"The Night Of", na verdade, é um remake da HBO de uma série inglesa chamada "Criminal Justice", mas que nessa versão americana dirigida pelo James Marsh (de "A Teoria de Tudo" e vencedor do Oscar pelo documentário "Man on Wire") acabou virando uma incrível e angustiante minissérie de 8 episódios. Embora seja ficção, a história traz muitos elementos narrativos que fizeram de "Making a Murderer"um grande fenômeno em uma época em que as produções de "True Crime" começaram a ganhar um pouco mais de destaque nos catálogos das plataformas de streaming - e te adiando: se você gosta do tema e assistiu a produção da Netflix, vai ficar fácil perceber as similaridades e, claro, você vai se envolver profundamente.
Após ter passado a noite com uma mulher desconhecida, Nasir "Naz" Khan (Riz Ahmed), ao acordar, encontra ela morta, toda esfaqueada. Naz, um jovem descendente paquistanês, acaba sendo acusado de tê-la assassinado. No entanto, as investigações lançam uma luz sobre complexas relações entre alguns casos analisados pela polícia de Nova York e é aí que passamos a acompanhar os bastidores dos procedimentos legais do sistema criminal americano e o inferno que é viver no "feroz purgatório" de Rikers Island, onde os acusados são mantidos enquanto esperam pelo julgamento. Confira o trailer (em inglês):
Eu não conhecia a série original, mas já no primeiro episódio de "The Night Of" ficou claro para mim, a enorme qualidade do roteiro dessa versão. A maneira como eles constroem o drama do protagonista é sensacional - você se importa com o personagem logo de cara e isso vai gerando uma certa sensação de angústia que a cada erro ou vacilo que ele vai cometendo durante a história, só aumenta. Reparem como esse sentimento vai nos corroendo de uma forma, que fica impossível você não se colocar no lugar do personagem!
O roteiro escrito pelos craques Richard Price e Steven Zaillian (baseada na história original do Peter Moffat) é capaz de apresentar e desenvolver uma trama complexa de uma forma inteligente, explorando temas delicados de um jeito extremamente realista. O impacto da mídia e a dinâmica racial/social que permeiam todo o caso funcionam como gatilhos emocionais que, sério, nos tiram do eixo. É muito interessante como o roteiro mergulha profundamente nos detalhes do processo legal, expondo as falhas do sistema e questionando a ideia de que existe uma justiça verdadeira - os dilemas morais e as decisões difíceis enfrentadas pelos personagens tornam a narrativa ao mesmo tempo que intrigante, muito emocionante.
Riz Ahmed entrega uma performance cativante, mostrando um range de emoções muito particular: ele vai desde a ingenuidade inicial até o desespero, mas acho que é a transformação na prisão que mais impressiona. John Turturro (como o advogado de defesa, John Stone) com a maestria de sempre, também merece elogios - sua representação do advogado dedicado, mas imperfeito, é muito autêntica, realista. Outro detalhe que merece sua atenção é a fotografia de "The Night Of"- ela apresenta uma estética sombria e imersiva que se conecta perfeitamente às nossas sensações durante a história criando uma atmosfera de suspense e mistério como poucas vezes vimos. Existe uma sensação latente de opressão que é muito marcante.
Bom, com 13 indicações e 5 troféus na sacola no Emmy de 2017, não tem como negar que essa é uma das melhores minisséries de drama policial produzidas nos últimos tempos! Com a sagacidade de ir além do crime e assim mergulhar no efeito devastador que ele pode ter sobre as famílias das vítimas e dos acusados, "The Night Of", posso afirmar, é uma experiência difícil, que deixa uma marca profunda em quem assiste e, justamente por isso, ela é imperdível!
"The Night Of", na verdade, é um remake da HBO de uma série inglesa chamada "Criminal Justice", mas que nessa versão americana dirigida pelo James Marsh (de "A Teoria de Tudo" e vencedor do Oscar pelo documentário "Man on Wire") acabou virando uma incrível e angustiante minissérie de 8 episódios. Embora seja ficção, a história traz muitos elementos narrativos que fizeram de "Making a Murderer"um grande fenômeno em uma época em que as produções de "True Crime" começaram a ganhar um pouco mais de destaque nos catálogos das plataformas de streaming - e te adiando: se você gosta do tema e assistiu a produção da Netflix, vai ficar fácil perceber as similaridades e, claro, você vai se envolver profundamente.
Após ter passado a noite com uma mulher desconhecida, Nasir "Naz" Khan (Riz Ahmed), ao acordar, encontra ela morta, toda esfaqueada. Naz, um jovem descendente paquistanês, acaba sendo acusado de tê-la assassinado. No entanto, as investigações lançam uma luz sobre complexas relações entre alguns casos analisados pela polícia de Nova York e é aí que passamos a acompanhar os bastidores dos procedimentos legais do sistema criminal americano e o inferno que é viver no "feroz purgatório" de Rikers Island, onde os acusados são mantidos enquanto esperam pelo julgamento. Confira o trailer (em inglês):
Eu não conhecia a série original, mas já no primeiro episódio de "The Night Of" ficou claro para mim, a enorme qualidade do roteiro dessa versão. A maneira como eles constroem o drama do protagonista é sensacional - você se importa com o personagem logo de cara e isso vai gerando uma certa sensação de angústia que a cada erro ou vacilo que ele vai cometendo durante a história, só aumenta. Reparem como esse sentimento vai nos corroendo de uma forma, que fica impossível você não se colocar no lugar do personagem!
O roteiro escrito pelos craques Richard Price e Steven Zaillian (baseada na história original do Peter Moffat) é capaz de apresentar e desenvolver uma trama complexa de uma forma inteligente, explorando temas delicados de um jeito extremamente realista. O impacto da mídia e a dinâmica racial/social que permeiam todo o caso funcionam como gatilhos emocionais que, sério, nos tiram do eixo. É muito interessante como o roteiro mergulha profundamente nos detalhes do processo legal, expondo as falhas do sistema e questionando a ideia de que existe uma justiça verdadeira - os dilemas morais e as decisões difíceis enfrentadas pelos personagens tornam a narrativa ao mesmo tempo que intrigante, muito emocionante.
Riz Ahmed entrega uma performance cativante, mostrando um range de emoções muito particular: ele vai desde a ingenuidade inicial até o desespero, mas acho que é a transformação na prisão que mais impressiona. John Turturro (como o advogado de defesa, John Stone) com a maestria de sempre, também merece elogios - sua representação do advogado dedicado, mas imperfeito, é muito autêntica, realista. Outro detalhe que merece sua atenção é a fotografia de "The Night Of"- ela apresenta uma estética sombria e imersiva que se conecta perfeitamente às nossas sensações durante a história criando uma atmosfera de suspense e mistério como poucas vezes vimos. Existe uma sensação latente de opressão que é muito marcante.
Bom, com 13 indicações e 5 troféus na sacola no Emmy de 2017, não tem como negar que essa é uma das melhores minisséries de drama policial produzidas nos últimos tempos! Com a sagacidade de ir além do crime e assim mergulhar no efeito devastador que ele pode ter sobre as famílias das vítimas e dos acusados, "The Night Of", posso afirmar, é uma experiência difícil, que deixa uma marca profunda em quem assiste e, justamente por isso, ela é imperdível!
Se você gostou de "The Killing", essa recomendação é para você! "The Tunnel" é uma co-produção entre Inglaterra e França que estreou em 2013 e continuou até 2018. A série é uma adaptação de uma produção sueco-dinamarquesa de muito sucesso chamada "Bron/Broen". Aqui desenvolvida por Ben Richards (de "A Diplomata") e dirigida por nomes como Thomas Vincent (de "Segurança em Jogo") e Gilles Bannier (de "Marcella"), "The Tunnel" combina elementos que fazem de um drama policial algo único à partir de uma mistura de mistério e thriller psicológico, sempre explorando as tensões culturais e políticas entre a França e o Reino Unido. Ao longo de suas três temporadas, a série se destacou por sua atmosfera sombria, pela narrativa complexa e pelos seus personagens muito bem construídos.
A primeira temporada de "The Tunnel" (que recebeu o subtítulo de "Sabotage") segue os detetives Karl Roebuck (Stephen Dillane) do Reino Unido e Elise Wassermann (Clémence Poésy) da França, que são forçados a colaborar após o corpo de um político francês ser encontrado no Euro Tunel, precisamente na fronteira entre os dois países. Esse cenário inicial cria uma premissa tensa e única, explorando as diferenças culturais e metodológicas entre os dois detetives enquanto eles investigam o caso, que rapidamente se transforma em uma série de crimes interligados por um assassino que se autodenomina "Truth Terrorist". Confira o teaser da série:
Como fica fácil perceber pelo teaser, a dinâmica entre Karl e Elise é o coração pulsante de "The Tunnel". Stephen Dillane e Clémence Poésy entregam performances cativantes, com Dillane interpretando Karl, um detetive britânico experiente e um tanto cínico, enquanto Poésy traz uma intensidade calculada e quase robótica para Elise, refletindo sua natureza meticulosa e lógica. A química entre os dois atores é sensacional, proporcionando tanto momentos de alívio cômico quanto de tensão emocional à medida que suas diferenças começam a se tornar menos, digamos, impactantes.
A direção da primeira temporada é habilidosa em reproduzir uma atmosfera de mistério e suspense bem ao estilo nórdico de séries policiais, utilizando a locação do túnel de forma eficaz para criar um cenário claustrofóbico e inquietante. A fotografia destaca os contrastes entre as paisagens sombrias do Reino Unido e as cores mais vibrantes da França, reforçando as diferenças culturais também como conceito visual. Veja, no original sueco/dinamarquês essa disputa não é tão acentuada o que permite um foco maior na construção intima de cada personagem deixando a relação menos estereotipada, mas também é preciso entender como cada versão respeita sua maneira de produzir, de filmar - existe uma identidade nesse time narrativo, nos movimentos, nos enquadramentos, nas sutilezas. Agora, é inegável que o roteiro é igualmente bem elaborado, mantendo a audiência engajada com reviravoltas inesperadas e uma exploração profunda das motivações do "Truth Terrorist", que busca expor as falhas sociais e políticas dos dois países de um forma bastante provocadora.
A segunda temporada, intitulada "The Tunnel: Sabotage", mantém o foco em Karl e Elise, que se reunem para resolver um novo caso depois que um avião cai no Canal da Mancha. Este evento inicial se revela parte de uma conspiração maior, envolvendo terrorismo, cibercrime e uma série de outros elementos que desafiam a dupla a explorar ainda mais as áreas cinzentas da justiça. A dinâmica entre eles evolui significativamente nesta temporada, explorando a complexidade emocional e o desenvolvimento pessoal dos personagens enquanto eles enfrentam dilemas éticos e desafios pessoais. A temporada também aprofunda os elementos de suspense psicológico, com a série não tendo medo de abordar temas sombrios e complexos, incluindo o terrorismo e a paranoia em um mundo cada vez mais digital..
Já a terceira e última temporada, "Vengeance", encerra o ciclo de "The Tunnel" com uma narrativa que traz um certo toque de "vingança pessoal". Quando uma nova série de crimes começa a ocorrer, Karl e Elise são novamente forçados a trabalhar juntos, enfrentando um criminoso que parece estar sempre um passo à frente. Essa temporada explora temas como xenofobia, imigração e as divisões crescentes na sociedade moderna, refletindo as tensões mais contemporâneas na Europa. Na narrativa, o arco de Karl é particularmente emocional, pois ele enfrenta perdas pessoais e questões sobre sua própria noção de moralidade. Elise, por sua vez, continua a lidar com seus próprios traumas e vulnerabilidades. A direção e o roteiro da terceira temporada são eficazes em amarrar os arcos narrativos e fornecer uma conclusão satisfatória para a série, mas talvez deixe um gostinho de "quero mais" ou de "poderia ter sido diferente".
O fato é que "The Tunnel", o longo de suas três temporadas, consegue manter sua qualidade ao misturar de maneira eficaz o drama policial com o suspense psicológico. Apesar de algumas críticas quanto ao ritmo em certos momentos, a série se consolidou como uma adaptação sólida e bem executada do material original, oferecendo uma experiência envolvente e provocativa em muitas escalas que certamente vai fazer valer a pena o seu play!
Pode ir sem medo que a escolha é certeira!
Se você gostou de "The Killing", essa recomendação é para você! "The Tunnel" é uma co-produção entre Inglaterra e França que estreou em 2013 e continuou até 2018. A série é uma adaptação de uma produção sueco-dinamarquesa de muito sucesso chamada "Bron/Broen". Aqui desenvolvida por Ben Richards (de "A Diplomata") e dirigida por nomes como Thomas Vincent (de "Segurança em Jogo") e Gilles Bannier (de "Marcella"), "The Tunnel" combina elementos que fazem de um drama policial algo único à partir de uma mistura de mistério e thriller psicológico, sempre explorando as tensões culturais e políticas entre a França e o Reino Unido. Ao longo de suas três temporadas, a série se destacou por sua atmosfera sombria, pela narrativa complexa e pelos seus personagens muito bem construídos.
A primeira temporada de "The Tunnel" (que recebeu o subtítulo de "Sabotage") segue os detetives Karl Roebuck (Stephen Dillane) do Reino Unido e Elise Wassermann (Clémence Poésy) da França, que são forçados a colaborar após o corpo de um político francês ser encontrado no Euro Tunel, precisamente na fronteira entre os dois países. Esse cenário inicial cria uma premissa tensa e única, explorando as diferenças culturais e metodológicas entre os dois detetives enquanto eles investigam o caso, que rapidamente se transforma em uma série de crimes interligados por um assassino que se autodenomina "Truth Terrorist". Confira o teaser da série:
Como fica fácil perceber pelo teaser, a dinâmica entre Karl e Elise é o coração pulsante de "The Tunnel". Stephen Dillane e Clémence Poésy entregam performances cativantes, com Dillane interpretando Karl, um detetive britânico experiente e um tanto cínico, enquanto Poésy traz uma intensidade calculada e quase robótica para Elise, refletindo sua natureza meticulosa e lógica. A química entre os dois atores é sensacional, proporcionando tanto momentos de alívio cômico quanto de tensão emocional à medida que suas diferenças começam a se tornar menos, digamos, impactantes.
A direção da primeira temporada é habilidosa em reproduzir uma atmosfera de mistério e suspense bem ao estilo nórdico de séries policiais, utilizando a locação do túnel de forma eficaz para criar um cenário claustrofóbico e inquietante. A fotografia destaca os contrastes entre as paisagens sombrias do Reino Unido e as cores mais vibrantes da França, reforçando as diferenças culturais também como conceito visual. Veja, no original sueco/dinamarquês essa disputa não é tão acentuada o que permite um foco maior na construção intima de cada personagem deixando a relação menos estereotipada, mas também é preciso entender como cada versão respeita sua maneira de produzir, de filmar - existe uma identidade nesse time narrativo, nos movimentos, nos enquadramentos, nas sutilezas. Agora, é inegável que o roteiro é igualmente bem elaborado, mantendo a audiência engajada com reviravoltas inesperadas e uma exploração profunda das motivações do "Truth Terrorist", que busca expor as falhas sociais e políticas dos dois países de um forma bastante provocadora.
A segunda temporada, intitulada "The Tunnel: Sabotage", mantém o foco em Karl e Elise, que se reunem para resolver um novo caso depois que um avião cai no Canal da Mancha. Este evento inicial se revela parte de uma conspiração maior, envolvendo terrorismo, cibercrime e uma série de outros elementos que desafiam a dupla a explorar ainda mais as áreas cinzentas da justiça. A dinâmica entre eles evolui significativamente nesta temporada, explorando a complexidade emocional e o desenvolvimento pessoal dos personagens enquanto eles enfrentam dilemas éticos e desafios pessoais. A temporada também aprofunda os elementos de suspense psicológico, com a série não tendo medo de abordar temas sombrios e complexos, incluindo o terrorismo e a paranoia em um mundo cada vez mais digital..
Já a terceira e última temporada, "Vengeance", encerra o ciclo de "The Tunnel" com uma narrativa que traz um certo toque de "vingança pessoal". Quando uma nova série de crimes começa a ocorrer, Karl e Elise são novamente forçados a trabalhar juntos, enfrentando um criminoso que parece estar sempre um passo à frente. Essa temporada explora temas como xenofobia, imigração e as divisões crescentes na sociedade moderna, refletindo as tensões mais contemporâneas na Europa. Na narrativa, o arco de Karl é particularmente emocional, pois ele enfrenta perdas pessoais e questões sobre sua própria noção de moralidade. Elise, por sua vez, continua a lidar com seus próprios traumas e vulnerabilidades. A direção e o roteiro da terceira temporada são eficazes em amarrar os arcos narrativos e fornecer uma conclusão satisfatória para a série, mas talvez deixe um gostinho de "quero mais" ou de "poderia ter sido diferente".
O fato é que "The Tunnel", o longo de suas três temporadas, consegue manter sua qualidade ao misturar de maneira eficaz o drama policial com o suspense psicológico. Apesar de algumas críticas quanto ao ritmo em certos momentos, a série se consolidou como uma adaptação sólida e bem executada do material original, oferecendo uma experiência envolvente e provocativa em muitas escalas que certamente vai fazer valer a pena o seu play!
Pode ir sem medo que a escolha é certeira!
"Um Pesadelo Americano" é um típico true crime de três episódios que além de intenso em sua proposta narrativa, é profundamente intrigante pela forma como a história é desconstruída. Chancelada por ser um projeto da mesma equipe criativa que produziu "O Golpista do Tinder", essa minissérie nos conduz por um caso absurdo pela perspectiva de quem investiga, mesmo que a narrativa seja feita por quem, de fato, foi vítima. É isso mesmo, essa quebra de expectativa entre o que vemos na tela e o que de fato aconteceu, nos provoca inúmeros julgamentos que diz muito sobre a maneira com que somos influenciados. Eu diria, inclusive, que essa produção original da Netflix é uma verdadeira imersão no obscuro labirinto da pseudo justiça e da hipocrisia da mídia americana, sem o receio de nos expor como parte desse circo - e aqui, ao surgir a comparação com "Garota Exemplar", entendemos exatamente onde a direção de Felicity Morris queria chegar.
"American Nightmare" (no original) foca na história do casal Denise Huskins e Aaron Quinn. Os dois são surpreendidos quando um grupo de pessoas em roupas de mergulho invadem sua casa e fazem os dois de reféns. Após serem supostamente drogados, Denise é levada pelos criminosos e Aaron só consegue fazer contato com a polícia no dia seguinte - é aí que o pesadelo começa, já que depois de um depoimento cheio de brechas, o jovem se torna o principal suspeito do desaparecimento misterioso da namorada. Confira o trailer:
Em um primeiro olhar, encontramos em "Um Pesadelo Americano" uma maestria técnica e artística empregada na sua realização que realmente chama atenção pela similaridade com uma obra de ficção. A forma como Morris explora cada nuance da história, capturando a intensidade emocional dos fatos e toda dinâmica da investigação, realmente nos faz lembrar de filmes do gênero, mais especificamente do próprio "Garota Exemplar" do grande David Fincher - que por curiosidade havia sido lançado um ano antes do crime. Obviamente que essa comparação extrapola o conceito narrativo para se transformar, por incrível que possa parecer, no ponto de partida da investigação diante dos depoimentos de Aaron Quinn e depois de Denise Huskins.
Apresentando as versões sobre o caso a partir de três personagens chave e em episódios "independentes", a direção não só propõe a construção de um quebra-cabeça como também controla quais as peças quer nos entregar. Veja, o roteiro é muito bem amarrado, o que potencializa o trabalho do montador que se delicia com inúmeros depoimentos (inclusive do casal), imagens de câmeras e áudios de policiais e dos suspeitos durante as investigações, gravações de celulares, reportagens de tv da época, e-mails, fotos, enfim, uma quantidade enorme de material que ajudam a compor a linha do tempo de maneira clara e dinâmica, mesmo que de certa forma fragmentada. Veja, até quando a direção propõe algumas reconstituições, o que vemos é uma gramática visual simplesmente cinematográfica e muito envolvente.
Existe uma certa genialidade na minissérie ao desconstruir pré-conceitos e oferecer uma nova perspectiva sobre o caso a cada informação, interpretação ou dúvida levantada por alguém. Essa quebra de expectativa funciona perfeitamente nos dois primeiro episódios, criando uma atmosfera de mistério. No entanto, já o terceiro episódio parece perder um pouco dessa unidade narrativa - elementos aparentemente insignificantes ganham relevância, questionando a veracidade das acusações e provocando uma análise crítica sobre a responsabilidade da mídia e da polícia durante a investigação. Aqui não se trata mais sobre o que aconteceu com Denise e sim sobre como o caso foi tratado. Dito isso, "Pesadelo Americano" não conta apenas com uma história intrigante, mas também nos convida a desafiar a forma como percebemos a verdade e a justiça com um toque de crítica social ao levantar discussões relevantes, especialmente, sobre a misoginia institucionalizada.
Vale seu play!
"Um Pesadelo Americano" é um típico true crime de três episódios que além de intenso em sua proposta narrativa, é profundamente intrigante pela forma como a história é desconstruída. Chancelada por ser um projeto da mesma equipe criativa que produziu "O Golpista do Tinder", essa minissérie nos conduz por um caso absurdo pela perspectiva de quem investiga, mesmo que a narrativa seja feita por quem, de fato, foi vítima. É isso mesmo, essa quebra de expectativa entre o que vemos na tela e o que de fato aconteceu, nos provoca inúmeros julgamentos que diz muito sobre a maneira com que somos influenciados. Eu diria, inclusive, que essa produção original da Netflix é uma verdadeira imersão no obscuro labirinto da pseudo justiça e da hipocrisia da mídia americana, sem o receio de nos expor como parte desse circo - e aqui, ao surgir a comparação com "Garota Exemplar", entendemos exatamente onde a direção de Felicity Morris queria chegar.
"American Nightmare" (no original) foca na história do casal Denise Huskins e Aaron Quinn. Os dois são surpreendidos quando um grupo de pessoas em roupas de mergulho invadem sua casa e fazem os dois de reféns. Após serem supostamente drogados, Denise é levada pelos criminosos e Aaron só consegue fazer contato com a polícia no dia seguinte - é aí que o pesadelo começa, já que depois de um depoimento cheio de brechas, o jovem se torna o principal suspeito do desaparecimento misterioso da namorada. Confira o trailer:
Em um primeiro olhar, encontramos em "Um Pesadelo Americano" uma maestria técnica e artística empregada na sua realização que realmente chama atenção pela similaridade com uma obra de ficção. A forma como Morris explora cada nuance da história, capturando a intensidade emocional dos fatos e toda dinâmica da investigação, realmente nos faz lembrar de filmes do gênero, mais especificamente do próprio "Garota Exemplar" do grande David Fincher - que por curiosidade havia sido lançado um ano antes do crime. Obviamente que essa comparação extrapola o conceito narrativo para se transformar, por incrível que possa parecer, no ponto de partida da investigação diante dos depoimentos de Aaron Quinn e depois de Denise Huskins.
Apresentando as versões sobre o caso a partir de três personagens chave e em episódios "independentes", a direção não só propõe a construção de um quebra-cabeça como também controla quais as peças quer nos entregar. Veja, o roteiro é muito bem amarrado, o que potencializa o trabalho do montador que se delicia com inúmeros depoimentos (inclusive do casal), imagens de câmeras e áudios de policiais e dos suspeitos durante as investigações, gravações de celulares, reportagens de tv da época, e-mails, fotos, enfim, uma quantidade enorme de material que ajudam a compor a linha do tempo de maneira clara e dinâmica, mesmo que de certa forma fragmentada. Veja, até quando a direção propõe algumas reconstituições, o que vemos é uma gramática visual simplesmente cinematográfica e muito envolvente.
Existe uma certa genialidade na minissérie ao desconstruir pré-conceitos e oferecer uma nova perspectiva sobre o caso a cada informação, interpretação ou dúvida levantada por alguém. Essa quebra de expectativa funciona perfeitamente nos dois primeiro episódios, criando uma atmosfera de mistério. No entanto, já o terceiro episódio parece perder um pouco dessa unidade narrativa - elementos aparentemente insignificantes ganham relevância, questionando a veracidade das acusações e provocando uma análise crítica sobre a responsabilidade da mídia e da polícia durante a investigação. Aqui não se trata mais sobre o que aconteceu com Denise e sim sobre como o caso foi tratado. Dito isso, "Pesadelo Americano" não conta apenas com uma história intrigante, mas também nos convida a desafiar a forma como percebemos a verdade e a justiça com um toque de crítica social ao levantar discussões relevantes, especialmente, sobre a misoginia institucionalizada.
Vale seu play!
"Você", série do "Lifetime" que a Netflix distribui globalmente é boa, divertida, mas desde que você não a leve muito a sério. Digo isso depois de assistir a primeira temporada inteira e, por mais de uma vez, adiar o momento de escrever esse review. E por uma razão simples: eu estava tentando entender onde aquela história queria me levar!
O trailer indica uma linha narrativa muito interessante, com um conceito bastante particular, mas que não se encontra inicialmente na série: a história de um vendedor de livros que se apaixona por uma jovem escritora e imediatamente começa a destrinchar a vida dela pelas redes sociais sugere um suspense psicológico, mas eu não via isso em nada da série!!! Assim que assisti o primeiro episódio, e embora tenha gostado bastante, me senti "enganado" por causa dessa falta de coerência entre o trailer e a obra! Os episódios foram passando e, lentamente, fui me envolvendo com a história - traços da personalidade do protagonista vão aparecendo, se tornando mais interessante. O problema é que isso não se sustenta por muito tempo e ficamos com a sensação que aquilo tudo não faz muito sentido - algumas soluções do roteiro são, inclusive, infantis demais!!! Teve um momento que "You" me pareceu muito mais uma comédia romântica adolescente, com lapsos de suspense, do que algo que pudesse justificar os ótimos comentários que havia lido até ali.
Continuando: com o passar dos episódios eu fui entendendo (mesmo com um pé atrás) que aquela era a história, aquele era o arco do protagonista e aquele cenário "Gossip Girl" faziam parte de um quebra-cabeça que poderia me surpreender. Admito que demorou para eu entender, mas no final justificou a construção da trama principal!! A premissa é realmente boa, mas o tom escolhido para a série foi muito inconstante durante a temporada (na minha opinião) - alguém com um pouco menos de paciência e fora do público-alvo teria desistido. Até me lembrou "Gipsy" - outra série que usou da mesma estratégia e depois não se sustentou!!! No caso de "Você" essa característica da série acaba jogando a favor quando se chega nos episódios finais! As situações criadas para o protagonista stalkear a personagem Guinevere Beck são absurdas, completamente fora da realidade e muito forçadas - mas são divertidas, por isso funciona muito bem. Os offs narrativos se sobrepõem as ações com sentimentos e indagações muito inteligentes, quase como se estivéssemos lendo um livro - isso acaba cativando!!! A série vai nos surpreendendo e aquela cadeia de eventos que parecia bobo se torna interessante (mas, por favor, não esperem algo como "The Night of" da HBO)!!! Embora a série seja bem produzida e tenha sua identidade, os episódio 2 e 3 tem problemas sérios de falta de continuidade na fotografia, sem a menor unidade de cor entre alguns planos e contra-planos - imperdoável para esse nível de projeto (reparem na cena em que os personagens principais conversam na cama no ep.2). Fica a observação!
A Netflix já avisou que vai assumir a produção da segunda temporada dado o sucesso da primeira, o que colabora com a minha primeira afirmação: "You" é boa, ótima para uma maratona no final de semana, basta não levar muito a sério as situações absurdas dos personagens e a diversão está garantida!!! Penn Badgley (Joe) está no elenco e isso nos leva a ter sensação de que a série é um spin-off obscuro de "Gossip Girl" - até o cenário parece o mesmo!!!! Elizabeth Lail está ótima, sua personagem é complexa, mas palpável, verdadeira - isso ajuda a equilibrar aquele universo estereotipado que ela faz parte. Alguns personagens, algumas das amigas da Bec, por exemplo, são completamente dispensáveis.
No geral, se você assistir até o final, a série passa a ser um ótimo entretenimento e até surpreendente. "You" vale a pena, parece não ter pressa, isso é muito bacana quando existe um rumo certo. Vale a diversão!!!
"Você", série do "Lifetime" que a Netflix distribui globalmente é boa, divertida, mas desde que você não a leve muito a sério. Digo isso depois de assistir a primeira temporada inteira e, por mais de uma vez, adiar o momento de escrever esse review. E por uma razão simples: eu estava tentando entender onde aquela história queria me levar!
O trailer indica uma linha narrativa muito interessante, com um conceito bastante particular, mas que não se encontra inicialmente na série: a história de um vendedor de livros que se apaixona por uma jovem escritora e imediatamente começa a destrinchar a vida dela pelas redes sociais sugere um suspense psicológico, mas eu não via isso em nada da série!!! Assim que assisti o primeiro episódio, e embora tenha gostado bastante, me senti "enganado" por causa dessa falta de coerência entre o trailer e a obra! Os episódios foram passando e, lentamente, fui me envolvendo com a história - traços da personalidade do protagonista vão aparecendo, se tornando mais interessante. O problema é que isso não se sustenta por muito tempo e ficamos com a sensação que aquilo tudo não faz muito sentido - algumas soluções do roteiro são, inclusive, infantis demais!!! Teve um momento que "You" me pareceu muito mais uma comédia romântica adolescente, com lapsos de suspense, do que algo que pudesse justificar os ótimos comentários que havia lido até ali.
Continuando: com o passar dos episódios eu fui entendendo (mesmo com um pé atrás) que aquela era a história, aquele era o arco do protagonista e aquele cenário "Gossip Girl" faziam parte de um quebra-cabeça que poderia me surpreender. Admito que demorou para eu entender, mas no final justificou a construção da trama principal!! A premissa é realmente boa, mas o tom escolhido para a série foi muito inconstante durante a temporada (na minha opinião) - alguém com um pouco menos de paciência e fora do público-alvo teria desistido. Até me lembrou "Gipsy" - outra série que usou da mesma estratégia e depois não se sustentou!!! No caso de "Você" essa característica da série acaba jogando a favor quando se chega nos episódios finais! As situações criadas para o protagonista stalkear a personagem Guinevere Beck são absurdas, completamente fora da realidade e muito forçadas - mas são divertidas, por isso funciona muito bem. Os offs narrativos se sobrepõem as ações com sentimentos e indagações muito inteligentes, quase como se estivéssemos lendo um livro - isso acaba cativando!!! A série vai nos surpreendendo e aquela cadeia de eventos que parecia bobo se torna interessante (mas, por favor, não esperem algo como "The Night of" da HBO)!!! Embora a série seja bem produzida e tenha sua identidade, os episódio 2 e 3 tem problemas sérios de falta de continuidade na fotografia, sem a menor unidade de cor entre alguns planos e contra-planos - imperdoável para esse nível de projeto (reparem na cena em que os personagens principais conversam na cama no ep.2). Fica a observação!
A Netflix já avisou que vai assumir a produção da segunda temporada dado o sucesso da primeira, o que colabora com a minha primeira afirmação: "You" é boa, ótima para uma maratona no final de semana, basta não levar muito a sério as situações absurdas dos personagens e a diversão está garantida!!! Penn Badgley (Joe) está no elenco e isso nos leva a ter sensação de que a série é um spin-off obscuro de "Gossip Girl" - até o cenário parece o mesmo!!!! Elizabeth Lail está ótima, sua personagem é complexa, mas palpável, verdadeira - isso ajuda a equilibrar aquele universo estereotipado que ela faz parte. Alguns personagens, algumas das amigas da Bec, por exemplo, são completamente dispensáveis.
No geral, se você assistir até o final, a série passa a ser um ótimo entretenimento e até surpreendente. "You" vale a pena, parece não ter pressa, isso é muito bacana quando existe um rumo certo. Vale a diversão!!!
Você vai se surpreender com "Wisting"! Essa série norueguesa de muito sucesso no seu país (lá já são várias temporadas) combina o melhor do suspense de uma investigação criminal com um olhar introspectivo sobre os dilemas e sacrifícios pessoais enfrentados por aqueles que dedicam suas vidas na busca por justiça - sim, eu sei que costumo pontuar essa característica com certa frequência, mas é inegável como essas séries nórdicas conseguem um resultado muito bacana quando partem desse contexto narrativo. Aqui, por exemplo, temos uma série baseada nos romances do ex-detetive e autor Jørn Lier Horst, adaptada por Trygve Allister Diesen e Kathrine Valen Zeiner, o que traz para tela muita credibilidade dramática - existe uma solidez por toda trama das mais envolventes, se destacando pela autenticidade e pela atmosfera tensa na busca por um serial-killer (e não necessariamente para resolver apenas um caso isolado como estamos acostumados). "Wisting", especialmente na sua primeira temporada, utiliza o formato "noir escandinavo" como base para entregar uma dinâmica muito mais próxima do estilo americano de contar esse tipo de história - inclusive com aquele toque FBI de investigação (personificada pela Carrie-Ann Moss, a eterna Trinity de "Matrix").
Na série conhecemos William Wisting (Sven Nordin), um detetive veterano da polícia norueguesa, que investiga crimes de alta complexidade. A série começa com Wisting enfrentando dois casos paralelos: um assassinato brutal com possíveis conexões internacionais e um serial killer que se tornou o principal alvo de uma caçada em colaboração com o FBI. Paralelamente, a filha de Wisting, Line (Thea Green Lundberg), uma jornalista investigativa, está trabalhando em uma matéria que inadvertidamente cruza com os casos de seu pai, criando um interessante conflito de interesses e dinâmicas familiares que adicionam uma camada das mais interessantes para a narrativa. Confira o trailer original:
É muito claro como "Wisting" trabalha sua abordagem de uma forma mais realista para apresentar o trabalho policial e investigativo da série. Diferente de muitos dramas criminais que dependem de reviravoltas mais sensacionalistas, "Wisting" opta por um ritmo mais cadenciado e metódico, muita vezes detalhado demais, eu diria; o que reflete perfeitamente os desafios e as frustrações de uma jornada dura como essa. Embora menos dinâmica, essa proposta contribui em profundidade, dando espaço até para um desenvolvimento emocional mais humano e papável dos personagens. O roteiro, muito eficaz em construir a tensão que envolve os crimes, não ignora as implicações éticas das escolhas do protagonista - desde as primeiras cenas percebemos essa dualidade. Sua luta para balancear o trabalho exigente com uma vida pessoal cheia de marcas, especialmente na relação com a filha, é um tema recorrente e tratado com alguma sensibilidade, tornando William mais do que um detetive "super-herói" ou referência em eficiência, mas um homem vulnerável e cheio de falhas - talvez por isso seja impossível não lembrar de Sarah Linden de "The Killing".
A direção de Trygve Allister Diesen é visualmente impressionante. Como não poderia deixar de ser, ele aproveita ao máximo as paisagens desoladas e frias da Noruega para criar uma atmosfera de tensão absurda. A fotografia destaca o contraste entre o esplendor natural do ambiente com a brutalidade dos crimes investigados, capturando o clima de melancolia e de certa opressão - característico do noir escandinavo. Repare como a câmera frequentemente se concentra em planos fechados que revelam a introspecção dos personagens, enquanto as cenas externas, mais amplas, reforçam o senso de imensidão e anonimato que os investigadores enfrentam na busca pelos criminosos - e aqui cabe um destaque: o impacto dos enquadramentos nas cenas dos crimes, seja em vídeo ou por fotos, realmente é muito bem explorado. O elenco fixo, tem um Sven Nordin que entrega uma performance equilibrada como Wisting, transmitindo tanto a competência profissional quanto a carga emocional que seu trabalho exige. Ele consegue capturar a exaustão e a determinação do personagem sem cair em muitos clichês, se tornando uma figura autêntica e fácil de se conectar. Thea Green Lundberg, como Line, é igualmente convincente, trazendo energia e dinamismo à narrativa com sua investigação jornalística.
Resumindo, "Wisting" é mais uma excelente série que traz o melhor do noir escandinavo, combinando uma investigação policial complexa com um recorte humano e sensível de seus personagens principais - mesmo que em algum momento o plot jornalístico de Line, soe que poderia ter sido melhor integrado ao enredo principal (chega parecer que ele quer competir com a narrativa central em vez de complementá-la). Com um conceito que privilegia o realismo e a introspecção, essa série oferece uma experiência imersiva para fãs do gênero, mostrando ser mais uma escolha imperdível para aqueles que sabem apreciar um drama criminal inteligente e emocionalmente ressonante ao melhor estilo HBO.
Vale muito o seu play!
Você vai se surpreender com "Wisting"! Essa série norueguesa de muito sucesso no seu país (lá já são várias temporadas) combina o melhor do suspense de uma investigação criminal com um olhar introspectivo sobre os dilemas e sacrifícios pessoais enfrentados por aqueles que dedicam suas vidas na busca por justiça - sim, eu sei que costumo pontuar essa característica com certa frequência, mas é inegável como essas séries nórdicas conseguem um resultado muito bacana quando partem desse contexto narrativo. Aqui, por exemplo, temos uma série baseada nos romances do ex-detetive e autor Jørn Lier Horst, adaptada por Trygve Allister Diesen e Kathrine Valen Zeiner, o que traz para tela muita credibilidade dramática - existe uma solidez por toda trama das mais envolventes, se destacando pela autenticidade e pela atmosfera tensa na busca por um serial-killer (e não necessariamente para resolver apenas um caso isolado como estamos acostumados). "Wisting", especialmente na sua primeira temporada, utiliza o formato "noir escandinavo" como base para entregar uma dinâmica muito mais próxima do estilo americano de contar esse tipo de história - inclusive com aquele toque FBI de investigação (personificada pela Carrie-Ann Moss, a eterna Trinity de "Matrix").
Na série conhecemos William Wisting (Sven Nordin), um detetive veterano da polícia norueguesa, que investiga crimes de alta complexidade. A série começa com Wisting enfrentando dois casos paralelos: um assassinato brutal com possíveis conexões internacionais e um serial killer que se tornou o principal alvo de uma caçada em colaboração com o FBI. Paralelamente, a filha de Wisting, Line (Thea Green Lundberg), uma jornalista investigativa, está trabalhando em uma matéria que inadvertidamente cruza com os casos de seu pai, criando um interessante conflito de interesses e dinâmicas familiares que adicionam uma camada das mais interessantes para a narrativa. Confira o trailer original:
É muito claro como "Wisting" trabalha sua abordagem de uma forma mais realista para apresentar o trabalho policial e investigativo da série. Diferente de muitos dramas criminais que dependem de reviravoltas mais sensacionalistas, "Wisting" opta por um ritmo mais cadenciado e metódico, muita vezes detalhado demais, eu diria; o que reflete perfeitamente os desafios e as frustrações de uma jornada dura como essa. Embora menos dinâmica, essa proposta contribui em profundidade, dando espaço até para um desenvolvimento emocional mais humano e papável dos personagens. O roteiro, muito eficaz em construir a tensão que envolve os crimes, não ignora as implicações éticas das escolhas do protagonista - desde as primeiras cenas percebemos essa dualidade. Sua luta para balancear o trabalho exigente com uma vida pessoal cheia de marcas, especialmente na relação com a filha, é um tema recorrente e tratado com alguma sensibilidade, tornando William mais do que um detetive "super-herói" ou referência em eficiência, mas um homem vulnerável e cheio de falhas - talvez por isso seja impossível não lembrar de Sarah Linden de "The Killing".
A direção de Trygve Allister Diesen é visualmente impressionante. Como não poderia deixar de ser, ele aproveita ao máximo as paisagens desoladas e frias da Noruega para criar uma atmosfera de tensão absurda. A fotografia destaca o contraste entre o esplendor natural do ambiente com a brutalidade dos crimes investigados, capturando o clima de melancolia e de certa opressão - característico do noir escandinavo. Repare como a câmera frequentemente se concentra em planos fechados que revelam a introspecção dos personagens, enquanto as cenas externas, mais amplas, reforçam o senso de imensidão e anonimato que os investigadores enfrentam na busca pelos criminosos - e aqui cabe um destaque: o impacto dos enquadramentos nas cenas dos crimes, seja em vídeo ou por fotos, realmente é muito bem explorado. O elenco fixo, tem um Sven Nordin que entrega uma performance equilibrada como Wisting, transmitindo tanto a competência profissional quanto a carga emocional que seu trabalho exige. Ele consegue capturar a exaustão e a determinação do personagem sem cair em muitos clichês, se tornando uma figura autêntica e fácil de se conectar. Thea Green Lundberg, como Line, é igualmente convincente, trazendo energia e dinamismo à narrativa com sua investigação jornalística.
Resumindo, "Wisting" é mais uma excelente série que traz o melhor do noir escandinavo, combinando uma investigação policial complexa com um recorte humano e sensível de seus personagens principais - mesmo que em algum momento o plot jornalístico de Line, soe que poderia ter sido melhor integrado ao enredo principal (chega parecer que ele quer competir com a narrativa central em vez de complementá-la). Com um conceito que privilegia o realismo e a introspecção, essa série oferece uma experiência imersiva para fãs do gênero, mostrando ser mais uma escolha imperdível para aqueles que sabem apreciar um drama criminal inteligente e emocionalmente ressonante ao melhor estilo HBO.
Vale muito o seu play!