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King Richard

Essa era uma história que merecia ser contada - e o interessante é que o protagonista não é exatamente um personagem que já conhecemos ou admiramos pela sua obra ou conquistas, embora essa percepção esteja completamente errada já que seu nome está diretamente ligado a dois fenômenos do esporte mundial: Venus e Serena Williams.

Motivado por uma visão clara do futuro brilhante de suas talentosas filhas e empregando métodos próprios e nada convencionais de treinamento, Richard (Will Smith) cria um plano detalhado para levar Venus e Serena Williams, das ruas de Compton, na Califórnia, para as quadras de todo o mundo, como lendas vivas do tênis. Profundamente comovente, o filme retrata a importância da família, da perseverança, do trabalho duro e da fé inabalável como instrumentos para alcançar o que para muitos parecia impossível e assim transformar para sempre a história de um esporte considerado até ali, branco e elitista. Confira o trailer:

Obviamente que assistimos esse excelente filme com aquela confortável sensação de que tudo vai dar certo no final, pois já conhecemos (mesmo que muitos superficialmente) a história de sucesso e o que vieram a representar Venus e Serena para o esporte mundial. Portanto, "King Richard" (que no Brasil ganhou o sugestivo e dispensável subtítulo de "Criando Campeãs") se trata de um filme sobre o que representou "a jornada" e não necessariamente "as conquistas"! O interessante, e um dos grandes acertos do roteiro, foi que o filme transformou essa jornada em um recorte bastante claro e importante de onde a trama poderia nos levar (e aqui assunto não é o esporte): o fato de termos duas personagens com um futuro brilhante pela frente, em momento algum impediu que o personagem título brilhasse - o foco é realmente o homem que nunca deixou de acreditar, de lutar, que errava tentando acertar e que, em muitos momentos, convivia com o medo de falhar como pai. Essa construção de camadas do personagem, brilhantemente interpretado por Smith, foi um verdadeiro golaço do roteirista estreante Zach Baylin (que vai assinar "Creed III" e que pode até surpreender como um dos indicados no próximo Oscar por esse trabalho).

Além de Will Smith, todo o elenco está impecável - é praticamente impossível não se apaixonar e depois torcer muito para as meninas tamanho é o carisma que a dinâmica familiar dos Williams traz. Saniyya Sidney como Venus e Demi Singleton como Serena são (e estão) incríveis, além, é claro, de mais um belíssimo trabalho da Aunjanue Ellis como Oracene 'Brandy' Williams. Existe um certo equilíbrio entre a leveza e a profundidade em diálogos que não fogem, em nenhum momento, de discussões duras (e delicadas) sobre racismo e desigualdade social - e esse mérito, sem dúvida, deve ser creditado aos atores.

Veja, o recente "O Quinto Set" também trabalha com muito cuidado e sensibilidade os dramas vividos pelos atletas e suas relações familiares fora das quadras (até com um tom mais independente da narrativa), mas talvez se distancie de "King Richard" por se tratar de uma obra de ficção - mesmo sendo cruelmente realista. Porém, também é preciso que se diga que o conceito visual da produção francesa, especialmente nos embates dentro das quadras, são infinitamente superiores ao que vemos aqui sob o comando do diretor Reinaldo Marcus Green. Essa talvez seja a única lacuna que "King Richard – Criando Campeãs" não conseguiu preencher - funciona bem no drama, mas perde no impacto visual da ação.

Cheio de curiosidades sobre os bastidores do tênis, o filme vai dialogar da mesma forma com aqueles que acompanham (e conhecem) o esporte e com outros que apenas se identificam com histórias de superação. Existe muita emoção na narrativa, algumas frases de efeito e um pouco de romantismo perante a jornada, mas te garanto: tudo isso funciona perfeitamente e só soma para a deliciosa experiência que é acompanhar a história de Richard e de Venus - o que deixa um enorme desafio pela frente: quem será capaz e quando a história de Serena será contada - porque o sarrafo agora está bem alto!

Vale cada segundo!

Up-date: "King Richard" foi indicado em seis categorias no Oscar 2022, ganhando em Melhor Ator.

Assista Agora

Essa era uma história que merecia ser contada - e o interessante é que o protagonista não é exatamente um personagem que já conhecemos ou admiramos pela sua obra ou conquistas, embora essa percepção esteja completamente errada já que seu nome está diretamente ligado a dois fenômenos do esporte mundial: Venus e Serena Williams.

Motivado por uma visão clara do futuro brilhante de suas talentosas filhas e empregando métodos próprios e nada convencionais de treinamento, Richard (Will Smith) cria um plano detalhado para levar Venus e Serena Williams, das ruas de Compton, na Califórnia, para as quadras de todo o mundo, como lendas vivas do tênis. Profundamente comovente, o filme retrata a importância da família, da perseverança, do trabalho duro e da fé inabalável como instrumentos para alcançar o que para muitos parecia impossível e assim transformar para sempre a história de um esporte considerado até ali, branco e elitista. Confira o trailer:

Obviamente que assistimos esse excelente filme com aquela confortável sensação de que tudo vai dar certo no final, pois já conhecemos (mesmo que muitos superficialmente) a história de sucesso e o que vieram a representar Venus e Serena para o esporte mundial. Portanto, "King Richard" (que no Brasil ganhou o sugestivo e dispensável subtítulo de "Criando Campeãs") se trata de um filme sobre o que representou "a jornada" e não necessariamente "as conquistas"! O interessante, e um dos grandes acertos do roteiro, foi que o filme transformou essa jornada em um recorte bastante claro e importante de onde a trama poderia nos levar (e aqui assunto não é o esporte): o fato de termos duas personagens com um futuro brilhante pela frente, em momento algum impediu que o personagem título brilhasse - o foco é realmente o homem que nunca deixou de acreditar, de lutar, que errava tentando acertar e que, em muitos momentos, convivia com o medo de falhar como pai. Essa construção de camadas do personagem, brilhantemente interpretado por Smith, foi um verdadeiro golaço do roteirista estreante Zach Baylin (que vai assinar "Creed III" e que pode até surpreender como um dos indicados no próximo Oscar por esse trabalho).

Além de Will Smith, todo o elenco está impecável - é praticamente impossível não se apaixonar e depois torcer muito para as meninas tamanho é o carisma que a dinâmica familiar dos Williams traz. Saniyya Sidney como Venus e Demi Singleton como Serena são (e estão) incríveis, além, é claro, de mais um belíssimo trabalho da Aunjanue Ellis como Oracene 'Brandy' Williams. Existe um certo equilíbrio entre a leveza e a profundidade em diálogos que não fogem, em nenhum momento, de discussões duras (e delicadas) sobre racismo e desigualdade social - e esse mérito, sem dúvida, deve ser creditado aos atores.

Veja, o recente "O Quinto Set" também trabalha com muito cuidado e sensibilidade os dramas vividos pelos atletas e suas relações familiares fora das quadras (até com um tom mais independente da narrativa), mas talvez se distancie de "King Richard" por se tratar de uma obra de ficção - mesmo sendo cruelmente realista. Porém, também é preciso que se diga que o conceito visual da produção francesa, especialmente nos embates dentro das quadras, são infinitamente superiores ao que vemos aqui sob o comando do diretor Reinaldo Marcus Green. Essa talvez seja a única lacuna que "King Richard – Criando Campeãs" não conseguiu preencher - funciona bem no drama, mas perde no impacto visual da ação.

Cheio de curiosidades sobre os bastidores do tênis, o filme vai dialogar da mesma forma com aqueles que acompanham (e conhecem) o esporte e com outros que apenas se identificam com histórias de superação. Existe muita emoção na narrativa, algumas frases de efeito e um pouco de romantismo perante a jornada, mas te garanto: tudo isso funciona perfeitamente e só soma para a deliciosa experiência que é acompanhar a história de Richard e de Venus - o que deixa um enorme desafio pela frente: quem será capaz e quando a história de Serena será contada - porque o sarrafo agora está bem alto!

Vale cada segundo!

Up-date: "King Richard" foi indicado em seis categorias no Oscar 2022, ganhando em Melhor Ator.

Assista Agora

Naomi Osaka: Estrela do Tênis

É impossível assistir os primeiros minutos da série documental da Netflix, "Naomi Osaka: Estrela do Tênis" e não lembrar do recente "King Richard" - a jornada é muito parecida, porém tendo como protagonista uma asiática de 20 e poucos anos que, curiosamente, chega ao estrelato ao derrotar justamente a americana Serena Williams na final do Aberto dos Estados Unidos de 2018. Dirigido pela Garrett Bradley (indicada ao Oscar pelo excelente e imperdível "Time"), essa é mais uma produção de LeBron e Maverick Carter da Uninterrupted, empresa responsável, entre outros, pelo documentário "Neymar - O Caos Perfeito".

Em três episódios, o documentário é um olhar íntimo sobre a vida de uma das mais dotadas e complexas atletas da sua geração. Uma perspetiva sobre as duras decisões e os incríveis triunfos que definem Naomi Osaka simultaneamente como uma superestrela de elite mundial e uma jovem que precisa lidar com uma enorme pressão graças ao mundo conectado de hoje. Confira o trailer:

Com uma linha narrativa bem construída, mas sem se aprofundar muito nos assuntos levantados pelo roteiro, a série segue uma linha bem de observação, com pouca ou nenhuma influência da diretora na condução da história, fazendo com que a audiência seja um olhar curioso sobre o dia a dia da atleta. Através de um acesso inédito, Bradley acompanha Osaka durante dois anos - talvez os mais importantes na vida dela até aqui. São os anos de transformação esportiva, mas também uma época onde ela começa a encontrar a sua voz e compreender seu poder como referência na modalidade.

O interessante é que vemos a preparação para defender os dois títulos de Grand Slam que ela conquistou no ano anterior, da mesma forma em que ela se coloca como defensora dos direitos humanos usando máscaras com o nome de pessoas afro-americanas que perderam suas vidas covardemente. Outro ponto interessante é o seu processo de luto pela perda inesperada do seu mentor e amigo Kobe Bryant - e como isso impactou na sua performance nas quadras. Talvez o pouco esforço do roteiro em humanizar Osaka seja uma das coisas mais surpreendentes da narrativa (diferente do documentário de Neymar, por exemplo) - sua relação com a tenista americana de 15 anos, Cori Gauff, é real e muito bacana por isso. Quando Osaka perde para Gauff, sua naturalidade em dizer o quanto aquilo foi ruim, mesmo gostando da adversária, é muito honesto!

Com essa abordagem empática, "Naomi Osaka: Estrela do Tênis"  brilha pelas curiosidades: seja pelo infernal programa de treinos e viagens, ou pela exploração de todas as camadas de pressão que a atleta está sujeita - é de se compreender o histórico de ansiedade, medos, perdas, derrotas, reinvenção, vitórias e posicionamento perante a importância da saúde mental que Osaka encabeçou ao lado de Simone Biles. Ela mesmo faz uma auto-avaliação sobre a necessidade de desenvolver seu mindset vencedor para mudar de patamar como atleta.

O fato é que, pelo esporte e pela figura marcante, a série vale muito a pena!

Assista Agora

É impossível assistir os primeiros minutos da série documental da Netflix, "Naomi Osaka: Estrela do Tênis" e não lembrar do recente "King Richard" - a jornada é muito parecida, porém tendo como protagonista uma asiática de 20 e poucos anos que, curiosamente, chega ao estrelato ao derrotar justamente a americana Serena Williams na final do Aberto dos Estados Unidos de 2018. Dirigido pela Garrett Bradley (indicada ao Oscar pelo excelente e imperdível "Time"), essa é mais uma produção de LeBron e Maverick Carter da Uninterrupted, empresa responsável, entre outros, pelo documentário "Neymar - O Caos Perfeito".

Em três episódios, o documentário é um olhar íntimo sobre a vida de uma das mais dotadas e complexas atletas da sua geração. Uma perspetiva sobre as duras decisões e os incríveis triunfos que definem Naomi Osaka simultaneamente como uma superestrela de elite mundial e uma jovem que precisa lidar com uma enorme pressão graças ao mundo conectado de hoje. Confira o trailer:

Com uma linha narrativa bem construída, mas sem se aprofundar muito nos assuntos levantados pelo roteiro, a série segue uma linha bem de observação, com pouca ou nenhuma influência da diretora na condução da história, fazendo com que a audiência seja um olhar curioso sobre o dia a dia da atleta. Através de um acesso inédito, Bradley acompanha Osaka durante dois anos - talvez os mais importantes na vida dela até aqui. São os anos de transformação esportiva, mas também uma época onde ela começa a encontrar a sua voz e compreender seu poder como referência na modalidade.

O interessante é que vemos a preparação para defender os dois títulos de Grand Slam que ela conquistou no ano anterior, da mesma forma em que ela se coloca como defensora dos direitos humanos usando máscaras com o nome de pessoas afro-americanas que perderam suas vidas covardemente. Outro ponto interessante é o seu processo de luto pela perda inesperada do seu mentor e amigo Kobe Bryant - e como isso impactou na sua performance nas quadras. Talvez o pouco esforço do roteiro em humanizar Osaka seja uma das coisas mais surpreendentes da narrativa (diferente do documentário de Neymar, por exemplo) - sua relação com a tenista americana de 15 anos, Cori Gauff, é real e muito bacana por isso. Quando Osaka perde para Gauff, sua naturalidade em dizer o quanto aquilo foi ruim, mesmo gostando da adversária, é muito honesto!

Com essa abordagem empática, "Naomi Osaka: Estrela do Tênis"  brilha pelas curiosidades: seja pelo infernal programa de treinos e viagens, ou pela exploração de todas as camadas de pressão que a atleta está sujeita - é de se compreender o histórico de ansiedade, medos, perdas, derrotas, reinvenção, vitórias e posicionamento perante a importância da saúde mental que Osaka encabeçou ao lado de Simone Biles. Ela mesmo faz uma auto-avaliação sobre a necessidade de desenvolver seu mindset vencedor para mudar de patamar como atleta.

O fato é que, pelo esporte e pela figura marcante, a série vale muito a pena!

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O Quinto Set

"O Quinto Set" é um excelente filme - principalmente se você enxergar a história além da tríade "drama x esporte x superação". Obviamente que o fã de tênis vai se conectar imediatamente com a trama e com o personagem, mas acredite: não se trata unicamente de um filme de tênis, mas sim de uma jornada de resiliência, auto-conhecimento e acordos que, em vários níveis, vai se encontrar com alguma passagem da sua vida e com as relações que você teve, seja como casal ou em família.

"Cinquième set", no original, conta a história de Thomas (Alex Lutz), um experiente jogador de tênis que viu sua vida parar após passar de "grande promessa do esporte" à "grande decepção" assim que perdeu uma semi-final (quase ganha) em Roland Garros quando ainda era jovem - a final, inclusive, seria disputada contra o brasileiro Gustavo Kuerten em 2001. Acompanhado de várias lesões no joelho e uma enorme pressão, Thomas viu seu ritmo cair e a confiança praticamente desaparecer - e aqui incluo a relação conflituosa com sua mãe Judith Edison (Kristin Scott Thomas) e com sua mulher, a também ex-tenista, Eve (Ana Girardot). Agora, aos 37 anos, e já em final de carreira, ele precisa se reinventar para buscar algumas vitórias em seu último Roland Garros e ainda provar sua capacidade como atleta de elite. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Embora o filme nos passe a clara sensação que existe mais assuntos do que tempo de tela para desenvolver todos eles, o diretor Quentin Reynaud (de "Paris-Willouby"), que também assina o roteiro, nos entrega um filme bastante competente visualmente e com uma narrativa extremamente fluída que, pouco a pouco, vai explorando o íntimo do protagonista e sua luta em busca de uma redenção final - no esporte e na vida. É muito interessante como sua vida e seu comportamento vão se transformando conforme ele avança nas qualificatórias de Roland Garros até estrear na competição principal já com os holofotes em si (e isso não é spoiler, pode ficar tranquilo). Alguns elementos dramáticos fortalecem sua jornada e acabam expondo suas fragilidades - a relação com a esposa, com a mãe, a forma de agir em quadra, com a imprensa e até com seu treinador, dizem muito sobre a personalidade de Thomas, mas principalmente em como ele lidou silenciosamente com todas as influências de anos de renúncia para se tornar atleta profissional e "falhar".

É preciso dizer que o belo conceito cinematográfico que Reynaud escolheu, junto com seu fotógrafo Vincent Mathias, para mostrar o embate nas quadras é completamente abandonado no terceiro ato para dar lugar a uma verdadeira transmissão de um jogo de tênis pela TV. Reynaud, inexplicavelmente, nos tira de dentro da quadra e nos coloca no sofá, passivamente - para quem é familiarizado com o esporte, certamente vai se divertir, mas quem não sabe nada sobre algumas regras e sobre  a pontuação dos games e sets, por exemplo, vai boiar!

Com ótimas referências para quem gosta e conhece o esporte, "O Quinto Set" surpreende pela qualidade da produção, pelo trabalho do diretor e por atuações realistas e sinceras, seguindo perfeitamente o conceito dramático da jornada do herói de "Creed 2"ou "Gambito da Rainha".  Ao mostrar uma carreira em declínio e tudo que podemos superar quando somos derrotados, o filme tem sim aquele mood motivacional que prova que é possível lutar pelos nossos sonhos, mas que sacrifícios devem ser feitos nesse processo e blá, blá, blá.

Antes de finalizar - mérito pelo final corajoso e inteligente que o diretor escolheu e que tirou a narrativa do "óbvio"!

Vale muito a pena!

Assista Agora

"O Quinto Set" é um excelente filme - principalmente se você enxergar a história além da tríade "drama x esporte x superação". Obviamente que o fã de tênis vai se conectar imediatamente com a trama e com o personagem, mas acredite: não se trata unicamente de um filme de tênis, mas sim de uma jornada de resiliência, auto-conhecimento e acordos que, em vários níveis, vai se encontrar com alguma passagem da sua vida e com as relações que você teve, seja como casal ou em família.

"Cinquième set", no original, conta a história de Thomas (Alex Lutz), um experiente jogador de tênis que viu sua vida parar após passar de "grande promessa do esporte" à "grande decepção" assim que perdeu uma semi-final (quase ganha) em Roland Garros quando ainda era jovem - a final, inclusive, seria disputada contra o brasileiro Gustavo Kuerten em 2001. Acompanhado de várias lesões no joelho e uma enorme pressão, Thomas viu seu ritmo cair e a confiança praticamente desaparecer - e aqui incluo a relação conflituosa com sua mãe Judith Edison (Kristin Scott Thomas) e com sua mulher, a também ex-tenista, Eve (Ana Girardot). Agora, aos 37 anos, e já em final de carreira, ele precisa se reinventar para buscar algumas vitórias em seu último Roland Garros e ainda provar sua capacidade como atleta de elite. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Embora o filme nos passe a clara sensação que existe mais assuntos do que tempo de tela para desenvolver todos eles, o diretor Quentin Reynaud (de "Paris-Willouby"), que também assina o roteiro, nos entrega um filme bastante competente visualmente e com uma narrativa extremamente fluída que, pouco a pouco, vai explorando o íntimo do protagonista e sua luta em busca de uma redenção final - no esporte e na vida. É muito interessante como sua vida e seu comportamento vão se transformando conforme ele avança nas qualificatórias de Roland Garros até estrear na competição principal já com os holofotes em si (e isso não é spoiler, pode ficar tranquilo). Alguns elementos dramáticos fortalecem sua jornada e acabam expondo suas fragilidades - a relação com a esposa, com a mãe, a forma de agir em quadra, com a imprensa e até com seu treinador, dizem muito sobre a personalidade de Thomas, mas principalmente em como ele lidou silenciosamente com todas as influências de anos de renúncia para se tornar atleta profissional e "falhar".

É preciso dizer que o belo conceito cinematográfico que Reynaud escolheu, junto com seu fotógrafo Vincent Mathias, para mostrar o embate nas quadras é completamente abandonado no terceiro ato para dar lugar a uma verdadeira transmissão de um jogo de tênis pela TV. Reynaud, inexplicavelmente, nos tira de dentro da quadra e nos coloca no sofá, passivamente - para quem é familiarizado com o esporte, certamente vai se divertir, mas quem não sabe nada sobre algumas regras e sobre  a pontuação dos games e sets, por exemplo, vai boiar!

Com ótimas referências para quem gosta e conhece o esporte, "O Quinto Set" surpreende pela qualidade da produção, pelo trabalho do diretor e por atuações realistas e sinceras, seguindo perfeitamente o conceito dramático da jornada do herói de "Creed 2"ou "Gambito da Rainha".  Ao mostrar uma carreira em declínio e tudo que podemos superar quando somos derrotados, o filme tem sim aquele mood motivacional que prova que é possível lutar pelos nossos sonhos, mas que sacrifícios devem ser feitos nesse processo e blá, blá, blá.

Antes de finalizar - mérito pelo final corajoso e inteligente que o diretor escolheu e que tirou a narrativa do "óbvio"!

Vale muito a pena!

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Untold: Federer x Fish

Se você assiste um filme como "King Richard" é possível presumir que todo esforço, resiliência, dedicação, talento e renúncia, um dia, será recompensado, certo? Se você respondeu "sim", sua percepção, de fato, não está errada, porém a discussão levantada nesse primeiro de cinco volumes da série documental da Netflix com o selo "Untold", traz para os holofotes uma outra pergunta: "a que preço?"  

"Untold: Federer x Fish", discute a jornada de ascensão dos tenistas Andy Roddick e, especialmente, de Mardy Fish, para continuarem a tradição vencedora no tênis masculino americano em meio a muita pressão externa e até pessoal, focando nos desafios que enfrentaram dentro e fora das quadras, além de expor todo problema de saúde mental que Fish sofreu pouco antes de sua aposentadoria. Confira o trailer (em inglês):

Antes de mais nada, acho que vale uma contextualização sobre o projeto: dos criadores Chapman e Maclain Way do premiado "Wild Wild Country", o selo “Untold” se propõe a trazer novos olhares sobre histórias épicas do mundo dos esportes - do tênis ao boxe, passando pelo basquete e até pelo futebol, os volumes surpreendem pela impecável qualidade técnica e artística, além de uma narrativa envolvente, repleta de curiosidades e histórias surpreendentes.

Um dos grandes méritos de "Federer x Fish", mesmo que de Roger Federer não tenhamos praticamente nada, está em conseguir mostrar em pouco mais de uma hora, os momentos mais importantes da carreira de Mardy Fish, incluindo o momento em que o atleta resolve deixar sua posição de tenista mediano e se dedicar ferozmente para estar entre os melhores do mundo para disputar as finais da ATP em Londres - e a jornada é empolgante, já que Fish saiu da posição 123 para sétimo do mundo. Porém, se chegar ao topo exige muito, se manter exige muito mais, foi aí que o americano passou a sofrer com frequentes taquicardias provocadas por profundas crises de ansiedade e ataques de pânico.

Semelhante ao filme que deu o Oscar de Melhor Ator para Will Smith e que contou a saga de Serena Williams, aqui também vemos como um garoto criado para ser atleta e ensinado a não demonstrar fraquezas, sofre com as consequências dessa orientação e do peso de precisar ser um tenista vencedor - e o próprio Fish considera que sua carreira não foi um sucesso, o que é mais impactante ainda! Os sinceros depoimentos de Andy Roddick, que sempre esteve ligado direta (e indiretamente) à carreira e a vida de Fish, desde os tempos em que moravam e treinavam juntos em Tampa até o momento em que Roddick perde a posição de melhor americano do ranking mundial, também são simplesmente sensacionais - os relatos são honestos, humanos, desprovidos de vaidade. Impressiona e faz total sentido para a narrativa ressaltar como a carreira de duas "promessas" se misturaram.

Em "Untold: Federer x Fish" você vai encontrar elementos de outros quatro documentários igualmente imperdíveis: "Naomi Osaka: Estrela do Tênis" "Losers", "Playbook" e "Na Trilha do Sucesso". Dito isso, e com todas essas referências para validar a recomendação, aproveito para reforçar que embora  "Federer x Fish" tenha o tênis como condutor narrativo, os pontos levantados e discutidos sobre a carreira de Fish vão muito além do esporte e pode ter certeza, vão te fazer refletir sobre o que é o sucesso e o que te torna um vencedor, e possivelmente, isso te remeta a pergunta que fiz no inicio desse review: "a que preço?"  

Vale seu play!

Assista Agora

Se você assiste um filme como "King Richard" é possível presumir que todo esforço, resiliência, dedicação, talento e renúncia, um dia, será recompensado, certo? Se você respondeu "sim", sua percepção, de fato, não está errada, porém a discussão levantada nesse primeiro de cinco volumes da série documental da Netflix com o selo "Untold", traz para os holofotes uma outra pergunta: "a que preço?"  

"Untold: Federer x Fish", discute a jornada de ascensão dos tenistas Andy Roddick e, especialmente, de Mardy Fish, para continuarem a tradição vencedora no tênis masculino americano em meio a muita pressão externa e até pessoal, focando nos desafios que enfrentaram dentro e fora das quadras, além de expor todo problema de saúde mental que Fish sofreu pouco antes de sua aposentadoria. Confira o trailer (em inglês):

Antes de mais nada, acho que vale uma contextualização sobre o projeto: dos criadores Chapman e Maclain Way do premiado "Wild Wild Country", o selo “Untold” se propõe a trazer novos olhares sobre histórias épicas do mundo dos esportes - do tênis ao boxe, passando pelo basquete e até pelo futebol, os volumes surpreendem pela impecável qualidade técnica e artística, além de uma narrativa envolvente, repleta de curiosidades e histórias surpreendentes.

Um dos grandes méritos de "Federer x Fish", mesmo que de Roger Federer não tenhamos praticamente nada, está em conseguir mostrar em pouco mais de uma hora, os momentos mais importantes da carreira de Mardy Fish, incluindo o momento em que o atleta resolve deixar sua posição de tenista mediano e se dedicar ferozmente para estar entre os melhores do mundo para disputar as finais da ATP em Londres - e a jornada é empolgante, já que Fish saiu da posição 123 para sétimo do mundo. Porém, se chegar ao topo exige muito, se manter exige muito mais, foi aí que o americano passou a sofrer com frequentes taquicardias provocadas por profundas crises de ansiedade e ataques de pânico.

Semelhante ao filme que deu o Oscar de Melhor Ator para Will Smith e que contou a saga de Serena Williams, aqui também vemos como um garoto criado para ser atleta e ensinado a não demonstrar fraquezas, sofre com as consequências dessa orientação e do peso de precisar ser um tenista vencedor - e o próprio Fish considera que sua carreira não foi um sucesso, o que é mais impactante ainda! Os sinceros depoimentos de Andy Roddick, que sempre esteve ligado direta (e indiretamente) à carreira e a vida de Fish, desde os tempos em que moravam e treinavam juntos em Tampa até o momento em que Roddick perde a posição de melhor americano do ranking mundial, também são simplesmente sensacionais - os relatos são honestos, humanos, desprovidos de vaidade. Impressiona e faz total sentido para a narrativa ressaltar como a carreira de duas "promessas" se misturaram.

Em "Untold: Federer x Fish" você vai encontrar elementos de outros quatro documentários igualmente imperdíveis: "Naomi Osaka: Estrela do Tênis" "Losers", "Playbook" e "Na Trilha do Sucesso". Dito isso, e com todas essas referências para validar a recomendação, aproveito para reforçar que embora  "Federer x Fish" tenha o tênis como condutor narrativo, os pontos levantados e discutidos sobre a carreira de Fish vão muito além do esporte e pode ter certeza, vão te fazer refletir sobre o que é o sucesso e o que te torna um vencedor, e possivelmente, isso te remeta a pergunta que fiz no inicio desse review: "a que preço?"  

Vale seu play!

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