Antes de mais nada é preciso alinhar as expectativas, já que "Holy Spider" pode ser entendido de duas formas: uma pela perspectiva mais sócio-cultural e religiosa do cinema independente iraniano e outra pelo olhar mais investigativo do entretenimento nórdico. Pois bem, se analisarmos o filme mais superficialmente, eu diria que essa produção dinamarquesa dirigida pelo iraniano Ali Abbasi (de "Border"), é apenas um mediado (para bom) thriller policial. Então não caia nessa armadilha, pois essa atmosfera "serial killer" é apenas o pano de fundo para discutir camadas muito mais delicadas sobre a relação visceral entre o ser humano extremista e a violência misógina do Irã. Um dos lançamentos mais comentados de 2022, dividindo opiniões e gerando debates acalorados, "Holy Spider" chega chancelado por mais de 20 prêmios em festivais ao redor do planeta incluindo o de Melhor Atriz no Festival de Cannes para Zar Amir Ebrahimi.
A trama acompanha a saga da destemida jornalista Arezoo Rahimi (Amir-Ebrahimi), que se infiltra no submundo da cidade sagrada de Mashhad, no Irã, em busca de um serial killer que aterroriza a comunidade: o "Aranha Assassina". Motivado por crenças religiosas distorcidas e sexistas, ele se autoproclama o purificador da cidade, exterminando prostitutas que considera "impuras". Confira o trailer (com legendas em inglês):
Impactante no seu conteúdo e provocar na forma como esse conteúdo é apresentado, Abbasi merece todos os elogios por nos entregar um retrato cru e sem concessões sobre a realidade iraniana, onde a misoginia está enraizada na cultura e na religião. Embora em um primeiro olhar "Holy Spider" pareça focar na investigação de Rahimi, o roteiro do próprio diretor com o estreante Afshin Kamran Bahrami, sai do óbvio ao colocar a jornalista em uma verdadeira rota de colisão com as autoridades corruptas e os homens misóginos que defendem os atos do assassino. Se a cada passo, Rahimi enfrenta os perigos e os obstáculos de uma mulher, solteira, jornalista e forasteira, tentando entender a razão da polícia local não estar dando atenção aos crimes, seu impulso, sem dúvida, está na razão pela qual essa busca por justiça acontece: é preciso dar voz às mulheres silenciadas pela violência.
O diretor constrói uma atmosfera claustrofóbica e sufocante, utilizando planos fechados e uma paleta de cores sombrias que refletem a opressão e a violência presentes na história. Esse estilo de fotografia do dinamarquês Nadim Carlsen nos remete aos excelentes policiais nórdicos - aqui sem o azul gélido, mas com o verde e o marrom das paisagens de Mashhad totalmente alinhados ao conceito mais documental de Abbasi. Ele usa muito da câmera solta para trazer veracidade para a narrativa e valorizar a história que é baseada em fatos reais. As performances dos atores são igualmente competentes, com destaque para Zar Amir-Ebrahimi, que entrega uma jornada comovente como Rahimi.
"Holy Spider" é realmente um filme mais difícil, que vai exigir um olhar mais holístico sobre a trama e por se tratar de uma forte crítica social, profunda e contundente, que expõe a hipocrisia e a brutalidade de um sistema patriarcal que oprime e silencia as mulheres iranianas. É um filme que choca e que revolta, mas que também nos convida para uma reflexão importante sobre a força e a resiliência das mulheres em sua luta por justiça e liberdade. Então se você busca uma experiência cinematográfica perturbadora e ao mesmo tempo instigante, que te fará questionar as estruturas de poder e as raízes da violência contra as mulheres, "Holy Spider" é um filme imperdível - especialmente por um terceiro ato digno de muitos prêmios.
Prepare-se para ser confrontado com realidades duras e incômodas, mas também com a força e a bravura de uma mulher que luta por um mundo mais justo. Pode dar o play!
Antes de mais nada é preciso alinhar as expectativas, já que "Holy Spider" pode ser entendido de duas formas: uma pela perspectiva mais sócio-cultural e religiosa do cinema independente iraniano e outra pelo olhar mais investigativo do entretenimento nórdico. Pois bem, se analisarmos o filme mais superficialmente, eu diria que essa produção dinamarquesa dirigida pelo iraniano Ali Abbasi (de "Border"), é apenas um mediado (para bom) thriller policial. Então não caia nessa armadilha, pois essa atmosfera "serial killer" é apenas o pano de fundo para discutir camadas muito mais delicadas sobre a relação visceral entre o ser humano extremista e a violência misógina do Irã. Um dos lançamentos mais comentados de 2022, dividindo opiniões e gerando debates acalorados, "Holy Spider" chega chancelado por mais de 20 prêmios em festivais ao redor do planeta incluindo o de Melhor Atriz no Festival de Cannes para Zar Amir Ebrahimi.
A trama acompanha a saga da destemida jornalista Arezoo Rahimi (Amir-Ebrahimi), que se infiltra no submundo da cidade sagrada de Mashhad, no Irã, em busca de um serial killer que aterroriza a comunidade: o "Aranha Assassina". Motivado por crenças religiosas distorcidas e sexistas, ele se autoproclama o purificador da cidade, exterminando prostitutas que considera "impuras". Confira o trailer (com legendas em inglês):
Impactante no seu conteúdo e provocar na forma como esse conteúdo é apresentado, Abbasi merece todos os elogios por nos entregar um retrato cru e sem concessões sobre a realidade iraniana, onde a misoginia está enraizada na cultura e na religião. Embora em um primeiro olhar "Holy Spider" pareça focar na investigação de Rahimi, o roteiro do próprio diretor com o estreante Afshin Kamran Bahrami, sai do óbvio ao colocar a jornalista em uma verdadeira rota de colisão com as autoridades corruptas e os homens misóginos que defendem os atos do assassino. Se a cada passo, Rahimi enfrenta os perigos e os obstáculos de uma mulher, solteira, jornalista e forasteira, tentando entender a razão da polícia local não estar dando atenção aos crimes, seu impulso, sem dúvida, está na razão pela qual essa busca por justiça acontece: é preciso dar voz às mulheres silenciadas pela violência.
O diretor constrói uma atmosfera claustrofóbica e sufocante, utilizando planos fechados e uma paleta de cores sombrias que refletem a opressão e a violência presentes na história. Esse estilo de fotografia do dinamarquês Nadim Carlsen nos remete aos excelentes policiais nórdicos - aqui sem o azul gélido, mas com o verde e o marrom das paisagens de Mashhad totalmente alinhados ao conceito mais documental de Abbasi. Ele usa muito da câmera solta para trazer veracidade para a narrativa e valorizar a história que é baseada em fatos reais. As performances dos atores são igualmente competentes, com destaque para Zar Amir-Ebrahimi, que entrega uma jornada comovente como Rahimi.
"Holy Spider" é realmente um filme mais difícil, que vai exigir um olhar mais holístico sobre a trama e por se tratar de uma forte crítica social, profunda e contundente, que expõe a hipocrisia e a brutalidade de um sistema patriarcal que oprime e silencia as mulheres iranianas. É um filme que choca e que revolta, mas que também nos convida para uma reflexão importante sobre a força e a resiliência das mulheres em sua luta por justiça e liberdade. Então se você busca uma experiência cinematográfica perturbadora e ao mesmo tempo instigante, que te fará questionar as estruturas de poder e as raízes da violência contra as mulheres, "Holy Spider" é um filme imperdível - especialmente por um terceiro ato digno de muitos prêmios.
Prepare-se para ser confrontado com realidades duras e incômodas, mas também com a força e a bravura de uma mulher que luta por um mundo mais justo. Pode dar o play!
"Inacreditável" é o tipo de história que só te surpreende com o passar dos episódios, então, se você for assistir, sugiro que você leia todo esse review antes para entender como funciona a estrutura da minissérie.
Com 8 episódios de 45 minutos de média, "Inacreditável" pode não agradar logo de cara, até porque a estratégia de lançamento não foi, na verdade, 100% honesta! A Netflix apresentou o projeto como uma minissérie que acompanharia a história de uma jovem chamada Marie Adler (Kaitlyn Dever) que, ao relatar um suposto estupro, é desacreditada pela polícia de seu estado, gerando uma série de complicações na sua vida por muito tempo. De fato essa trama está em "Inacreditável", mas ela é só o ponto de partida para um arco muito maior: o trabalho de investigação das detetives Karen Duvall (Merritt Wever) e Grace Rasmussen (Toni Collette) para encontrar um estuprador serial! Na realidade, são duas linhas temporais distintas, uma em 2008, mostrando o reflexo das escolhas de Adler após seus depoimentos para a polícia e outra em 2011, acompanhando o complicado trabalho de duas detetives de regiões diferentes, caçando o mesmo criminoso.
É preciso dizer que, à partir do momento que você entende o conceito narrativo da série, tudo se encaixa e a experiência melhora muito, mas isso não é imediato - eu diria que durante o terceiro episódio, a estrutura vai ficando mais clara e a história começa a fazer mais sentido e é aí que vem aquela ótima sensação de que valeu muito a pena ter dado o play!
Baseada na reportagem “An unbelivable story of rape” (Uma inacreditável história de estupro), escrita por T. Christian Miller e Ken Armstrong em 2015 - que inclusive lhes rendeu prêmio Pulitzer - o roteiro de "Inacreditável" acaba sendo muito inteligente em separar as histórias em duas linhas temporais distintas que se unem no final (isso não é spoiler, isso é óbvio). Em 2008, ficamos com o caso "mal contado" de Marie - e realmente é difícil cravar o que realmente aconteceu com ela. Mas isso não importa, porque o foco dessa linha é mostrar os reflexos que o frágil sistema policial (e jurídico) dos EUA, podem causar em pessoas que sofrem estupro. Quando Marie é forçada a contar sua experiência várias vezes, para diferentes detetives, que a cada versão vão ficando mais hostis, céticos e menos inclinados a acreditar nela, ela resolve assumir que inventou a história com medo do que poderia acontecer caso nada fosse comprovado. Ela inventou mesmo ou foi realmente atacada? - o grande valor do roteiro é brincar com nossa imaginação e nos forçar ao julgamento, então se permita. O fato é que depois disso as coisas só pioram para ela, provocando sensações muito parecidas com as que sentimos assistindo "Olhos que condenam"! Paralelamente, já três anos mais tarde (é preciso ficar atento nas legendas), somos apresentados à duas investigadoras que não se conhecem por trabalhar em delegacias diferentes, mas que investigam crimes muito semelhantes de estupro, e que nos fazem lembrar do depoimento de Marie. Essa linha trás elementos de gênero policial muito mais próximos de "Manhunt: Unabomber" por exemplo. É de se elogiar a química entre as duas protagonistas femininas da minissérie: a investigadora Duvall é mais reservada e calculista, enquanto a experiente Rasmussen é uma bomba relógio de emoções.
Admito que, para mim, 6 episódios seriam capazes de contar a mesma história sem tanta enrolação, mas é justificável quando o maior objetivo de uma série policial é criar a tensão até se descobrir quem é o criminoso - e aqui dou mais um ponto para o roteiro: ele não rouba no jogo! A sequência de fatos é coerente, real e angustiante, apresenta possibilidades, mas também as descarta rapidamente sem causar nenhum ruído na história - tudo fica redondo, mesmo quando o plot principal parece escapar. O fato de ser basado em fatos reais ajuda muito nesse desenvolvimento e os roteiristas foram inteligentes em usar essas "derrapadas" à favor da trama.
"Inacreditável" não é uma história fácil e imagino que deve ter um peso ainda maior para as mulheres, pois a violência é velada e as vítimas são pessoas comuns da comunidade - sem nenhum tipo de estereótipo! Dói como ser humano, claro, mas ao olhar para lado e ver sua filha brincando vem um sentimento ainda mais forte. É revoltante como a sociedade (no geral) lida com o assunto e quem sofre acaba sendo a que mais é questionada. É a que tem que provar, é a que precisa ser coerente no discurso mesmo estando destroçada por dentro... olha, é preciso ter estômago! Mais dois destaques antes de finalizar: Kaitlyn Dever, como Marie acertou no tom, na forma, no silêncio - ela sofre com os olhos, é possível sentir sua dor! E os episódios 5 e 7 merecem atenção, eles valem a minissérie - ótimos diálogos e interpretações dignas de prêmio! Não perca tempo... play!!!!
"Inacreditável" é o tipo de história que só te surpreende com o passar dos episódios, então, se você for assistir, sugiro que você leia todo esse review antes para entender como funciona a estrutura da minissérie.
Com 8 episódios de 45 minutos de média, "Inacreditável" pode não agradar logo de cara, até porque a estratégia de lançamento não foi, na verdade, 100% honesta! A Netflix apresentou o projeto como uma minissérie que acompanharia a história de uma jovem chamada Marie Adler (Kaitlyn Dever) que, ao relatar um suposto estupro, é desacreditada pela polícia de seu estado, gerando uma série de complicações na sua vida por muito tempo. De fato essa trama está em "Inacreditável", mas ela é só o ponto de partida para um arco muito maior: o trabalho de investigação das detetives Karen Duvall (Merritt Wever) e Grace Rasmussen (Toni Collette) para encontrar um estuprador serial! Na realidade, são duas linhas temporais distintas, uma em 2008, mostrando o reflexo das escolhas de Adler após seus depoimentos para a polícia e outra em 2011, acompanhando o complicado trabalho de duas detetives de regiões diferentes, caçando o mesmo criminoso.
É preciso dizer que, à partir do momento que você entende o conceito narrativo da série, tudo se encaixa e a experiência melhora muito, mas isso não é imediato - eu diria que durante o terceiro episódio, a estrutura vai ficando mais clara e a história começa a fazer mais sentido e é aí que vem aquela ótima sensação de que valeu muito a pena ter dado o play!
Baseada na reportagem “An unbelivable story of rape” (Uma inacreditável história de estupro), escrita por T. Christian Miller e Ken Armstrong em 2015 - que inclusive lhes rendeu prêmio Pulitzer - o roteiro de "Inacreditável" acaba sendo muito inteligente em separar as histórias em duas linhas temporais distintas que se unem no final (isso não é spoiler, isso é óbvio). Em 2008, ficamos com o caso "mal contado" de Marie - e realmente é difícil cravar o que realmente aconteceu com ela. Mas isso não importa, porque o foco dessa linha é mostrar os reflexos que o frágil sistema policial (e jurídico) dos EUA, podem causar em pessoas que sofrem estupro. Quando Marie é forçada a contar sua experiência várias vezes, para diferentes detetives, que a cada versão vão ficando mais hostis, céticos e menos inclinados a acreditar nela, ela resolve assumir que inventou a história com medo do que poderia acontecer caso nada fosse comprovado. Ela inventou mesmo ou foi realmente atacada? - o grande valor do roteiro é brincar com nossa imaginação e nos forçar ao julgamento, então se permita. O fato é que depois disso as coisas só pioram para ela, provocando sensações muito parecidas com as que sentimos assistindo "Olhos que condenam"! Paralelamente, já três anos mais tarde (é preciso ficar atento nas legendas), somos apresentados à duas investigadoras que não se conhecem por trabalhar em delegacias diferentes, mas que investigam crimes muito semelhantes de estupro, e que nos fazem lembrar do depoimento de Marie. Essa linha trás elementos de gênero policial muito mais próximos de "Manhunt: Unabomber" por exemplo. É de se elogiar a química entre as duas protagonistas femininas da minissérie: a investigadora Duvall é mais reservada e calculista, enquanto a experiente Rasmussen é uma bomba relógio de emoções.
Admito que, para mim, 6 episódios seriam capazes de contar a mesma história sem tanta enrolação, mas é justificável quando o maior objetivo de uma série policial é criar a tensão até se descobrir quem é o criminoso - e aqui dou mais um ponto para o roteiro: ele não rouba no jogo! A sequência de fatos é coerente, real e angustiante, apresenta possibilidades, mas também as descarta rapidamente sem causar nenhum ruído na história - tudo fica redondo, mesmo quando o plot principal parece escapar. O fato de ser basado em fatos reais ajuda muito nesse desenvolvimento e os roteiristas foram inteligentes em usar essas "derrapadas" à favor da trama.
"Inacreditável" não é uma história fácil e imagino que deve ter um peso ainda maior para as mulheres, pois a violência é velada e as vítimas são pessoas comuns da comunidade - sem nenhum tipo de estereótipo! Dói como ser humano, claro, mas ao olhar para lado e ver sua filha brincando vem um sentimento ainda mais forte. É revoltante como a sociedade (no geral) lida com o assunto e quem sofre acaba sendo a que mais é questionada. É a que tem que provar, é a que precisa ser coerente no discurso mesmo estando destroçada por dentro... olha, é preciso ter estômago! Mais dois destaques antes de finalizar: Kaitlyn Dever, como Marie acertou no tom, na forma, no silêncio - ela sofre com os olhos, é possível sentir sua dor! E os episódios 5 e 7 merecem atenção, eles valem a minissérie - ótimos diálogos e interpretações dignas de prêmio! Não perca tempo... play!!!!
Finalmente consegui assistir "Marcella" na Netflix. Olha, só o fato de ter sido criada pelo sueco Hans Rosenfeldt, o mesmo de "Bron/Broen", já faz valer a pena a maratona. E falo de maratona de cara porque realmente não dá para para de assistir. Seguindo a mesma linha "The Fall" ou até "The Killing": uma detetive cheia de problemas pessoais tem que desvendar uma série de assassinatos em Londres.
Basicamente, a série acompanha Marcella Backland (Anna Friel) depois que foi surpreendida quando seu marido Jason (Nicholas Pinnock) pediu a separação inesperadamente, confessando que não a amava mais. Ainda com o coração partido, Marcella retorna suas atividades no Esquadrão de Homicídios para investigar uma série de assassinatos que lhe parece perturbadoramente familiar.
Embora seja meu gênero favorito, eu indico "Marcella" com a maior tranquilidade e propriedade: essa série inglesa está entre as melhores que já assisti! As duas temporadas são excelentes e assumo que fiquei me perguntando porque eu não assisti antes! Os roteiros são redondinhos, inteligentes e instigantes; não perde força como aconteceu com a norueguesa "Borderliner", por exemplo. A produção da Buccaneers Media está impecável, grandiosa, ao melhor estilo inglês (o que nos afasta um pouco daquela fotografia gélida e tensa das séries nórdicas - que eu adoro por sinal). Londres é um personagem importante, isso fica claro nas duas temporadas e quando os personagens se confundem com seu universo é um ótimo sinal; não tem como não se encantar com a narrativa e com o trabalho primoroso da Anna Friel!
Me surpreendeu, não esperava tanto. Só o nome da série acho que poderia ser melhor: "Marcella" não atrai o público, mas basta assistir alguns episódios para se surpreender! Vale muito a pena para quem gosta do gênero e tenha certeza, a história é muito, mas muito, melhor que seu título!
PS: A terceira temporada já foi finalizada e agora está disponível na Netflix!
Finalmente consegui assistir "Marcella" na Netflix. Olha, só o fato de ter sido criada pelo sueco Hans Rosenfeldt, o mesmo de "Bron/Broen", já faz valer a pena a maratona. E falo de maratona de cara porque realmente não dá para para de assistir. Seguindo a mesma linha "The Fall" ou até "The Killing": uma detetive cheia de problemas pessoais tem que desvendar uma série de assassinatos em Londres.
Basicamente, a série acompanha Marcella Backland (Anna Friel) depois que foi surpreendida quando seu marido Jason (Nicholas Pinnock) pediu a separação inesperadamente, confessando que não a amava mais. Ainda com o coração partido, Marcella retorna suas atividades no Esquadrão de Homicídios para investigar uma série de assassinatos que lhe parece perturbadoramente familiar.
Embora seja meu gênero favorito, eu indico "Marcella" com a maior tranquilidade e propriedade: essa série inglesa está entre as melhores que já assisti! As duas temporadas são excelentes e assumo que fiquei me perguntando porque eu não assisti antes! Os roteiros são redondinhos, inteligentes e instigantes; não perde força como aconteceu com a norueguesa "Borderliner", por exemplo. A produção da Buccaneers Media está impecável, grandiosa, ao melhor estilo inglês (o que nos afasta um pouco daquela fotografia gélida e tensa das séries nórdicas - que eu adoro por sinal). Londres é um personagem importante, isso fica claro nas duas temporadas e quando os personagens se confundem com seu universo é um ótimo sinal; não tem como não se encantar com a narrativa e com o trabalho primoroso da Anna Friel!
Me surpreendeu, não esperava tanto. Só o nome da série acho que poderia ser melhor: "Marcella" não atrai o público, mas basta assistir alguns episódios para se surpreender! Vale muito a pena para quem gosta do gênero e tenha certeza, a história é muito, mas muito, melhor que seu título!
PS: A terceira temporada já foi finalizada e agora está disponível na Netflix!
"Night Stalker" talvez seja a minissérie estilo "true crime" que mais tenha me impressionado. Não sei se pela história em si, mas pelo fato de se tratar de um assassino em série que (aparentemente) não seguia um padrão para escolher suas vitimas, mas que tinha métodos cruéis, muitas vezes sádicos e que, justamente por isso, acabou ganhando o status de ser a representação mais próxima do mal na figura de um ser humano.
Essa minissérie documental da Netflix foi dividida em quatro episódios de cerca de 45 minutos e conta os detalhes da investigação e da incansável busca por um serial killer que ganhou o apelido de "Night Stalker". Na década de 80, em Los Angeles, na Califórnia, a população passou anos amedrontada por existir um assassino que perseguia carros, invadia casas durante a noite e matava mulheres, homens, idosos, jovens, além de molestar e abusar de crianças. Ele usava facas, armas de fogo, algemas de dedos e inúmeros outros objetos para cometer os crimes. Foram mais de 40 vítimas, entre os homicídios e as que sobreviveram, o que fez com que os investigadores Gil Carrillo e Frank Salerno iniciassem uma verdadeira caçada para prender o criminoso. Confira o trailer (em inglês):
Os diretores Tiller Russell e James Carroll escolheram o "docudrama" como conceito narrativo, o que, de fato, nos coloca dentro daquele tenebroso universo como se estivéssemos assistindo um filme de ficção - e isso é muito bacana. Ao misturar cenas de arquivo com representações extremamente dramáticas, muitas vezes angustiantes até, a edição cria uma dinâmica bastante interessante que ajuda a nos prender do começo ao fim. O fato do roteiro apresentar os principais investigadores do caso, Gil Carrillo, que estava em seu primeiro trabalho no departamento de homicídios, e o famoso investigador da época, Frank Salermo, a quem todos respeitavam, como narradores, faz a história ter uma personalidade, uma cara - são tantos flashbacks, histórias pessoais, comentários sinceros e emocionantes, que fica fácil criar um vínculo afetivo com esses personagens.
Ao entrar no arco narrativo principal, as coisas ficam bem mais pesadas: existe muita crueldade nos crimes. A história choca, é brutal e o fato do documentário intercalar depoimentos de familiares das vitimas com sobreviventes e com os investigadores, tudo ganha uma carga emotiva muito grande. Agora, é preciso ressaltar que mesmo sendo um caso muito complexo, os diretores nos conduzem com muita facilidade por vários detalhes da investigação sem precisar maiores explicações - fica tudo muito claro. Dito isso, a recomendação vem acompanhada de um rápido aviso: vale a pena para quem gosta de minisséries de crimes reais, mas ao mesmo tempo esteja preparado para encarar uma jornada pesada, com muitas fotos e detalhes dos crimes que podem impressionar (começando pela fisionomia do próprio assassino, reparem)!
"Night Stalker" talvez seja a minissérie estilo "true crime" que mais tenha me impressionado. Não sei se pela história em si, mas pelo fato de se tratar de um assassino em série que (aparentemente) não seguia um padrão para escolher suas vitimas, mas que tinha métodos cruéis, muitas vezes sádicos e que, justamente por isso, acabou ganhando o status de ser a representação mais próxima do mal na figura de um ser humano.
Essa minissérie documental da Netflix foi dividida em quatro episódios de cerca de 45 minutos e conta os detalhes da investigação e da incansável busca por um serial killer que ganhou o apelido de "Night Stalker". Na década de 80, em Los Angeles, na Califórnia, a população passou anos amedrontada por existir um assassino que perseguia carros, invadia casas durante a noite e matava mulheres, homens, idosos, jovens, além de molestar e abusar de crianças. Ele usava facas, armas de fogo, algemas de dedos e inúmeros outros objetos para cometer os crimes. Foram mais de 40 vítimas, entre os homicídios e as que sobreviveram, o que fez com que os investigadores Gil Carrillo e Frank Salerno iniciassem uma verdadeira caçada para prender o criminoso. Confira o trailer (em inglês):
Os diretores Tiller Russell e James Carroll escolheram o "docudrama" como conceito narrativo, o que, de fato, nos coloca dentro daquele tenebroso universo como se estivéssemos assistindo um filme de ficção - e isso é muito bacana. Ao misturar cenas de arquivo com representações extremamente dramáticas, muitas vezes angustiantes até, a edição cria uma dinâmica bastante interessante que ajuda a nos prender do começo ao fim. O fato do roteiro apresentar os principais investigadores do caso, Gil Carrillo, que estava em seu primeiro trabalho no departamento de homicídios, e o famoso investigador da época, Frank Salermo, a quem todos respeitavam, como narradores, faz a história ter uma personalidade, uma cara - são tantos flashbacks, histórias pessoais, comentários sinceros e emocionantes, que fica fácil criar um vínculo afetivo com esses personagens.
Ao entrar no arco narrativo principal, as coisas ficam bem mais pesadas: existe muita crueldade nos crimes. A história choca, é brutal e o fato do documentário intercalar depoimentos de familiares das vitimas com sobreviventes e com os investigadores, tudo ganha uma carga emotiva muito grande. Agora, é preciso ressaltar que mesmo sendo um caso muito complexo, os diretores nos conduzem com muita facilidade por vários detalhes da investigação sem precisar maiores explicações - fica tudo muito claro. Dito isso, a recomendação vem acompanhada de um rápido aviso: vale a pena para quem gosta de minisséries de crimes reais, mas ao mesmo tempo esteja preparado para encarar uma jornada pesada, com muitas fotos e detalhes dos crimes que podem impressionar (começando pela fisionomia do próprio assassino, reparem)!
Empolgado com "Marcella", depois de devorar as duas temporadas em 2 dias, fui direto para francesa "O bosque" que na sua essência traz a mesma tríade: assassinato, serial killer e investigação, somando o fato de serem apenas 6 episódios, o programa do final de semana estaria perfeito, porém a minissérie deixou um pouco a desejar. Não que seja ruim, mas não me empolgou, só me divertiu!
Em uma pequena vila na região de Ardennes, uma garota de dezesseis anos desaparece na floresta depois de ligar para sua professora no meio da noite. O capitão Gaspard Deker (Samuel Labarthe), um ex-soldado e pai solteiro recém-chegado na cidade, está conduzindo a investigação com Virginie Musso (Suzanne Clément), uma policial local. Também está ajudando a professora, Eve Mendel (Alexia Barlier), uma jovem com um passado bastante misterioso: afinal ela foi encontrada ainda criança pelo médico da cidade, vagando silenciosamente na mesma floresta.
Muito bem produzida, com uma fotografia bem interessante, "O bosque" acaba pecando no roteiro superficial e na interpretação fora do tom de muitos personagens. A história de uma adolescente que some na floresta não é nova, todos nós já sabemos, então, tenho que admitir, eu esperava algo novo no conceito narrativo, na imersão dos dramas pessoais de cada personagem, nos diálogos inteligentes, nas outras camadas por trás do próprio desaparecimento; mas os episódios foram passando, passando e os esteriótipos só iam aumentando - em nenhum momento a série foi mais fundo! O roteiro pontua algumas cenas com elementos que chegam até a instigar, prometendo algo além, um mistério mais complexo, mas acaba a série e nada disso se justifica.
"O Bosque" não é ruim mesmo, mas ao dar play espere só um bom entretenimento, rápido (pelo número de episódios) e objetivo. Bom pra um sábado de chuva para quem gosta do gênero, mas não quer pensar (e nem se surpreender) muito!
Empolgado com "Marcella", depois de devorar as duas temporadas em 2 dias, fui direto para francesa "O bosque" que na sua essência traz a mesma tríade: assassinato, serial killer e investigação, somando o fato de serem apenas 6 episódios, o programa do final de semana estaria perfeito, porém a minissérie deixou um pouco a desejar. Não que seja ruim, mas não me empolgou, só me divertiu!
Em uma pequena vila na região de Ardennes, uma garota de dezesseis anos desaparece na floresta depois de ligar para sua professora no meio da noite. O capitão Gaspard Deker (Samuel Labarthe), um ex-soldado e pai solteiro recém-chegado na cidade, está conduzindo a investigação com Virginie Musso (Suzanne Clément), uma policial local. Também está ajudando a professora, Eve Mendel (Alexia Barlier), uma jovem com um passado bastante misterioso: afinal ela foi encontrada ainda criança pelo médico da cidade, vagando silenciosamente na mesma floresta.
Muito bem produzida, com uma fotografia bem interessante, "O bosque" acaba pecando no roteiro superficial e na interpretação fora do tom de muitos personagens. A história de uma adolescente que some na floresta não é nova, todos nós já sabemos, então, tenho que admitir, eu esperava algo novo no conceito narrativo, na imersão dos dramas pessoais de cada personagem, nos diálogos inteligentes, nas outras camadas por trás do próprio desaparecimento; mas os episódios foram passando, passando e os esteriótipos só iam aumentando - em nenhum momento a série foi mais fundo! O roteiro pontua algumas cenas com elementos que chegam até a instigar, prometendo algo além, um mistério mais complexo, mas acaba a série e nada disso se justifica.
"O Bosque" não é ruim mesmo, mas ao dar play espere só um bom entretenimento, rápido (pelo número de episódios) e objetivo. Bom pra um sábado de chuva para quem gosta do gênero, mas não quer pensar (e nem se surpreender) muito!
"O Caso Evandro" é uma das histórias mais impressionantes que você vai assistir, mesmo sendo (como eu) um devorador de minisséries e filmes de "true crime"! Para quem escutou o famoso podcast "Projetos Humanos" do jornalista Ivan Mizanzuk sobre o caso, certamente sua experiência será ainda mais especial - mas aqui vale a pena um comentário: a minissérie de nove episódios do Globoplay tem uma construção narrativa muito mais direta (até pelo tempo disponível para a produção) que, sozinha, entrega uma experiência das mais avassaladoras.
No dia 06 de Abril de 1992, na cidade de Guaratuba, no litoral do Paraná, Evandro Ramos Caetano, um menino de apenas 6 anos de idade, desapareceu misteriosamente. Poucos dias depois, seu corpo foi encontrado sem as mãos, cabelos e vísceras. A suspeita era de que se tratava de um sacrifício em uma espécie de ritual satânico. Essa morte impactou os pais por todo o estado do Paraná, já que o Estado enfrentava um surto de crianças desaparecidas naquele momento. Com o passar dos dias, sete pessoas foram presas e confessaram que usaram Evandro em um ritual macabro. Mas o caso estava longe de ser encerrado, assim como a culpa daquelas pessoas estava longe de ser devidamente esclarecida em um ambiente que envolveu intolerância religiosa, disputas politicas, rivalidade entre as polícias Civil e Militar, além de um julgamento popular e midiático cruel. Confira o trailer:
Dirigida pelo talentoso Aly Muritiba com o apoio de Michelle Chevrand, a série sobre "O Caso Evandro" é uma montanha russa de emoções. Se no primeiro episódio temos a impressão que o tom narrativo está completamente desconectado do conceito visual imposto pelos diretores, a partir do segundo o que vemos é uma uma aula de storytelling. Com a presença essencial de Ivan Mizanzuk, Muritiba usa sua capacidade como também diretor de ficção para criar encenações (e até reconstituições) que provocam sentimentos e sensações muito particulares para um documentário - a própria maneira ele e Chevrand deixam Mizanzuk conduzir os fatos, ora como narrador, ora como especialista do caso, cria uma relação de proximidade com a história, como se tivesse em uma conversa entre amigos.
O nível da produção é altíssimo, digno das melhores séries de "true crime" da HBO ou da Netflix. Todas as inserções gráficas que servem de apoio à narrativa, facilitam nossa conexão imediata em uma linha do tempo bastante complexa, já que envolve muitos personagens e situações paralelas que tendem a nos tirar o foco do crime em si. Naturalmente, os diretores amarram todas (ou quase todas) as pontas usando diversas técnicas para contar a história - o momento em que eles chamam alguns dos personagens para apresentar uma nova prova sobre o caso tantos anos depois, é um ótimo exemplo desse domínio narrativo, digno de se aplaudir de pé.
O roteiro de Angelo Defanti, Arthur Warren, Ludmila Naves e Tainá Muhringer também merece elogios. Imagine a complexidade de adaptar mais de 40 horas de podcast em pouco menos de 9 horas de minissérie - e te garanto: eles não aliviam, o que transforma a jornada em algo um pouco indigesto. São muitos depoimentos, de vários personagens importantes, imagens de arquivo, áudios perturbadores; enfim, um primor de documentário com reviravoltas impressionantes.
Vale muito a pena!
"O Caso Evandro" é uma das histórias mais impressionantes que você vai assistir, mesmo sendo (como eu) um devorador de minisséries e filmes de "true crime"! Para quem escutou o famoso podcast "Projetos Humanos" do jornalista Ivan Mizanzuk sobre o caso, certamente sua experiência será ainda mais especial - mas aqui vale a pena um comentário: a minissérie de nove episódios do Globoplay tem uma construção narrativa muito mais direta (até pelo tempo disponível para a produção) que, sozinha, entrega uma experiência das mais avassaladoras.
No dia 06 de Abril de 1992, na cidade de Guaratuba, no litoral do Paraná, Evandro Ramos Caetano, um menino de apenas 6 anos de idade, desapareceu misteriosamente. Poucos dias depois, seu corpo foi encontrado sem as mãos, cabelos e vísceras. A suspeita era de que se tratava de um sacrifício em uma espécie de ritual satânico. Essa morte impactou os pais por todo o estado do Paraná, já que o Estado enfrentava um surto de crianças desaparecidas naquele momento. Com o passar dos dias, sete pessoas foram presas e confessaram que usaram Evandro em um ritual macabro. Mas o caso estava longe de ser encerrado, assim como a culpa daquelas pessoas estava longe de ser devidamente esclarecida em um ambiente que envolveu intolerância religiosa, disputas politicas, rivalidade entre as polícias Civil e Militar, além de um julgamento popular e midiático cruel. Confira o trailer:
Dirigida pelo talentoso Aly Muritiba com o apoio de Michelle Chevrand, a série sobre "O Caso Evandro" é uma montanha russa de emoções. Se no primeiro episódio temos a impressão que o tom narrativo está completamente desconectado do conceito visual imposto pelos diretores, a partir do segundo o que vemos é uma uma aula de storytelling. Com a presença essencial de Ivan Mizanzuk, Muritiba usa sua capacidade como também diretor de ficção para criar encenações (e até reconstituições) que provocam sentimentos e sensações muito particulares para um documentário - a própria maneira ele e Chevrand deixam Mizanzuk conduzir os fatos, ora como narrador, ora como especialista do caso, cria uma relação de proximidade com a história, como se tivesse em uma conversa entre amigos.
O nível da produção é altíssimo, digno das melhores séries de "true crime" da HBO ou da Netflix. Todas as inserções gráficas que servem de apoio à narrativa, facilitam nossa conexão imediata em uma linha do tempo bastante complexa, já que envolve muitos personagens e situações paralelas que tendem a nos tirar o foco do crime em si. Naturalmente, os diretores amarram todas (ou quase todas) as pontas usando diversas técnicas para contar a história - o momento em que eles chamam alguns dos personagens para apresentar uma nova prova sobre o caso tantos anos depois, é um ótimo exemplo desse domínio narrativo, digno de se aplaudir de pé.
O roteiro de Angelo Defanti, Arthur Warren, Ludmila Naves e Tainá Muhringer também merece elogios. Imagine a complexidade de adaptar mais de 40 horas de podcast em pouco menos de 9 horas de minissérie - e te garanto: eles não aliviam, o que transforma a jornada em algo um pouco indigesto. São muitos depoimentos, de vários personagens importantes, imagens de arquivo, áudios perturbadores; enfim, um primor de documentário com reviravoltas impressionantes.
Vale muito a pena!
Essa é para você matar a saudade de um bom drama policial nórdico! Embora "O Degelo" seja polonesa, todos os elementos narrativos e conceitos estéticos inevitavelmente nos levam para as ótimas séries dinamarquesas e suecas de investigação criminal - e mais uma vez, funciona demais! "Odwilż" (no original) é uma série criada pela novata, mas talentosa, Marta Szymanek (de "Wataha") e dirigida por Xawery Żuławski, que mergulha nas profundezas do luto e das complexidades das relações humanas para desenvolver o mistério da sua trama. Com uma narrativa realmente sombria e envolvente, bem ao estilo "The Killing" (ou melhor, "Forbrydelsen"), a série explora não apenas a investigação de um crime brutal, mas também as ramificações pessoais e as lutas internas dos personagens que transitam pela história. Ambientada em Szczecin, uma cidade fria e úmida no noroeste da Polônia, "O Degelo" faz de seu cenário um reflexo das emoções e tensões presentes em uma jornada que facilmente vai te conquistar..
A história, basicamente, segue Zawieja (Katarzyna Wajda), uma investigadora que, após a morte de seu marido, é encarregada de investigar o caso do desaparecimento de uma jovem mulher cujo corpo é encontrado em circunstâncias bastante misteriosas. À medida que Zawieja mergulha nessa investigação, ela descobre que a mulher assassinada, além de filha de um famoso procurador, estava grávida e que a criança provavelmente ainda está viva. Determinada a encontrar respostas, Zawieja precisa enfrentar não apenas os desafios do caso, como também o seu recente trauma familiar. Confira o trailer (em polonês):
É impressionante como "O Degelo" sabe construir uma narrativa que transforma o clima frio e opressivo em sensações pouco agradáveis para quem assiste. Se essa proposta de fato não é uma inovação narrativa., é preciso dizer que, pelo menos, a direção de Xawery Żuławski é extremamente eficaz em capturar a angústia desse ambiente para entregar uma história em constante tensão. A fotografia do Tomasz Naumiuk (o mesmo de "Rastros") utiliza os tons frios das paisagens desoladoras de Szczecin para intensificar a sensação de desconforto e perigo iminente, mantendo a audiência imersa em uma jornada que parece sempre estar à beira de um colapso emocional - como, aliás, manda a receita de um bom drama nórdico. Já o roteiro de Marta Szymanek, embora siga a estrutura clássica dos thrillers policiais, se diferencia pornão se contentar em ser apenas um mistério para ser resolvido; é também um estudo sobre a dor, o luto e a busca por redenção - é possível notar como o desaparecimento da criança se torna uma metáfora importante para as ausências e os vazios emocionais que assombram a protagonista e outros personagens. Repare como ao longo da série, temas como maternidade, sacrifício e o peso das escolhas são explorados de forma sensível, conferindo uma camada ainda mais profunda à narrativa.
Katarzyna Wajda, no papel de Zawieja, entrega uma atuação realmente poderosa e convincente na medida certa. Ela interpreta uma mulher com a frieza necessária de uma investigadora e as emoções que assombram sua vida pessoal. A dor pelo luto do marido de um lado e a determinação de Zawieja em solucionar o caso do outro, são tão palpáveis ao ponto dela conseguir transmitir a mesma intensidade entre uma cena e outra - ela se transforma apenas com o olhar e com a respiração. Tudo sem exageros, Wajda mantém sua personagem sempre crível e envolvente. Eu diria que sua atuação é um dos pilares da série, ancorando a narrativa que está estruturada de forma a revelar gradualmente as complexidades do caso. Esse formato nos mantém intrigados, enquanto as camadas de mistério são desvendadas, revelando segredos ocultos, tanto no passado da vítima quanto da própria vida de Zawieja.
Com um ritmo calculado, com um equilíbrio entre momentos de ação e introspecção, que permite um desenvolvimento interessante dos personagens e uma progressão eficaz do enredo, "O Degelo" oferece uma experiência cativante para quem já estava com saudades de um bom drama policial cheio de elementos psicológicos. Então, se você busca algo mais do que apenas resolver um crime e está pronto para um mergulho nos ecos emocionais que assombram os protagonistas, essa série é realmente imperdível!
Essa é para você matar a saudade de um bom drama policial nórdico! Embora "O Degelo" seja polonesa, todos os elementos narrativos e conceitos estéticos inevitavelmente nos levam para as ótimas séries dinamarquesas e suecas de investigação criminal - e mais uma vez, funciona demais! "Odwilż" (no original) é uma série criada pela novata, mas talentosa, Marta Szymanek (de "Wataha") e dirigida por Xawery Żuławski, que mergulha nas profundezas do luto e das complexidades das relações humanas para desenvolver o mistério da sua trama. Com uma narrativa realmente sombria e envolvente, bem ao estilo "The Killing" (ou melhor, "Forbrydelsen"), a série explora não apenas a investigação de um crime brutal, mas também as ramificações pessoais e as lutas internas dos personagens que transitam pela história. Ambientada em Szczecin, uma cidade fria e úmida no noroeste da Polônia, "O Degelo" faz de seu cenário um reflexo das emoções e tensões presentes em uma jornada que facilmente vai te conquistar..
A história, basicamente, segue Zawieja (Katarzyna Wajda), uma investigadora que, após a morte de seu marido, é encarregada de investigar o caso do desaparecimento de uma jovem mulher cujo corpo é encontrado em circunstâncias bastante misteriosas. À medida que Zawieja mergulha nessa investigação, ela descobre que a mulher assassinada, além de filha de um famoso procurador, estava grávida e que a criança provavelmente ainda está viva. Determinada a encontrar respostas, Zawieja precisa enfrentar não apenas os desafios do caso, como também o seu recente trauma familiar. Confira o trailer (em polonês):
É impressionante como "O Degelo" sabe construir uma narrativa que transforma o clima frio e opressivo em sensações pouco agradáveis para quem assiste. Se essa proposta de fato não é uma inovação narrativa., é preciso dizer que, pelo menos, a direção de Xawery Żuławski é extremamente eficaz em capturar a angústia desse ambiente para entregar uma história em constante tensão. A fotografia do Tomasz Naumiuk (o mesmo de "Rastros") utiliza os tons frios das paisagens desoladoras de Szczecin para intensificar a sensação de desconforto e perigo iminente, mantendo a audiência imersa em uma jornada que parece sempre estar à beira de um colapso emocional - como, aliás, manda a receita de um bom drama nórdico. Já o roteiro de Marta Szymanek, embora siga a estrutura clássica dos thrillers policiais, se diferencia pornão se contentar em ser apenas um mistério para ser resolvido; é também um estudo sobre a dor, o luto e a busca por redenção - é possível notar como o desaparecimento da criança se torna uma metáfora importante para as ausências e os vazios emocionais que assombram a protagonista e outros personagens. Repare como ao longo da série, temas como maternidade, sacrifício e o peso das escolhas são explorados de forma sensível, conferindo uma camada ainda mais profunda à narrativa.
Katarzyna Wajda, no papel de Zawieja, entrega uma atuação realmente poderosa e convincente na medida certa. Ela interpreta uma mulher com a frieza necessária de uma investigadora e as emoções que assombram sua vida pessoal. A dor pelo luto do marido de um lado e a determinação de Zawieja em solucionar o caso do outro, são tão palpáveis ao ponto dela conseguir transmitir a mesma intensidade entre uma cena e outra - ela se transforma apenas com o olhar e com a respiração. Tudo sem exageros, Wajda mantém sua personagem sempre crível e envolvente. Eu diria que sua atuação é um dos pilares da série, ancorando a narrativa que está estruturada de forma a revelar gradualmente as complexidades do caso. Esse formato nos mantém intrigados, enquanto as camadas de mistério são desvendadas, revelando segredos ocultos, tanto no passado da vítima quanto da própria vida de Zawieja.
Com um ritmo calculado, com um equilíbrio entre momentos de ação e introspecção, que permite um desenvolvimento interessante dos personagens e uma progressão eficaz do enredo, "O Degelo" oferece uma experiência cativante para quem já estava com saudades de um bom drama policial cheio de elementos psicológicos. Então, se você busca algo mais do que apenas resolver um crime e está pronto para um mergulho nos ecos emocionais que assombram os protagonistas, essa série é realmente imperdível!
Você vai se surpreender com essa produção original da Netflix, "O Desconhecido". Sem exagero algum, mas se me dissessem que o filme havia sido dirigido pelo David Fincher ou até pelo Nolan, eu acreditaria tranquilamente. Até por isso eu preciso avisar que não se trata de uma jornada das mais fáceis, nem na "forma" e muito menos no seu "conteúdo". Na "forma", existe uma certa morosidade no primeiro ato (e talvez até o meio do segundo), o conceito narrativo também soa confuso em um primeiro olhar (embora com o tempo as peças se encaixem perfeitamente, mesmo que isso exija alguma paciência) e a fotografia, escura e densa, amplifica essa sensação de cansaço que a história possa oferecer até "pegar no tranco". Já no "conteúdo", posso antecipar que se trata de uma história pesada, cheia de nuances e detalhes muito bem desenvolvidos, mas olha, difíceis de digerir.
Em "The Stranger" (no original), dois homens se encontram por acaso e iniciam uma parceria que se transforma em uma forte amizade. Para Henry Teague (Sean Harris), desgastado por uma vida inteira de trabalho físico e alguns crimes, essa conexão é um sonho realizado, uma oportunidade; seu novo amigo Mark (Joel Edgerton) pode ser seu salvador e aliado eterno. No entanto, nem tudo é o que parece ser e cada um carrega segredos que ameaçam arruiná-los a cada novo trabalho. Confira o trailer (em inglês):
Essa é uma das maiores operações policiais da história da Austrália e foi baseada no livro "The Sting" da jornalista e escritora Kate Kyriacou, no entanto o que mais impressiona desde o primeiro plano, é como o diretor Thomas M. Wright (de "Acute Misfortune") cria uma atmosfera de suspense e de muita tensão. Reparem como o diretor de fotografia, Sam Chiplin (da ótima minissérie "Em Prantos"), usa de uma paleta de cores sombria e com muito contrastante, juntamente com enquadramentos mais fechados, para enfatizar o clima opressivo e o desconforto emocional dos personagens - tudo se encaixa tão perfeitamente que parece se tratar de uma produção com muito mais grife do realmente é - e isso é um baita elogio!
O conceito narrativo de "O Desconhecido", de fato, é tão complexa quanto intrigante. O filme segue os dois protagonistas sem parecer querer entregar muitas informações, no entanto, conforme a trama vai se desenrolando, descobrimos lentamente os segredos ocultos, os medos, as inseguranças e até as conexões obscuras que eles vão criando. O roteiro habilmente estruturada pelo próprio Wright parece ganhar ainda mais potência (se é que isso é possível) com a notável qualidade da edição do Simon Njoo (de "The Nightingale"). Ela alterna entre o passado e o presente, criando uma sensação de angustia e mistério, impressionante.
No final das contas, "O Desconhecido" sabe muito bem trabalhar um abstrato (e difícil) componente narrativo com muita sabedoria: a antítese. Com performances brilhantes de Joel Edgerton e Sean Harris, temos a exata sensação de estarmos frente a frente em uma batalha onde um é o veneno mortal e o outro seu pior antídoto - essa análise comportamental e emocional dos protagonistas está em muitos detalhes, da relação de Mark com seu filho ao desejo de Henry pelo seu parceiro, criando assim camadas tão profundas que a própria investigação fica em segundo plano.
Olha, uma produção de se tirar o chapéu! Vale muito o seu play!
Você vai se surpreender com essa produção original da Netflix, "O Desconhecido". Sem exagero algum, mas se me dissessem que o filme havia sido dirigido pelo David Fincher ou até pelo Nolan, eu acreditaria tranquilamente. Até por isso eu preciso avisar que não se trata de uma jornada das mais fáceis, nem na "forma" e muito menos no seu "conteúdo". Na "forma", existe uma certa morosidade no primeiro ato (e talvez até o meio do segundo), o conceito narrativo também soa confuso em um primeiro olhar (embora com o tempo as peças se encaixem perfeitamente, mesmo que isso exija alguma paciência) e a fotografia, escura e densa, amplifica essa sensação de cansaço que a história possa oferecer até "pegar no tranco". Já no "conteúdo", posso antecipar que se trata de uma história pesada, cheia de nuances e detalhes muito bem desenvolvidos, mas olha, difíceis de digerir.
Em "The Stranger" (no original), dois homens se encontram por acaso e iniciam uma parceria que se transforma em uma forte amizade. Para Henry Teague (Sean Harris), desgastado por uma vida inteira de trabalho físico e alguns crimes, essa conexão é um sonho realizado, uma oportunidade; seu novo amigo Mark (Joel Edgerton) pode ser seu salvador e aliado eterno. No entanto, nem tudo é o que parece ser e cada um carrega segredos que ameaçam arruiná-los a cada novo trabalho. Confira o trailer (em inglês):
Essa é uma das maiores operações policiais da história da Austrália e foi baseada no livro "The Sting" da jornalista e escritora Kate Kyriacou, no entanto o que mais impressiona desde o primeiro plano, é como o diretor Thomas M. Wright (de "Acute Misfortune") cria uma atmosfera de suspense e de muita tensão. Reparem como o diretor de fotografia, Sam Chiplin (da ótima minissérie "Em Prantos"), usa de uma paleta de cores sombria e com muito contrastante, juntamente com enquadramentos mais fechados, para enfatizar o clima opressivo e o desconforto emocional dos personagens - tudo se encaixa tão perfeitamente que parece se tratar de uma produção com muito mais grife do realmente é - e isso é um baita elogio!
O conceito narrativo de "O Desconhecido", de fato, é tão complexa quanto intrigante. O filme segue os dois protagonistas sem parecer querer entregar muitas informações, no entanto, conforme a trama vai se desenrolando, descobrimos lentamente os segredos ocultos, os medos, as inseguranças e até as conexões obscuras que eles vão criando. O roteiro habilmente estruturada pelo próprio Wright parece ganhar ainda mais potência (se é que isso é possível) com a notável qualidade da edição do Simon Njoo (de "The Nightingale"). Ela alterna entre o passado e o presente, criando uma sensação de angustia e mistério, impressionante.
No final das contas, "O Desconhecido" sabe muito bem trabalhar um abstrato (e difícil) componente narrativo com muita sabedoria: a antítese. Com performances brilhantes de Joel Edgerton e Sean Harris, temos a exata sensação de estarmos frente a frente em uma batalha onde um é o veneno mortal e o outro seu pior antídoto - essa análise comportamental e emocional dos protagonistas está em muitos detalhes, da relação de Mark com seu filho ao desejo de Henry pelo seu parceiro, criando assim camadas tão profundas que a própria investigação fica em segundo plano.
Olha, uma produção de se tirar o chapéu! Vale muito o seu play!
Mais pela sua história do que propriamente pela qualidade do documentário, "O Diabo no Tribunal" é um filme imperdível para aqueles que gostam de tramas impactantes na linha do sobrenatural e que se deliciaram com "Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio" - até porquê a história de um é a base do outro, naquela linha tênue entre o "true crime" e o "filme de horror". Aqui temos um mergulho dos mais intrigantes em uma atmosfera, de fato, obscura do mundo da possessão demoníaca - as imagens e gravações disponibilizadas pelo diretor Chris Holt (do elogiado "I, Sniper") são realmente impressionantes, contextualizando (e para muitos justificando) o notório caso de David Glatzel, Arne Cheyenne Johnson e o trágico assassinato de Alan Bono.
"The Devil on Trial" (no original) acompanha as investigações dos eventos assustadores que cercam o caso Glatzel-Johnson. O pesadelo começa no início da década de 1980 quando David Glatzel, um garoto de 11 anos, acredita ter sido possuído por uma entidade demoníaca. A situação, no entanto, toma um rumo ainda mais trágico quando Arne Cheyenne Johnson, cunhado de David, diz ser o novo hospedeiro da força sobrenatural e que por isso assassinou seu amigo, Alan Bono. Confira o trailer:
Em um primeiro olhar, o filme se destaca pelo tom assustador da sua narrativa que é 100% validado pela presença de quem realmente esteve envolvido no caso em todas as suas fases, incluindo o próprio David, seus irmãos (Alan e Carl), e até mesmo Arne. A partir de algumas gravações caseiras, com fotos e áudios que nunca antes foram mostrados ao público, as reconstituições com atores que recontam os eventos dão um ar de ficção para o documentário, mas o que mais nos provoca mesmo é o fato de sabermos que tudo aquilo é verdade - ou pelo menos que é a verdade que cada um tem para contar! "Existem pessoas que mentem. Mas eu sentei com o David, o Arne, o Alan e Carl por horas a fio e a história nunca mudou. Eu acho que eles estão me contando a verdade - mas é a interpretação deles da verdade, em vez de ser um fato consolidado. Mas eles acreditam, e eu também acredito, que o que dizem é verdadeiro", disse o diretor Chris Holt para a Variety na época do lançamento.
No entanto, e aí eu acho que "O Diabo no Tribunal" poderia ter ido um pouquinho mais longe, algumas questões vão sendo postas em dúvida. Para começar, o famoso casal Ed e Lorraine Warren, são tratados com certa superficialidade pelo roteiro. Veja, ao mesmo tempo que a participação e histórico da dupla de investigadores soem importantes, a veracidade de suas conquistas são colocadas a prova em todo momento - nem mesmo a rápida retrospectiva sobre eles e os depoimentos de seu neto, Chris McKinnell, ajudam a audiência a ter uma noção definitiva sobre as intenções dos Warren com o caso. Outro ponto que poderia ser melhor explorado (e não da forma "plot twist" que o roteiro propôs) é a relação de Judy Glatzel com seus filhos e marido - a dinâmica familiar me pareceu problemática, no entanto faltou um estilo mais "Making a Murderer" de abordagem.
Para finalizar, eu diria que "O Diabo no Tribunal" transcende as convenções dos documentários de true crime ao adicionar uma camada de horror que explora o impacto visceral da possessão demoníaca na vida daquelas pessoas. A habilidade do Chris Holt em equilibrar a recriação dos eventos com depoimentos reais e evidências que os Warren coletaram proporciona uma experiência mais autêntica e angustiante do que estamos acostumados encontrar no gênero. No entanto, minha única crítica fica pela falta de uma pesquisa mais minuciosa e não apenas na espetacularização dos fatos - essa estratégia narrativa instiga reflexões? Claro que sim, mas fica a sensação de que daria para ir além (sem trocadilhos).
Se você é curioso e gosta do assunto, seu entretenimento está garantido!
Mais pela sua história do que propriamente pela qualidade do documentário, "O Diabo no Tribunal" é um filme imperdível para aqueles que gostam de tramas impactantes na linha do sobrenatural e que se deliciaram com "Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio" - até porquê a história de um é a base do outro, naquela linha tênue entre o "true crime" e o "filme de horror". Aqui temos um mergulho dos mais intrigantes em uma atmosfera, de fato, obscura do mundo da possessão demoníaca - as imagens e gravações disponibilizadas pelo diretor Chris Holt (do elogiado "I, Sniper") são realmente impressionantes, contextualizando (e para muitos justificando) o notório caso de David Glatzel, Arne Cheyenne Johnson e o trágico assassinato de Alan Bono.
"The Devil on Trial" (no original) acompanha as investigações dos eventos assustadores que cercam o caso Glatzel-Johnson. O pesadelo começa no início da década de 1980 quando David Glatzel, um garoto de 11 anos, acredita ter sido possuído por uma entidade demoníaca. A situação, no entanto, toma um rumo ainda mais trágico quando Arne Cheyenne Johnson, cunhado de David, diz ser o novo hospedeiro da força sobrenatural e que por isso assassinou seu amigo, Alan Bono. Confira o trailer:
Em um primeiro olhar, o filme se destaca pelo tom assustador da sua narrativa que é 100% validado pela presença de quem realmente esteve envolvido no caso em todas as suas fases, incluindo o próprio David, seus irmãos (Alan e Carl), e até mesmo Arne. A partir de algumas gravações caseiras, com fotos e áudios que nunca antes foram mostrados ao público, as reconstituições com atores que recontam os eventos dão um ar de ficção para o documentário, mas o que mais nos provoca mesmo é o fato de sabermos que tudo aquilo é verdade - ou pelo menos que é a verdade que cada um tem para contar! "Existem pessoas que mentem. Mas eu sentei com o David, o Arne, o Alan e Carl por horas a fio e a história nunca mudou. Eu acho que eles estão me contando a verdade - mas é a interpretação deles da verdade, em vez de ser um fato consolidado. Mas eles acreditam, e eu também acredito, que o que dizem é verdadeiro", disse o diretor Chris Holt para a Variety na época do lançamento.
No entanto, e aí eu acho que "O Diabo no Tribunal" poderia ter ido um pouquinho mais longe, algumas questões vão sendo postas em dúvida. Para começar, o famoso casal Ed e Lorraine Warren, são tratados com certa superficialidade pelo roteiro. Veja, ao mesmo tempo que a participação e histórico da dupla de investigadores soem importantes, a veracidade de suas conquistas são colocadas a prova em todo momento - nem mesmo a rápida retrospectiva sobre eles e os depoimentos de seu neto, Chris McKinnell, ajudam a audiência a ter uma noção definitiva sobre as intenções dos Warren com o caso. Outro ponto que poderia ser melhor explorado (e não da forma "plot twist" que o roteiro propôs) é a relação de Judy Glatzel com seus filhos e marido - a dinâmica familiar me pareceu problemática, no entanto faltou um estilo mais "Making a Murderer" de abordagem.
Para finalizar, eu diria que "O Diabo no Tribunal" transcende as convenções dos documentários de true crime ao adicionar uma camada de horror que explora o impacto visceral da possessão demoníaca na vida daquelas pessoas. A habilidade do Chris Holt em equilibrar a recriação dos eventos com depoimentos reais e evidências que os Warren coletaram proporciona uma experiência mais autêntica e angustiante do que estamos acostumados encontrar no gênero. No entanto, minha única crítica fica pela falta de uma pesquisa mais minuciosa e não apenas na espetacularização dos fatos - essa estratégia narrativa instiga reflexões? Claro que sim, mas fica a sensação de que daria para ir além (sem trocadilhos).
Se você é curioso e gosta do assunto, seu entretenimento está garantido!
"O Enfermeiro da Noite" é uma ótima pedida para quem gosta de "true crime", mas é preciso ter em mente que essa produção da Netflix se apropria de uma narrativa muito mais cadenciada e intimista do que se apoia na tensão de complexas investigações ou de reviravoltas surpreendentes como costumamos encontrar no gênero. O filme dirigido pelo dinamarquês Tobias Lindholm (que escreveu nada menos que "Druk - Mais Uma Rodada" e "A Caça") é para quem gosta de drama e não de thriller!
A trama acompanha a história de Charlie Cullen (Eddie Redmayne), enfermeiro que foi apontado como um dos assassinos em série mais perigosos de todos os tempos. Levando uma vida aparentemente normal, Charles trabalhou em diversos hospitais durante décadas e teria assassinado cerca de 400 pessoas ao longo dos anos. Quando Charlie se aproxima de Amy (Jessica Chastain), uma enfermeira com sérios problemas de coração, responsável pela UTI de um hospital e que precisa cuidar de suas duas filhas pequenas quando não está de plantão, surge uma relação de confiança e amizade entre eles, porém quando algumas suspeitas de erros médicos começam a aparecer no setor em que trabalham, Amy é forçada a arriscar sua vida e a segurança de seus filhos para tentar descobrir a verdade. Confira o trailer:
Baseado no livro de Charles Graeber, "The Good Nurse: A True Story of Medicine, Madness, and Murder", o roteiro de "O Enfermeiro da Noite" (que curiosamente não foi escrito por Lindholm e sim pela também competente Krysty Wilson-Cairns, de "1917" e "Last Night in Soho") é muito inteligente em fazer um recorte bastante especifico da vida de Charlie Cullen, criando assim um dinâmica que vai direto ao ponto, com situações mais sugeridas do que escancaradas. Ao priorizar o olhar (de certa forma ingênuo) de Amy, a história se preocupa muito mais em encaixar as peças do que em descobrir "quem é" ou "como" o assassino em série atuava.
Escolhido esse caminho, o que vemos na tela não impacta visualmente pela violência e muito menos nos provoca algum estado de tensão permanente, porém nos deixa, sim, desconfortáveis. A forma como Lindholm conta a história, com um certo distanciamento, é de se elogiar pela criatividade - eu diria que a experiência do diretor em outro projeto, "Mindhunter", só colaborou para que ele encontrasse o tom certo para essa narrativa, entregando para Chastain e Redmayne, dois ótimos e profundos personagens que só cresceram a partir da excelente química entre eles. E aqui cabe uma outra citação: embora menos presente, o trabalho de Noah Emmerich (como o detetive Tim Braun) também merece destaque.
"O Enfermeiro da Noite" não será daqueles inesquecíveis, mas saiba que ele acerta ao propor uma experiência mais angustiante, que procura fugir do lugar comum e da banalização visual da morte. O filme a todo momento brinca com a imaginação da audiência, pontuando os crimes de Graeber sempre pelo prisma da especulação e pela força do silêncio. Sem cair em clichês, onde o assassino deixa pequenos rastros de seu comportamento mesmo quando sua verdadeira identidade ainda é um mistério, aqui o mérito está mais para o realismo do que para o espetáculo - deixando que a verdade faça seu trabalho de nos tocar a alma, não pela brutalidade, mas sim pela crueldade.
Vale muito o seu play!
"O Enfermeiro da Noite" é uma ótima pedida para quem gosta de "true crime", mas é preciso ter em mente que essa produção da Netflix se apropria de uma narrativa muito mais cadenciada e intimista do que se apoia na tensão de complexas investigações ou de reviravoltas surpreendentes como costumamos encontrar no gênero. O filme dirigido pelo dinamarquês Tobias Lindholm (que escreveu nada menos que "Druk - Mais Uma Rodada" e "A Caça") é para quem gosta de drama e não de thriller!
A trama acompanha a história de Charlie Cullen (Eddie Redmayne), enfermeiro que foi apontado como um dos assassinos em série mais perigosos de todos os tempos. Levando uma vida aparentemente normal, Charles trabalhou em diversos hospitais durante décadas e teria assassinado cerca de 400 pessoas ao longo dos anos. Quando Charlie se aproxima de Amy (Jessica Chastain), uma enfermeira com sérios problemas de coração, responsável pela UTI de um hospital e que precisa cuidar de suas duas filhas pequenas quando não está de plantão, surge uma relação de confiança e amizade entre eles, porém quando algumas suspeitas de erros médicos começam a aparecer no setor em que trabalham, Amy é forçada a arriscar sua vida e a segurança de seus filhos para tentar descobrir a verdade. Confira o trailer:
Baseado no livro de Charles Graeber, "The Good Nurse: A True Story of Medicine, Madness, and Murder", o roteiro de "O Enfermeiro da Noite" (que curiosamente não foi escrito por Lindholm e sim pela também competente Krysty Wilson-Cairns, de "1917" e "Last Night in Soho") é muito inteligente em fazer um recorte bastante especifico da vida de Charlie Cullen, criando assim um dinâmica que vai direto ao ponto, com situações mais sugeridas do que escancaradas. Ao priorizar o olhar (de certa forma ingênuo) de Amy, a história se preocupa muito mais em encaixar as peças do que em descobrir "quem é" ou "como" o assassino em série atuava.
Escolhido esse caminho, o que vemos na tela não impacta visualmente pela violência e muito menos nos provoca algum estado de tensão permanente, porém nos deixa, sim, desconfortáveis. A forma como Lindholm conta a história, com um certo distanciamento, é de se elogiar pela criatividade - eu diria que a experiência do diretor em outro projeto, "Mindhunter", só colaborou para que ele encontrasse o tom certo para essa narrativa, entregando para Chastain e Redmayne, dois ótimos e profundos personagens que só cresceram a partir da excelente química entre eles. E aqui cabe uma outra citação: embora menos presente, o trabalho de Noah Emmerich (como o detetive Tim Braun) também merece destaque.
"O Enfermeiro da Noite" não será daqueles inesquecíveis, mas saiba que ele acerta ao propor uma experiência mais angustiante, que procura fugir do lugar comum e da banalização visual da morte. O filme a todo momento brinca com a imaginação da audiência, pontuando os crimes de Graeber sempre pelo prisma da especulação e pela força do silêncio. Sem cair em clichês, onde o assassino deixa pequenos rastros de seu comportamento mesmo quando sua verdadeira identidade ainda é um mistério, aqui o mérito está mais para o realismo do que para o espetáculo - deixando que a verdade faça seu trabalho de nos tocar a alma, não pela brutalidade, mas sim pela crueldade.
Vale muito o seu play!
Profundo, denso e surpreendente, talvez essa seja a melhor forma de definir "O Paciente". Embora tenha sido vendida como mais uma história de serial killer, eu diria que essa minissérie de 10 episódios (curtos) do Star+ vai muito além, pois a partir do ponto de vista de um terapeuta, somos inseridos em um violento embate psicológico que traz para discussão assuntos como traumas, luto, arrependimentos, mas que, principalmente, expõe as dores de uma relação familiar que em algum momento perdeu sua conexão. Para quem espera uma jornada de investigação e sangue, saiba que aqui o drama é muito mais intimo, cheio de camadas, cadenciado de tal forma que muitas vezes nos vemos dentro daquela situação sem ao menos tirar os olhos da tela. Eu diria que a jornada é tão angustiante quanto intensa e o seu realismo impacta demais nossa experiência!
"The Patient" (no original) acompanha o psicanalista, Alexander Strass (Steve Carell) tratando de um jovem extremamente conturbado, Sam Fortner (Domhnall Gleeson). O paciente (do título) é um serial killer que já fez dezenas de vítimas, sempre como consequência de fortes ataques nervosos. A questão é que Sam quer parar de matar e por isso ele sequestra Dr. Strauss com o intuito de intensificar seu tratamento. A partir daí se inicia uma luta contra o tempo na busca por repostas ou o próprio terapeuta pode ser a próxima vítima. Confira o trailer:
Muito bem dirigida pelo Chris Long (de "The Americans"), pelo Kevin Bray (de "Succession") e pela Gwyneth Horder-Payton (de "Clube da Sedução"), "O Paciente" é uma verdadeira aula de roteiro ao pontuar uma série de assuntos espinhosos dentro de uma dinâmica psicológica, um contra um, de cair o queixo - e aqui cabe um comentário: inicialmente o conceito narrativo pode causar certo estranhamento e até cansar um pouco, mas aguente firme pois é impressionante como as peças vão se encaixando, alguns delírios vão fazendo sentido e no final, meu Deus, que entrega!
Como em "In Treatment"(e fatalmente Sam poderia ser um dos pacientes do terapeuta Paul Weston), a história se passa praticamente em um único cenário com dois personagens em uma verdadeiro jogo mental. Carell está impecável - seu personagem é tão bom e complexo emocionalmente como o recente Mitch Kessler. Já Gleeson, talvez na melhor performance da sua carreira até aqui (mesmo depois do inesquecível "Questão de Tempo"), está perfeito - eu não gostaria de cometer o sacrilégio de o comparar ao Hannibal Lecter de Anthony Hopkins, mas olha, eu diria com a mais absoluta certeza que como "serial killer", está muito bem representado - reparem em uma das cenas-chave do último episódio como Gleeson praticamente se desfigura durante um ataque de fúria criando um contraponto inacreditável com a introspecção e a timidez de outros momentos menos tensos do personagem.
Sim, a minissérie criada pelo Joel Fields (do premiado "Fosse/Verdon") e pelo Joseph Weisberg (de "Damages") tem muito do que de melhor encontramos em "O Silêncio dos Inocentes" e isso é um baita elogio! Se para alguns o "O Paciente" pode parecer parado demais, dando até a impressão que a história não sai do lugar; para aqueles dispostos a enxergar e a ouvir além do que está na tela, essa jornada será um desafio intelectual muito divertido, uma provocação psicológica envolvente, como se estivéssemos em frente a um espelho onde a mente humana fosse capaz de criar e depois nos convencer de que até o improvável pode ser real (e muitas vezes fatal)!
Vale muito o seu play! Só vai!
Profundo, denso e surpreendente, talvez essa seja a melhor forma de definir "O Paciente". Embora tenha sido vendida como mais uma história de serial killer, eu diria que essa minissérie de 10 episódios (curtos) do Star+ vai muito além, pois a partir do ponto de vista de um terapeuta, somos inseridos em um violento embate psicológico que traz para discussão assuntos como traumas, luto, arrependimentos, mas que, principalmente, expõe as dores de uma relação familiar que em algum momento perdeu sua conexão. Para quem espera uma jornada de investigação e sangue, saiba que aqui o drama é muito mais intimo, cheio de camadas, cadenciado de tal forma que muitas vezes nos vemos dentro daquela situação sem ao menos tirar os olhos da tela. Eu diria que a jornada é tão angustiante quanto intensa e o seu realismo impacta demais nossa experiência!
"The Patient" (no original) acompanha o psicanalista, Alexander Strass (Steve Carell) tratando de um jovem extremamente conturbado, Sam Fortner (Domhnall Gleeson). O paciente (do título) é um serial killer que já fez dezenas de vítimas, sempre como consequência de fortes ataques nervosos. A questão é que Sam quer parar de matar e por isso ele sequestra Dr. Strauss com o intuito de intensificar seu tratamento. A partir daí se inicia uma luta contra o tempo na busca por repostas ou o próprio terapeuta pode ser a próxima vítima. Confira o trailer:
Muito bem dirigida pelo Chris Long (de "The Americans"), pelo Kevin Bray (de "Succession") e pela Gwyneth Horder-Payton (de "Clube da Sedução"), "O Paciente" é uma verdadeira aula de roteiro ao pontuar uma série de assuntos espinhosos dentro de uma dinâmica psicológica, um contra um, de cair o queixo - e aqui cabe um comentário: inicialmente o conceito narrativo pode causar certo estranhamento e até cansar um pouco, mas aguente firme pois é impressionante como as peças vão se encaixando, alguns delírios vão fazendo sentido e no final, meu Deus, que entrega!
Como em "In Treatment"(e fatalmente Sam poderia ser um dos pacientes do terapeuta Paul Weston), a história se passa praticamente em um único cenário com dois personagens em uma verdadeiro jogo mental. Carell está impecável - seu personagem é tão bom e complexo emocionalmente como o recente Mitch Kessler. Já Gleeson, talvez na melhor performance da sua carreira até aqui (mesmo depois do inesquecível "Questão de Tempo"), está perfeito - eu não gostaria de cometer o sacrilégio de o comparar ao Hannibal Lecter de Anthony Hopkins, mas olha, eu diria com a mais absoluta certeza que como "serial killer", está muito bem representado - reparem em uma das cenas-chave do último episódio como Gleeson praticamente se desfigura durante um ataque de fúria criando um contraponto inacreditável com a introspecção e a timidez de outros momentos menos tensos do personagem.
Sim, a minissérie criada pelo Joel Fields (do premiado "Fosse/Verdon") e pelo Joseph Weisberg (de "Damages") tem muito do que de melhor encontramos em "O Silêncio dos Inocentes" e isso é um baita elogio! Se para alguns o "O Paciente" pode parecer parado demais, dando até a impressão que a história não sai do lugar; para aqueles dispostos a enxergar e a ouvir além do que está na tela, essa jornada será um desafio intelectual muito divertido, uma provocação psicológica envolvente, como se estivéssemos em frente a um espelho onde a mente humana fosse capaz de criar e depois nos convencer de que até o improvável pode ser real (e muitas vezes fatal)!
Vale muito o seu play! Só vai!
"O Pálido Olho Azul" é excelente! Mesmo com um estilo narrativo um pouco mais cadenciado, com diálogos cheio de nuances e uma fotografia um pouco mais densa, eu diria que a história é muito bem amarrada, construída em cima de camadas bem desenvolvidas e com um final que pode surpreender muita gente - sem falar, óbvio, na performance digna de prêmios de Christian Bale e Harry Melling.
Baseado no romance de Louis Bayard, o filme acompanha o detetive Augustus Landor (Bale) que viaja para West Point, em Nova York, para investigar uma série de assassinatos assombrosos que colocam em xeque a reputação e a segurança da Academia Militar dos Estados Unidos. Ao chegar lá, Landor se alia a um dos cadetes locais, Edgar Allan Poe (Melling), para encontrar pistas acerca de quem pode estar por trás dos crimes. Entretanto, o detetive descobre que as coisas são muito mais complicadas do que parecem quando ele compreende que os homicídios são apenas o primeiro passo de um plano ainda mais macabro. Confira o trailer:
Em uma temporada onde Benoit Blanc trouxe seu charme para o segundo capítulo de "Knives Out" com muito mistério, leveza e um toque homeopático de humor, transportar exatamente o mesmo subgênero investigativo para 1830, em um cenário mais sinistro, que se confunde entre a literatura e o teatro, ao melhor estilo Sherlock Holmes, só que dessa vez pautado no drama mais obscuro, com um forte elemento de suspense sobrenatural, é no mínimo um risco calculado! O filme muito bem dirigido pelo Scott Cooper (de "Espíritos Obscuros") nos convida para uma imersão clara naquela atmosfera gélida e esfumaçada, onde os personagens carregam no olhar o sofrimento de suas histórias mais íntimas ao mesmo tempo em que precisam lidar com o medo do desconhecido.
Mesmo com um roteiro que mostra certa dificuldade para unir essas duas pontas, muitas vezes se apoiando em diálogos expositivos demais, é de se elogiar a forma como a atmosfera de "The Pale Blue Eye"(no original) nos envolve - existe uma tensão constante em meio a um afinado elemento gótico, poético e excêntrico personificado em Edgar Allan Poe que se encaixa perfeitamente ao estilo investigativo de Landor que parece beber na mesma fonte de Robert Langdon e da simbologia "ocultista" de Dan Brown.
Tecnicamente muito bem realizado, "O Pálido Olho Azul" tem o impacto necessário para nos deixar muito satisfeito com sua resolução, mesmo que soe um pouco exagerado em alguns momentos. As peças se encaixam perfeitamente e olhando em retrospectiva, tudo faz sentido - do seu conceito narrativo que se mostra completamente alinhado com a forma como Cooper e o diretor de fotografia, Masanobu Takayanagi (de "O canto do cisne"), decodificam as falhas de caráter do ser humano à dicotomia de um universo misterioso dividido entre o fúnebre e a paixão pela vida.
Vale muito seu play!
"O Pálido Olho Azul" é excelente! Mesmo com um estilo narrativo um pouco mais cadenciado, com diálogos cheio de nuances e uma fotografia um pouco mais densa, eu diria que a história é muito bem amarrada, construída em cima de camadas bem desenvolvidas e com um final que pode surpreender muita gente - sem falar, óbvio, na performance digna de prêmios de Christian Bale e Harry Melling.
Baseado no romance de Louis Bayard, o filme acompanha o detetive Augustus Landor (Bale) que viaja para West Point, em Nova York, para investigar uma série de assassinatos assombrosos que colocam em xeque a reputação e a segurança da Academia Militar dos Estados Unidos. Ao chegar lá, Landor se alia a um dos cadetes locais, Edgar Allan Poe (Melling), para encontrar pistas acerca de quem pode estar por trás dos crimes. Entretanto, o detetive descobre que as coisas são muito mais complicadas do que parecem quando ele compreende que os homicídios são apenas o primeiro passo de um plano ainda mais macabro. Confira o trailer:
Em uma temporada onde Benoit Blanc trouxe seu charme para o segundo capítulo de "Knives Out" com muito mistério, leveza e um toque homeopático de humor, transportar exatamente o mesmo subgênero investigativo para 1830, em um cenário mais sinistro, que se confunde entre a literatura e o teatro, ao melhor estilo Sherlock Holmes, só que dessa vez pautado no drama mais obscuro, com um forte elemento de suspense sobrenatural, é no mínimo um risco calculado! O filme muito bem dirigido pelo Scott Cooper (de "Espíritos Obscuros") nos convida para uma imersão clara naquela atmosfera gélida e esfumaçada, onde os personagens carregam no olhar o sofrimento de suas histórias mais íntimas ao mesmo tempo em que precisam lidar com o medo do desconhecido.
Mesmo com um roteiro que mostra certa dificuldade para unir essas duas pontas, muitas vezes se apoiando em diálogos expositivos demais, é de se elogiar a forma como a atmosfera de "The Pale Blue Eye"(no original) nos envolve - existe uma tensão constante em meio a um afinado elemento gótico, poético e excêntrico personificado em Edgar Allan Poe que se encaixa perfeitamente ao estilo investigativo de Landor que parece beber na mesma fonte de Robert Langdon e da simbologia "ocultista" de Dan Brown.
Tecnicamente muito bem realizado, "O Pálido Olho Azul" tem o impacto necessário para nos deixar muito satisfeito com sua resolução, mesmo que soe um pouco exagerado em alguns momentos. As peças se encaixam perfeitamente e olhando em retrospectiva, tudo faz sentido - do seu conceito narrativo que se mostra completamente alinhado com a forma como Cooper e o diretor de fotografia, Masanobu Takayanagi (de "O canto do cisne"), decodificam as falhas de caráter do ser humano à dicotomia de um universo misterioso dividido entre o fúnebre e a paixão pela vida.
Vale muito seu play!
"O Paraíso e a Serpente" é uma coprodução da BBC One com a Netflix e poderia ser tranqüilamente uma temporada de "American Crime Story" - e isso é uma grande elogio, pois considero a produção, que tem Ryan Murphy no comando uma das melhores séries antológicas já produzidas. Em "O Paraíso e a Serpente" temos exatamente a mesma fórmula, limitada em 8 episódios como uma minissérie, baseada em fatos reais e tendo como pano de fundo um (ou vários crimes) que chamaram a atenção da mídia na época.
Na história conhecemos Charles Sobhraj (Tahar Rahim), um assassino em série e golpista que fingia ser um comprador e vendedor de pedras preciosas que atuava em vários países da Ásia, como Tailândia e Índia, e tinha como principais alvos jovens e sonhadores viajantes, no auge dos anos 70. Charles tinha o dom de manipular facilmente as pessoas, conquistar sua confiança, inclusive de sua namorada, a canadense Marie-Andrée Leclerc (Jenna Coleman), e com todo o seu talento, drogava suas vitimas, roubava todo dinheiro e seus documentos para depois falsificar sua identidade, e por fim assassinava cruelmente cada um deles para não deixar rastros, enquanto enriquecia as custas desses crimes. Confira o trailer:
"O Paraíso e a Serpente" é surpreendentemente boa, mas tem alguns pontos que precisam ser levantados. O primeiro, sem dúvida, é a edição: o conceito narrativo da minissérie é 100% não linear, ou seja, a todo momento, os acontecimentos do passado, presente e até do futuro são exibidos a partir de uma animação que simula o painel de uma aeroporto com a data, local e a informação de "X anos antes" e "Y meses depois". De fato, essa escolha cria um certo desgaste, mas depois que entendemos que o artifício não serve apenas para estabelecer o tempo e o espaço de uma ação e sim para servir como referência para as peças de um quebra-cabeça que vão se unindo e mostrando os diversos pontos de vista para uma mesma passagem da história, tudo passa a fazer muito mais sentido.
Outro ponto que pode incomodar um pouco, mas com o tempo nos acostumamos e entendemos perfeitamente, diz respeito ao conceito visual e estético escolhido pelos diretores Hans Herbots e Tom Shankland. Nos colocar imersos no mood da época para entendermos toda a atmosfera da região e da cultura oriental não é tarefa fácil, sendo assim os diretores misturam cenas reais para indicar o local de uma determinada passagem do roteiro, com um desenho de produção que, as vezes, pode parecer fora do tom - a maquiagem e o cabelo de Tahar Rahim é um bom exemplo dessa escorregada, mas contrasta com um ótimo figurino e cenários bem produzidos. Um artificio que também é proposital é o uso de zoom in e zoom out para estabelecer a tensão emocional de uma cena - muito comum nos filmes da época, essa gramática cinematográfica é muito bem utilizada aqui e, mesmo causando um pouco de incomodo inicialmente, está 100% alinhada com o estilo imposto na narrativa.
"The Serpent" (no original) tem o mérito de nos apresentar a impressionante história de um criminoso que aterrorizou turistas ocidentais na Ásia por muito tempo e que dava um baile nas autoridades do mundo inteiro. É, sem dúvida alguma, uma minissérie que vai te impactar pela crueldade e tensão pela qual muitos personagens passam com o protagonista, te assustar em alguns momentos, te prender em outros, mas não vai deixar de ser um ótimo e divertido entretenimento.
A verdade é que se você gosta do estilo "true crime", mesmo não sendo um documentário, pode dar o play seguramente!
"O Paraíso e a Serpente" é uma coprodução da BBC One com a Netflix e poderia ser tranqüilamente uma temporada de "American Crime Story" - e isso é uma grande elogio, pois considero a produção, que tem Ryan Murphy no comando uma das melhores séries antológicas já produzidas. Em "O Paraíso e a Serpente" temos exatamente a mesma fórmula, limitada em 8 episódios como uma minissérie, baseada em fatos reais e tendo como pano de fundo um (ou vários crimes) que chamaram a atenção da mídia na época.
Na história conhecemos Charles Sobhraj (Tahar Rahim), um assassino em série e golpista que fingia ser um comprador e vendedor de pedras preciosas que atuava em vários países da Ásia, como Tailândia e Índia, e tinha como principais alvos jovens e sonhadores viajantes, no auge dos anos 70. Charles tinha o dom de manipular facilmente as pessoas, conquistar sua confiança, inclusive de sua namorada, a canadense Marie-Andrée Leclerc (Jenna Coleman), e com todo o seu talento, drogava suas vitimas, roubava todo dinheiro e seus documentos para depois falsificar sua identidade, e por fim assassinava cruelmente cada um deles para não deixar rastros, enquanto enriquecia as custas desses crimes. Confira o trailer:
"O Paraíso e a Serpente" é surpreendentemente boa, mas tem alguns pontos que precisam ser levantados. O primeiro, sem dúvida, é a edição: o conceito narrativo da minissérie é 100% não linear, ou seja, a todo momento, os acontecimentos do passado, presente e até do futuro são exibidos a partir de uma animação que simula o painel de uma aeroporto com a data, local e a informação de "X anos antes" e "Y meses depois". De fato, essa escolha cria um certo desgaste, mas depois que entendemos que o artifício não serve apenas para estabelecer o tempo e o espaço de uma ação e sim para servir como referência para as peças de um quebra-cabeça que vão se unindo e mostrando os diversos pontos de vista para uma mesma passagem da história, tudo passa a fazer muito mais sentido.
Outro ponto que pode incomodar um pouco, mas com o tempo nos acostumamos e entendemos perfeitamente, diz respeito ao conceito visual e estético escolhido pelos diretores Hans Herbots e Tom Shankland. Nos colocar imersos no mood da época para entendermos toda a atmosfera da região e da cultura oriental não é tarefa fácil, sendo assim os diretores misturam cenas reais para indicar o local de uma determinada passagem do roteiro, com um desenho de produção que, as vezes, pode parecer fora do tom - a maquiagem e o cabelo de Tahar Rahim é um bom exemplo dessa escorregada, mas contrasta com um ótimo figurino e cenários bem produzidos. Um artificio que também é proposital é o uso de zoom in e zoom out para estabelecer a tensão emocional de uma cena - muito comum nos filmes da época, essa gramática cinematográfica é muito bem utilizada aqui e, mesmo causando um pouco de incomodo inicialmente, está 100% alinhada com o estilo imposto na narrativa.
"The Serpent" (no original) tem o mérito de nos apresentar a impressionante história de um criminoso que aterrorizou turistas ocidentais na Ásia por muito tempo e que dava um baile nas autoridades do mundo inteiro. É, sem dúvida alguma, uma minissérie que vai te impactar pela crueldade e tensão pela qual muitos personagens passam com o protagonista, te assustar em alguns momentos, te prender em outros, mas não vai deixar de ser um ótimo e divertido entretenimento.
A verdade é que se você gosta do estilo "true crime", mesmo não sendo um documentário, pode dar o play seguramente!
"Only Murders in the Building" é muito divertida - ao lado de "Ted Lasso" e "O Método Kominsky", talvez tenha sido a série que mais trouxe um frescor narrativo nos últimos anos para um gênero que tem dificuldade de chamar atenção de uma parte considerável dos assinantes de streaming. Com uma primeira temporada afinadíssima, a produção original da HULU, aqui distribuída pelo Star+, segue a linha conceitual do clássico "Os 7 Suspeitos" e das histórias de Agatha Christie, porém repaginada e pontualmente inserida no contexto dos recentes sucessos dos podcasts de "True Crime".
Na história conhecemos um inusitado trio de vizinhos que moram em um tradicional prédio de NY - o deslumbrante Arconia. Com personalidades completamente distintas, Charles-Haden Savage (Steve Martin), Oliver Putnam (Martin Short) e Mabel Mora (Selena Gomez) têm em comum a paixão por histórias de investigação policial. Embora a aproximação entres eles tenha acontecido por acaso, tudo muda quando os três se veem envolvidos em um possível caso de assassinato, que para a polícia não passa de um suicídio, e resolvem, por conta própria, tentar desvendar o mistério e ainda produzir um podcast sobre o caso. Confira o trailer:
É inegável que "Only Murders in the Building" caminha na linha tênue entre o "pastelão" e o "genial" - uma marca de Steve Martin nos anos 90 que ele replica ao lado de John Robert Hoffman (de "Grace and Frankie") com os devidos ajustes para equilibrar o mistério com a comédia transformando a série em algo genuinamente original e carismática. Chama atenção como o texto, mesmo satírico, consegue manter a história empolgante durante os dez episódios sem enjoar - existe um clima de leveza, quase ingênua, como se estivéssemos jogando uma partida de "Detetive" com os amigos.
No que diz respeito ao conceito narrativo, cada episódio procura brincar com a forma como os personagens são apresentados. Sempre com um narrador diferente, somos provocados a entender como cada um desses personagens podem interferir na história mesmo quando são meros e passageiros coadjuvantes. Essa dinâmica é divertida, pois as soluções são realmente muito criativas - veja, se em um episódio entendemos o life style novaiorquino a partir de um ator aposentado que vive do seu passado glorioso, mas que carrega o peso da solidão representada por atores fantasiados de personagens infantis; em outro conhecemos alguns fatos importantes da história pelo ponto de vista de um jovem surdo, ou seja, passamos o episódio inteiro sem ouvir um único diálogo - apenas observando a linguagem de sinais e fazendo leitura labial dos atores.
É fato que "Only Murders in the Building" pode parecer bobinha, mas não se engane: ela é tão inteligente quanto divertida. A história se encaixa, os protagonistas são um show a parte, o roteiro é sagaz e a produção é impecável - você vai perceber um certo toque vintageno figurino, no cenário e na trilha sonora, mesmo com um texto dinâmico e moderno. Aliás esse choque de gerações é muito bem explorado na relação de Martin e Short com Selena Gomez - a química entre eles surpreende. E pode se preparar que vem algumas indicações de Emmys e Globos de Ouro pela frente!
Vale muito o seu play!
"Only Murders in the Building" é muito divertida - ao lado de "Ted Lasso" e "O Método Kominsky", talvez tenha sido a série que mais trouxe um frescor narrativo nos últimos anos para um gênero que tem dificuldade de chamar atenção de uma parte considerável dos assinantes de streaming. Com uma primeira temporada afinadíssima, a produção original da HULU, aqui distribuída pelo Star+, segue a linha conceitual do clássico "Os 7 Suspeitos" e das histórias de Agatha Christie, porém repaginada e pontualmente inserida no contexto dos recentes sucessos dos podcasts de "True Crime".
Na história conhecemos um inusitado trio de vizinhos que moram em um tradicional prédio de NY - o deslumbrante Arconia. Com personalidades completamente distintas, Charles-Haden Savage (Steve Martin), Oliver Putnam (Martin Short) e Mabel Mora (Selena Gomez) têm em comum a paixão por histórias de investigação policial. Embora a aproximação entres eles tenha acontecido por acaso, tudo muda quando os três se veem envolvidos em um possível caso de assassinato, que para a polícia não passa de um suicídio, e resolvem, por conta própria, tentar desvendar o mistério e ainda produzir um podcast sobre o caso. Confira o trailer:
É inegável que "Only Murders in the Building" caminha na linha tênue entre o "pastelão" e o "genial" - uma marca de Steve Martin nos anos 90 que ele replica ao lado de John Robert Hoffman (de "Grace and Frankie") com os devidos ajustes para equilibrar o mistério com a comédia transformando a série em algo genuinamente original e carismática. Chama atenção como o texto, mesmo satírico, consegue manter a história empolgante durante os dez episódios sem enjoar - existe um clima de leveza, quase ingênua, como se estivéssemos jogando uma partida de "Detetive" com os amigos.
No que diz respeito ao conceito narrativo, cada episódio procura brincar com a forma como os personagens são apresentados. Sempre com um narrador diferente, somos provocados a entender como cada um desses personagens podem interferir na história mesmo quando são meros e passageiros coadjuvantes. Essa dinâmica é divertida, pois as soluções são realmente muito criativas - veja, se em um episódio entendemos o life style novaiorquino a partir de um ator aposentado que vive do seu passado glorioso, mas que carrega o peso da solidão representada por atores fantasiados de personagens infantis; em outro conhecemos alguns fatos importantes da história pelo ponto de vista de um jovem surdo, ou seja, passamos o episódio inteiro sem ouvir um único diálogo - apenas observando a linguagem de sinais e fazendo leitura labial dos atores.
É fato que "Only Murders in the Building" pode parecer bobinha, mas não se engane: ela é tão inteligente quanto divertida. A história se encaixa, os protagonistas são um show a parte, o roteiro é sagaz e a produção é impecável - você vai perceber um certo toque vintageno figurino, no cenário e na trilha sonora, mesmo com um texto dinâmico e moderno. Aliás esse choque de gerações é muito bem explorado na relação de Martin e Short com Selena Gomez - a química entre eles surpreende. E pode se preparar que vem algumas indicações de Emmys e Globos de Ouro pela frente!
Vale muito o seu play!
A obsessão do jornalismo investigativo em busca da resolução de um crime (ou de vários que estejam conectados) que a policia não foi capaz de fazer, vem se transformando em uma linha narrativa cada vez mais presente em minisséries de "true crime". De fato essa escolha conceitual não se trata de uma novidade, mas com os recursos usados para contar essas histórias, temos e exata sensação de uma proximidade cada vez mais evidente com a ficção - proporcionando assim, uma imersão imediata na jornada de um protagonista onipresente que, normalmente, funciona como narrador e que se relaciona com os fatos de uma forma muito visceral. Em "Os Filhos de Sam" essa função ficou com Paul Giamatti (Billions), onde sua capacidade como grande ator que é, foi essencial para apresentar uma das investigações mais impressionantes e surpreendentes que já assistimos até aqui - e olha, se fosse um podcast o impacto seria bem próximo!
"Os Filhos de Sam" conta a história de um dos assassinos em série mais conhecidos dos Estados Unidos, David Berkowitz. O foco, porém, acaba se transformando durante os 4 episódios da minissérie - se no início eram os brutais assassinatos que ocorriam na região de Nova York, aparentemente sem motivo algum e tendo apenas uma arma de calibre 44 como ponto de ligação entre os crimes, logo depois passamos acompanhar a repercussão da prisão e do julgamento de Berkowitz até que o personagem de Maury Terry, um jornalista investigativo, vai ganhando cada vez mais protagonismo por sempre defender a tese de que David Berkowitz não teria sido capaz de agir sozinho por razões bastante obscuras. Confira o trailer (em inglês):
Como no excelente "Eu Terei Sumido na Escuridão" da HBO, "Os Filhos de Sam" humaniza a busca pela "verdade", levando a investigação de Maury Terry às últimas consequências e é com esse propósito que o diretor Joshua Zeman (Cropsey) vai construindo sua narrativa: ele usa de um enorme arsenal de imagens de arquivo, vídeos de noticiários da época e entrevistas com vários personagens que, de alguma forma, estiveram envolvidos com o caso e, principalmente, com Terry. Usar todo esse material parailustrar e analisar o caso sob a ótica mais complexa do jornalista, ajuda quem assiste a entender com muita facilidade como muitas de suas teorias faziam, de fato, mesmo sentido, mesmo sendo completamente ignoradas pela policia de NY por questões políticas e de egocentrismo, porém é inegável a maneira como ele vai se perdendo no meio de sua própria obsessão - como se Terry preferisse provar sua tese em vez de encontrar a verdade.
"Os Filhos de Sam" tem material para ser uma minissérie (ou série) de ficção incrível, principalmente se também usarmos os crimes de David Berkowitz apenas como ponto de partida. Ao dar espaço aos contrapontos entre a tese de Terry e a da policia, é aberto um leque enorme de ramificações que vai da cientologia até Charles Manson ou o assassinato de Sharon Tate (brilhantemente recontada em "Era uma vez em… Hollywood" do Tarantino).
Pois bem, essa produção da Netflix acerta ao equilibrar perfeitamente a estrutura narrativa com o conceito visual do diretor com uma montagem muito bem realizada, com um roteiro bem amarrado e de fácil compreensão - mesmo com a clara intenção de defender a investigação paralela feita pelo jornalista Maury Terry e que durou anos, mas que até hoje não mudou a ordem dos acontecimentos e nem comprovada pelas autoridades americanas.
Vale o play!
A obsessão do jornalismo investigativo em busca da resolução de um crime (ou de vários que estejam conectados) que a policia não foi capaz de fazer, vem se transformando em uma linha narrativa cada vez mais presente em minisséries de "true crime". De fato essa escolha conceitual não se trata de uma novidade, mas com os recursos usados para contar essas histórias, temos e exata sensação de uma proximidade cada vez mais evidente com a ficção - proporcionando assim, uma imersão imediata na jornada de um protagonista onipresente que, normalmente, funciona como narrador e que se relaciona com os fatos de uma forma muito visceral. Em "Os Filhos de Sam" essa função ficou com Paul Giamatti (Billions), onde sua capacidade como grande ator que é, foi essencial para apresentar uma das investigações mais impressionantes e surpreendentes que já assistimos até aqui - e olha, se fosse um podcast o impacto seria bem próximo!
"Os Filhos de Sam" conta a história de um dos assassinos em série mais conhecidos dos Estados Unidos, David Berkowitz. O foco, porém, acaba se transformando durante os 4 episódios da minissérie - se no início eram os brutais assassinatos que ocorriam na região de Nova York, aparentemente sem motivo algum e tendo apenas uma arma de calibre 44 como ponto de ligação entre os crimes, logo depois passamos acompanhar a repercussão da prisão e do julgamento de Berkowitz até que o personagem de Maury Terry, um jornalista investigativo, vai ganhando cada vez mais protagonismo por sempre defender a tese de que David Berkowitz não teria sido capaz de agir sozinho por razões bastante obscuras. Confira o trailer (em inglês):
Como no excelente "Eu Terei Sumido na Escuridão" da HBO, "Os Filhos de Sam" humaniza a busca pela "verdade", levando a investigação de Maury Terry às últimas consequências e é com esse propósito que o diretor Joshua Zeman (Cropsey) vai construindo sua narrativa: ele usa de um enorme arsenal de imagens de arquivo, vídeos de noticiários da época e entrevistas com vários personagens que, de alguma forma, estiveram envolvidos com o caso e, principalmente, com Terry. Usar todo esse material parailustrar e analisar o caso sob a ótica mais complexa do jornalista, ajuda quem assiste a entender com muita facilidade como muitas de suas teorias faziam, de fato, mesmo sentido, mesmo sendo completamente ignoradas pela policia de NY por questões políticas e de egocentrismo, porém é inegável a maneira como ele vai se perdendo no meio de sua própria obsessão - como se Terry preferisse provar sua tese em vez de encontrar a verdade.
"Os Filhos de Sam" tem material para ser uma minissérie (ou série) de ficção incrível, principalmente se também usarmos os crimes de David Berkowitz apenas como ponto de partida. Ao dar espaço aos contrapontos entre a tese de Terry e a da policia, é aberto um leque enorme de ramificações que vai da cientologia até Charles Manson ou o assassinato de Sharon Tate (brilhantemente recontada em "Era uma vez em… Hollywood" do Tarantino).
Pois bem, essa produção da Netflix acerta ao equilibrar perfeitamente a estrutura narrativa com o conceito visual do diretor com uma montagem muito bem realizada, com um roteiro bem amarrado e de fácil compreensão - mesmo com a clara intenção de defender a investigação paralela feita pelo jornalista Maury Terry e que durou anos, mas que até hoje não mudou a ordem dos acontecimentos e nem comprovada pelas autoridades americanas.
Vale o play!
Depois de 10 incríveis episódios, eu já posso cravar: "Outsider" é uma das melhores adaptações da obra doStephen King já produzidas! É realmente um espetáculo essa série: a experiência de acompanhar toda a jornada dos detetives Ralph Anderson e Holli Gibney e com a HBO nos entregando um final de verdade, admito, é uma sensação muito próxima de ter terminado um bom livro.
A série começa com o detetive Ralph Anderson (Ben Mendelsohn de "Bloodline") investigando o brutal assassinato de um garoto de 11 anos chamado Frankie Peterson. Encontrado completamente dilacerado em um bosque de uma pequena cidade do interior da Georgia - o principal suspeito passa ser o técnico do time infantil de beisebol: Terry Maitland (Jason Bateman de "Ozark"). Terry sempre foi muito amável com todos, inclusive com o filho de Ralph, mas o fato dele ter sido identificado por três testemunhas em situações que, de alguma maneira, o ligavam à Frankie no dia do crime, acabou selando o destino do treinador. Acontece que Ralph descobre que no mesmo dia do assassinato, Terry estava em uma convenção de professores, 100 km distante dali - um álibi incontestável que bagunça completamente a investigação e obriga a policia a buscar ajuda com uma especialista para desvendar o mistério, a detetive Holly Gibney. Veja o trailer:
"Outsider" é imperdível e vale muito o seu play, porém a dúvida que fica no final do 10º episódio é se o que acabamos de assistir é uma série ou uma minissérie, pois o arco é completamente finalizado e mesmo com uma cena pós-crédito que nos dá uma pista do que pode acontecer em breve, ainda nada foi divulgado pela HBO.
Depois dos dois primeiros, temos a sensação de que a série não vai ter fôlego para segurar mais 8 episódios - erro de percepção! O assassinato de Frankie Peterson é só o inicio de uma grande investigação que engloba alguns outros crimes que seguiram o mesmo padrão, inclusive de tempo entre um e outro - vale a pena reparar nesse detalhe! Mais acostumada a esse tipo de mistério, Holly Gibney se torna peça chave no desenvolvimento da história, pois ela é a parte que não descarta o desconhecido ou o inexplicável, enquanto Ralph Anderson tem um séria dificuldade em lidar com aquilo que ele não pode provar empiricamente. É óbvio que por se tratar de uma obra do Stephen King os elementos sobrenaturais tem enorme relevância na trama, mas o roteiro do Richard Price (o mesmo de "The Night Of") equilibra tão bem o mistério possível com o medo do desconhecido que embarcamos facilmente em várias teorias levantadas durante a temporada!
Eu já havia comentado sobre a qualidade da produção assim que assisti o lançamento de "Outsider", então peço licença para ratificar minha opinião (mesmo que possa soar repetitivo): tudo é um primor, coisa de gente grande! Jason Bateman dirigiu apenas os dois primeiros episódios, porém a continuidade do conceito estético e narrativo se manteve linear, coerente - é um grande trabalho de concepção e de realização! A trilha sonora também continuou me chamando a atenção e a fotografia, olha, é linda demais - responsabilidade de Kevin McKnight, Zak Mulligan e Rasmus Heise.
Antes de finalizar, duas observações bastante pertinentes: os episódios 9 e 10 são surpreendentes, tensos, corajosos, só com um pequeno vacilo, mas que pode justificar minha segunda observação: ficou claro que o arco de investigação do Ralph Anderson terminou, porém a "cena pós-créditos" indica que Holly Gibney pode render mais histórias e o fato da personagem estar presente em outras obras de King fortalece a minha aposta: teremos uma serie antológica da personagem!
Enquanto aguardamos mais novidades, eu sugiro que você enfrente essa jornada! Vale muito a pena! Parabéns HBO!
Up Date: a HBO cancelou o que poderia ser uma série, mas isso não impacta na história ou muito menos na jornada do detetive Ralph Anderson, ou seja, aproveite os episódios ao máximo, pois "Outsider" pode ser considerada uma minissérie com um final bastante interessante.
Depois de 10 incríveis episódios, eu já posso cravar: "Outsider" é uma das melhores adaptações da obra doStephen King já produzidas! É realmente um espetáculo essa série: a experiência de acompanhar toda a jornada dos detetives Ralph Anderson e Holli Gibney e com a HBO nos entregando um final de verdade, admito, é uma sensação muito próxima de ter terminado um bom livro.
A série começa com o detetive Ralph Anderson (Ben Mendelsohn de "Bloodline") investigando o brutal assassinato de um garoto de 11 anos chamado Frankie Peterson. Encontrado completamente dilacerado em um bosque de uma pequena cidade do interior da Georgia - o principal suspeito passa ser o técnico do time infantil de beisebol: Terry Maitland (Jason Bateman de "Ozark"). Terry sempre foi muito amável com todos, inclusive com o filho de Ralph, mas o fato dele ter sido identificado por três testemunhas em situações que, de alguma maneira, o ligavam à Frankie no dia do crime, acabou selando o destino do treinador. Acontece que Ralph descobre que no mesmo dia do assassinato, Terry estava em uma convenção de professores, 100 km distante dali - um álibi incontestável que bagunça completamente a investigação e obriga a policia a buscar ajuda com uma especialista para desvendar o mistério, a detetive Holly Gibney. Veja o trailer:
"Outsider" é imperdível e vale muito o seu play, porém a dúvida que fica no final do 10º episódio é se o que acabamos de assistir é uma série ou uma minissérie, pois o arco é completamente finalizado e mesmo com uma cena pós-crédito que nos dá uma pista do que pode acontecer em breve, ainda nada foi divulgado pela HBO.
Depois dos dois primeiros, temos a sensação de que a série não vai ter fôlego para segurar mais 8 episódios - erro de percepção! O assassinato de Frankie Peterson é só o inicio de uma grande investigação que engloba alguns outros crimes que seguiram o mesmo padrão, inclusive de tempo entre um e outro - vale a pena reparar nesse detalhe! Mais acostumada a esse tipo de mistério, Holly Gibney se torna peça chave no desenvolvimento da história, pois ela é a parte que não descarta o desconhecido ou o inexplicável, enquanto Ralph Anderson tem um séria dificuldade em lidar com aquilo que ele não pode provar empiricamente. É óbvio que por se tratar de uma obra do Stephen King os elementos sobrenaturais tem enorme relevância na trama, mas o roteiro do Richard Price (o mesmo de "The Night Of") equilibra tão bem o mistério possível com o medo do desconhecido que embarcamos facilmente em várias teorias levantadas durante a temporada!
Eu já havia comentado sobre a qualidade da produção assim que assisti o lançamento de "Outsider", então peço licença para ratificar minha opinião (mesmo que possa soar repetitivo): tudo é um primor, coisa de gente grande! Jason Bateman dirigiu apenas os dois primeiros episódios, porém a continuidade do conceito estético e narrativo se manteve linear, coerente - é um grande trabalho de concepção e de realização! A trilha sonora também continuou me chamando a atenção e a fotografia, olha, é linda demais - responsabilidade de Kevin McKnight, Zak Mulligan e Rasmus Heise.
Antes de finalizar, duas observações bastante pertinentes: os episódios 9 e 10 são surpreendentes, tensos, corajosos, só com um pequeno vacilo, mas que pode justificar minha segunda observação: ficou claro que o arco de investigação do Ralph Anderson terminou, porém a "cena pós-créditos" indica que Holly Gibney pode render mais histórias e o fato da personagem estar presente em outras obras de King fortalece a minha aposta: teremos uma serie antológica da personagem!
Enquanto aguardamos mais novidades, eu sugiro que você enfrente essa jornada! Vale muito a pena! Parabéns HBO!
Up Date: a HBO cancelou o que poderia ser uma série, mas isso não impacta na história ou muito menos na jornada do detetive Ralph Anderson, ou seja, aproveite os episódios ao máximo, pois "Outsider" pode ser considerada uma minissérie com um final bastante interessante.
Se você gosta de séries criminais, essa você não vai conseguir parar de assistir - e muito me surpreende não termos ouvido falar muito dela! Para se ter uma ideia, sua nota no IMDb é 8,0 enquanto a competente "O Degelo", por exemplo, é 6,7. Pois bem, "Pagan Peak" é uma série austro-germânica que combina elementos de suspense psicológico e mistério com uma ambientação gelada e sombria nos Alpes europeus. Criada por Cyrill Boss e Philipp Stennert, "Der Pass" (no original) é claramente inspirada na aclamada série escandinava "The Bridge" e na americana "True Detective", mas rapidamente estabelece sua identidade própria ao misturar elementos de investigação policial com reflexões sobre a psique humana, mitologia e, claro, discussões sobre os limites tênues entre o bem e o mal. Assim como em outros thrillers europeus de prestígio, especialmente os nórdicos, "Pagan Peak" usa o cenário natural como um personagem adicional, intensificando o clima de tensão e isolamento, e provocando uma verdadeira imersão na jornada dos protagonistas.
A trama começa com a descoberta de um cadáver deixado em uma pose ritualística na fronteira entre a Alemanha e a Áustria, forçando a colaboração entre os detetives Ellie Stocker (Julia Jentsch), da Alemanha, e Gedeon Winter (Nicholas Ofczarek), da Áustria. Enquanto Ellie é idealista, Gedeon é cínico - essa dinâmica entre os protagonistas, somada ao mistério sombrio do caso, serve como o coração da série. À medida que a investigação avança, eles se deparam com mais assassinatos que parecem conectados a rituais pagãos e símbolos mitológicos, revelando não apenas a mente perturbada do assassino, mas também os conflitos internos que ambos os detetives enfrentam. Confira o trailer (com legendas em inglês):
Como não poderia deixar de ser, o roteiro de "Pagan Peak" é ponto alto da série - ele equilibra de maneira muito eficaz o suspense e o mistério central com o desenvolvimento dos personagens que, mais ver, se mostram tão complexos quanto o próprio crime que investigam. A tensão entre Ellie e Gedeon é construída de maneira orgânica, com suas diferenças ideológicas e emocionais adicionando uma profundidade interessante para a narrativa - muito do que vimos em "The Bridge" ou em "The Tunnel" está aqui, é verdade, mas me parece que o tom dessa relação é diferente, mais palpável. Ellie, de um lado, representa a busca incansável pela verdade e a crença na justiça, enquanto Gedeon, do outro, com sua abordagem mais pragmática e desiludida, oferece um contraponto que questiona a todo momento o significado de ser "justo". Obviamente que o assassino, cujas motivações se entrelaçam com simbolismos e rituais pagãos, trazendo referências muito interessantes do folclore germânico, é outro elemento dramático que chama atenção - ele não é tratado como um vilão unidimensional, mas como uma figura obscura que desafia a audiência a entender seus atos (algo como "Se7en", eu diria).
O conceito na direção estabelecido por Cyrill Boss e Philipp Stennert traz um olhar cuidadoso para os detalhes - eles utilizam a paisagem montanhosa para amplificar a sensação de isolamento e de alguma vulnerabilidade. Os cenários cobertos de neve, frequentemente envoltos em névoa, criam uma atmosfera de desolação visceral que espelha o estado emocional dos personagens que tentam desvendar o mistério a todo custo. O uso da luz natural e a escolha de uma paleta de cores fria e sombria tornam cada cena especialmente imersiva, enquanto a câmera, com a mesma competência, captura a grandiosidade dos Alpes e a intimidade sufocante dos espaços fechados. A trilha sonora, de nada menos que Hans Zimmer, é o elemento que conecta todo esse mood - repare como as composições misturam tensão e melancolia, enquanto o design de som se apropria do silêncio e dos ruídos naturais para criar uma sensação constante de desconforto.
Embora "Pagan Peak" tenha muitos méritos, alguns podem achar que a série segue um ritmo mais lento, especialmente em comparação com produções policiais americanas mais convencionais. Essa escolha, no entanto, é intencional, pois é justamente isso que permite com que a narrativa mergulhe nas nuances emocionais e psicológicas dos personagens sem a pressa de ter que resolver o mistério de qualquer jeito - tudo tem o seu tempo. Além disso, a complexidade dos temas mitológicos e simbólicos pode ser desafiadora para aqueles que preferem uma abordagem mais direta ao gênero investigativo, ou seja, "Pagan Peak" se aproxima daquele “True Detective” de Nic Pizzolatto, mas com um toque nórdico e com a competência da relação roteiro/direção alemã.
Vale muito (muito mesmo) o seu play!
Se você gosta de séries criminais, essa você não vai conseguir parar de assistir - e muito me surpreende não termos ouvido falar muito dela! Para se ter uma ideia, sua nota no IMDb é 8,0 enquanto a competente "O Degelo", por exemplo, é 6,7. Pois bem, "Pagan Peak" é uma série austro-germânica que combina elementos de suspense psicológico e mistério com uma ambientação gelada e sombria nos Alpes europeus. Criada por Cyrill Boss e Philipp Stennert, "Der Pass" (no original) é claramente inspirada na aclamada série escandinava "The Bridge" e na americana "True Detective", mas rapidamente estabelece sua identidade própria ao misturar elementos de investigação policial com reflexões sobre a psique humana, mitologia e, claro, discussões sobre os limites tênues entre o bem e o mal. Assim como em outros thrillers europeus de prestígio, especialmente os nórdicos, "Pagan Peak" usa o cenário natural como um personagem adicional, intensificando o clima de tensão e isolamento, e provocando uma verdadeira imersão na jornada dos protagonistas.
A trama começa com a descoberta de um cadáver deixado em uma pose ritualística na fronteira entre a Alemanha e a Áustria, forçando a colaboração entre os detetives Ellie Stocker (Julia Jentsch), da Alemanha, e Gedeon Winter (Nicholas Ofczarek), da Áustria. Enquanto Ellie é idealista, Gedeon é cínico - essa dinâmica entre os protagonistas, somada ao mistério sombrio do caso, serve como o coração da série. À medida que a investigação avança, eles se deparam com mais assassinatos que parecem conectados a rituais pagãos e símbolos mitológicos, revelando não apenas a mente perturbada do assassino, mas também os conflitos internos que ambos os detetives enfrentam. Confira o trailer (com legendas em inglês):
Como não poderia deixar de ser, o roteiro de "Pagan Peak" é ponto alto da série - ele equilibra de maneira muito eficaz o suspense e o mistério central com o desenvolvimento dos personagens que, mais ver, se mostram tão complexos quanto o próprio crime que investigam. A tensão entre Ellie e Gedeon é construída de maneira orgânica, com suas diferenças ideológicas e emocionais adicionando uma profundidade interessante para a narrativa - muito do que vimos em "The Bridge" ou em "The Tunnel" está aqui, é verdade, mas me parece que o tom dessa relação é diferente, mais palpável. Ellie, de um lado, representa a busca incansável pela verdade e a crença na justiça, enquanto Gedeon, do outro, com sua abordagem mais pragmática e desiludida, oferece um contraponto que questiona a todo momento o significado de ser "justo". Obviamente que o assassino, cujas motivações se entrelaçam com simbolismos e rituais pagãos, trazendo referências muito interessantes do folclore germânico, é outro elemento dramático que chama atenção - ele não é tratado como um vilão unidimensional, mas como uma figura obscura que desafia a audiência a entender seus atos (algo como "Se7en", eu diria).
O conceito na direção estabelecido por Cyrill Boss e Philipp Stennert traz um olhar cuidadoso para os detalhes - eles utilizam a paisagem montanhosa para amplificar a sensação de isolamento e de alguma vulnerabilidade. Os cenários cobertos de neve, frequentemente envoltos em névoa, criam uma atmosfera de desolação visceral que espelha o estado emocional dos personagens que tentam desvendar o mistério a todo custo. O uso da luz natural e a escolha de uma paleta de cores fria e sombria tornam cada cena especialmente imersiva, enquanto a câmera, com a mesma competência, captura a grandiosidade dos Alpes e a intimidade sufocante dos espaços fechados. A trilha sonora, de nada menos que Hans Zimmer, é o elemento que conecta todo esse mood - repare como as composições misturam tensão e melancolia, enquanto o design de som se apropria do silêncio e dos ruídos naturais para criar uma sensação constante de desconforto.
Embora "Pagan Peak" tenha muitos méritos, alguns podem achar que a série segue um ritmo mais lento, especialmente em comparação com produções policiais americanas mais convencionais. Essa escolha, no entanto, é intencional, pois é justamente isso que permite com que a narrativa mergulhe nas nuances emocionais e psicológicas dos personagens sem a pressa de ter que resolver o mistério de qualquer jeito - tudo tem o seu tempo. Além disso, a complexidade dos temas mitológicos e simbólicos pode ser desafiadora para aqueles que preferem uma abordagem mais direta ao gênero investigativo, ou seja, "Pagan Peak" se aproxima daquele “True Detective” de Nic Pizzolatto, mas com um toque nórdico e com a competência da relação roteiro/direção alemã.
Vale muito (muito mesmo) o seu play!
Gostei muito de "Sharp Objects" da HBO, mas com alguns "poréns"! Mas antes de seguir, é preciso fazer um parênteses: existe um cuidado em alguns projetos da HBO, que dificilmente vejo em outro serviço de streaming. São projetos premium, claro, um ou dois por ano (e isso é importante), normalmente minisséries: são tão bem produzidas, bem dirigidas e com roteiros extremamente complexos que o resultado salta aos olhos. Vejam "The Night of", "Big Little Lies"e agora "Sharp Objects", como exemplos! São impecáveis e isso é mérito de muito planejamento e, imagino, uma certa liberdade no desenvolvimento!!! Dá a impressão que, no conteúdo, a HBO está sempre um passo a frente... Para se pensar!!!
"Sharp Objects" é uma adaptação de um livro da autora Gillian Flynn que, inclusive, colabora no roteiro ao lado da Marti Noxon (do ótimo UnReal). Digo isso, pois a minissérie trás toda complexidade do livro, mas, ao mesmo tempo, deixa algumas pontas soltas que, na minha opinião, atrapalham a experiência de quem assiste a história na tela - a impressão que dá é que foi um cabo de guerra entre autora e roteirista! A história de uma jornalista que volta para sua cidade natal com a missão de fazer uma matéria sobre a morte e o desaparecimento de duas adolescentes é só o pano de fundo para uma trama muito mais profunda.
A minissérie fala das relações familiares, de machismo, de superficialidade social, de traumas, de solidão, de isolamento, de transtornos mentais, de luto; enfim, são tantas camadas que as vezes nem sabemos exatamente qual é a trama principal!!! É ai que o roteiro (ou quem escreveu) entra em conflito - parece que falta foco (engraçado que o trailer já passava essa sensação)! Isso poderia ser um grande problema, mas aí entra a genialidade do canadense Jean-Marc Vallée na direção. Ele conduz esse emaranhado de assuntos com muita maestria, criando uma dinâmica de montagem que transformam essas camadas em um fio condutor de uma maneira muito orgânica, natural! As vezes é só um frame rápido, quase imperceptível; as vezes é uma simples ação e muitas vezes é um olhar, uma mão passando no corpo, um ventilador girando, enfim, esses flashbacks transmitem tantos sentimentos que tudo (ou quase tudo) vai se encaixando com o passar dos episódios e passa a fazer sentido. Vale lembrar que ele já havia usado muito dessa técnica em "Big Little Lies", mas agora em "Sharp Objects" ele elevou o nível - é uma aula de construção narrativa em camadas!!!
Mais dois fatores também merecem destaque: o elenco feminino, principalmente a Amy Adams e a Patricia Clarkson (essa, inclusive, vem ganhando um prêmio atrás do outro na temporada - já levou Globo de Ouro e o Critic Choice Awards). Elas estão impecáveis nos papéis de filha e mãe - ambas perturbadas por uma história quase sobrenatural - vale reparar. E o outro destaque é o final de "Sharp Objects" - surpreendente pela maneira como é mostrado e inteligente no modo como foi construído! Surpreende mesmo e é isso que quem assiste quer ver, por isso acho que a minissérie entrega o que promete, mesmo derrapando em uma ou outra passagem do roteiro.
PS: Uma rápida cena pós crédito pode validar seu entendimento ou teoria - fica a dica!!!!
Gostei muito de "Sharp Objects" da HBO, mas com alguns "poréns"! Mas antes de seguir, é preciso fazer um parênteses: existe um cuidado em alguns projetos da HBO, que dificilmente vejo em outro serviço de streaming. São projetos premium, claro, um ou dois por ano (e isso é importante), normalmente minisséries: são tão bem produzidas, bem dirigidas e com roteiros extremamente complexos que o resultado salta aos olhos. Vejam "The Night of", "Big Little Lies"e agora "Sharp Objects", como exemplos! São impecáveis e isso é mérito de muito planejamento e, imagino, uma certa liberdade no desenvolvimento!!! Dá a impressão que, no conteúdo, a HBO está sempre um passo a frente... Para se pensar!!!
"Sharp Objects" é uma adaptação de um livro da autora Gillian Flynn que, inclusive, colabora no roteiro ao lado da Marti Noxon (do ótimo UnReal). Digo isso, pois a minissérie trás toda complexidade do livro, mas, ao mesmo tempo, deixa algumas pontas soltas que, na minha opinião, atrapalham a experiência de quem assiste a história na tela - a impressão que dá é que foi um cabo de guerra entre autora e roteirista! A história de uma jornalista que volta para sua cidade natal com a missão de fazer uma matéria sobre a morte e o desaparecimento de duas adolescentes é só o pano de fundo para uma trama muito mais profunda.
A minissérie fala das relações familiares, de machismo, de superficialidade social, de traumas, de solidão, de isolamento, de transtornos mentais, de luto; enfim, são tantas camadas que as vezes nem sabemos exatamente qual é a trama principal!!! É ai que o roteiro (ou quem escreveu) entra em conflito - parece que falta foco (engraçado que o trailer já passava essa sensação)! Isso poderia ser um grande problema, mas aí entra a genialidade do canadense Jean-Marc Vallée na direção. Ele conduz esse emaranhado de assuntos com muita maestria, criando uma dinâmica de montagem que transformam essas camadas em um fio condutor de uma maneira muito orgânica, natural! As vezes é só um frame rápido, quase imperceptível; as vezes é uma simples ação e muitas vezes é um olhar, uma mão passando no corpo, um ventilador girando, enfim, esses flashbacks transmitem tantos sentimentos que tudo (ou quase tudo) vai se encaixando com o passar dos episódios e passa a fazer sentido. Vale lembrar que ele já havia usado muito dessa técnica em "Big Little Lies", mas agora em "Sharp Objects" ele elevou o nível - é uma aula de construção narrativa em camadas!!!
Mais dois fatores também merecem destaque: o elenco feminino, principalmente a Amy Adams e a Patricia Clarkson (essa, inclusive, vem ganhando um prêmio atrás do outro na temporada - já levou Globo de Ouro e o Critic Choice Awards). Elas estão impecáveis nos papéis de filha e mãe - ambas perturbadas por uma história quase sobrenatural - vale reparar. E o outro destaque é o final de "Sharp Objects" - surpreendente pela maneira como é mostrado e inteligente no modo como foi construído! Surpreende mesmo e é isso que quem assiste quer ver, por isso acho que a minissérie entrega o que promete, mesmo derrapando em uma ou outra passagem do roteiro.
PS: Uma rápida cena pós crédito pode validar seu entendimento ou teoria - fica a dica!!!!
"Sombra Lunar" é uma ficção científica que a Netflix produziu que conta com muitos elementos do gênero policial. Esse mix de conceitos narrativos trás uma certa grife para o filme, algo interessante, misterioso e até surpreendente, principalmente no primeiro ato - a impressão é que o filme vai entregar algo além da nossa expectativa! Mas a história que explora a vida do investigador Thomas Lockhart (Boyd Holbrook) e sua obsessão pelo responsável por uma série de assassinatos misteriosos que acontece na Filadélfia de 9 em 9 anos, vai perdendo força até cair no usual com um final óbvio! De fato "Sombra Lunar" é um bom entretenimento, com coisas muito bacanas e outras nem tanto, mas não deixa de ser um filme pipoca para um dia chuvoso que não vai te fazer pensar tanto!
Em uma noite chuvosa de 1988, o policial Thomas Lockhart sai de casa para o que deveria ser uma noite normal de trabalho quando, em quatro pontos diferentes da cidade, quatro pessoas, sem qualquer ligação entre si, são encontradas mortas com uma estranha hemorragia, tendo seus cérebros destruídos e vazando pelas orelhas, olhos e nariz. As cenas por si só já chocariam pela estranheza, porém Lock encontra uma misteriosa marca no pescoço das vítimas - três perfurações provavelmente causadas por uma injeção! - aqui eu já achei que o roteiro perdeu uma grande oportunidade de criar um tom ainda maior de mistério, ao entregar de cara que não se tratava de algo místico ou fantasioso, mas ok!!!
O primeiro ato inteiro acompanha as investigações desses assassinatos até o encontro do policial com a suspeita - os primeiros 30/40 minutos de filme são realmente muito dinâmicos, com cenas grandiosas até, e temos a impressão que a história será capaz de nos deixar com a cabeça fervendo, principalmente se você gosta de filmes policiais! A partir do segundo ato a ficção científica se torna mais presente e começa dividir a atenção com as investigações, quando 9 anos depois outra série de assassinatos repetem o mesmo padrão de 1988. É aqui que o tom realista perde espaço para uma narrativa menos inspirada e mais óbvia. Embora o tom misterioso da trama ganhe mais força, a qualidade da produção começa a sofrer sensivelmente com as escolhas erradas do roteiro e isso vai atrapalhando a nossa experiência.
Mais um salto na linha do tempo, já em 2006, começa o terceiro ciclo de 9 anos. Tudo aquilo de excelente que vimos no trailer e que nos empolgou no primeiro ato vai se transformando em um amontoado de esteriótipos - e aqui cabe uma observação: embora a maquiagem seja apenas mediana, o trabalho do Boyd Holbrook convence com o passar dos anos, pena que a história começa a perder o sentido. As falhas e incoerências do roteiro vão aparecendo com mais frequência e aí, meu amigo, só com pipoca para nos segurar até o final do filme. O resultado dos dois primeiros ciclos quase desaparecem no terceiro e no quarto (2015), deixando claro que, talvez, o projeto tivesse uma outra sorte se fosse uma série e não um filme. Tudo fica muito superficial, espremido, inconsistente. Muitos elementos de "Dark" são facilmente encontrados em "Sombra Lunar", mas não com tanta competência e complexidade como da série alemã. A direção do Jim Mickle e a fotografia do David Lanzenberg até tentam se manter inventivos, mas claramente o roteiro não acompanha esse suspiro de criatividade. O texto no finalzinho do filme define o que a história se tornou: ultrapassada!
"Sombra Lunar" tem um argumento potente, mas seu desenvolvimento é decrescente. A empolgação do inicio se torna quase decepcionante quando chegamos no final. Não é um filme ruim, isso é um fato, mas nem de longe cumpre o que prometia. Tem ação, mistério, ficção e até um drama água com açúcar ao melhor estilo novela mexicana, só que não convence como um produto cinco estrelas. Se você gostou de "Dark", mas achou complicado, é possível que "Sombra Lunar" te divirta mais e te prenda até o final, agora se você espera algo além de um bom "filme pipoca" e que será esquecido na semana que vem, nem dê o play!
"Sombra Lunar" é uma ficção científica que a Netflix produziu que conta com muitos elementos do gênero policial. Esse mix de conceitos narrativos trás uma certa grife para o filme, algo interessante, misterioso e até surpreendente, principalmente no primeiro ato - a impressão é que o filme vai entregar algo além da nossa expectativa! Mas a história que explora a vida do investigador Thomas Lockhart (Boyd Holbrook) e sua obsessão pelo responsável por uma série de assassinatos misteriosos que acontece na Filadélfia de 9 em 9 anos, vai perdendo força até cair no usual com um final óbvio! De fato "Sombra Lunar" é um bom entretenimento, com coisas muito bacanas e outras nem tanto, mas não deixa de ser um filme pipoca para um dia chuvoso que não vai te fazer pensar tanto!
Em uma noite chuvosa de 1988, o policial Thomas Lockhart sai de casa para o que deveria ser uma noite normal de trabalho quando, em quatro pontos diferentes da cidade, quatro pessoas, sem qualquer ligação entre si, são encontradas mortas com uma estranha hemorragia, tendo seus cérebros destruídos e vazando pelas orelhas, olhos e nariz. As cenas por si só já chocariam pela estranheza, porém Lock encontra uma misteriosa marca no pescoço das vítimas - três perfurações provavelmente causadas por uma injeção! - aqui eu já achei que o roteiro perdeu uma grande oportunidade de criar um tom ainda maior de mistério, ao entregar de cara que não se tratava de algo místico ou fantasioso, mas ok!!!
O primeiro ato inteiro acompanha as investigações desses assassinatos até o encontro do policial com a suspeita - os primeiros 30/40 minutos de filme são realmente muito dinâmicos, com cenas grandiosas até, e temos a impressão que a história será capaz de nos deixar com a cabeça fervendo, principalmente se você gosta de filmes policiais! A partir do segundo ato a ficção científica se torna mais presente e começa dividir a atenção com as investigações, quando 9 anos depois outra série de assassinatos repetem o mesmo padrão de 1988. É aqui que o tom realista perde espaço para uma narrativa menos inspirada e mais óbvia. Embora o tom misterioso da trama ganhe mais força, a qualidade da produção começa a sofrer sensivelmente com as escolhas erradas do roteiro e isso vai atrapalhando a nossa experiência.
Mais um salto na linha do tempo, já em 2006, começa o terceiro ciclo de 9 anos. Tudo aquilo de excelente que vimos no trailer e que nos empolgou no primeiro ato vai se transformando em um amontoado de esteriótipos - e aqui cabe uma observação: embora a maquiagem seja apenas mediana, o trabalho do Boyd Holbrook convence com o passar dos anos, pena que a história começa a perder o sentido. As falhas e incoerências do roteiro vão aparecendo com mais frequência e aí, meu amigo, só com pipoca para nos segurar até o final do filme. O resultado dos dois primeiros ciclos quase desaparecem no terceiro e no quarto (2015), deixando claro que, talvez, o projeto tivesse uma outra sorte se fosse uma série e não um filme. Tudo fica muito superficial, espremido, inconsistente. Muitos elementos de "Dark" são facilmente encontrados em "Sombra Lunar", mas não com tanta competência e complexidade como da série alemã. A direção do Jim Mickle e a fotografia do David Lanzenberg até tentam se manter inventivos, mas claramente o roteiro não acompanha esse suspiro de criatividade. O texto no finalzinho do filme define o que a história se tornou: ultrapassada!
"Sombra Lunar" tem um argumento potente, mas seu desenvolvimento é decrescente. A empolgação do inicio se torna quase decepcionante quando chegamos no final. Não é um filme ruim, isso é um fato, mas nem de longe cumpre o que prometia. Tem ação, mistério, ficção e até um drama água com açúcar ao melhor estilo novela mexicana, só que não convence como um produto cinco estrelas. Se você gostou de "Dark", mas achou complicado, é possível que "Sombra Lunar" te divirta mais e te prenda até o final, agora se você espera algo além de um bom "filme pipoca" e que será esquecido na semana que vem, nem dê o play!
"The Killing", para mim, é uma das melhores séries de drama policial já produzida - um dos raros casos que a versão americana é melhor ou, no mínimo, tão boa quanto a versão original! A série foi um verdadeiro sucesso em 2011, quando chegou a receber 6 indicações ao Emmy daquele ano. Com uma narrativa muito bem equilibrada e extremamente envolvente, a série mistura elementos de suspense e mistério capaz de prender a nossa atenção desde o primeiro até o último episódio, bem ao estilo das minisséries de crimes da HBO - aliás, talvez aqui caiba minha única crítica à produção, mesmo entendendo que eram outros tempos: ela poderia ter terminado no final da segunda temporada, mas o fato é que seu final só foi na quarta. Com uma trama meticulosamente elaborada e uma direção impecável, a série nos conduz por uma jornada intensa e repleta de reviravoltas que vai te surpreender.
Baseada na dinamarquesa "Forbrydelsen", "The Killing" se passa em Seattle e acompanha a detetive Sarah Linden (Mireille Enos) e seu parceiro Stephen Holder (Joel Kinnaman) enquanto investigam o assassinato da adolescente Rosie Larsen. O que parece ser um caso isolado acaba se tornando uma teia complexa de mistérios e segredos, envolvendo políticos, famílias influentes e até a própria polícia. Confira o trailer (em inglês):
Sem dúvida que o estilo de narrativa de "The Killing" é marcado por uma abordagem bastante cuidadosa, extremamente detalhada, para que as peças apresentadas, encaixadas ou não, nos deixem cheios de dúvidas. Cada episódio, de fato, é repleto de pistas e diálogos bem estruturados para que não tenhamos a sensação de estarmos sendo "enrolados". Soma-se a isso uma atmosfera sombria (brilhantemente fotografado, em sua maioria, pelo Gregory Middleton de "Game of Thrones" e "Watchmen") que contribui demais para a tensão crescente da trama.
Os personagens também são muito bem construídos - não existe superficialidade. Todos são bem desenvolvidos ao longo das temporadas de forma a percebermos suas complexidades - seja no que existe de melhor e de pior no ser humano. Mireille Enos entrega uma performance cativante como a determinada detetive Linden, cuja dedicação à resolução do caso muitas vezes a coloca em conflito com sua própria vida pessoal. Joel Kinnaman também se destaca como o carismático e perspicaz Stephen Holder, trazendo um equilíbrio perfeito para a dupla de investigadores. Os dois dão um show - nos importamos com eles!
Assim como alguns filmes no estilo "Garota Exemplar" ou até séries como "Sharp Objects" ou "The Night Of", "The Killing" desafia as convenções do gênero ao partir de um crime e sua investigação, para explorar temas ainda mais profundos sobre a natureza humana, as consequências de algumas escolhas e o preço da busca pela verdade. Eu diria que essa série é uma das experiências mais intensas e satisfatórias de uma era pré-streaming que vai prender os amantes de suspense e dramas policiais bem elaborados, como poucas - pode me cobrar depois!
Se prepare e dê o play sem medo!
"The Killing", para mim, é uma das melhores séries de drama policial já produzida - um dos raros casos que a versão americana é melhor ou, no mínimo, tão boa quanto a versão original! A série foi um verdadeiro sucesso em 2011, quando chegou a receber 6 indicações ao Emmy daquele ano. Com uma narrativa muito bem equilibrada e extremamente envolvente, a série mistura elementos de suspense e mistério capaz de prender a nossa atenção desde o primeiro até o último episódio, bem ao estilo das minisséries de crimes da HBO - aliás, talvez aqui caiba minha única crítica à produção, mesmo entendendo que eram outros tempos: ela poderia ter terminado no final da segunda temporada, mas o fato é que seu final só foi na quarta. Com uma trama meticulosamente elaborada e uma direção impecável, a série nos conduz por uma jornada intensa e repleta de reviravoltas que vai te surpreender.
Baseada na dinamarquesa "Forbrydelsen", "The Killing" se passa em Seattle e acompanha a detetive Sarah Linden (Mireille Enos) e seu parceiro Stephen Holder (Joel Kinnaman) enquanto investigam o assassinato da adolescente Rosie Larsen. O que parece ser um caso isolado acaba se tornando uma teia complexa de mistérios e segredos, envolvendo políticos, famílias influentes e até a própria polícia. Confira o trailer (em inglês):
Sem dúvida que o estilo de narrativa de "The Killing" é marcado por uma abordagem bastante cuidadosa, extremamente detalhada, para que as peças apresentadas, encaixadas ou não, nos deixem cheios de dúvidas. Cada episódio, de fato, é repleto de pistas e diálogos bem estruturados para que não tenhamos a sensação de estarmos sendo "enrolados". Soma-se a isso uma atmosfera sombria (brilhantemente fotografado, em sua maioria, pelo Gregory Middleton de "Game of Thrones" e "Watchmen") que contribui demais para a tensão crescente da trama.
Os personagens também são muito bem construídos - não existe superficialidade. Todos são bem desenvolvidos ao longo das temporadas de forma a percebermos suas complexidades - seja no que existe de melhor e de pior no ser humano. Mireille Enos entrega uma performance cativante como a determinada detetive Linden, cuja dedicação à resolução do caso muitas vezes a coloca em conflito com sua própria vida pessoal. Joel Kinnaman também se destaca como o carismático e perspicaz Stephen Holder, trazendo um equilíbrio perfeito para a dupla de investigadores. Os dois dão um show - nos importamos com eles!
Assim como alguns filmes no estilo "Garota Exemplar" ou até séries como "Sharp Objects" ou "The Night Of", "The Killing" desafia as convenções do gênero ao partir de um crime e sua investigação, para explorar temas ainda mais profundos sobre a natureza humana, as consequências de algumas escolhas e o preço da busca pela verdade. Eu diria que essa série é uma das experiências mais intensas e satisfatórias de uma era pré-streaming que vai prender os amantes de suspense e dramas policiais bem elaborados, como poucas - pode me cobrar depois!
Se prepare e dê o play sem medo!