da sexualidade e da autodescoberta. A diretora explora com sensibilidade a jornada de Gabrielle para compreender seus próprios desejos e identidade, rompendo com as expectativas sociais e as amarras da época. Essa abordagem corajosa adiciona camadas de profundidade à narrativa que ganham um valor inestimável no terceiro ato com uma resolução tão surpreendente quanto transformadora. Eu diria que Garcia foi capaz de criar, com invejável sabedoria, uma experiência única que merece todos os elogios!

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