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A Grande Jogada: Além das Quadras

Se você gostou de "Arremessando Alto" (a ficção "Hustle", da Netflix) e de "Rise" (cinebiografia de Giannis Antetokounmpo do Disney+) certamente você vai se encantar com "The Long Game: Bigger Than Basketball" (no original) da AppleTV+. A minissérie de 5 episódios é na verdade uma mistura dos dois filmes, só que com mais tempo para desenvolver os personagens e em formato de documentário. Veja, se em "Arremessando Alto" conhecemos o tutor/coach Sugerman (Adam Sandler), aqui Ed Smith exerce essa função; enquanto em "Rise" a jornada da família nigeriana/grega "Antetokounmpo" está no foco, aqui estamos falando da família sudanesa/australiana "Maker".

Makur Maker era um forte candidato a ser recrutado nas primeiras posições do Draft da NBA quando uma escolha ideológica o levou do Ensino Médio para Howard (uma Universidade historicamente negra dos EUA e sem muita tradição no esporte). A minissérie conta a história de Makur após essa decisão, suas dificuldades esportivas em meio a chegada avassaladora do Covid e, principalmente, discute os caminhos e a forma como seu staff projetava sua carreira com o objetivo de coloca-lo entre os melhores da liga. Confira o trailer (em inglês):

Dirigida pelo talentoso Seth Gordon (de "For All Mankind"), a minissérie é muito inteligente em equilibrar os dramas esportivos com as inseguranças pessoais em relação ao "negócio", ou melhor, em como a NBA enxerga suas futuras estrelas com uma forte orientação aos dados - chega ser impressionante (e na minha opinião até limitada) a forma como a imprensa especializada americana e a liga profissional se apoiam apenas nos números para definir o futuro dos jovens atletas.

Como pode ser visto em "Rise" e em "Arremessando Alto", a relação entre o tutor e o atleta imigrante, pobre, mas incrivelmente talentoso que vê no esporte a chance de mudar de vida, levanta uma série de questões éticas que muitas vezes são discutidas sem muita profundidade, mas que, confesso, chega a incomodar - embora o próprio Ed, use o exemplo de outro Maker, o primo mais velho de Makur, Thon, décima escolha no Draft de 2016, para justificar a importância do seu trabalho, ele chega a questionar (para não dizer provocar) o diretor: você conhece algum atleta sudanês que em três anos colocou 12 milhões de dólares no bolso?

Esse recorte mais íntimo da vida de Makur como estudante/atleta que sonha em chegar na NBA é a linha narrativa principal da minissérie, mas com muita habilidade, Gordon ainda cria paralelos entre Makur, seu primo Thon (mostrando que a dificuldade de chegar entre os 10 primeiros do Draft é só o inicio da jornada e que, isoladamente, não garante o sucesso profissional) e ainda a família de Ed, que se divide entre preparar o jovem para os desafios da carreira e lidar com uma série de problemas pessoais. Obviamente que todas essas histórias misturadas, porém conectadas, criam uma dinâmica muito interessante e muito agradável de acompanhar, principalmente para quem gosta de esportes, de cases de atletas de alta performance e, claro, dos bastidores esportivo como negócio.

Dito isso, "A Grande Jogada: Além das Quadras" é uma verdadeira pérola escondida no catálogo da AppleTV+ que merece demais a sua atenção - e não vou me surpreender se algumas importantes indicações começarem a surgir daqui para frente. Vale muito seu play!

PS: Outra série da Apple sobre basquete, "Swagger", também traça ótimos paralelos entre vida pessoal e profissional de um atleta (fenômeno) que sofre com as suas próprias expectativas, com sua personalidade marcante, suas orientações familiares e até com os reflexos do Covid na construção da sua carreira. As semelhanças são impressionantes.

Assista Agora

Se você gostou de "Arremessando Alto" (a ficção "Hustle", da Netflix) e de "Rise" (cinebiografia de Giannis Antetokounmpo do Disney+) certamente você vai se encantar com "The Long Game: Bigger Than Basketball" (no original) da AppleTV+. A minissérie de 5 episódios é na verdade uma mistura dos dois filmes, só que com mais tempo para desenvolver os personagens e em formato de documentário. Veja, se em "Arremessando Alto" conhecemos o tutor/coach Sugerman (Adam Sandler), aqui Ed Smith exerce essa função; enquanto em "Rise" a jornada da família nigeriana/grega "Antetokounmpo" está no foco, aqui estamos falando da família sudanesa/australiana "Maker".

Makur Maker era um forte candidato a ser recrutado nas primeiras posições do Draft da NBA quando uma escolha ideológica o levou do Ensino Médio para Howard (uma Universidade historicamente negra dos EUA e sem muita tradição no esporte). A minissérie conta a história de Makur após essa decisão, suas dificuldades esportivas em meio a chegada avassaladora do Covid e, principalmente, discute os caminhos e a forma como seu staff projetava sua carreira com o objetivo de coloca-lo entre os melhores da liga. Confira o trailer (em inglês):

Dirigida pelo talentoso Seth Gordon (de "For All Mankind"), a minissérie é muito inteligente em equilibrar os dramas esportivos com as inseguranças pessoais em relação ao "negócio", ou melhor, em como a NBA enxerga suas futuras estrelas com uma forte orientação aos dados - chega ser impressionante (e na minha opinião até limitada) a forma como a imprensa especializada americana e a liga profissional se apoiam apenas nos números para definir o futuro dos jovens atletas.

Como pode ser visto em "Rise" e em "Arremessando Alto", a relação entre o tutor e o atleta imigrante, pobre, mas incrivelmente talentoso que vê no esporte a chance de mudar de vida, levanta uma série de questões éticas que muitas vezes são discutidas sem muita profundidade, mas que, confesso, chega a incomodar - embora o próprio Ed, use o exemplo de outro Maker, o primo mais velho de Makur, Thon, décima escolha no Draft de 2016, para justificar a importância do seu trabalho, ele chega a questionar (para não dizer provocar) o diretor: você conhece algum atleta sudanês que em três anos colocou 12 milhões de dólares no bolso?

Esse recorte mais íntimo da vida de Makur como estudante/atleta que sonha em chegar na NBA é a linha narrativa principal da minissérie, mas com muita habilidade, Gordon ainda cria paralelos entre Makur, seu primo Thon (mostrando que a dificuldade de chegar entre os 10 primeiros do Draft é só o inicio da jornada e que, isoladamente, não garante o sucesso profissional) e ainda a família de Ed, que se divide entre preparar o jovem para os desafios da carreira e lidar com uma série de problemas pessoais. Obviamente que todas essas histórias misturadas, porém conectadas, criam uma dinâmica muito interessante e muito agradável de acompanhar, principalmente para quem gosta de esportes, de cases de atletas de alta performance e, claro, dos bastidores esportivo como negócio.

Dito isso, "A Grande Jogada: Além das Quadras" é uma verdadeira pérola escondida no catálogo da AppleTV+ que merece demais a sua atenção - e não vou me surpreender se algumas importantes indicações começarem a surgir daqui para frente. Vale muito seu play!

PS: Outra série da Apple sobre basquete, "Swagger", também traça ótimos paralelos entre vida pessoal e profissional de um atleta (fenômeno) que sofre com as suas próprias expectativas, com sua personalidade marcante, suas orientações familiares e até com os reflexos do Covid na construção da sua carreira. As semelhanças são impressionantes.

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A Lenda de Candyman

Se você gosta de um bom suspense, com aqueles elementos que já fizeram muito sucesso em filmes de terror na década de 90, que transformam a jornada em algo ainda mais violento e sombrio, e ainda com uma história muito interessante que provoca o inconsciente coletivo e nossa memória afetiva, "A Lenda de Candyman" definitivamente é para você!

Em um bairro pobre de Chicago, a lenda de um espírito assassino conhecido como Candyman (Tony Todd) assolou a população anos atrás, aterrorizando os moradores do complexo habitacional de Cabini-Green. Agora, o local foi renovado e é lar de cidadãos de alta classe, na sua maioria brancos. O artista visual Anthony McCoy (Yahya Abdul-Mateen III) e sua namorada, diretora da galeria, Brianna Cartwright (Teyona Parris), se mudam para Cabrini, onde Anthony encontra uma nova fonte de inspiração para sua próxima exposição. Mas quando o espírito maligno retorna, os novos habitantes também são obrigados a enfrentar a ira de Candyman. Confira o trailer:

Antes de mais nada é preciso contextualizar "A Lenda de Candyman" na linha do tempo: durante a década de 90 foram feitos três filmes a partir do conto "The Forbidden", do escritor britânico Clive Barker - pelas mãos do diretor Bernard Rose (de "Minha Amada Imortal"), e do ator Tony Todd, foi que Candyman se tomou conhecido do grande público. O personagem foi tirado da Inglaterra e levado para os Estados Unidos de 1992, onde sofreu algumas adaptações que impactaram na sua mitologia até hoje: o cenário que era um decadente conjunto habitacional de classe média se tornou um conjunto habitacional marginalizado; sua raça ganhou força ao ser apresentado como um homem negro, enquanto entidade é um reflexo de um crime de ódio que passou a ser movido por vingança e que se apoia na violência para deixar sua mensagem.

Pois bem, o filme original, "O Mistério de Candyman", sem a menor dúvida enriqueceu a obra de Barker e inovou ao ir além de um conto de terror sobre lendas urbanas para incorporar discussões sobre o preconceito e exclusão. Como os outros dois filmes, "Candyman 2: A Vingança" e "Candyman 3: Dia dos Mortos" reduziram o personagem a mais um assassino slasher, por favor, desconsiderem; mas em relação ao primeiro, o respeito da diretora Nia DaCosta (Passando dos Limites) e dos produtores (e roteiristas) Jordan Peele ("Corra" e "Nós") e Win Rosenfeld (Infiltrados na Klan), entrelaçando as duas histórias ao ponto de recriar representações conceituais em um belíssimo teatro de sombras, acabam nos mostrando um universo cheio de detalhes que colocam uma franquia adormecida (quase esquecida) em outro patamar. 

Mas é preciso assistir ao primeiro filme? Não, mas caso o faça, sua experiência será mais rica - até porquê existe um certo espelhamento entre os protagonistas: o Anthony McCoy de hoje e a Helen Lyle (Virginia Madsen) de 92. O fato é que a história de "A Lenda de Candyman" se conta sozinha, sem esquecer do seu legado, claro, mas de uma forma coerente e muito inteligente. Bem dirigido e com um desenho de som que funciona perfeitamente como gatilhos emocionais sem exagerar na dose, o filme é uma aula de gramática cinematográfica de gênero e um entretenimento da melhor qualidade. Confesso o meu receio desde que assisti o primeiro trailer, porém te tranquilizo: o filme é supreendentemente bom!

Vale o seu play!

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Se você gosta de um bom suspense, com aqueles elementos que já fizeram muito sucesso em filmes de terror na década de 90, que transformam a jornada em algo ainda mais violento e sombrio, e ainda com uma história muito interessante que provoca o inconsciente coletivo e nossa memória afetiva, "A Lenda de Candyman" definitivamente é para você!

Em um bairro pobre de Chicago, a lenda de um espírito assassino conhecido como Candyman (Tony Todd) assolou a população anos atrás, aterrorizando os moradores do complexo habitacional de Cabini-Green. Agora, o local foi renovado e é lar de cidadãos de alta classe, na sua maioria brancos. O artista visual Anthony McCoy (Yahya Abdul-Mateen III) e sua namorada, diretora da galeria, Brianna Cartwright (Teyona Parris), se mudam para Cabrini, onde Anthony encontra uma nova fonte de inspiração para sua próxima exposição. Mas quando o espírito maligno retorna, os novos habitantes também são obrigados a enfrentar a ira de Candyman. Confira o trailer:

Antes de mais nada é preciso contextualizar "A Lenda de Candyman" na linha do tempo: durante a década de 90 foram feitos três filmes a partir do conto "The Forbidden", do escritor britânico Clive Barker - pelas mãos do diretor Bernard Rose (de "Minha Amada Imortal"), e do ator Tony Todd, foi que Candyman se tomou conhecido do grande público. O personagem foi tirado da Inglaterra e levado para os Estados Unidos de 1992, onde sofreu algumas adaptações que impactaram na sua mitologia até hoje: o cenário que era um decadente conjunto habitacional de classe média se tornou um conjunto habitacional marginalizado; sua raça ganhou força ao ser apresentado como um homem negro, enquanto entidade é um reflexo de um crime de ódio que passou a ser movido por vingança e que se apoia na violência para deixar sua mensagem.

Pois bem, o filme original, "O Mistério de Candyman", sem a menor dúvida enriqueceu a obra de Barker e inovou ao ir além de um conto de terror sobre lendas urbanas para incorporar discussões sobre o preconceito e exclusão. Como os outros dois filmes, "Candyman 2: A Vingança" e "Candyman 3: Dia dos Mortos" reduziram o personagem a mais um assassino slasher, por favor, desconsiderem; mas em relação ao primeiro, o respeito da diretora Nia DaCosta (Passando dos Limites) e dos produtores (e roteiristas) Jordan Peele ("Corra" e "Nós") e Win Rosenfeld (Infiltrados na Klan), entrelaçando as duas histórias ao ponto de recriar representações conceituais em um belíssimo teatro de sombras, acabam nos mostrando um universo cheio de detalhes que colocam uma franquia adormecida (quase esquecida) em outro patamar. 

Mas é preciso assistir ao primeiro filme? Não, mas caso o faça, sua experiência será mais rica - até porquê existe um certo espelhamento entre os protagonistas: o Anthony McCoy de hoje e a Helen Lyle (Virginia Madsen) de 92. O fato é que a história de "A Lenda de Candyman" se conta sozinha, sem esquecer do seu legado, claro, mas de uma forma coerente e muito inteligente. Bem dirigido e com um desenho de som que funciona perfeitamente como gatilhos emocionais sem exagerar na dose, o filme é uma aula de gramática cinematográfica de gênero e um entretenimento da melhor qualidade. Confesso o meu receio desde que assisti o primeiro trailer, porém te tranquilizo: o filme é supreendentemente bom!

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A Voz Suprema do Blues

Se você gostou de "Uma noite em Miami..." certamente você vai gostar de "A Voz Suprema do Blues" já que ambos os filmes possuem elementos narrativos muito similares, embora com abordagens diferentes, um mais politico e o outro mais musical, as tramas giram em torno de diálogos muito bem construídos e de personagens cheios de camadas que interagem entre sim, em poucas locações, para que as discussões não se dissipem e ganhem o valor exato do seu propósito!

Também baseada na peça de teatro, dessa vez do premiado dramaturgo August Wilson, cujos textos são conhecidos por representarem os aspectos cômicos e trágicos da experiência dos africanos-americanos no século XX, "A Voz Suprema do Blues" se passa em Chicago de 1927 e volta sua atenção para dentro de um antigo estúdio de gravação da cidade. Lá, Ma Rainey (Viola Davis) e sua banda estão prontos para gravar mais um disco. Só que no estúdio o clima começa a esquentar quando a tensão aumenta entre a cantora, seu ambicioso trompista Levee (Chadwick Boseman) e a gerência branca determinada a controlar uma incontrolável “Mãe do Blues”. Confira o trailer:

Todo filme que possui bons personagens, a matéria prima para o ator bilhar, cria uma perspectiva de muito reconhecimento e, pode apostar, ele virá! Esse foi o último filme de Chadwick Boseman e sua performance está simplesmente magnífica, perfeita, no tom exato, com um range de interpretação impressionante, digno de Oscar! Visivelmente debilitado, sua postura praticamente transforma um problema em diferencial - tudo se encaixa tão perfeitamente que é triste condicionar esse reconhecimento em respeito por sua carreira: não é e não deveria ser o caso! Viola Davis é outra força da natureza, que nos tira o equilíbrio e explode na tela! Coberta de uma pesada maquiagem, roupas extravagantes e uma postura imponente, carregada de suor e arrogância, a atriz entrega um Ma Rainey digna de sua importância na música!

Com uma direção muito competente do George C. Wolfe (de Noites de Tormenta) e uma belíssima fotografia do Tobias Schliessler (de A Grande Mentira), o filme cria uma atmosfera desconfortável, angustiante, como se estivéssemos assistindo uma bomba prestes a explodir! O texto chega a nos provocar certa aflição e é muito inteligente ao pontuar os problemas sociais da época como racismo estrutural e todo o descaso com o negro de forma mais orgânica que ideológica.

“A Voz Suprema do Blues” é um daqueles filmes surpreendentes que usa de longos monólogos para evidenciar a força do seu texto e que transforma o ator em uma espécie de mensageiro e de ações muito mais internas do que impactantes - e o final é a maior prova disso! Filme para quem gosta do profundo, ao som de uma bela trilha sonora e daquela atmosfera nostálgica e sexy do blues bem tocado e interpretado com alma!

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Se você gostou de "Uma noite em Miami..." certamente você vai gostar de "A Voz Suprema do Blues" já que ambos os filmes possuem elementos narrativos muito similares, embora com abordagens diferentes, um mais politico e o outro mais musical, as tramas giram em torno de diálogos muito bem construídos e de personagens cheios de camadas que interagem entre sim, em poucas locações, para que as discussões não se dissipem e ganhem o valor exato do seu propósito!

Também baseada na peça de teatro, dessa vez do premiado dramaturgo August Wilson, cujos textos são conhecidos por representarem os aspectos cômicos e trágicos da experiência dos africanos-americanos no século XX, "A Voz Suprema do Blues" se passa em Chicago de 1927 e volta sua atenção para dentro de um antigo estúdio de gravação da cidade. Lá, Ma Rainey (Viola Davis) e sua banda estão prontos para gravar mais um disco. Só que no estúdio o clima começa a esquentar quando a tensão aumenta entre a cantora, seu ambicioso trompista Levee (Chadwick Boseman) e a gerência branca determinada a controlar uma incontrolável “Mãe do Blues”. Confira o trailer:

Todo filme que possui bons personagens, a matéria prima para o ator bilhar, cria uma perspectiva de muito reconhecimento e, pode apostar, ele virá! Esse foi o último filme de Chadwick Boseman e sua performance está simplesmente magnífica, perfeita, no tom exato, com um range de interpretação impressionante, digno de Oscar! Visivelmente debilitado, sua postura praticamente transforma um problema em diferencial - tudo se encaixa tão perfeitamente que é triste condicionar esse reconhecimento em respeito por sua carreira: não é e não deveria ser o caso! Viola Davis é outra força da natureza, que nos tira o equilíbrio e explode na tela! Coberta de uma pesada maquiagem, roupas extravagantes e uma postura imponente, carregada de suor e arrogância, a atriz entrega um Ma Rainey digna de sua importância na música!

Com uma direção muito competente do George C. Wolfe (de Noites de Tormenta) e uma belíssima fotografia do Tobias Schliessler (de A Grande Mentira), o filme cria uma atmosfera desconfortável, angustiante, como se estivéssemos assistindo uma bomba prestes a explodir! O texto chega a nos provocar certa aflição e é muito inteligente ao pontuar os problemas sociais da época como racismo estrutural e todo o descaso com o negro de forma mais orgânica que ideológica.

“A Voz Suprema do Blues” é um daqueles filmes surpreendentes que usa de longos monólogos para evidenciar a força do seu texto e que transforma o ator em uma espécie de mensageiro e de ações muito mais internas do que impactantes - e o final é a maior prova disso! Filme para quem gosta do profundo, ao som de uma bela trilha sonora e daquela atmosfera nostálgica e sexy do blues bem tocado e interpretado com alma!

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Abercrombie & Fitch - Ascensão e Queda

Esse documentário da Netflix é mais um estudo de caso dos mais interessantes sobre "cultura corporativa" - e que, pode ter certeza, vai te provocar várias reflexões. A "Abercrombie & Fitch" se tornou um verdadeiro fenômeno de vendas nos anos 90, porém sua jornada foi marcada por inúmeras acusações que vão desde abusos (inclusive sexuais) até atitudes de preconceito e racismo. 

"Abercrombie & Fitch - Ascensão e Queda" faz uma análise sobre o impacto da marca na cultura pop americana na virada do milênio, esmiuçando as estratégias de marketing e as escolhas conceituais para atingir o imaginário popular, além de discutir em detalhes como a marca prosperou e depois entrou em queda livre por defender o principio da exclusão durante três décadas. Confira o trailer (em inglês):

Definida como uma marca que representava o verdadeiro estilo americanos de ser "cool", a "Abercrombie & Fitch" se posicionou entre o sexy da Calvin Klein e o engomadinho da Ralph Lauren. O interessante porém, é que a proposta da empresa não levou em conta o que o público de 18 à 22 anos queria usar, e sim como uma excelente estratégia de marketing faria com que esse mesmo público desejasse usar suas peças - e funcionou!

Dirigido pela premiada Alison Klayman (do excelente "Jagged" da HBO Max), o documentário constrói uma linha do tempo muito competente, criando uma narrativa dinâmica, mas ao mesmo tempo de fácil entendimento. A forma como Klayman aproveita o sucesso da marca para sugerir os problemas que viriam à tona anos depois, é sensacional. Desde a chegada de Lex Wexner da L-Brands (o cara que transformou a Victoria Secret) até a escolha de Michael Jeffries como CEO, passando pelas polêmicas campanhas de Bruce Weber que tem em seu currículo trabalhos para marcas como  Calvin Klein, Ralph Lauren, Pirelli, Revlon e Gianni Versace; o documentário explora como "Abercrombie & Fitch" inovou em muitos sentidos, mas como também parou no tempo, não evoluindo de acordo com as gerações, com a tecnologia e com o entendimento de determinados posicionamentos que já não faziam o menor sentido - essa contextualização é muito importante antes de qualquer julgamento precipitado ou superficial.

Com inúmeros depoimentos de ex-funcionários, ativistas e jornalistas; além de imagens de arquivo e ótimas aplicações gráficas que ajudam a ilustrar tudo o que é contado pelas fontes, "Abercrombie & Fitch - Ascensão e Queda" vai além de uma história curiosa e passa a ser um relevante material de estudos sobre como fazer para moldar a percepção de uma sociedade (e de um mercado) e o que não fazer para se manter evoluindo quando o foco é diferenciação de produto (e de experiência).  

Vale muito o seu play!

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Esse documentário da Netflix é mais um estudo de caso dos mais interessantes sobre "cultura corporativa" - e que, pode ter certeza, vai te provocar várias reflexões. A "Abercrombie & Fitch" se tornou um verdadeiro fenômeno de vendas nos anos 90, porém sua jornada foi marcada por inúmeras acusações que vão desde abusos (inclusive sexuais) até atitudes de preconceito e racismo. 

"Abercrombie & Fitch - Ascensão e Queda" faz uma análise sobre o impacto da marca na cultura pop americana na virada do milênio, esmiuçando as estratégias de marketing e as escolhas conceituais para atingir o imaginário popular, além de discutir em detalhes como a marca prosperou e depois entrou em queda livre por defender o principio da exclusão durante três décadas. Confira o trailer (em inglês):

Definida como uma marca que representava o verdadeiro estilo americanos de ser "cool", a "Abercrombie & Fitch" se posicionou entre o sexy da Calvin Klein e o engomadinho da Ralph Lauren. O interessante porém, é que a proposta da empresa não levou em conta o que o público de 18 à 22 anos queria usar, e sim como uma excelente estratégia de marketing faria com que esse mesmo público desejasse usar suas peças - e funcionou!

Dirigido pela premiada Alison Klayman (do excelente "Jagged" da HBO Max), o documentário constrói uma linha do tempo muito competente, criando uma narrativa dinâmica, mas ao mesmo tempo de fácil entendimento. A forma como Klayman aproveita o sucesso da marca para sugerir os problemas que viriam à tona anos depois, é sensacional. Desde a chegada de Lex Wexner da L-Brands (o cara que transformou a Victoria Secret) até a escolha de Michael Jeffries como CEO, passando pelas polêmicas campanhas de Bruce Weber que tem em seu currículo trabalhos para marcas como  Calvin Klein, Ralph Lauren, Pirelli, Revlon e Gianni Versace; o documentário explora como "Abercrombie & Fitch" inovou em muitos sentidos, mas como também parou no tempo, não evoluindo de acordo com as gerações, com a tecnologia e com o entendimento de determinados posicionamentos que já não faziam o menor sentido - essa contextualização é muito importante antes de qualquer julgamento precipitado ou superficial.

Com inúmeros depoimentos de ex-funcionários, ativistas e jornalistas; além de imagens de arquivo e ótimas aplicações gráficas que ajudam a ilustrar tudo o que é contado pelas fontes, "Abercrombie & Fitch - Ascensão e Queda" vai além de uma história curiosa e passa a ser um relevante material de estudos sobre como fazer para moldar a percepção de uma sociedade (e de um mercado) e o que não fazer para se manter evoluindo quando o foco é diferenciação de produto (e de experiência).  

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American Son

American Son

Antes de mais nada, uma informação importante sobre "American Son": essa produção original da Netflix é uma adaptação de uma peça da Broadway, escrita por Christopher Demos-Brown que acompanha o drama de um ex-casal, em uma interminável noite de espera na delegacia, em busca de informações sobre o desaparecimento do seu filho. A história ganha ainda mais força por trazer para pauta um assunto delicado, o racismo em suas diversas formas de expressão e opressão, porém, é preciso que se diga: o filme não vai agradar a todos, não pelo conteúdo e sim pela forma. "American Son" se passa em um mesmo cenário 98% do tempo, com 4 atores se revezando entre diálogos longos, muitas vezes didáticos, sem um sentido cronológico e, muitas vezes, com atuações acima do tom - certamente funciona no palco, mas no cinema a dinâmica é outra (e o diretor Kenny Leon deveria saber disso). Só dê o play se você estiver consciente que se trata de uma oportunidade de assistir uma peça de teatro da Broadway (não é um musical) no seu serviço de streaming., com um texto forte, difícil de digerir e que expõe uma enorme discussão cheia dor, de ressentimento e de verdade!

Jamal, um jovem de 18 anos, negro, está desaparecido. Kendra, sua mãe, negra, está em uma delegacia esperando por notícias do filho. Um jovem policial, branco, faz o atendimento. O clima é tenso, é possível ver o desespero de uma mãe nessa situação. Os diálogos parecem traiçoeiros entre quem diz e quem escuta - tudo nos leva para discussões sobre diferenças raciais ou sobre a forma como isso interfere naquela investigação, em algum incidente que poderia ter corrido ou até no tratamento institucional entre o policial e a mãe. Quando o pai de Jamal, ex-marido de Kendra, Scott, um agente do FBI, branco, chega, as discussões ganham novos elementos como: postura perante o problema, machismo, ressentimentos entre homem e mulher, diferenças de ponto de vista sobre um mesmo tema, paternidade, maternidade, educação, escolhas de vida, etc; mas tudo isso tendo o racismo como reflexo de causa. É fato que o roteiro trás plots muito bem elaborados, consistentes e importantes para se discutir. Ele levanta temas que provavelmente passariam batidos por uns, mas que tem enorme importância para outros e aí vem o elemento dramático que mais merece destaque no filme: a necessidade de nos colocarmos no lugar do outro, de praticarmos a empatia! Eu diria que é esse sentimento que nos segura até o final (um ótimo final, inclusive). 

Como disse anteriormente, o problema não está no "conteúdo" e sim na "forma". Adaptar uma peça de teatro em filme exige entender a gramática cinematográfica e ter a consciência que muita coisa vai precisar mudar, não tem jeito! Mesmo com a escolha de um único cenário (o que não seria problema nenhum, basta lembrar de "Nada a Esconder" ou "7 años") o roteiro poderia ser mais dinâmico, mas não, ele é teatral, respeita as entradas e saídas do atores usando os corredores da delegacia como coxias e isso é um grande equívoco, porque os tempos são diferentes. As atuações sofrem do mesmo problema - o atores da peça são exatamente os mesmos do filme e, claro, eles carregam o tom do teatro para a câmera e, em muitos momentos, ficar] over demais! Kerry Washington (Scandal) faz tantas caras e bocas que deixa as ótimas passagens do texto, superficiais demais - ela não mergulha no sofrimento, ela expões o sofrimento, e essa diferença é fatal (embora algumas pessoas tendem a gostar desse tipo de trabalho)! Talvez o único do elenco que tenha equilibrado (ou se adaptado melhor) a atuação foi o delegado John Stokes (Eugene Lee) - pontual e contido, na medida e no tempo certo!

Bom, mas você só criticou, por que eu devo assistir? A resposta é simples: a história é boa, o texto é bom (embora o roteiro nem tanto) e o assunto é importante, nos faz refletir em vários momentos, principalmente quando os pontos de vista são colocados na mesa sem medo de julgamentos. Eu, tranquilamente, assistiria essa peça e provavelmente sairia satisfeito, porém como obra cinematográfica, fica impossível elogiar. Uma pena!

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Antes de mais nada, uma informação importante sobre "American Son": essa produção original da Netflix é uma adaptação de uma peça da Broadway, escrita por Christopher Demos-Brown que acompanha o drama de um ex-casal, em uma interminável noite de espera na delegacia, em busca de informações sobre o desaparecimento do seu filho. A história ganha ainda mais força por trazer para pauta um assunto delicado, o racismo em suas diversas formas de expressão e opressão, porém, é preciso que se diga: o filme não vai agradar a todos, não pelo conteúdo e sim pela forma. "American Son" se passa em um mesmo cenário 98% do tempo, com 4 atores se revezando entre diálogos longos, muitas vezes didáticos, sem um sentido cronológico e, muitas vezes, com atuações acima do tom - certamente funciona no palco, mas no cinema a dinâmica é outra (e o diretor Kenny Leon deveria saber disso). Só dê o play se você estiver consciente que se trata de uma oportunidade de assistir uma peça de teatro da Broadway (não é um musical) no seu serviço de streaming., com um texto forte, difícil de digerir e que expõe uma enorme discussão cheia dor, de ressentimento e de verdade!

Jamal, um jovem de 18 anos, negro, está desaparecido. Kendra, sua mãe, negra, está em uma delegacia esperando por notícias do filho. Um jovem policial, branco, faz o atendimento. O clima é tenso, é possível ver o desespero de uma mãe nessa situação. Os diálogos parecem traiçoeiros entre quem diz e quem escuta - tudo nos leva para discussões sobre diferenças raciais ou sobre a forma como isso interfere naquela investigação, em algum incidente que poderia ter corrido ou até no tratamento institucional entre o policial e a mãe. Quando o pai de Jamal, ex-marido de Kendra, Scott, um agente do FBI, branco, chega, as discussões ganham novos elementos como: postura perante o problema, machismo, ressentimentos entre homem e mulher, diferenças de ponto de vista sobre um mesmo tema, paternidade, maternidade, educação, escolhas de vida, etc; mas tudo isso tendo o racismo como reflexo de causa. É fato que o roteiro trás plots muito bem elaborados, consistentes e importantes para se discutir. Ele levanta temas que provavelmente passariam batidos por uns, mas que tem enorme importância para outros e aí vem o elemento dramático que mais merece destaque no filme: a necessidade de nos colocarmos no lugar do outro, de praticarmos a empatia! Eu diria que é esse sentimento que nos segura até o final (um ótimo final, inclusive). 

Como disse anteriormente, o problema não está no "conteúdo" e sim na "forma". Adaptar uma peça de teatro em filme exige entender a gramática cinematográfica e ter a consciência que muita coisa vai precisar mudar, não tem jeito! Mesmo com a escolha de um único cenário (o que não seria problema nenhum, basta lembrar de "Nada a Esconder" ou "7 años") o roteiro poderia ser mais dinâmico, mas não, ele é teatral, respeita as entradas e saídas do atores usando os corredores da delegacia como coxias e isso é um grande equívoco, porque os tempos são diferentes. As atuações sofrem do mesmo problema - o atores da peça são exatamente os mesmos do filme e, claro, eles carregam o tom do teatro para a câmera e, em muitos momentos, ficar] over demais! Kerry Washington (Scandal) faz tantas caras e bocas que deixa as ótimas passagens do texto, superficiais demais - ela não mergulha no sofrimento, ela expões o sofrimento, e essa diferença é fatal (embora algumas pessoas tendem a gostar desse tipo de trabalho)! Talvez o único do elenco que tenha equilibrado (ou se adaptado melhor) a atuação foi o delegado John Stokes (Eugene Lee) - pontual e contido, na medida e no tempo certo!

Bom, mas você só criticou, por que eu devo assistir? A resposta é simples: a história é boa, o texto é bom (embora o roteiro nem tanto) e o assunto é importante, nos faz refletir em vários momentos, principalmente quando os pontos de vista são colocados na mesa sem medo de julgamentos. Eu, tranquilamente, assistiria essa peça e provavelmente sairia satisfeito, porém como obra cinematográfica, fica impossível elogiar. Uma pena!

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Assassinos da Lua das Flores

Martin Scorsese é um dos maiores cineastas da história do cinema - isso não há como negar. Com uma carreira de mais de 50 anos, ele já dirigiu alguns dos filmes mais importantes e aclamados de todos os tempos, como "Taxi Driver", "Os Bons Companheiros", "Cassino" e "A Invenção de Hugo Cabret", só para citar os clássicos. Scorsese já foi indicado 9 vezes ao Oscar de  "Melhor Diretor" e venceu por "Os Infiltrados". De fato um currículo de respeito e é certamente por isso que nos propomos a assistir mais de três horas e meia de seu mais recente trabalho, o drama "Assassinos da Lua das Flores". Olha, o filme é realmente muito bom, dos melhores de sua carreira como diretor, mas meu amigo, é longo demais! Será preciso uma dose extra de empolgação para encarar essa jornada, mesmo sabendo que a qualidade técnica e artística é tão alta que nem vemos o tempo passar. "Assassinos da Lua das Flores" é mais uma prova do talento e da maestria de Scorsese, mas como uma minissérie, a experiência seria bem menos cansativa. 

Baseado no livro homônimo de David Grann, "Assassinos da Lua das Flores" conta a história real de uma série de assassinatos misteriosos que ocorreram na década de 1920 na tribo indígena Osage, no estado americano de Oklahoma. Os Osage eram donos de terras ricas em petróleo, e suas mortes levantaram suspeitas de que poderiam ter sido encomendadas por pessoas que queriam se apoderar de suas riquezas, especialmente William Hale (Robert De Niro). Confira o trailer:

Produzido pela AppleTV+ e estrelado por Leonardo DiCaprio, Jesse Plemons, Robert De Niro e Lily Gladstone, "Assassinos da Lua das Flores" tem todos os elementos que fazem os olhos dos votantes do Oscar brilhar. Sério, o filme é de cair o queixo - pela qualidade, pelo tamanho da produção, e, claro, pela forma que Scorsese reproduziu uma atmosfera de recorrente tensão e desconfiança, em pleno anos 20, com tanta perfeição. Você analisa os detalhes, destrincha o roteiro, repara em tudo e não encontra um vacilo sequer - é impressionante como a direção de Scorsese é impecável ao ponto de prender nossa atenção do início ao fim, em um misto de horror e poesia. Reparem como o roteiro do genial Eric Roth (vencedor do Oscar por "Forrest Gump" e indicado mais seis vezes, a última por "Duna") transita com perfeição entre a ganância, a vaidade e o desejo do individuo que se sobrepõe ao meio em que a história acontece - eu diria, uma espécie de faroeste macabro onde a tensão e a violência desenfreada dão o tom das relações sociais e humanas pela perspectiva de quem sofre e de quem comete crimes tão brutais.

DiCaprio interpreta Ernest Burkhart, um homem branco que se casa com uma mulher Osage, Mollie (Lily Gladstone), e se torna um dos responsáveis por articular os crimes a mando do tio William - e aqui cabe um observação sobre o texto: se inicialmente tudo fica subentendido, com o passar do tempo as motivações e ações ficam completamente escancaradas. Em nenhum momento o roteiro se propõe a seguir a sinopse, criar um mistério e gerar dúvidas - tudo é muito claro, no entanto são nas consequências intimas dos personagens que a trama ganha profundidade e reflexão (e talvez por isso o filme não tenha sido uma unanimidade). As performances dos atores são excelentes: DiCaprio dá um tom de complexidade e ambivalência ao seu Ernest que, na minha opinião, o credenciaria, no mínimo, para uma indicação ao Oscar. Já Lily Gladstone, essa vai ser a barbada do ano na categoria "Melhor Atriz", pode me cobrar depois.

Se "Assassinos da Lua das Flores" sabe explorar temas como corrupção e preconceito com certa brutalidade no seu "conteúdo", mas saiba que é na sua "forma" que o filme oferece uma visão verdadeiramente fascinante sobre aquele período turbulento da história americana. A fotografia do Rodrigo Prieto (mexicano parceiro de Alejandro G. Iñárritu e indicado cinco vezes ao Oscar) e a trilha sonora de Robbie Robertson (de "O Irlandês") provocam na audiência um misto de emoções que se alternam entre a tensão e a preocupação, e com aquela típica frieza do diretor, narra visualmente um banho de sangue étnico, com suas consequências sociais e impactos psicológicos, de um jeito onde o cinema parece funcionar, mais uma vez, como uma janela para muito do que acontece nos dias de hoje ao redor do nosso planeta.

Obrigado Scorsese!

Vale muito o play. Vale muito a reflexão!

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Martin Scorsese é um dos maiores cineastas da história do cinema - isso não há como negar. Com uma carreira de mais de 50 anos, ele já dirigiu alguns dos filmes mais importantes e aclamados de todos os tempos, como "Taxi Driver", "Os Bons Companheiros", "Cassino" e "A Invenção de Hugo Cabret", só para citar os clássicos. Scorsese já foi indicado 9 vezes ao Oscar de  "Melhor Diretor" e venceu por "Os Infiltrados". De fato um currículo de respeito e é certamente por isso que nos propomos a assistir mais de três horas e meia de seu mais recente trabalho, o drama "Assassinos da Lua das Flores". Olha, o filme é realmente muito bom, dos melhores de sua carreira como diretor, mas meu amigo, é longo demais! Será preciso uma dose extra de empolgação para encarar essa jornada, mesmo sabendo que a qualidade técnica e artística é tão alta que nem vemos o tempo passar. "Assassinos da Lua das Flores" é mais uma prova do talento e da maestria de Scorsese, mas como uma minissérie, a experiência seria bem menos cansativa. 

Baseado no livro homônimo de David Grann, "Assassinos da Lua das Flores" conta a história real de uma série de assassinatos misteriosos que ocorreram na década de 1920 na tribo indígena Osage, no estado americano de Oklahoma. Os Osage eram donos de terras ricas em petróleo, e suas mortes levantaram suspeitas de que poderiam ter sido encomendadas por pessoas que queriam se apoderar de suas riquezas, especialmente William Hale (Robert De Niro). Confira o trailer:

Produzido pela AppleTV+ e estrelado por Leonardo DiCaprio, Jesse Plemons, Robert De Niro e Lily Gladstone, "Assassinos da Lua das Flores" tem todos os elementos que fazem os olhos dos votantes do Oscar brilhar. Sério, o filme é de cair o queixo - pela qualidade, pelo tamanho da produção, e, claro, pela forma que Scorsese reproduziu uma atmosfera de recorrente tensão e desconfiança, em pleno anos 20, com tanta perfeição. Você analisa os detalhes, destrincha o roteiro, repara em tudo e não encontra um vacilo sequer - é impressionante como a direção de Scorsese é impecável ao ponto de prender nossa atenção do início ao fim, em um misto de horror e poesia. Reparem como o roteiro do genial Eric Roth (vencedor do Oscar por "Forrest Gump" e indicado mais seis vezes, a última por "Duna") transita com perfeição entre a ganância, a vaidade e o desejo do individuo que se sobrepõe ao meio em que a história acontece - eu diria, uma espécie de faroeste macabro onde a tensão e a violência desenfreada dão o tom das relações sociais e humanas pela perspectiva de quem sofre e de quem comete crimes tão brutais.

DiCaprio interpreta Ernest Burkhart, um homem branco que se casa com uma mulher Osage, Mollie (Lily Gladstone), e se torna um dos responsáveis por articular os crimes a mando do tio William - e aqui cabe um observação sobre o texto: se inicialmente tudo fica subentendido, com o passar do tempo as motivações e ações ficam completamente escancaradas. Em nenhum momento o roteiro se propõe a seguir a sinopse, criar um mistério e gerar dúvidas - tudo é muito claro, no entanto são nas consequências intimas dos personagens que a trama ganha profundidade e reflexão (e talvez por isso o filme não tenha sido uma unanimidade). As performances dos atores são excelentes: DiCaprio dá um tom de complexidade e ambivalência ao seu Ernest que, na minha opinião, o credenciaria, no mínimo, para uma indicação ao Oscar. Já Lily Gladstone, essa vai ser a barbada do ano na categoria "Melhor Atriz", pode me cobrar depois.

Se "Assassinos da Lua das Flores" sabe explorar temas como corrupção e preconceito com certa brutalidade no seu "conteúdo", mas saiba que é na sua "forma" que o filme oferece uma visão verdadeiramente fascinante sobre aquele período turbulento da história americana. A fotografia do Rodrigo Prieto (mexicano parceiro de Alejandro G. Iñárritu e indicado cinco vezes ao Oscar) e a trilha sonora de Robbie Robertson (de "O Irlandês") provocam na audiência um misto de emoções que se alternam entre a tensão e a preocupação, e com aquela típica frieza do diretor, narra visualmente um banho de sangue étnico, com suas consequências sociais e impactos psicológicos, de um jeito onde o cinema parece funcionar, mais uma vez, como uma janela para muito do que acontece nos dias de hoje ao redor do nosso planeta.

Obrigado Scorsese!

Vale muito o play. Vale muito a reflexão!

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Atlanta

"Atlanta" é uma espécie de "O Urso", só que 2016 - e não por acaso produzidos na mesma casa, a FX. A série criada pelo ator Donald Glover é uma verdadeira e criativa jornada subversiva através da cultura negra americana. Imperdível por desafiar as convenções do drama ao trazer para sua narrativa fortes elementos de comédia, daquelas bem irônicas mesmo, "Atlanta" brilha ao equilibrar os tons e assim explorar temas nada superficiais como o racismo, a busca por uma identidade e por alguns sonhos, todos pautados pelo forte apelo dos problemas sociais, mas sem pesar muito no realismo crítico. Vencedora de diversos prêmios, incluindo 7 Emmys, a série se junta a outras produções aclamadas que quebram barreiras narrativas e apresentam novas perspectivas para um entretenimento de qualidade e muito potente.

A trama gira em torno de Earnest "Earn" Marks (Donald Glover) que tenta convencer seu primo, o rapper Paperboy (Bryan Tyree Henry) que é capaz de gerenciar sua carreira e torná-lo um artista de grande sucesso. Porém, os dois discordam em diversos pontos sobre a vida, arte e entretenimento, especialmente tendo a cultura do  hip-hop como base para cada decisão. Earn ainda precisa lidar com a mãe de sua filha, Van (Zazie Beets), e com o colaborador do primo, Darius (LaKeith Stainfield), em uma jornada surreal pelos bastidores da indústria musical na busca por ascensão, dinheiro e sucesso. Confira o trailer:

É inegável que a primeira temporada da série surpreende ao estabelecer um tom irreverente e surrealista com episódios que abordam assuntos delicados de uma forma inovadora e muito instigante - existe uma espécie de licença poética dando ares de fantasia em um cenário associado com a austeridade. A fotografia, por exemplo, foge da sujeira estética do "caos" de cada personagem, trazendo uma certa plasticidade para os enquadramentos, que vale dizer, extremamente inventivos. Obviamente que a trilha sonora brinca com essa proposta de Glover criando uma atmosfera tão diferenciada quanto envolvente.

Seguindo as demais temporadas, a série se aprofunda na exploração da psique dos personagens, mergulhando em temas como traumas familiares e como isso pode impactar na busca pelo sucesso. Aqui a direção se torna ainda mais ousada, com episódios que experimentam diferentes formatos e estilos narrativos, dando um charme ainda maior aos testes feitos na primeira temporada - especialmente daquele plot envolvendo certo carro invisível.

O fato é que as quatro temporadas de "Atlanta" vão desafiando nossas expectativas (e em alguns momentos dividindo opiniões) ao apresentar uma visão ainda mais complexa da vida daqueles personagens até encontrar um ótimo final. Com um elenco que brilha pela originalidade a cada episódio e uma trama que sabe ser inovadora e ousada por oferecer uma visão única da cultura americana, é possível afirmar que essa série é, de fato, uma experiência imperdível para quem procura algo desafiador como entretenimento - e vale ressaltar que se para muitos  "Atlanta" surge como uma das melhores séries de todos os tempos, para outros a receptividade não foi tão impactante assim!

Independente disso, experimente o play!

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"Atlanta" é uma espécie de "O Urso", só que 2016 - e não por acaso produzidos na mesma casa, a FX. A série criada pelo ator Donald Glover é uma verdadeira e criativa jornada subversiva através da cultura negra americana. Imperdível por desafiar as convenções do drama ao trazer para sua narrativa fortes elementos de comédia, daquelas bem irônicas mesmo, "Atlanta" brilha ao equilibrar os tons e assim explorar temas nada superficiais como o racismo, a busca por uma identidade e por alguns sonhos, todos pautados pelo forte apelo dos problemas sociais, mas sem pesar muito no realismo crítico. Vencedora de diversos prêmios, incluindo 7 Emmys, a série se junta a outras produções aclamadas que quebram barreiras narrativas e apresentam novas perspectivas para um entretenimento de qualidade e muito potente.

A trama gira em torno de Earnest "Earn" Marks (Donald Glover) que tenta convencer seu primo, o rapper Paperboy (Bryan Tyree Henry) que é capaz de gerenciar sua carreira e torná-lo um artista de grande sucesso. Porém, os dois discordam em diversos pontos sobre a vida, arte e entretenimento, especialmente tendo a cultura do  hip-hop como base para cada decisão. Earn ainda precisa lidar com a mãe de sua filha, Van (Zazie Beets), e com o colaborador do primo, Darius (LaKeith Stainfield), em uma jornada surreal pelos bastidores da indústria musical na busca por ascensão, dinheiro e sucesso. Confira o trailer:

É inegável que a primeira temporada da série surpreende ao estabelecer um tom irreverente e surrealista com episódios que abordam assuntos delicados de uma forma inovadora e muito instigante - existe uma espécie de licença poética dando ares de fantasia em um cenário associado com a austeridade. A fotografia, por exemplo, foge da sujeira estética do "caos" de cada personagem, trazendo uma certa plasticidade para os enquadramentos, que vale dizer, extremamente inventivos. Obviamente que a trilha sonora brinca com essa proposta de Glover criando uma atmosfera tão diferenciada quanto envolvente.

Seguindo as demais temporadas, a série se aprofunda na exploração da psique dos personagens, mergulhando em temas como traumas familiares e como isso pode impactar na busca pelo sucesso. Aqui a direção se torna ainda mais ousada, com episódios que experimentam diferentes formatos e estilos narrativos, dando um charme ainda maior aos testes feitos na primeira temporada - especialmente daquele plot envolvendo certo carro invisível.

O fato é que as quatro temporadas de "Atlanta" vão desafiando nossas expectativas (e em alguns momentos dividindo opiniões) ao apresentar uma visão ainda mais complexa da vida daqueles personagens até encontrar um ótimo final. Com um elenco que brilha pela originalidade a cada episódio e uma trama que sabe ser inovadora e ousada por oferecer uma visão única da cultura americana, é possível afirmar que essa série é, de fato, uma experiência imperdível para quem procura algo desafiador como entretenimento - e vale ressaltar que se para muitos  "Atlanta" surge como uma das melhores séries de todos os tempos, para outros a receptividade não foi tão impactante assim!

Independente disso, experimente o play!

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Barry

"Barry" é muito bom, interessante, mas sem um conflito que nos provoque! Aqui, temos um filme de personagem, mas antes dele se transformar no protagonista, na personalidade, no homem admirado: estou falando de Barack Obama.

O filme se passa no início da década de 80, quando o jovem Barry era um dos poucos estudantes negros na Universidade de Columbia, em Nova York. Enquanto namora uma jovem branca e rica, Charlotte (Anya Taylor-Joy), ele começa a questionar o racismo estrutural nos EUA, passando por várias experiências e dificuldades de adaptação, não só como universitário, mas também em relação aos seus colegas onde o senso de não-pertencimento o incomodava mais do que sua própria incapacidade de mudar o mundo. Confira o trailer (em inglês):

Embora a produção tenha sido encabeçada por dois estreantes: o diretor Vikram Gandhi e o roteirista Adam Mansbach; "Barry" é muito competente em mostrar um recorte importante da vida de Obama sem cair na armadilha de querer evidenciar a todo momento sua enorme capacidade intelectual e de comunicação. Na verdade, o filme mostra muito mais suas fraquezas do que suas qualidades. Um dos elementos narrativos que mais me chamou a atenção foi a falta de pertencimento que ele sentia por estar rodeado de brancos - inclusive esse é um ponto que dificultava o relacionamento com sua mãe, Stanley Ann Dunham (Ashley Judd) - uma americana especializada em antropologia econômica e desenvolvimento rural que vivia há algum tempo na Indonésia. Aliás, o filme bate muito na tecla de como uma estrutura familiar frágil impactou tanto na vida do futuro presidente dos EUA - talvez isso explique muito de sua relação com Michelle e suas duas filhas.

Pois bem, outro assunto muito discutido no roteiro diz respeito ao racismo e aqui eu acho que Mansbach perdeu um pouco a mão, pois ele não soube se aproveitar das situações absurdas que Obama passou para levantar questões tão importantes sobre o assunto -  a impressão que dá é que o roteiro quer aproveitar de uma discussão legítima para categorizar quem é do bem e quem é do mal pela cor de pele. Quando o roteiro aproveita da fragilidade de Obama para discutir suas inseguranças, a história ganha força, mas isso oscila muito - não que atrapalhe a experiência de quem assiste, mas é um fato.

O jovem Devon Terrell não compromete, mas ele não está no nível de Anya Taylor-Joy. Eu diria que o personagem merecia um ator mais experiente - ainda mais pelo estilo narrativo muito focado na performance do elenco. Aliás, existe um senso de inquietação durante todo filme, como se esperássemos uma bomba explodir a qualquer momento e é isso que nos move durante essa jornada. Nem de longe será um filme inesquecível, mas admito que foi muito curioso conhecer um lado de Barack Obama que nem imaginava se encaixar na sua personalidade.

Por isso, vale o play!

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"Barry" é muito bom, interessante, mas sem um conflito que nos provoque! Aqui, temos um filme de personagem, mas antes dele se transformar no protagonista, na personalidade, no homem admirado: estou falando de Barack Obama.

O filme se passa no início da década de 80, quando o jovem Barry era um dos poucos estudantes negros na Universidade de Columbia, em Nova York. Enquanto namora uma jovem branca e rica, Charlotte (Anya Taylor-Joy), ele começa a questionar o racismo estrutural nos EUA, passando por várias experiências e dificuldades de adaptação, não só como universitário, mas também em relação aos seus colegas onde o senso de não-pertencimento o incomodava mais do que sua própria incapacidade de mudar o mundo. Confira o trailer (em inglês):

Embora a produção tenha sido encabeçada por dois estreantes: o diretor Vikram Gandhi e o roteirista Adam Mansbach; "Barry" é muito competente em mostrar um recorte importante da vida de Obama sem cair na armadilha de querer evidenciar a todo momento sua enorme capacidade intelectual e de comunicação. Na verdade, o filme mostra muito mais suas fraquezas do que suas qualidades. Um dos elementos narrativos que mais me chamou a atenção foi a falta de pertencimento que ele sentia por estar rodeado de brancos - inclusive esse é um ponto que dificultava o relacionamento com sua mãe, Stanley Ann Dunham (Ashley Judd) - uma americana especializada em antropologia econômica e desenvolvimento rural que vivia há algum tempo na Indonésia. Aliás, o filme bate muito na tecla de como uma estrutura familiar frágil impactou tanto na vida do futuro presidente dos EUA - talvez isso explique muito de sua relação com Michelle e suas duas filhas.

Pois bem, outro assunto muito discutido no roteiro diz respeito ao racismo e aqui eu acho que Mansbach perdeu um pouco a mão, pois ele não soube se aproveitar das situações absurdas que Obama passou para levantar questões tão importantes sobre o assunto -  a impressão que dá é que o roteiro quer aproveitar de uma discussão legítima para categorizar quem é do bem e quem é do mal pela cor de pele. Quando o roteiro aproveita da fragilidade de Obama para discutir suas inseguranças, a história ganha força, mas isso oscila muito - não que atrapalhe a experiência de quem assiste, mas é um fato.

O jovem Devon Terrell não compromete, mas ele não está no nível de Anya Taylor-Joy. Eu diria que o personagem merecia um ator mais experiente - ainda mais pelo estilo narrativo muito focado na performance do elenco. Aliás, existe um senso de inquietação durante todo filme, como se esperássemos uma bomba explodir a qualquer momento e é isso que nos move durante essa jornada. Nem de longe será um filme inesquecível, mas admito que foi muito curioso conhecer um lado de Barack Obama que nem imaginava se encaixar na sua personalidade.

Por isso, vale o play!

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Boys State

Eu sou capaz de cravar que "Boys State" estará na disputa do próximo Oscar na categoria "Melhor Documentário"! Dito isso, é preciso ressaltar que o belíssimo trabalho do premiado diretor Jesse Moss e da sua parceira Amanda McBaine, traz um recorte bastante interessante do momento politico que vivemos no mundo, muitas vezes pautado no ataque em detrimento ao diálogo, com uma polarização que parece fazer mais sentido para muitos e onde os assuntos polêmicos, normalmente apoiados no extremismo, impactam fortemente nos resultados das urnas. Na verdade, "Boys State" trás para o debate a força da democracia como "fim", mas o que nos incomoda de verdade é o "meio" que as pessoas resolvem seguir - graças aos recentes péssimos exemplos que toda uma geração aprendeu a observar!

"Boys State" acompanha um programa de verão que funciona como uma espécie de preparação para uma nova geração de líderes políticos. Cada um desses eventos recebem centenas de alunos, todos indicados pelas suas escolas, e lá eles simulam todo o processo democrático americano, desde a formação de dois partidos até a eleição de um governador, seguindo exatamente as regras eleitorais do país. Confira o trailer:

Vencedor em festivais importantes como Sundance e South By Southwest em 2020, "Boys State" é, de fato, imperdível. Com uma dinâmica narrativa bastante interessante, fica impossível não se envolver com aquela disputa fictícia como se estivéssemos assistindo uma competição esportiva real - e como no esporte, a política envolve paixão e é incrível como "apenas" 1.200 jovens podem representar uma parcela bastante fiel da sociedade americana atual e isso é assustador! Olha, vale muito a pena, até para aquele que não faz tanta questão de refletir sobre o momento politico que muitos países estão vivendo!

Assista Agora ou

Eu sou capaz de cravar que "Boys State" estará na disputa do próximo Oscar na categoria "Melhor Documentário"! Dito isso, é preciso ressaltar que o belíssimo trabalho do premiado diretor Jesse Moss e da sua parceira Amanda McBaine, traz um recorte bastante interessante do momento politico que vivemos no mundo, muitas vezes pautado no ataque em detrimento ao diálogo, com uma polarização que parece fazer mais sentido para muitos e onde os assuntos polêmicos, normalmente apoiados no extremismo, impactam fortemente nos resultados das urnas. Na verdade, "Boys State" trás para o debate a força da democracia como "fim", mas o que nos incomoda de verdade é o "meio" que as pessoas resolvem seguir - graças aos recentes péssimos exemplos que toda uma geração aprendeu a observar!

"Boys State" acompanha um programa de verão que funciona como uma espécie de preparação para uma nova geração de líderes políticos. Cada um desses eventos recebem centenas de alunos, todos indicados pelas suas escolas, e lá eles simulam todo o processo democrático americano, desde a formação de dois partidos até a eleição de um governador, seguindo exatamente as regras eleitorais do país. Confira o trailer:

Vencedor em festivais importantes como Sundance e South By Southwest em 2020, "Boys State" é, de fato, imperdível. Com uma dinâmica narrativa bastante interessante, fica impossível não se envolver com aquela disputa fictícia como se estivéssemos assistindo uma competição esportiva real - e como no esporte, a política envolve paixão e é incrível como "apenas" 1.200 jovens podem representar uma parcela bastante fiel da sociedade americana atual e isso é assustador! Olha, vale muito a pena, até para aquele que não faz tanta questão de refletir sobre o momento politico que muitos países estão vivendo!

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Coach Carter

"Coach Carter" é uma ficção, embora baseada em uma história real, que de fato acontece com mais frequência do que imaginamos - basta assistir as excelentes séries documentais da Netflix, "Last Chance U"ou "Nada de Bandeja", para entender que a dinâmica entre educação/esporte está inserida na sociedade americana de diversas formas e em níveis de importância e pressão que, muitas vezes, beiram a hipocrisia, mas também fomentam a esperança de jovens talentosos em busca de uma (única oportunidade de) ascensão social.

"Coach Carter" (que no Brasil ganhou o sugestivo subtítulo de "Treino Para a Vida") é um filme de 2005 que narra a história real de Ken Carter (Samuel L. Jackson), um dono de loja de artigos esportivos de uma pequena cidade da Califórnia, que assume a tarefa de treinar um time de basquete de sua antiga escola. Carter é um homem rígido, disciplinador, com métodos de treinamento pouco convencionais, mas que domina o esporte com a mesma vitalidade que impõe seu caráter transformador, dentro e fora das quadras, lutando para que seus comandados, além de atletas, se tornem alunos preparados para enfrentar as universidades. Confira o trailer:

O veterano diretor Thomas Carter, vencedor de três Emmys em sua carreira, foi muito competente em contar uma história que embora pareça simples, tem uma complexidade narrativa enorme, já que precisa condensar uma passagem biográfica marcante que envolve vários personagens (e seus respectivos dramas pessoais) em pouco mais de duas horas. Sua condução não traz nenhuma inovação conceitual que chame a atenção, é uma direção "feijão com arroz" - que nesse caso acaba deixando muito espaço para os atores brilharem. Samuel L. Jackson está impecável como sempre, mas aproveito para destacar o trabalho de Rick Gonzalez como Timo Cruz e uma (na época) não tão conhecida Octavia Spencer como Mrs. Battle.

Mesmo parecendo que "Coach Carter" segue um roteiro batido e completamente previsível, é de se destacar a qualidade dos diálogos e a coragem ao escolher o caminho menos óbvio para entregar uma experiência muito agradável para quem assiste o filme. Bem ao estilo "Sessão da Tarde", mas com uma mensagem muito bacana e cheio de lições de liderança e postura perante a vida. O filme é imperdível para quem gosta de esporte, de um bom drama de superação ou até para aqueles que buscam referências empreendedoras e inspiracionais para lidar com pessoas.

Vale a pena!

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"Coach Carter" é uma ficção, embora baseada em uma história real, que de fato acontece com mais frequência do que imaginamos - basta assistir as excelentes séries documentais da Netflix, "Last Chance U"ou "Nada de Bandeja", para entender que a dinâmica entre educação/esporte está inserida na sociedade americana de diversas formas e em níveis de importância e pressão que, muitas vezes, beiram a hipocrisia, mas também fomentam a esperança de jovens talentosos em busca de uma (única oportunidade de) ascensão social.

"Coach Carter" (que no Brasil ganhou o sugestivo subtítulo de "Treino Para a Vida") é um filme de 2005 que narra a história real de Ken Carter (Samuel L. Jackson), um dono de loja de artigos esportivos de uma pequena cidade da Califórnia, que assume a tarefa de treinar um time de basquete de sua antiga escola. Carter é um homem rígido, disciplinador, com métodos de treinamento pouco convencionais, mas que domina o esporte com a mesma vitalidade que impõe seu caráter transformador, dentro e fora das quadras, lutando para que seus comandados, além de atletas, se tornem alunos preparados para enfrentar as universidades. Confira o trailer:

O veterano diretor Thomas Carter, vencedor de três Emmys em sua carreira, foi muito competente em contar uma história que embora pareça simples, tem uma complexidade narrativa enorme, já que precisa condensar uma passagem biográfica marcante que envolve vários personagens (e seus respectivos dramas pessoais) em pouco mais de duas horas. Sua condução não traz nenhuma inovação conceitual que chame a atenção, é uma direção "feijão com arroz" - que nesse caso acaba deixando muito espaço para os atores brilharem. Samuel L. Jackson está impecável como sempre, mas aproveito para destacar o trabalho de Rick Gonzalez como Timo Cruz e uma (na época) não tão conhecida Octavia Spencer como Mrs. Battle.

Mesmo parecendo que "Coach Carter" segue um roteiro batido e completamente previsível, é de se destacar a qualidade dos diálogos e a coragem ao escolher o caminho menos óbvio para entregar uma experiência muito agradável para quem assiste o filme. Bem ao estilo "Sessão da Tarde", mas com uma mensagem muito bacana e cheio de lições de liderança e postura perante a vida. O filme é imperdível para quem gosta de esporte, de um bom drama de superação ou até para aqueles que buscam referências empreendedoras e inspiracionais para lidar com pessoas.

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Colin em Preto e Branco

"Colin em Preto e Branco" chegou no catálogo da Netflix com o status de minissérie premium, dirigida por Ava DuVernay (do enorme sucesso da plataforma, "Olhos que Condenam") e criada em parceria com o próprio Colin Kaepernick - uma das grandes estrelas da NIKE, mesmo "aposentado". A grande questão, porém, é que as escolhas criativas de DuVernay devem afastar um público pouco disposto a se conectar com narrativas menos tradicionais e isso será um ponto sensível na continuidade do projeto que "claramente" mereceria mais episódios - ao final dos seis primeiros, temos a exata sensação de que "a história só está começando"!

Como uma espécie de entidade onipresente, Colin Kaepernick conta histórias sobre a cultura negra e como o racismo foi se institucionalizando nos EUA através dos tempos, principalmente no esporte, mas com reflexos na sociedade como um todo (inclusive dentro de sua própria casa), ao mesmo tempo em que narra sua jornada até a chegada na universidade. Negro e adotado por uma família branca, Kaepernick precisou enfrentar inúmeros obstáculos de raça, classe e cultura para poder crescer e ser reconhecido como um potencial atleta de elite. "Colin em Preto e Branco" acompanha o relacionamento com a família, com os amigos e companheiros de time em meio as descobertas da adolescência, além, é claro, da sua busca incansável por respostas, dentro e fora, dos campos. Confira o trailer:

Independente da forma, o conteúdo de "Colin em Preto e Branco" é no mínimo curioso - afinal estamos falando de um atleta que pode ser considerado um dos melhores de sua geração no esporte mais popular dos EUA. A grande questão é que a expectativa em torno de sua história como ativista perante os direitos civis se confunde com sua carreira como atleta de futebol americano, na universidade e principalmente na NFL - quando em 2016, se recusou a levantar para cantar o hino nacional dos Estados Unidos em protesto ao tratamento recebido pela comunidade negra no país. Acontece que "Colin em Preto e Branco" foca nos dramas esportivos de Kaepernick na época do colegial e nos primeiros impactos que o racismo teve em sua vida.

Isso é ruim? Não, mas também não é o assunto mais importante da vida do protagonista como figura pública - por receio da Netflix ou um erro grave no marketing de divulgação, só isso pode justificar a escolha de categorizar "Colin em Preto e Branco" como minissérie! Veja, as pessoas que conhecem um pouco da jornada de Kaepernick não vão assistir a "minissérie" só para descobrir as razões que fizeram o jovem escolher o futebol americano e não o beisebol antes da universidade. A história é interessante? Sim, mas é pouco em relação ao que aconteceu depois: os impactos daquela atitude de 2016 no resto da carreira, por exemplo - é como se em "Divino Baggio"o filme não mostrasse o drama da final da Copa de 1994 para focar no sonho de Baggio em jogar pela seleção italiana.

A produção é de fato excelente, a direção também, mas dois pontos se sobressaem: a participação do Colin Kaepernick como condutor da história chega a ser emocionante em muitas passagens (a experiência de ver ele assistindo sua história em retrospectiva é incrível) e o trabalho do Jaden Michael como protagonista na adolescência - impressionante como Jaden é convincente. Repare como o conceito estético/narrativo, que elimina a quarta parede, nos coloca frente a frente com Kaepernick e com o que ele tem a dizer, funciona e é impactante - quem conhece um pouco mais do atleta, certamente, vai se conectar de uma forma diferente com esses prólogos dos episódios, mas quem caiu de para-quedas vai achar chato.

Eu pessoalmente gostei muito, mas sou suspeito por acompanhar o esporte e ser fã do atleta - que inclusive levou o meu time (San Francisco 49ers) ao Superbowl de 2013, depois de muito tempo. Para quem não sabe nada de futebol americano ou não conhece Kaepernick, "Colin em Preto e Branco" pode soar como mais um daqueles dramas esportivos sobre superação e resiliência com toques de seriado juvenil dos anos 90.

PS: a continuação da história será essencial para o reconhecimento do produto como obra importante sobre a luta contra o racismo e sobre a hipocrisia da sociedade (principalmente esportiva) americana, mas até o momento, nada foi confirmado pela Netflix. Sendo assim, a minissérie embora tenha um "fim", vai deixar um gostinho de "quero mais".

Assista Agora

"Colin em Preto e Branco" chegou no catálogo da Netflix com o status de minissérie premium, dirigida por Ava DuVernay (do enorme sucesso da plataforma, "Olhos que Condenam") e criada em parceria com o próprio Colin Kaepernick - uma das grandes estrelas da NIKE, mesmo "aposentado". A grande questão, porém, é que as escolhas criativas de DuVernay devem afastar um público pouco disposto a se conectar com narrativas menos tradicionais e isso será um ponto sensível na continuidade do projeto que "claramente" mereceria mais episódios - ao final dos seis primeiros, temos a exata sensação de que "a história só está começando"!

Como uma espécie de entidade onipresente, Colin Kaepernick conta histórias sobre a cultura negra e como o racismo foi se institucionalizando nos EUA através dos tempos, principalmente no esporte, mas com reflexos na sociedade como um todo (inclusive dentro de sua própria casa), ao mesmo tempo em que narra sua jornada até a chegada na universidade. Negro e adotado por uma família branca, Kaepernick precisou enfrentar inúmeros obstáculos de raça, classe e cultura para poder crescer e ser reconhecido como um potencial atleta de elite. "Colin em Preto e Branco" acompanha o relacionamento com a família, com os amigos e companheiros de time em meio as descobertas da adolescência, além, é claro, da sua busca incansável por respostas, dentro e fora, dos campos. Confira o trailer:

Independente da forma, o conteúdo de "Colin em Preto e Branco" é no mínimo curioso - afinal estamos falando de um atleta que pode ser considerado um dos melhores de sua geração no esporte mais popular dos EUA. A grande questão é que a expectativa em torno de sua história como ativista perante os direitos civis se confunde com sua carreira como atleta de futebol americano, na universidade e principalmente na NFL - quando em 2016, se recusou a levantar para cantar o hino nacional dos Estados Unidos em protesto ao tratamento recebido pela comunidade negra no país. Acontece que "Colin em Preto e Branco" foca nos dramas esportivos de Kaepernick na época do colegial e nos primeiros impactos que o racismo teve em sua vida.

Isso é ruim? Não, mas também não é o assunto mais importante da vida do protagonista como figura pública - por receio da Netflix ou um erro grave no marketing de divulgação, só isso pode justificar a escolha de categorizar "Colin em Preto e Branco" como minissérie! Veja, as pessoas que conhecem um pouco da jornada de Kaepernick não vão assistir a "minissérie" só para descobrir as razões que fizeram o jovem escolher o futebol americano e não o beisebol antes da universidade. A história é interessante? Sim, mas é pouco em relação ao que aconteceu depois: os impactos daquela atitude de 2016 no resto da carreira, por exemplo - é como se em "Divino Baggio"o filme não mostrasse o drama da final da Copa de 1994 para focar no sonho de Baggio em jogar pela seleção italiana.

A produção é de fato excelente, a direção também, mas dois pontos se sobressaem: a participação do Colin Kaepernick como condutor da história chega a ser emocionante em muitas passagens (a experiência de ver ele assistindo sua história em retrospectiva é incrível) e o trabalho do Jaden Michael como protagonista na adolescência - impressionante como Jaden é convincente. Repare como o conceito estético/narrativo, que elimina a quarta parede, nos coloca frente a frente com Kaepernick e com o que ele tem a dizer, funciona e é impactante - quem conhece um pouco mais do atleta, certamente, vai se conectar de uma forma diferente com esses prólogos dos episódios, mas quem caiu de para-quedas vai achar chato.

Eu pessoalmente gostei muito, mas sou suspeito por acompanhar o esporte e ser fã do atleta - que inclusive levou o meu time (San Francisco 49ers) ao Superbowl de 2013, depois de muito tempo. Para quem não sabe nada de futebol americano ou não conhece Kaepernick, "Colin em Preto e Branco" pode soar como mais um daqueles dramas esportivos sobre superação e resiliência com toques de seriado juvenil dos anos 90.

PS: a continuação da história será essencial para o reconhecimento do produto como obra importante sobre a luta contra o racismo e sobre a hipocrisia da sociedade (principalmente esportiva) americana, mas até o momento, nada foi confirmado pela Netflix. Sendo assim, a minissérie embora tenha um "fim", vai deixar um gostinho de "quero mais".

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Corra

"Get Out" (título original) talvez seja o maior exemplo recente de um marketing mal feito: o cartaz e o nome em português, "Corra", devem ter afastado muita gente (inclusive eu), o que é uma pena porque o filme é muito mais do que aquela estrutura superficial de humor negro que foi apresentada.

Chris (Daniel Kaluuya) e Rose (Allison Williams) são namorados há já algum tempo. Com o evoluir da relação, ela acha que chegou o momento de apresentar o namorado para os pais, Missy (Catherine Keener) e Dean (Bradley Whitford). Ela, então, resolve convidá-lo para uma reunião familiar que todos os anos os pais organizam em sua casa, numa zona rural dos EUA. Apesar de alguma relutância por parte de Chris, Rose acha que não há a menor necessidade de avisar seus pais, que ela considera cultos e esclarecidos, o fato de que ele é negro. Quando chegam ao evento, apesar de toda a simpatia com que é tratado, Chris percebe que algo de muito estranho se passa naquela casa e com aqueles convidados. Quando ele resolve fugir daquele ambiente bizarro e um pouco claustrofóbico, percebe que ninguém está interessado em deixá-lo partir e isso é só o começo de uma longa jornada. Confira o trailer:

"Corra" é muito bem dirigido pelo excelente Jordan Peele que estreia na função - ele foi capaz que trazer muito de um conceito que estava em alta na época: um suspense independente com um roteiro bem inteligente, cheio de críticas sociais e ideológicas e com momentos completamente non-sense. De fato, Jordan Peele representou muito bem uma nova geração de diretores e roteiristas de gênero que estão bombando atualmente!

O filme foi muito bem de publico, não nos patamares de "Bruxa de Blair" como muita gente falou, mas teve um lucro de respeito: custou 5 milhões de dólares e já faturou quase 250 milhões - foi um bom investimento ou não? O filme tem um roteiro muito bem estruturado, com bons plots e muito, mas muito, criativo - o que lhe rendeu o Oscar de Melhor Roteiro Original em 2018.

"Corra" é um suspense muito bem realizado, sai do lugar comum, passa sua mensagem sem parecer enfadonho e para quem gosta do gênero, é uma ótima pedida! Vale seu play tranquilamente!

Assista Agora

"Get Out" (título original) talvez seja o maior exemplo recente de um marketing mal feito: o cartaz e o nome em português, "Corra", devem ter afastado muita gente (inclusive eu), o que é uma pena porque o filme é muito mais do que aquela estrutura superficial de humor negro que foi apresentada.

Chris (Daniel Kaluuya) e Rose (Allison Williams) são namorados há já algum tempo. Com o evoluir da relação, ela acha que chegou o momento de apresentar o namorado para os pais, Missy (Catherine Keener) e Dean (Bradley Whitford). Ela, então, resolve convidá-lo para uma reunião familiar que todos os anos os pais organizam em sua casa, numa zona rural dos EUA. Apesar de alguma relutância por parte de Chris, Rose acha que não há a menor necessidade de avisar seus pais, que ela considera cultos e esclarecidos, o fato de que ele é negro. Quando chegam ao evento, apesar de toda a simpatia com que é tratado, Chris percebe que algo de muito estranho se passa naquela casa e com aqueles convidados. Quando ele resolve fugir daquele ambiente bizarro e um pouco claustrofóbico, percebe que ninguém está interessado em deixá-lo partir e isso é só o começo de uma longa jornada. Confira o trailer:

"Corra" é muito bem dirigido pelo excelente Jordan Peele que estreia na função - ele foi capaz que trazer muito de um conceito que estava em alta na época: um suspense independente com um roteiro bem inteligente, cheio de críticas sociais e ideológicas e com momentos completamente non-sense. De fato, Jordan Peele representou muito bem uma nova geração de diretores e roteiristas de gênero que estão bombando atualmente!

O filme foi muito bem de publico, não nos patamares de "Bruxa de Blair" como muita gente falou, mas teve um lucro de respeito: custou 5 milhões de dólares e já faturou quase 250 milhões - foi um bom investimento ou não? O filme tem um roteiro muito bem estruturado, com bons plots e muito, mas muito, criativo - o que lhe rendeu o Oscar de Melhor Roteiro Original em 2018.

"Corra" é um suspense muito bem realizado, sai do lugar comum, passa sua mensagem sem parecer enfadonho e para quem gosta do gênero, é uma ótima pedida! Vale seu play tranquilamente!

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Crown Heights

Na linha de "Luta por Justiça" e de "Olhos que condenam", a história de "Crown Heights" é mais uma daquelas difíceis de digerir onde questionamos a racionalidade e os valores do ser humano sem o menor receio de ser injusto, afinal, o que vemos em pouco mais de 90 minutos é um retrato de uma sociedade racista e egocêntrica incapaz de olhar o outro através de suas próprias inseguranças e vulnerabilidades.

Quando Colin Warner (LaKeith Stanfield) é injustamente condenado por homicídio, seu melhor amigo, Carl King (Nnamdi Asomugha), dedica sua vida para provar a inocência de Colin. Adaptado de "This American Life", esta é a incrível história real sobre uma angustiante busca pela justiça por mais de 20 anos. Confira o trailer (em inglês):

Chancelado pelo prêmio de "Melhor Filme Dramático" pela audiência no Festival de Sundance em 2017, o filme dirigido pelo Matt Ruskin (muito conhecido por ter produzido o excelente "Conexão Escolbar") procura alinhar a vida de dois personagens na busca pela verdade. Se de uma lado temos o ponto de vista de quem foi condenado e sofre o dia a dia de uma prisão, do outro temos a resiliência de quem acredita que ainda é possível fazer justiça dentro de uma sociedade preconceituosa e elitista. E embora o roteiro do próprio Ruskin retrate a fragilidade do sistema penal e carcerário americano, é inegável que é a jornada dos protagonistas nos move, nos emociona e, principalmente, nos faz refletir!  

Sem a preocupação de colocar em dúvida a inocência de Colin Warner, "Crown Heights" se esforça é para retratar a realidade, considerando que o acusado está longe de ser um modelo irretocável de caráter. Warner parece ser uma boa pessoa se analisado pelo âmbito familiar, porém suas atitudes (e cada um é convidado ao julgamento unicamente por elas) também expõem suas falhas - o interessante dessa construção cuidadosa do personagem, é que o roteiro vai nos apresentando diversas camadas, humanizando Warner, e provando que nem sempre existem respostas 100% seguras para muitos atos quando eles são fortemente provocados pelo meio em que seus atores estão inseridos.

Como o recorte da vida de Warner apresentado no filme é bastante extenso, é natural percebermos que a narrativa se apoia na edição bem realizada pelo, duas vezes vencedor do Oscar (das quatro indicações que recebeu), Joe Hutshing. Sim, Hutshing (de "JFK") fragmenta a jornada; mas é extremamente competente em unir duas histórias com a mesma precisão com que pontua os problemas sociais e as inúmeras falhas do sistema sem que um assunto atropele o outro. Nesse ponto, aliás, o diretor Matt Ruskin também brilha - é impressionante como ele conduz os personagens, como eles vão se transformando e ganhando (ou perdendo) vida durante a progressão da história.

"Crown Heights" é muito envolvente, mas pouco confortável. Olhando em retrospectiva, chega a ser surpreendente que o filme não tenha ganhado os holofotes na temporada de premiação daquele ano, seja pelo roteiro muito bem escrito, pela direção surpreendente de Ruskin, mas, principalmente, pelas performances de LaKeith Stanfield, de Nnamdi Asomugha e até de Natalie Paul (como a futura esposa de Warner, Antoinette).

Por tudo isso e muito mais, "Crown Heights"  vale muito o seu play!

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Na linha de "Luta por Justiça" e de "Olhos que condenam", a história de "Crown Heights" é mais uma daquelas difíceis de digerir onde questionamos a racionalidade e os valores do ser humano sem o menor receio de ser injusto, afinal, o que vemos em pouco mais de 90 minutos é um retrato de uma sociedade racista e egocêntrica incapaz de olhar o outro através de suas próprias inseguranças e vulnerabilidades.

Quando Colin Warner (LaKeith Stanfield) é injustamente condenado por homicídio, seu melhor amigo, Carl King (Nnamdi Asomugha), dedica sua vida para provar a inocência de Colin. Adaptado de "This American Life", esta é a incrível história real sobre uma angustiante busca pela justiça por mais de 20 anos. Confira o trailer (em inglês):

Chancelado pelo prêmio de "Melhor Filme Dramático" pela audiência no Festival de Sundance em 2017, o filme dirigido pelo Matt Ruskin (muito conhecido por ter produzido o excelente "Conexão Escolbar") procura alinhar a vida de dois personagens na busca pela verdade. Se de uma lado temos o ponto de vista de quem foi condenado e sofre o dia a dia de uma prisão, do outro temos a resiliência de quem acredita que ainda é possível fazer justiça dentro de uma sociedade preconceituosa e elitista. E embora o roteiro do próprio Ruskin retrate a fragilidade do sistema penal e carcerário americano, é inegável que é a jornada dos protagonistas nos move, nos emociona e, principalmente, nos faz refletir!  

Sem a preocupação de colocar em dúvida a inocência de Colin Warner, "Crown Heights" se esforça é para retratar a realidade, considerando que o acusado está longe de ser um modelo irretocável de caráter. Warner parece ser uma boa pessoa se analisado pelo âmbito familiar, porém suas atitudes (e cada um é convidado ao julgamento unicamente por elas) também expõem suas falhas - o interessante dessa construção cuidadosa do personagem, é que o roteiro vai nos apresentando diversas camadas, humanizando Warner, e provando que nem sempre existem respostas 100% seguras para muitos atos quando eles são fortemente provocados pelo meio em que seus atores estão inseridos.

Como o recorte da vida de Warner apresentado no filme é bastante extenso, é natural percebermos que a narrativa se apoia na edição bem realizada pelo, duas vezes vencedor do Oscar (das quatro indicações que recebeu), Joe Hutshing. Sim, Hutshing (de "JFK") fragmenta a jornada; mas é extremamente competente em unir duas histórias com a mesma precisão com que pontua os problemas sociais e as inúmeras falhas do sistema sem que um assunto atropele o outro. Nesse ponto, aliás, o diretor Matt Ruskin também brilha - é impressionante como ele conduz os personagens, como eles vão se transformando e ganhando (ou perdendo) vida durante a progressão da história.

"Crown Heights" é muito envolvente, mas pouco confortável. Olhando em retrospectiva, chega a ser surpreendente que o filme não tenha ganhado os holofotes na temporada de premiação daquele ano, seja pelo roteiro muito bem escrito, pela direção surpreendente de Ruskin, mas, principalmente, pelas performances de LaKeith Stanfield, de Nnamdi Asomugha e até de Natalie Paul (como a futura esposa de Warner, Antoinette).

Por tudo isso e muito mais, "Crown Heights"  vale muito o seu play!

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Destacamento Blood

O novo filmedirigido pelo Spike Lee é extremamente interessante por inverter o processo de re-adaptação de um ex-combatente da Guerra do Vietnã. Enquanto o retorno para casa sempre guiou essa jornada, o diretor faz justamente uma provocação: o que aconteceria se soldados veteranosvoltassem ao Vietnã décadas depois? "Destacamento Blood" segue o conceito narrativo que Lee vem experimentando e que chamou tanto a atenção em "Infiltrado na Klan" - onde ele usa e abusa do seu repertório "multi-plataforma" para promover algum tipo de crítica social ou para expôr algum assunto político que precisa ser discutido!

Em "Destacamento Blood" acompanhamos quatro ex-soldados, não por acaso, negros, que retornam ao Vietnã com o objetivo de encontrar o corpo de um dos membros do destacamento, morto durante a guerra. Acontece que, na verdade, eles querem mesmo é reaver uma grande quantia de ouro que esconderam na época em que estavam em combate. Confira o trailer:

Embora no primeiro momento "Destacamento Blood" tenha um ar quase romântico de um "road movie", onde velhos amigos se reunem para (re)viver alguma grande experiência e finalmente encontrar uma espécie de "paz espiritual", logo percebemos que o filme vai muito além, nos surpreendendo com as várias camadas que Spike Lee nos mostra, sem a menor pressa, com o intuito de desmistificar a complexidade que é lidar com os fantasmas da Guerra. Acontece que os personagens trazem para si a humanidade de serem únicos, ou seja, o trauma se manifesta de maneira diferente entre eles e isso faz com que o conflito se instale de uma forma tão orgânica que fica completamente justificado o mapa mental do diretor ao conectar fatos reais com a ficção - mesmo que em alguns momentos possa parecer didático demais. A "grande experiência" que os amigos buscam está lá, claro, mas a forma como ela vai se materializando é que faz de "Destacamento Blood" o primeiro grande lançamento de 2020 - só por isso já valeria o seu play, mas tenha certeza: o filme tem muito mais para oferecer!

O roteiro é muito inteligente em alternar duas linhas temporais para nos mostrar o valor da amizade entre um grupo de soldados negros, mesmo com ideologias diferentes - e aqui já cabe um comentário sobre a direção de Lee: ele é extremamente inventivo desde as transições entre essas épocas distintas ao tipo de janela que ele usa para contar a história. Embora não seja nada original usar o 4:3 para definir o que é passado e o 16:9 para estabelecer o que é o presente, Lee vai além, ele divide os aspectos da imagem da seguinte forma: "1.33 : 1" nas cenas do passado, "1.85 : 1" para as cenas do presente que se passam na floresta e "2.39 : 1" para as cenas urbanas do presente. Além disso, o diretor brinca com diversas formas de captação de imagens, usando câmeras com negativos 8mm, 16 mm (o que trás aquele visual mais granulado para as cenas) até câmeras digitais, mais tradicionais nos dias de hoje!

Eu sei que as informações acima podem parecer técnicas demais, mas basta reparar na forma como cada fase da história é mostrada na tela que ficará fácil entender a razão pela qual Lee escolheu misturar tantas técnicas e tecnologias. Vale lembrar que o diretor de fotografia do filme é o Newton Thomas Sigel, muito elogiado pela sua criatividade no, também da Netflix, "Resgate"! Outro ponto alto de "Destacamento Blood" é o trabalho do elenco e o equilíbrio perfeito entre o drama e a comédia - se a leveza marca o tom dos primeiros minutos, a sua transformação é tão bem executada durante o segundo ato que temos a impressão de se tratar de um outro filme. O grande destaque, sem dúvida, é Delroy Lindo como Paul - pode ter certeza que, mesmo ainda sendo muito cedo, ele já entra como potencial indicado para o Oscar 2021! Uma decisão criativa do Spike Lee que favoreceu a exposição do elenco principal é que, mesmo em flashbacks,as cenas são interpretadas pelos mesmos atores e sem nenhuma caracterização para rejuvenescê-los, criando assim uma relação quase imaginativa para as cenas de combate - ficou lindo!

"Destacamento Blood" não é um filme de guerra; é notavelmente um drama bem estruturado onde a jornada dos personagens é apresentada em diferentes camadas para classificar as diferentes formas de lidar com o mesmo fantasma! Como todo filme de um diretor com uma identidade tão forte como o Spike Lee, você não vai encontrar uma obra fácil, ou superficial. Suas citações históricas e até a exposição contundente de sua luta, surgem dentro de um contexto que poucos seriam capazes de fazer e isso pode até diminuir a força dramática existente no imaginário de quem procura dramas de guerra, mas tranquilamente vai fortalecer a discussão sobre como lidar com personagens que nada mais são do que o reflexo histórico de uma nação desigual!

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O novo filmedirigido pelo Spike Lee é extremamente interessante por inverter o processo de re-adaptação de um ex-combatente da Guerra do Vietnã. Enquanto o retorno para casa sempre guiou essa jornada, o diretor faz justamente uma provocação: o que aconteceria se soldados veteranosvoltassem ao Vietnã décadas depois? "Destacamento Blood" segue o conceito narrativo que Lee vem experimentando e que chamou tanto a atenção em "Infiltrado na Klan" - onde ele usa e abusa do seu repertório "multi-plataforma" para promover algum tipo de crítica social ou para expôr algum assunto político que precisa ser discutido!

Em "Destacamento Blood" acompanhamos quatro ex-soldados, não por acaso, negros, que retornam ao Vietnã com o objetivo de encontrar o corpo de um dos membros do destacamento, morto durante a guerra. Acontece que, na verdade, eles querem mesmo é reaver uma grande quantia de ouro que esconderam na época em que estavam em combate. Confira o trailer:

Embora no primeiro momento "Destacamento Blood" tenha um ar quase romântico de um "road movie", onde velhos amigos se reunem para (re)viver alguma grande experiência e finalmente encontrar uma espécie de "paz espiritual", logo percebemos que o filme vai muito além, nos surpreendendo com as várias camadas que Spike Lee nos mostra, sem a menor pressa, com o intuito de desmistificar a complexidade que é lidar com os fantasmas da Guerra. Acontece que os personagens trazem para si a humanidade de serem únicos, ou seja, o trauma se manifesta de maneira diferente entre eles e isso faz com que o conflito se instale de uma forma tão orgânica que fica completamente justificado o mapa mental do diretor ao conectar fatos reais com a ficção - mesmo que em alguns momentos possa parecer didático demais. A "grande experiência" que os amigos buscam está lá, claro, mas a forma como ela vai se materializando é que faz de "Destacamento Blood" o primeiro grande lançamento de 2020 - só por isso já valeria o seu play, mas tenha certeza: o filme tem muito mais para oferecer!

O roteiro é muito inteligente em alternar duas linhas temporais para nos mostrar o valor da amizade entre um grupo de soldados negros, mesmo com ideologias diferentes - e aqui já cabe um comentário sobre a direção de Lee: ele é extremamente inventivo desde as transições entre essas épocas distintas ao tipo de janela que ele usa para contar a história. Embora não seja nada original usar o 4:3 para definir o que é passado e o 16:9 para estabelecer o que é o presente, Lee vai além, ele divide os aspectos da imagem da seguinte forma: "1.33 : 1" nas cenas do passado, "1.85 : 1" para as cenas do presente que se passam na floresta e "2.39 : 1" para as cenas urbanas do presente. Além disso, o diretor brinca com diversas formas de captação de imagens, usando câmeras com negativos 8mm, 16 mm (o que trás aquele visual mais granulado para as cenas) até câmeras digitais, mais tradicionais nos dias de hoje!

Eu sei que as informações acima podem parecer técnicas demais, mas basta reparar na forma como cada fase da história é mostrada na tela que ficará fácil entender a razão pela qual Lee escolheu misturar tantas técnicas e tecnologias. Vale lembrar que o diretor de fotografia do filme é o Newton Thomas Sigel, muito elogiado pela sua criatividade no, também da Netflix, "Resgate"! Outro ponto alto de "Destacamento Blood" é o trabalho do elenco e o equilíbrio perfeito entre o drama e a comédia - se a leveza marca o tom dos primeiros minutos, a sua transformação é tão bem executada durante o segundo ato que temos a impressão de se tratar de um outro filme. O grande destaque, sem dúvida, é Delroy Lindo como Paul - pode ter certeza que, mesmo ainda sendo muito cedo, ele já entra como potencial indicado para o Oscar 2021! Uma decisão criativa do Spike Lee que favoreceu a exposição do elenco principal é que, mesmo em flashbacks,as cenas são interpretadas pelos mesmos atores e sem nenhuma caracterização para rejuvenescê-los, criando assim uma relação quase imaginativa para as cenas de combate - ficou lindo!

"Destacamento Blood" não é um filme de guerra; é notavelmente um drama bem estruturado onde a jornada dos personagens é apresentada em diferentes camadas para classificar as diferentes formas de lidar com o mesmo fantasma! Como todo filme de um diretor com uma identidade tão forte como o Spike Lee, você não vai encontrar uma obra fácil, ou superficial. Suas citações históricas e até a exposição contundente de sua luta, surgem dentro de um contexto que poucos seriam capazes de fazer e isso pode até diminuir a força dramática existente no imaginário de quem procura dramas de guerra, mas tranquilamente vai fortalecer a discussão sobre como lidar com personagens que nada mais são do que o reflexo histórico de uma nação desigual!

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Dreamgirls

"Dreamgirls" (que no Brasil ganhou o subtítulo de "Em Busca de um Sonho") é uma verdadeira viagem pela "Black Music" através dos anos 60, 70 e 80, com suas releituras e o seu movimento (politico, social e cultural). Visualmente impecável, o filme é um musical bem construído e potente, que carrega em seus personagens o ritmo e o drama com a mesma importância, e mesmo que falte um aprofundamento maior nas histórias isoladas, o conjunto é praticamente impecável, realista e emocionante - um verdadeiro show!

Baseado no musical homônimo, que estreou na Broadway em 1981, "Dreamgirls" acompanha a jornada de Effie White (Jennifer Hudson), Deena Jones (Beyoncé) e Lorrell Robinson (Anika Noni Rose) que formam um grupo musical e começam a fazer sucesso com a ajuda de um empresário extremamente manipulador, Curtis Taylor Jr. (Jamie Foxx). Não demora para surgir tensões inconciliáveis entre as talentosas jovens quando Curtis resolve mudar a dinâmica do grupo para se ajustar a uma demanda do mercado. Confira o trailer (em inglês):

O roteiro do excelente Bill Condon (de "Deuses e Monstros" e "Chicago") adapta com muita qualidade o espetáculo de Tom Eyen e nos apresenta um trio fictício livremente inspirado na história de Diana Ross e as Supremes. O caminho entre a realidade e a ficção é praticamente o mesmo: três garotas de Detroit são descobertas pela recém-inagurada gravadora Motown ao fazerem muito sucesso com um ingênuo, mas envolvente, doo-wopda época. Logo depois, a líder, daquele estilo "Diva", com a voz mais potente, mas esteticamente menos atraente, é trocada pela integrante mais bonita, tudo isso para que o grupo emplaque nas paradas de sucesso. Daí vem a  necessidade de se reinventar, custe o que custar, com o trio se moldando à moda musical de cada época, do soul ao disco music das décadas de 70 e 80.

O interessante porém, é que essa jornada de sucesso, conflitos, decadência e reinvenção é até melhor trabalhado pelo diretor do que pelo roteiro - não que a história seja ruim, mas o recorte temporal é muito extenso e com isso fica impossível se aprofundar nas peculiaridades de cada momento com o a mesma qualidade que vemos no prólogo. Condon que também dirige o filme, aplica um conceito estético muito particular, que equilibra perfeitamente a tradição dos musicais da Broadway com a modernidade das superproduções dos vídeo clipes para criar uma atmosfera cinematográfica bem alinhada com o mood da disrupção do cenário musical - mesmo respeitando as características mais marcantes de cada período.

"Dreamgirls" é belíssimo como musical e muito competente como drama. Se Beyoncé não pode ser considerada uma atriz de primeira linha, certamente ela também não decepciona ao encarnar, com muita propriedade, aquele perfil de cantora que se adapta a um novo momento da música negra. Por outro lado, a novata Jennifer Hudson rouba a cena assim que abre a boca - todos os seus solos são verdadeiros monólogos cantados, de se aplaudir de pé. Eddie Murphy como James 'Thunder' Early, uma mistura de James Brown com Marvin Gaye, alcança o grande papel dramático da sua carreira - ele está sensacional!

Entretenimento de primeira qualidade artística e técnica, com ritmo, cor, drama e muita emoção!

Pode dar o play sem o menor receio! 

Up-date: "Dreamgirls" ganhou em duas categorias no Oscar 2007: Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Mixagem, mas esteve indicado em mais 4 categorias, sendo que em "Melhor Música" tinha três composições na disputa.

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"Dreamgirls" (que no Brasil ganhou o subtítulo de "Em Busca de um Sonho") é uma verdadeira viagem pela "Black Music" através dos anos 60, 70 e 80, com suas releituras e o seu movimento (politico, social e cultural). Visualmente impecável, o filme é um musical bem construído e potente, que carrega em seus personagens o ritmo e o drama com a mesma importância, e mesmo que falte um aprofundamento maior nas histórias isoladas, o conjunto é praticamente impecável, realista e emocionante - um verdadeiro show!

Baseado no musical homônimo, que estreou na Broadway em 1981, "Dreamgirls" acompanha a jornada de Effie White (Jennifer Hudson), Deena Jones (Beyoncé) e Lorrell Robinson (Anika Noni Rose) que formam um grupo musical e começam a fazer sucesso com a ajuda de um empresário extremamente manipulador, Curtis Taylor Jr. (Jamie Foxx). Não demora para surgir tensões inconciliáveis entre as talentosas jovens quando Curtis resolve mudar a dinâmica do grupo para se ajustar a uma demanda do mercado. Confira o trailer (em inglês):

O roteiro do excelente Bill Condon (de "Deuses e Monstros" e "Chicago") adapta com muita qualidade o espetáculo de Tom Eyen e nos apresenta um trio fictício livremente inspirado na história de Diana Ross e as Supremes. O caminho entre a realidade e a ficção é praticamente o mesmo: três garotas de Detroit são descobertas pela recém-inagurada gravadora Motown ao fazerem muito sucesso com um ingênuo, mas envolvente, doo-wopda época. Logo depois, a líder, daquele estilo "Diva", com a voz mais potente, mas esteticamente menos atraente, é trocada pela integrante mais bonita, tudo isso para que o grupo emplaque nas paradas de sucesso. Daí vem a  necessidade de se reinventar, custe o que custar, com o trio se moldando à moda musical de cada época, do soul ao disco music das décadas de 70 e 80.

O interessante porém, é que essa jornada de sucesso, conflitos, decadência e reinvenção é até melhor trabalhado pelo diretor do que pelo roteiro - não que a história seja ruim, mas o recorte temporal é muito extenso e com isso fica impossível se aprofundar nas peculiaridades de cada momento com o a mesma qualidade que vemos no prólogo. Condon que também dirige o filme, aplica um conceito estético muito particular, que equilibra perfeitamente a tradição dos musicais da Broadway com a modernidade das superproduções dos vídeo clipes para criar uma atmosfera cinematográfica bem alinhada com o mood da disrupção do cenário musical - mesmo respeitando as características mais marcantes de cada período.

"Dreamgirls" é belíssimo como musical e muito competente como drama. Se Beyoncé não pode ser considerada uma atriz de primeira linha, certamente ela também não decepciona ao encarnar, com muita propriedade, aquele perfil de cantora que se adapta a um novo momento da música negra. Por outro lado, a novata Jennifer Hudson rouba a cena assim que abre a boca - todos os seus solos são verdadeiros monólogos cantados, de se aplaudir de pé. Eddie Murphy como James 'Thunder' Early, uma mistura de James Brown com Marvin Gaye, alcança o grande papel dramático da sua carreira - ele está sensacional!

Entretenimento de primeira qualidade artística e técnica, com ritmo, cor, drama e muita emoção!

Pode dar o play sem o menor receio! 

Up-date: "Dreamgirls" ganhou em duas categorias no Oscar 2007: Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Mixagem, mas esteve indicado em mais 4 categorias, sendo que em "Melhor Música" tinha três composições na disputa.

Assista Agora

Emergência

O racismo estrutural existe - isso é um fato! Infelizmente esse mal está incutido em toda a sociedade, e é algo que todos nós cometemos, em maior ou menor grau, quer a gente aceite ou não. São tantos episódios que basta parar e observar, para entender prontamente que o racismo precisa ser combatido, sempre! O filme “Emergência”, disponível no catálogo da Prime Vídeo, trata exatamente disso - apresentando o racismo estrutural de forma visceral e, ao mesmo tempo, didática. O interessante é que o enredo não dá brecha para questionamentos, ele mostra exatamente como o problema continua enraizado e como é difícil ser extirpado para sempre da nossa realidade.

A trama mostra três estudantes universitários, Kunle (Donald Elise Watkins), Sean (RJ Cyler) e Carlos (Sebastian Chacon), dois negros e um latino, que antes de sair para uma balada, encontram uma garota desconhecida desacordada no chão da casa onde residem. A partir daí, eles vivem um impasse: chamar a emergência e correr o risco de serem acusados de algum crime, ou abandonar a menina, sem sofrer maiores consequências. Confira o trailer:

A premissa é muito inteligente em levantar questões bastante delicadas, mas pelos olhos de quem realmente sofre preconceito - e o roteiro da K.D. Dávila foi muito feliz em desenvolver um plot que explora a dificuldade de tomar uma decisão mais coerente pelos protagonistas, já que a garota desmaiada é branca, loira e menor de idade. Se chamarem a polícia ou a ambulância, será que vão acreditar na história deles? O receio e o medo que eles sentem é legítimo e verdadeiro, mas ao mesmo tempo escancara como o racismo estrutural pode moldar as atitudes das pessoas. Essa dualidade, ou desconforto, de comportamento exige uma sensibilidade enorme de condução para que as muitas camadas dos personagens possam ser aproveitadas, e o diretor Carey Williams (nomeado um dos novos diretores mais promissores de 2018 pela Filmmaker Magazine) foi muito seguro nesse desenvolvimento. 

“Emergência” é baseado em um curta-metragem e Williams, premiadíssimo em 2018 (vencedor do SXSW  e de Sundance no mesmo ano), que transita magistralmente por diversos gêneros: como a comédia, o drama e o suspense. Obviamente que esse é um daqueles filmes necessários, que todo mundo deveria ver e rever! É também provocativo, reflexivo e extremamente desconfortável! E é, antes de tudo, um aviso para que pessoas brancas como eu e você. tenham consciência que ainda precisamos evoluir muito, para um dia, finalmente, dizermos que vivemos em mundo mais justo e sem preconceitos.

Vale muito seu play, Vale muito sua reflexão!

Escrito por Lucio Tannure - uma parceria @dicas_pra_maratonar

Assista Agora

O racismo estrutural existe - isso é um fato! Infelizmente esse mal está incutido em toda a sociedade, e é algo que todos nós cometemos, em maior ou menor grau, quer a gente aceite ou não. São tantos episódios que basta parar e observar, para entender prontamente que o racismo precisa ser combatido, sempre! O filme “Emergência”, disponível no catálogo da Prime Vídeo, trata exatamente disso - apresentando o racismo estrutural de forma visceral e, ao mesmo tempo, didática. O interessante é que o enredo não dá brecha para questionamentos, ele mostra exatamente como o problema continua enraizado e como é difícil ser extirpado para sempre da nossa realidade.

A trama mostra três estudantes universitários, Kunle (Donald Elise Watkins), Sean (RJ Cyler) e Carlos (Sebastian Chacon), dois negros e um latino, que antes de sair para uma balada, encontram uma garota desconhecida desacordada no chão da casa onde residem. A partir daí, eles vivem um impasse: chamar a emergência e correr o risco de serem acusados de algum crime, ou abandonar a menina, sem sofrer maiores consequências. Confira o trailer:

A premissa é muito inteligente em levantar questões bastante delicadas, mas pelos olhos de quem realmente sofre preconceito - e o roteiro da K.D. Dávila foi muito feliz em desenvolver um plot que explora a dificuldade de tomar uma decisão mais coerente pelos protagonistas, já que a garota desmaiada é branca, loira e menor de idade. Se chamarem a polícia ou a ambulância, será que vão acreditar na história deles? O receio e o medo que eles sentem é legítimo e verdadeiro, mas ao mesmo tempo escancara como o racismo estrutural pode moldar as atitudes das pessoas. Essa dualidade, ou desconforto, de comportamento exige uma sensibilidade enorme de condução para que as muitas camadas dos personagens possam ser aproveitadas, e o diretor Carey Williams (nomeado um dos novos diretores mais promissores de 2018 pela Filmmaker Magazine) foi muito seguro nesse desenvolvimento. 

“Emergência” é baseado em um curta-metragem e Williams, premiadíssimo em 2018 (vencedor do SXSW  e de Sundance no mesmo ano), que transita magistralmente por diversos gêneros: como a comédia, o drama e o suspense. Obviamente que esse é um daqueles filmes necessários, que todo mundo deveria ver e rever! É também provocativo, reflexivo e extremamente desconfortável! E é, antes de tudo, um aviso para que pessoas brancas como eu e você. tenham consciência que ainda precisamos evoluir muito, para um dia, finalmente, dizermos que vivemos em mundo mais justo e sem preconceitos.

Vale muito seu play, Vale muito sua reflexão!

Escrito por Lucio Tannure - uma parceria @dicas_pra_maratonar

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Estados Unidos vs Billie Holiday

"Estados Unidos vs Billie Holiday" é mais um soco no estômago que acompanha a tendência audiovisual de discutir o racismo estrutural que foi se construindo durante as gerações e que não perdoava nem as celebridades de sua época, no caso uma das maiores vozes do jazz americano. Inegavelmente que o filme funciona muito mais como uma apresentação biográfica bastante relevante na história do que como uma obra cinematográfica inesquecível, porém é de se elogiar alguns pontos importantes, entre eles o incrível trabalho de Andra Day como protagonista - que lhe rendeu uma indicação ao Oscar 2021 de Melhor Atriz.

No filme, Billie Holiday é investigada pela Agência Americana de Narcóticos no auge do seu sucesso. A entidade suspeitava que a cantora recebia drogas como retribuição por seu ativismo político. Voz do sucesso "Strange Fruit", cuja letra denunciava o linchamento que os negros sofriam na época e que incomodava a elite (criando a sensação da insegurança de que através da música surgisse uma revolução de cobrança aos direitos civis dos negros), Holiday sofreu uma intensa perseguição com o claro objetivo de impedir suas apresentações, sempre lotadas. No entanto, o responsável pelo caso, o agente Jimmy Fletcher (Trevante Rhodes), acaba trocando de lado após se apaixonar pela cantora. Confira o trailer (em inglês):

Talvez o ponto que mais incomode quem assiste "Estados Unidos vs Billie Holiday" é seu ritmo. A dinâmica narrativa imposta pelo roteiro, de fato, não é das mais fluídas, nos causando uma ligeira sensação de cansaço, já que o eventos se tornam repetitivos. Por outro lado, existem duas jornadas de personagens, de Holiday e de Fletcher, que vão se transformando com o passar dos atos e que nos mantém ligados na história, torcendo para que tudo possa ser resolvido e ambos tenham paz. Me parece, mais uma vez, que o tempo de tela jogou contra - o filme do diretor Lee Daniels (indicado ao Oscar por "Preciosa") merecia um roteiro melhor, com um recorte mais cirúrgico da vida de Holiday para se encaixar melhor no formato, talvez como  aconteceu em Judy ou, melhor ainda, em "Uma noite em Miami..." e em "A Voz Suprema do Blues".

Se desconectar do impacto psicológico e político do Estado norte-americano sobre a cantora é praticamente impossível, algo muito próximo do que passou a atriz Seberg alguns anos mais tarde, porém é preciso que se diga que a proximidade ideológica do diretor traz um sentimentalismo um pouco exagerado para o filme, como se fosse necessário bater sempre na mesma tecla para alcançar a empatia de quem assiste. Definitivamente, Billie Holiday não precisava disso! Quando Daniels se propõe a explorar sua capacidade como cineasta, ele entrega um plano sequência belíssimo no final do segundo ato, com uma fotografia linda e uma construção cênica exuberante que nos causa um impacto bastante profundo ao ver aquela cruz queimando - o que prova que faltou mais equilíbrio, mais roteiro e mais sensibilidade.

"Estados Unidos vs Billie Holiday" é filme didático, importante culturalmente e denso! Vai agradar quem gosta de cinebiografias musicais - inclusive as cenas em que Andra Day está cantando e uma narrativa é construída em segundo plano para sobrepor as letras das músicas, são lindas! Vale como entretenimento para aqueles se identificam com o tema e com o gênero. O filme é uma mistura de "Small Axe"com a já citada, "Judy"!

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"Estados Unidos vs Billie Holiday" é mais um soco no estômago que acompanha a tendência audiovisual de discutir o racismo estrutural que foi se construindo durante as gerações e que não perdoava nem as celebridades de sua época, no caso uma das maiores vozes do jazz americano. Inegavelmente que o filme funciona muito mais como uma apresentação biográfica bastante relevante na história do que como uma obra cinematográfica inesquecível, porém é de se elogiar alguns pontos importantes, entre eles o incrível trabalho de Andra Day como protagonista - que lhe rendeu uma indicação ao Oscar 2021 de Melhor Atriz.

No filme, Billie Holiday é investigada pela Agência Americana de Narcóticos no auge do seu sucesso. A entidade suspeitava que a cantora recebia drogas como retribuição por seu ativismo político. Voz do sucesso "Strange Fruit", cuja letra denunciava o linchamento que os negros sofriam na época e que incomodava a elite (criando a sensação da insegurança de que através da música surgisse uma revolução de cobrança aos direitos civis dos negros), Holiday sofreu uma intensa perseguição com o claro objetivo de impedir suas apresentações, sempre lotadas. No entanto, o responsável pelo caso, o agente Jimmy Fletcher (Trevante Rhodes), acaba trocando de lado após se apaixonar pela cantora. Confira o trailer (em inglês):

Talvez o ponto que mais incomode quem assiste "Estados Unidos vs Billie Holiday" é seu ritmo. A dinâmica narrativa imposta pelo roteiro, de fato, não é das mais fluídas, nos causando uma ligeira sensação de cansaço, já que o eventos se tornam repetitivos. Por outro lado, existem duas jornadas de personagens, de Holiday e de Fletcher, que vão se transformando com o passar dos atos e que nos mantém ligados na história, torcendo para que tudo possa ser resolvido e ambos tenham paz. Me parece, mais uma vez, que o tempo de tela jogou contra - o filme do diretor Lee Daniels (indicado ao Oscar por "Preciosa") merecia um roteiro melhor, com um recorte mais cirúrgico da vida de Holiday para se encaixar melhor no formato, talvez como  aconteceu em Judy ou, melhor ainda, em "Uma noite em Miami..." e em "A Voz Suprema do Blues".

Se desconectar do impacto psicológico e político do Estado norte-americano sobre a cantora é praticamente impossível, algo muito próximo do que passou a atriz Seberg alguns anos mais tarde, porém é preciso que se diga que a proximidade ideológica do diretor traz um sentimentalismo um pouco exagerado para o filme, como se fosse necessário bater sempre na mesma tecla para alcançar a empatia de quem assiste. Definitivamente, Billie Holiday não precisava disso! Quando Daniels se propõe a explorar sua capacidade como cineasta, ele entrega um plano sequência belíssimo no final do segundo ato, com uma fotografia linda e uma construção cênica exuberante que nos causa um impacto bastante profundo ao ver aquela cruz queimando - o que prova que faltou mais equilíbrio, mais roteiro e mais sensibilidade.

"Estados Unidos vs Billie Holiday" é filme didático, importante culturalmente e denso! Vai agradar quem gosta de cinebiografias musicais - inclusive as cenas em que Andra Day está cantando e uma narrativa é construída em segundo plano para sobrepor as letras das músicas, são lindas! Vale como entretenimento para aqueles se identificam com o tema e com o gênero. O filme é uma mistura de "Small Axe"com a já citada, "Judy"!

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Estrada para a Glória

"Estrada para a Glória" é um filmaço, mas que provavelmente você já assistiu algo parecido - e isso não é (e nem deve ser) um problema, pois histórias como essa movem a sociedade para frente, nos faz refletir e, principalmente, serve de ensinamento para inúmeros momentos da nossa vida se tivermos a capacidade de fazer a leitura certa. O fato é que se você gosta de filmes como "No Limite""Talento e Fé""Coach Carter", você não vai se arrepender de ler esse review e dar o play!

O filme é baseado em uma história real que se passa em 1966 e conta a jornada do primeiro time de basquete universitário  da NCAA formado apenas por negros como titulares. Em um momento de grande discriminação racial, o treinador Don Hanskins (Josh Lucas) inicia uma busca incansável pelos melhores jogadores de basquete do EUA, independente da cor de sua pele. Hanskins tinha como propósito avaliar um jogador apenas por suas habilidades e comprometimento, mas suas escolhas impactaram para além do esporte, iniciando assim uma luta admirável pelo fim do preconceito racial.

Embora o roteiro dos estreantes (em 2006) Christopher Cleveland e Bettina Gilois, não seja um primor técnico, sem dúvida que a produção de Jerry Bruckheimer é! "Glory Road" (no original) faz uma reconstrução de época extremamente detalhista e muito bem alinhado com o conceito estético que o diretor James Gartner e seu fotógrafo Jeffrey L. Kimball (de "Os Mercenários") impõem na narrativa. Você vai reparar que a imagem é até granulada, "suja", amarelada; tudo isso para nos colocar naquela atmosfera antiga e de tensão social dos anos 60. Talvez, para nós brasileiros, soe até um pouco distante entender o tamanho da responsabilidade que é treinar um time universitário de basquete, porém o roteiro trata de colocar os elementos dramáticos essenciais exatamente onde devem estar, para termos a noção de como os desafios daqueles personagens caminham para o sentido exato da história - se alguns plots são mal desenvolvidos, como a relação de Hanskins com sua mulher Mary (Emily Deschanel) ou até as ameaças que ela vinha recebendo por ser casada com um treinador acostumado a quebrar regras, até o drama sobre a condição de saúde que poderia ter matado um dos atletas durante a temporada; tudo parece se dissolver no último ato quando a "hora da verdade" chega.

Mas qual é "hora da verdade"? Simples: o grande jogo, a final da NCAA! E não, isso não é um spoiler e tenho certeza que você que leu até aqui não seria ingênuo de pensar que isso não aconteceria e é para você, que provavelmente conhece do esporte, que dois pontos do filme passam a enriquecer a experiência. O primeiro á a participação de luxo de Jon Voight como Adolph Rupp um dos treinadores mais bem-sucedidos da história de Kentucky e o segundo em número de vitórias da liga - Voight não tem muito tempo na tela, mas soube usar com muita sabedoria e talento. O outro ponto para se atentar diz respeito a um nome que não deve e nem pode passar despercebido - do então jogador de Kentucky, Pat Riley (Wes Brown). Riley é, até hoje, considerado um dos maiores da NBA de todos os tempos, com cinco títulos como treinador principal, um como jogador e mais quatro envolvido como assistente ou executivo. 

"Estrada para a Glória" não é um filme exclusivo para os amantes do esporte - mas claro que será melhor aproveitados por eles. A trama é de fato potente, bem produzida, bem dirigida e traz todos os elementos dramáticos necessários para um bom entretenimento com o bônus de ser uma história real. 

E em tempo: Texas Western X Kentucky é considerado até hoje o “Jogo do Século” no basquete universitário.

Vale a muito pena!

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"Estrada para a Glória" é um filmaço, mas que provavelmente você já assistiu algo parecido - e isso não é (e nem deve ser) um problema, pois histórias como essa movem a sociedade para frente, nos faz refletir e, principalmente, serve de ensinamento para inúmeros momentos da nossa vida se tivermos a capacidade de fazer a leitura certa. O fato é que se você gosta de filmes como "No Limite""Talento e Fé""Coach Carter", você não vai se arrepender de ler esse review e dar o play!

O filme é baseado em uma história real que se passa em 1966 e conta a jornada do primeiro time de basquete universitário  da NCAA formado apenas por negros como titulares. Em um momento de grande discriminação racial, o treinador Don Hanskins (Josh Lucas) inicia uma busca incansável pelos melhores jogadores de basquete do EUA, independente da cor de sua pele. Hanskins tinha como propósito avaliar um jogador apenas por suas habilidades e comprometimento, mas suas escolhas impactaram para além do esporte, iniciando assim uma luta admirável pelo fim do preconceito racial.

Embora o roteiro dos estreantes (em 2006) Christopher Cleveland e Bettina Gilois, não seja um primor técnico, sem dúvida que a produção de Jerry Bruckheimer é! "Glory Road" (no original) faz uma reconstrução de época extremamente detalhista e muito bem alinhado com o conceito estético que o diretor James Gartner e seu fotógrafo Jeffrey L. Kimball (de "Os Mercenários") impõem na narrativa. Você vai reparar que a imagem é até granulada, "suja", amarelada; tudo isso para nos colocar naquela atmosfera antiga e de tensão social dos anos 60. Talvez, para nós brasileiros, soe até um pouco distante entender o tamanho da responsabilidade que é treinar um time universitário de basquete, porém o roteiro trata de colocar os elementos dramáticos essenciais exatamente onde devem estar, para termos a noção de como os desafios daqueles personagens caminham para o sentido exato da história - se alguns plots são mal desenvolvidos, como a relação de Hanskins com sua mulher Mary (Emily Deschanel) ou até as ameaças que ela vinha recebendo por ser casada com um treinador acostumado a quebrar regras, até o drama sobre a condição de saúde que poderia ter matado um dos atletas durante a temporada; tudo parece se dissolver no último ato quando a "hora da verdade" chega.

Mas qual é "hora da verdade"? Simples: o grande jogo, a final da NCAA! E não, isso não é um spoiler e tenho certeza que você que leu até aqui não seria ingênuo de pensar que isso não aconteceria e é para você, que provavelmente conhece do esporte, que dois pontos do filme passam a enriquecer a experiência. O primeiro á a participação de luxo de Jon Voight como Adolph Rupp um dos treinadores mais bem-sucedidos da história de Kentucky e o segundo em número de vitórias da liga - Voight não tem muito tempo na tela, mas soube usar com muita sabedoria e talento. O outro ponto para se atentar diz respeito a um nome que não deve e nem pode passar despercebido - do então jogador de Kentucky, Pat Riley (Wes Brown). Riley é, até hoje, considerado um dos maiores da NBA de todos os tempos, com cinco títulos como treinador principal, um como jogador e mais quatro envolvido como assistente ou executivo. 

"Estrada para a Glória" não é um filme exclusivo para os amantes do esporte - mas claro que será melhor aproveitados por eles. A trama é de fato potente, bem produzida, bem dirigida e traz todos os elementos dramáticos necessários para um bom entretenimento com o bônus de ser uma história real. 

E em tempo: Texas Western X Kentucky é considerado até hoje o “Jogo do Século” no basquete universitário.

Vale a muito pena!

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Ficção Americana

Simplesmente genial - ao lado de "Pobres Criaturas" talvez o mais criativo entre os indicados ao Oscar de "Melhor Filme" em 2024. "Ficção Americana" é uma verdadeira viagem metalinguística pelas contradições da indústria cultural pela perspectiva do afro-americano. Imperdível pela sua proposta narrativa, o filme discute temas extremamente sensíveis a partir de sátiras muito inteligentes e pontuações dramáticas bastante reflexivas. Dirigido pelo Cord Jefferson (de "Watchmen") e baseado no livro "Erasure" de Percival Everett, o filme recebeu cinco indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme e Melhor Ator para Jeffrey Wright. Olha, prepare-se para mergulhar em uma crítica mordaz e perspicaz sobre os mecanismos do mercado editorial (e cinematográfica) e os estereótipos que permeiam a sociedade americana até hoje. Muito bom!

A trama basicamente acompanha a jornada de Thelonious 'Monk' Ellison (Jeffrey Wright), um escritor afro-americano respeitado por seus romances que exploram temas universais, embora não necessariamente raciais. Cansado de fugir de alguns rótulos e pressionado a escrever apenas sobre o que se espera dele, Monk decide subverter as expectativas e embarcar em um novo projeto: um romance superficial baseado em esteriótipos da cultura "black". A partir dessa escolha ousada, acompanhamos as repercussões na vida do autor, tanto em sua carreira profissional quanto em seus relacionamentos pessoais. Confira o trailer (em inglês):

O que torna "Ficção Americana" tão especial é a maneira como o roteiro tece uma complexa teia de metalinguagem, humor e drama ao criticar de forma inteligente a obsessão, especialmente de grande parte do público branco americano, em consumir vorazmente histórias negras que sejam caricatas, ou seja, cheias de violência, traumas e racismo, limitando a realidade de milhões de pessoas a uma simples prateleira de sofrimento e injustiça. O interessante, no entanto, é que Jefferson sabe muito bem onde está pisando e com sabedoria usa seus personagens para equilibrar a discussão, evitando uma polarização até certo ponto infantil.  Repare como o diretor brinca com as expectativas da audiência, subvertendo clichês e criando situações inusitadas para dizer o óbvio, mas sem ofender - as colocações preconceituosas da mãe de Monk sobre raça, sexo e ideologia, são ótimos exemplos.

A performance de Jeffrey Wright é um verdadeiro espetáculo - o ator entrega um personagem cheio de camadas, carregado de nuances e contradições - marcas que a vida foi deixando e que naturalmente foi afastando as pessoas. As cenas com seu irmão recém-divorciado e gay, Cliff (Sterling K. Brown), são impagáveis - sempre no tom certo. Sua química com a atriz Erika Alexander, que interpreta seu par amoroso, Coraline, é outro destaque que merece ser observado com atenção - existe uma admiração dela por ele, mas isso não a impede de contrapor suas opiniões ou se posicionar perante o humor de Monk. A direção de Jefferson é segura ao perceber essas nuances entre os personagens, e de forma muito elegante utiliza de recursos puramente técnicos para não aparecer mais que sua história - embora tenha sido sempre muito criativo quando demandado.

Monk e sua família são de classe média alta, com carreiras estabelecidas e diplomas de medicina no currículo, estão sempre tomando vinho (o que surpreende até o produtor de cinema Wiley Valdespino, em uma ótima participação especial de Adam Brody), ou seja, são completamente estranhos ao clichê da violência ou da dificuldade social vividas pelos afro-americanos. Isso quer dizer que os Ellison não tem problemas? Claro que não e é por isso que  "American Fiction" (no original) é um filme tão inteligente quanto provocativo e memorável. Uma obra que sabe o poder da sátira afiada e ácida, mas nunca gratuita, sempre servindo para provocar reflexões sobre os estereótipos que permeiam a indústria cultural e as relações raciais nos Estados Unidos.

Imperdível!

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Simplesmente genial - ao lado de "Pobres Criaturas" talvez o mais criativo entre os indicados ao Oscar de "Melhor Filme" em 2024. "Ficção Americana" é uma verdadeira viagem metalinguística pelas contradições da indústria cultural pela perspectiva do afro-americano. Imperdível pela sua proposta narrativa, o filme discute temas extremamente sensíveis a partir de sátiras muito inteligentes e pontuações dramáticas bastante reflexivas. Dirigido pelo Cord Jefferson (de "Watchmen") e baseado no livro "Erasure" de Percival Everett, o filme recebeu cinco indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme e Melhor Ator para Jeffrey Wright. Olha, prepare-se para mergulhar em uma crítica mordaz e perspicaz sobre os mecanismos do mercado editorial (e cinematográfica) e os estereótipos que permeiam a sociedade americana até hoje. Muito bom!

A trama basicamente acompanha a jornada de Thelonious 'Monk' Ellison (Jeffrey Wright), um escritor afro-americano respeitado por seus romances que exploram temas universais, embora não necessariamente raciais. Cansado de fugir de alguns rótulos e pressionado a escrever apenas sobre o que se espera dele, Monk decide subverter as expectativas e embarcar em um novo projeto: um romance superficial baseado em esteriótipos da cultura "black". A partir dessa escolha ousada, acompanhamos as repercussões na vida do autor, tanto em sua carreira profissional quanto em seus relacionamentos pessoais. Confira o trailer (em inglês):

O que torna "Ficção Americana" tão especial é a maneira como o roteiro tece uma complexa teia de metalinguagem, humor e drama ao criticar de forma inteligente a obsessão, especialmente de grande parte do público branco americano, em consumir vorazmente histórias negras que sejam caricatas, ou seja, cheias de violência, traumas e racismo, limitando a realidade de milhões de pessoas a uma simples prateleira de sofrimento e injustiça. O interessante, no entanto, é que Jefferson sabe muito bem onde está pisando e com sabedoria usa seus personagens para equilibrar a discussão, evitando uma polarização até certo ponto infantil.  Repare como o diretor brinca com as expectativas da audiência, subvertendo clichês e criando situações inusitadas para dizer o óbvio, mas sem ofender - as colocações preconceituosas da mãe de Monk sobre raça, sexo e ideologia, são ótimos exemplos.

A performance de Jeffrey Wright é um verdadeiro espetáculo - o ator entrega um personagem cheio de camadas, carregado de nuances e contradições - marcas que a vida foi deixando e que naturalmente foi afastando as pessoas. As cenas com seu irmão recém-divorciado e gay, Cliff (Sterling K. Brown), são impagáveis - sempre no tom certo. Sua química com a atriz Erika Alexander, que interpreta seu par amoroso, Coraline, é outro destaque que merece ser observado com atenção - existe uma admiração dela por ele, mas isso não a impede de contrapor suas opiniões ou se posicionar perante o humor de Monk. A direção de Jefferson é segura ao perceber essas nuances entre os personagens, e de forma muito elegante utiliza de recursos puramente técnicos para não aparecer mais que sua história - embora tenha sido sempre muito criativo quando demandado.

Monk e sua família são de classe média alta, com carreiras estabelecidas e diplomas de medicina no currículo, estão sempre tomando vinho (o que surpreende até o produtor de cinema Wiley Valdespino, em uma ótima participação especial de Adam Brody), ou seja, são completamente estranhos ao clichê da violência ou da dificuldade social vividas pelos afro-americanos. Isso quer dizer que os Ellison não tem problemas? Claro que não e é por isso que  "American Fiction" (no original) é um filme tão inteligente quanto provocativo e memorável. Uma obra que sabe o poder da sátira afiada e ácida, mas nunca gratuita, sempre servindo para provocar reflexões sobre os estereótipos que permeiam a indústria cultural e as relações raciais nos Estados Unidos.

Imperdível!

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Filhos de Ninguém

É praticamente impossível assistir "Filhos de Ninguém" sem sentir vergonha pelo ser humano que se apoia na ignorância e na intolerância para definir quem é digno de ter uma vida digna - e essa redundância é proposital, já que "Farming" (no original) foi dirigido e escrito pelo Adewale Akinnuoye-Agbaje, o Mr. Eko de "Lost", e é baseado em eventos brutais de sua vida nas décadas de 1960 e 1980, quando seus pais, imigrantes nigerianos, o deixaram em um lar adotivo onde o "amor" não existia, dentro e fora de casa, em uma Londres racista e segregadora. E atenção, embora o filme não seja um primor estético, afinal Agbaje nem diretor é, o seu roteiro é potente e sua narrativa é realmente impactante. Eu diria que o filme é quase um acerto de contas do diretor com sua história!

O filme gira em torno de Enitan (Damson Idris), um jovem negro criado por uma família branca britânica, após ser deixado aos cuidados deles por seus pais biológicos que desejavam uma vida melhor para ele no Reino Unido. No entanto, ao crescer em uma comunidade predominantemente branca, Enitan sofre bullying e racismo em todos os ambientes que frequenta até que, desesperado por aprovação social, acaba se tornando membro de uma gangue de skinheads conhecida na região pela extrema violência contra imigrantes e negros. Confira o trailer (em inglês):

Obviamente que temos uma conexão imediata com o protagonista, ainda criança, por tudo que ele passa no seu lar adotivo. O roteiro é extremamente feliz em trabalhar os diálogos ofensivos dos personagens secundários com a mesma violência com que mostra um ataque dos skinheads a Eni. Essa dinâmica narrativa nos provoca reflexões profundas ao mesmo tempo que nos joga para uma realidade muitas vezes difícil de mensurar sem estar ali, vendo e sofrendo com a vitima. O filme explora questões complexas de identidade, pertencimento, racismo e xenofobia para lançar uma luz sobre a história pouco conhecida de "farming" - um fenômeno real em que jovens negros imigrantes eram entregues para famílias brancas britânicas na esperança de uma vida melhor e acabavam sendo submetidos a abusos e exploração impressionantes.

A relação de Akinnuoye-Agbaje com a história, obviamente, é visceral e se como diretor de cena talvez ele falhe ao reproduzir visualmente o drama do seu protagonista, pode ter certeza que sua participação na construção de personagens tão palpáveis foi essencial. Tanto o jovem Zephan Hanson Amissah quanto Damson Idris, como Enitan em diferentes fases da vida, entregam performances dignas de prêmios - essencialmente no silêncio e no olhar! Kate Beckinsale como Ingrid Carpenter, a mãe adotiva, também faz um trabalho "odioso", porém irretocável! Veja, pela relação (das)humana entre os personagens é facilmente perceptível como o roteiro tem alma - o que nos faz imaginar o que seria desse texto em um filme dirigido por alguém, digamos, mais cascudo como Peter Farrelly (de "Green Book") ou Barry Jenkins (de "Moonlight"). 

"Filhos de Ninguém"recebeu críticas mistas da mídia e do público - algumas pessoas elogiaram a coragem do diretor em abordar um tema sensível e tão pessoal, enquanto outras sentiram que a narrativa ficou confusa e sem foco. Na nossa visão, as críticas perdem o fundamento quando imergimos na jornada de Enitan e nos relacionamos emocionalmente com ela, olhando para o problema sob uma perspectiva mais humana, nos obrigando a fazer uma auto-análise de como podemos mudar as coisas - mesmo sabendo que hoje, 40 anos depois, elas estão longe de serem diferentes.

Vale muito o seu play!

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É praticamente impossível assistir "Filhos de Ninguém" sem sentir vergonha pelo ser humano que se apoia na ignorância e na intolerância para definir quem é digno de ter uma vida digna - e essa redundância é proposital, já que "Farming" (no original) foi dirigido e escrito pelo Adewale Akinnuoye-Agbaje, o Mr. Eko de "Lost", e é baseado em eventos brutais de sua vida nas décadas de 1960 e 1980, quando seus pais, imigrantes nigerianos, o deixaram em um lar adotivo onde o "amor" não existia, dentro e fora de casa, em uma Londres racista e segregadora. E atenção, embora o filme não seja um primor estético, afinal Agbaje nem diretor é, o seu roteiro é potente e sua narrativa é realmente impactante. Eu diria que o filme é quase um acerto de contas do diretor com sua história!

O filme gira em torno de Enitan (Damson Idris), um jovem negro criado por uma família branca britânica, após ser deixado aos cuidados deles por seus pais biológicos que desejavam uma vida melhor para ele no Reino Unido. No entanto, ao crescer em uma comunidade predominantemente branca, Enitan sofre bullying e racismo em todos os ambientes que frequenta até que, desesperado por aprovação social, acaba se tornando membro de uma gangue de skinheads conhecida na região pela extrema violência contra imigrantes e negros. Confira o trailer (em inglês):

Obviamente que temos uma conexão imediata com o protagonista, ainda criança, por tudo que ele passa no seu lar adotivo. O roteiro é extremamente feliz em trabalhar os diálogos ofensivos dos personagens secundários com a mesma violência com que mostra um ataque dos skinheads a Eni. Essa dinâmica narrativa nos provoca reflexões profundas ao mesmo tempo que nos joga para uma realidade muitas vezes difícil de mensurar sem estar ali, vendo e sofrendo com a vitima. O filme explora questões complexas de identidade, pertencimento, racismo e xenofobia para lançar uma luz sobre a história pouco conhecida de "farming" - um fenômeno real em que jovens negros imigrantes eram entregues para famílias brancas britânicas na esperança de uma vida melhor e acabavam sendo submetidos a abusos e exploração impressionantes.

A relação de Akinnuoye-Agbaje com a história, obviamente, é visceral e se como diretor de cena talvez ele falhe ao reproduzir visualmente o drama do seu protagonista, pode ter certeza que sua participação na construção de personagens tão palpáveis foi essencial. Tanto o jovem Zephan Hanson Amissah quanto Damson Idris, como Enitan em diferentes fases da vida, entregam performances dignas de prêmios - essencialmente no silêncio e no olhar! Kate Beckinsale como Ingrid Carpenter, a mãe adotiva, também faz um trabalho "odioso", porém irretocável! Veja, pela relação (das)humana entre os personagens é facilmente perceptível como o roteiro tem alma - o que nos faz imaginar o que seria desse texto em um filme dirigido por alguém, digamos, mais cascudo como Peter Farrelly (de "Green Book") ou Barry Jenkins (de "Moonlight"). 

"Filhos de Ninguém"recebeu críticas mistas da mídia e do público - algumas pessoas elogiaram a coragem do diretor em abordar um tema sensível e tão pessoal, enquanto outras sentiram que a narrativa ficou confusa e sem foco. Na nossa visão, as críticas perdem o fundamento quando imergimos na jornada de Enitan e nos relacionamos emocionalmente com ela, olhando para o problema sob uma perspectiva mais humana, nos obrigando a fazer uma auto-análise de como podemos mudar as coisas - mesmo sabendo que hoje, 40 anos depois, elas estão longe de serem diferentes.

Vale muito o seu play!

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