Toda escolha gera uma consequência, isso é um fato e faz parte do ciclo da vida, porém são os reflexos dessas consequências que muitas vezes não podemos prever ou controlar - e é justamente seguindo esse conceito narrativo que o talentoso diretor norueguês Erik Poppe (que depois veio a dirigir o imperdível "Utoya 22 de Julho") entrega mais um filme visceral sobre as dores do terrorismo e o impacto dessas experiências nos relacionamentos de quem viveu o drama de perto . O fato é que "Mil Vezes Boa Noite" é aquele tipo de filme autoral, belíssimo visualmente, quase poético, e extremamente profundo que merece ser aplaudido de pé!
Rebecca (Juliette Binoche) é uma das melhores fotógrafas de guerra em atividade e precisa enfrentar um turbilhão de emoções quando seu marido (Nikolaj Coster-Waldau) lhe dá um ultimato: ou o trabalho ou a família. Ele e a filha mais velha do casal, Stephanie (Lauryn Canny), não suportam mais sua rotina arriscada e exigem mudanças, mas ela, apesar de amar a família, tem verdadeira adoração pela profissão e pelos impactos que seu trabalho podem provocar na sociedade. Confira o trailer:
Pope é um ex-fotografo de guerra, talvez por isso ele tenha escolhido falar sobre o tema para iniciar sua carreira internacional - mesmo sendo uma produção norueguesa, "Mil Vezes Boa Noite" é falado totalmente em inglês. É possível perceber no filme o esmero estético - cada plano é uma verdadeira poesia visual, trazendo para o movimento a profundidade do still. Ao lado do seu diretor de fotografia, John Christian Rosenlund (de "A onda"), Pope equilibra perfeitamente o drama das situações em que a protagonista está inserida com a dor introspectiva dessas experiências. Veja, não serão poucas as vezes que você vai encontrar um plano aberto visualmente deslumbrante (como a de Rebecca sozinha em uma praia deserta a noite) e imediatamente depois um plano fechado onde os atores contracenam apenas com os olhares (como na cena do café da manhã após o retorno de Rebecca).
Pope, notadamente um especialista na construção de imagens, é também um exímio diretor de atores - o trabalho que ele faz ao lado de Binoche é lindo. As dores das decisões da personagem, bem como o conflito interno sobre o amor que sente pela família, mas que não a completa por inteiro, é desenvolvido com camadas tão sensíveis que chega a mexer com nossa percepção de "certo" e "errado" - sim, você vai julga-la muitas vezes. Tanto Coster-Waldau quanto Canny também merecem destaque - a química entre eles três é algo de se elogiar incansavelmente, tanto que todos foram indicados ou ganharam prêmios em festivais pelo mundo graças a esses personagens.
"Mil Vezes Boa Noite" só escorrega em institucionalizar alguns discursos levemente didáticos para explicar os males do mundo - mesmo que muito faça sentido, o texto soa falso. Porém se existe um trunfo que Pope sabe mesmo desenvolver e aproveitar como poucos, eu diria que é o silêncio - as cenas falam por si só, mesmo que com o auxilio do desenho de som ou uma trilha sonora fantástica que pontuam esse silêncio, visualmente o filme é maravilhoso e muito sensorial. Poppe é um craque, ele acredita no que filma e justamente por isso não tem como não mergulharmos na sua proposta.
Grande filme, cadenciado, profundo, sensível, mas imperdível para quem gosta de dramas existenciais!
Toda escolha gera uma consequência, isso é um fato e faz parte do ciclo da vida, porém são os reflexos dessas consequências que muitas vezes não podemos prever ou controlar - e é justamente seguindo esse conceito narrativo que o talentoso diretor norueguês Erik Poppe (que depois veio a dirigir o imperdível "Utoya 22 de Julho") entrega mais um filme visceral sobre as dores do terrorismo e o impacto dessas experiências nos relacionamentos de quem viveu o drama de perto . O fato é que "Mil Vezes Boa Noite" é aquele tipo de filme autoral, belíssimo visualmente, quase poético, e extremamente profundo que merece ser aplaudido de pé!
Rebecca (Juliette Binoche) é uma das melhores fotógrafas de guerra em atividade e precisa enfrentar um turbilhão de emoções quando seu marido (Nikolaj Coster-Waldau) lhe dá um ultimato: ou o trabalho ou a família. Ele e a filha mais velha do casal, Stephanie (Lauryn Canny), não suportam mais sua rotina arriscada e exigem mudanças, mas ela, apesar de amar a família, tem verdadeira adoração pela profissão e pelos impactos que seu trabalho podem provocar na sociedade. Confira o trailer:
Pope é um ex-fotografo de guerra, talvez por isso ele tenha escolhido falar sobre o tema para iniciar sua carreira internacional - mesmo sendo uma produção norueguesa, "Mil Vezes Boa Noite" é falado totalmente em inglês. É possível perceber no filme o esmero estético - cada plano é uma verdadeira poesia visual, trazendo para o movimento a profundidade do still. Ao lado do seu diretor de fotografia, John Christian Rosenlund (de "A onda"), Pope equilibra perfeitamente o drama das situações em que a protagonista está inserida com a dor introspectiva dessas experiências. Veja, não serão poucas as vezes que você vai encontrar um plano aberto visualmente deslumbrante (como a de Rebecca sozinha em uma praia deserta a noite) e imediatamente depois um plano fechado onde os atores contracenam apenas com os olhares (como na cena do café da manhã após o retorno de Rebecca).
Pope, notadamente um especialista na construção de imagens, é também um exímio diretor de atores - o trabalho que ele faz ao lado de Binoche é lindo. As dores das decisões da personagem, bem como o conflito interno sobre o amor que sente pela família, mas que não a completa por inteiro, é desenvolvido com camadas tão sensíveis que chega a mexer com nossa percepção de "certo" e "errado" - sim, você vai julga-la muitas vezes. Tanto Coster-Waldau quanto Canny também merecem destaque - a química entre eles três é algo de se elogiar incansavelmente, tanto que todos foram indicados ou ganharam prêmios em festivais pelo mundo graças a esses personagens.
"Mil Vezes Boa Noite" só escorrega em institucionalizar alguns discursos levemente didáticos para explicar os males do mundo - mesmo que muito faça sentido, o texto soa falso. Porém se existe um trunfo que Pope sabe mesmo desenvolver e aproveitar como poucos, eu diria que é o silêncio - as cenas falam por si só, mesmo que com o auxilio do desenho de som ou uma trilha sonora fantástica que pontuam esse silêncio, visualmente o filme é maravilhoso e muito sensorial. Poppe é um craque, ele acredita no que filma e justamente por isso não tem como não mergulharmos na sua proposta.
Grande filme, cadenciado, profundo, sensível, mas imperdível para quem gosta de dramas existenciais!
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