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Quarta, 18 Dezembro 2019 07:44

Tendências - É preciso falar sobre a velhice

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Por vezes, um assunto tabu. Em outros momentos, representações equivocadas ou simplistas demais. Seja por qual motivo for, há um fato indiscutível: temos pouquíssimos protagonistas idosos na ficção. A sociedade caminha para a ampliação da longevidade em escala mundial. Logo, teremos cada vez mais gente na chamada terceira idade, consumindo, pleiteando mais visibilidade na comunicação e explorando os benefícios da tecnologia para uma melhor qualidade de vida. Hoje, vamos mostrar como a indústria do entretenimento vem trabalhando o tema (ainda que de maneira tímida) e remodelando o conceito de velhice. Confira:

“Grace And Frankie” talvez seja o produto que melhor representou o idoso nesta última década. A série da Netflix traz Jane Fonda (Grace) e Lily Tomlin (Frankie) em papéis nada convencionais, porém extremamente honestos quando você pensa em terceira idade. Surpreendidas com o pedido de divórcio de seus maridos, elas descobrem que os esposos viviam um romance gay depois que eles decidem assumir a relação e se casar.

O que a princípio cai como uma bomba na vida das duas, acaba por fomentar uma sincera e ácida amizade entre elas. Unidas pelo destino, Grace e Frankie passam a se apoiar na redescoberta da vida após os setenta. Pioneiro e ousado, o projeto foi lançado em 2015 e já acumula cinco temporadas no catálogo da plataforma de streaming, além de indicações ao Emmy. Em janeiro, estreia a sexta e última temporada da série.

Outro sucesso da Netflix, esse mais recente, é “O Método Kominsky”. Michael Douglas interpreta o professor de teatro Sandy Kominsky, um homem sedutor e inteligente, que observa como o passar do tempo transformou sua relação com o mundo. Ao lado de seu melhor amigo e agente Norman Newlander (Alan Arkin), os dois enfrentam os desafios e as conquistas da velhice com humor, cumplicidade e certa impaciência.

A série, nascida em 2018, já possui duas temporadas publicadas e o reconhecimento da crítica especializada: melhor série de comédia e melhor ator de série de comédia para Michael Douglas no Globo de Ouro de 2019; indicação para as categorias de melhor série de comédia, ator de comédia e ator coadjuvante de comédia na edição do Globo de Ouro de 2020, que será realizada no dia 05 de janeiro.

Ainda no território da Netflix, tivemos um anúncio extraoficial de uma série ao estilo “” com Jane Lynch e Cyndi Lauper. Na fase de desenvolvimento, o projeto conta com o roteiro de Carol Leifer (de Seinfeld). A ideia, ventilada nas redes sociais das atrizes, é contar com um quarteto de mulheres acima dos 60 anos remixando referências do clássico da NBC dos anos 1980 com o panorama cultural de hoje.

Carol Leifer, Cyndi Lauper e Jane Lynch

A velhice no mundo artístico é cruel, ainda mais se você for uma atriz de Hollywood em pleno anos 1960. “Feud”, criação de Ryan Murphy para o canal FX, demonstra como a rivalidade entre duas estrelas do cinema, Bette Davis (Susan Sarandon) e Joan Crawford (Jessica Lange), foi alimentada pela pressão e machismo da indústria com processo de envelhecimento feminino. A escassez de papéis de destaque para artistas mais idosos é uma realidade dentro e fora da ficção.

O filme “A Última Gargalhada” também aborda o universo artístico, porém com outra perspectiva. Agente de talentos aposentado, Al Hart (Chevy Chase) se reencontra com o seu primeiro cliente, Buddy Green (Richard Dreyfuss), um humorista que deixou o show business 50 anos atrás. Ele o convence a fugir da casa de repouso, e os dois caem na estrada para uma turnê de comédia por todo o país. Curiosamente, esse é mais um título disponível na Netflix.

 

Na prateleira nacional, temos o filme “Greta”, lançado em outubro deste ano. Pedro (Marco Nanini) é um enfermeiro de 70 anos que trabalha em um hospital público de Fortaleza. Sua melhor amiga é Daniela (Denise Weinberg), artista transexual que enfrenta graves problemas de saúde. Quando ela precisa ser internada e não encontra um leito disponível, Pedro sequestra um paciente, Jean (Démick Lopes), e o abriga em sua casa. A partir de uma relação de desconfiança, surge uma troca de cumplicidade e afeto. O filme retrata um Pedro obcecado por Greta Garbo, solitário aos 70 e em busca de amor.

 

A forte concentração dos títulos em uma única plataforma, no caso a Netflix, demonstra como o tema ainda é complexo, pouco explorado ou abordado com vieses e subprotagonismo. Destaco aqui a enorme oportunidade para criação de novas tramas sobre envelhecimento. A multiplicidade de personagens, a ressignificação do espectro do velho e necessidade de ampliar a representatividade desta parcela da população no entretenimento provam que o mercado precisa produzir mais sobre e para os idosos. Afinal, o futuro da juventude é a velhice.

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