Que filme bacana, despretensioso e gostoso de assistir - e que roteiro divertido! "Como Vender a Lua" , dirigido pelo Greg Berlanti (roteirista de "Dawson's Creek" e diretor de "Com Amor, Simon"), é uma mistura engenhosa e envolvente de comédia, drama e sátira que explora os bastidores da corrida espacial dos anos 1960 com um olhar inusitado e criativo (baseado em fatos reais... ou não). O filme combina elementos de espionagem, marketing e política, criando uma narrativa que brinca com teorias da conspiração de maneira espirituosa, mas que também faz refletir sobre a importância da percepção pública em tempos de crise - na época, política e social. Assim como "Argo", mas sem tanta densidade, a produção utiliza uma história fictícia para explorar temas reais, tecendo uma narrativa repleta de sacadas muito inteligentes.
"Fly Me to the Moon", no original, gira em torno de Kelly Jones (Scarlett Johansson), uma brilhante especialista em marketing convocada pela CIA para salvar a reputação do programa espacial "Apollo" da NASA, que enfrentava o risco iminente de ser cancelado devido à falta de apoio público e político - e de um acidente que vitimou três astronautas americanos. A solução, ainda mais ousada do que a missão real: encenar um falso pouso na Lua, utilizando as mais avançadas tecnologias de produção cinematográfica da época. Kelly precisa lidar com egos inflados, burocratas desconfiados e dilemas éticos, especialmente depois de se apaixonar por Cole Davis (Channing Tatum), o diretor de lançamento e figura importante para que o programa seja um sucesso.Confira o trailer:
Greg Berlanti, conhecido por sua habilidade em equilibrar drama e humor, dirige um filme que sabe dosar o absurdo de sua premissa com momentos genuínos de tensão eromance. Com um ritmo ágil e uma visão clara do que representa a corrida espacial dentro de um contexto sócio-cultural, Berlanti permite que a audiência mergulhe na década de 1960 e na complexidade da situação politica da época. O diretor utiliza com maestria o contraste entre os bastidores caóticos de um governo marcado pela terra do Vietnã e o brilho dos benefícios de uma conquista espacial, criando assim um tom cômico, mas sempre provocativo - especialmente pelo olhar amplo da sociedade americana.
O roteiro é um dos pontos altos do filme, recheado de diálogos rápidos e cheios de referências conspiratórias - que envolveram até o cineasta Stanley Kubrick. "Como Vender a Lua" captura tanto o cinismo do universo político quanto o entusiasmo quase ingênuo da sociedade que cobrava uma vitória sobre a URSS na corrida pelo espaço. Por outro lado, a trama também explora questões mais profundas, como o papel da verdade em uma era onde propaganda política e a ciência eram parte de um espetáculo sem credibilidade. Veja, embora a ideia de um falso pouso na Lua seja propositalmente absurda, o filme utiliza essa premissa para comentar sobre a construção de narrativas no imaginário público. Mas e o romance? Bom, talvez esteja aí o ponto fraco do roteiro - ele serve apenas para classificar o filme como uma comédia romântica. Prejudica? Não, mas também não muda nada!
A atuação de Scarlett Johansson é o coração do filme - ela entrega uma performance cheia de nuances, equilibrando o humor mordaz com momentos mais críticos, enquanto sua personagem tenta navegar por um mar de intrigas e decisões impossíveis. Woody Harrelson, como o calculista chefe de operações da CIA acrescenta uma camada de diversão à narrativa que funciona demais. Agora um detalhe que vale muito sua atenção: a recriação da época é impecável, com cenários, figurinos e uma paleta de cores que evocam a energia e o otimismo da década de 1960, enquanto o desenho de produção captura a pseudo-elegância futurista da NASA com imagens de cabo Canaveral de cair o queixo - e aqui eu pontuo o excelente trabalho de composição em CGI.
É claro que "Como Vender a Lua", embora divertido e provocativo, apresenta algumas inconsistências, mas que não impactam em nada na nossa experiência - dada a escolha do diretor Greg Berlanti em criar uma “versão alternativa” dos eventos que se propõe a contar. Esse efeito, obviamente lúdico, tira um pouco da atenção sobre o casal de protagonistas, mas ao mesmo tempo entrega uma jornada inteligente e cheia de brincadeiras que, para os mais atentos (e apaixonados por teorias), será diversão na certa!
Vale seu play!
Que filme bacana, despretensioso e gostoso de assistir - e que roteiro divertido! "Como Vender a Lua" , dirigido pelo Greg Berlanti (roteirista de "Dawson's Creek" e diretor de "Com Amor, Simon"), é uma mistura engenhosa e envolvente de comédia, drama e sátira que explora os bastidores da corrida espacial dos anos 1960 com um olhar inusitado e criativo (baseado em fatos reais... ou não). O filme combina elementos de espionagem, marketing e política, criando uma narrativa que brinca com teorias da conspiração de maneira espirituosa, mas que também faz refletir sobre a importância da percepção pública em tempos de crise - na época, política e social. Assim como "Argo", mas sem tanta densidade, a produção utiliza uma história fictícia para explorar temas reais, tecendo uma narrativa repleta de sacadas muito inteligentes.
"Fly Me to the Moon", no original, gira em torno de Kelly Jones (Scarlett Johansson), uma brilhante especialista em marketing convocada pela CIA para salvar a reputação do programa espacial "Apollo" da NASA, que enfrentava o risco iminente de ser cancelado devido à falta de apoio público e político - e de um acidente que vitimou três astronautas americanos. A solução, ainda mais ousada do que a missão real: encenar um falso pouso na Lua, utilizando as mais avançadas tecnologias de produção cinematográfica da época. Kelly precisa lidar com egos inflados, burocratas desconfiados e dilemas éticos, especialmente depois de se apaixonar por Cole Davis (Channing Tatum), o diretor de lançamento e figura importante para que o programa seja um sucesso.Confira o trailer:
Greg Berlanti, conhecido por sua habilidade em equilibrar drama e humor, dirige um filme que sabe dosar o absurdo de sua premissa com momentos genuínos de tensão eromance. Com um ritmo ágil e uma visão clara do que representa a corrida espacial dentro de um contexto sócio-cultural, Berlanti permite que a audiência mergulhe na década de 1960 e na complexidade da situação politica da época. O diretor utiliza com maestria o contraste entre os bastidores caóticos de um governo marcado pela terra do Vietnã e o brilho dos benefícios de uma conquista espacial, criando assim um tom cômico, mas sempre provocativo - especialmente pelo olhar amplo da sociedade americana.
O roteiro é um dos pontos altos do filme, recheado de diálogos rápidos e cheios de referências conspiratórias - que envolveram até o cineasta Stanley Kubrick. "Como Vender a Lua" captura tanto o cinismo do universo político quanto o entusiasmo quase ingênuo da sociedade que cobrava uma vitória sobre a URSS na corrida pelo espaço. Por outro lado, a trama também explora questões mais profundas, como o papel da verdade em uma era onde propaganda política e a ciência eram parte de um espetáculo sem credibilidade. Veja, embora a ideia de um falso pouso na Lua seja propositalmente absurda, o filme utiliza essa premissa para comentar sobre a construção de narrativas no imaginário público. Mas e o romance? Bom, talvez esteja aí o ponto fraco do roteiro - ele serve apenas para classificar o filme como uma comédia romântica. Prejudica? Não, mas também não muda nada!
A atuação de Scarlett Johansson é o coração do filme - ela entrega uma performance cheia de nuances, equilibrando o humor mordaz com momentos mais críticos, enquanto sua personagem tenta navegar por um mar de intrigas e decisões impossíveis. Woody Harrelson, como o calculista chefe de operações da CIA acrescenta uma camada de diversão à narrativa que funciona demais. Agora um detalhe que vale muito sua atenção: a recriação da época é impecável, com cenários, figurinos e uma paleta de cores que evocam a energia e o otimismo da década de 1960, enquanto o desenho de produção captura a pseudo-elegância futurista da NASA com imagens de cabo Canaveral de cair o queixo - e aqui eu pontuo o excelente trabalho de composição em CGI.
É claro que "Como Vender a Lua", embora divertido e provocativo, apresenta algumas inconsistências, mas que não impactam em nada na nossa experiência - dada a escolha do diretor Greg Berlanti em criar uma “versão alternativa” dos eventos que se propõe a contar. Esse efeito, obviamente lúdico, tira um pouco da atenção sobre o casal de protagonistas, mas ao mesmo tempo entrega uma jornada inteligente e cheia de brincadeiras que, para os mais atentos (e apaixonados por teorias), será diversão na certa!
Vale seu play!
Seguindo a linha "e se...", que colocou "The Man in the High Castle" como uma das séries mais cultuadas da Amazon Prime Vídeo, "For All Mankind" bebe da mesma fonte, porém explorando uma das épocas mais controvérsas da politica mundial: quando EUA e URSS disputavam a tão falada "corrida espacial". Tudo o que eu escrever aqui pode soar como spoiler, então vou me limitar em dizer que a série mostra o que teria acontecido se os soviéticos tivessem liderado (ou pelo menos saído na frente) na conquista do espaço, em meio a Guerra Fria do final dos anos 60. Do ponto de vista dos americanos, é curioso reparar como a simples possibilidade de terminar esse cabo de guerra em segundo lugar, poderia ter impactado na história - e isso fica claro quando, com muita inteligência, o roteiro insere gravações reais de autoridades discutindo sobre o programa espacial sem a certeza de seu sucesso ou com a insegurança de quem não sabe muito bem como reagir perante a possibilidade de fracasso. O próprio presidente Nixon acaba se tornando um personagem onipresente sem ao menos aparecer na série.
É preciso destacar dois fatores: a qualidade da produção e as inúmeras possibilidades de tramas que o tema permite, mas por sua vez, um outro detalhe muito importante incomoda: faltam personagens mais carismáticos, ou pelo menos conflitos que possam inserir esses personagens em histórias sem a necessidade de criar novos núcleos de interação. De fato "For All Mankind" começa irregular, com alguns personagens sumindo, outros aparecendo, mas talvez, entendendo a proposta, seja a série de maior potencial da AppleTV+ até aqui.
"For All Mankind" tem uma estrutura narrativa bastante interessante: ela divide a temporada por episódios quase que independentes, que servem de escudo para um arco maior ainda sem muita relevância. O que eu quero dizer é que, em cada episódio, o conflito central praticamente se resolve (quase como um procedural) deixando pouco tempo para o desenvolvimento dos personagens e de suas tramas pessoais. Com isso a série precisa fazer alguns saltos temporais que, mesmo sendo limitados a um determinado período, dá a sensação que a história está sendo atropelada - é como se tudo tivesse que caber nos 60 minutos de duração do episódio a qualquer custo. O personagem de Joel Kinnaman, o astronauta Edward Baldwin, sente essa falta de linearidade e com isso não conquista a audiência. Outro núcleo que parece mal desenvolvido devido essa dinâmica do roteiro é o da família mexicana que entra ilegalmente nos EUA - essa trama está tão deslocada que se tirássemos todas as cenas, não sentiríamos a menor falta. É claro que existe uma razão deles estarem lá, mas, sinceramente, até agora, não interferiram em nada no andamento da série desde o primeiro episódio.
É fácil notar que algumas discussões politicas são muito bem inseridas dentro do contexto da série, outras já soam um pouco mais forçadas: o caso de nazismo do segundo episódio é um exemplo. Agora, quando entendemos que o objetivo da série é pegar um fato histórico, fazer uma releitura ou uma diferente interpretação para finalizar em, no máximo, dois episódios, fica mais fácil aceitar algumas inconsistências do roteiro, mas confesso que no início me causou muita estranheza! A direção do ótimo Seth Gordon tenta minimizar essa "correria" dos episódios com cenas um pouco mais introspectivas, dando a entender que o desenvolvimento dos personagens devem ganhar mais força e atenção que as próprias apresentações dos mesmos - em "See" vemos algo bem parecido e por consequência a dúvida é a mesma: quem assiste terá paciência para esperar os personagens (ou o arco maior) se estabelecerem?
"For All Mankind" é bom, e vai melhorando conforme os episódios vão passando. A série cresce com as intervenções na história baseada em fatos isolados que poderiam ter acontecido - e a sensação de conclusão que a série trás ajuda na experiência, isso é um fato! É perceptível o investimento da Apple na produção, trazendo elementos históricos (mesmo que destorcidos) no estilo Chernobyl ao mesmo tempo em que brinca com elementos mais hypados de filmes como "Top Gun" ou "Armagedom". Minha conclusão é a seguinte: a série já é boa, divertida e tende a melhorar cada vez mais!
Vale o play pelo entretenimento e pela qualidade da produção!
Seguindo a linha "e se...", que colocou "The Man in the High Castle" como uma das séries mais cultuadas da Amazon Prime Vídeo, "For All Mankind" bebe da mesma fonte, porém explorando uma das épocas mais controvérsas da politica mundial: quando EUA e URSS disputavam a tão falada "corrida espacial". Tudo o que eu escrever aqui pode soar como spoiler, então vou me limitar em dizer que a série mostra o que teria acontecido se os soviéticos tivessem liderado (ou pelo menos saído na frente) na conquista do espaço, em meio a Guerra Fria do final dos anos 60. Do ponto de vista dos americanos, é curioso reparar como a simples possibilidade de terminar esse cabo de guerra em segundo lugar, poderia ter impactado na história - e isso fica claro quando, com muita inteligência, o roteiro insere gravações reais de autoridades discutindo sobre o programa espacial sem a certeza de seu sucesso ou com a insegurança de quem não sabe muito bem como reagir perante a possibilidade de fracasso. O próprio presidente Nixon acaba se tornando um personagem onipresente sem ao menos aparecer na série.
É preciso destacar dois fatores: a qualidade da produção e as inúmeras possibilidades de tramas que o tema permite, mas por sua vez, um outro detalhe muito importante incomoda: faltam personagens mais carismáticos, ou pelo menos conflitos que possam inserir esses personagens em histórias sem a necessidade de criar novos núcleos de interação. De fato "For All Mankind" começa irregular, com alguns personagens sumindo, outros aparecendo, mas talvez, entendendo a proposta, seja a série de maior potencial da AppleTV+ até aqui.
"For All Mankind" tem uma estrutura narrativa bastante interessante: ela divide a temporada por episódios quase que independentes, que servem de escudo para um arco maior ainda sem muita relevância. O que eu quero dizer é que, em cada episódio, o conflito central praticamente se resolve (quase como um procedural) deixando pouco tempo para o desenvolvimento dos personagens e de suas tramas pessoais. Com isso a série precisa fazer alguns saltos temporais que, mesmo sendo limitados a um determinado período, dá a sensação que a história está sendo atropelada - é como se tudo tivesse que caber nos 60 minutos de duração do episódio a qualquer custo. O personagem de Joel Kinnaman, o astronauta Edward Baldwin, sente essa falta de linearidade e com isso não conquista a audiência. Outro núcleo que parece mal desenvolvido devido essa dinâmica do roteiro é o da família mexicana que entra ilegalmente nos EUA - essa trama está tão deslocada que se tirássemos todas as cenas, não sentiríamos a menor falta. É claro que existe uma razão deles estarem lá, mas, sinceramente, até agora, não interferiram em nada no andamento da série desde o primeiro episódio.
É fácil notar que algumas discussões politicas são muito bem inseridas dentro do contexto da série, outras já soam um pouco mais forçadas: o caso de nazismo do segundo episódio é um exemplo. Agora, quando entendemos que o objetivo da série é pegar um fato histórico, fazer uma releitura ou uma diferente interpretação para finalizar em, no máximo, dois episódios, fica mais fácil aceitar algumas inconsistências do roteiro, mas confesso que no início me causou muita estranheza! A direção do ótimo Seth Gordon tenta minimizar essa "correria" dos episódios com cenas um pouco mais introspectivas, dando a entender que o desenvolvimento dos personagens devem ganhar mais força e atenção que as próprias apresentações dos mesmos - em "See" vemos algo bem parecido e por consequência a dúvida é a mesma: quem assiste terá paciência para esperar os personagens (ou o arco maior) se estabelecerem?
"For All Mankind" é bom, e vai melhorando conforme os episódios vão passando. A série cresce com as intervenções na história baseada em fatos isolados que poderiam ter acontecido - e a sensação de conclusão que a série trás ajuda na experiência, isso é um fato! É perceptível o investimento da Apple na produção, trazendo elementos históricos (mesmo que destorcidos) no estilo Chernobyl ao mesmo tempo em que brinca com elementos mais hypados de filmes como "Top Gun" ou "Armagedom". Minha conclusão é a seguinte: a série já é boa, divertida e tende a melhorar cada vez mais!
Vale o play pelo entretenimento e pela qualidade da produção!