"I May Destroy You" é aquele típico fenômeno que não conseguimos explicar a razão pela qual ainda não está sendo aplaudida de pé por todo mundo, como rapidamente aconteceu com Chernobyl, por exemplo. A série é desconfortante, pesada, profunda e muito provocadora; mas em nenhum momento precisa agredir para alcançar o seu objetivo - ou melhor, talvez uma ou outra cena, para uma audiência mais conservadora, possa chocar pela naturalidade, mas nunca pela falta de propósito ao trazer inúmeros assuntos tão delicados (e importantes)!
Arabella Essiedu (Michaela Coel) é uma jovem escritora que foi descoberta no Twitter e que acaba de ser contratada por uma editora de vanguarda para escrever seu livro. Após passar uma breve temporada na Itália trabalhando na obra, Anabella retorna para Londres e acaba sofrendo um bloqueio criativo. Pressionada por um cronograma super apertado, ela decide sair para relaxar com os amigos e, uma hora depois, voltar para frente do seu laptop e finalizar o trabalho. Acontece que essa noite marca a vida de Anabella para sempre, já que ela acorda em sua casa e não se lembra exatamente o que aconteceu, apenas alguns flashes deixam a entender que ela foi drogada e abusada sexualmente! Confira o trailer:
De fato, você não vai encontrar uma série leve, mas pode ter a mais absoluta certeza que ela não vai te poupar de várias reflexões e, da maneira mais inteligente que um roteiro pode entregar, te colocar em uma posição de vulnerabilidade intelectual ao expôr o que o ser humano tem de bom e de ruim, sem ao menos ser capaz de definir a linha tênue que justifique essa diferença. A série fala sobre consentimento sexual e racismo, claro, mas ela vai muito além e graças a uma construção de personagem impecável é possível entender que nem tudo é tão racional ou fácil de se explicar. Posso dizer que através das inúmeras camadas que vamos conhecendo, tanto de Anabella quanto dos seus dois melhores amigos, Terry (Weruche Opia) e Kwame (Paapa Essiedu), é possível perceber que antes de tudo somos imperfeitos, mas que nem por isso seremos absolvidos de algumas atitudes ou posturas perante o outro! Olha, vale muito seu play, now!
"I may destroy you" é uma co-produção entre BBC e da HBO criada pela própria Michaela Coel. Coel é uma atriz versátil que fez muito sucesso como comediante, mas que também foi capaz de entregar personagens dramáticos com a mesma competência. Na série, ela traz para discussão várias releituras auto-biográficas o que, naturalmente, causam um incômodo ainda maior. Os episódios de 30 minutos são cirurgicamente precisos, embora a narrativa gire entorno do que realmente aconteceu na noite em que Anabella saiu com os amigos e que, possivelmente, foi abusada, outros elementos ajudam a construir uma história de personagens. Não por acaso existem quebras na linha do tempo, mas todas elas servem para encaixar uma ou outra peça desse enorme quebra-cabeça que forma a personalidade da protagonista. Ao discutir amizade, influência nas redes sociais, relacionamentos, masculinidade, machismo, feminismo, raça, gênero, carreira, arte e muito mais, usando sempre um tom bastante existencialista, "I may destroy you" se coloca em um patamar que poucas vezes encontramos em uma série - talvez seja uma espécie de amadurecimento (se é que é possível) de "Euphoria", também da HBO.
Muito bem dirigida por Sam Miller (Luther), mas com a própria Michaela Coel como co-diretora (em 9 dos 12 episódios da temporada), fica fácil perceber como o conceito visual é de uma elegância estética impressionante, mas que nunca alivia no conteúdo. Eu te convido a reparar no 9º episódio quando a psicóloga de Anabella desenha em um simples pedaço de papel, uma explicação extremamente profunda de como, nos dias de hoje, é difícil abraçar a nossa essência em relação a performance que somos obrigados a ter em um mundo de espetáculos como nas redes sociais. É incrível a delicadeza como essa cena foi dirigida e o impacto que ela nos causa - um excelente exemplo de como direção e roteiro estão 100% alinhados!
Embora a série tenha uma conclusão bastante satisfatória, fica claro que existe assunto para uma segunda temporada, porém nenhuma posição, tanto da HBO quanto da BBC, foi confirmada. Portanto, eu sugiro que você aproveite muito, cada um dos episódios de "I may destroy you", pois a série é de fato imperdível - com uma trilha sonora sensacional e performances incríveis de todo elenco. Eu sou capaz de apostar que ela vem muito forte na temporada de premiações de 2021.
Tudo é bom, mas nada do que vemos ali é fácil! Vale muito a pena! Mesmo!
"I May Destroy You" é aquele típico fenômeno que não conseguimos explicar a razão pela qual ainda não está sendo aplaudida de pé por todo mundo, como rapidamente aconteceu com Chernobyl, por exemplo. A série é desconfortante, pesada, profunda e muito provocadora; mas em nenhum momento precisa agredir para alcançar o seu objetivo - ou melhor, talvez uma ou outra cena, para uma audiência mais conservadora, possa chocar pela naturalidade, mas nunca pela falta de propósito ao trazer inúmeros assuntos tão delicados (e importantes)!
Arabella Essiedu (Michaela Coel) é uma jovem escritora que foi descoberta no Twitter e que acaba de ser contratada por uma editora de vanguarda para escrever seu livro. Após passar uma breve temporada na Itália trabalhando na obra, Anabella retorna para Londres e acaba sofrendo um bloqueio criativo. Pressionada por um cronograma super apertado, ela decide sair para relaxar com os amigos e, uma hora depois, voltar para frente do seu laptop e finalizar o trabalho. Acontece que essa noite marca a vida de Anabella para sempre, já que ela acorda em sua casa e não se lembra exatamente o que aconteceu, apenas alguns flashes deixam a entender que ela foi drogada e abusada sexualmente! Confira o trailer:
De fato, você não vai encontrar uma série leve, mas pode ter a mais absoluta certeza que ela não vai te poupar de várias reflexões e, da maneira mais inteligente que um roteiro pode entregar, te colocar em uma posição de vulnerabilidade intelectual ao expôr o que o ser humano tem de bom e de ruim, sem ao menos ser capaz de definir a linha tênue que justifique essa diferença. A série fala sobre consentimento sexual e racismo, claro, mas ela vai muito além e graças a uma construção de personagem impecável é possível entender que nem tudo é tão racional ou fácil de se explicar. Posso dizer que através das inúmeras camadas que vamos conhecendo, tanto de Anabella quanto dos seus dois melhores amigos, Terry (Weruche Opia) e Kwame (Paapa Essiedu), é possível perceber que antes de tudo somos imperfeitos, mas que nem por isso seremos absolvidos de algumas atitudes ou posturas perante o outro! Olha, vale muito seu play, now!
"I may destroy you" é uma co-produção entre BBC e da HBO criada pela própria Michaela Coel. Coel é uma atriz versátil que fez muito sucesso como comediante, mas que também foi capaz de entregar personagens dramáticos com a mesma competência. Na série, ela traz para discussão várias releituras auto-biográficas o que, naturalmente, causam um incômodo ainda maior. Os episódios de 30 minutos são cirurgicamente precisos, embora a narrativa gire entorno do que realmente aconteceu na noite em que Anabella saiu com os amigos e que, possivelmente, foi abusada, outros elementos ajudam a construir uma história de personagens. Não por acaso existem quebras na linha do tempo, mas todas elas servem para encaixar uma ou outra peça desse enorme quebra-cabeça que forma a personalidade da protagonista. Ao discutir amizade, influência nas redes sociais, relacionamentos, masculinidade, machismo, feminismo, raça, gênero, carreira, arte e muito mais, usando sempre um tom bastante existencialista, "I may destroy you" se coloca em um patamar que poucas vezes encontramos em uma série - talvez seja uma espécie de amadurecimento (se é que é possível) de "Euphoria", também da HBO.
Muito bem dirigida por Sam Miller (Luther), mas com a própria Michaela Coel como co-diretora (em 9 dos 12 episódios da temporada), fica fácil perceber como o conceito visual é de uma elegância estética impressionante, mas que nunca alivia no conteúdo. Eu te convido a reparar no 9º episódio quando a psicóloga de Anabella desenha em um simples pedaço de papel, uma explicação extremamente profunda de como, nos dias de hoje, é difícil abraçar a nossa essência em relação a performance que somos obrigados a ter em um mundo de espetáculos como nas redes sociais. É incrível a delicadeza como essa cena foi dirigida e o impacto que ela nos causa - um excelente exemplo de como direção e roteiro estão 100% alinhados!
Embora a série tenha uma conclusão bastante satisfatória, fica claro que existe assunto para uma segunda temporada, porém nenhuma posição, tanto da HBO quanto da BBC, foi confirmada. Portanto, eu sugiro que você aproveite muito, cada um dos episódios de "I may destroy you", pois a série é de fato imperdível - com uma trilha sonora sensacional e performances incríveis de todo elenco. Eu sou capaz de apostar que ela vem muito forte na temporada de premiações de 2021.
Tudo é bom, mas nada do que vemos ali é fácil! Vale muito a pena! Mesmo!
Você certamente já ouviu falar de Warren Buffett - grande investidor (e filantropo) americano. Mas provavelmente o nome "Carl Icahn" ainda soe pouco familiar. Embora ambos sejam investidores de peso (e multi-bilionários) o modus operandi de cada um é bem particular e talvez esteja aí o grande valor do documentário da HBO, "Icahn: O Bilionário Incansável" - apresentar de uma forma simples e direta mais uma estratégia de investimento que ajudou a construir um mito - sim, Carl Icahn é um mito e você vai entender a razão nesse filme de um pouco mais de 90 minutos.
Como a própria sinopse oficial descreve, "Icahn: The Restless Billionaire" (no original) fornece acesso sem precedentes à visão do provocativo e franco financista bilionário, Carl Icahn, explorando as fascinantes contradições de um incansável investidor que acumulou cerca de US$ 20 bilhões ao longo do último meio século e que está na vanguarda de alguns dos negócios mais lendários de nossos tempos, como Apple, Netflix, entre outros. Confira o trailer (em inglês):
A trajetória de Icahn se confunde com a história do capitalismo americano e isso por si só já é um dos grandes motivos para você que gosta do assunto assistir esse documentário dirigido (e escrito) pelo Bruce David Klein. O diretor explora com maestria toda essa jornada, desde sua entrada no mercado financeiro (em 1961), passando por sua participação na aquisição hostil da TWA até criar a gestora de investimentos Icahn Enterprises onde Icahn ganhou fama e força no mercado na década de 90 graças ao seu estilo, digamos, pouco amistoso com os CEOs das empresas em que investia.
Icahn sempre foi um personagem interessante, vindo de uma família judia e de poucos recursos, ele entendeu que poderia ganhar muito dinheiro graças a sua enorme capacidade de aprendizado - do pôquer ao seu estilo de investir em empresas em queda na bolsa. É claro que sua personalidade impositiva (para ser educado) resultou em uma longa lista de disputas e animosidades - um dos casos mais marcantes de sua carreira foi uma discussão na TV, ao vivo, com o também investidor Bill Ackman, sobre a Herbalife - Ackman que recentemente comprou 1,1 bilhão de dólares de ações da Netflix (empresa que Icahn é o maior acionista).
O único assunto que na minha opinião faltou no documentário diz respeito a breve trajetória de Icahn na política. Também cercada de polêmicas e desentendimentos, seu posicionamento ganhou destaque mundial na eleição de 2016, época em que ele fez parte da chapa do presidente eleito Donald Trump.
O fato é que "Icahn: O Bilionário Incansável" é um retrato importante do desenvolvimento econômico dos EUA, pelos olhos de Wall Street. Sem abrir mão de explorar os fracassos do protagonista e de seu relacionamento com a esposa Gail, o documentário traz ótimos depoimentos (como de Bill Gates e de Andrew Ross Sorkin, roteirista de "Grande Demais para Quebrar" e "Billions"), imagens de arquivo (inclusive pessoais) e, claro, a presença do próprio Carl Icahn que analisa em retrospectiva passagens importantes da sua carreira de sucesso.
Vale muito a pena!
Você certamente já ouviu falar de Warren Buffett - grande investidor (e filantropo) americano. Mas provavelmente o nome "Carl Icahn" ainda soe pouco familiar. Embora ambos sejam investidores de peso (e multi-bilionários) o modus operandi de cada um é bem particular e talvez esteja aí o grande valor do documentário da HBO, "Icahn: O Bilionário Incansável" - apresentar de uma forma simples e direta mais uma estratégia de investimento que ajudou a construir um mito - sim, Carl Icahn é um mito e você vai entender a razão nesse filme de um pouco mais de 90 minutos.
Como a própria sinopse oficial descreve, "Icahn: The Restless Billionaire" (no original) fornece acesso sem precedentes à visão do provocativo e franco financista bilionário, Carl Icahn, explorando as fascinantes contradições de um incansável investidor que acumulou cerca de US$ 20 bilhões ao longo do último meio século e que está na vanguarda de alguns dos negócios mais lendários de nossos tempos, como Apple, Netflix, entre outros. Confira o trailer (em inglês):
A trajetória de Icahn se confunde com a história do capitalismo americano e isso por si só já é um dos grandes motivos para você que gosta do assunto assistir esse documentário dirigido (e escrito) pelo Bruce David Klein. O diretor explora com maestria toda essa jornada, desde sua entrada no mercado financeiro (em 1961), passando por sua participação na aquisição hostil da TWA até criar a gestora de investimentos Icahn Enterprises onde Icahn ganhou fama e força no mercado na década de 90 graças ao seu estilo, digamos, pouco amistoso com os CEOs das empresas em que investia.
Icahn sempre foi um personagem interessante, vindo de uma família judia e de poucos recursos, ele entendeu que poderia ganhar muito dinheiro graças a sua enorme capacidade de aprendizado - do pôquer ao seu estilo de investir em empresas em queda na bolsa. É claro que sua personalidade impositiva (para ser educado) resultou em uma longa lista de disputas e animosidades - um dos casos mais marcantes de sua carreira foi uma discussão na TV, ao vivo, com o também investidor Bill Ackman, sobre a Herbalife - Ackman que recentemente comprou 1,1 bilhão de dólares de ações da Netflix (empresa que Icahn é o maior acionista).
O único assunto que na minha opinião faltou no documentário diz respeito a breve trajetória de Icahn na política. Também cercada de polêmicas e desentendimentos, seu posicionamento ganhou destaque mundial na eleição de 2016, época em que ele fez parte da chapa do presidente eleito Donald Trump.
O fato é que "Icahn: O Bilionário Incansável" é um retrato importante do desenvolvimento econômico dos EUA, pelos olhos de Wall Street. Sem abrir mão de explorar os fracassos do protagonista e de seu relacionamento com a esposa Gail, o documentário traz ótimos depoimentos (como de Bill Gates e de Andrew Ross Sorkin, roteirista de "Grande Demais para Quebrar" e "Billions"), imagens de arquivo (inclusive pessoais) e, claro, a presença do próprio Carl Icahn que analisa em retrospectiva passagens importantes da sua carreira de sucesso.
Vale muito a pena!
Cada episódio de "In Treatment" tem cerca de 24 minutos de duração e a história se desenvolve em um único cenário: o consultório do terapeuta Paul Weston (Gabriel Byrne). O roteiro dá série se desenvolve a partir das confissões e relatos de quatro pacientes em sessões individuais. Pode parecer cansativo, mas o roteiro é tão bem construído que é impossível não nos envolvermos com a história de cada um deles.
Na segunda, a paciente é a Laura (Melissa George) - ela é uma anestesiologista que que não consegue lidar de uma forma madura com seus relacionamentos, quase sempre todos muito conturbados. Alex (Blair Underwood) é o paciente da terça, ele é um piloto de caça, que sofreu um ataque cardíaco e que precisa de uma avaliação psicológica antes de voltar à ativa. Na quarta é a vez de Sophie (Mia Wasikowska), uma ginasta adolescente que sofreu um acidente de bicicleta e que agora precisa de um laudo médico antes de voltar a treinar e competir. Amy (Embeth Davidtz) e Jake (Josh Charles) são os pacientes de quinta, eles são casados e ela está grávida; a questão é que eles precisam de ajuda para decidir entre abortar ou não. Já na sexta é o próprio Weston que busca orientação profissional com uma espécie de mentora, Gina (Dianne Wiest).
Baseado no formato original “BeTipul” de Israel, a versão americana é boa e tem três temporadas que merecem ser assistidas, mas se prepare, pois só na primeira temporada são 43 episódios!
Como curiosidade fiz o exercício de assistir três versões disponíveis do formato. A versão argentina me pareceu a mais realista, sem pesar tanto no caricatura de cada personagem - me pareceu um texto melhor adaptado para cada um dos pacientes. Os atores ajudaram muito e a produção em si é tão boa quanto a americana - e isso é um elogio, pois estamos falando de HBO! Já a versão brasileira, eu achei muito sombria e faltou um pouco mais de cuidado no tom que os atores imprimiram em cena. Que fique claro que a versão não é ruim, pelo contrário, é muito boa; mas para o meu gosto a argentina ainda é melhor (pena que não está mais disponível na Netflix)!
É vital enfatizar a importância de um bom roteiro no sentido artístico e econômico do projeto. Artístico, pois o texto é facilmente adaptado em vários países, com suas realidades, particularidades e cultura - o que faz desse Formato um grande sucesso! “BeTipul” é, certamente, um dos maiores cases de globalização de um Formato de Ficção pela sua qualidade e, claro, criatividade! Econômico, pois como comentei acima, cada episódio tem apenas dois atores em cena e, praticamente, só uma locação (ou estúdio) - o que ajuda ainda mais a viabilizar o projeto. Costumo dizer que esse é o tipo de projeto que todo mundo quer fazer (ou criar) - é o bom e barato!
"In Treatment" vale a pena assistir, seja ela qualquer das versões. Aqui o foco é a americana, mas a versão brasileira também merece sua atenção.
Cada episódio de "In Treatment" tem cerca de 24 minutos de duração e a história se desenvolve em um único cenário: o consultório do terapeuta Paul Weston (Gabriel Byrne). O roteiro dá série se desenvolve a partir das confissões e relatos de quatro pacientes em sessões individuais. Pode parecer cansativo, mas o roteiro é tão bem construído que é impossível não nos envolvermos com a história de cada um deles.
Na segunda, a paciente é a Laura (Melissa George) - ela é uma anestesiologista que que não consegue lidar de uma forma madura com seus relacionamentos, quase sempre todos muito conturbados. Alex (Blair Underwood) é o paciente da terça, ele é um piloto de caça, que sofreu um ataque cardíaco e que precisa de uma avaliação psicológica antes de voltar à ativa. Na quarta é a vez de Sophie (Mia Wasikowska), uma ginasta adolescente que sofreu um acidente de bicicleta e que agora precisa de um laudo médico antes de voltar a treinar e competir. Amy (Embeth Davidtz) e Jake (Josh Charles) são os pacientes de quinta, eles são casados e ela está grávida; a questão é que eles precisam de ajuda para decidir entre abortar ou não. Já na sexta é o próprio Weston que busca orientação profissional com uma espécie de mentora, Gina (Dianne Wiest).
Baseado no formato original “BeTipul” de Israel, a versão americana é boa e tem três temporadas que merecem ser assistidas, mas se prepare, pois só na primeira temporada são 43 episódios!
Como curiosidade fiz o exercício de assistir três versões disponíveis do formato. A versão argentina me pareceu a mais realista, sem pesar tanto no caricatura de cada personagem - me pareceu um texto melhor adaptado para cada um dos pacientes. Os atores ajudaram muito e a produção em si é tão boa quanto a americana - e isso é um elogio, pois estamos falando de HBO! Já a versão brasileira, eu achei muito sombria e faltou um pouco mais de cuidado no tom que os atores imprimiram em cena. Que fique claro que a versão não é ruim, pelo contrário, é muito boa; mas para o meu gosto a argentina ainda é melhor (pena que não está mais disponível na Netflix)!
É vital enfatizar a importância de um bom roteiro no sentido artístico e econômico do projeto. Artístico, pois o texto é facilmente adaptado em vários países, com suas realidades, particularidades e cultura - o que faz desse Formato um grande sucesso! “BeTipul” é, certamente, um dos maiores cases de globalização de um Formato de Ficção pela sua qualidade e, claro, criatividade! Econômico, pois como comentei acima, cada episódio tem apenas dois atores em cena e, praticamente, só uma locação (ou estúdio) - o que ajuda ainda mais a viabilizar o projeto. Costumo dizer que esse é o tipo de projeto que todo mundo quer fazer (ou criar) - é o bom e barato!
"In Treatment" vale a pena assistir, seja ela qualquer das versões. Aqui o foco é a americana, mas a versão brasileira também merece sua atenção.
"Industry", co-produção da BBC com a HBO, está mais para "Billions" do que para "Succession", no entanto, e é preciso que se diga, essa característica menos "premium" acaba não exigindo muito da audiência, deixando a experiência muito mais próxima do entretenimento despretensioso do que se a narrativa fosse construída em cima de camadas mais profundas e com personagens mais complexos. O que eu quero dizer, é que a série criada pela Lena Dunham (de "Girls") é daquelas que vamos acompanhando sem a necessidade de maratonar ou ficar revisitando outros episódios para entender a trama como um todo - "Industry" é divertida por ser ágil e envolvente, mesmo dentro de sua superficialidade (lembram dos bons tempos de "How To Get Away With Murder" ou de "Suits"?).
Aqui somos apresentados a uma perspectiva única do competitivo setor financeiro de Londres. A trama acompanha um grupo de jovens recém-formados em busca de sucesso, dinheiro e reconhecimento em um prestigioso banco de investimentos, o Pierpoint. "Industry" mergulha no submundo corporativo, expondo os desafios enfrentados por esses jovens profissionais enquanto lidam com ambição, rivalidade e dilemas éticos do dia a dia. Confira o trailer:
Citar "How To Get Away With Murder" não foi por acaso, pois "Industry" é basicamente construída em cima de quatro personagens-chave, na faixa dos vinte e poucos anos, que estão buscando se estabelecer profissionalmente custe o que custar - como dito no próprio roteiro: "fazer parte dos 3% no topo da pirâmide, enquanto são temidos por todos". É nesse contexto que passamos a entender, mais ou menos no quarto episódio (não desista antes disso), como o texto deseja trabalhar a riqueza de seus personagens, mesmo que apoiado em alguns estereótipos. Cada um dos protagonistas representam uma classe muito bem definida - seja socialmente, politicamente e até na orientação sexual. Obviamente que essas características geram motivações pessoais mais complexas devido ao ambiente onde a história acontece e é justamente por isso que os dilemas profissionais passam a nos impactar, deixando a narrativa ainda mais divertida.
A série apresenta uma diversidade muito bem-vinda como conflito narrativo, abordando questões relevantes sobre inclusão e representatividade no ambiente corporativo, sem ser didática demais. A atmosfera do Pierpoint se propõe a ser "uma recriação mais realista possível" do mercado financeiro de Londres - e para quem gosta desse universo, fica fácil se conectar. Eu diria até que é como se estivéssemos assistindo uma série baseada no filme "O Clube dos Meninos Bilionários". Com o play você passa a mergulhar em uma cultura corporativa tóxica, destacando a pressão implacável e o ritmo frenético que define esse universo, além de oferecer um olhar atento sobre as relações no ambiente de trabalho, demonstrando como as ambições individuais podem se chocar em um canário tão competitivo.
"Industry" é entretenimento puro. Uma série que cativa mais pelos temas contemporâneos e pela atmosfera imersiva, do que pela profundidade de sua trama ou de seus personagens. Mesmo que inicialmente os assuntos e as relações soem desconexos, tudo vai se ajustando durante a primeira temporada e a entrega passa a ser bem satisfatória, para não dizer viciante! Tem muito sexo, drogas, abusos psicológicos, traições; mas sempre com aquela ideia mais fantasiosa de que se trata de uma ficção e não de um recorte especifico da vida real, certo?
Vale seu play!
"Industry", co-produção da BBC com a HBO, está mais para "Billions" do que para "Succession", no entanto, e é preciso que se diga, essa característica menos "premium" acaba não exigindo muito da audiência, deixando a experiência muito mais próxima do entretenimento despretensioso do que se a narrativa fosse construída em cima de camadas mais profundas e com personagens mais complexos. O que eu quero dizer, é que a série criada pela Lena Dunham (de "Girls") é daquelas que vamos acompanhando sem a necessidade de maratonar ou ficar revisitando outros episódios para entender a trama como um todo - "Industry" é divertida por ser ágil e envolvente, mesmo dentro de sua superficialidade (lembram dos bons tempos de "How To Get Away With Murder" ou de "Suits"?).
Aqui somos apresentados a uma perspectiva única do competitivo setor financeiro de Londres. A trama acompanha um grupo de jovens recém-formados em busca de sucesso, dinheiro e reconhecimento em um prestigioso banco de investimentos, o Pierpoint. "Industry" mergulha no submundo corporativo, expondo os desafios enfrentados por esses jovens profissionais enquanto lidam com ambição, rivalidade e dilemas éticos do dia a dia. Confira o trailer:
Citar "How To Get Away With Murder" não foi por acaso, pois "Industry" é basicamente construída em cima de quatro personagens-chave, na faixa dos vinte e poucos anos, que estão buscando se estabelecer profissionalmente custe o que custar - como dito no próprio roteiro: "fazer parte dos 3% no topo da pirâmide, enquanto são temidos por todos". É nesse contexto que passamos a entender, mais ou menos no quarto episódio (não desista antes disso), como o texto deseja trabalhar a riqueza de seus personagens, mesmo que apoiado em alguns estereótipos. Cada um dos protagonistas representam uma classe muito bem definida - seja socialmente, politicamente e até na orientação sexual. Obviamente que essas características geram motivações pessoais mais complexas devido ao ambiente onde a história acontece e é justamente por isso que os dilemas profissionais passam a nos impactar, deixando a narrativa ainda mais divertida.
A série apresenta uma diversidade muito bem-vinda como conflito narrativo, abordando questões relevantes sobre inclusão e representatividade no ambiente corporativo, sem ser didática demais. A atmosfera do Pierpoint se propõe a ser "uma recriação mais realista possível" do mercado financeiro de Londres - e para quem gosta desse universo, fica fácil se conectar. Eu diria até que é como se estivéssemos assistindo uma série baseada no filme "O Clube dos Meninos Bilionários". Com o play você passa a mergulhar em uma cultura corporativa tóxica, destacando a pressão implacável e o ritmo frenético que define esse universo, além de oferecer um olhar atento sobre as relações no ambiente de trabalho, demonstrando como as ambições individuais podem se chocar em um canário tão competitivo.
"Industry" é entretenimento puro. Uma série que cativa mais pelos temas contemporâneos e pela atmosfera imersiva, do que pela profundidade de sua trama ou de seus personagens. Mesmo que inicialmente os assuntos e as relações soem desconexos, tudo vai se ajustando durante a primeira temporada e a entrega passa a ser bem satisfatória, para não dizer viciante! Tem muito sexo, drogas, abusos psicológicos, traições; mas sempre com aquela ideia mais fantasiosa de que se trata de uma ficção e não de um recorte especifico da vida real, certo?
Vale seu play!
Apenas um público muito especifico vai se conectar com a minissérie "Irma Vep" - não porquê ela seja ruim, muito pelo contrário, ela é muito boa (com alguns críticos dizendo que ela é uma das melhores do ano, inclusive), mas também é inegável que seu conceito estético e narrativo tende a dificultar o entendimento e impacta diretamente nessa experiência metaliguística que discute os bastidores do cinema e como essa atmosfera interfere nas relações humanas. Eu diria que "Irma Vep" é uma mistura de "Um Lugar Qualquer" da Sofia Coppola com a versão da HBO de "Cenas de um Casamento"de Ingmar Bergman.
Em 8 episódiosacompanhamos Mira (Alicia Vikander), uma atriz norte-americana desiludida com os caminhos que sua vida amorosa e carreira tomaram. Quando surge uma oportunidade de ser a protagonista em uma minissérie para uma plataforma de streaming, ela viaja até a França para participar do remake do clássico "Les Vampires". Conforme vai se aprofundando no trabalho, Mira começa a notar comportamentos estranhos que não tinha antes e teme estar se tornando mais próxima de sua personagem do que gostaria. Confira o trailer:
Essa minissérie da A24 talvez seja a mais autoral e que mais tenha carregado naquele toque conceitual do cinema independente europeu que a HBO já produziu. Se inicialmente a trama parece separar perfeitamente o "real" da "fantasia", com o passar dos episódios essa distinção vai desaparecendo, criando uma linha narrativa cheia de camadas e que explora as diversas nuances de personagens que precisam lidar com seus fantasmas a cada novo desafio - profissional e pessoal.
Sim, "Irma Vep" é uma análise crítica sobre a indústria cinematográfica (e de seus atores, atrás e na frente das câmeras), porém são nas "entrelinhas" mais íntimas e fantasiosas que a história se aproveita da subjetividade para ganhar um certo charme. O diretor francês Oliver Assayas (de "Wasp - Rede de Espiões") repete a fórmula de seu premiado "Acima das Nuvens" para fazer um recorte quase auto-biográfico de quando dirigiu o homônimo clássico cult de 1996. Assayas usa dos personagens René (Vincent Macaigne) e Mira (Alicia Vikander) como porta-vozes de suas ideias e de sua visão de mundo - ambos cutucam o movimento "blockbuster" com a mesma elegância que criticam o mindset muitas vezes egocêntrico do cinema de arte europeu.
Mesmo com uma edição completamente fragmentada, o simbolismo e a busca por referências nunca se desalinham - quando falamos da "forma", visualmente, é muito claro quando ficção invade a realidade e quando o passado impacta o presente, porém é no "conteúdo", com diálogos muito bem desenvolvidos, que até os personagens mais estereotipados (como ao excêntrico ator alemão Gottfried de Lars Eidinger) ganham humanidade. Talvez essa quebra de expectativas perante uma história propositalmente "sem pé nem cabeça" e que pouco respeita a linha temporal, afaste a "audiência HBO", mas é impossível não elogiar a criatividade de Assayas e como ele criou uma dinâmica que sabe exatamente "onde" e "quem" provocar.
Olha, vale muito a pena, mas é preciso estar disposto a mergulhar em uma proposta pouco usual e que vai exigir uma reflexão que vai muito além do que assistimos na tela.
Apenas um público muito especifico vai se conectar com a minissérie "Irma Vep" - não porquê ela seja ruim, muito pelo contrário, ela é muito boa (com alguns críticos dizendo que ela é uma das melhores do ano, inclusive), mas também é inegável que seu conceito estético e narrativo tende a dificultar o entendimento e impacta diretamente nessa experiência metaliguística que discute os bastidores do cinema e como essa atmosfera interfere nas relações humanas. Eu diria que "Irma Vep" é uma mistura de "Um Lugar Qualquer" da Sofia Coppola com a versão da HBO de "Cenas de um Casamento"de Ingmar Bergman.
Em 8 episódiosacompanhamos Mira (Alicia Vikander), uma atriz norte-americana desiludida com os caminhos que sua vida amorosa e carreira tomaram. Quando surge uma oportunidade de ser a protagonista em uma minissérie para uma plataforma de streaming, ela viaja até a França para participar do remake do clássico "Les Vampires". Conforme vai se aprofundando no trabalho, Mira começa a notar comportamentos estranhos que não tinha antes e teme estar se tornando mais próxima de sua personagem do que gostaria. Confira o trailer:
Essa minissérie da A24 talvez seja a mais autoral e que mais tenha carregado naquele toque conceitual do cinema independente europeu que a HBO já produziu. Se inicialmente a trama parece separar perfeitamente o "real" da "fantasia", com o passar dos episódios essa distinção vai desaparecendo, criando uma linha narrativa cheia de camadas e que explora as diversas nuances de personagens que precisam lidar com seus fantasmas a cada novo desafio - profissional e pessoal.
Sim, "Irma Vep" é uma análise crítica sobre a indústria cinematográfica (e de seus atores, atrás e na frente das câmeras), porém são nas "entrelinhas" mais íntimas e fantasiosas que a história se aproveita da subjetividade para ganhar um certo charme. O diretor francês Oliver Assayas (de "Wasp - Rede de Espiões") repete a fórmula de seu premiado "Acima das Nuvens" para fazer um recorte quase auto-biográfico de quando dirigiu o homônimo clássico cult de 1996. Assayas usa dos personagens René (Vincent Macaigne) e Mira (Alicia Vikander) como porta-vozes de suas ideias e de sua visão de mundo - ambos cutucam o movimento "blockbuster" com a mesma elegância que criticam o mindset muitas vezes egocêntrico do cinema de arte europeu.
Mesmo com uma edição completamente fragmentada, o simbolismo e a busca por referências nunca se desalinham - quando falamos da "forma", visualmente, é muito claro quando ficção invade a realidade e quando o passado impacta o presente, porém é no "conteúdo", com diálogos muito bem desenvolvidos, que até os personagens mais estereotipados (como ao excêntrico ator alemão Gottfried de Lars Eidinger) ganham humanidade. Talvez essa quebra de expectativas perante uma história propositalmente "sem pé nem cabeça" e que pouco respeita a linha temporal, afaste a "audiência HBO", mas é impossível não elogiar a criatividade de Assayas e como ele criou uma dinâmica que sabe exatamente "onde" e "quem" provocar.
Olha, vale muito a pena, mas é preciso estar disposto a mergulhar em uma proposta pouco usual e que vai exigir uma reflexão que vai muito além do que assistimos na tela.
Essa era uma história que merecia ser contada e digo mais: você vai se surpreender com sua força! "Joika: Uma Americana no Bolshoi" é, de fato, uma jornada inspiradora de paixão e de superação que nos conquista logo de cara. O desconhecido diretor e roteirista James Napier Robertson (da elogiada "Whina") mostra muito talento e competência ao contar a história real de Joy Womack, uma bailarina americana que desafiou inúmeras barreiras culturais para se tornar a primeira americana a se apresentar no prestigiado Ballet Bolshoi. Narrada com uma sensibilidade impressionante e fotografada com um realismo visceral, "The American" (no original) merece demais a sua a atenção, especialmente se você se identifica com filmes como "Cisne Negro", "Birds of Paradise" e até com o georgiano, "E então nós dançamos"! Vale dizer que essa produção conquistou o prêmio de Melhor Filme no Festival de Cinema de Milão, além do prêmio da audiência no Palm Springs International Film Festival em 2024.
Basicamente, o filme segue Joy (Talia Ryder), uma prodígio do balé que aspira se tornar a Prima Ballerina da Academia Bolshoi de Moscou. Aos quinze anos, ela se muda para a Rússia, apoiada pelos pais, com a esperança de ser aceita na prestigiada academia. No entanto, ela rapidamente se depara com a hostilidade de suas colegas e de uma severa diretora, Tatiyana Volkova (Diane Kruger), que constantemente a chama pejorativamente de “a americana”. Determinada a provar seu valor, independente de seu país de origem, Joy enfrenta desafios físicos e emocionais enquanto luta para conquistar seu lugar de destaque na história do balé mundial. Confira o trailer (em inglês):
Naturalmente já é possível imaginar que "Joika" é um mergulha na realidade implacável dessa arte tão exigente e cheia de tradição. A pressão constante pela excelência, a disciplina draconiana e as privações físicas e emocionais são retratadas com uma honestidade brutal no filme que olha, se tem uma coisa que Robertson não faz, é nos poupar do lado sombrio da busca pela perfeição como manifestação artística Sensível e precisa, a direção nos conduzi por uma história recheada de ritmo e emoção que não cai na tentação de cortar caminhos para encontrar a conexão com a audiência. É claro que o drama está lá desde o primeiro ato, mas a forma como o roteiro vai construindo a jornada nos entrega uma série de sensações muito particulares - veja, se em "Cisne Negro" Aronofsky brinca com nossa percepção da realidade, aqui, é justamente a realidade que nos mantém angustiado até os créditos subirem.
Além da qualidade artística da direção, alguns elementos técnicos merecem destaque - a já citada fotografia é uma delas. Assinada pelo polonês Tomasz Naumiuk (de "Rastros"), a fotografia captura a beleza e a melancolia da vida na Rússia, utilizando tons frios e contrastes marcantes para criar uma atmosfera tão imersiva quanto desconfortável - algo como vimos em "O Gambito da Rainha". Já a trilha sonora composta por Dana Lund (de "The Dark Horse") transita entre melodias depressivas e outras inspiradoras acompanhando perfeitamente a jornada de Joy, intensificando as emoções, elevando a experiência e nos aproximando dos grandes clássicos do balé. Sobre o elenco, Talia Ryder entrega uma performance de tirar o fôlego - a melhor de sua carreira. Sua atuação captura a força, a determinação e a vulnerabilidade da personagem com maestria - seu domínio físico é impressionante, traduzindo em cada movimento sua paixão e a sua dor. Diane Kruger também brilha - imponente e intimidadora, mas com nuances de fragilidade, a atriz entrega uma personagem tão complexa e humana que eu diria ser "uma personificação das contradições do mundo do balé".
Mesmo que tenha surgido timidamente, "Joika: Uma Americana no Bolshoi" é sim um filme imperdível - especialmente para aqueles que buscam dramas inspiradores, histórias reais e atuações memoráveis. É um convite para entendermos as nuances da arte pela perspectiva da paixão avassaladora, da força e da resiliência como fator primordial do espírito humano. Entretenimento, mas inteligente na sua essência, saiba que você vai se emocionar, vai se inspirar e até refletir sobre o valor de acreditar em um sonho, sem aquela conotação piegas, de buscar a excelência e de encontrar na superação, os próprios limites.
Vale muito o seu play!
Essa era uma história que merecia ser contada e digo mais: você vai se surpreender com sua força! "Joika: Uma Americana no Bolshoi" é, de fato, uma jornada inspiradora de paixão e de superação que nos conquista logo de cara. O desconhecido diretor e roteirista James Napier Robertson (da elogiada "Whina") mostra muito talento e competência ao contar a história real de Joy Womack, uma bailarina americana que desafiou inúmeras barreiras culturais para se tornar a primeira americana a se apresentar no prestigiado Ballet Bolshoi. Narrada com uma sensibilidade impressionante e fotografada com um realismo visceral, "The American" (no original) merece demais a sua a atenção, especialmente se você se identifica com filmes como "Cisne Negro", "Birds of Paradise" e até com o georgiano, "E então nós dançamos"! Vale dizer que essa produção conquistou o prêmio de Melhor Filme no Festival de Cinema de Milão, além do prêmio da audiência no Palm Springs International Film Festival em 2024.
Basicamente, o filme segue Joy (Talia Ryder), uma prodígio do balé que aspira se tornar a Prima Ballerina da Academia Bolshoi de Moscou. Aos quinze anos, ela se muda para a Rússia, apoiada pelos pais, com a esperança de ser aceita na prestigiada academia. No entanto, ela rapidamente se depara com a hostilidade de suas colegas e de uma severa diretora, Tatiyana Volkova (Diane Kruger), que constantemente a chama pejorativamente de “a americana”. Determinada a provar seu valor, independente de seu país de origem, Joy enfrenta desafios físicos e emocionais enquanto luta para conquistar seu lugar de destaque na história do balé mundial. Confira o trailer (em inglês):
Naturalmente já é possível imaginar que "Joika" é um mergulha na realidade implacável dessa arte tão exigente e cheia de tradição. A pressão constante pela excelência, a disciplina draconiana e as privações físicas e emocionais são retratadas com uma honestidade brutal no filme que olha, se tem uma coisa que Robertson não faz, é nos poupar do lado sombrio da busca pela perfeição como manifestação artística Sensível e precisa, a direção nos conduzi por uma história recheada de ritmo e emoção que não cai na tentação de cortar caminhos para encontrar a conexão com a audiência. É claro que o drama está lá desde o primeiro ato, mas a forma como o roteiro vai construindo a jornada nos entrega uma série de sensações muito particulares - veja, se em "Cisne Negro" Aronofsky brinca com nossa percepção da realidade, aqui, é justamente a realidade que nos mantém angustiado até os créditos subirem.
Além da qualidade artística da direção, alguns elementos técnicos merecem destaque - a já citada fotografia é uma delas. Assinada pelo polonês Tomasz Naumiuk (de "Rastros"), a fotografia captura a beleza e a melancolia da vida na Rússia, utilizando tons frios e contrastes marcantes para criar uma atmosfera tão imersiva quanto desconfortável - algo como vimos em "O Gambito da Rainha". Já a trilha sonora composta por Dana Lund (de "The Dark Horse") transita entre melodias depressivas e outras inspiradoras acompanhando perfeitamente a jornada de Joy, intensificando as emoções, elevando a experiência e nos aproximando dos grandes clássicos do balé. Sobre o elenco, Talia Ryder entrega uma performance de tirar o fôlego - a melhor de sua carreira. Sua atuação captura a força, a determinação e a vulnerabilidade da personagem com maestria - seu domínio físico é impressionante, traduzindo em cada movimento sua paixão e a sua dor. Diane Kruger também brilha - imponente e intimidadora, mas com nuances de fragilidade, a atriz entrega uma personagem tão complexa e humana que eu diria ser "uma personificação das contradições do mundo do balé".
Mesmo que tenha surgido timidamente, "Joika: Uma Americana no Bolshoi" é sim um filme imperdível - especialmente para aqueles que buscam dramas inspiradores, histórias reais e atuações memoráveis. É um convite para entendermos as nuances da arte pela perspectiva da paixão avassaladora, da força e da resiliência como fator primordial do espírito humano. Entretenimento, mas inteligente na sua essência, saiba que você vai se emocionar, vai se inspirar e até refletir sobre o valor de acreditar em um sonho, sem aquela conotação piegas, de buscar a excelência e de encontrar na superação, os próprios limites.
Vale muito o seu play!
Se você gostou da série "Small Axe"e se identificou com a trama de "Os 7 de Chicago" ou de "Seberg", pode dar o play em "Judas e o Messias Negro" sem o menor medo de errar. Primeiro por se tratar do mesmo tema - a luta dos Panteras Negras e sua relação com o movimento dos direitos civis; e segundo por ser um filme simplesmente sensacional, um dos melhores do ano - inclusive indicado ao Oscar em 6 categorias.
Fred Hampton (Daniel Kaluuya) foi um ativista norte-americano taxado como uma grande ameaça pelo governo e pelo FBI. Presidente do Partido dos Panteras Negras em Chicago, dono de uma excelente oratória e de forte presença, o jovem foi considerado um dos responsáveis (ao lado de Bobby Seale e Huey P. Newton) pela luta dos direitos dos negros nos EUA pós-Martin Luther King. É quando William O’Neal (LaKeith Stanfield) acaba sendo obrigado pelo agente Roy Mitchell (Jesse Plemons) a se tornar um informante do FBI e se infiltrar no Partido com a tarefa de vigiar seu carismático líder em troca de liberdade por um crime que havia cometido. Acontece que a ligação entre eles vai se tornando cada vez mais especial, e o que parecia um missão relativamente tranquila, se torna um fantasma cada vez mais presente. Confira o trailer:
Muito bem dirigido por Shaka King, narrar a história real de uma figura tão particular como Fred Hampton, em um momento onde o tema "direitos civis" era facilmente encontrado em tantas produções de qualidade, por si só já trazia um enorme desafio para o Diretor. Não transformar "Judas e o Messias Negro" em uma outra versão de uma história que já havia sido contada, fez com que King mergulhasse nos questionamentos sobre os conflitos mais internos de um homem que não tinha para onde fugir - e é aqui que o elenco começa a se destacar, pois além de um Daniel Kaluuya impecável, LaKeith Stanfield direciona a narrativa para camadas muito mais interessantes que simplesmente o sentimento da raiva que temos ao ver a intensa brutalidade policial que se instaurou em solo norte-americano na década de 60.
A tensão de "Judas e o Messias Negro" é constante e incrivelmente amplificada por uma eletrizante trilha sonora de Mark Isham e Craig Harris. O plano-sequência inicial é um bom exemplo do que o filme vai nos provocar: nele acompanhamos o roubo de um carro logo depois de uma falsa apreensão feita por O’Neal em um bar frequentado exclusivamente por negros. O diretor usa de enquadramentos que ocultam o rosto do personagem para demonstrar como o simbolismo está presente em muitas passagens do roteiro: ali os desejos materiais simplesmente distorcem a essência do personagem e nos prepara para o que virá a seguir, mas sem precisar explicar demais.
Tecnicamente perfeito, o filme equilibra perfeitamente a luta diária dos Panteras Negras com as imperfeições de seus integrantes sem estereotipar nenhum personagem. O que vemos na tela é uma versão humana, quase documental, de todos os envolvidos naquela atmosfera de terror de Chicago. Veja, quando somos incapazes de julgar algumas atitudes depois de entender suas motivações, fica claro que a história tem muito mais a nos contar do que um pré-conceito estabelecido por posicionamento social ou politico. "Judas e o Messias Negro" é isso: uma aula de cinema, mas também de sensibilidade narrativa onde todo o elenco soube aproveitar muito bem esse presente de King.
Vale muito a pena!
Up-date: "Judas e o Messias Negro" ganhou em duas das seis categorias que disputou no Oscar 2021: Melhor Ator e Melhor Canção!
Se você gostou da série "Small Axe"e se identificou com a trama de "Os 7 de Chicago" ou de "Seberg", pode dar o play em "Judas e o Messias Negro" sem o menor medo de errar. Primeiro por se tratar do mesmo tema - a luta dos Panteras Negras e sua relação com o movimento dos direitos civis; e segundo por ser um filme simplesmente sensacional, um dos melhores do ano - inclusive indicado ao Oscar em 6 categorias.
Fred Hampton (Daniel Kaluuya) foi um ativista norte-americano taxado como uma grande ameaça pelo governo e pelo FBI. Presidente do Partido dos Panteras Negras em Chicago, dono de uma excelente oratória e de forte presença, o jovem foi considerado um dos responsáveis (ao lado de Bobby Seale e Huey P. Newton) pela luta dos direitos dos negros nos EUA pós-Martin Luther King. É quando William O’Neal (LaKeith Stanfield) acaba sendo obrigado pelo agente Roy Mitchell (Jesse Plemons) a se tornar um informante do FBI e se infiltrar no Partido com a tarefa de vigiar seu carismático líder em troca de liberdade por um crime que havia cometido. Acontece que a ligação entre eles vai se tornando cada vez mais especial, e o que parecia um missão relativamente tranquila, se torna um fantasma cada vez mais presente. Confira o trailer:
Muito bem dirigido por Shaka King, narrar a história real de uma figura tão particular como Fred Hampton, em um momento onde o tema "direitos civis" era facilmente encontrado em tantas produções de qualidade, por si só já trazia um enorme desafio para o Diretor. Não transformar "Judas e o Messias Negro" em uma outra versão de uma história que já havia sido contada, fez com que King mergulhasse nos questionamentos sobre os conflitos mais internos de um homem que não tinha para onde fugir - e é aqui que o elenco começa a se destacar, pois além de um Daniel Kaluuya impecável, LaKeith Stanfield direciona a narrativa para camadas muito mais interessantes que simplesmente o sentimento da raiva que temos ao ver a intensa brutalidade policial que se instaurou em solo norte-americano na década de 60.
A tensão de "Judas e o Messias Negro" é constante e incrivelmente amplificada por uma eletrizante trilha sonora de Mark Isham e Craig Harris. O plano-sequência inicial é um bom exemplo do que o filme vai nos provocar: nele acompanhamos o roubo de um carro logo depois de uma falsa apreensão feita por O’Neal em um bar frequentado exclusivamente por negros. O diretor usa de enquadramentos que ocultam o rosto do personagem para demonstrar como o simbolismo está presente em muitas passagens do roteiro: ali os desejos materiais simplesmente distorcem a essência do personagem e nos prepara para o que virá a seguir, mas sem precisar explicar demais.
Tecnicamente perfeito, o filme equilibra perfeitamente a luta diária dos Panteras Negras com as imperfeições de seus integrantes sem estereotipar nenhum personagem. O que vemos na tela é uma versão humana, quase documental, de todos os envolvidos naquela atmosfera de terror de Chicago. Veja, quando somos incapazes de julgar algumas atitudes depois de entender suas motivações, fica claro que a história tem muito mais a nos contar do que um pré-conceito estabelecido por posicionamento social ou politico. "Judas e o Messias Negro" é isso: uma aula de cinema, mas também de sensibilidade narrativa onde todo o elenco soube aproveitar muito bem esse presente de King.
Vale muito a pena!
Up-date: "Judas e o Messias Negro" ganhou em duas das seis categorias que disputou no Oscar 2021: Melhor Ator e Melhor Canção!
Um filme que tem o propósito de conectar a importância da música como obra que impacta a vida das pessoas com uma narrativa cativante e uma leve pitada de comédia romântica - assim é o pouco comentado "Juliet, Nua e Crua". Dirigido pelo Jesse Peretz (o mesmo de "Alta Fidelidade" e "Orange is the New Black"), esse filme de 2018 é muito sagaz em trazer personagens recheados de problemas existenciais que impactam diretamente em seus relacionamentos, se apropriando de uma certa imaturidade para justificar a busca por uma condição de vida mais, digamos, independente. Em uma obra que mistura o drama com a comédia e o romance, eu diria que aqui nos colocamos em uma boa, mas cinzenta, posição de fãs que amaram desde "Once: Apenas Uma Vez" até "Um Lugar Chamado Notting Hill".
"Juliet, Nua e Crua" nos apresenta Annie Platt (Rose Byrne), uma mulher que vive em uma pequena cidade da Inglaterra e que se sente presa em seu relacionamento desgastado e monótono com Duncan Thomson (Chris O'Dowd), um professor de cinema que é obcecado por Tucker Crowe (Ethan Hawke), um cantor aposentado, sucesso de "um hit só", que há muito tempo vive recluso em algum lugar dos EUA. Quando uma versão "nua e crua" do álbum de Tucker Crowe, "Juliet", é finalmente encontrada, Annie critica a obra no blog de seu marido para provocá-lo, porém é justamente esse texto que a leva para uma inesperada conexão com o próprio Crowe, desencadeando uma jornada de autodescoberta que impacta sua vida para sempre. Confira o trailer:
Reconhecida mundialmente por ser de alto teor intelectual, a comédia sobre relações britânica é realmente cativante pela maneira como explora as complexidades dos encontros e desencontros na vida de uma pessoa. Em "Juliet, Nua e Crua", mais uma história criada pelo Nick Hornby (indicado para dois Oscars por "Educação" e "Brooklyn"), o que vemos é um filme que engana pela simplicidade e traz em seu subtexto uma série de provocações sobre atitudes e suas consequências ao longo da vida. É aqui que a fotografia do também indicado ao Oscar, Remi Adefarasin (de "Elizabeth") brilha - ele habilmente captura a atmosfera melancólica de uma cidade costeira, pela perspectiva de quem sofre com aquela "mesmice".
Ao adicionarmos dois nomes talentosos nesse contexto, entendemos exatamente onde o diretor Jesse Peretz quer nos levar. São eles Rose Byrne e Ethan Hawke. Começando por Byrne, temos uma performance profunda e contida (raro para o gênero) que nos toca de verdade - as lutas e transformações de sua personagem são convincentes pela dor, pela esperança e pela disponibilidade de encontrar a felicidade depois de tanto tempo. O reencontro de Annie e Duncan já no final do terceiro ato diz muito sobre o tom dessa descoberta. Já Ethan Hawke, um homem de meia idade que tenta desesperadamente consertar seu passado e se reconectar com a vida através do amor pelo seu filho mais novo, olha, é de aplaudir de pé. Não se enganem pelas situações absurdas que Tucker se envolve, sua jornada tem muito mais camadas que os diálogos seriam capazes de entregar.
Peretz alcança o equilíbrio inteligente entre a comédia e o drama. A trilha sonora, centrada nas músicas fictícias de Tucker Crowe, também adiciona uma dimensão única para o filme. Mas sugiro que você repare mesmo é em como as letras e melodias refletem exatamente as emoções dos personagens e evocam uma conexão genuína com quem assiste - isso é brilhante. Aliás, “Juliet Naked” (no original), mesmo sendo uma jornada emocionante, autêntica e que pode ressoar em qualquer pessoa que já tenha se sentido presa em sua própria vida, não será uma unanimidade. Digo isso, pois essa celebração da música e dos encontros inesperados que podem transformar nossas vidas, depende muito do humor como você as recebe, então saiba que mesmo parecendo um "água com açúcar", o filme pode te surpreender indo muito além no seu íntimo!
Essa é uma história para rir, se emocionar e se apaixonar pela sinceridade e charme, por isso vale seu play!
Um filme que tem o propósito de conectar a importância da música como obra que impacta a vida das pessoas com uma narrativa cativante e uma leve pitada de comédia romântica - assim é o pouco comentado "Juliet, Nua e Crua". Dirigido pelo Jesse Peretz (o mesmo de "Alta Fidelidade" e "Orange is the New Black"), esse filme de 2018 é muito sagaz em trazer personagens recheados de problemas existenciais que impactam diretamente em seus relacionamentos, se apropriando de uma certa imaturidade para justificar a busca por uma condição de vida mais, digamos, independente. Em uma obra que mistura o drama com a comédia e o romance, eu diria que aqui nos colocamos em uma boa, mas cinzenta, posição de fãs que amaram desde "Once: Apenas Uma Vez" até "Um Lugar Chamado Notting Hill".
"Juliet, Nua e Crua" nos apresenta Annie Platt (Rose Byrne), uma mulher que vive em uma pequena cidade da Inglaterra e que se sente presa em seu relacionamento desgastado e monótono com Duncan Thomson (Chris O'Dowd), um professor de cinema que é obcecado por Tucker Crowe (Ethan Hawke), um cantor aposentado, sucesso de "um hit só", que há muito tempo vive recluso em algum lugar dos EUA. Quando uma versão "nua e crua" do álbum de Tucker Crowe, "Juliet", é finalmente encontrada, Annie critica a obra no blog de seu marido para provocá-lo, porém é justamente esse texto que a leva para uma inesperada conexão com o próprio Crowe, desencadeando uma jornada de autodescoberta que impacta sua vida para sempre. Confira o trailer:
Reconhecida mundialmente por ser de alto teor intelectual, a comédia sobre relações britânica é realmente cativante pela maneira como explora as complexidades dos encontros e desencontros na vida de uma pessoa. Em "Juliet, Nua e Crua", mais uma história criada pelo Nick Hornby (indicado para dois Oscars por "Educação" e "Brooklyn"), o que vemos é um filme que engana pela simplicidade e traz em seu subtexto uma série de provocações sobre atitudes e suas consequências ao longo da vida. É aqui que a fotografia do também indicado ao Oscar, Remi Adefarasin (de "Elizabeth") brilha - ele habilmente captura a atmosfera melancólica de uma cidade costeira, pela perspectiva de quem sofre com aquela "mesmice".
Ao adicionarmos dois nomes talentosos nesse contexto, entendemos exatamente onde o diretor Jesse Peretz quer nos levar. São eles Rose Byrne e Ethan Hawke. Começando por Byrne, temos uma performance profunda e contida (raro para o gênero) que nos toca de verdade - as lutas e transformações de sua personagem são convincentes pela dor, pela esperança e pela disponibilidade de encontrar a felicidade depois de tanto tempo. O reencontro de Annie e Duncan já no final do terceiro ato diz muito sobre o tom dessa descoberta. Já Ethan Hawke, um homem de meia idade que tenta desesperadamente consertar seu passado e se reconectar com a vida através do amor pelo seu filho mais novo, olha, é de aplaudir de pé. Não se enganem pelas situações absurdas que Tucker se envolve, sua jornada tem muito mais camadas que os diálogos seriam capazes de entregar.
Peretz alcança o equilíbrio inteligente entre a comédia e o drama. A trilha sonora, centrada nas músicas fictícias de Tucker Crowe, também adiciona uma dimensão única para o filme. Mas sugiro que você repare mesmo é em como as letras e melodias refletem exatamente as emoções dos personagens e evocam uma conexão genuína com quem assiste - isso é brilhante. Aliás, “Juliet Naked” (no original), mesmo sendo uma jornada emocionante, autêntica e que pode ressoar em qualquer pessoa que já tenha se sentido presa em sua própria vida, não será uma unanimidade. Digo isso, pois essa celebração da música e dos encontros inesperados que podem transformar nossas vidas, depende muito do humor como você as recebe, então saiba que mesmo parecendo um "água com açúcar", o filme pode te surpreender indo muito além no seu íntimo!
Essa é uma história para rir, se emocionar e se apaixonar pela sinceridade e charme, por isso vale seu play!
Não é um filme de respostas fáceis, já que a magia de "Jurado #2" está justamente nas implicações morais do que não é dito! Chancelado como o possível último filme dirigido por Clint Eastwood, essa é uma obra que une o estilo clássico do diretor com uma narrativa contemporânea carregada de tensão que claramente parte de uma gramática de suspense psicológico para contar sua história. Com um roteiro do estreante Jonathan Abrams, "Juror #2", no original, não é criativo na sua essência, mas sim na sua forma de explorar a complexidade das escolhas humanas, de uma luta interna entre culpa e dever e do peso de ter que tomar uma decisão que pode impactar muitas vidas, inclusive a de uma nova família. Dada as devidas proporções, "Jurado #2" traz muito do episódio piloto de "Your Honor" ou de "Capital Humano", ao usar de uma situação pontual para criar um campo de batalha ético, desafiando a audiência a questionar seus próprios valores e julgamentos a todo momento.
A trama acompanha Justin Kemp (Nicholas Hoult), um jovem pai que é convocado como jurado para um julgamento de um possível assassinato. Inicialmente um participante passivo no processo, Justin percebe que ele mesmo pode estar conectado ao crime, sendo potencialmente o maior culpado. Enquanto o julgamento avança, ele enfrenta um dilema devastador: revelar sua culpa e comprometer sua família ou usar sua posição como jurado para influenciar o resultado do julgamento ao seu favor. A narrativa, marcada por tensão crescente e dilemas morais impressionantes, tece uma rede de segredos e revelações que culminam em uma conclusão, de fato, impactante. Confira o trailer:
Clint Eastwood, aos 93 anos, demonstra mais uma vez sua maestria como diretor, criando uma atmosfera de angustia constante sem recorrer a exageros ou atalhos. Seu estilo econômico de um diretor focado na performance dos atores dá ao filme uma autenticidade que realmente o diferencia de outros thrillers jurídicos. Eastwood utiliza o tribunal não apenas como cenário, mas como um microcosmo para explorar temas mais sensíveis como justiça e responsabilidade pela perspectiva do impacto das escolhas individuais em uma comunidade que parece já ter suas respostas sem antes discutir o problema. Nesse sentido, o roteiro de Abrams é habilmente estruturado, alternando entre o drama do julgamento e os conflitos internos de Justin. Os diálogos são ótimos, e o desenvolvimento dos personagens é suficientemente detalhado para garantir que cada figura no tribunal tenha uma presença marcante dentro de um mesmo contexto, enriquecendo o conflito emocional e narrativo do filme. Veja, "Jurado #2" tem uma dinâmica que equilibra o suspense de um thriller com a profundidade de um drama bastante sensorial, trocando os clichês por uma abordagem mais reflexiva - e funciona!
Nicholas Hoult, mais uma vez, oferece uma performance poderosa como Justin, capturando com intensidade o conflito interno de um homem de caráter (mas cheio de marcas da vida) que se encontra em uma posição insustentável. Sua atuação mostra as fraquezas pontuais de seu personagem, permitindo que a audiência se conecte com sua luta moral sem julgamentos pré-estabelecidos. Toni Collette, como a promotora egocêntrica do caso, Faith Killebrew, entrega uma jornada forte e incisiva, adicionando camadas importantes ao lado político da história, contribuindo para a autenticidade e para a tensão do filme - com um certo toque de arrogância, claro, mas sem deixar de ser empática.
Tecnicamente, "Jurado #2" é impecável. A fotografia do craque Yves Bélange (de "A Chegada") enfatiza o ambiente claustrofóbico do tribunal, utilizando luz e sombra para refletir a tensão emocional e moral dos personagens - uma extensão dos flashbacks do dia do crime, inclusive. Já nas cenas externas, que exploram a vida pessoal de Justin, Bélange procura criar um contraste visual que reforça a dualidade entre uma postura pública e uma outra mais íntima do protagonista - isso intensifica o suspense e apoia a proposta narrativa de Eastwood, mas sem sobrecarregá-la. Agora também é preciso que se diga: embora notável, alguns podem sentir que o ritmo "Jurado #2" soe mais lento e introspectivo do que o normal - não foi o meu caso, mas realmente esse ponto divide opiniões.
Dito isso, posso te garantir que aqui a história é moralmente complexa, com performances marcantes e uma direção precisa. Esse é um filme que nos desafia a refletir sobre os limites da justiça e dos dilemas éticos que moldam nossas vidas - mais ou menos como "Tempo de Matar" fez em 1996. Então esteja preparado para uma experiência cinematográfica que é ao mesmo tempo emocionante e profundamente provocadora. Vale demais!
Não é um filme de respostas fáceis, já que a magia de "Jurado #2" está justamente nas implicações morais do que não é dito! Chancelado como o possível último filme dirigido por Clint Eastwood, essa é uma obra que une o estilo clássico do diretor com uma narrativa contemporânea carregada de tensão que claramente parte de uma gramática de suspense psicológico para contar sua história. Com um roteiro do estreante Jonathan Abrams, "Juror #2", no original, não é criativo na sua essência, mas sim na sua forma de explorar a complexidade das escolhas humanas, de uma luta interna entre culpa e dever e do peso de ter que tomar uma decisão que pode impactar muitas vidas, inclusive a de uma nova família. Dada as devidas proporções, "Jurado #2" traz muito do episódio piloto de "Your Honor" ou de "Capital Humano", ao usar de uma situação pontual para criar um campo de batalha ético, desafiando a audiência a questionar seus próprios valores e julgamentos a todo momento.
A trama acompanha Justin Kemp (Nicholas Hoult), um jovem pai que é convocado como jurado para um julgamento de um possível assassinato. Inicialmente um participante passivo no processo, Justin percebe que ele mesmo pode estar conectado ao crime, sendo potencialmente o maior culpado. Enquanto o julgamento avança, ele enfrenta um dilema devastador: revelar sua culpa e comprometer sua família ou usar sua posição como jurado para influenciar o resultado do julgamento ao seu favor. A narrativa, marcada por tensão crescente e dilemas morais impressionantes, tece uma rede de segredos e revelações que culminam em uma conclusão, de fato, impactante. Confira o trailer:
Clint Eastwood, aos 93 anos, demonstra mais uma vez sua maestria como diretor, criando uma atmosfera de angustia constante sem recorrer a exageros ou atalhos. Seu estilo econômico de um diretor focado na performance dos atores dá ao filme uma autenticidade que realmente o diferencia de outros thrillers jurídicos. Eastwood utiliza o tribunal não apenas como cenário, mas como um microcosmo para explorar temas mais sensíveis como justiça e responsabilidade pela perspectiva do impacto das escolhas individuais em uma comunidade que parece já ter suas respostas sem antes discutir o problema. Nesse sentido, o roteiro de Abrams é habilmente estruturado, alternando entre o drama do julgamento e os conflitos internos de Justin. Os diálogos são ótimos, e o desenvolvimento dos personagens é suficientemente detalhado para garantir que cada figura no tribunal tenha uma presença marcante dentro de um mesmo contexto, enriquecendo o conflito emocional e narrativo do filme. Veja, "Jurado #2" tem uma dinâmica que equilibra o suspense de um thriller com a profundidade de um drama bastante sensorial, trocando os clichês por uma abordagem mais reflexiva - e funciona!
Nicholas Hoult, mais uma vez, oferece uma performance poderosa como Justin, capturando com intensidade o conflito interno de um homem de caráter (mas cheio de marcas da vida) que se encontra em uma posição insustentável. Sua atuação mostra as fraquezas pontuais de seu personagem, permitindo que a audiência se conecte com sua luta moral sem julgamentos pré-estabelecidos. Toni Collette, como a promotora egocêntrica do caso, Faith Killebrew, entrega uma jornada forte e incisiva, adicionando camadas importantes ao lado político da história, contribuindo para a autenticidade e para a tensão do filme - com um certo toque de arrogância, claro, mas sem deixar de ser empática.
Tecnicamente, "Jurado #2" é impecável. A fotografia do craque Yves Bélange (de "A Chegada") enfatiza o ambiente claustrofóbico do tribunal, utilizando luz e sombra para refletir a tensão emocional e moral dos personagens - uma extensão dos flashbacks do dia do crime, inclusive. Já nas cenas externas, que exploram a vida pessoal de Justin, Bélange procura criar um contraste visual que reforça a dualidade entre uma postura pública e uma outra mais íntima do protagonista - isso intensifica o suspense e apoia a proposta narrativa de Eastwood, mas sem sobrecarregá-la. Agora também é preciso que se diga: embora notável, alguns podem sentir que o ritmo "Jurado #2" soe mais lento e introspectivo do que o normal - não foi o meu caso, mas realmente esse ponto divide opiniões.
Dito isso, posso te garantir que aqui a história é moralmente complexa, com performances marcantes e uma direção precisa. Esse é um filme que nos desafia a refletir sobre os limites da justiça e dos dilemas éticos que moldam nossas vidas - mais ou menos como "Tempo de Matar" fez em 1996. Então esteja preparado para uma experiência cinematográfica que é ao mesmo tempo emocionante e profundamente provocadora. Vale demais!
"Kimi" (que no Brasil ganhou o expositivo subtítulo "Alguém está escutando") é um curioso caso de "ame ou odeie" que vai se basear nas referências de quem assiste e, mais do que isso, na forma como a audiência vai encarar a proposta do diretor Steven Soderbergh (de "Mosaic"e "High Flying Bird"). Se você olhar a história pelo prisma de "Black Mirror" com "A Mulher na Janela", provavelmente, sua resposta será "ok, mas esperava mais"; porém se você enxergar em Angela traços de uma possível personagem de "Ruptura" é bem possível que sua experiência seja completamente diferente e seu veredito bem mais positivo - como foi no nosso caso, inclusive.
Na trama, Angela Childs (Zoë Kravitz) é uma funcionária que analisa áudios coletados de uma assistente de voz chamada Kimi. Certo dia ela descobre uma mensagem que sugere um crime violento e ao tentar relatá-lo aos seus superiores, ela se depara com uma conspiração muito mais complexa do que havia imaginado. Confira o trailer (em inglês):
Steven Soderbergh sempre foi um diretor diferenciado, disposto a experimentar novas gramáticas e conceitos visuais para contar sua história com um certo tom de modernidade - inclusive tecnológico. Cinéfilo assumido, Soderbergh aproveita de um roteiro simples do veterano David Koepp (de "Jurassic Park", "Missão: Impossível" e "Homem-Aranha", para citar apenas três blockbusters sob sua chancela) para construir uma narrativa que inicialmente se propõe a ser mais realista trazendo um ar de Alfred Hitchcock, mas que em seguida subverte a proposta com o intuito de impor um certo humor, mais ácido (eu diria), apoiado propositalmente em clichês que vão da paranóia tecnológica contemporânea ao corporativismo metido a disruptivo que beira o non-sense - entende a comparação feita acima?
Sem a menor dúvida que o diretor brilha ao deixar claro que sabe exatamente o que está fazendo ao dividir sua obra em duas abordagens completamente diferentes - para alguns isso pode soar confuso, para outros genial. Tenho a impressão (e aí posso estar influenciado pelo que representou "Ruptura") que a segunda metade tem mais brilho que a primeira, principalmente quando o roteiro se permite não se levar tanto a sério - ou você acha que ter um hacker russo que vive no apartamento da mãe, uma assistente de voz que te grava 24h por dia ou o comentário sobre os termos e condições de aplicativos que ninguém lê, não são, de fato, críticas veladas fantasiadas de esteriótipos?
Um elemento que funciona muito mais para a "forma" do que para o "conteúdo" é o fato da protagonista ser "agorafóbica" (quem sofre com agorafobia tem medo de situações que possam levá-lo a sensações de aprisionamento). Reparem como Soderbergh usa de sua câmera e do desenho de som para nos colocar dentro do sufocamento da personagem. Dito isso, "Kimi" tem o mérito de brincar com a seriedade do assunto sem se tornar superficial ou ter a pretensão de entregar um plot twist matador no terceiro ato. Não, o filme não é sobre isso, mesmo que decepcione alguns - essencialmente aqueles que não gostaram ou ainda não assistiram "Ruptura".
Aqui cabe uma observação: nossa análise não sugere nenhum tipo de comparação entre "Ruptura" e "Kimi" como obra, mas sim pelo tom irônico e critico que uma premissa realista, com base no universo tecnológico e corporativo, pode se tornar se houver a disposição para isso, ou seja, seu play vai muito além do entretenimento raso que o contexto poderia sugerir.
"Kimi" (que no Brasil ganhou o expositivo subtítulo "Alguém está escutando") é um curioso caso de "ame ou odeie" que vai se basear nas referências de quem assiste e, mais do que isso, na forma como a audiência vai encarar a proposta do diretor Steven Soderbergh (de "Mosaic"e "High Flying Bird"). Se você olhar a história pelo prisma de "Black Mirror" com "A Mulher na Janela", provavelmente, sua resposta será "ok, mas esperava mais"; porém se você enxergar em Angela traços de uma possível personagem de "Ruptura" é bem possível que sua experiência seja completamente diferente e seu veredito bem mais positivo - como foi no nosso caso, inclusive.
Na trama, Angela Childs (Zoë Kravitz) é uma funcionária que analisa áudios coletados de uma assistente de voz chamada Kimi. Certo dia ela descobre uma mensagem que sugere um crime violento e ao tentar relatá-lo aos seus superiores, ela se depara com uma conspiração muito mais complexa do que havia imaginado. Confira o trailer (em inglês):
Steven Soderbergh sempre foi um diretor diferenciado, disposto a experimentar novas gramáticas e conceitos visuais para contar sua história com um certo tom de modernidade - inclusive tecnológico. Cinéfilo assumido, Soderbergh aproveita de um roteiro simples do veterano David Koepp (de "Jurassic Park", "Missão: Impossível" e "Homem-Aranha", para citar apenas três blockbusters sob sua chancela) para construir uma narrativa que inicialmente se propõe a ser mais realista trazendo um ar de Alfred Hitchcock, mas que em seguida subverte a proposta com o intuito de impor um certo humor, mais ácido (eu diria), apoiado propositalmente em clichês que vão da paranóia tecnológica contemporânea ao corporativismo metido a disruptivo que beira o non-sense - entende a comparação feita acima?
Sem a menor dúvida que o diretor brilha ao deixar claro que sabe exatamente o que está fazendo ao dividir sua obra em duas abordagens completamente diferentes - para alguns isso pode soar confuso, para outros genial. Tenho a impressão (e aí posso estar influenciado pelo que representou "Ruptura") que a segunda metade tem mais brilho que a primeira, principalmente quando o roteiro se permite não se levar tanto a sério - ou você acha que ter um hacker russo que vive no apartamento da mãe, uma assistente de voz que te grava 24h por dia ou o comentário sobre os termos e condições de aplicativos que ninguém lê, não são, de fato, críticas veladas fantasiadas de esteriótipos?
Um elemento que funciona muito mais para a "forma" do que para o "conteúdo" é o fato da protagonista ser "agorafóbica" (quem sofre com agorafobia tem medo de situações que possam levá-lo a sensações de aprisionamento). Reparem como Soderbergh usa de sua câmera e do desenho de som para nos colocar dentro do sufocamento da personagem. Dito isso, "Kimi" tem o mérito de brincar com a seriedade do assunto sem se tornar superficial ou ter a pretensão de entregar um plot twist matador no terceiro ato. Não, o filme não é sobre isso, mesmo que decepcione alguns - essencialmente aqueles que não gostaram ou ainda não assistiram "Ruptura".
Aqui cabe uma observação: nossa análise não sugere nenhum tipo de comparação entre "Ruptura" e "Kimi" como obra, mas sim pelo tom irônico e critico que uma premissa realista, com base no universo tecnológico e corporativo, pode se tornar se houver a disposição para isso, ou seja, seu play vai muito além do entretenimento raso que o contexto poderia sugerir.
Essa era uma história que merecia ser contada - e o interessante é que o protagonista não é exatamente um personagem que já conhecemos ou admiramos pela sua obra ou conquistas, embora essa percepção esteja completamente errada já que seu nome está diretamente ligado a dois fenômenos do esporte mundial: Venus e Serena Williams.
Motivado por uma visão clara do futuro brilhante de suas talentosas filhas e empregando métodos próprios e nada convencionais de treinamento, Richard (Will Smith) cria um plano detalhado para levar Venus e Serena Williams, das ruas de Compton, na Califórnia, para as quadras de todo o mundo, como lendas vivas do tênis. Profundamente comovente, o filme retrata a importância da família, da perseverança, do trabalho duro e da fé inabalável como instrumentos para alcançar o que para muitos parecia impossível e assim transformar para sempre a história de um esporte considerado até ali, branco e elitista. Confira o trailer:
Obviamente que assistimos esse excelente filme com aquela confortável sensação de que tudo vai dar certo no final, pois já conhecemos (mesmo que muitos superficialmente) a história de sucesso e o que vieram a representar Venus e Serena para o esporte mundial. Portanto, "King Richard" (que no Brasil ganhou o sugestivo e dispensável subtítulo de "Criando Campeãs") se trata de um filme sobre o que representou "a jornada" e não necessariamente "as conquistas"! O interessante, e um dos grandes acertos do roteiro, foi que o filme transformou essa jornada em um recorte bastante claro e importante de onde a trama poderia nos levar (e aqui assunto não é o esporte): o fato de termos duas personagens com um futuro brilhante pela frente, em momento algum impediu que o personagem título brilhasse - o foco é realmente o homem que nunca deixou de acreditar, de lutar, que errava tentando acertar e que, em muitos momentos, convivia com o medo de falhar como pai. Essa construção de camadas do personagem, brilhantemente interpretado por Smith, foi um verdadeiro golaço do roteirista estreante Zach Baylin (que vai assinar "Creed III" e que pode até surpreender como um dos indicados no próximo Oscar por esse trabalho).
Além de Will Smith, todo o elenco está impecável - é praticamente impossível não se apaixonar e depois torcer muito para as meninas tamanho é o carisma que a dinâmica familiar dos Williams traz. Saniyya Sidney como Venus e Demi Singleton como Serena são (e estão) incríveis, além, é claro, de mais um belíssimo trabalho da Aunjanue Ellis como Oracene 'Brandy' Williams. Existe um certo equilíbrio entre a leveza e a profundidade em diálogos que não fogem, em nenhum momento, de discussões duras (e delicadas) sobre racismo e desigualdade social - e esse mérito, sem dúvida, deve ser creditado aos atores.
Veja, o recente "O Quinto Set" também trabalha com muito cuidado e sensibilidade os dramas vividos pelos atletas e suas relações familiares fora das quadras (até com um tom mais independente da narrativa), mas talvez se distancie de "King Richard" por se tratar de uma obra de ficção - mesmo sendo cruelmente realista. Porém, também é preciso que se diga que o conceito visual da produção francesa, especialmente nos embates dentro das quadras, são infinitamente superiores ao que vemos aqui sob o comando do diretor Reinaldo Marcus Green. Essa talvez seja a única lacuna que "King Richard – Criando Campeãs" não conseguiu preencher - funciona bem no drama, mas perde no impacto visual da ação.
Cheio de curiosidades sobre os bastidores do tênis, o filme vai dialogar da mesma forma com aqueles que acompanham (e conhecem) o esporte e com outros que apenas se identificam com histórias de superação. Existe muita emoção na narrativa, algumas frases de efeito e um pouco de romantismo perante a jornada, mas te garanto: tudo isso funciona perfeitamente e só soma para a deliciosa experiência que é acompanhar a história de Richard e de Venus - o que deixa um enorme desafio pela frente: quem será capaz e quando a história de Serena será contada - porque o sarrafo agora está bem alto!
Vale cada segundo!
Up-date: "King Richard" foi indicado em seis categorias no Oscar 2022, ganhando em Melhor Ator.
Essa era uma história que merecia ser contada - e o interessante é que o protagonista não é exatamente um personagem que já conhecemos ou admiramos pela sua obra ou conquistas, embora essa percepção esteja completamente errada já que seu nome está diretamente ligado a dois fenômenos do esporte mundial: Venus e Serena Williams.
Motivado por uma visão clara do futuro brilhante de suas talentosas filhas e empregando métodos próprios e nada convencionais de treinamento, Richard (Will Smith) cria um plano detalhado para levar Venus e Serena Williams, das ruas de Compton, na Califórnia, para as quadras de todo o mundo, como lendas vivas do tênis. Profundamente comovente, o filme retrata a importância da família, da perseverança, do trabalho duro e da fé inabalável como instrumentos para alcançar o que para muitos parecia impossível e assim transformar para sempre a história de um esporte considerado até ali, branco e elitista. Confira o trailer:
Obviamente que assistimos esse excelente filme com aquela confortável sensação de que tudo vai dar certo no final, pois já conhecemos (mesmo que muitos superficialmente) a história de sucesso e o que vieram a representar Venus e Serena para o esporte mundial. Portanto, "King Richard" (que no Brasil ganhou o sugestivo e dispensável subtítulo de "Criando Campeãs") se trata de um filme sobre o que representou "a jornada" e não necessariamente "as conquistas"! O interessante, e um dos grandes acertos do roteiro, foi que o filme transformou essa jornada em um recorte bastante claro e importante de onde a trama poderia nos levar (e aqui assunto não é o esporte): o fato de termos duas personagens com um futuro brilhante pela frente, em momento algum impediu que o personagem título brilhasse - o foco é realmente o homem que nunca deixou de acreditar, de lutar, que errava tentando acertar e que, em muitos momentos, convivia com o medo de falhar como pai. Essa construção de camadas do personagem, brilhantemente interpretado por Smith, foi um verdadeiro golaço do roteirista estreante Zach Baylin (que vai assinar "Creed III" e que pode até surpreender como um dos indicados no próximo Oscar por esse trabalho).
Além de Will Smith, todo o elenco está impecável - é praticamente impossível não se apaixonar e depois torcer muito para as meninas tamanho é o carisma que a dinâmica familiar dos Williams traz. Saniyya Sidney como Venus e Demi Singleton como Serena são (e estão) incríveis, além, é claro, de mais um belíssimo trabalho da Aunjanue Ellis como Oracene 'Brandy' Williams. Existe um certo equilíbrio entre a leveza e a profundidade em diálogos que não fogem, em nenhum momento, de discussões duras (e delicadas) sobre racismo e desigualdade social - e esse mérito, sem dúvida, deve ser creditado aos atores.
Veja, o recente "O Quinto Set" também trabalha com muito cuidado e sensibilidade os dramas vividos pelos atletas e suas relações familiares fora das quadras (até com um tom mais independente da narrativa), mas talvez se distancie de "King Richard" por se tratar de uma obra de ficção - mesmo sendo cruelmente realista. Porém, também é preciso que se diga que o conceito visual da produção francesa, especialmente nos embates dentro das quadras, são infinitamente superiores ao que vemos aqui sob o comando do diretor Reinaldo Marcus Green. Essa talvez seja a única lacuna que "King Richard – Criando Campeãs" não conseguiu preencher - funciona bem no drama, mas perde no impacto visual da ação.
Cheio de curiosidades sobre os bastidores do tênis, o filme vai dialogar da mesma forma com aqueles que acompanham (e conhecem) o esporte e com outros que apenas se identificam com histórias de superação. Existe muita emoção na narrativa, algumas frases de efeito e um pouco de romantismo perante a jornada, mas te garanto: tudo isso funciona perfeitamente e só soma para a deliciosa experiência que é acompanhar a história de Richard e de Venus - o que deixa um enorme desafio pela frente: quem será capaz e quando a história de Serena será contada - porque o sarrafo agora está bem alto!
Vale cada segundo!
Up-date: "King Richard" foi indicado em seis categorias no Oscar 2022, ganhando em Melhor Ator.
"Lakers: Hora de Vencer" é simplesmente sensacional! Mesmo com alguns excessos conceituais, é inegável que a produção da HBO é um sopro de criatividade e autenticidade na construção de uma narrativa digna do tamanho da representatividade que o Lakers e seus personagens têm para o esporte americano e mundial. Mas a série é para o amante do basquete? Creio que não, mas para quem tem mais de 40 anos e um certo conhecimento sobre o esporte, a experiência será como poucas - além da nostalgia, um excelente entretenimento!
A série, basicamente, gira em torno do novo proprietário do Los Angeles Lakers, Jerry Buss (John C. Reilly) e toda a celebração pela escolha do então novato Earvin "Magic" Johnson (Quincy Isaiah). Além de Magic, outros jogadores icônicos fazem parte da formação, como o pivô Kareem Abdul-Jabbar (Solomon Hughes), que participaram do processo de reconstrução do time, transformando o Lakers em uma das franquias mais rentáveis e valiosas do esporte americano. Confira o trailer:
A produção de Adam McKay, Max Borenstein e Jim Hecht se apoia no livro "Showtime: Magic, Kareem, Riley, and the Los Angeles Lakers Dynasty of the 1980s", de Jeff Pearlman, para dramatizar a reformulação da franquia e a formação do time que se tornou referência na década de 1980 - os mais antigos ainda vão se lembrar do primeiro jogo, ainda no PC, "Lakers x Celtics", e que depois, em 1991, a Electronic Arts lançou com enorme sucesso para o Mega Drive (mas essa é uma outra história). O fato que conecta essas duas pontas é que se em 1979, o futuro da NBA parecia sombrio, sofrendo com a queda de audiência, graves problemas financeiros e as sempre presentes tensões de um Estados Unidos racista, e foi na ascensão do Lakers (de "Magic" Johnson) e sua rivalidade com o Boston Celtics (de Larry Bird) que ajudaram a mudar as coisas.
Quase documental, e McKay adora construir seu conceito narrativo e visual misturando as duas linguagens, a série tem uma fluidez que poucas vezes encontrei em uma adaptação de uma história real e que tem um recorte bastante extenso de tempo. Só para se ter uma ideia, a temporada da NBA tem 82 jogos e se vemos 5 durante os 10 episódios, é muito - o mais incrível, é que a ação em quadra não faz a menor falta porque o foco da história não está no que acontecia durante os jogos, mas sim nas pessoas que faziam o esporte funcionar - as interações nos bastidores são incríveis. Veja, a série da HBO consegue apoiar todo seu drama nas particularidades de seus personagens e nas performances de um elenco primoroso, de forma que a ausência de um foco narrativo (seja na quadra, no negócio, ou na vida pessoal dos atletas) se torna irrelevante para o entendimento daquele universo e das peculiaridades de uma linha temporal muito bem planejada no roteiro.
John C. Reilly está impecável (separa o Emmy, é sério!). Os estreantes Quincy Isaiah e Solomon Hughes parecem veteranos - a química entre eles transcende a interpretação e acaba na quadra como se fossem, na verdade, dois jogadores profissionais de basquete. Acertar na representação dessas duas figuras tão emblemáticas para o esporte era essencial para que todo o argumento da série funcionasse - e não por acaso ela terá mais temporadas (ainda bem!). Dito isso, é simples indicar "Lakers: Hora de Vencer" se você gostou de "Arremesso Final" da Netflix - mesmo que o gênero seja outro, a jornada é basicamente a mesma, com personagens complexos, momentos de tensão esportiva, de decisões complicadas e de relatos repletos de curiosidade e emoção!
Vale muito a pena!
"Lakers: Hora de Vencer" é simplesmente sensacional! Mesmo com alguns excessos conceituais, é inegável que a produção da HBO é um sopro de criatividade e autenticidade na construção de uma narrativa digna do tamanho da representatividade que o Lakers e seus personagens têm para o esporte americano e mundial. Mas a série é para o amante do basquete? Creio que não, mas para quem tem mais de 40 anos e um certo conhecimento sobre o esporte, a experiência será como poucas - além da nostalgia, um excelente entretenimento!
A série, basicamente, gira em torno do novo proprietário do Los Angeles Lakers, Jerry Buss (John C. Reilly) e toda a celebração pela escolha do então novato Earvin "Magic" Johnson (Quincy Isaiah). Além de Magic, outros jogadores icônicos fazem parte da formação, como o pivô Kareem Abdul-Jabbar (Solomon Hughes), que participaram do processo de reconstrução do time, transformando o Lakers em uma das franquias mais rentáveis e valiosas do esporte americano. Confira o trailer:
A produção de Adam McKay, Max Borenstein e Jim Hecht se apoia no livro "Showtime: Magic, Kareem, Riley, and the Los Angeles Lakers Dynasty of the 1980s", de Jeff Pearlman, para dramatizar a reformulação da franquia e a formação do time que se tornou referência na década de 1980 - os mais antigos ainda vão se lembrar do primeiro jogo, ainda no PC, "Lakers x Celtics", e que depois, em 1991, a Electronic Arts lançou com enorme sucesso para o Mega Drive (mas essa é uma outra história). O fato que conecta essas duas pontas é que se em 1979, o futuro da NBA parecia sombrio, sofrendo com a queda de audiência, graves problemas financeiros e as sempre presentes tensões de um Estados Unidos racista, e foi na ascensão do Lakers (de "Magic" Johnson) e sua rivalidade com o Boston Celtics (de Larry Bird) que ajudaram a mudar as coisas.
Quase documental, e McKay adora construir seu conceito narrativo e visual misturando as duas linguagens, a série tem uma fluidez que poucas vezes encontrei em uma adaptação de uma história real e que tem um recorte bastante extenso de tempo. Só para se ter uma ideia, a temporada da NBA tem 82 jogos e se vemos 5 durante os 10 episódios, é muito - o mais incrível, é que a ação em quadra não faz a menor falta porque o foco da história não está no que acontecia durante os jogos, mas sim nas pessoas que faziam o esporte funcionar - as interações nos bastidores são incríveis. Veja, a série da HBO consegue apoiar todo seu drama nas particularidades de seus personagens e nas performances de um elenco primoroso, de forma que a ausência de um foco narrativo (seja na quadra, no negócio, ou na vida pessoal dos atletas) se torna irrelevante para o entendimento daquele universo e das peculiaridades de uma linha temporal muito bem planejada no roteiro.
John C. Reilly está impecável (separa o Emmy, é sério!). Os estreantes Quincy Isaiah e Solomon Hughes parecem veteranos - a química entre eles transcende a interpretação e acaba na quadra como se fossem, na verdade, dois jogadores profissionais de basquete. Acertar na representação dessas duas figuras tão emblemáticas para o esporte era essencial para que todo o argumento da série funcionasse - e não por acaso ela terá mais temporadas (ainda bem!). Dito isso, é simples indicar "Lakers: Hora de Vencer" se você gostou de "Arremesso Final" da Netflix - mesmo que o gênero seja outro, a jornada é basicamente a mesma, com personagens complexos, momentos de tensão esportiva, de decisões complicadas e de relatos repletos de curiosidade e emoção!
Vale muito a pena!
Antes de mais nada é preciso parabenizar o trabalho do Zack Snyder, ele provou para os executivos da Warner que estava certo e que a coerência do Universo que ele estava construindo tinha uma identidade que o diretor da outra versão de "Liga da Justiça", Joss Whedon, simplesmente jogou no lixo. E esse, digamos, não foi um caso isolado, já que a mesma Warner também cuspiu no trabalho do Nolan na trilogia do "Cavaleiro das Trevas" mesmo o diretor deixando tudo certinho para uma expansão inteligente. Mas não vamos falar das péssimas decisões corporativas de executivos que não sabem a diferença entre uma lente 35mm e uma 85mm - e se você também não sabe, está tudo certo, mas que esse exemplo seja uma forma de entender o quanto é solitário o trabalho de um diretor mesmo cercado de tantos profissionais competentes e como é importante deixar ele expor sua visão até o final - para, aí sim, criticar!
Esquece o filme de 2017, o "Snyder Cut" é outra coisa! mesmo contendo muitas cenas da versão anterior, a construção da narrativa é completamente diferente - e aqui ele aproveitou muito bem a liberdade do streaming em disponibilizar 4 horas para contar uma história. Visualmente, o filme tem uma elegância que o filme de Whedon não teve. Os detalhes da finalização, a correção da cor, da pós-produção, composição de CG e efeitos, tudo ficou muito, mas muito, bom - como comentei acima: é um filme com a identidade (acrescento) e com a alma da DC. Goste ou não de "Homem de Aço" e "Batman X Superman", o novo "Liga da Justiça" conversa muito bem com os outros filmes. A única coisa que me incomodou foi a escolha do 4:3 (aquele aspecto quadrado), mesmo com a desculpa de projeção em IMAX. Não faz sentido e vou explicar com uma analogia: imagina você comprar uma Ferrari e só trocar as marchas até a terceira - é isso que é colocar um filme 4:3 no IMAX, sim vai ficar enorme, impositivo, mas vai perder amplitude lateral que pedem as cenas de ação para que se tornem grandiosas, épicas!
Depois de restaurar sua fé na humanidade e inspirado pelo ato altruísta do Superman (Henry Cavill), Bruce Wayne (Ben Affleck) convoca Diana Prince (Gal Gadot) para combater um inimigo ainda maior, recém-despertado. Juntos, Batman e Mulher-Maravilha buscam e recrutam um time de meta-humanos para combater o Lobo da Estepe e seu Mestre Darkseid. Mesmo com a formação da Liga de heróis sem precedentes – Batman, Mulher-Maravilha, Aquaman (Jason Momoa), Ciborgue (Ray Fisher), e Flash (Ezra Miller), talvez ainda não seja o suficiente para salvar o planeta de um catastrófico ataque que pode mudar a história da humanidade para sempre. Confira o trailer:
O Thiago Siqueira definiu muito bem o trabalho do Diretor no seu texto para o Cinema com Rapadura, então peço licença para reproduzir aqui: "O Zack Snyder tem uma visão muito própria dos heróis da DC. Enquanto a Marvel Studios retrata seus heróis – mesmo os mais extravagantes – de um ponto de vista extremamente humano, o cineasta enxerga a Liga da Justiça como deuses modernos, extraindo influências das mais diversas fontes, indo desde a mitologia greco-romana, passando pelas lendas arturianas, pelo legendarium de Tolkien e pelo cristianismo, sempre com um grau quase absoluto de solenidade." - Não interessa se a Marvel é um sucesso absoluto, isso é impossível de negar, mas ela tem o seu estilo e a DC precisava estruturar o seu, com identidade, e o "Snyder Cut" recuperou isso.
A forma como as histórias dos personagens secundários: Aquaman, Ciborgue, e Flash, são construídas e depois conectadas, funciona infinitamente melhor e cria um sentido de grupo, além de entendermos mais facilmente as motivações de cada um deles. Mesmo o roteiro dando algumas derrapadas, como na cena "Martha" do reencontro do Superman com a Lois ou na pouca explicação sobre as reais motivações que fizeram Darkseid enviar o Lobo da Estepe para além de recuperar as caixas maternas. Claro que nada disso prejudica a experiência e muitos desses gaps facilmente podem ser ajustados no futuro, mas aí que chega o problema maior: teremos um futuro com esse universo da DC, com essa identidade, com essa unidade narrativa?
O fato é que visão de Zack Snyder é um presente para os fãs desse tipo de filme, especialmente aos amantes da DC (como eu). O filme traz ganhos significativos para a narrativa e para o desenvolvimento de personagens (futuros, inclusive), se tornando uma espécie de versão definitiva e merecida da "Liga da Justiça".
Ufa, agora sim temos um filme de verdade! Imperdível!
Antes de mais nada é preciso parabenizar o trabalho do Zack Snyder, ele provou para os executivos da Warner que estava certo e que a coerência do Universo que ele estava construindo tinha uma identidade que o diretor da outra versão de "Liga da Justiça", Joss Whedon, simplesmente jogou no lixo. E esse, digamos, não foi um caso isolado, já que a mesma Warner também cuspiu no trabalho do Nolan na trilogia do "Cavaleiro das Trevas" mesmo o diretor deixando tudo certinho para uma expansão inteligente. Mas não vamos falar das péssimas decisões corporativas de executivos que não sabem a diferença entre uma lente 35mm e uma 85mm - e se você também não sabe, está tudo certo, mas que esse exemplo seja uma forma de entender o quanto é solitário o trabalho de um diretor mesmo cercado de tantos profissionais competentes e como é importante deixar ele expor sua visão até o final - para, aí sim, criticar!
Esquece o filme de 2017, o "Snyder Cut" é outra coisa! mesmo contendo muitas cenas da versão anterior, a construção da narrativa é completamente diferente - e aqui ele aproveitou muito bem a liberdade do streaming em disponibilizar 4 horas para contar uma história. Visualmente, o filme tem uma elegância que o filme de Whedon não teve. Os detalhes da finalização, a correção da cor, da pós-produção, composição de CG e efeitos, tudo ficou muito, mas muito, bom - como comentei acima: é um filme com a identidade (acrescento) e com a alma da DC. Goste ou não de "Homem de Aço" e "Batman X Superman", o novo "Liga da Justiça" conversa muito bem com os outros filmes. A única coisa que me incomodou foi a escolha do 4:3 (aquele aspecto quadrado), mesmo com a desculpa de projeção em IMAX. Não faz sentido e vou explicar com uma analogia: imagina você comprar uma Ferrari e só trocar as marchas até a terceira - é isso que é colocar um filme 4:3 no IMAX, sim vai ficar enorme, impositivo, mas vai perder amplitude lateral que pedem as cenas de ação para que se tornem grandiosas, épicas!
Depois de restaurar sua fé na humanidade e inspirado pelo ato altruísta do Superman (Henry Cavill), Bruce Wayne (Ben Affleck) convoca Diana Prince (Gal Gadot) para combater um inimigo ainda maior, recém-despertado. Juntos, Batman e Mulher-Maravilha buscam e recrutam um time de meta-humanos para combater o Lobo da Estepe e seu Mestre Darkseid. Mesmo com a formação da Liga de heróis sem precedentes – Batman, Mulher-Maravilha, Aquaman (Jason Momoa), Ciborgue (Ray Fisher), e Flash (Ezra Miller), talvez ainda não seja o suficiente para salvar o planeta de um catastrófico ataque que pode mudar a história da humanidade para sempre. Confira o trailer:
O Thiago Siqueira definiu muito bem o trabalho do Diretor no seu texto para o Cinema com Rapadura, então peço licença para reproduzir aqui: "O Zack Snyder tem uma visão muito própria dos heróis da DC. Enquanto a Marvel Studios retrata seus heróis – mesmo os mais extravagantes – de um ponto de vista extremamente humano, o cineasta enxerga a Liga da Justiça como deuses modernos, extraindo influências das mais diversas fontes, indo desde a mitologia greco-romana, passando pelas lendas arturianas, pelo legendarium de Tolkien e pelo cristianismo, sempre com um grau quase absoluto de solenidade." - Não interessa se a Marvel é um sucesso absoluto, isso é impossível de negar, mas ela tem o seu estilo e a DC precisava estruturar o seu, com identidade, e o "Snyder Cut" recuperou isso.
A forma como as histórias dos personagens secundários: Aquaman, Ciborgue, e Flash, são construídas e depois conectadas, funciona infinitamente melhor e cria um sentido de grupo, além de entendermos mais facilmente as motivações de cada um deles. Mesmo o roteiro dando algumas derrapadas, como na cena "Martha" do reencontro do Superman com a Lois ou na pouca explicação sobre as reais motivações que fizeram Darkseid enviar o Lobo da Estepe para além de recuperar as caixas maternas. Claro que nada disso prejudica a experiência e muitos desses gaps facilmente podem ser ajustados no futuro, mas aí que chega o problema maior: teremos um futuro com esse universo da DC, com essa identidade, com essa unidade narrativa?
O fato é que visão de Zack Snyder é um presente para os fãs desse tipo de filme, especialmente aos amantes da DC (como eu). O filme traz ganhos significativos para a narrativa e para o desenvolvimento de personagens (futuros, inclusive), se tornando uma espécie de versão definitiva e merecida da "Liga da Justiça".
Ufa, agora sim temos um filme de verdade! Imperdível!
"Má Educação" expõe o sistema educacional americano pelos olhos de quem é corrompido por ele - e sim, a ganância do ser humano é mais uma vez protagonista, com a eterna desculpa de que os "fins" justificam os "meios". Se pensarmos que a história do maior roubo de escolas públicas da história dos Estados Unidos foi revelado por uma adolescente que fazia um artigo para o jornal da sua escola, é de se discutir que um esquema fraudulento que desviou cerca de US$ 11 milhões não passou de uma operação quase amadora de quem se achava intocável - e é aí que o filme se transforma em um estudo de personagem dos mais complexos.
Essa produção original da HBO conta a história real de Frank Tassone (Hugh Jackman), um profissional dedicado e apaixonado pela sua posição de superintendente do distrito escolar de Roslyn. Querido e respeitado por todos, Tassone fez com que sua instituição de ensino chegasse ao Top 5 do ranking de melhores escolas públicas do país - um feito impressionante pela pouca representatividade política de Long Island no cenário estudantil. Pois bem, esse bom desempenho trouxe consequências positivas não apenas à vida acadêmica dos jovens, mas também ao mercado imobiliário, que por muito tempo conseguiu surfar nessa projeção e assim cobrar preços altos pelas casas da região. Um dia, ao ser entrevistado pela adolescente Rachel (Geraldine Viswanathan) para o jornal do colégio, ele a incentiva a sempre inserir sua assinatura em qualquer matéria que faça, por menor que seja. Inspirada pela conversa, ela resolve investigar uma custosa empreitada que está prestes a acontecer, o projeto Skywalk, e acaba descobrindo uma série de fraudes na contabilidade da escola feitas pelo próprio Frank. Confira o trailer:
"Má Educação" é tão surpreende quanto óbvia - ao optar em manter o foco em uma figura, digamos, tão particular como Tassone, a narrativa acaba deixando um pouco de lado o elemento "investigação", mas ao mesmo tempo ganhamos uma profundidade tão bacana no processo de desconstrução do protagonista que só fortalece a experiência de acompanhar tantos segredos sendo revelados e que, de fato, surpreendem todos aqueles que transitavam por sua vida pessoal e profissional. Embora essa escolha pareça ousada, vale destacar que o roteirista Mike Makowsky (I Think We’re Alone Now) foi aluno de Tassone nessa época e com isso foi capaz de pontuar exatamente o sentimento de toda aquela comunidade e a importância das descobertas de Rachel.
A direção de Cory Finley (do excelente "Puro sangue") impõe uma narrativa bem séria, com leves toques de "overacting" para descolar algumas características dos personagens que se distanciavam de toda comunidade por algum tipo de vaidade - seja a estética de Tassone ou a social de Pam (Allison Janney), sua assistente direta. Finley aproveita do ótimo roteiro de Makowsky para nos fazer gostar do protagonista, mesmo com todas as falhas de caráter que ele possui - Hugh Jackman, aliás, deveria ter ganhado o Emmy de melhor ator pelo papel - reparem na beleza que é a sequência final, da montagem à perfomance sincera de Jackman.
Baseado no artigo da New York Magazine, "The Bad Superintendent", "Má Educação" é um filme excelente - daqueles que nos perguntamos a razão de não termos assistido antes. Sem dúvida o Emmy 2020 na categoria "Melhor filme feito para TV" ficou em boas mãos! Vale muito o seu play!
"Má Educação" expõe o sistema educacional americano pelos olhos de quem é corrompido por ele - e sim, a ganância do ser humano é mais uma vez protagonista, com a eterna desculpa de que os "fins" justificam os "meios". Se pensarmos que a história do maior roubo de escolas públicas da história dos Estados Unidos foi revelado por uma adolescente que fazia um artigo para o jornal da sua escola, é de se discutir que um esquema fraudulento que desviou cerca de US$ 11 milhões não passou de uma operação quase amadora de quem se achava intocável - e é aí que o filme se transforma em um estudo de personagem dos mais complexos.
Essa produção original da HBO conta a história real de Frank Tassone (Hugh Jackman), um profissional dedicado e apaixonado pela sua posição de superintendente do distrito escolar de Roslyn. Querido e respeitado por todos, Tassone fez com que sua instituição de ensino chegasse ao Top 5 do ranking de melhores escolas públicas do país - um feito impressionante pela pouca representatividade política de Long Island no cenário estudantil. Pois bem, esse bom desempenho trouxe consequências positivas não apenas à vida acadêmica dos jovens, mas também ao mercado imobiliário, que por muito tempo conseguiu surfar nessa projeção e assim cobrar preços altos pelas casas da região. Um dia, ao ser entrevistado pela adolescente Rachel (Geraldine Viswanathan) para o jornal do colégio, ele a incentiva a sempre inserir sua assinatura em qualquer matéria que faça, por menor que seja. Inspirada pela conversa, ela resolve investigar uma custosa empreitada que está prestes a acontecer, o projeto Skywalk, e acaba descobrindo uma série de fraudes na contabilidade da escola feitas pelo próprio Frank. Confira o trailer:
"Má Educação" é tão surpreende quanto óbvia - ao optar em manter o foco em uma figura, digamos, tão particular como Tassone, a narrativa acaba deixando um pouco de lado o elemento "investigação", mas ao mesmo tempo ganhamos uma profundidade tão bacana no processo de desconstrução do protagonista que só fortalece a experiência de acompanhar tantos segredos sendo revelados e que, de fato, surpreendem todos aqueles que transitavam por sua vida pessoal e profissional. Embora essa escolha pareça ousada, vale destacar que o roteirista Mike Makowsky (I Think We’re Alone Now) foi aluno de Tassone nessa época e com isso foi capaz de pontuar exatamente o sentimento de toda aquela comunidade e a importância das descobertas de Rachel.
A direção de Cory Finley (do excelente "Puro sangue") impõe uma narrativa bem séria, com leves toques de "overacting" para descolar algumas características dos personagens que se distanciavam de toda comunidade por algum tipo de vaidade - seja a estética de Tassone ou a social de Pam (Allison Janney), sua assistente direta. Finley aproveita do ótimo roteiro de Makowsky para nos fazer gostar do protagonista, mesmo com todas as falhas de caráter que ele possui - Hugh Jackman, aliás, deveria ter ganhado o Emmy de melhor ator pelo papel - reparem na beleza que é a sequência final, da montagem à perfomance sincera de Jackman.
Baseado no artigo da New York Magazine, "The Bad Superintendent", "Má Educação" é um filme excelente - daqueles que nos perguntamos a razão de não termos assistido antes. Sem dúvida o Emmy 2020 na categoria "Melhor filme feito para TV" ficou em boas mãos! Vale muito o seu play!
"Mais Forte que Bombas" é basicamente um outro recorte da história que vimos no belíssimo "Mil Vezes Boa Noite" do talentoso diretor norueguês Erik Poppe. Se no filme de Poppe a discussão era centrada no distanciamento familiar que a vida da fotógrafa de guerra Rebecca (Juliette Binoche) provocava, aqui o drama tem um outro aspecto, quase complementar: o luto da família de uma outra fotógrafa de guerra, Isabelle (Isabelle Huppert) que morreu em um acidente dois anos antes. As similaridades narrativas são evidentes, principalmente no que diz respeito as escolhas profissionais de uma mãe e as consequências que impactaram e acompanharam sua família (o marido, e dois filhos), mesmo anos após a sua morte.
Uma exposição celebrando a fotógrafa Isabelle Reed, dois anos após sua morte prematura, traz seu filho mais velho, Jonah (Jesse Eisenberg), de volta para a casa da família – forçando-o a passar mais tempo do que teve em anos com seu pai, Gene (Gabriel Byrne), e com seu recluso irmão adolescente, Conrad (Devin Druid). Com os três sob o mesmo teto, Gene tenta desesperadamente reconectar-se com seus dois filhos, mas eles lutam para reconciliar seus sentimentos em relação à mulher, da qual se lembram de maneiras tão diferentes. Confira o trailer:
"Mais Forte que Bombas" é o primeiro filme do premiado diretor dinamarquês Joachim Trier (indicado ao Oscar por "A Pior Pessoa do Mundo") com atores americanos e nem por isso ele se distancia de sua identidade cinematográfica de onde se apropria de uma estética extremamente autoral (e poética) para contar uma história profunda sobre o luto e a dinâmica das relações dentro de uma família completamente fragmentada. Aliás, essa fragmentação, não por acaso, é o que dita o ritmo de um drama bastante complexo e cadenciado que nos provoca inúmeras reflexões.
A partir da montagem do Olivier Bugge Coutté (companheiro de longa data de Trier e vencedor no Tribeca Festival por "Bridgend"), somos arremessados para dentro da família Reed sem o menor receio do que vamos encontrar. Ao construir a história, alternando os pontos de vista para uma mesma situação, Coutté e Trier entregam um verdadeiro tratado sobre algumas formas de lidar com o luto - até a rápida participação de Rachel Brosnahan (como Erin) ajuda a compor essa camada que definitivamente mexe com a gente. Tanto Byrne, quanto Druid e Eisenberg, se permitem encontrar a dor de seus personagens e assim estabelecer um reflexo obscuro em suas vidas - o encontro entre o intimo e a necessidade de seguir em frente é avassalador (cada qual com seus fantasmas, diga-se de passagem)!
Grande vencedor da Palma de Ouro em Cannes 2015, "Mais Forte que Bombas" não é nem de longe um filme fácil - sua densidade dramática não vai conquistar uma enorme audiência, mas com certeza vai impactar demais quem gosta do gênero (na sua "forma" e em seu "conteúdo").
Vale muito o seu play!
"Mais Forte que Bombas" é basicamente um outro recorte da história que vimos no belíssimo "Mil Vezes Boa Noite" do talentoso diretor norueguês Erik Poppe. Se no filme de Poppe a discussão era centrada no distanciamento familiar que a vida da fotógrafa de guerra Rebecca (Juliette Binoche) provocava, aqui o drama tem um outro aspecto, quase complementar: o luto da família de uma outra fotógrafa de guerra, Isabelle (Isabelle Huppert) que morreu em um acidente dois anos antes. As similaridades narrativas são evidentes, principalmente no que diz respeito as escolhas profissionais de uma mãe e as consequências que impactaram e acompanharam sua família (o marido, e dois filhos), mesmo anos após a sua morte.
Uma exposição celebrando a fotógrafa Isabelle Reed, dois anos após sua morte prematura, traz seu filho mais velho, Jonah (Jesse Eisenberg), de volta para a casa da família – forçando-o a passar mais tempo do que teve em anos com seu pai, Gene (Gabriel Byrne), e com seu recluso irmão adolescente, Conrad (Devin Druid). Com os três sob o mesmo teto, Gene tenta desesperadamente reconectar-se com seus dois filhos, mas eles lutam para reconciliar seus sentimentos em relação à mulher, da qual se lembram de maneiras tão diferentes. Confira o trailer:
"Mais Forte que Bombas" é o primeiro filme do premiado diretor dinamarquês Joachim Trier (indicado ao Oscar por "A Pior Pessoa do Mundo") com atores americanos e nem por isso ele se distancia de sua identidade cinematográfica de onde se apropria de uma estética extremamente autoral (e poética) para contar uma história profunda sobre o luto e a dinâmica das relações dentro de uma família completamente fragmentada. Aliás, essa fragmentação, não por acaso, é o que dita o ritmo de um drama bastante complexo e cadenciado que nos provoca inúmeras reflexões.
A partir da montagem do Olivier Bugge Coutté (companheiro de longa data de Trier e vencedor no Tribeca Festival por "Bridgend"), somos arremessados para dentro da família Reed sem o menor receio do que vamos encontrar. Ao construir a história, alternando os pontos de vista para uma mesma situação, Coutté e Trier entregam um verdadeiro tratado sobre algumas formas de lidar com o luto - até a rápida participação de Rachel Brosnahan (como Erin) ajuda a compor essa camada que definitivamente mexe com a gente. Tanto Byrne, quanto Druid e Eisenberg, se permitem encontrar a dor de seus personagens e assim estabelecer um reflexo obscuro em suas vidas - o encontro entre o intimo e a necessidade de seguir em frente é avassalador (cada qual com seus fantasmas, diga-se de passagem)!
Grande vencedor da Palma de Ouro em Cannes 2015, "Mais Forte que Bombas" não é nem de longe um filme fácil - sua densidade dramática não vai conquistar uma enorme audiência, mas com certeza vai impactar demais quem gosta do gênero (na sua "forma" e em seu "conteúdo").
Vale muito o seu play!
Vou procurar ser o mais honesto e direto possível ao analisar "Maligno": só assista se você gostar do estilo de narrativa do Stephen King (embora essa não seja uma obra do autor) e se você não se incomodar com a linha extremamente tênue entre o trash e o suspense sobrenatural com toques de terror "anos 80". Veja, nenhuma dessas características que citei devem ser interpretadas como depreciativas, muito pelo contrário, pois esse filme dirigido pelo James Wan (de "Invocação do Mal") além de ter a sua já conhecida identidade, é um mergulho no terror clássico como obra cinematográfica de extrema qualidade.
No filme, acompanhamos Madison Mitchell (Annabelle Wallis) tendo dificuldades de relacionamento com o marido, deixando claro se tratar de um casamento repleto de violência doméstica. Até que um vulto cresce das sombras, como uma espécie de assombração, para por fim nessa questão. Recém viúva, Madison passa a ter assustadoras visões de pessoas sendo assassinadas seguindo o mesmo padrão da forma como seu marido foi morto, transformando sua posição de vítima em uma potencial suspeita de todos esses crimes. Confira o trailer:
Talvez o que mais chama a atenção em "Maligno" seja a forma como o roteiro (da romena Ingrid Bisu e da já parceira de Wam, Akela Cooper) transita entre os vários subgêneros do terror e do suspense, usando de inúmeras referências narrativas e visuais para contar sua história - eu diria que é quase uma homenagem velada. Essa escolha conceitual se mostra muito acertada, já que Wan, além de dominar a gramática do terror, se apropria de elementos narrativos tão vastos que criam uma total imprevisibilidade para a trama. Se inicialmente temos a impressão de que o filme vai beber da fonte de um clássico horror japonês, rapidamente somos arremessados pelo suspense sobrenatural (em uma clara citação a “Poltergeist") até chegarmos em um thriller de investigação como em "Outsider", por exemplo. A questão é que essa dinâmica muda tão rapidamente que pode incomodar quem assiste pela quebra de expectativa ou até pela decepção pelos caminhos escolhidos.
Embora o roteiro seja bastante competente (e aqui eu destaco os ótimos e pontuais alívios cômicos), todos os personagens se apoiam no estereótipo para compor as cenas e criar o clima que Wan quer "homenagear". A transformação da trama e o impacto nos personagens vão se transformando do realismo cotidiano brutal das relações tóxicas até chegar no anti-naturalismo digno de Quentin Tarantino. Tudo é muito bem orquestrado artisticamente e tecnicamente, com um desenho de produção belíssimo da Desma Murphy, uma fotografia ajustada ao conceito de Wan do seu sempre parceiro Michael Burgess, um trilha sonora de personalidade do Joseph Bishara até chegar na bem executada cenas de CG com efeitos visuais excelentes.
Resumindo, ao sintetizar e nos mostrar tudo do que o gênero pode entregar, "Maligno" transporta para as telas muito dos medos e dos receios que permeiam o imaginário coletivo, com gatinhos emocionais que nos puxam da memória aquilo que mais nos marcou quando nem ao menos sabíamos diferenciar o que era ficção de realidade. O filme é sim uma declaração de amor aos fãs do terror, mas sem esquecer do prazer que é assistir um entretenimento de ótima qualidade que não tem a menor obrigação de se levar a sério sempre.
Vale a pena, mas só para aqueles que estiverem dispostos a embarcar na proposta original de um filme que não tem nada de "original".
Vou procurar ser o mais honesto e direto possível ao analisar "Maligno": só assista se você gostar do estilo de narrativa do Stephen King (embora essa não seja uma obra do autor) e se você não se incomodar com a linha extremamente tênue entre o trash e o suspense sobrenatural com toques de terror "anos 80". Veja, nenhuma dessas características que citei devem ser interpretadas como depreciativas, muito pelo contrário, pois esse filme dirigido pelo James Wan (de "Invocação do Mal") além de ter a sua já conhecida identidade, é um mergulho no terror clássico como obra cinematográfica de extrema qualidade.
No filme, acompanhamos Madison Mitchell (Annabelle Wallis) tendo dificuldades de relacionamento com o marido, deixando claro se tratar de um casamento repleto de violência doméstica. Até que um vulto cresce das sombras, como uma espécie de assombração, para por fim nessa questão. Recém viúva, Madison passa a ter assustadoras visões de pessoas sendo assassinadas seguindo o mesmo padrão da forma como seu marido foi morto, transformando sua posição de vítima em uma potencial suspeita de todos esses crimes. Confira o trailer:
Talvez o que mais chama a atenção em "Maligno" seja a forma como o roteiro (da romena Ingrid Bisu e da já parceira de Wam, Akela Cooper) transita entre os vários subgêneros do terror e do suspense, usando de inúmeras referências narrativas e visuais para contar sua história - eu diria que é quase uma homenagem velada. Essa escolha conceitual se mostra muito acertada, já que Wan, além de dominar a gramática do terror, se apropria de elementos narrativos tão vastos que criam uma total imprevisibilidade para a trama. Se inicialmente temos a impressão de que o filme vai beber da fonte de um clássico horror japonês, rapidamente somos arremessados pelo suspense sobrenatural (em uma clara citação a “Poltergeist") até chegarmos em um thriller de investigação como em "Outsider", por exemplo. A questão é que essa dinâmica muda tão rapidamente que pode incomodar quem assiste pela quebra de expectativa ou até pela decepção pelos caminhos escolhidos.
Embora o roteiro seja bastante competente (e aqui eu destaco os ótimos e pontuais alívios cômicos), todos os personagens se apoiam no estereótipo para compor as cenas e criar o clima que Wan quer "homenagear". A transformação da trama e o impacto nos personagens vão se transformando do realismo cotidiano brutal das relações tóxicas até chegar no anti-naturalismo digno de Quentin Tarantino. Tudo é muito bem orquestrado artisticamente e tecnicamente, com um desenho de produção belíssimo da Desma Murphy, uma fotografia ajustada ao conceito de Wan do seu sempre parceiro Michael Burgess, um trilha sonora de personalidade do Joseph Bishara até chegar na bem executada cenas de CG com efeitos visuais excelentes.
Resumindo, ao sintetizar e nos mostrar tudo do que o gênero pode entregar, "Maligno" transporta para as telas muito dos medos e dos receios que permeiam o imaginário coletivo, com gatinhos emocionais que nos puxam da memória aquilo que mais nos marcou quando nem ao menos sabíamos diferenciar o que era ficção de realidade. O filme é sim uma declaração de amor aos fãs do terror, mas sem esquecer do prazer que é assistir um entretenimento de ótima qualidade que não tem a menor obrigação de se levar a sério sempre.
Vale a pena, mas só para aqueles que estiverem dispostos a embarcar na proposta original de um filme que não tem nada de "original".
Desde o lançamento do primeiro trailer ou dos primeiros episódios que assistimos comentamos, já dava para se ter uma ideia do que seria "Mare of Easttown", mas admito: a minissérie de 7 episódios da HBO conseguiu me surpreender, ela foi além das minhas expectativas - e isso é sensacional!!!
Na história, somos apresentados a uma pequena e bucólica cidade da Pensilvânia chamada Easttown. Kate Winslet é Mare Sheehan, uma detetive de personalidade forte e muito conhecida, que trabalha diariamente para manter a ordem na sua comunidade. Outrora uma famosa jogadora de basquete no colégio local, Mare é respeitada por todos, mas parece não ter mais forças para enfrentar os inúmeros problemas pessoais no seu dia a dia: de um divórcio não digerido ao misterioso suicídio do filho mais velho. Profissionalmente, a detetive ainda precisa lidar com um importante caso não resolvido: o desaparecimento de uma jovem, filha de uma de suas amigas e companheira de time desde os tempos de escola. Porém, quando a jovem Erin McMenamin, uma mãe solteira de 17 anos, que vive às custas de um pai bêbado e de um ex-namorado imaturo; aparece morta no riacho que cruza a cidade, Mare se vê mais uma vez no olho do furacão, sendo pressionada por todos os lados, obrigada a lidar com um possível assassinato e com muitos suspeitos próximos ao seu convívio. Confira o trailer:
O mais interessante nessa minissérie criada pelo Brad Ingelsby (de "Uma Mulher Americana") é que a história vai muito além de ótimas referências do mesmo gênero já produzidas pela HBO, como "Big Little Lies"ou "Sharp Objects" - para citar apenas duas. Com um roteiro criativo, bem amarrado e extremamente original, "Mare of Easttown" é um exemplo de como uma trama bem desenvolvida pode ir além de um arco narrativo principal consistente, no caso a investigação de um crime em uma cidade pequena dos EUA, para se transformar em um primoroso estudo de personagens - e aqui eu não falo apenas de Mare (Kate Winslet); Lori (Julianne Nicholson), Helen (Jean Smart), Dawn (Enid Graham), Beth (Chinasa Ogbuagu), John (Joe Tippett), Colin (Evan Peters) são incríveis. Olha que interessante, essa quantidade de personagens, que a primeira vista pode parecer grande demais, existe justamente para criar um contexto bastante particular de Easttown e uma atmosfera tão realista que muitas vezes nos perdemos nos dramas pessoais e complexos dos coadjuvantes com a mesma força com que acompanhamos todas as camadas que Mare vai nos mostrando enquanto tenta desvendar o grande mistério e lidar com sua vida caótica.
Muito bem dirigida pelo Craig Zobel (de "Compliance" e "The Leftovers"), "Mare of Easttown" é tecnicamente perfeita, mesmo nos episódios onde foi necessário construir a complexidade daquela dinâmica ente os personagens para poder entregar um final que superasse nossa expectativa - tanto pelo lado mais humano quanto pela surpreendente narrativa cheia de reviravoltas. Se os mistérios vão sendo resolvidos um a um, os fantasmas dos personagens não - e a forma como o diretor conseguiu nos guiar por essas duas linhas conceituais que vão se completando e, óbvio, nos provocando emocionalmente é simplesmente fantástica. Os dois últimos episódios, por exemplo, são incríveis - especialmente no que diz respeito ao último interrogatório que Mare lidera. É uma facada no peito que vem se construindo desde o primeiro ato do episódio - reparem no tom, no jeito de falar, na forma como Mare tem que enfrentar aquela situação; é lindo!
"Mare of Easttown" deve ganhar tudo que disputar na próxima temporada de premiação: Kate Winslet será barbada, Julianne Nicholson e Jean Smart chegam fortes como coadjuvantes, Brad Ingelsby deve faturar em roteiro e, para mim, a minissérie é a melhor de 2021 até aqui e será difícil superá-la. Dito isso, não perca tempo, dê o play e tenha o melhor entretenimento que podemos te recomendar!
Desde o lançamento do primeiro trailer ou dos primeiros episódios que assistimos comentamos, já dava para se ter uma ideia do que seria "Mare of Easttown", mas admito: a minissérie de 7 episódios da HBO conseguiu me surpreender, ela foi além das minhas expectativas - e isso é sensacional!!!
Na história, somos apresentados a uma pequena e bucólica cidade da Pensilvânia chamada Easttown. Kate Winslet é Mare Sheehan, uma detetive de personalidade forte e muito conhecida, que trabalha diariamente para manter a ordem na sua comunidade. Outrora uma famosa jogadora de basquete no colégio local, Mare é respeitada por todos, mas parece não ter mais forças para enfrentar os inúmeros problemas pessoais no seu dia a dia: de um divórcio não digerido ao misterioso suicídio do filho mais velho. Profissionalmente, a detetive ainda precisa lidar com um importante caso não resolvido: o desaparecimento de uma jovem, filha de uma de suas amigas e companheira de time desde os tempos de escola. Porém, quando a jovem Erin McMenamin, uma mãe solteira de 17 anos, que vive às custas de um pai bêbado e de um ex-namorado imaturo; aparece morta no riacho que cruza a cidade, Mare se vê mais uma vez no olho do furacão, sendo pressionada por todos os lados, obrigada a lidar com um possível assassinato e com muitos suspeitos próximos ao seu convívio. Confira o trailer:
O mais interessante nessa minissérie criada pelo Brad Ingelsby (de "Uma Mulher Americana") é que a história vai muito além de ótimas referências do mesmo gênero já produzidas pela HBO, como "Big Little Lies"ou "Sharp Objects" - para citar apenas duas. Com um roteiro criativo, bem amarrado e extremamente original, "Mare of Easttown" é um exemplo de como uma trama bem desenvolvida pode ir além de um arco narrativo principal consistente, no caso a investigação de um crime em uma cidade pequena dos EUA, para se transformar em um primoroso estudo de personagens - e aqui eu não falo apenas de Mare (Kate Winslet); Lori (Julianne Nicholson), Helen (Jean Smart), Dawn (Enid Graham), Beth (Chinasa Ogbuagu), John (Joe Tippett), Colin (Evan Peters) são incríveis. Olha que interessante, essa quantidade de personagens, que a primeira vista pode parecer grande demais, existe justamente para criar um contexto bastante particular de Easttown e uma atmosfera tão realista que muitas vezes nos perdemos nos dramas pessoais e complexos dos coadjuvantes com a mesma força com que acompanhamos todas as camadas que Mare vai nos mostrando enquanto tenta desvendar o grande mistério e lidar com sua vida caótica.
Muito bem dirigida pelo Craig Zobel (de "Compliance" e "The Leftovers"), "Mare of Easttown" é tecnicamente perfeita, mesmo nos episódios onde foi necessário construir a complexidade daquela dinâmica ente os personagens para poder entregar um final que superasse nossa expectativa - tanto pelo lado mais humano quanto pela surpreendente narrativa cheia de reviravoltas. Se os mistérios vão sendo resolvidos um a um, os fantasmas dos personagens não - e a forma como o diretor conseguiu nos guiar por essas duas linhas conceituais que vão se completando e, óbvio, nos provocando emocionalmente é simplesmente fantástica. Os dois últimos episódios, por exemplo, são incríveis - especialmente no que diz respeito ao último interrogatório que Mare lidera. É uma facada no peito que vem se construindo desde o primeiro ato do episódio - reparem no tom, no jeito de falar, na forma como Mare tem que enfrentar aquela situação; é lindo!
"Mare of Easttown" deve ganhar tudo que disputar na próxima temporada de premiação: Kate Winslet será barbada, Julianne Nicholson e Jean Smart chegam fortes como coadjuvantes, Brad Ingelsby deve faturar em roteiro e, para mim, a minissérie é a melhor de 2021 até aqui e será difícil superá-la. Dito isso, não perca tempo, dê o play e tenha o melhor entretenimento que podemos te recomendar!
Talvez os mais jovens não tenham a exata noção do que representou o grupo "Menudo" como fenômeno cultural. Considerada a primeira "Boys Band" da história, os cinco jovens (jovens mesmo) de Porto Rico transformaram a maneira como adolescentes consumiam música no início dos anos 80, conquistando uma legião de fãs pelo mundo (principalmente na América Latina e nos EUA) muitas vezes comparado ao que foi a beatlemania - sim, eu sei que pode parecer exagero, mas como dito nesse excelente documentário da HBO: essa é a referência mais próxima do que foi o sucesso e a devoção por um grupo musical na época.
Dirigida por Angel Manuel Soto (de "Besouro Azul") e Kristofer Ríos (de "Imaginando Zootopia"), a minissérie de 4 episódios faz um resgate nostálgico da atmosfera dos anos 80 e acompanha a "boys band" em turnês, onde conhecem os fãs e divulgam o trabalho. Mas como toda história possui uma outra versão, o documentário também explora o lado sombrio enfrentado pelos integrantes em meio a tanto sucesso, incluindo episódios de abuso sexual, bullying, escândalos com drogas, péssimas condições de trabalho e os inúmeros casos de assédio moral que sofreram de Edgardo Díaz, o criador do grupo. Confira o trailer:
Na realidade o Menudo foi um verdadeiro playbook de entretenimento para um nicho completamente esquecido no final dos anos 70 e inicio dos anos 80. Na época, a "música" tinha apenas dois targets e completamente distintos: os adultos e as crianças. Os pré-adolescentes e adolescentes estavam esquecidos até que o empresário Edgardo Díaz resolveu inovar e apresentar para um público com sede de consumo, uma fórmula onde cinco garotos dançavam e cantavam em um grupo musical até completarem 16 anos, quanto então eram substituídos por outro integrante mais novo e assim repetindo um ciclo de sucesso por décadas - resultado: mais de 20 milhões de cópias vendidas de 32 álbuns produzidos.
O subtítulo "Sempre Jovens" faz uma alusão a esse, digamos, processo de renovação que contou com 32 integrantes ao longo dos anos. Explorando a história da banda, a minissérie cobre a ascensão e queda dos "Menudos" a partir de entrevistas com os jovens de várias formações (inclusive a original), além de amigos, familiares e fãs. Há também incontáveis e raras imagens de acervo que revelam em detalhes um extenso recorte da carreira do grupo e como isso impactou na vida de cada um deles. E aqui os diretores mudam um pouco o tom já que o roteiro passa a cobrir as polêmicas por trás do sucesso - algo que a esquecível minissérie da Prime Vídeo, "Sobe em minha moto", tentou fazer na ficção até fracassar fortemente.
O fato é que "Menudo: Sempre Jovens" tem dois momentos distintos dentro da narrativa: se nos dois primeiros episódios encontramos um documentário mais histórico do ponto de vista do negócio, do entretenimento (leve e contagiante) e dos impactos que o grupo teve para uma geração, algo como vimos em "Sandy & Junior: A História"; nos dois últimos o que temos é uma série de acusações e depoimentos que quebram completamente a magia construída inicialmente - é quando o conceito se aproxima de títulos como "Deixando Neverland" ou "Showbiz Kids", com um tom mais pesado e temas bastante delicados - cito a passagem do integrante Angelo Garcia contando que foi estuprado no quarto de um hotel, depois de receber álcool de um homem desconhecido, logo após completar 11 anos de idade. Terrível!
O Menudo arrastou multidões, vendeu milhões de discos ao redor do mundo e mudou a forma como a indústria enxergava um nicho bem especifico. Edgardo Díaz foi um visionário, enriqueceu, se tornou poderoso, mas também se perdeu dentro da própria vaidade e ambição. O grupo voou alto (principalmente com Robby, Charlie, Roy, Ray e Ricky), mas caiu de um forma triste e de certa cruel - chega a ser impactante por tudo que é contado por quem viveu aquele inferno. Dito isso, afirmo que "Menudo: Sempre Jovens" é uma viagem ao passado, mas que não deixará boas recordações como poderíamos imaginar.
Vale seu play!
Talvez os mais jovens não tenham a exata noção do que representou o grupo "Menudo" como fenômeno cultural. Considerada a primeira "Boys Band" da história, os cinco jovens (jovens mesmo) de Porto Rico transformaram a maneira como adolescentes consumiam música no início dos anos 80, conquistando uma legião de fãs pelo mundo (principalmente na América Latina e nos EUA) muitas vezes comparado ao que foi a beatlemania - sim, eu sei que pode parecer exagero, mas como dito nesse excelente documentário da HBO: essa é a referência mais próxima do que foi o sucesso e a devoção por um grupo musical na época.
Dirigida por Angel Manuel Soto (de "Besouro Azul") e Kristofer Ríos (de "Imaginando Zootopia"), a minissérie de 4 episódios faz um resgate nostálgico da atmosfera dos anos 80 e acompanha a "boys band" em turnês, onde conhecem os fãs e divulgam o trabalho. Mas como toda história possui uma outra versão, o documentário também explora o lado sombrio enfrentado pelos integrantes em meio a tanto sucesso, incluindo episódios de abuso sexual, bullying, escândalos com drogas, péssimas condições de trabalho e os inúmeros casos de assédio moral que sofreram de Edgardo Díaz, o criador do grupo. Confira o trailer:
Na realidade o Menudo foi um verdadeiro playbook de entretenimento para um nicho completamente esquecido no final dos anos 70 e inicio dos anos 80. Na época, a "música" tinha apenas dois targets e completamente distintos: os adultos e as crianças. Os pré-adolescentes e adolescentes estavam esquecidos até que o empresário Edgardo Díaz resolveu inovar e apresentar para um público com sede de consumo, uma fórmula onde cinco garotos dançavam e cantavam em um grupo musical até completarem 16 anos, quanto então eram substituídos por outro integrante mais novo e assim repetindo um ciclo de sucesso por décadas - resultado: mais de 20 milhões de cópias vendidas de 32 álbuns produzidos.
O subtítulo "Sempre Jovens" faz uma alusão a esse, digamos, processo de renovação que contou com 32 integrantes ao longo dos anos. Explorando a história da banda, a minissérie cobre a ascensão e queda dos "Menudos" a partir de entrevistas com os jovens de várias formações (inclusive a original), além de amigos, familiares e fãs. Há também incontáveis e raras imagens de acervo que revelam em detalhes um extenso recorte da carreira do grupo e como isso impactou na vida de cada um deles. E aqui os diretores mudam um pouco o tom já que o roteiro passa a cobrir as polêmicas por trás do sucesso - algo que a esquecível minissérie da Prime Vídeo, "Sobe em minha moto", tentou fazer na ficção até fracassar fortemente.
O fato é que "Menudo: Sempre Jovens" tem dois momentos distintos dentro da narrativa: se nos dois primeiros episódios encontramos um documentário mais histórico do ponto de vista do negócio, do entretenimento (leve e contagiante) e dos impactos que o grupo teve para uma geração, algo como vimos em "Sandy & Junior: A História"; nos dois últimos o que temos é uma série de acusações e depoimentos que quebram completamente a magia construída inicialmente - é quando o conceito se aproxima de títulos como "Deixando Neverland" ou "Showbiz Kids", com um tom mais pesado e temas bastante delicados - cito a passagem do integrante Angelo Garcia contando que foi estuprado no quarto de um hotel, depois de receber álcool de um homem desconhecido, logo após completar 11 anos de idade. Terrível!
O Menudo arrastou multidões, vendeu milhões de discos ao redor do mundo e mudou a forma como a indústria enxergava um nicho bem especifico. Edgardo Díaz foi um visionário, enriqueceu, se tornou poderoso, mas também se perdeu dentro da própria vaidade e ambição. O grupo voou alto (principalmente com Robby, Charlie, Roy, Ray e Ricky), mas caiu de um forma triste e de certa cruel - chega a ser impactante por tudo que é contado por quem viveu aquele inferno. Dito isso, afirmo que "Menudo: Sempre Jovens" é uma viagem ao passado, mas que não deixará boas recordações como poderíamos imaginar.
Vale seu play!
"Moonlight" é um grande filme - uma história que mostra uma realidade dura, mas sem ser piegas. Chega ser surpreendente como as coisas acontecem na vida do protagonista! "Moonlight" tem o mérito de focar nas ligações humanas e na auto-descoberta, através da vida de um jovem afro-americano desde a sua infância até à idade adulta, acompanhando a sua luta até encontrar um lugar no mundo à medida que vai crescendo em um bairro pobre de Miami. O filme é um retrato real da vida contemporânea da comunidade afro-americana ao mesmo tempo que é um convite à uma reflexão profundamente pessoal sobre identidade! Confira o trailer:
Sem dúvida, o melhor trabalho entre os indicados ao Oscar 2017 para melhor diretor ao lado do Denis Villeneuve (com "A Chegada") - e isso fez muita diferença no filme, pois a sensibilidade do diretor transformou uma jornada impactante (e até já vista) em algo original e surpreendente em muitos momentos. Baseado no projeto “In Moonlight Black Boys Look Blue” de Tarell Alvin McCraney, acompanhar a transformação na vida de Chiron (Ashton Sanders) durante três fases: infância, adolescência e maturidade, nos tira completamente da zona de conforto e nos move em uma incrível jornada - se não tão emotiva como em "Lion", certamente mais impactante!
Barry Jenkins mandou muito bem nas escolhas dos planos, dos movimentos e principalmente na direção dos atores - Mahershala Ali como Juan é quase uma barbada na categoria de ator coadjuvante! A maneira como Jenkins usou o silencio para trazer as sensações que a história pedia é impressionante! Confesso que não conhecia o trabalho dele e gostei muito! Um diretor com muita personalidade pra quem está apenas no segundo longa-metragem e que merece ser observado de perto - vale ressaltar que Barry Jenkins já tinha uma carreira bastante sólida em festivais de curtas-metragem e seu primeiro filme já havia chamado muita atenção dos críticos!
A fotografia de "Moonlight" do diretor James Laxton (companheiro de longa data de Jenkins desde seu primeiro curta em 2003) também é incrível, mas não acho que levaria o prêmio pelos concorrentes fortes que tem nessa categoria! Outra do elenco que mereceria o prêmio é a Naomie Harris que interpreta a mãe do protagonista e concorre como atriz coadjuvante! Está certo que o papel é um presente: uma viciada em crack! Ma ela simplesmente destrói!
Nas outras categorias em que o filme foi indicado, e são 8 no total, Roteiro Adaptado corre por fora, mas não me surpreenderia se ganhasse. Embora "Moonlight" tenha sido muito premiado em festivas pelo mundo, não acho que teria força pra desbancar os favoritos como Melhor Filme, embora tem tenha todos os elementos para isso! O que eu posso dizer é que, independente de qualquer coisa, temos mais um grande filme em uma temporada muito pulverizada nos gêneros!
Vale muito o seu play - daquele para ver e rever!
Up-date: "Moonlight" ganhou em três categorias no Oscar 2017: Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Roteiro Adaptado e, surpreendeu como, Melhor Filme!
"Moonlight" é um grande filme - uma história que mostra uma realidade dura, mas sem ser piegas. Chega ser surpreendente como as coisas acontecem na vida do protagonista! "Moonlight" tem o mérito de focar nas ligações humanas e na auto-descoberta, através da vida de um jovem afro-americano desde a sua infância até à idade adulta, acompanhando a sua luta até encontrar um lugar no mundo à medida que vai crescendo em um bairro pobre de Miami. O filme é um retrato real da vida contemporânea da comunidade afro-americana ao mesmo tempo que é um convite à uma reflexão profundamente pessoal sobre identidade! Confira o trailer:
Sem dúvida, o melhor trabalho entre os indicados ao Oscar 2017 para melhor diretor ao lado do Denis Villeneuve (com "A Chegada") - e isso fez muita diferença no filme, pois a sensibilidade do diretor transformou uma jornada impactante (e até já vista) em algo original e surpreendente em muitos momentos. Baseado no projeto “In Moonlight Black Boys Look Blue” de Tarell Alvin McCraney, acompanhar a transformação na vida de Chiron (Ashton Sanders) durante três fases: infância, adolescência e maturidade, nos tira completamente da zona de conforto e nos move em uma incrível jornada - se não tão emotiva como em "Lion", certamente mais impactante!
Barry Jenkins mandou muito bem nas escolhas dos planos, dos movimentos e principalmente na direção dos atores - Mahershala Ali como Juan é quase uma barbada na categoria de ator coadjuvante! A maneira como Jenkins usou o silencio para trazer as sensações que a história pedia é impressionante! Confesso que não conhecia o trabalho dele e gostei muito! Um diretor com muita personalidade pra quem está apenas no segundo longa-metragem e que merece ser observado de perto - vale ressaltar que Barry Jenkins já tinha uma carreira bastante sólida em festivais de curtas-metragem e seu primeiro filme já havia chamado muita atenção dos críticos!
A fotografia de "Moonlight" do diretor James Laxton (companheiro de longa data de Jenkins desde seu primeiro curta em 2003) também é incrível, mas não acho que levaria o prêmio pelos concorrentes fortes que tem nessa categoria! Outra do elenco que mereceria o prêmio é a Naomie Harris que interpreta a mãe do protagonista e concorre como atriz coadjuvante! Está certo que o papel é um presente: uma viciada em crack! Ma ela simplesmente destrói!
Nas outras categorias em que o filme foi indicado, e são 8 no total, Roteiro Adaptado corre por fora, mas não me surpreenderia se ganhasse. Embora "Moonlight" tenha sido muito premiado em festivas pelo mundo, não acho que teria força pra desbancar os favoritos como Melhor Filme, embora tem tenha todos os elementos para isso! O que eu posso dizer é que, independente de qualquer coisa, temos mais um grande filme em uma temporada muito pulverizada nos gêneros!
Vale muito o seu play - daquele para ver e rever!
Up-date: "Moonlight" ganhou em três categorias no Oscar 2017: Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Roteiro Adaptado e, surpreendeu como, Melhor Filme!
Se você assistiu "Tetris", filme que conta a história dos bastidores "nebulosos" que levaram o jogo a se tornar um dos mais vendidos da história, certamente você vai se surpreender com a história dessa minissérie documental produzida pela Discovery. "Morte no Vale do Silício" poderia ser, tranquilamente, a continuação da produção da AppleTV+, até porquê parte do que vimos contextualizado no filme ajuda (e muito) a entender todas as teorias que envolveram a morte do outro criador do jogo (esse não citado no filme) durante a investigação que acompanhamos em três episódios aqui. Veja, estabelecer o que representou para a União Soviética ter um produto criado em seus domínios, em plena Guerra Fria, e que acabou se tornando um fenômeno de vendas (leia-se "que gerou muito dinheiro") em todo mundo, vai te colocar em lugares muito particulares nesse excelente True Crime - pode acreditar!
Em setembro de 1998, Vladimir Pokhilko, um dos desenvolvedores do Tetris, e parceiro de Alexey Pajitno (esse sim, aquele do filme), foi encontrado morto ao lado da esposa e do filho de 12 anos em sua casa no Vale do Silício. Na época, a conclusão atestava que a morte do programador russo foi dada como um assassinato seguido de suicídio - ou seja, Pokhilko teria matado a esposa, o filho e depois se suicidado. Porém, uma das responsáveis pela investigação, Sandra Brown, retorna à cena do crime anos depois e faz uma descoberta que pode não só mudar a resolução do caso, mas também abrir novos mistérios e teorias sinistras sobre o crime que chocou os EUA. Confira o trailer (em inglês):
Dirigido pela talentosa Misty Showalter, produtora de vários documentários e que aqui estreia na função, "Morte no Vale do Silício"oferece uma análise minuciosa dos eventos de 1998 pelo ponto de vista dos investigadores e dos amigos das vitimas - o que acaba criando um verdadeiro choque de realidades de acordo com a resolução do caso, já que ninguém nunca acreditou que Vladimir Pokhilko seria capaz de fazer o que o laudo do legista e parte da investigação afirmaram que ele fez. Partindo desse embate de percepções, a narrativa nos conduz até a União Soviética dos anos 80 onde o roteiro se apropria de inúmeras reportagens da época, com uma edição primorosa, e tenta construir um cenário que coloca a máfia e até o atual presidente da Rússia, Vladimir Putin (olha ele aí de novo), no centro dessa investigação.
Mesmo que Showalter se apoie em algumas dramatizações para construir todo o clima de mistério e até para nos impactar visualmente, sem dúvida alguma que são os depoimentos de Sandra Brown e suas novas descobertas 23 anos depois, que fazem com a história fique realmente empolgante - algumas revelações de Brown são até óbvias olhando em perspectiva, porém as reações, hoje, dos investigadores envolvidos no caso, na época, acabam dizendo muito sobre a forma como tudo foi "resolvido" sob as vistas grossas do FBI que aparentemente já vinha monitorando Pokhilko e sua possível relação com a máfia antes mesmo de sua morte.
Resumindo, "The Tetris Murders" (no original) é uma minissérie que cativa muito mais pelas perguntas do que pelas respostas - o embate que Brown provoca com seus colegas de trabalho no final do terceiro episódio dá o exato tom pessoal que a história representa. Muito bem conduzida, talvez a narrativa só tenha falhado por não ter usado algumas intervenções gráficas que ajudariam a conectar os pontos de uma forma mais fluida, já que o roteiro mergulha fundo em um crime perturbador ao mesmo tempo em que contextualiza o período sócio-politico importante e ainda cria uma espécie de extensão óbvia de tudo que assistimos no filme "Tetris" - então se você ainda não assistiu, assista o filme antes, pois isso fará total diferença na sua experiência com a minissérie.
Vale muito o seu play!
Se você assistiu "Tetris", filme que conta a história dos bastidores "nebulosos" que levaram o jogo a se tornar um dos mais vendidos da história, certamente você vai se surpreender com a história dessa minissérie documental produzida pela Discovery. "Morte no Vale do Silício" poderia ser, tranquilamente, a continuação da produção da AppleTV+, até porquê parte do que vimos contextualizado no filme ajuda (e muito) a entender todas as teorias que envolveram a morte do outro criador do jogo (esse não citado no filme) durante a investigação que acompanhamos em três episódios aqui. Veja, estabelecer o que representou para a União Soviética ter um produto criado em seus domínios, em plena Guerra Fria, e que acabou se tornando um fenômeno de vendas (leia-se "que gerou muito dinheiro") em todo mundo, vai te colocar em lugares muito particulares nesse excelente True Crime - pode acreditar!
Em setembro de 1998, Vladimir Pokhilko, um dos desenvolvedores do Tetris, e parceiro de Alexey Pajitno (esse sim, aquele do filme), foi encontrado morto ao lado da esposa e do filho de 12 anos em sua casa no Vale do Silício. Na época, a conclusão atestava que a morte do programador russo foi dada como um assassinato seguido de suicídio - ou seja, Pokhilko teria matado a esposa, o filho e depois se suicidado. Porém, uma das responsáveis pela investigação, Sandra Brown, retorna à cena do crime anos depois e faz uma descoberta que pode não só mudar a resolução do caso, mas também abrir novos mistérios e teorias sinistras sobre o crime que chocou os EUA. Confira o trailer (em inglês):
Dirigido pela talentosa Misty Showalter, produtora de vários documentários e que aqui estreia na função, "Morte no Vale do Silício"oferece uma análise minuciosa dos eventos de 1998 pelo ponto de vista dos investigadores e dos amigos das vitimas - o que acaba criando um verdadeiro choque de realidades de acordo com a resolução do caso, já que ninguém nunca acreditou que Vladimir Pokhilko seria capaz de fazer o que o laudo do legista e parte da investigação afirmaram que ele fez. Partindo desse embate de percepções, a narrativa nos conduz até a União Soviética dos anos 80 onde o roteiro se apropria de inúmeras reportagens da época, com uma edição primorosa, e tenta construir um cenário que coloca a máfia e até o atual presidente da Rússia, Vladimir Putin (olha ele aí de novo), no centro dessa investigação.
Mesmo que Showalter se apoie em algumas dramatizações para construir todo o clima de mistério e até para nos impactar visualmente, sem dúvida alguma que são os depoimentos de Sandra Brown e suas novas descobertas 23 anos depois, que fazem com a história fique realmente empolgante - algumas revelações de Brown são até óbvias olhando em perspectiva, porém as reações, hoje, dos investigadores envolvidos no caso, na época, acabam dizendo muito sobre a forma como tudo foi "resolvido" sob as vistas grossas do FBI que aparentemente já vinha monitorando Pokhilko e sua possível relação com a máfia antes mesmo de sua morte.
Resumindo, "The Tetris Murders" (no original) é uma minissérie que cativa muito mais pelas perguntas do que pelas respostas - o embate que Brown provoca com seus colegas de trabalho no final do terceiro episódio dá o exato tom pessoal que a história representa. Muito bem conduzida, talvez a narrativa só tenha falhado por não ter usado algumas intervenções gráficas que ajudariam a conectar os pontos de uma forma mais fluida, já que o roteiro mergulha fundo em um crime perturbador ao mesmo tempo em que contextualiza o período sócio-politico importante e ainda cria uma espécie de extensão óbvia de tudo que assistimos no filme "Tetris" - então se você ainda não assistiu, assista o filme antes, pois isso fará total diferença na sua experiência com a minissérie.
Vale muito o seu play!